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MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA

LINGUAGENS EMANCIPATÓRIAS NO DESENVOLVIMENTO DO


PENSAMENTO CRÍTICO

2º semestre 2021 Carga horária: 45h Professor Responsável:


Dr. Francisco Estefogo

Ementa

Dado o cenário contemporâneo, urdido por uma profunda desigualdade social,


decorrente, dentre outros fatores, pela acirrada narrativa deletéria e
competitiva, sobretudo no ambiente escolar e nas redes sociais, bem como
pela polaridade ideológica, urge que se fomente o desenvolvimento do
pensamento crítico por intermédio de linguagens emancipatórias para o
possível abrandamento desse desequilíbrio e para a inclusão de muitos
desafortunados (ESTEFOGO, 2019) na pólis (ARISTÓTELES, 2006), de forma
menos desproporcional. Frente à modernidade superdiversa (VERTOVEC,
2007), multilíngue (MEGALE, LIBERALI, 2020) e multicultural (CANDAU,
2008), repleta de desafios de proporções ciclópicas, esta disciplina pretende
se debruçar em estudos que discutam possibilidades de como a linguagem
emancipatória pode oportunizar a construção do pensamento crítico com vistas
ao questionamento do status quo, assim como ao desenvolvimento de agentes
em prol da potência do coletivo, na busca do contentamento comunitário
(ARISTÓTELES, 2006), do alijamento das forças de poder (FOUCAULT, 1979),
e de uma pólis, se possível, menos desigual. Mais particularmente, o foco é
desenvolver, por meio do pensamento crítico, recursos que permitam que o
indivíduo interaja com a superdiversidade e a multiculturalidade de modo que
seja um diferencial central na sua formação social para construir novas
realidades. Também é proposta desta disciplina aprofundar os estudos acerca
dos recursos de mobilidade (BLOMMAERT, 2013) e de patrimônio vivencial
(MEGALE, LIBERALI, 2020) que as linguagens oferecem, com o intuito de
fomentar ações e transformações em contextos múltiplos e superdiversos
(VERTOVEC, 2007). Com base em Blommaert (2013), esta disciplina entende
que o desenvolvimento de mobilidade, com fins emancipatórios, implica em se
pautar nas experiências de um contexto espaço-temporal como aporte para a
construção de novas possibilidades de ser, agir e de construir novos
significados e realidades em diferentes contextos sócio-histórico-culturais, com
foco no bem-coletivo e, assim, prospectando condições sociais mais
equânimes, que possam orientar revolucionariamente a luta social pela
transformação. Esta disciplina tem como objetivo promover reflexões sobre a
real dimensão das linguagens estruturantes da sociedade moderna para que se
possa avançar no constructo do pensamento crítico e de novos conhecimentos.
Na função de uma instituição fomentadora do pensamento crítico, a escola, por
exemplo, não pode se utilizar do expediente referente ao excludente de ilicitude
em relação à desigualdade social, ao desrespeito aos direitos humanos, ao
silenciamento (AMARAL, 2013; TELES, 2018) da pluralidade cultural,
tampouco à injustiça social, dentre outras mazelas da modernidade. Como
destaca Oliveira (2011), o âmbito escolar deveria ser, na verdade, um fórum de
discussões para se construir saberes, mas não um espaço homogêneo e
monológico, atravessado pela mera transmissão acrítica de conhecimentos, o
que, como aludido por Freire (2008), assinala a educação bancária. Portanto, é
patente que se desenvolva a força agentiva (LIBERALI, 2020), por intermédio
do pensamento crítico decorrente das linguagens contemporâneas (e outras
que virão), principalmente nos âmbitos de ensino, para que a sensação de que
todos, coletivamente, são construtores da realidade e da transformação.

Conteúdo Programático

Pensamento crítico. Educação bancária. Colonização. Educação Multilíngue.


Patrimônio Vivencial. Educação libertadora e emancipatória. Pedagogia
Decolonial. Linguagens Emancipatórias. Emancipação. Mobilidade social.
Monólogo opressivo. Desenvolvimento da consciência crítica. Autonomia.
Transformação social. Diálogo horizontal. Construtores da Realidade. Agentes
de transformação. Leitura do mundo. A educação como ato coletivo e solidário.
Avaliação

Produções escritas quinzenais relacionadas às discussões teóricas feitas nas


aulas (peso 1). Elaboração de um trabalho escrito (peso 4) que tenha como
base as concepções abordadas no curso, sobretudo no que diz respeito à
contribuição dos estudos realizados nesta disciplina para a futura pesquisa.

Referências Bibliográficas

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