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PARA A HISTORIA
1)0
h is t o r ia
DA COMPANHIA DE JESUS
na extincta Provincia do Maranhão e Pará
PELO PADRE JOSÉ DE MORAES
da m esm a Companhia.
TOMO P R IM E IR O
m@ « M i n ca®
I I P . DO C O M M ER C IO , D E 1IR IT © Os B R A G A
TRAVESSA DO OUVIDOR N. 17
■18 CO
> or£
AO PUBLICO.
I.
1
.íins reunir em hum só corpo as m em órias c docum entos
interessantes da historia cio Im pério, á medida que fossem
descobertos c copiados, seria obra su p erio r ás forças de'um
individuo, e talvez ás de qualquer associação litteraria do
nosso paiz, a menos que não fosse assistida do poderoso auxi
liar do G overno; pelos dispêndios que dem andarião a cópia
o im pressão, além de esforços pessoaes e paciência, sóm ente
aproveitáveis quando o am or da scion cia e segura critica os
dirigem , sem fallar do tempo que se consum iria para que
sem elhante trabalho poclcsse m erecer o acolhimento dos
entendidos.
. Limitando o nosso esforço a hum a p arte da historia na
cional, a em presa sob todos os aspectos se tornaria fácil;
emssim se iria preparando gradualm ente as bases da grande
historia nacional, m onum ento destinado á penna mais habi
litada qne de entre nos surgisse, c que aos enlevos de hum
cslylo harm onico e correcto, reunisse outras condições que
constituem o historiador o fanal dos povos no futuro, e seu
juiz no passado.
Procedendo-se d e s fa rte a respeito de outros pontos do ím -
peiio, teríam os cm breve e suavem ente collecções im pressas
de m em órias im portantes, que jazem desconhecidas; onde os
amigos c apaixonados da historia patria encontrarião riq u e
zas sem conta, que lhes proporcionarião ensejo de, illu stran
do seu nome, fazer ao paiz e as letras inestim ável serviço.
Pede a verdade que confessemos qne alguma cousa já
existe_ encetado com este proposito, graças á esclarecida
direcção que deu S. M. o Im perador ao preparo de cópias
de m uitos m anuscriptos im portantes, que se achão nos a r
chives c bibliothecas de Portugal, e mesm o de França (1);
e de uma dessas copias, p o r perm issão do hum ill Listrado
conselheiro da coroa (2), he que podem os levar ao prelo (3) a
presente historia, inda que incom pleta ; m as este m agnanim o
pensam ento do Soberano, de tanto interesse para o Brazil,
merecia em sua execução ter tido outro desenvolvim ento,
hm nosso hum ilde p en sar ganhar-se-ia duplam ente, se no
. fj) Sirva de exemplo a obra do Capuchinho Franccz F r. Ivo de E vreux, in*
titulada H istoire des choscs adrenues cu M a ra g m n , rs annècs 1615 d 1615.
(i) 0 Sr. Ministro do Imperio, conselheiro João de Almeida P ereira.
(•]) Sei iam os injustos sc não declarássemos aqui, que muito devemos á g c -
iiciosa cooperação do nosso digno comprovinciano o S r. comincudador José
An tomo vaz do Espirito Santo, am igo dedicado do seu paiz.
m
lugar onclc sc extrahem essas cópias sc fizesse loco a im
pressão, pondo o Governo á venda os exem plares que en
tendesse conveniente, tanto aqui como nas Provincias, tira
um a despeza fecunda, não devendo lastim ar-se o empate
que em principio, o por algum tempo, houvesse na extraccão
de taes obras, pelos proventos que se colheria com a vulgari-
sacão de tantas riquezas sepultadas no pó dos archivos o
expostas á perda irreparável.
, As cópias dos m anuscriptos, q u e se achão depositadas na
Secretaria do Im perio, de mui poucos são conhecidas; sua
vulgarisação he difficilima, e os que vivem nas Provincias
estão im possibilitados de consulta-las e aprecia-las; por
ta n to , assim corno estão, de pouco proveito podem ser as
riquezas encerradas em taes docum entos.
lie pois bem visível a necessidade da publicação dessas
cópias por meio da im prensa, mas com certa ordem c classi
ficação, para que a obra senão to rn e uma indigesta m iscella-
nea, agglom crados sem critica o sem nexo tantos m ateriaes.
Ií.
■s --uricnte
a m S 1D ^ n To [n1!í,
p aia paiz, mreunindo
í -r ° f ediamos
em um com
corpo«certo,
sob oe titulo
vantajo-
de
V ii
i
XII
Ca n d i d o M e n d e s d e A l m e i d a .
NA E X T I N G T A PROVINCIA
DO
MARANHÃO E PARÁ
PELO
RIO DE JANEIRO
TYPOGRAPHIC DO COMMERCIO, DE BRITO & BRAGA
TRAVESSA DO OUVIDOR N. 17 .
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''c ^ i S x S 'N
ÁS REAES CINZAS
DA
OFFERECE A
NA P R O Y IN C IA DO M ARANHÃ O E PA RÁ
jioóc Mooiacó.
P i t « 1. 0 « o .
© © H P M fflà @E J iiy ©
NA
TICS-P'ROTIICIA DO 1Ü R A H H ÍO E HU,
L IT R O I.
DA C A P I T A N I A DO M A R A N H Ã O .
CAPITULO I.
D Á -S E UM A B R E V E N O T IC IA DA C ID A D E DO M A R A N H Ã O
E SEU PR E SE N T E ESTA D O .
Mofiy, Pinaré, e St ° ^ p u c u r ú ,
individual noticia • e das C anihnh* eclmo i r e m o s defies
‘as á do Maranhão, p o r f t T W ? , S^ e i'
deni iistona menos g rata aos nossos feitores ‘ ° d*gJ 11°~
* > ■
seu commercio, ciue só consisto n m ■' U' d °í)u^encia do
* r ° 0* f f o .lo T s o " 'i rô,os
sertões pela troca do ouro com nue e n Z s v ã n ? J SClls
bedaes, que para os mais í,™,,™! , ° Síl10 0 t > seus ca-
constar só a sua car<n de «nh m 8 IK,IV10S b astão ; p o r
à . no » S íT O t
CAPITULO II.
P R IM E IR O D E S CO E RIM E N T O DO M A R A N H Ã O E SU A O R IG E M .
1
11no por olla podessem m uito á vontade saliit* m ilharas do
gentios reduzidos todos por sou meio ao conhecim ento da
verdadeira Divindade. Era a em barcação do seu transporte hum
barco que ia carregar de sal a Jaguaribc. Levavào na sua
instrucção, a requerim ento do mesmo governador, que antes
de passarem adiante chegassem prim eiro ao Ceará, aonde
tinha estado Martim Soares, para tem perar os ânimos
daquelles índios notavelm ente azedos com os destem peros
de Pedro Coelho; e para m elhor o fazerem levassem tam bém
em sua com panhia alguns dos que elle tinha am arrado no
Ceará, assim Tobajáras como os Tupynam bás, vindos do Ma
ranhão á S erra, e da Serra ao injusto cativeiro dos Per
nam bucanos, que postos já na sua liberdade pelo m esm o
governador Gaspar de Souza, vivião contentes, nas nossas
àldòas, e agora acompanhavão gostosos aos seus Padres para
os encam inharem seguros á ilha do M aranhão, em cuja con
quista, convidados do prcm io, querião ter não pequena
parte ; praticando os parentes, e inculcando aos seus m es
mos naturacs as muitas e grandes conveniências de que
goza vão no p o d er e adm inistração dos nossos M issionários,
pelo bom trato que debaixo do seu am paro experim entavão
dos Portnguezes, muito principalm ente do G overnador, que
bem o linha m ostrado no exemplar castigo, que tinha dado
a Pedro Coelho, como autor principal dos seus m aiores
aggravos.
Com vento em pôpa navegavãoos nossos Padres, e sendo-
lhes preciso to m ar a fortaleza do Rio Grande, receberão no
acolhim ento que lhe fez o capitão do presidio Jeronym o de
A lbuquerque urbam dades de cavalleiro e venerações de
catholico, porque, além de os receber como m issionários, os
respeitou como virtuosos que não cuidavão mais que na
m aior gloria de Deos e hem das alm as de todo aquelle G en-
tilismo. Pasm ou quando soube da resolução com que os
dons apostolos em prehendião o descobrim ento do M aranhão,
sem mais auxilio que o divino, sem m ais arm as que os
seus bordões, e sem mais ajuda que a que lhe prom ettião
os índios da sua comitiva de os m etterem por ultim o
nas terras e aldêas dos seus naturaes, que era ao que aspi-
ravão os fervorosos espíritos daquelles verdadeiros filhos de
Santo Ignacio. Prevendo os m uitos riscos a que hião expos
tos entre nações tão barbaras, e perigosos encontros de
m uitas feras, lhes offercceu o Capitão-mór soldados e arm as
— —
hum as parles mais alia, o em outras mais deprim ida até lixar
ua serra dos Órgãos no Rio de Janeiro, d ’onde ha quem
dioa (porém sem fundam ento que convença) vai topar com
as° cordilheiras do reino do Chile. Tem esta serra no seu
principio, ao que parece, seis léguas de largo, levantando-
se entre dilatados cam pos de hum a e outra p arte os seus
lados, que servem de divisa,* como já dissem os, aos dons
governos dos Estados do Maranhão e Pernam buco.
Da Itanda em que íica a costa lie quasi inaccessivel, por
que cortada como a prum o, parece uma m uralha, fabrica da
natureza, c imperfeição da arte, tão alta que assom bra as
m esm as nuvens, e aos m esm os olhos tira a vista. Na sua
eminência hc em partes plana, tendo algum as cortaduras
com o nome de boqueirões, que dão passagem franca ácom -
m unicação dos seus natu raes. Em huns lugares mais que
outros hc trabalhosa a sua subida, servindo-lhe as m uitas
arvores de que se veste, de occultar os grandes despenha
deiros, á vista horrorosos, á serventia diííieeis.
lie a te rra fecunda de tudo o que nclla se planta. Tem bellos
ares, ainda que no inverno m ais frio s: m uito bom clima c né
voas como as de Portugal, que até ás sete horas do dia impedem
os raios do mesmo sol, o que faz serem os dias mais peque
nos ; despenhando-se aquelle planeta do sua grande altura
para se sepultar m ais cedo na profundidade de seus valles.
Ainda que não hc m uito abundante de aguas, tem com tudo
as que bastão cm um rio, que cahindo do alto se vai precipi
tando com agradavel ruido na deliciosa planicie de seus di
latados campos. São os seus naturaes os mais fortes c ro
bustos daquellc sertão. Encontrão-sc nella m uitos velhos,
que hem dão a conhecer não lie tão ingrata á natureza h u
mana a retirada vivenda das suas eminências.
Esta serra tão agradavel aos seus naturaes por algum as
commodidades, que nella poz o au to r da natureza, se faz
ainda mais celebre pela gloriosa e sem pre m em orável m orte
do apostolico P adre Francisco P into; acabando nella sua
fervorosa vida tão cheia de trabalhos, como rica de m ereci
mentos -. sobre ella verem os tam bém trium phante o grande
padre Antonio Vieira, quando no íim desta prim eira p arte
tratarm os do fundação especial e perm anente desta populo
sissima aldéa pelos m issionários da Companhia.
Chegando ao alto da Serra os nossos descobridores, man-
dárão diante alguns Tobajáras da sua comitiva, para noli-
- ;!S ■
S
do Christo, a (juom naquelle dia tocou as alvoradas a b ra
va fereza daquelles brutos racionacs, ou homens sem ra
zão, cujos golpes ao rom per do dia prim eiro furão senti
dos que a sua chegada, tem po em que estava para dizer
missa o venerável servo de Dcos, que principiando sacer
dote, veio acabar cruenta victima, junto ao altar do sa
crifício.
Já ao tempo que tinlião descarregado a sua furia nos
Índios, que o acompanhavão, tinha o Padre Pinto ouvido
os prim eiros u rro s, que são entre estes infiéis os signaes
mais certos do rompimento da guerra, e largando os p ara
mentos da m issa, que estava tomando, saldo ancioso a
acudir aos com panheiros, que se andavão defendendo
da crueldade dos Tapuyas, a cujos golpes já tinhão cabido
m ortos dons dos seus, que destem idam ente se tinlião op-
posto com mais valor que fortuna ás suas arm as; o que
vendo os outros largárão o campo, íicando só tres dos mais
animosos, e se retirárão para onde estava rezando no seu
breviario o Padre Luiz Figueira, a quem foi preciso a pe
dido dos m esm os, esconder-se nos matos, entregue to
do á Providencia Divina, que poupava para m aiores em-
prezas do seu serviço aquella preciosa vida, que havia lan
çar depois os prim eiros fundamentos a esta nossa Missão,
íicando com o renom e do seu esclarecido fundador, posto que
por então não surtisse o effeito desejado, como verem os.
Não restava outro no campo da batalha, além do fervo
roso confessor de Christo, qu e tirando da m esm a fraqueza
forças, entrou a abrandar com a doçura clc suas palavras,
tão poderosas cm m over os Potyguáras do Ceará, e os To-
bajáras da serra, a acrimonia c azedum e daquelles anim os
obstinados, e cegos da sua propria ambição, até cahir co
mo cordeiro innocente nas cruéis m ãos daquelles famintos
lobos ; que não se derão por satisfeitos em quanto não vi
rão derram ado seu sangue, á força e tyrannia de bum gran
de golpe de páo de Jucá (que quer dizer páo do m atar), com
que cruelm ente lhe abrirão a cabeça, e tirarão a vida : sen
do preciso tão larga porta para por elia sah irh n m a tão gran
de alma, c aquelle mais que agigantado espirito ir a gozar,
como piam ente suppom os, com a laureola de tão illustre m o r
te, o m erecido prém io de seus apostolicos trab alh o s,
aos 11 de Janeiro de 1608 ; dia sem pre m em orável nos
n ossos armaes cio M aranhão, que só de tão santa P ro
ci
vincia i*,unio n do t a i l , podia receber hum ião grande
Missionário, o venerável Padre Francisco Pndo, quo com
o scu mesm o sangue regou a te rra , donde se haviao depois
colher tão abundantes e innum eravcis frutos.
Ditosa alma, o afortunada Missão com hum filho tao ven
turoso ' Não se abrirá em bocas a te rra cm que m orreu,
nuc havia ser districto e Capitania do M aranhão, para por
•dia fallar seu sangue, pedindo, como o de Abel, a Dcos
vinmmca, e ao Céo justiça, m as antes tantas gotas derram a
das0 se converterão em outras tantas linguas, clamando em
altas vozes — Mandai Senhor obreiros, para esta vossa tao
desam parada, como grandiosa se á ra .— ,
IIuma circum standa fez ainda mais notável a m orte deste
esclarecido varão, que bem dá a conhecer a grande estimaçao
que os Índios fazião de sua preciosa vida: porque empe
nhados a defendê-lo tres das tres nações, em cujo servi
ço tinha sabido de Pernam buco o fervoroso Missionário,
todos íbrão m ortos, e derão não pequeno testem unho da
sua lealdade, offereccndo-se como primícias em nome dos
seus nacionaes junto ao mesmo corpo, que havia sido ai
tar de hum a alma tão santa, e de hum espirito tão virtuo
so ü prim eiro chamado Pedro era da naçao Potyguara das
nossas aldêas de Pernam buco, que não querendo deixar
ao seu Padre na jornada, o quiz agora acom panhar, e de
fendei' valorosam enteá custado m uitas e m ortaes feridas. O
se» undo se chamava Antonio, de nação Tupynam bá, que ser
vindo em quanto vivo, de rodella ao mesm o Padre, receben
do sete penetrantes feridas, cahio finalmente m orto aos seus
pés, deixando bem vingada a sua m orte, que bem podia servir
tiú inveja ao mesmo valor e de exemplo á m esm a valentia.
O terceiro, de nação Tobajára, nom eado então com o appe-
jiclo de Yguassúmirim (que quer dizer, agua pouco quente),
I o qual, cncendido em colora de ver o seu Missionário
m orto, dizendo em altas vozes— não quero viver m orrendo
o meu P adre— ; investio animosam ente com os aggressores,
e passado pelos peitos com hum a seta, acabou com os
mais a vida, m erecedora sem duvida de m aior duração e
eterna m em oria.
Desta sorte, e com m orte tão gloriosa, veio acabar o
venerável P adre Francisco Pinto com cinco índios da sua
comitiva ás mãos sacrilegas de deshum anos c ferozes hom i
cidas, que buscando logo a pobre casa d5onde tinha sabido
o padre, não perdoarão a nada que podessc servir do paslo
á sua insaciável cobiça: c como o sou intento não era outro
que m atar, por inducção diabolica, ao virtuoso Missionário
e aproveitar-se do muito que engenhosam ente imaginavão
em seu poder, se rctirúnio ufanos corn a victori o, fazendo
publica ostentação do despojo nas poucas alfaias da pobreza
dos Padres, nas vestes sacerdotacs c mais instrum entos do
altar portátil que sacrilegam ente roubarão. Passado algum
tempo, e desem baraçado já o cam po dos inimigos, sahio o
Padre Figueira do mato com cinco Índios, que ainda resta
va o, e buscando o venerável cadaver, o achou todo banhado
e m ’sangue da m ortal ferida, com que lho abrirão a cabeça
c despedaçarão o queixo, da orelha ate a ponta da barba.
He inexplicável o sentimento que o bom Padre Figueira teve
quando vio o cadaver de sen am antíssimo com panheiro,
com o qual abraçado, derram ou muitas c inconsoláveis la
grim as, não só pela com panhia que nolle perdia, senão
também porque via frustrados os desígnios do descobri
mento do Maranhão, c totalm ente perdidas as esperanças da
conversão de tantas c tão desam paradas alm as; c porque
lhe faltavão os meios de continuar tão santa e gloriosa em -
preza, se resolveu a retroceder a viagem. Depois, mettemlo do
m elhor modo que pôde o defunto Padre cm um a rede, se
poz a caminho, e o foi sepultar na raiz da serra da Ibyapaba,
querendo lhe servisse dc elevado mausoléo, já que lh e tinha
servido do throno á sua ardente caridade ; m andando pri
m eiro fazer uma casa, onde deixou enterrado ao venerável
Padre, c levantar liuma cruz no mesmo lugar para signal,
certo dc hum tão rico sobro estim ável deposito. 0 pao com
que o m atarão, c tinto ainda cm sangue, deixarão aquclles
barbaros junto do corpo (costume entre d ie s ficarem com o
m orto os instrum entos do sua m orte), o levou comsigo o
Padre Figueira para o collegio da llahia, onde no anno de
-Urdi, cm que os H o llan d ers tom árão a cidade, se perdeu
com as mais reliquias que nolle se conserva vão em deposito.
Enterrado o virtuoso confessor de Christo, se retirou o
padre para a Serra, e desta para Pernam buco, em o qual o
deixaremos para a seu tempo o acom panharm os até ao Ma
ranhão, e do reino até á costa do Pará, cm que experim en
tou, senão a mesma, mais barbara c dcslmmana m orte. Os
índios Tobajáras da Serra, depois do saberem da cruel morle
de sou amantíssimo M issionário, furão tantas as lagrimas
í|ii(. derram arão, quo. não podendo adm ittir consolação ú
nua magoa sem prim eiro vingarem aquclla vida, de quem
tinhão recebido exemplos de santo e assistência de pai, a r
ruados todos de g u erra, e revestidos de seu natural valor,
com que se fazião os mais tem idos de todo aquelle sertão,
buscarão os Tacarijús na sua propria a Idea ; c, dando-lhes
hum apertado cerco antes de rom per a alva, tocarão a d e
golar com tanta furia, que, sem fazer distineção de grandes
a pequenos, de innocentes a culpados, m atarão a toda
aquella nação, sem ficar um só que podesse fazer lem brado
o seu nome, ou ao m enos com a sua lem brança servir o seu
castigo de exemplo á posteridade.
CAPITULO VI.
tin eve n o t i c i a d o p o u c o q u e p o d em o s a l c a n ç a r
DA VIDA E VIRTUDES DO VENERÁVEL
PADRE FRANCISCO PINTO.
í.
ií
c o sor nomo ado prim eiro Missionário do Marauliao, paia ;t
som bra de sens fervorosos exemplos contar a nossa Vice-
Provincia tantos varões zelosos, que a illustrarao, e lorao
instrum entos vivos da sua prodigiosa funda ca o o de seus
avultados augm entos, que não seria tão famosa se o nao
contasse por prim eiro m artyr, nem o seu progresso tao
grande, que podesse exceder seu m esm o nome.
r j\ão quiz Íleos que hum tão grande Missionário ^ tivesse
outro íim, que acabar na ompreza da salvação dos Gentios.
\ssin i o revelou Deos ao grande T haum aturgo do Brazil, o
venerável P adre José do Ànchieta, sendo Provincial desta
Provincia, p orque adoecendo o Padre Pinto no Lollegio da
Baliia no anuo de 1582, com doença gravissima, sem espe
ranças algum as de vida, ao tem po que se lhe acabava do
adm inistrar o Santo Sacram ento da Uncção, entrou o vene
rável Padre Anchieta a visital-o, e lho deu hum grande
abraço, não dc despedida para a eternidade, m as sim de se
guro certo para mais se dilatar a sua vida. E para que a es
perança do súbdito se ajustasse com a fé do Prelado, lhe
disse então, por form aes palavras : — Meu Padre Pinto,
Vossa Reverendissima queria ir-se ao céo ás mãos lavadas?
Pois não ba de ser assim ! Longa tibi restai via ! Tem m uito
ainda que p assar e padecer prim eiro ; não ha de m o rre r
m orto tão descansada; antes delia ha de te r m uitos trab a
lhos, ha de fazer m uitos serviços a Deos, c salvar m uitas
a lm a s ! Levante-se já Vossa Reverencia e vá dar ao côro as
graças ao Santissimo Sacram ento, que he quem lhe concede
esta saúde. — E voltando-se para o irm ão enferm eiro lhe
disse — D ê-lhe o seu vestido, e não torne mais este P adre
á enferm aria. — 0 mesmo foi acabar o Venerável P adre de
fallar, que achar-se repentinam ente são o P adre Pinto.
Vestio-se, e foi dar graças no côro, e não tornou mais a
adoecer até o dia da sua gloriosa m orte, passados não
menos de 20 annos: e quasi toda esta serie de tem po gastou
na reducção e ensino dos seus am ados índios, sem que o
cuidado da alheia o fizesse esquecer da salvação própria ;
gastando todos os dias, além do outros exercícios espiri-
tuacs, quatro horas dc oração m e n tal; como testeíicou lm m
P adre que foi m uitos annôs seu com panheiro na aldêa do
Espirito Santo, aprendendo em tão divina escola o santo
exercido das virtudes, com que ricam ente se adornava
aquella bem dita alma. E ntre estas farei só particular m en-
íS —
CAPITIiLO I.
CHEGÃO OS P A D R E S LUIZ F IG U E IR A , E BENEDIC TO AM ODEI AO
MARANHÃO, E DE COMO FORAO H O SPED A D O S DE SETJS
MORADORES.
Quem não adm ira a profunda e sem pre adm ira vel Provi
dencia do Altíssimo, com que governa o suavem ente vai di
rigindo todas as cousas pelos m esm os cam inhos, que o nosso
lim itado juizo, ou julga difüceis ou totalm eute tem p o r im
possíveis !
Ao m esm o tem po que o dem onio no M aranhão buscava
todos os m eios para en red ar as alm as de seus m oradores, e
pela m esm a razão difíicmllava os progressos da quasi d es-
iallecida reducção de tantos Gentios, e não m enos enfraque
cida fé dos já reduzidos ao grém io da Santa igreja ; dispu
nha Deos em P ernam buco o rem edio a tão diabólicas astúcias,
e apresentava a triag a a tão perigoso veneno.
Tinha chegado áquelia cidade, como dissem os no Gap Xíl
do prim eiro livro, o P adre Manoel Gomes, que cansado de
ver as m uitas injustiças, violências e desaforos , que com os
m iseráveis índios e suas famílias usavão os m oradores de
S. Luiz do M aranhão, sem que seu zelo, nem a sua prudência
o hum ildade podesse pôr term o a tantas desordens ; ao m es
m o tem po que lhe não m ettião m edo os m uitos trab alh o s,
que padecia e as m uitas calum nias, que innocentem ente
supportava, sem rem edio, sem consolação, nem allivio de
tantos m ales, receiando que a violência abrisse a p o rta a
algum desacato, c que de insolentes passassem tam bém a
serem sa crile g o s: tornou por m elhor expediente buscar com
s o r com panheiro, n a presença d o S o b e r a n o , m m e i o - m n e
,,e livres gemiAo .lobaiso de hum continuo, e J.i declaum o
“ c h ^ u o 1'adrc Manoel Comes como já disre a Ma -
/Iriil -i lom no nue ainda estavao frescas as m c m o n a.,
« ,S W « ™ a s rtaquelles ieaes vassalos na m o
do Plissimo Bei 1). Kolippe III, . e com. o novo 1
dn r ô rle se d em o ra rão os negocios, mais do que p o m a so
t r a activa S e i i c i a do P a d r e G o m e s ; motivo p o r que
deixando na co rte h u m m e m o rial com a exacta n a n a ç a
quo succcclía no Maranhão com grave prejuízo do seiv • .
Íleos c de Sua Magcstade Catholica, se re tiro u a f e n _
Imoo. \ h i fez do tudo individual n arraça o ao I M i e i r o w
I:M das calumnias que a olle c a seu com pan ™ o tm h 0
imposto aquelies m o rad o re s, ate e n t r a r e m n o p io jecta u c o.
(inercrem lançar fóra, a não t e r e m os Pin tcs vo r ‘
sua r e tira d a , tudo p o r respeito o dclesa dosM n h m , a qu ,
como pais aeudiào, consolavão c p r o cu rav o efen d er < as
continuas violências da sua ambiçao e da sua da, p ai a
continência; tratando os pobres índios, m ais co ’
quo como alm as, por quem o sangue de Christ sc t n a
derram ado, com prejuízo gravissim o, e
mento daipicUas Cliristandades, buscando os niatos e f i0im o
lios povoados, so por não acabarem ou verem acabai a» suas
familias ás m ãos da sua m esm a infelicidade. i
pasmava o Provincial o adm iravao-se os Im li0i . .. ç
tantas o Ião irisupporlavois perseguições , a ipm o seu
mesmo receio tapava o cam inho do regresso paiaO ium a
tão gloriosa Missão, o os m oradores de S. Luiz ■' o r a aos
onerarios de huma tão florescente C hnstandade. lia s nem o
line ouvião, nem o que com razoes convincentes exa&eravc ^
Padre Gomes, intimidava o fervoroso espirito do m agnani
mo Padre Luiz Figueira, que ahi se achava do tempo da sua
retirada da Serra depois da m orte do venerável P adre lu an -
risco Pinto; c como de tão bom m estre tinha aprendido lições
de valoroso e destemido soldado nas em prezas de m aini
Olinda e serviço do Deos, despertada agora a saudade de
nroseuuir hum a Missão, que a valentia de seu coraçao
tinha iá em prehendido, ep o r falta de meios se tinha retaidodo,
propunha com edicacia. persuadia com razões, e pedia com
ien,n;is ;n» Superior lhe concedesse hceriça. para que a
!o d o o cuslo poiScSi'O \r acudir ao b o n do Ju n ta s a mm.-, qui
^orao ovelhas' do rebanho de Christo corriao perigo entre a
voracidade de tão fam intos lobos. Adegava que o sangue d o seu
am ado com panheiro o Padre Pinto estava clam ando d am es
m a terra do M aranhão, onde tinha sido aleivosam ente d e i-
ram ado, por obreiros, que continuassem o trabalho da m es
m a lavoura, cm que ellc tinha gloriosam ente acabado a vida
one esperava da bondade de Deos, por quem so sacrificava a
tão im m ensos trab alh o s, abrandaria os duros coracoes d a-
quelles povos, e serenaria a tem pestade cm quo n aufraga-
vão as almas dc tan to s e Ião m iseráveis lo o m s : c quo para
assim o pôr em execucão, não esperava mais que a sua ben
ção, com a qual assegurava não pequenos soccorros nos
m aiores c m ais diííicultosos perigos.
A nada deferio o P ad re Provincial, propondo-lhe as gran
des calum nias que os nossos tinhão padecido, o o grande
perio-o que co rrerão naquella torm enta d e s fe ita e m (pie nao
era "bem se arriscassem os creditos da Religião, e _o bom
nom e de seus súbditos, a quem as leis da caridade nao obri-
o-avão a carreg ar h u m peso tão desm arcado, que p o r iatta
de forcas se vissem precisados a desfallccer na em preza, e
acabar na conquista. Assim dizião os hom ens, m as m uito ao
contrario dispunha e governava Doos o coraçao de L l-hei
em beneficio do'm esm o rem edio, pelo qual clam ava o grande
e agigantado espirito do P adre Luiz Figueira.
Inform ado pelo m em orial do P adre dom es, íizcrao tal echo
nos pios ouvidos do S r. D .F elippeIV as desordens do Mara
nhão, e o desam paro (Iaque!la C hristandadc, que dando ah
providencias necessarias, m andou ao seu G overnador e u q n -
tão-G encrai, que já então era Diogo dc Mendonça lu irtad o ,
que em seu nom e ordenasse ao Provincial da Gompanhia.
d a que! la Provincia m andasse operarios para o cultivo de tao
dilatada vinha, para que tom assem á sua conta o ensino e
doutrina das aldêas da Ilha dc S. Luiz, p or ser assim con
veniente ao seu real serviço. >A
Gommunicou elle logo as ordens que recebera da coito
ao dito Provincial, que prom ptam ente obedeceu a eilas,
vindo por esta occasião alcançar o P adre Figueira o que
tanto desejava ; nom eando-lhe por com panheiro ao venerável
Padre Benedicto Amodei, que immecliatamenle forno d ar
■ conta de hum a tão honorifica com m issão ao m esm o G over
nador, que por extrem o ficou contente e satis leito da eieieao.
por lor i min grande coiilui»-tinonlu nu virtude, In Irus o pru~
doncia do priineiro, e da conhecida santidade do segundo.
.lá a este tem po tinha elie nom eado para C apitão-m ór do
Maranhão a Antonio Moniz B arreiros, que se fazia credor de
m aiores cargos, assim pela qualidade da pessoa, como pelas
forçosas razões do m erecim ento e serviços de seu pai. com
que se fazia aos m aiores igual no valor, e a nenhum segundo
na expericncia, na resolução e no acerto. O rdenou-lhe no
seu regim ento, que nas cousas (excepto m ilitares) de m aior
m om ento se aconselhasse em tudo e por tudo com o Padre
Luiz Figueira, e não obrasse cousa a que se oppuzesse m a
nifestam ente o p arecer do dito Padre, pelo grande conceito
que tinha da sua capacidade e zelo, assim do serviço de Deos
como do seu Rei.
Prom pta a viagem e aviados prim eiram ente os nossos Mis
sionários de algum as cousas que havião cie servir ao Culto Di
vino, se em barcarão no dia determ inado em com panhia do
novo Capitão-m ór, levando comsigo alguns índios das aldêas
de Pernam buco, destros, assim no que dizia respeito ás
fimeções da Igreja, como nos officios m ecânicos que julgou
o Padre mais precisos ao estabelecim ento de hum a perm a
nente e bem regulada fundação e casa da Companhia.
Chegarão finalm ente com hum a bella viagem a fe rra r o
porto da cidade de S. Luiz em Março de 1 6 2 3 ; porém as
torm entas que faltarão aos nossos no m ar se arm arão em
ferra com hum a carranca tão m edonha , que causarião
te rro r ao mais destem ido argonauta, a não ser o P adre Luiz
Figueira o piloto daquella espiritual derrota.
Desembarcado o Capitão-m ór, e na sua com panhia os
nossos Padres, en tro u logo o povo a inquietar-se e a inten
tar pelos meios m ais violentos a retirada dos novos Missio
nários no mesmo barco em que vierão de Pernam buco, fir
m es no injustissim o e execrando pretexto de que com a sua
assistência não correria tão livre a sua ambição no cativeiro
dos desgraçados índios, que não deixavão de repetir o seu
arrependim ento em deixarem o suave jugo do governo fran-
eez pelo partido de Portugal, que tão mal lhes pagava a
constância com que passarão daquelle para o nosso serviço;
o o peior era que m ais que de outros se queixavão dos pri
m eiros Religiosos da Companhia que ao principio os p rati
carão, fazendo-lhes grandes prom essas e partidos debaixo
do dominio portiiguez, a que Indo láltavão, vendo-se mais
poderosos em lo i r a s e tolalweiite s en h o res da sua o p p n
Hilda nação. Mas ainda assim, pelas largas experiências q u e
dos P ad res tinhão não deixavão de co n h ecer que na sua
vinda recebião pais, medicos e defensores, e p ara h u m a vez
dizer tudo, iodo o re m e d io nas suas m aiores necessidades,
e q u em não vê q u e á vista d e h u m tão g ran d e bem, q u e
lhes entrava pelas suas aldéas, havião de m o s tr a r nos s e m
blantes a alegria que lhes red u n d av a n o s corações, dando-se
os p a ra b é n s h u n s aos o u tro s d a felicidade que vião e n t ra r
pelas suas m e s m a s p o rtas.
Daqui tom arão os m oradores o fundam ento de dizerem
que os ín d io s estavão como levantados com a vinda dos
P adres, prom ettendo-se liberdade com a sua p ro tec çã o ; que
nunca desistirião de lhes tirar de casa os aldêanos que p o s-
suião com o titulo de prim eiros povoadores, a quem devião
servir como escravos, posto que os não podessem vender
como ta e s ; que todo o rem edio para o seu socego era não
consentirem os P adres da Companhia naquella Cidade, pena
de ficarem pobres e totalm ente perdidas as suas conveniendas.
E stas e o u tras razões forão de tal so rte alterando aquelle
inquieto e indom ável povo, que se vio obrigado o P adre
Figueira a ir á Gamara, e para o liv rar de todo o receio
assignar um term o, no qual declarava que a sua vinda não
attendia m ais que á salvação, e bem das suas almas e re-
ducção daquelles índios, pregando, doutrinando e b ap ti-
sanclo, sem in tro m e tte r-se a tirar os índios, fossem ou não
fossem v erd adeiros cativos, nem ainda m etter-se em sem e
lhantes m aterias, salvo se a consciência ou a obrigação
assim o req u eresse ou pedisse no tribunal da penitencia,
p ara socego das suas alm as, pela obrigação que tinhão de
m o strar a todos o cam inho da eterna verdade.
Esta ultim a lim itação, sendo tão conform e aos dictam es
da boa razão e m uito p ro p ria de huns hom ens catholicos,
pareceu tão m al á deplorável cegueira daquelles m oradores,
que teim osos insistirão em que os Pieligiosos da Companhia
devião sahir do Estado, e voltar na m esm a em barcação em
que vierão.
Azedado ficou por extrem o o resoluto animo do C apitão-
rnór Antonio Moniz, como a quem tocava rep rim ir o orgulho
de hum a tão m anifesta violência ; quizera logo fazer enten
der áquelles inconsiderados, que ainda tinhão Superior, que
saberia castigar com o rig o r das arm a s as desattenções c
I dS
0s r í c t i i o
E i ^ e t u r ^ i u ^ ^ 0Ü S A n S “S
vpsleií , com mais sete Po rtu g u eses, e m d u a s e a n u a s b e m e s -
ji . , , ln Tnriinc' ep h em antos aos rem os, m elhoi aos
'Ircos1 corn o rd e m para se inform ar do que se passava n a ilha
m rin it a n u c u r ú . P ara este encaminhou elle prim eiro as suas
pròas com tão boa fortuna c destemido valor quej s a b e m
ir>vedava por elle lm m b arco armado com 30 Hollandezcs
l E b o r d o u , degolando-lhe toda a equipagem, menos.. lm m
(IUc servio de lingua, e lançando logo a embai cacao *e en
\ pn n r ;0 (\q festivas luminárias, todo a quelle dia, p a u
melhor celebrar este triu m p h o . Retirou-se cheio de gloiia
H K aò q o arlc P g c n cral depois de p a s s a r . pelo torte
i ('«ivario secu n d a vez occupado pelos inimigos com a
í o T i S áa os quaes, salvando com repetidas balas as
duaPtriutnpbanles la n d as, as deixarão p assar en tre os riscos
do susto superiores p o r é m ao perigo da passagem. _
1)0 prisioneiro soube o nosso Commandante com mdivi-
d à f . estado da Ilha, o exercia,o dos l l d l a n t a e s . que
e n " andarem disfrutando as lavouras dos m m adores, ie
be hi seus frutos na praça para fornecimento do seu
hresidin quo ia mais avultado com o soecorro q u e Imha
checado' de P ern am b u co , carecia m into de sustento. fw o
intimidam aqueüe ao nosso Commandante, p o r q u e |ja o seu
campo se achava ta m b ém mais engrossado, assim de m o m -
tioros como de Índios. Ordenou logo aos Capitaes Manoel
de Carvalho (*j e João Tasco, soldados am bos de valor e reso
lução une com as suas companhias passassem a ilha a
t a l a r ’a campanha, e a fazer aos inimigos as m aiores h o s
tilidades- e elle com o resto da sua gente os íoi seguindo
até se acam par cm h u m lu g ar mais proxim o a dita Ilha, e
o mais conveniente á distribuição das suas o rd e n s na oc
c u r r e n d a de algum repentino accidente.
(■', Manoel de Carvalho Barreiros, irmão do Capilão-mór Antomo Moni*
Barreiros. S k r m h , Animes n, SO!).
Chegarão os dous cabos a tão bom tempo, o com tão bom
successo, que em vários encontros com os H oüandezes lhes
m a ta r ã o m ais do cincoenta s o l d a d o s ; obrigando aos mais,
que andavão espalhados, a r e c o lh e r - s e ao recinto da sua
praça. P o r é m para resarcir o d am no, que as nossas parti
das tinhão causado nas suas tropas, sabendo que o Capitão
Manoel de Carvalho estava com q u aren ta soldados desfazendo
h u m a s lavouras no sitio das ín h a ú b as (*), expedio logo s e s
senta Hollandezes com cento e cincoenta índios, e o r d e m ex
pressa p a r a que os acom m ettcssem nas vantagens do seu
m esm o descuido s e m d a r q uartel a pessoa alguma.
Quando já ião chegando ao lu g a r destinado, ford o presen-
tidos das nossas sentinellas, e tom ando todos com p ressa
as arm as, rechaçarão os aggressores com tanto brio e va
lentia. q u e os d erro ta rão , e pozerão e m vergonhosa fugida,
indo s em p re picando-lhes a reta g u ard a com tão b em ajusta
das em boscadas, que ju n to da Cidade, até onde os seguirão,
já não ião vivos senão alguns Francezes, a quern da nossa
p arte se permittia born quartel, aos q u aes m a n d o u o General
hollandcz enforcar, p arec en d o -lh e, e suspeitando não peleja -
vão contra os Po rtu g u ezes conforme os rigorosos preceitos
da milicia. Assim desabafava este cabo nos seus infortúnios,
faltando a justiça, p o r não p arecer faltava as obrigações de
acautelado.
(■) Berredo chama a este sitio Nhaúmas. A n n im ris. 88:i e 880.
i V i ’l T I ! . ( ' V III.
li
CAPITI LO 1.
B llE V E N O T IC IA 1)0 SELF D E S C O B R IM E N T O , I T M U Ç À O E DO
SEU P R E SE N T E ESTADO.
>'■
CAPlTliLO 11.
, v í,T, r , v d vs M\\i\ EATMTAXIAS liESTr
DA-SE 111.'MA HÍU-.NE \OIi01A
ESTADO.
?ÍlÍlIÍ£=5H£If
,|n Vills eme ora o Missionário da dita aleita o q u t■«-
■o dom o era natural, tinha vindo ao exercício destan
niivasmUicç-õcs, largando para isso as cadeiras da sua Pm-
o achei cscripto entre outras noticias do nosso car-
S
“ “ S r F
J o s C a p u S A. IVoviicia do Santo Antonio ass.nt
.» V
como rodas as dos Arnães e mais uacues q n t
vevereinlissirtios dCO**is iunrl aiao . ,- ■ *
A • destas se ad.ão land,cm ..MS dos Bobgiosos da
Provincia da (ioncoicão, no sitio das alangabmras e Offana
•/.OS. com 1mm llospicio o aldêa no U v a ( , c o o t M W . '■
rminnir'.o r q tiulono rccinto da mcsmallha, cm toda a qua
so a d m n U i t t o r e s o mais dilatadas < - £ * £ « £
o Estado para as criações do gado vaccam e caunllai
1mma quasi maravilhosa produccuo.
Tinha Gapitão-múr lóco-Tcnentc quc era do DonaUno, o
barão da lllia Grande (ao presente \is c o n d e d o Mesqmtela •
liojo t;unhem enmo as mais Capitanias se acha mclmda no
MiSue, do lia n d o s setosissimo
Prelado dcsia Diocese, lhe mandou e rig ir 1' re gue zm no g™ o
de 1 7 5 8 no lugar da Cachoeira, para commodidaelc c i e m
espiritual dos m uitos moradores, que na dita ilha sc ac
situados com seus gados c fazendas. ;
]>ara a parle ou ponta cio Cambii esta b u m famoso _ pes
..... iro de lain!,as, t|uc rende muitos m il cruzados i. iça
Fazenda, e lie o melhor soccorro de peixe, m o u ia e sceeo
une mm os moradores do Para.
Xo seu maior comprimento do Nordeste Sudoeste tem
esta ilha cincoenta léguas : na sua maior largura, quc corre
Leste oesle, sc contão trinta e oito léguas. _ .,
Deixando a cidade, o navegando pelo n o acima doMoju,
passado o Igarapómirim, se entra na Capitania do Caamuta,
distante vinte o oito lcgoas do Pará na boca do n o locantms
ao poente, que foi do Ponatario Francisco de Albuquerque,
com a villa do seu mesmo nome, chamada Santa Cruz uo
Caamutá, . . TT •
Tem CapUão-unór, Senado e a Matriz com h u m hlospr-
(•) Hp prcsentonionte a povoação do Salvalerra.
i") Up prcsonlomoiilo a villa do Moiisaras.
— I!17 —
cio dos Religiosos Mercenarios; hoje porém pertence ao real
dominio. . .
As aldòas deste districto forão fundadas pelos Religiosos
da Companhia, donde passarão para o cuidado dos Reve
rendissimos Filhos da Santa Província da Piedade.
Largando a villa de Caamntá se vai buscando o_ Tajipurú,
p or onde o rio cias Amazonas desce e se communica Áorte-
sul com declinarão para o Sueste com os rios Guanapu, P a-
cajá, Jacundá, e Tocantins, ^ que todos correm do Sul para
o Aorle, cujas aguas, parte formando a balda do Marapata,
se estendem pela costa de iliortigura (*), por onde também
sabem ao m a r alto; parle desaguando pelo Igarapémirim,
se vão ajuntar com os rios Mojú, Acara, Capim, e Guania,
que todos juntos com caudalosa corrente formão a grande
balda ou b a rra da Cidade do Pará, que alguns com muito
pouco fundamento dizem ser huma parte da grande boca
do famoso rio das Amazonas, que so neste sentido se lhe
póde dar a largura de oitenta e mais léguas.
Do Caamntá até o Gurupá, que também he Capitania de Sua
Magestade, se contão sessenta e seis léguas até o lugar onde
se acha a fortaleza sobre huma ribanceira do rio das Amazo
nas, de taipa de pilão e pedregulho, que he das mais an
tigas do Estado, onde também se acha h u m Hospício dos
Religiosos da Provincia da Piedade, que a expensas da sua
R e af Fazenda lhes mandou fazer o Serenissimo Senhor Rei
p . Pedro 11, de saudosa memória, tendo antes largado
aquclle sitio os Religiosos do Carmo pelos inconvenientes
q u e então experimentárão.
He Fortaleza de registo com Capitão-mor e soldados, e
das de maior conveniência deste grande rio pelas muitas
drogas do sertão que senhorêa. ^ _
Defronte do Gurupá para a banda do Norte fica a Capi
tania que foi de Dento Maciel Parente, e hoje lie do domí
nio régio, onde ao presente se acha fundada a grande
villa de S. José do Macapá.
A maior p arte dos seus m oradores são llliéos da Graciosa,
mandados vir para a povoarem á custa da sua Real fazenda
pelo Fidelissimo Senhor Rei D. José 1.
Tem hum regimento de companhias ligeiras, a que cha
in n o do Macapá, com todos os olíiciaes competentes, que
f p A t' 11Kill n e 111e \i!l;i dn Cn'ii!<\ ii,- iiuirfori! u r i o n lM d o rio 'I ocrniliiis-
pod or ião fazer daquella Capitania Imma das mais respeitáveis
forcas do Estado.
Acha-se fronteira a esta villa a Ilha de Santa Arma com
Imma a l d e a d o serviço dos moradores e mais presidio; a
maior parle gente descida pelo celebre sertanejo Domingos
Dortüho.
Correndo do Gurupá doze léguas rio acima das Amazonas,
desemboca nelle ao Nascente o rio do Xingú, cuja Capitania
foi dada por Sua Magestade no armo de 1681 a Gaspar de
Abreu e Freitas. N ão 'p u d e averiguar as causas por que
não sortio efíeito esta doação real.
Neste rio se achão ao presente tres aldôas chamadas Ita-
curuçá, Piravery e Ariçará (*), dos Religiosos da Companhia,
fundação sua, como lambem a aldêa de Caveaná (**) dos Reli
giosos da Provincia da Piedade. Da parte do poente, acima
de Gurupá, íica o Forte do Parú (“ l , c o m official e soldados,
senhoreando a melhor salsaparrilha do Estado qual a que
se descobre por todo este rio.
Até aqui me pareceu devia tratar com mais alguma dis-
fineção destes lugares, por estarem comprehendidos no
numero das Capitanias, e como taes sujeitas á esta capital
do Pará, de quem desejáramos dar mais ampla noticia, a
não exceder a sua grandeza os curtos e toscos rasgos da
nossa penna. A seu tempo foliaremos das muitas aldôas que
fundárão, nações que reduzirão,-trabalhos que padecerão e
o muito que trabalhárão os filhos do fervoroso Patriarcha
Santo Ignacio por todo o rio das Amazonas (do qual dare
mos primeiro huma descripção geographica)., sendo muitos
os que nesta conquista derão gloriosamente as vidas no
serviço de De os e do seu Rei.
Por agora quero acabar este capitulo com a breve noticia
das armas com que se ennobreceu em sens princípios esta
illustre cidade, que devendo estar gravadas em marmore,
para eterno monumento da sua grandeza, apenas as encon
trámos, depois de muito estudo e diligencia, em hum dos
antigos escriptos do nosso cartorio do Pará, que- também
os papeis são bronzes em que se perpetuão as mais plausí
veis e illustres memorias.
C) E stes tres lug ares são hoje as villas de 0 eiras, Pom bal e Souzel.
( " ) Tev e posteriorm ente o nom e de RehordrHo. na ilha de C aveaná.
’ " i t i e hoje a villa do Alinriniri
I !H
Porão pois as arm as da cidade de Petldém do (Jrao-Para
hum escudo grande esquartelado, de Imma p arle do qual,
em campo azul, se via hum castello do prata, o nolle luim
escudo do ouro com as Quinas do Portugal, pendente do
um trancelim do pedraria. Em cima do castello, do ambos
os lados, sahião does braços : h u m , offerecondo hum cesto
de flores, com a inscripção por baixo — Vermi mlcrmm —-:
em outro, hum cesto de frutas com a inscripção — Tutrns
latent— do outro lado, em campo de prata, hum sol ret.ro-
orado, correndo do poente para o nascente, e a m scripcao
— Rectior cum retrogradus — ; o logo outra — Nequaquam
minima est — , conT uni boi o uma m ula por baixo, olhando
para o mesmo sol.
A intelligencia destas arm as quero deixar aos curiosos o
sábios leitores, por nos parecer ja tempo de continuar o
fio da H istoria pelo que diz respeito á prim eira entrada da
nossa Companhia neste vasto terreno do P ara e rio das
Amazonas.
CAPITULO HI.
ENTRA NO 1‘AliÁ O P ADRE LUIZ FIGUEIRA , PART E DEPO IS
P ARA O REINO A RUSGAR OPER ARIOS DA COMPANHIA DADA
ESTA TA O ORANDE SEARA , E VOLTA P A R A 0 MARANHÃO
COM I IP MA GRANDIOSA MISSÃO.
Poucos mezos nasi < ou nosirs ani sslolicos nxereirios i -be iti
faligavel o; lerario, porque o sou destino por então o tro u -
Nora ao das cohrimcntn da (ienlilidade do famoso rio das Ama-
zonas: mas para ([no a sna vinda por I ran so mito não fosso
(’ansa (it1 i o seroarem as nlanlas quo com tan to sum* do son
rosio India r c a d o , insiruio os mosmos catechistas no
modo da haptisar, nos casos quo a necessidade permit lo. o
do como os has ião do animar no ultimo perigo da vida : o
aos já chrislãos a hem m o rre r coni fervorosos a d o s muito
proprios daquei la hora, nló por ultimo linos rej)e tirem mu ita
vezes os dulcíssimos nomes do Jesus e alaria.
Isto assim ideado, c melhor promovido para o hem do
tão desamparada Cliristandadc, já no fim do anno de «íifiO
parlio o fervoroso Missionário para (inrupá, onde não
íez pequeno serviço a Deos o fruto ás almas dos m orado
res, que se não tanto como os Índios, pouco menos so p o
rt tã () consi d era r desampara dos.
Passados alguns dias, que empregou todos em praticar e
ouvir de confissão aos Portnguezes, sabendo do muito d e n
tio que occupava o rio do Xingú, que na distancia de doze
léguas do íl urupá pagava, como os mais, ao das Amazonas o
grande tributo das suas aguas, o dando-lhe os moradores
vizinhos seguras noticias das varias nações que o h a-
bitavão. e entre cilas alguma da lingua geral em quo o Padre
era eminente, despertarão a q nolles tão vivos desejos no
animoso coração do Servo de Deos, que assentou logo com-
sigo de os buscar, o dar principio por este braço á espiri
tual conquista do dentais corpo ; c como na demora vivia o
seu espirito violento, c o m a maior brevidade do ajustar caiiôa
e remeiros até o lançarem na primeira povoação de b a rb a .
ros, porque firmemente esperava em Deos os reduziria á
vida clirislã c a liuma menos barbara politica; apostado ou
a m o r re r na empreza ou a conduzir aquollas ovelhas ao r e
banho de Christo.
Era imperterrito o P adre Figueira cm omprehcnder grandes
cousas, o onde era maior a diííiculdade abi empenhava
mais a valentia do sen animo. Partio final men te para huma
Missão tão incerta, como difiicil, som outra companhia para
sua defesa que os poucos índios, que a caridade de alguns
Portuguezes lhe ofíerecêrão para o seu transporte, nem
maior trem que h u m altar portátil, nem outro viatico que
a confiança em D e o s , de que lhe h a v i a d e p r o s p e r a r huma
JI \
,., I,i-(I li'.r i !;i!ii i) iio serviço, o Om'qiiC 0 SOU mais VÍVO e
ri'iii';!/; i f mjü cm Vi v aqneilo (mulio, so não todo, ao menus
j 11i i1i i1 i'i ■(1; í;-:í o í) ao grormo da Igreja o vassal lagoni oa Goroa
i ’<tr h i o!ioza.
godo abrazado neste divino fogo, qual o u lro Xavier na
Índia, navegava eslo insigne Argonauta nan cm busca do ve
toed no do ouro, m as sim com o intento do desentranhar da-
(juellas brenhas as preciosas m argaritas do tantas almas,
Ilar a coiiii>rar as quaes linha olio despendido lanios cahe-
daos de virtuosas fadigas, e. punha agora em risco a propria
vida, oíTereccndo-sc a dar jaor ellas o cnslosissim o preço
do seu sangue.
Chegou iinalmenle. depois de alguns dias de viagem ao
desejado dolosi de tantas e Ião apreciáveis riquezas. Topou
(‘,oio hum a populosissim a a Idea, não m uito distante de hum
lugar, a que os natura es dorão o nome de Tabpinimá. Admi
rados íicárão aquelles barb aros, quando virão nas suas
I,erras no novo Missionário tão pobre c hum ilde, sem m ais
arm as que o breviario em huma e o bordão em outra m ao,
sem mais companhia que a do seu Christo, que levava ao
■peito, e os poucos rem eiros, que o transportarão na canoa.
K, como Deos, que lhe guiava os passos, era o m esm o que
agora movia os corações daquelles Gentios, de tal sorte se
forão agradando da suavidade das palavras, com que o P adre
lhes fallava na língua geral (que para elle era nativa, e para
os Índios não era nova, em bora menos usada na sua nação),
que att rábidos de tantos carinhos, sabendo o desinteressado
da sua vinda, renderão logo a fereza dos genios ao bellissim o
agrado do seu novo hosp ed e; tanto assim , que em breve
tempo se fez senhor de toda aquella povoação, com burn
dominio tão suave nas vontades de seus m oradores, que con
dado em Deos com tão m anifesta ajuda da sua protecção,
despediu os Índios o a canoa, e se deixou ficar entre aquelles
inlieis, ou a m o rrer na conquista, ou a conquistar-lhes as
alm as para o Senhor do tão dilatada seára, fiando c com -
m ellcm lo aos acertos da Divina Providencia, esta, ao parecer
dos prudentes, tem eraria, sobre arriscada resolução.
I,ovava o Padre comsigo alguns prém ios dos que mais
estim a esta pobre gente, e depois de os ter com elles obri
gado, e lotalm enle reduzido ao seu partido, não ajudando
pouco a seus santos intentos a grande caridade, com que
lhes assistia nas suas enferm idades: o amni' e carinho, com
<ji K3 Ihcsaílagava os simis lilhinhos, iodos os í os os mais podu-
rosos altractivos da sua b arb a rid a d e , o. cm quo o nosso
Missionário ora insigne, p o r i.or sido discípulo e c o m p a n h e ir o
do gran d e m ostro o v e n e rá v e lP a d re F ra n c isc o Pinto, foz loio»
co m o Principal, que m an d asse levantar Igreja, para iioíía
Ilies e n s in a r e s m y s te rie s da le, que lhes vinha an m m cia r p ara
se fazerem íilhos de Deos, e por isso senhores de todos os
b en s do Céo, q u e cllo lhes assegurava, se recebessem pri
m e iro o Santo Baptismo, p o r meio do qual ficar ião as sues
almas livres do cativeiro do diabo.
Que a este íim os viera buscar ás suas terras, o largara
pai, mãi e parentes, e a sua mesma Patria, sem in ais inte
resse que o bem o salvação das suas almas, que crão as d r o
gas que pretendia tirar dos sertões. Pasmados os Pen tios
cada vez mais entranhavão o Padre nos corações, c para
melhor lhe fazerem o gosto, com a maior brevidade levanta
rão Igreja c casa de vivenda pela direcção do mesmo Padre.
Já mais saboreado cornos bem suecedidos prelúdios da sua
Missão, levantou o seu altar portátil, econvidou logo a todos
a que viessem com seus filhos a receber o pasto da santa
doutrina, o que depois se continuou quolidianamente, ensi
nando-lhes as orações, e explicando-lhes os mysterios pela
phrase da m esm a lingua.
Assim foi pouco a pouco dispondo os adultos para o baptis
mo, e aos mais r u d e s ; instruindo-os de sorte que podessem
ao menos recebe-lo com fruto na hora da morte, exercido
em que ganhou para Deos muitas almas, além dos muitos
innocentes, que pela graça de tãoefíicaz Sacramento voárão
ditosamente para o Céo. Assim remunerava Deos a seu fiel
servo os grandes trabalhos, que abraçára por seu amor,
adoçando-UPos agora com a abundanda de tão santas e es-
pirituaes consolações.
Era copioso o fruto, e abundante a colheita de tão immen
sa seára, na qual as forças de h u m só operário, que a P ro
videncia milagrosamente conservava para remedio de-tantas
almas, não erão bastantes a recolher nos celleiros da Santa
Igreja os grãos escolhidos cie tão m adura messe.
Clamava a Deos o fervoroso Missionário por mais obreiros,
sabendo das muitas e varias nações, que habitavão pela dis
tancia daquelle rio, e de que apenas elie podia acudir a hum a
só povoação, sendo esta tão populosa, que delia se vicrão
depois a formai' Ires das mais numerosas. Nestes santos e
*.V;>(MÍir;io binio do sou Si'i’viro, c em'quc o sou mais vivo o
, nír;ix "desejo era v< r aqiudlo Camilo, se não todo. ao menos
parir reduzido ao gremio da igreja o vassaliagem da Goroa
Porlnguezn.
Todo abrasado neste divino fogo, qual outro Aavier na
índia, navegava esto insigne Argonauta nao em busca do ve-
joeino de ouro, mas sim com o intento do desentranhar da-
qaelias brenhas as preciosas margaritas de tantas almas,
para comprar as qua cs tinha ellc despendido tantos cabe-
dacs do virtuosas fadigas, c punha agora cm risco a propria
vida, oíTereccndo-sc a dar por cilas o enstosissimo preço
de. seu sangue.
Chegou imalmenlc depois de alguns dias de viagem ao
(lesejailo Potosi cie tantas e tão apreciáveis riquezas. Topou
com huma populosissima a Idea, não muito distante de h u m
lugar, a que os natnraes derão o nome de Tabpinimá. Admi
rados Íícárão aquelles barbaros, quando virão nas suas
terras ao novo Missionário tão pobre c humilde, som mais
armas que o breviario em huma o o bordão em outra mão,
sem mais companhia que a do seu Christo, que levava ao
peito, e os poucos romeiros, quo o transportarão na cunha.
E como Deos, que lhe guiava os passos, era o mesmo que
agora movia os corações daquelles Gentios, de tal sorte se
furão agradando da suavidade das palavras, com que o Padre
lhes faílava na lingua geral (que para elle era nativa, e para
os Índios não era nova, embora menos usada na sua nação),
que a Ura hid os de tantos carinhos, sabendo o desinteressado
da sua vinda, renderão logo a fereza dos genios ao bellissimo
agrado do seu novo hospede ; tanto assim, que em breve
tempo se fez senhor de toda aquclla povoação, com h u m
dominio tão suave nas vontades de seus moradores, que con
fiado em Deos com tão manifesta ajuda da sua protecção,
despedio os índios c a canôa, e se deixou ficar entre aquelles
inficis, ou a m orrer na conquista, ou a conquistar-lhes as
almas para o Senhor de tão dilatada seára, fiando e com
metiendo aos acertos da Divina Providencia, esta, ao parecer
dos prudentes, temeraria, sobre arriscada resolução.
Cevava o Padre comsigo alguns prêmios dos que mais
estima esta pobre gente, o depois de os ter com elles obri
gado, e loíaímrnte reduzido ao seu partido, não ajudando
pouco a seus sardos intentos a grande caridade, com que
dies assisüa nas suas enfermidades: o amor e carinho, com
([ini lhcsallagava os sous llliiiníios, iodos os!os os mais pode-
rosos allraetivos da sua barbaridade, o em quo o nosso
Missionário era insigne, por lor sido discipulo o companheiro
do grande mestre o venerável Padre Francisco Pinto. fez logo
com o Principal, que mandasse levantar igreja, para ne!la
Hies ensinar os mysteries dale, quelhes vinha annunciar para
sc fazerem filhos de Deos, e por isso senhores de todos os
hens do Ceo, que olle lhes assegurava, se recebessem p r i
meiro o Santo Baptismo, por meio do qual ficarião as suas
almas livres do cativeiro do diabo.
Que a este íim os viera b u s c a r á s suas terras, c largara
pai, mài e parentes, c a sua mesma Patria, sem mais inte
resse que o bem c salvação das suas almas, que erão as d r o
gas que pretendia tirar dos sertões. Pasmados os Gentios
cada vez mais entranhaváo o Padre nos corações, c para
m elhor lhe fazerem o gosto, corn a maior brevidade levanta
rão Igreja e casa de vivenda pela direcção do mesmo Padre.
Já mais saboreado c o rn o s bem suoccdidos prelúdios da sua
Missão, levantou o seu altar portátil, c convidou logo a todos
a que viessem com seus filhos a receber o pasto da santa
doutrina, o que depois se continuou quotidianamente, ensi
nando-lhes as orações, c explicando-lhes os mysterios pela
p h rase da mesm a lingua.
Assim foi pouco a pouco dispondo os adultos para o baptis
mo, e aos mais ru d es ; instruindo-os de sorte que podessem
ao menos recebe-lo com fruto na hora da morte, exercido
em que ganhou para Deos muitas almas, além dos muitos
innocentes, que pela graça de tão efílcaz Sacramento voárão
ditosamente p ara o Céo. Assim remunerava Deos a seu fiel
servo os grandes trabalhos, que abraçára p o r seu amor,
adoçando-lh'os agora com a abundancia de tão santas e es-
pirituaes consolações.
Era copioso o fruto, e abundante a colheita de tão immen
sa seára, na qual as forças de h u m só operário, que a P ro
videncia milagrosamente conservava para remedio de-tantas
almas, não erão bastantes a recolher nos celleiros da Santa
Igreja os grãos escolhidos de tão m adura messe.
Clamava a Deos o fervoroso Missionário p or mais obreiros,
sabendo das muitas e varias nações, que habitavão pela dis
tancia daquelie rio, e d e que apenas elle podia acudir a hum a
só povoação, sendo esta tão populosa, que delia se vicrão
depois a formar f.res das mais numerosas. Nestes santos e
semel lianíes oxprcicios sc ibi occupando o b o m Padre Lmz
iqôueirn n o ro sp n eo de alguns mezes cm q u e esteve cora oá
s r us amados X in g u e n s e s ; a lé q u c m c lli o r inform ado das m m -
(jis unções que hm ndavão aquelles serines, sondo do h u m
‘i tevi'o "lã o ammiutndo, esniorccou, e so snilocou son g ran d e
espirito, (mirando logo n a idea do, ir em pessoa b u s c a r o p e
rarios, que pod essem a m dir a tao grando gentilismo, e sup-
purSar o peso do l.ão im m ensos trabalhos, a que seria p i ccisa
p a r a o remedio a m ais n u m e ro s a Provincia.
] ; nma das maiores dificuldades para assim o empre-
] ion dor era largar os sens neoplntos, beando ai no a unus
(lipicii o consentirem estes no seu regresso, _ embora com
o pretexto do seu maior liem e proveito espiritual. Como
porem era dotado dc hu m a singular energia, e da sua
ida a Portugal lho havião precisamente resultar não p e
quenas conveniências, tanto soube dizer, e lambem os
.soube persuadir, que apezar da sumina repugnância, que
se n tiõo de perder a limn tão solicito c amoroso Pau con-
viorão cm qnc lhes fosse buscar outros muitos Missio
nários , para qnc na boa companhia de seus Irmãos
vivessem como filhos dc Dcos na boa paz e socego das já
reduzidas nações.
lnslruidos muito bem os catcchistas que baviao ficar
(mi seu lugar, c prompto já tudo o mais que julgou ne
cessário para a sua viagem, partio para o Gurupá entre
as muitas lagrimas dos seus filhos espirituaes, que bem
mos Ira vão nas vivas expressões do sen sentimento o não
havião tornar a ver nas suas terras.
Com os olhos arrazados em lagrimas iiotavelmeníesaudoso
navegava o fervoroso P adre ate chegar ao Guriipa, donde
passou para o Pará, edeste para r> Maranhão, onde foi rece
bido de seus amados companheiros com demonstrações do
maior gosto e inexplicável alegria, por terem a hum varão
tão santo, a quem rcspcilavão superior, c dc quem experi-
mentavão carinhos de amoroso Pai. Propôz aos Padres a
causa da sua vinda c dos intentos da sua ida a Portugal, que
era buscar operarios que podessem acudir ao ultimo rem e
dio do tantas c tão desamparadas almas, para não correrem
risco os frutos innumcraveis dnquella dilatada seára, o se
perderem por falta do obreiros, ou dc se frustrarem os lau
ros por falta de companheiros que puxassem as redes,
que cerlamenle se romperia o corna iiiniim cravei captura de
ianíos peixes. A lodos pareceu b em esla virtuosa resolução,
que posto os privasse do carinhoso ira to dc Ião excellente
varão, como os sons intent os tondião la m b e m á m a io r gJo-
ria e serviço do Deos, do boa mente cederão a conv en ien d a
propria ao rem edio alheio o salvação do proximo.
Achava-so no p o rto da cidade de S. Luiz a náo q u e havia
]>arlir para o Reino, e chegado o tempo do e m b arq u e, en
treg u e prim eiro o governo da casa ao P ad re Logo do (Anilo,
sobrinho do Capitão-mór que governava aquclla praça, saliio
pela b a r r a fóra no lim já do anno de :ií>d7; com não pequena
s au d ad e de q u an to s o respeilavão, co m o 3mm em do c o n h e
cida v i r t u d e , e dc seus arnantissimos irm ão s, a q u e m tanto
re c o m m e n d á ra o cuidado o assistência daquellas C hristan-
dades.
Assim ia navegando com a idea formada de hu m a gloriosa
Missão, todo entregue ás mãos dc Deos, o inconstância
(laquelles mares, que agora mais que nunca se lhe mos
trarão benignos, como favoráveis os ventos, que com feliz
navegação o pozerão no porto da cidade dc Lisboa.
Seja-me licito e permittão-mc os leitores o seguir a este
apostolico varão até a sua ditosa morte, visto não termos a
fortuna de o t o r n a r a ver depois da sua ida a Portugal, como
mostrará o capitulo seguinte; embora alteremos em parle a
precisa e rigorosa chronologia dos annos.
CAPITULO IV.
v.
CAIMTIIA)
MOUTE DOS PA DUES FRANCISCO P IR E S E MANOEL MUNIZ, E DO
IRMÃO COADJUTOR CASPAR FE R N A N D E S .
PASSAR a o m a r a n h ã o a r e s t a b e l e c e r a n o v a m issão,
MORTOS TODOS OS MISSIONÁRIOS, VENCENDO RARA. ISSO AS
MAIORES D i m C U L D A D E S NA CORTE.
sues pelo sertão e rio acima, não serviria este officio mais
clue de em baraço e im pedim ento a outros m aiores serviços
cie Deus. e assim replicám os ao conselho e a Sua M agostade,
(,nc a rogos nossos foi servido alliviarm os deste cuidado,
como tam bém do de serm os rep artid o res dos ín d io s, que
p o r provisão antiga estava encarregado ao P adre Luiz Fi
l e i r a c seria hum sem inário de odios e eontradicçoes.
s « Os do Conselho U ltram arino e todos os m ais m inistros,
p o r cujas mãos passarão estes dons requerim entos, se edi
ficarão m uito defies, e esperam os que constando-lhes, como
ha de constar, aos m oradores do M aranhão e P ará, destas
nossas resistências e réplicas, acabaráõ de entender a ver
dade do zelo que lá nos leva, e desenganar-se-hão quão
errado he o conceito que tem de nós, em cuidarem que que
rem os mais os índios que suas almas.
« Muito resolutos vimos de arran ca r esta p ed ra de escandam
dos anim os dos Portuguezes, e não fallar em ín d io s mais
que no confissionario, quando peça o rem edio de su as con
sciências, e a satisfação das n o s s a s ; e os índios que de novo
converterm os deixa-los-hem os ficar em su as te rra s , com
que elles c nós fiquem os livres destes inconvenientes, e de
todos os outros, que com a vizinhança dos P ortuguezes sc
experim então. _ . .
« A disposição que fazemos conta de seguir nestes princí
pios lie, que o P adre Manoel de Lima fique no M aranhão,
e eu com os com panheiros que p arecer passe logo ao P ará
a tra ta r da fundação daquella casa, e depois de a deixar
em ordem com os Padres que a continuem , ir fazer o
m esm o ao G urupá, e estar alli mais de assento, como a
principal fronteira da conversão, e onde se ha de assistir
c anim ar esta conquista espiritual.
« Bem conhecem os que os principaes soldados delia hão de
ser os que Vossa Reverencia nos ha de m andar dessa P ro
vincia, como mais experim entados e práticos na lingua, e
m ais exercitados nos costum es desta gente e m odos, por
onde sc ha de reduzir.
« Muito estim aria eu que m eu condiscipulo cio curso, o
P adre Francisco de Moraes, quizera ao m enos por alguns
annos vir se r apostolo deste novo m undo, onde não só com
sua grande eloquenda e espirito nos facilitasse e vencesse
as prim eiras em prezas, mas com seu exem plo nos fosse
dinide, e nos ensinasse o quo havíam os fazer.
<( V erdadeiram ente seria esta acção m ui própria do seu
zelo, o que com grande ediíicação de toda a Companhia
coroaria os gloriosos trabalhos, que pela salvação das alm as
em tan tas outras partes tem padecido.
« 0 mesmo desejo de outros sugeitos, grandes linguas, que
conheci nessa Provincia, e o espero delles o de outros m ui
tos que não conheço.
«Assaz pouco he o num ero de seis para tão grande seára.
« A Provincia do Brazil foi prineipaim enle fundada para a
rcducção o conversão dos Gentios, c não havendo nella hoje
o u tra Missão senão esta, justo lie que não faltem sugeitos
p ara ella, e que estes sejão taes, que a Provincia sinta m uito
perdê-los, como acontecia a S. Francisco de Borja ; porque
nunca m elh o r ganhados, nem mais bem em pregados, que
Deos a quem se dão, dará outros por e lle s ; e quando a
Provincia de P ortugal, a quem toca m enos, não repara em
se p riv ar dos sugeitos de m aiores esperanças para os dar
ao M aranhão, m aior obrigação corre á do Brazil, em não
faltar com os que só nella se podem achar, que são os
linguas.
« Bem conhecem os toclos o zelo de Vossa R everencia c eu
dos P adres consultantes da Provincia, e assim não encare
cem os m ais esta m ateria, tendo por certo qne já que na
frota deste anno não póde ser, na do que vem nos m andará
Vossa Reverencia estes tão desejados e im portantes com
p an h eiro s, por quem estarem os esperando com os braços
e corações ab erto s.
« Q uando todos seis não possão se r linguas, venha em bora
algum Irm ão co adjutor, e se fôr official de carpinteiro
m elh o r.
« Tam bém se todos os linguas não forem P ad res, c houver
algum Irm ão E studante em inente nella, venha em bora, que
no M aranhão terá estudos e ordens, como os dem ais que
lá vão, que tudo ha de facilitar e com por o tem po, e com os
p rim eiro s Bispos que tiver P ortugal, o ha de te r tam bém
aquelle novo E stado; e se a conversão fôr por diante, não só
h u m se não m uitos, e quando totalm ente o não haja fare
m os o que fazem hoje os do Brazil, que todo outro incon
veniente he m enor que com eçar hurna conversão sem ho
m ens m uito práticos na lingua, principalm ente en tre gente
que m ede por ella o resp eito .
« 0 P adre M atheus Delgado nos edificou m uito em se pas-
sar da mio, cm que chegou, á caravela do M aranhão, cm
quo se em barca com nosco, não q uerendo, pela não perder,
chegar á sua te rra , sendo tão peido, e tendo lá ncgocios de
m u i t a im portância : m as d eu-lhe Deos a conhecer que o
que só im porta lie salvar a alma pro p ria e a do proxim o,
c por este seu dictam e, e outros que lhe tenho ouvido,
m e parece que nos será m ui bom com panheiro na Missão,
c m ui capaz de dar boa conta de tudo o que se lhe encoiri-
mendar.
«Dou a Deos m uitas graças por tal sugeito, porém com con
dição que Yossa Reverencia no-lo não queira descontar no
num ero dos seis, o qual esperam os m uito inteiro, e antes
accrescentado que dim inuído.
« Os nove que p artirão no navio do M aranhão já lá estarao
hoje com o favor de Deos, c o mesm o Senhor parece que
nos tem dado prendas dc que sem duvida os quiz levar lá ;
p o rq u e ao segundo dia que daqui sahirão, forão seguidos
dc hum T urco, que os investio e abalroou, e quando já e s-
taváo rendidos, ou quasi rendidos, vierão duas fragatas de
g u erra francezas que os livrarão c tom arão o Turco, c
vierão vender os M ouros ao Algarve.
« Assim sc conta por certo, e dizem que ha em Lisboa
M ouros dos que estiverão dentro no navio do M aranhão,
posto que eu não o vi.
« Bemdito seja o Senhor, que p or m eios tão extraordina
rios acode aos que o huscão.
« Por lirn desta, como protestação da Fó quero dizer e
confessar a Vossa Reverencia, que tudo o que nos bons
princípios desta Missão se tem obrado, se deve m uito p a r-
ticularm entc ao zelo, diligencia e industria do Padre P ro
cu rad o r Geral Francisco Ribeiro, e tudo são effcUos da sua
grande caridade e pontualidade, com a qual nos assistio,
encam inhou, o superintendeu a tudo dc m aneira que sem
eile se não podéra fazer nada.
« Deos lido pagará, e a Vossa Reverencia pedimos todos
lhe dê por nós as graças.
« No p articu lar dos ncgocios, dem andas da Província c
das baralhas que teve com os P adres desta, e de quão p ru
dente c constante se houve nellas, não refiro nada a Vossa
Reverencia, porque os cffeitos o dizem.
« São tudo frutos do seu zelo o juizo, da sua m uita r e
ligião o trato fam iliar com Deos, com q u e t e m edificado
m uilo a 1'sfa Drovinria. n acreditado •; n o s s a .
« Vossa Reverencia depois de o deixar trabalhar aqui o
tem po com que elle se conform ar, lho dê por prêm io o ir-
nos aju d ar na nossa scára, que lie o que d e s e ja ; e a nós
por allivio c consolação de vir em endar o que tiverm os e rra
do, que não pode deixar de ser m u ito ; e verdadeiram ente
a grandeza daquella Missão pede o seu talento e espirito.
c( E ntretanto Vossa Reverencia nos m ande encom m endar
m uito a Nosso S enhor p ara que nos faça dignos instrum en
tos de seu m aior serviço e gloria, e particularm ente pedi
m os a benção e SS. SS., de Vossa Reverencia.
«L isboa”, 14 de Novembro de 1652.- De Vossa Reverencia
Filho em o S en h o r.— Antonio Vieira. »
Esta carta lie hum vivo testem unho, e a m ais concludente
prova do fervor, zelo c grande espirito do sem pre grande
P adre Vieira, sem que os m orsos da mais apaixonada critica
possão com razão d ar a hum a tão heroica resolução o nom e
im proprio de desconsolação, motivo que dizião fora da sua
re tira d a aos incultos m atos do M aranhão, pois do m esm o
contexto delia consta as sum m as difíiculdades, que venceu,
guiado mais da Providencia do Àltissimo, que das diligencias
p ro p rias, hum negocio, que p or todos os lados parecia
arriscado, c nem se podia em prehender sem m ui pesadas
conseq u en d as.
Comtudo Dcos, que guiava estes fervores pelas m edidas
daquelle anim oso coração, lhe deu taes alentos para p ersu a
d ir ao Principe e a Seus A ngustissim os Pais, que pôde sem
risco do desagrado da M agestade alcançar licença para pro-
seguir hum a em preza tão propria do divino agrado, como
profícua ao real serviço.
Q uerer d a r o u tro nom e a em pregos tão apostolicos, e
desejos tão bem nascidos, e a forças tão virtuosas, he o
m esm o que q u erer tira r a gloria a quem só p o r esta acção,
com que trocou os mimos da Côrte pelos desertos de tão
laboriosa conquista, m erecia im m ortal estatua no Templo
da V irtude.
Nem sirva para fundam ento a carta que o mesmo Vieira
depois escreveu de Cabo-V erde ao Serenissim o Principe, da
qual só se prova o desejo que o m esm o Padre tinha de sahir
da Côrte p o r vontade de seus Soberanos, a quem , além do
vassallo, devia carinhos de Pai, como m elhor que ninguem
exprim ia a suavidade da sua m esm a penna. — «Se algum
sacrificio fiz a Nosso S enhor nesta jornada, foi em aceitar
a licença a El-Rei, quando m ’a co n ced eu ; porque o fez
Sua Magestade com dem onstrações m ais que do Pai. — »
puem não vê nestas palavras a grande força, que con
tendia do am bas as partes, de hum a a real benevolentia, de
outra o fervor do Padre, que não podia acabar com sigo o
largar a ompreza a que o incitava o seu espirito.
D esenganem -se pois os apaixonados, c confessem , apezar
da sua rigorosa critica, que a alm a do Padre Vieira não se
governava nas suas m aiores acções senão pelo seguro n o rte
do m aior serviço de Deos, do Rei, e da P a tr ia ; quando hum
e outro se não encontrava com o prim eiro.
Esta a carta que o P adre Vieira escreveu ao P ad re P ro
vincial, antes da sua p artida na caravela até a Ilha do Ma
ranhão, m as não tanto a seu salvo (não obstante a real
licença) que não experim entasse antes de em barcar na cara
vela hum fortissim o em baraço, como logo verem os, depois
de referirm os a viagem da nova Missão, e sua entrada na
Cidade de S. Luiz.
CAPITULO i\.
OHKUÃO AO MAUA.MÍÀO COMFEDZ Y1AUE.M OS NOVE l l K U t U o . S O S
MANDADOS PELO JÁ NOMEADO SUDERlOíl DE TODA A MISSÃO
O P A D R E ANTONIO VIEIRA.
...■•it hospedo lodo o tem po quo ali sc delevo a frota. Tam f>0111
mo pedirão quizesse pré gar ao outro (Via, quo era a quart a
dom inga do Advento, 0 isto só acoitei,
«Pela m anliãa desem barcám os todos para dizer m issa, 0
para que 0 serm ão podesse ser de algum frulo, tom ei 0
them a a S. João Baptista, 0 preguei 0 baptism o da peniten
cia. Obrigarão-nos os ouvintes a que não tornássem os para
0 m a r: houve naqueila tard e 0 na seguinte doutrina, a que
nos acom panbavão com grande am or e devoção, c com g ran
de m agoa nossa os nossos antigos estudantes, e com elies
sens pais, e toda a cidade.
« Emfim, foi tanto 0 quo Deos m oveu os corações de todos,
cjue em quatro dias que ali estivem os de dia c de noite não
fizemos o u tra cousa que ouvir confissões, c quasi todas
e lla sg e ra e s, já rep artidas pelas igrejas, já na casa onde es
távam os, que era a do T hesoureiro-m ór, já na ca doa e em
casas particulares de doentes e outra gente im pedida, sem
ficar pessoa de conta em toda a cidade que se nao aprovei
tasse daqueila occasião, dizendo todos, que nao fora a nossa
ida ali acaso, senão para salvação e rem edio de m uitas
alnaas
(( Não nos podiamos deixar de constar ser assim pelas con
fissões de grandissim a im portância que fazíamos, reconhe
cendo então c attribuindo á Providencia p articu lar de Deos
as tem pestades, inim igos, calm arias, e todos os outros des
vios, que nos fizerão tão dilatada viagem e nos obrigárao a
ir tom ar aquella escala. Os que m ais que todos nos edificarão
forão os reverendos Capitulares daqueila Só, que sao tao a u -
torisados e tão ricos como Nossa Reverencia sabe, os quacs
todos se confessarão comnosco de toda a vida. Além destes
frutos espirituaes que se colherão cm secreto, houve m uitas
dem onstrações publicas, como de am izades, restituições 0
votos, que logo nas Igrejas, nos adros, e pelas ru as publicas
se fazião com grande edificação e dem onstração dos efíeitos
da Divina Graça.
« Mil diligenciass fizerão os da te rra p ara que ao m enos
nos detivessem os m ais alguns dias. Foi 0 ultim o á prim eira
oitava do Natal, em que tornei a preg ar, exhortando a todos
a perseverança na graça recebida, c principalm ento aos Ca
pitulares, a quem dirigi grande p arte do serm ão, receitei 0
encareci quanto pude, a grande obrigação em que estavao de
acudir ao rem edio do tantas alm as, cias quaes d ie s, sede va-
‘•.•lisle, er, mi h i s lores, e, quo cm fa! la do o t i i r o s Sacerdotes
i d o n e o s , p o i s o s n ã o havia, dev ião olios m esm os visitar os
C l i r i s t â u s das ilhas, o da torra íirm o, sujeitos áquolle Mis-
pado, í i 11o todos e s t ã o em extrem a necessidade espiritual: e
q u e s e para isso deixassem as cadeiras e curo da sua Só
l o u v a r i ã o muito mais a Reos, c llic farião m uito m ais ag ra
da vel serviço.
« Saquella mesma tarde nós partim os, deixando a todos
os da terra mui sentidos c apartando-nos nós tão obrigados
delies, corno elles ediíicados dos nossos P adres que ali e s-
li verão, os quaes com seu exemplo o religiosa vicia nos gran
ge,'irão para todos os da Companhia esta grande benevolencia
o amor.
«' Desejou o Cabido e a cidade, que dos quatro ficássem os
nun. d ies ao menos dons, c esta petição nos vicrão fazer em
nome do Clero ou Vigário Coral, cem nom e da cidade os juizes
e \eread o res em firm a de Gamara, e estes nos offcrccêrão
huma petição por escripto coin bum relatorio tão largo da gran
de■necessidade de doutrina que dentro e fora daqueílas ilhas se
Padecia das almas, que por falta de quem lhes adm inistrasse os
Sacramentos se estavão perdendo do am or que sem pre tive-
i'ão aos da Companhia, da pontualidade com q u e lh esco n ser-
vcvao a casa e fazenda que elles deixarão, da prom ptidão
ciirn (jue eslavão de lhes edificar a Igreja, c os assistir com
bulo o necessario, das instancias que tem feito para que
ihes sçjão restituídos, sem quererem nunca adm ittir outros
Religiosos que de outras Religiões se lhes offerecem , e tudo
com palavras de tanto sentim ento, de tanto respeito e de
lauto allecto a Companhia, que affirmo a Vossa Reverencia
fizemos muito em não nos deixar vencer dc ficar ali, ou todos
mi algum de nós, sc nao sc nos pozora adiante virm os cle-
lerminados a esta Missão, c não haver nella quem a tivesse
a, seu cargo, e pertencerm os á Provincia do Brazil e não á de
Portugal, arquem pertence Cabo Verde, c a não se r esta a
iiiissa vocaçao, sem duvida fora a quelle o term o da viagem .
<{ Estes m esm os desejos, e estas m esm as difíiciildades°lhes
piopozomos, o esta to ia resposta com que os deixámos de
alguma m aneira satisleitos, obrigando-nos a ser solicitadores
com Sua Magcstade, e com os S uperiores da Com panhia,
para que m uito brevem ente se lhes m ande o soccorro de Re
ligiosos que pedem ; e sobre este p articu lar escrevi bum a
caif.i encarecida, quo li con no mesmo Calm V erde para ir em
com panhia da nova instancia, quo'qucrem fazei* a E l-Bei sobre
oslo too justificado requerim ento.
^ es^a occasi a o tom o a rep resentar a Sua M ajestade <»
e se revo tam bem ao P adre Provincial, para quo acuda a oste
extrem o desam paro, o mio sc dilate hum a tão prande gloria
do Deos c da Companhia, como da Missão do todas armellas
Hhas c te rra firm e sc pode esporar.
(( ^ mi ini partim os, como dizia, na tarde do 2(> do Rczem-
Dro, na nossa caravela de Simão F erreira do Alfarna o am i
nommo aqui por hum a grande fineza quo fez por nós nessa
occasiao, de que nao tivem os noticia senão depois de estar
m os no m ar. Foi o caso, que pessoas principaes dc Cabo Ver
de o cham aruo, c lhe ofTerecêrão, que logo lh eco n tariào em
patacas m into mais do que poderia interessar em toda a
viagem , sc naquella ultim a noite sc fizesse á vela íinm ndo
que lho a n e b e n ta ra a am arra, c nos deixasse cm te rra e
sendo assim que todos os passageiros c gente do m ar d o r-
m u o a bordo, c a brisa era tão rija, que com cííeito lhe re
bentou hum a am arra, foi o M estre tão honrado, que antepoz
-i te e respeito que nos quiz g u ard ar a todo aqtielic interes
se, que huns c o utros lhe prom ettôrão dc contado, e Iheoffe-
recerao com grandeza.
« Com os m esm os exercícios com que arribám os a Cabo
verde, iom os depois continuando na viagem até ao Maranhão
passando as calm as da linha brevem ente, até que tivemos a
prim eira vista da costa do Brazil, que foi a te rra dos baixos
i c o. lioqiie, sobre a ponta dos quaes nos achámos hum sab-
bailo a m eia noite com trin ta braças do fundo. Ha dahi ao
M aranhao m ais de trezentas léguas, e todas as andám os com
pouco panno em tres d ias; tanta be a c o rre n te das u n ia s.
« A noite de terça-feira á q u arta, c da quarta para a quinta
passam os sobre ferro, porque s e n ã o póde ro d ear a ilha
nem accom etter a barra senão de dia, p o r serem m uitos os
baixos, c todos alagados. Na tard e de quinta-feira Mj de
. aneiro, vespera de Santo Antão, Pai de todos os Missionários
das nossas conquistas, entrám os fm ahncnto p ara d e n tro : e
allirm o a Vossa Reverencia, que quando m e via chcmar a
salvam ento ao M aranhao, era com grandissim o sobresalto
p orque depois que vi que Dcos nos dividira esta Missão
em clous navios, vindo toda junta no m esm o, como a m inha
confiança em Dcos he tão fraca, sem pre rceeici, que fosse
p o r haverem dc te r (liíTerente fortuna as duas viagens; mas
.o7
200 _
a m m o i.
, ! ijVi(i;i á p u r a m sx m sid a d o ; m a s c o m o n a m a i m i a p a s s a s s e
Hvní o quo estes t ã o insignes btmtímiorus l h o s m a n d a v ã o
in [o i o a i a m - L n o cam inho os partida rins d a q m u i a s a c r i l e g a
o t r í p l i c e a l l i a n c e , kng.R:ão os P a d r e s m m m a i s c o ü y c í u o u h
d e s a m p a ra re m a vivenda, o ivcm inoren i-so a ssim d o e n te s
so m o estava o ao (knivento do sa as p rim e iro s b e in íb ilo res
os R eligiosos P a d r e s d e P o s s a d e m o r a d a s M ercês, o n d e a
s u a g r a n d e caridade, p r i m o r o c a r i a d o c o m q u e o s t r a t a r ã o
o s tez e s q u e c e r b r c v e m e n t o o m u i t o q u e n a q i i e l l e sitio
ü n h ã o j)adecido.
S o ja - m o licito r e c o m u K in d n r a o s a n n a c s d a p o s t e r i d a d e
e sta p ie d o s a a cç ão p a r a a C o m p a n h ia e s e u s filhos, d e s te s
d o n s illu s tr e s m o r a d o r e s , o d e s ta Ião R e lig io sa c o m m in li
d a d o , a (p.;em o n o s s o a g r a d e c i m e n t o c o o l e s s a e s t a d i v i d a ,
p a ra q u e a se u s h e rd e iro s c su c c e sso re s liquo p e rp e tu a d a a
acção de leg ítim os a c re d o re s pelo m e s m o d o c u m e n to q u o
c m no ssos escripfos c o n fe ssa m o s; p a ra q u e com a v e rd a d e
q u e se g u im o s e m n o ssa s m e m ó r ia s n ã o p e rc a m o s n u n c a do
v i s t a o s í i r m e s p a d r õ e s da. n o s s a c o s t u m a d a g r a t i d ã o ; e p a r a
q u e as illustres m a tro n a s da g ra n d e C idade do P a rá sa ib ã o
a p ie d a d e m e m o r a v d d c s u a s a n tig a s a s c e n d e n t e s ; foi
Ião g r a n d e a q n o e n tã o m o s t r a r ã o a u u e lla s s e n h o r a s , q u o
lizerào r o m a r ia s p u b lic a s a o s S a n to s pela s a u d o e q u ie ta ç ã o
dos p e rs e g u id o s P a d re s , p o r q u e , cxcepí-uando os tro s e m p e
n h a d o s n e sta diabólica p e rs e g u iç ã o , a m a io r p a rte d o p o v o
o os m a is b e m in lc n c io n a d e s m o r a d o r e s n ã o p o d iã o o n vir
s e m e sc a rn id o as e x o r b ita n d a s dos a p a ix o n a d o s s e q u a z e s
d a q u e lla ím pia o d e s a rra z o a d a c o n d u c ta .
N ã o sei q u o m a i s p o d e s s e m f a z e r a q u e l l a s p i e d o s a s s e
nhoras dando b u rn auüieníico te ste m u n h o n a s su as devotas
ro gativ as d o m u ito qn c a m a v ã o a v irtu d e e d ese ja vão a c o n
servação dos P ad res, quo n ão d eix arão de e x p e rim e n ta r os
e ííe ilos d e s u a s f e rv o ro s a s d c p r c e a ç õ c s , v e n d o - s e r e s t a b e l e
cidos b ro v e m o n te da sa u d e , p a r a c o n tin u a r e m zeloso s e m
se u s c o s tu m a d o s exercícios o apostólicas ta re fa s.
C e m a e n f e r m i d a d e e p a c i ê n c i a tios P a d r e s , c o q u e m a i s
era, c o m esp ecial assistên cia d o A ííissim o, se íb r ã o d e s e n g a
na ud o os a p a ix o n a d o s, e so n eg an d o os p e rs e g u id o re s , vind o
por ultim o os p e rs e g u id o s a b u s c a r depois d e p o u c o s dias
a sua vivenda p a ra m e lh o r se e m p re g a re m , c c o m m a is
c o n v e n iê n c ia tios p o lir e s n o s e rv iç o d e D e o s e b e m d a s
« d n i a s ; m a s n ã o foi i s f o l a u t o a s e u s a l v o , q u e o s m o t o r e s .
.;o!
<> n n i v M n n h n c n i o n a
í'(>" suns' vidas 0 do suas almas, porqrm s« t e m /)S m os
í a! runts em terras muito distantes das aídeas, onuc os Ín
dios mio podem arndlr a fazer suas roras, iiein a traim (.0
V1j i ('; 1j0 lo soas mulheres e íiiíios, e ansemes oellas vivem
ii!, flTei;des offenses dolKms, som donlrina, nem missa c
, ' ; íu; (mnssão, ai ml a peia ob ri^r.ão «la Quaresma 0 11a lioni
,i;i jnorít' 0 ainda m o rrem neste desamparo muitos, poi sei
O vaoor do labaro quando so fabrica muito venenoso ; 0
(.,;ía he, a cansa não só de estarem destruídas 0 quasi aca-
;; j •í S-JIS, (*,01110 C(*dO O S i C m O (; 0 ÍOdiO, IÍ18S U.inJlOlll
,1o OS (ioníios do scrião não quererem descer o viver entro
1HKe, n Ue íenhão desejo ds rocobor a ío de Uirislo,
dizendo iodos a Imma voz : , Quo o não t e m . p or medo
,i 0 [j'jt];níIio, a que os obrb-ão os brancos, o que nao qiicicm a
vis- oaovrer do tabaco, como são mortos o s s e u s parentes. »
Oar. lie matéria de qramussnno ozempío c a que Sua L a -
.eoslaile deve m andar acudir ro m cnica.z c biovo loiiicdio <i
dirar esto inuunliuienlo á salvacao de lautas a mias.
(( boníess n (pie pau* o mina ei up, a e nr
dido muitas p< ■SSOesmle; sóis ( j -■(, i !o f:
n o’ i l>«
i <
one peco pe h I ão a Decs , dos: a ! Scobssr vIü
nine a que tu i íizm*n da i sen bs perfe í vi i
1i *.'5\,üssivoi a (CUd ir ao 1’eii sedio o o cressi
per icmiias *esUStOo (jiie ■peia hora em u
sir -one. na ra (:; i:e lho 1l i u 1.1dem ]-òr
rojas ronscienries Socar. r
■ i;o;j; 1i;',j I;,' si.!i esta mim.a ir. reja Ino oi í au i de t m (■!••
k t i i u j do t e t i a , quo co m p re h en d o p(jr eus la alg u m as <iu-
zentas leg nas do com prido e nolla cinco Capitanias a
saber:
« Pará, Gurupy, Gamutá, Gurupú c Cabo do Norte, nas
quaes todas ha povoações de Portuguezes, c estes pela m aior
jiarte divididos m uitas léguas huns dos outros em suas la
v o u ras e fazendas, com m uitos rios de navegação diííicultosa
em meio, com que lie im possível serem estas ovelhas cu ra
das por m uitos P arochos, quanto mais por hum só.
ft. A segunda, porque mesmo neste districto ha m uitas
a Ideas de Índios christãos de diílercnles nações e linguas, c
nos sertões delles m uitos Gentios, a cuja conversão lam bem
estão obrigados os m inistros deste Estado, por viverem em
extrem a n ec essid ad e; c além destes todos os outros índios
qu e servem aos Portuguezes, que não são m enos em num ero,
nem tem m enos im possibilidades os meios de sua doutrina c
salvação, por seus proprios senhores serem os que lh a im
pedem e difíicultãOj pelos não tirarem hum dia do serviço
que lhes fazem.
« A terceira e m uito principal, porque os G overnadores
e Capitães-m óres são os que tinhão obrigação de m ais
cuidar na C hiistandade, como Sua M agestade lhes encom -
m enda nos seus regim entos tão pios e tão catholicos, que
parece forão dictados pelo Espirito S a n to ; m as d ie s cegos
do interesse de nenhum a o u tra cousa tratâo senão de°se
aproveitar do su o r e sangue dos ditos índios, ainda que os
acabem nos seus tres annos, sem respeito algum ao bem de
su as alm as, governando com tanto im perio que nenhum Pa
rocho tem ousadia para lhes fallar a que dê lugar c socego
aos índios p ara acudirem ás obrigações de suas a lm a s; e se
algum algum a vez o faz, he sem nenhum fruto.
« Por estas causas, que digo e torno a dizer por descargo
de m inha consciência, se perdem as alm as, assim dos índios,
como dos P ortuguezes n este Estado, e tam bém tem o que se
pereão em P ortugal as dos que tem obrigação de rem ediar
estes clamnos, e os não rem e d eiã o ; em endando o modo do
governo secu lar que até agora tem havido neste E stado, e
provendo de pessoas ecclesiasticas que tenhão as partes re
quisitas de tem o r dc Deos o letras para acudir a tão em ba
raçadas e desencam inhadas consciências, como são as de
todos os que nestas p artes vivem, porque posto que nesta
cidade haja Religiosos, são pela m aior parte mocos e sem as
39
- ,‘300
40
CAPITULO II.
1
t e n ta r a sua primeira eleição pelo muito que na sua graça
se tinha já introduzido o novo eleito.
Fazia-se intolerável ao despojado o não lhe valer a p r o
visão e ordem real, em que vinha tão coniiado, que ntinea
lhe passou por pensamento as pesadas meias que lhe haviào
metier nas pernas, disfarçadas em huns grilhões, que o
carcereiro lhe metteu por ordem do novo Vigário; o ainda
que ao Gapitão-mór parecia desarrazoado o procedimento e
manifesta a violência que se fazia ao seu afilhado, munido
nada menos que com a protecção real, quo mandava ao
governo o meltesse logo de posse, este comtudo se não
atrevia a embaraçar com a força outra maior forca ; porque
temia a do povo já meio amotinado em acudir peio seu Vi
gário, pelo bemquisto que estava de todos, a (piem pela
mesma razão de os experimentar firmes naquelle premedi
tado encontro, tinha feito c obrado tudo muito á sua von
tade e satisfação.
O que posto resolveu o Gapitão-mór convocar huma junta
em que entrou o Desembargador Syndicánte, como também
os Prelados das religiões c o actual Vigário, que todos uni
formes rogárão ao Padre Vieira quizesse também assistir
pelo que dizia respeito ao serviço de Sua Magestade e so-
cego daquelle povo.
Em tão criticas circumstandas recusava o Padre assistir,
porém houve de obedecer, fiado talvez em que seguirião o
seu voto, que era o que se poderia offereccr mais commo
do ao futuro prejuizo de ambos os pretendentes, e porque
não poderei com palavras mais proprias referir o fim desta
contenda, continuo como costumo, com a mesma carta de
Vieira. Assim diz;
« Por me livrar desta Scylla e Carybdes, procurei quanto
pude não me achar na junta, mas foi força ir a cila, onde
os pareceres dos Prelados indinavão todos para a parte
onde estava o desejo do povo, e só h u m houve que pedio
tempo para estudar o caso (como se ainda o não soubesse,
sendo tão publico). Quando me tocou a fallar, disse que
não via de que fruto podessem servir nossos pareceres
nesta controversia, supposto não haver para a decisão delia
quem no Maranhão podesse ser juiz, nem declarar qual dos
dous fosse o Vigario-Geral, pelo que dies mesmos o fossem,
e que se lhes pedisse primeiro que pelo bem da paz se qui-
zessem c o m p o r e a j u d a r entre si.
(( Appmvou-se u meu parecer e quizerão que eu fosse o
que o proseguisse.
« Tomando então comigo o novo Vigário, que lambem es
lava na junta, me íui com elle á cadôa, onde eslava o outro,
e audios pozerão todo o negocio em minhas mãos.
« 0 expediente que tomei foi que ambos fossem Vigários-
Geracs, o ]irimciro do Pará, onde tinha sua casa, e o se
gundo do Maranhão, onde também tinha a sua, dividindo-se
da mesma sorte o governo espiritual, assim como Sua Va
ges! ade o tinha já dividido no secular c politico ; o que
tambem foi conforme á mente dos Senhores Capitulares da
balda, os quaes prudentissimamente apontão na sua carta
que se parecer conveniente dividir-se o governo ecclesiastico
em duas Vigararias-Geraes, por serem tão dilatados os dis
trictos, sc faça.
« Compostos nesta fôrma as jurisdicções, não foi difíicultoso
compor os animos dos dons competidores, os quaes logo se
abraçarão e p e rd o a rã o ; c o que tinha mandado lançar os
grille 3es sc lançou aos pés do outro e HEos tirou de joelhos.
c Logo sc forão ambos comigo á junta, onde todos ap-
provárão o que estava feito, menos o povo, em quem os
affectos são menos poderosos, vendo sahir dos grilhões ao
primeiro Vigário.
« E assim por este meio tão suave apaziguou Peos os
motins que já se ião semeando c depois brotárão, e se evi
tarão as inquietações e concursos com que em semelhantes
casos sc costumão perturbar os povos e embaraçar as
consciências, e sc impedio ir o negocio appellado para o
Reino, onde scrião bem ou mal julgados os nossos provi
mentos.
« Por estes c outros inconvenientes senti muito que os
Padres tivessem aceitado a commissão do Reverendissimo
Cabido, e tambem porque nestas partes ha poucos Eccle
siasticos em cujas letras e consciências possa desencarre-
gar seguramente a sua quem quer dar boa conta de si aReos.
« Rastão-nos as nossas almas e as dos índios que formos
lendo a nosso cargo.
« Pelo que, peço muito a Vossa Reverencia o queira re
presentar assim aos Reverendos Capitulares da Bahia, que
se sirvao do nos alliviar desta obrigação c encommenda-la a
outros mais desoccupados, c que com menos inconvenientes
a possâo executar.
MT
« Lem vejo liavcra quoin lho pareça quo esta depen-
ilencia dos Vigarios-beraes do mais da autoridade, tarn bem
nos porte see de grande importanda cm occasiõcs em ana
quando nos nao seja muito util termo-la nós, ser-no*’
mmto damnosa, se a tiverem o u t r o s ; mas estas razões dr
Lstado, men Padre Provincial, já iicão além da linha.
/( O Cabido diz, que descarrega sobro nós a sua con
sciência, e ja que Dcos o nosso Instituto nos livrou de seme
lhantes cargos, melhor nos está que corra o por outra
conta. » 1 1
v . Assim serenou o prudente juizo do grande Padre Antonio
Vieira huma tempestade, que promettia raios o ameaçava
coriscos, em que precisamonte, além da reputação, havião
de naufragar as vidas de muitos e as consciências de todos
Nao sei o tempo em que os Padres continuarão na no
meação de Vigários, quo no mais que pertence á dimtidade
os nossos exercé-la fóra da Companhia sem expresso p re
ceito do Summo Pontífice conforme seu louvável instituto
seria faltar ao voto. '
Sei que o governo do Estado, no que tocava ao espiritual
esteve sempre annexo ao Bispado da Bahia, que daria nova
providencia conforme o requerimento do Padre Vieira até o
anno cie 1679, cm que o Maranhão teve o primeiro Bispo na
pessoa do Illustrissimo D. Gregorio dos Anjos, Conoco seen-
lar da nobilissima ordem de
I fi V* í l e TI a K «llCIfM W* n í-1 n r l r, ^
João Evangelista
o
.1„
como a
'I — T~t * ... '^
CAPITULO I.
S i^ S iS
S E S &
o a m e r .e com este os aflectos dos P ^ m m ^ a = «
como a imagens do Cre.idM. - offerecer todos
* . .
‘ ? c 'hpm cprvidos nor serem mutuas as relações de pa
F'E 5 & “
r r d S X d e T d s l r u i P na Santa D outrina.e mys-
. 'ne Ha fé até colher de todos o fructo desejado de
S fe m T e ? e t a b a C , que era o Santo Baptismo, que
nrimeiro aos innocentes, e depois por sua ordem , e conform e
a disposição de cada hum, conferio aos mais adultos, com
orande consolação do servo de Deos, que embora poucos,
se contentava côm os que o Clementíssimo Senhor lhe dera,
nnr rrio ser ainda chegado o tempo de maior colheita.
P Ao Padre João Maria Gorçoni succedeu o Padre Antonio
Pereira, que no seu tempo recebeu alguns, que por si s
espontaneamente se d escerão; sendo m uitas vezes hum leve
accidente a causa, e obrando huma .descoa^
entre si nos inatos, o que nao poderão acabar as m ais fortes
persuasões do Missionário. Tão extravagante he nelles ^
ordinario vicio da inconstância ! Ao Padre Antomo P er®*ra J*
seguio o Padre João Felippe Bettendorf, que fora o fundadoi
da aldeia de que era Missionário, e por isso cuidou muito
no seu augmento, expedindo ao Irmão Manoel Rodrigues,j a
pratico no paiz, e conhecido dos Goajajaras de Capiytuba,
de onde trouxe hum grandioso lote de Tapuyas, por serem
já menores os receios, informados do bom tratamento> e so
cego dos parentes, no poder e serviço dos nosso s P a ^ e s
sendo aquelles causa de nunca descerem juntos, q
experimentar em cabeça albeia o m esm o a que nao q
su jeita ra propria; porém en gan árão-se; porque nem os
Governadores, nem os Portuguezes inquietavão os Índios,
sabendo pertencer pela ordem real ao serviço dos Padres, e
muito á sua custa nos descim entos, que repetirão por causa
das fugas para o seu sertão, a q u eerã o notavelmente incli
nados os Goajajáras.
Ultimamente no anno de 4083 a mudou o Padre Pedro
Pedrosa, duas vezes duro como pedra, na tolerância dos tra
balhos, com os quaes o conseguio, apezar da repugnanda e
pouca vontade dos índios, que nao querião apartar-se para
mais longe das suas terras, por não experimentarem maior
difficuldade na retirada; para que não era necessaria grande
causa, bastando huma pequena reprehensão do Missionário
ou hum moderado castigo para se ausentarem para o seu
valhacouto de Gapiytúba. Vistas comtudo as grandes con
veniências do Maracú (*), junto e á beirada de hum famoso
lago,abundantíssimo de peixe,com excellentes terras de roçar
para a parte de Tremaúba, se resolverão a seguir o conselho
do Padre, e a assentarem a aldeia no lugar, aonde ao pre
sente se acha, e he o sitio mais delicioso que tem o Ustado,
e o de maior recreio no tempo de verão, que no inveino se
faz pouco appetecivel pela immensa multidão de insectos, que
lie preciso apagar as luzes e fechar as portas e janellas pai a
passar menos mal o resto da noite, e huma grande pai te do
dia. Tem huma bella Igreja de Nossa Senhora da Conceição,
que ha pouco tempo se acabou, e muito boas casas para vi
venda do Missionário, o qual reparte os Índios por turno para
o serviço do Collegio, que commummente he conduzir bois das
m esm as campinas do Maracú, aonde os Padres tem innume
ra vel gado para sustento dos religiosos do Collegio. Deíronte
a huma vista desta aldeia está situado o engenho de S. Bo
nifacio, huma das m elhores fazendas, e o maior nervo do
Collegio do Maranhão, em terras do m esmo, por carta de data
e sesmaria, fundação do Padre Manoel de Brito, de boa me
moria nos annaes da Vice-Provincia.
Antes de Analisarmos este Capitulo he preciso advertir,
que, segundo a determinação do regimento das Missões, se
mandava dar esta aldeia no rio Itapucurú; porém os Índios
Goajajáras, que sentião difficuldade de situarem no Maracú,
maior a tinhão para se m udarem para aquelle rio, querendo
(’) He hoje a cidade de Vianna.
(Sola do Edicíur).
■,"les n t í f t o r i ã o minea fle
lle mCL “V « a lta r m ara mesma M e i » ; e como s i
- » k :*
IIC' SU, f . f , tivesse o seu devido cumprimento, c se po
voasse o rio Itapucurii, como
dárão nelle os P ad res, alem c a j i g • bellicosa
abundantemente » t o f e .t o o m
“ cx , ^
M e f d W G » " ; pot“ oe o m e l o
nheíro j S t a por
SE ísm m
tem o sitio m elhor cia te rra , e princípios de Collegio e n
tendo nada, lhes não falta nada, an tes sao senhores de tu ,
2
e vivendo de esm olas, as podem fazer, e fazem a m uitos.
Pile chama por mim para o P a r a , e o G urupa, que he o
meu principal intento, eslá ainda sem m isssa o ; m as nada
ak in nnderá fiz e r antes da volta da entrada aos B arb ad o s,
to r a im m ^ab arcar tudo não venham os a não ap ertar n a d »
P E pouco m ais abaixo fa lta d o da perseguição passada diz
.E m qm m to noM arantião corria a Com panhia com esta tot
m enta, cam inhavão felizmente no P a rá os princípios
como Vossa R everencia verá dessa ca rta do P adre Joao de
Souto-M aior. Pedio-m e que lhe m andasse com panheiros, que
o ajudassem a tira r as red es, e coube a sorte aos P adres
Manoel de Souza e M atheus D elgado, que partirao no p rin
cipio deste anno para o P ará, e leyárao os ornam entos e
m ais peças p ertencentes áquella Igreja e casa. ü la d re Ma
noel de Souza vai p o r S uperior p ara deixar mais livre ao
P adre Souto-M aior nas cousas da conversão, e lhe succeaer
na licão da rh eto rica, que lê aos religiosos de Nossa Se
nhora das M ercês, ou se já estiverem aptos, para lh a ler do
philosophia, como nos tem pedido. Nem deve parecer esta
occupação alheia do fim para que cá v ie m o s; porque> a em
de ser necessario residirem sem pre alguns lad re* nas po
voações dos P ortuguezes, para o credito da Companhia es-
necíalm ente naquella te rra , aonde agora entra de novo, im
p o rtará m uito que vejão os P ortuguezes, e ainda os índios.
L ê as o u tras Religiões sen ão d esp rezáo de aprender e buscai
m estres da n o s s a ; e que não só os velhos, mas os m ais
mocos delia tem capacidade para en sin ar. Com este exem plo
se pócle e sp e ra r se acabem de confundir, e ren d er os que
em m aterias de suas consciências se lião, e allegao com
opiniões de o u tro s, que p o r m uitas vezes serem fundadas em
poucas letras tem feito grandíssim os dam nos as alm as, no
ponto principalm ente das liberdades, e captiveiros cios ín
dios, que é o laço m ais forte com que o dem omo os ata e
em baraça neste E stado. »
ãrr
CAPITULO VI.
DO MAIS QUE SE OBROU NA CAPITANIA DO PARÁ DEPOIS DE
CHEGADOS OS DOES PADRES MANOEL DE SOUZA
i? atitttetts DELGADO.
i^ .s s s s s S
a já crescida ignorância jj ® mej10S basta a ziza-
pequenas e grandes plantas, ‘ v princípios
—ETiSt-oSas-yryrs
s%%terrsaraKi««
humas vezes a huns, outras a outros, ião perguntam ,
ensinando e apontando aonde vião que erravao Neste>santo
exercício gastavão com visível aproveitamento a maior parte
dos dias e grande parte das noites, nao faltando ao mesm
tem po em acudir aos Índios moribundos e em extrema ne
cessidade com os sacramentos do Baptismo e Confissão.
■ Já na cidade se colhia grande fructo, seguindo-se mim -
diatamente a colheita, depois de huma tão Vigorosa e adm i
rável cultura, havendo ja m uitos por m > s’ i
podião em casa ensinar a doutrina aos m ais rutos,
esta apostólica diligencia, que na cidade hnha desterrado a
m aior parte da ignorancia, não se p o d ia estender as muitos
rocas e fazendas dos Portuguezes, que estavao por lora, nas
quaes não menos nos escravos que nos brancos e brancas,
havia a mesma ignorância dos mysteries da te e santa dou
trina por serem criados em sitios retirados, que mais par
ticíoavão de mato que de povoado; e como os Padres erao
apenas dons, que de nenhuma sorte se podiao m ultiplicai,
instituirão, como no Maranhão, a outros tantos m estres,
quantos erão os cathecism os muito breves e claros, quo
mandarão togo repartir petos sítios, com as perguntas e
respostas, e assim mesmo as orações de uma parte em por
tuouez e da outra na lingua geral dos índios, paia que as
familias dos brancos podessem aprender, e ao mesmo tempo
ensinar aos escravos, ou lendo ou repetindo, contoim c o
pedisse a capacidade de cada hum. Assim acudirao com os
m uitos e breves compêndios da santa doutrina, que mau
dárão trasladar, aonde não podião moralmente chegar com
C om °esta engenhosa industria e continuo trabalho dos
fervorosos missionários se vio em pouco tempo o paganis
mo e quasi paganismo dos escravos dos Portuguezes, o a
ignorância de suas familias reduzido tudo a rmia mediana
e clara noticia dos principaes m yslenos de nos.,» Jc, s .
cujo conhecimento se não pôde salvar um ch m tao t do
devido á continua applicaçao e mcansavel diligencia
operarios, que só por este e os mais fruetos que s e segui-
,4 o podião dar por bem empregados os suores da sua pu
m 1 r PorSprhnicias dos serm ões e praticas da quaresma e
Semana Santa dos Padres Souto-Maior e Fragoso■ se tinha
tirado o abuso de não ouvirem missa no d ™ ngo c cha
santo assim índios que mandavao para o seruco, como as
senhoras brancas pelos frivolos motivos que aUegavaor e x -
nerim entando-se já nas oitavas da pasclioa maior trequcncia
d e'gente nos tem plos e m enos gente de serv.ço nos tmba-
jhos Porém os dons maiores fruetos que se virão no Paia
depois da entrada dos nossos Padres torto os qne^resulUrao
dos dous mais poderosos contrarios, amor e odio. tom o
primeiro se evitarão os escanda os publicos ^ « n d o - s t c
as mancebas por acudirem as almas, e isto nao so entre os
Portuguezes mas também entre os m esm os índios- Co
segundo se t e ã o as o
rancores m ortaes, e na m esm a casa euuo uo 0
vinculo do maior parentesco.
Taos crio então as vidas e b e s os costumes ; e taes os
niirhflos industria c vigilância dos filhos da Companhi.,
assistindo pelas regras do seu louvável instituto ao bem ( as
lim as assim dos Portuguezes, como dos Índios, que a
tid o abrangia a sua grande caridade sempre viva e sem
pre ardente aos raios e fogo de seu Santo Pa. e Fundador
o Illustrissimo Patriarcha Santo Ignacio.
Do muito que tinhão desbastado na cidade inferirao os
novos missionários o desamparo que m a na
nhas, por estarem já quasi extmclas as pnmeiras luzes com
que os tinha illustrado, e como de PassaSem ’ ° fs°!L?s8em
Luiz Figueira, havia já vinte, annos, sem que depois U sem
outro missionário que os doutrinasse. L fio S dons
podia acudir com os dous que ficavao a ausência ò o s á o u s
que partião, como erão os mais práticos na f. ^ nniiia das
estes á sua conta a visita das aldeias de ELrei espajhadas
pelo districto da cidade, que erao nove, pela segu in te.
— Para a parte da costa eb arradoP ara,adosT np in am b as (l),
Saparará (2) e Maracanã (3); para a parte de cima, cor
rendo para o sertão, Mortigura (4), que Por entao era do
serviço dos Padres, como já dissem os, Bocas (b) e 1*3456^ ieJ1oai
has (6), e mais perto da cidade, Tupinambas de cima, Goa-
rápiranga e a de Faustino, da administração do Reverendo
Vigário °Manoel Teixeira. , . nc
Nestas laboriosas visitas m uito flzerao e m uito obrarao os
nossos esforçados obreiros, sempre promptos e sempre
alegres em cultivar com tão visivel augmento a vinha ao s e
nhor que parece lhes dobrava os salarios pelo resultado nos
serviços. Expliquemo-nos pelas frases dos m esm os operários
na fiel relação de seus exactos diários, de onde emanou a
certidão jurada do Padre Matheus Delgado, cujo original se
acha em nosso poder entre os mais documentos para a His
toria. Diz assim : « Certifico que visitando as aldeias visi-
nhas á cidade na companhia do Padre Manoel de Souza;
achamos o m esm o, e ainda maior desamparo espiritual que
CAPITULO I.
ENTRA O PADRE ANTONIO VIEIRA NA CIDADE DO PARA A DAR
PRINCIPIO A ESTA ESPIRITUAL CONQUISTA.
laroorias de hum h erd e sob re-d outo, em tudo sem pre adver
P;fi fP servindo p ara prova do que dizemos a certidão su p ia ,
q u e 'bemV1concorda e confirm a a do P ad re Manoel Teixeira,
qUTemorse!S ° e m como o S u perior de todos desem penhou
o cum prio a sua obrigação de operário, o m ais diligente para
o e x S o e de su p erio r, o m ais esperto para os acertos do
Poverno Ê se na praca e cidade do P ara assim trabalhava
o rin itã o e com m andante dos Jesuítas, com nao m enos cui
dado, fadiga e zelo, obravão os seus soldados na cam panha,
cinco reli'dosos que trazia divididos pelas aldeias dos ín
dios Nas que tinhão tocado anteriorm ente á diligencia e
industria d^s P ad res M atheus Delgado < í S ? ^ S q u é
como tinha sido de passagem a cu ltu ra, nao faltava^im da que
d esb astar posto que não tanto como nas que ainda nao tinha
chegado o beneficio do nosso trabalho.
au e encontrarão, e im pedião aos arados o a b rir na te rra os
?e®os p ara que disposto o te rren o podesse receb er a se
m ente da palavra de Deos com esperanças de fructo, nao e ra
a rudeza dos Índios, nem a introducção dos abusos no c h n s -
tianism o, ainda que a tivessem endurecido, e a deixassem
mais ag reste ao c u ltiv o ; p o rq u e tudo com a graça divina
esperavão rem ediar com a sua assistência, e com a valentia
de seu industrioso espirito. 0 que prm cipalm ente os desa
nim ava, erão os im pedim entos da m trodueçao da fe e bons
costum es, que achavão pelos m esm os, que p arece os deviao
aju d ar pela profissão do estado e pelas obrigações do officio.
0 prim eiro, e m aior, que fazia infructifero qu alq u er tr a
balho provinha da total d eserção dos índios, de que estavao
evacuadas as aldeias, oeeupados nos tabacaes e m ais serviços
das duas prim eiras cabeças, espiritual e tem poral. E st
pedim ento foi universal em todas de qne tem os testem unhos
authenticos, e não se faça incrível, supposta a am biçao de tao
lastim osos tem pos, 0 segundo tinha a sua origem e tom ava
m aiores forças na autoridade do principio, quo cimo alguns
religiosos c ecclesiasticos, que m ais por seguirem a voz do
povo, a quem pretendi ao lisongear, do que as opinioes com-
m uns dos autores que m ostravão não ter lido, espalliavao
d o u trinas totalm ente oppostas ás que segnião os nossos P a
d res, como m ais seg u ras, e im portantes ao bem espiritual
dos m oradores, qu e era o que m enos se attenuia na consi
deração só m ente de conveniências tem porãos.
E stes erão sem duvida daquellcs m estres, de que mandava
S. Paulo se acautelasse seu bom discipulo T im otheo, por
serem estip en d iad o s do hum povo, que só lhe parccião
bem as doutrinas que m elhor harm onia fazião nos seus ou
vidos em beneficio de suas conveniências, que era o m esm o
que tapa-los á verdade, para os abrirem ao fabuloso dis
cu rso de tantos m estres sem letras. Im pedim ento foi este
de g ran d e força c totalm ente opposto a introdueçao da
v erd ad e e bons costum es, e de que m uitas vezes se quei-
XtiVci m agoado o douto F&dro Antonio Vioira, polos giandos
m ales que com sigo trazia aos perseguidos filhos da Compa
nhia, m elh o r d issera da verdade christã. Provem os o dito.
Andava em m issão o P ad re Antonio Pubeiro discorrendo
pelas aldeias do Cam utá com seu com panheiro o P adre
G aspar F ragoso, conform e a distribuição de seu Superior.
Succedeu pois acharem nas aldeias a m uitos ín d io s, ^ que
sinceram ente, confessa vão não sab erem .0 q u e receberão,
nem 0 para que os lavarão e m etterão 0 sal na boca, que
era a unica lem brança que tinhao de serem, baptisados, de
so rte que nenhum a duvida ficava aos P adres que estes
ad u lto s, tão faltos e alheios de instrucçâo, não nzerao ten
ção de receb er 0 baptism o, sendo im possível cab ir a tenção
so b re aquillo que indispensavelm ente se ignora. Em outros
que erão os do m aior num ero ficava m uito duvidoso 0
Sacram ento pelo que depunhão os m esm os ín d io s, signi
ficando a sua palpaveU gnorancia ainda dos m ysterios que
são n ecessario s, necessitate medii.
Isto assim observado, foi preciso aos P adres consultarem
ao S uperior tão douto como 0 P adre Vieira, que depois de
consultados tam bém os m ais P adres, ordenou 0 m esm o que
m andão os au to res catholicos, c era que buns se rcbapti-
sassem a b s o l u t a m e n t e c outros sub conditione^ conform e a
duvida ou certeza da nulhdade do prim eiro baptism o. Havida
a resolução, en trarão os Padres Hiberno e fra g o so a d ar
., • „m Knm vip0'ocio tão serio cm quo sc nao
as providencias cm * '• ; 1 . e forão rebaptisando
interessa m enos ’e neeessitav ài da eili-
S : r ^ S * » do C a m u tá; a p rim a ra
deste nom e, a segunda Mojuy, “O f ^ C a n u U i o R everendo
% f e° n j r í ^ s f t o r £
podesse estar com o em s rn ^ a s a com Mo
giosidade; porem sábeudo m sto 1 cd o ^ do P a d re ,
Z Z X 'o os ludios, p o r t—
cham ando o M issionário para a adm im straç.ao dos Sacia
m Vstós erão os grandes bem feitores, a quem então s e r -
-l 'slcs e ^ n.„ n,.n Piies davão aos operarios daquella
víam os, c a paga que c im pedir-lh 0S a colheita do trigo
vinha, q u eim ar-lh esa casa, e im poa desem penhavão
para o celeiro do àenhoi da sea a. ssn i e d£, sfJU
„s valerosos; cinco ta m p e u ^ . ^ ^ Tencendo
com m andante a pc firm , g dovorando trabalhos, m as
U le is ’ da rasão as do in teresse e
am bição. fim m e n te r ,11v: H n;„ uo
na uapitania rln Pi cua
ará se tra b a -
,1 - a t ? f ^ r n ° a C f e t S » “ e“ C a
vmcia in te iia , — e fal v irtude e constância dos su b -
KuM sM oM bedecer. Ditosos turns e outros, pelo que a todos
S t o u de gloria em tão santos ex e rc id o s, e copiosos
fructos.
INTENTA. 0 P A D R E AN TO N I O V I E I R A E N T R A R P E L O IMO 1)0
A M A Z O N A S , MA S NÃO 0 C O N S E G U E ; OEFERECEM -LIIE A
E N T R A D A 1)0 RIO T O C A N T I N S , Q U E ACEITA. DÁ-SE
N O T IC IA D O DITO RIO, E D O QUE R E S U L T O U D E ST A VIAGEM.
eopiGr °ú
antes de se^ copiai
op T á o W s
ag ^ e n s cle E l-rei, e contra
n m7ea tiní am os assentado. Km sum m a, tinha-se assentado
? L n ins viessem para quatro aldeias à nossa d isp o si-
e í o e elle no regim ento nom eava oito aldeias, e a disposi
r Í o toda a d a « ao capitão da jo rn ad a, com o se nos nao
íoram os nèlla, e só para o rol q n e s e havia fazer dos índios
nn<í nnm cava m andando que o íizessem os. .
« Rpm nuízera elle que nós por esta oeeasiao abríssem os
n r o ( h em m a , e nos lançou um a prancha bem larga para
q ô e s t b b s n U d elia; m as ca não fiz « e P U « r peU
n rdem tie El-rei. que parece a dictou o E spirito banto so
m r i este caso. M ostrei-lhe como as m issões nao erao cousa
nc lh e estivesse eueom m endada a elle, senão a m im e q u e
^ n u e ;» elle tocava era só dar-m e canoas, índios e todo o
m ais nue eu pedisse, nem eu queria o u tra cousa. Disse
r Z não entendia assim a ordem de E l-rei, p o rq u e se^se
houvesse de entender assim , e ra tirar-lhe o bastão da m ao.
Fiz-lhe hum requerim ento que m e désse cum prim ento a e . ,
e sahi-m e tendo por certo qne havia o b rar m ais com elle
este escrupulo qu e toda outra ra z ã o ;, e p o rq u e nao per
dessem os a posse da jo rn ada, m andam os logo to m ar tres
“ levar p ara ellas as nossas redes e h u n s panem os
tie farinha (que assim se cham ão ca) e algum as ferram entas
e resgates que podem os aju n ta r; porqueMendo VromeiUo o
Governador que os d aria tam bém se a n e p e n d e _
m essa, dizendo que elle os daria aos Índios quando vies
" Z já estavam os p ara sah ir de casa quando chega o Yi-
eario-G eral com um a ordem nova do G overnador, p o r
escripto em que m andava que sem em bargo do regim ento
que tinha dado ao capitão e cabo cia expedição se seguisse
em tudo o m elhor conselho e ordem do P a d re Antonio
Vieira, pela confiança que fazia da sua pessoa,_ etc. d e s
pondi ao Vigario-Gcral que nós nao íam os as m issões p o r
Grelem do G apitão-m ór, nem pelas confianças que lazm
I
í ;>5
do nós, senão polos poderes que nos dava E l-rei para isso,
o qual ordenava a eüe não que nos m andasse, senão que
nos désse tudo o que lhe pedíssem os. Que a em enda do
regim ento para v ir em fôrm a havia de dizer que na direcção
da jornada e no tocante de trazer, ou deixar, ou pôr os
índios em qualq u er parte que quizessem os, seguisse o ca
pitão o que lhe dissessem os P adres pelo m andar assim Sua
M agestade. E p ersisti tanto neste em penho, porque como
esta m issão he a prim eira, e a que ha de servir de exem
plo ás dem ais, convém m uito que se não perca nada de
jurisdicção, e qu e os G overnadores nao m andem sobre nos
na disposição dos índios, porque seria o m esm o que capti-
va-los por nosso m eio com m aior deform idade que ate
ao-ora, e im pedir-se totalm ente a conversão dos Gentios.
° « P artio o V igario-G eral com a resposta, e juntam ente nos
p ara as canoas, m as antes de chegarm os a ellas me trouxe
o m esm o o u tra te rc eira ordem na ultim a forma, que eu lhe
tinha dito, e o C apitão-m ór accrescentou de boca ao cabo
que em tudo servisse e obedecesse aos Padres m uito m ais
que á sua pessoa; com que nos despedim os. P artim os final-
m ente em dia de Santa Luzia pela hum a hora depois do
m eio-dia, e posto que as dem ais canoas tom árao o cam inho
de dentro, que h e p o r entre os rios, nós com as nossas tres
canoas (porque nos era necessario fallar com o Padre Ma-
th eu s D elgado, que estava na nossa aldeia de M ortigura)
tom am os por fóra, que he hum pedaço de costa de m ar.
« Chegám os a esta já ao sol posto, a distancia era de trcs
léguas, as canoas pequenas, a noite escura, os m ares grossos,
que quebra vão nos baixos cie pedra de que tudo esta cheio,
m as levou-nos Deos a salvam ento. Chegámos as clez horas
da noite, e aqui achám os ao P adre Antonio Ribeiro, que ia
em dem anda cia cidade, conform e o aviso que recebera, e
no m esm o dia tin h a chegado áquelle p o rto com a canoa
alagada. P areceu que clalli voltasse logo com nosco, posto
mie houvesse de ficar o P ad re G aspar Fragoso seu com pa
nheiro, o qual ficou tão m altratado cio naufragio, que poi
estas e o u tras causas não pôde proseguir viagem . O 1 atire
M atheiis D elgado ficou com ordem cie assistir as tres aldeias,
a une se tin h a assentado viessem os índios cio descim ento,
e fazer toda a diligencia p o r levantar casas c recolher m an
tim entos com que com eçar a sustentar-se.
«No dia seguinte (14 tie Dezembro) partim os cleM oitiguia
Do
nrm a m aré da tarde os P ad res Antonio Ribeiro, Francisco
Vdtoso Manoel de Souza e eu, cada 1mm ™
crnnpmTios a navegar nor hum mar dc agua aoce. ucr.oiuu
S. noite, e o ^ V h lT ab K eA o
nflccarnos amarrados ás arvores de huma ima, que nus
servirão (le ancoras e amarras, que estas em barcações nao
trazem outras. Chamamos os companheiros mas nem d ie s
“ “ s W s fc s c
assyss r -
e iustos, que o braço ou perna que. alcançarao de um b o-
CTClo a cortão cercea, e o m esm o fazem aos remos
andão assanhados. Huma cousa nos affirmão aqui pessoas
praticas (sobre o que eu suspendo o m eu assenso) e he que
| " o ) o d i l o s que se crião de ovos, como as aves e: r-
taru^as o modo com que os chocao he pelos olhos. I azc
S o i b o r d a da a gia e ás vezes em parte aonde a agua
lhes chega e os cobre, e logo o crocodilo esta desde o n o
com os olhos fitos nos ovos, e perseverao assim os dias
necessarios sem se divertirem mais que por-breve tem po a
comer, como as aves. Desta maneira os fomentao com a
vista, e lhes communicão aquelle calor vital com Que
animão. Padece isto as mesmas dificuldades da víbora con
ceber pelos ouvidos e do bazilisco matar com os olhos. »
CONTINUA A CARTA BO P A D R E ANTONIO VIEIRA ÀS MESMAS
NOTICIAS DO R IO E MISSÃO DO TOCANTINS.
S ’; ; grande traW ho e
z ^ os r quor .» r z
se eastírão nestas fadigas dons dias inteiros ; o ne
heesoraiadoeism al, mas vai todo dividido em m uitos hraç ,
cm que se despenha por entre grandes penedias e ilheo ,
que tem aberto com o peso da corrente ou correntes
te Estas correntes se encontrão humas com as outras
o-ares c fazem tão fortes remoinhos e abrem tao oran
covas'no meio da agua (o que chamão caldeirões) que m uitas
vezes as canoas se virão nellas. Emfim acabamos cie pass
este roator perigo á segunda-feira 2 9 .d e Dezembro, e se
fechou a tarde, e a alegria com tmma
porcos montezes, que naquella conjuncçao iao atravessa
rio para a outra banda, e derão as nossas canoas m m to qu
festejar c comer. Ter vencido nesta viagem a Taboca, he ter
passado na índia o Gabo da Boa-Esperança; mas nao quiz
Deos que lográssemos este gosto, sem mis ura dej
pezar e perplexidade, em que no primeiro destes dous d
nos vimos. Pelo que víamos obrar ao Capitao, m uitos lias
havia que suspeitávamos que o Capitao-mor tinha dado
outra ordem encontrada, á ultima, com que satisfez, ou se
livrou dos m eus requerim entos. _ . A A
<( Neste dia pois me disse o Capitão havia de mandar dua
canoas diante a avisar da sua vinda aos índios que íamos
buscar, para que o viessem receber, e elle lhes praticar e
ordenar o que havião de fazer, e por aqui m uitas outras
cousas, em que se fazia totalm ente dono da Missão.
(,:Pareceu-me não dissimular mais, como até aqui tinha teito,
por entrarmos já no ponto essencial da gentilidade e sua
conversão. Quiz-lhe explicar a ordem de Sua Magestade e a
do Capitão-mór, e tirando-as para lh a s mostrar, elle se le
vantou em altas vozes, tapando os olhos e os ouvidos paia
as não ler. nem ouvir As palavras irreverentes, com que
então nos tr a to u em particular e em com m um , e os ciebco-
medimentos que disse, c quem he a pessoa que os ctisse,
■169 —
c a l o ; p o rq u e não he isto o que sentimos, nem sentiríamos
cousa alguma, se nos deixassem exercitar o a que viemos,
e se não nos impedirão os fructos dos nossos trabalhos: cm
tudo o mais lhe déramos grata licença, para que nos tratasse
muito peior. Depois que esteve menos colérico ou menos Irí
gido, declarou, e por todos os modos, que; podia, nos mani
festou, que ainda que o Capitão-mór nos tinha dado aquella
ordem, depois delia dera a elle outra. O mesmo disse
depois em particular ao Padre Antonio Ribeiro, e h u m soldado
chamado Antonio Furtado, que vem com nome de ajudante,
e deve trazer a ordem da empreza, e a cxplicaçao delia, p ra
ticando na materia com o Padre Francisco Velloso, lhe d i s s e .
Ah Padre, quem poderá f a lla r!
((Affirmo a Vossa Reverencia, Padre Provincial, que em toda
esta viagem vim muito edificado da paciência e soíírimento
dos Padres, que nella v ã o ; porque, sendo os trabalhos e po
rmos, que todos os dias se padecem, tantos, e tao conti
nuados, e as incommodidacles deste genero de vida, ainda
para os barbaros que nelle se crião, tão asperos de levar,
a grandeza de coração e a alegria do rosto, com que os
passão e desprezão, he admiravel, e muito para louvai a
Deos. Mas chegados a este ponto de se nos impedir, e por
taes meios o fim de nossos desejos e trabalhos, sem nos
valerem leis de Deos, nem ordens do Rei, confesso a Vossa
Reverencia, que a todos nos faltava a paciência e quasi o
a n i m o ; e se não nos alentáramos com os exemplos das con-
tradicções, que padecerão os Apostolos e o mesmo Christo,
posto que as padecerão de gentios e idolatras, e nao de cliris-
tãos, como nós, estaríamos perto de entender, que ainda nao
he chegado o tempo de se segar este pão.
« Algumas horas passámos este dia, cada h u m calado p a .a
seu cabo, como anojados. Assim nos resolvemos a encom-
m e n d a r o negocio a Deos, e não resolver nada nelle ate
chegar e ver, e dahi (se fôr conveniente) ir diante h u m de
nós a desfazer estes enganos, ou ao menos ate tirar a m a s
cara p ara que não tenha a obediência alguma escusa ou ap
p a r e n d a delia diante de Sua Magestade. Mas ao outro dia,
30 de Dezembro, depois de ter tomado porto, nos alvoioçou
e aleerou a todos a vista de hum a canoa, que vinha 110
abaixo, e foi a primeira embarcação, e as primeiras pessoas
que encontrámos em todo este rio, tendo ja navegado p or elle
a nossa canoa mais de 130 léguas. Os que vinhao na canoa
forto |u'»o levados ;>o Capim», o qualos recebeu, e d i t o u
[ baixo no m esm o dia sem no-la íazei sabei,
a canoa pai - _ npnhnm caso Vinha nesta canoa hum
S È Ü s e K íiW S :
“ abo d e h u m a " m p a com a lg u n s so ld a
d o s da sua 'b a n d e ira , vindos de S M o ^ e g o g a r a o a o ^ a n , ,
R d r-
CAPÍTULO V.
DOS P R IM E IR O S D E S C O B R ID O R E S DO R IO A M A Z O N A S, S E G U N D O
O O U E R E F E R E M A S H IS T O R IA S E S T R A N H A S , E DO S E U
DESCOBRIM ENTO PELO S NOSSOS P O R T U G U E Z E S , C O N F O R M E
AS N O S S A S N O T IC IA S M A IS M O D E R N A S N O S R E L A T Ã O .
(I) E sto convento cora a retirad a dos M issionários c as reform as incxcm ij.
v cis do M arquez de P om bal, arru in o u -se totalm ente. Segundo B acna, as ru in as
deste estabelecim ento ainda crão vistas em 1 780. Ficava perto da aldeia de
A rapijo, hoje o lu g a r de C arrasòdo.
„ . 0 . aportuguezarnento dos nom es das aldeias que estavão sob a direccão dos
m issio n ário síoi a um ea reform ado M arquez de Pom bal que vingou i A im posirão
da ling uag em portugueza tam b ém , porque os colonos forão augm entando e os
mhos perecendo, graças ao seu fam oso D irectorio de 1 75 8, que su b stituio o
R egim ento das M issões. Os fructo s deste D irectorio forão tão péssim os que a
linal rev og arão -o por C arta R egia de 12 de Maio de 1 79 8. Infelizm cnte depois
ué acabar com os índios dos estabelecim entos creados pelos Jesu ítas o o utros
M issionários, como se pode vèr no Ensaio Corofjraphico de B acna, o D irectorio
anula nos veio p rejud icar, concorrendo para isto o prestigio do nom e do M ar
quez; pois em í 84. > intim o para sc nos dar o decreto n . 4,26 dc 2 4 de Julho
desse anuo com o R egulam ento de M issões, c cujo system a lio no essencial
idêntico ao celebre D irectorio. Sendo a arvore a m esm a não m aravilhão
fru to s.
(-) Roje a villa dc A rraiolos. B aena dá a este rio o nom e de T ocre.
(Notas do Edict or).
CAPITULO V il.
CONTINUE A DESCRIPÇÃO DO RIO DAS AMAZONAS E MISSÕES
DA COMPANHIA DESDE O GURU PÁ ATÉ O RIO TAPAJÓZ.
IU or dí oi ,A™com ro pi reced
r í ü,lí e fbem
en te; tC que
Iugaremque h °je tera
principio por0 causa
nom e da
de visinhanca
M açam by ou
da
f d®ia se cbaraaf c indifferentemente tanto a aldeia como ao arrayal — A v id a — -
nome que Condanune em sua obra sobre o Am azonas alterou por A r a v id á —
ÍIÍp IT u G ^ amPai° — D ífln o da via g em ao rio N e g ro , n . 5 0 2 ,5 6 6 . E ste lu car
{ f;eJí: irc Porque em 174 4 foi á elle conduzido do Orinoco o Jesuita H esn a-
nliol Manoel Rom ao, por Francisco Xavier de M oraes, sendo por este f u t o
OnnoA: i r ^ 7 S e T r HeSPanlld ^
(3) He o lugar do Castanheiro Novo.
(Notas do Edictor).
— r.;i 1
Segue-se depois o rio Cayary (1) m ais celebre pelo lago dos
sens sertões (se lie certo o que clelle se diz) que pela c o r
renteza de que o dito se fórm a. Neste rio Cayary habita a
nação dos Buacipés, dos quaes se diz que nas suas te rra s
está o celebrado Parim é ou Lago do Ouro (2); como tam bém
se diz que m uitos destes índios trazem seus brincos, ou fo
lhetas de ouro nas orelhas. Seja o que fôr, que o tem po
brevem ente o m o strará, pois se vão abrindo cada vez m ais
estas te rras, e o não estarem já descobertas he por se não
adiantarem hoje as conquistas com as tropas de resg a tes,
que erão as que sem tanto receio de inim igos se e n tra n h a -
vão mais pelos rios e matos daquelles sertões, fiadas an tes
no respeito das arm as, que no pequeno num ero das forças,
que erão as que bastavão.
0 que parece certo he, que o decantado lago P arim é, ou
D ourado, que deu tal estrondo nas historias, e a celebrada
cidade de Manôa, he nestas vizinhanças do rio N egro, onde
tem os varios lagos, e varias povoações de nação Manôa, ou
índios Manáos, e ultim am ente algum as folhetas de ouro que
ou ha nas cachoeiras deste rio, ou o sln d io sd e lle o ad q u irem
por commercio de outros índios que o trazem das s e rra s do
novo reino de G ranada e Quito, que será para elles o seu
lago Parim é.
Subindo por este rio Cayary acima a oeste, em distancia
de vinte léguas se topão o u tras cachoeiras, e passadas estas
acim a doze léguas se desem boca no rio Jap u rá em a ltu ra
(t) He o rio Uaupés, antigam ente chamado Ucayary, segundo B aena o
outros. 55
(2) 0 author aparta-se aqui da opinião geralm ente recebida, deque a situ ação
desse famoso lago era ao norte do rio Negro, para o lado das cabeceiras do rio
Branco, que tem hum pequeno affluente chamado Parima.— Baena— Ensaio
(jorofjraphico sobre o Pará- pag. 5 3 8 . Am azonas, Diccionario Topoaraphico,
art. Parim a, Ribeiro Sam paio.— Relação histórica do rio Branco.
(Notas do Edictor).
pouco m ais ou menos de cinco gráos de latitude boreal, e
trezen to s e nove gráos de longitude, pouco mais ou m enos.
De so rte que íica sendo ilha perfeita a te rra que medeia en
tre o rio Negro e o rio Japurá.
Advirto porém , que antes das prim eiras cachoeiras do rio
N egro, que deixam os referidas, ha um braço á mão esq u er
da, ou da parte do sul, que subindo por elle acima se vai
com m unicar com o rio Cayary junto ás cachoeiras deste rio,
de so rte que quem navegar do rio Negro para o Jap u rá
escusa p assar as cachoeiras do rio N egro, e póde seguir
este braço, e su rg ir no rio Cayary junto ás suas cabeceiras.
Da boca deste rio Cayary, subindo o rio Negro em d istan
cia de cloze léguas, se encontra á m ão direita da p arte do
n o rte a prim eira boca do rio P a ra n á , e subindo m ais acima
o u tras tan tas léguas da mesma p arte do norte está outra
segunda boca deste m esm o rio P araná. Fôrm a elle a figura
de meia lua, e desta meia Ina desce hum braço (1) que corre
p ara o rio Orinôco, e o u tro desagua no nosso rio Negro.
P or este braço do rio Paraná se com m unica o rio Negro
com o rio Orinôco pelo rio Caurá, que nelle desem boca, não
o b stan te o que diz o nosso P adre G um ilha no seu livro cio
Orinoco Illuslrado, pois além do que diz Condamine, he certo,
qu e bum Religioso M issionário da Com panhia, do Orinôco
veio ao nosso arrayal em em barcação, e a hi esteve com o
M issionário da tro p a, o nosso P adre Achilles Maria Avogadri,
que foi o que me contou depois que veio da tropa de resga
tes, em que padeceu m uito, e p o r m uitos annos, e nos deu
p ara a historia algum as noticias sobre o que vamos dizendo,
e nas aldeias do Carm o, por onde passou o dito M issionário
C astelhano, depoz a dita com m unicação, e se voltou para a
sua aldeia na m esm a canoa em que viera.
A fôrm a da com m unicação julgo eu que he por estar o rio
P aran á em tal posição e altu ra da te rra , que desagua para
am bas as partes, isto he, para a p arte do norte do Orinoco,
e para a p arte do sul das Amazonas. P assada a segunda boca
do rio P arauá declina o rio Negro totalm ente para o oeste, e
ainda a setenta léguas d e distancia he navegavel, e tem sido
navegado pelos P ortuguezes, donde venho a inferir, que traz
a sua origem das se rra s de Popayan.
( i) He o que hoje se c h a m a Caciquiary. O conego A ndré F ernand es de
S ouza cm suas Noticias geographicas do rio N egro, ch am a á esse canal ou
rio Quixiquiary. (Nota do Edictor).
Tornando á boca do rio Negro para seguirm os o curso do
rio das Amazonas, entram os na m ais bella e rica provincia
que tem o rio : cham a-se elle daqui até o rio Napo, rio dos
Solimões, mio porque haja rio algum proprio, cham ado Soli-
mões, m as porque os P ortuguezes lhe derão este nom e nesta
dilatada provincia.
Os Missionários da Com panhia que en trárào n este rio a
catechisar índios depois do Padre A cunha, forão os P adres
João Maria Gorçoni e Manoel Pires, pelos annos de 1670, com
a occasião de hum a tropa de resgates, de que foi cabo Manoel
Coelho, m orador na cidade do M aranhão, á qual cidade p e r
tencia a dita tropa. Digo ser a m ais bella e rica provincia,
porque sobre m uito abundante de nações de índios, he ferti
lissima de cacáo, salsaparrilha, e dizem que tam bém de b a u
nilhas, como tam bém o será de hum a quinaquina, pois o ha
mais acima em terras do dominio de Castella ; ainda que até
o presente a não tem descoberto os nossos P ortuguezes, as
quaes arvores de cacáo são tantas, assim nas m argens do rio
Solimões, como nas dos rios collateraes, que hum a grande
p arte das canoas do Pará a vão colher a este rio, e só al
gum as poucas o fazem no rio da M adeira. Com fundam ento
diz o Padre Acunha ser esta paragem a m elhor que encon
tro u cm todo o rio das Amazonas.
Todas as m issões que nelle ha de presente desde o rio
Negro até o Napo, são dos Religiosos do Carm o, que com o
fervor do seu espirito reduzirão m uitas nações á fé de
Christo neste rio Solimões, as quaes elles fundárão ao p rin
cipio da parte do norte, ou subindo á m ão direita, que pela
divisão das aldeias lhe toca ; e aos P ad res da Companhia toca
a parte do sul do dito rio, como a seu tem po verem os, no
em que se fez a clita nova divisão por ordem de Sua Mages-
tade. Tem porém hoje os ditos Religiosos a m aior p a rte das
suas aldeias da nossa p arte do sul pela boa am izade, que h a
entre a Companhia e esta Sagrada Fam ilia, e te re m sugeitos
bastantes para povoar aquelíe rio, e e n tra r pelos seus colla
teraes da p arte do sul.
Subindo da boca do rio Negro até o lu g ar cham ado G nju-
ratuba (1), são quarenta léguas de distancia. Fica este sitio da
p arte do norte, em lugar baixo c alagado, sujeito á praga de
carapanás e m osquitos enfadonhos, m as m uito abundante
decacoáes, e são os prim eiros que se encontão no rio Soli—
(I) Baona c A m azonas escrevem — Gmráüba.
inoes de notável extensão. Estes forão a causa p o rq u e os
Religiosos fundarão nelle a prim eira m issão, porém o seu
máo sitio e conhecim ento cio paiz os íez m u d ar p ara o rio
Coary (1), onde hoje se acha com a invocação de Santa Anna,
que tam bém teve a de G ujuratuba.
Sahindo da T ap era de G ujuratuba, rio acima dez léguas,
se topa á mão esquerda da parte do sul hum a boca do rio
P u rú s, nom e com que hoje he conhecido por habitar nelle
hum a nação de ín d io s cio m esm o nom e. Antes tinha o nom e
de Cuchivary. Iíe este rio P u rús o m aior que entra no das
Am azonas acima do da M adeira da p arte do sul, donde traz
a sua correnteza, e entende Mr. de ia Condam ine, que este
he o rio a que os Castelhanos nas suas cabeceiras cliam ão
rio Beny, e nasce nas serras que íicão ao norte do Potozi, e
este Ihé fica direito ao sul em altura de vinte grãos, e as
cabeceiras do rio em dezesete grãos.
Já na descripção do rio da Madeira disse que m e parecia
ser o rio Beny o que desemboca no da Madeira da p a rte de
oeste. E não duvidarei que destas m esm as cabeceiras se
rep artã o os clous rios P urús e M adeira, com binando hum as
com o u tra s as noticias que tem os diante.
C om m unica-se este rio P u rú s p o r hum braço subindo á
mão esquerda com o rio da Madeira antes das suas cachoei
ras, com o na descripção deste dissem os. He abundante cie
cacáo, e tem g ran d e num ero de índios P u rú s e M uras ; estes
últim os cie corso e cruéis, que habitão este rio c o cia Ma
deira, pela com m unicação interior do sertão. Da boca do rio
P u rú s até á do rio Coary são quarenta léguas. Na boca des
te rio está hum formoso lago, e dentro nelle a prim eira al
deia cie Santa Anna, dos Religiosos do Carm o. Esta ho a aldeia
que m u d o u o R everendo Padre F rei Mauricio M oreira, da
T apera de G u júrátuba. Desce o rio Coary do sul para o norte
como o dos P u rú s, mas m uito m enor que este; não deixa
porém de te r hum grande curso e distancia para o sertão.
Referem os índios que o habitão, que nas suas cabeceiras
tem cam pinas, vaccas, e gente b ran ca, de que se infere que
nella ha H esp a n h ó es; e o m esm o se deve disco rrer d as ca
ll) T ev e p o sterio rm en te o n om e de Alvdlos. Hc h u m a P aro c h ia. R eferin
do-se á e ste lug ar n o táv el pela h ospedagem que recebeu o capitão P ed ro T ei
xeira, na sua cele b re viagem á Q u ito , da p arte dos índios Ju rim á u a s, e pela
estada que fez Mr. do la C oinkunine, diz B acna, quo lia ali ananazes sin g u lares
na d o çu ra e na rarid a d e d as cspccies. (Noítt do Edivlor).
530
FIM DA l . a P A R T E OU 1 .° TOM O.
nrOTA HO A IT 1 IO K .
Ao P u b lic o .......................................................................... II
D e d ic a tó ria .......................................................................................... 1
T ro lo g o ................................................................................................ 5
LIVRO I. — Da Capitania do Maranhão.— Capitulo i . — D á-se
h u m a breve noticia d a cidade do M aranhão e seu presente estado. 11
C apitulo i i . - —P rim eiro descobrim ento do M aranhão e sua o rigem . 18
C apitulo i i i . — P edro Coelho de S ouza e M artim S oares M oreno te n -
tão por te rra o descobrim ento do M aranhão. M allogro da expedição. 23
C apitulo iv . — C ontinuação da m esm a m a te ria . M orte gloriosa do
venerável P ad re F rancisco P in to ..................................................... 34
C apitulo v i . — Breve noticia do pouco que podem os alca n ça r da
vida e v irtu d es do venerável P ad re F rancisco P in to ..................... 45
C apitulo v i i . — Povoão os F ran cezes a ilha do M aranhão. . . . 50
C apitulo v n i.- — C ontinuação da m esm a m a té r ia ................................ 54
C apitulo i x . — P rim eiro en con tro d as nossas arm as com os F ra n
cezes ............................................................................................... 58
C apitulo x . — Do que o b rárão os P o rtu g u ezes depois da sab ida dos
F ran cezes, e ,o m uito que trab alh arã o os n ossos p rim eiros M issio
n ário s n a cof /ersão daquellas a lm a s................................................ 72
C apitulo x i . - D á - s e n oticia da traslad açã o dos ossos do v enerável
P a d re F ra r asco Pinto ; o que D eos obrou por su a in terc essão , c
do ro teiro que o servo do S en h o r g u ard av a n a red u cç ão dos gentios. 84-
C apitulo x i i . — C ontinuão os P a d re s M anoel G om es e Diogo N unes
com o m esm o fervor o louvável exercício dos seus M inistérios n a
ilh a do M aranhão, c u ltim a reso lução que tom arão á v ista dos
in ju sto s procedim entos de seu s j á am biciosos, e não m enos o rg u
lhosos m o r a d o r e s ..................................................... ..... 100
C apitulo x iii . — N oticias chronologicas do tem po cm que a C om
p anh ia e m ais R eligiões sag rad as en trarão no E stado do M aranhão. 1 08
LIVRO II. — Pm/nssos da Companhia no Maranhão. — C a p itu lo i.
— C hegão os P ad res L uiz F ig u eira e B enedicto Am odei ao M ara
n hão , e do corno forão hospedados de seu s m oradores . . . . 122
Capitulo i i . - D o que obrárão n o M aranhão os P ad res Luiz F igueira
c Benedicto Am odci, c dos primeiros princípios da n ossa fundaçao
nesta cidade....................................................................................
C a p i t u l o i i i . - D o m ais que obrou o P ad re Luiz F ig u eira c seus
com panheiros no M aranhão, no feliz governo de seu p n m c n o Go
vernador e C apitão-G eneral F rancisco Coelho dc C arvalho. . .
Capitulo i v .— E ntrad a dos H ollandczes na ilha do M aranhão, c do
que obrarão os nossos P o rtu g n ezes por este t e m p o .....................
Capitulo v . — D o que obrarão os nossos P ortu gn ezes na re sta u
ração do M aranhão do poder dos Hollandczes, anim ados dos R eli
giosos da C om panhia....................................................................
Capitulo v l — C ontinuação da m esm a m ateria................................
Capitulo v ii . — Varios acontecim entos c gloriosas acções dos nossos
restau rad o res ..............................................................................
Capitulo v i u . — Do m ais que obrarão os nossos P o rtu g u ezes até
concluírem a restau ração da liberdade..........................................
LIVRO III. — Entrada da Companhia de Jesus na Capitania do
Crão-Pará. — C a p it u l o i. — Breve noticia do seu d esco brim ento,
fundação c do seu p resen te estado ...............................................
Capitulo n . — Dá-se h u m a breve noticia das m ais C apitanias deste
E s t a d o .........................................................................................
Capitulo i i i . — E n tra no P a rá o P adre L uiz F ig u eira, p arte depois
p ara o Reino a b u scar operarios da C om panhia p ara esta tao
g rande seára, e volta para o M aranhão com h u m a g randiosa M issão.
C apitulo iv . — C o ntinu ão-se os varios successos do P a d re L uiz
F igu eira até á su a m o rte ...............................................................
Capitulo v . — S uccessos dos R eligiosos da C om panhia no P a ra e
M aranhão, do anno dc 1 6 4 4 até o anno de 1 6 4 8 ..........................
Capitulo v i . — M orte dos P a d re s F rancisco P ires e M anoel M oniz,
e do irm ão coadjuctor G aspar F ernand es..........................................
CAriTULO v ii .-— R esta b elec e'se a Com panhia no E stado do M aranhão
c P a rá , promovida com ard en te zelo e i*eal grandeza pelo piissim o
S en ho r D . João IV .........................................................................
C atitulo v i ii . — Fervorosa resolução do P adre A ntonio V ieira em
q u erer p assar ao M aranhão a restabelecer a nova M issão, m ortos
todos os M issionários, vencendo para isso as m aiores difficuldades
n a c u r t o .........................................................................................
C apitulo i x . — Chegão ao M aranhão com feliz viagem os nove R e
ligiosos m andados pelo já nom eado S uperior de toda a M issão o
P ad re Antonio V i e i r a ....................................................................
C apitulo x . — Feliz viagem para a M issão do M aranhão do grando
P ad re Antonio V ieira; g ran d e em baraço que teve an tes da su a
partida, poderes e m ercês com que o despedio o piissim o o sem pre
augusto R ei o S enhor D. Joan IV,
1
rh)f)
LIVRO IV. — Do que sc sega io (Jo, entrada do Companhia no Pani,
e da do Padre Vieira no Maranhão. — Capitulo I. — Fundão
aqnella casa os P ad res S outo-M aior c G aspar F ragoso, e das c o n
veniências espiriUiaes que re su lta rã o ............................................... 203
Capitulo i i . — P ro seg iiem -se os trab alh o s dos nossos P ad re s na
sua prim itiva fundação n a cidade do P a r á ..................................... 314
Capitulo h l — C hega ao M aranhão o P ad re Antonio Vieira com
hum pequeno soecorro de M issionários. D á-se noticia do que
0G>0
obrarão depois da sua estada naquella cap ital................................
C apitulo i v . — Com m cltem os R everendos Conegos da B ahia, séde
v acan te, a direcção do governo espiritual aos nossos P ad re s do
M a ra n h ã o .— Motim popular por causa de dons V igários G eraes
que se querião introduzir, c da g rand e prudência e acerto com que
o P adre Vieira ultim am ente acudio à paz e quietação de todos. . 331
Capitulo v . — P rim eira torm enta e m otim popular no M aranhão por
cau sa da n ova lei sobre o inju sto cativeiro dos Índios. — P cricia
com que o P ad re Vieira socega os m ares, e se oppõe ao im peto
de tão precipitada co rrente no m aior perigo dos seu s subditos. . 338
Capitulo v i . — Cópia da resp o sta que derão os P ad re s, c dc como
u ltim am en te socegou tudo a g rand e prudência do P ad re Antonio
V ie ira ......................................................................................... ..... 347
C apitulo v ii . — N oticia su m m aria das leis reacs sobre o cativeiro
dos índios no E stado do M aranhão c P a rá ..................................... 3 57
LIVRO V. — De outras acções dos nossos Missionários no Estado do
Maranhão, e das do grande Pcidre Antonio Vieira até á sua par
tida para o Pará. — Capitulo i . — Chegão á capital do M aranhão
m ais obreiros da C om panhia d a P rovincia do B razil, e do que o
P ad re V ieira obrou em serviço de Deos e bem das alm as. . . 375
C apitulo i i . — Do que obrarão os P ad res Antonio Ribeiro e T hom é
R ibeiro, na v isita das aldeias da ilh a do M aranhão..................... 391
C apitulo i i i . — M issão que os P ad res F rancisco VcIJoso e José Soa
re s fizorão nos Índios G oajajáras no rio P inaré por m andado de seu
S u p erio r o P ad re Antonio V ieira. . . ..................................... 393
Capitulo iv . — C ontinuação da m esm a m a te ria................................ 4 03
C apitulo v . — Do que obrarão os nossos P a d re s n a C apitania do
P a rá no anno de l t í 5 3 .................................................................... 421
C apitulo v i . — Do m ais que se obrou na C apitania do P a rá depois
de chegados os dons P a d re s M anoel de Souza e Matheos Delgado. 420
LIVRO VI. — Pa entrada do Padre Antonio Vieira na Capitania do
Pará, do descobrimento espiritual do rio das Amazonas, e das
aldeias que nelle jundárão os Religiosos da Companhia de Jesus.
■— C apitulo i . — E n tra o P ad re Antonio Vieira na cidade d o P a rá
a dar principio a esta esp iritu al c o n q u is ta ..................................... 435
Capitulo i i . — In ten ta o P adre Antonio Vieira en tra r pelo rio das
A m azonas, m as não o consegue ; offereccm -lhe a en trad a do rio
T ocantins, que a c e ita .'— D á-sc noticia do dito rio , e do que resu l
tou desta viagem ..................... , . .......................................... 447
t \
554
Capitulo hi. -— Continua a carta do Padre Antonio Vieira ás mesmas
Did
Tiotirias do rio c Missão do loc3,ntins. •
C.M’iTur.o IV. — Continuão as noticias da Missão e n o lo can ti . .
. *rr m
(Apitulo v. — Dos primeiros descobridores do n o Amazonas i se-
J n-nndo o mie referem as historias estranhas, e do seu descobri
m ento petos nossos P ortuguezes, conforme as nossas noticias mais
484 .
m odernas nos relatão...............................• ’
r »dttt' i o vi _ D escripção geographica do famoso rio das Amazo-
CiKZ com is m S V nelle fundarão os da Com panhia, e do s -
493
m aiores rios que nelle desembocão ate a fortaleza do G urupa. .
C a p itu lo v i l — Continua a descripção do rio das Amazonas e M is-
" sò ís da Com panhia desde o G urupá ate o n o Tapajóz. . • •
504
Capitulo viii. Continua a descripção do rio Amazonas, e Missões
da Companhia, desde o rio Tapajóz até o rio da M adeira. . . . 514
C a p itu lo IX, — Descripção do rio das Amazonas desde o rio da Ma-
' (leira até o rio Negro, e Missões da Companhia que neste houve. 525
: Capitulo x . — Continua a m esm a descripção até os últim os confins
532 '
do dominio de P o rtu g a l...............................................................
Capitulo x i . - B r e v e relação do rio das Amazonas e seus co llate
r a l desde os últimos confins de Portugal até as suas cabeceiras. 543