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HISTÓRIA DA ARQUITETURA E

URBANISMO V
ECLETISMO NO BRASIL

Professor: João Gabriel S. Araújo


CONTEXTO
O período que caracteriza o início
da república no Brasil é marcado
sobretudo pela modernização e a
urbanização do país.
Novos programas de arquitetura,
o fluxo migratório, assim como
novas tecnologias de materiais e
infraestrutura, alteram a forma
de construir.
CONTEXTO
“São Paulo contava em 1890 com cerca
de 65.000 habitantes. O recenseamento
mostrou que a população paulistana
passara a crescer a taxas elevadas. A
razão para isso estava no grande número
de imigrantes estrangeiros que aqui se
fixavam.”
CONTEXTO
“O último censo do século XIX
registrou um período de
crescimento vertiginoso para
São Paulo, que então se
transformara numa cidade de
240.000 habitantes. Antigas
chácaras ao redor do núcleo
histórico da cidade eram
loteadas e a área urbana se
expandia continuamente.”
A URBANIZAÇÃO LEVA A MODOS MODERNOS E
O APARECIMENTO DE UMA BURGUESIA
Para acomodar a nova classe
social, as maiores cidades
foram modificadas. Foi o
caso do Rio de Janeiro, com
reformas de Pereira Passos.
ESTUDO DE CASO: THEATRO MUNICIPAL
(RIO DE JANEIRO, RJ)
Programa arquitetônico que
melhor representa o espírito
do tempo do ecletismo, o
Theatro Municipal do Rio
de Janeiro expressa o
requinte da arquitetura
eclética.
HISTÓRIA DO THEATRO
“A ideia de um teatro nacional com uma companhia artística estatal já existia
desde meados do século XIX e teve em João Caetano (1808-1863), entusiasta do
teatro brasileiro, além empresário e ator de grande mérito, um de seus mais
contundentes apoiadores. O projeto, no entanto, só começou a ganhar
consistência no final daquele século, com o empenho do nosso ilustre
dramaturgo Arthur Azevedo (1855-1908). (...) Os dois primeiros colocados
ficaram empatados: o projeto denominado Áquila, em que o autor “secreto”
seria o engenheiro Francisco de Oliveira Passos, filho do prefeito, e o projeto
Isadora, do arquiteto francês Albert Guilbert, vice-presidente da Associação dos
Arquitetos Franceses.
HISTÓRIA DO THEATRO
“O projeto final foi o resultado da fusão dos dois premiados, uma vez que
ambos correspondiam a uma mesma tipologia, inspirada na Ópera de Paris.

Após as alterações, o prédio começou a ser erguido em 2 de janeiro de 1905, com


a colocação da primeira das 1.180 estacas de madeira de lei sobre as quais está
assentado. Em 20 de maio daquele ano foi disposta a pedra fundamental. Para
participar da decoração, foram convocados alguns dos mais ilustres e
consagrados artistas da época, como Eliseu Visconti, Rodolfo Amoedo e os
irmãos Bernardelli. Também foram recrutados artesãos europeus para a criação
dos vitrais e mosaicos.”
O teatro tem inspiração na Ópera de Paris, de Charles Garnier:
• Uso de colunatas na fachada
• Cobertura metálica em cobre
• Elementos dourados
Cúpulas decoradas com pinturas de Bernadelli
Pinturas de Rodolfo Amoedo, nas
paredes dos foyers.
Pinturas de Eliseu
Viscontti, no
interior do teatro.
Pinturas de Eliseu
Viscontti, no
interior do teatro.
Escadaria em
mármore, ladeada
por esculturas
também em
mármore e
luminárias com
estrutura em ferro.
Teatro Vitória, projeto do
engenheiro francês Maurice
Blaise (1896), no entorno da
praça Rodrigues do Santos.
A diversificação da
sociedade santarena, e seus
hábitos. O novo prédio
substituía o local onde o
“Clube Dramático” se
apresentava, numa casa do
bairro da Aldeia
ESTUDO DE CASO: MERCADO ADOLPHO LISBOA
(MANAUS, AM)
O mercado como
programa arquitetônico
do ecletismo demostra o
momento em que o
comércio saiu do largo
para espaços fechados.
INFLUÊNCIAS ESTILÍSTICAS
“Considerado um dos ícones da arquitetura histórica de Manaus, o mercado
Adolpho Lisboa, no estilo art-nouveau, é uma réplica do mercado Les Halles, de
Paris. Símbolo remanescente da época áurea da borracha, o prédio é um
expressivo exemplar da arquitetura do ferro no Brasil, tendo seu inestimável valor
reconhecido por meio de tombamento no Instituto de Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), desde o fim do século passado.”
As estruturas em ferro
fundido revelam os
avanços das técnicas
construtivas no país.
Embora importados, os
materiais eram
projetados e executados
por profissionais já
qualificados.

Percebe-se o trabalho
feito no ferro, com
desenhos de ramos.
ESTUDO DE CASO: PALACETE BOLONHA
(BELÉM, PA)
Palacete eclético da
capital paraense,
demostra diversos
aspectos da arquitetura
da burguesia.
“UMA HISTÓRIA DE AMOR”
“A Lenda do Palacete Bolonha começa como muitos romances góticos da ficção: com
uma História de Amor.

O engenheiro Francisco Bolonha, personagem principal dessa trama, havia se


apaixonado perdidamente pela pianista Alice Brink que conhecera no Rio de Janeiro.
Os dois começaram a namorar, mas como o engenheiro era natural de Belém do Pará
a distância tornava extremamente complicado o relacionamento, quanto mais
naqueles tempos. Alice alegava que não podia abandonar a família e que nada sabia a
respeito do então Grão-Pará para desistir da vida na Capital e ir para aqueles
recônditos. Francisco prometeu então que se ela aceitasse seu pedido de casamento,
mandaria construir para os dois um palacete que não deixaria nada a desejar aos da
Europa (...)
“UMA HISTÓRIA DE AMOR”
E foi isso que Bolonha fez.

Mandou erguer, no ano de 1905, uma das


edificações mais importantes da arquitetura de
Belém. O Palacete era um prédio em estilo art-
noveau, com características clássicas do apogeu do
Ciclo da Borracha quando impulsionado pela
riqueza dos seringais, o Pará, experimentou um
enriquecimento rápido e uma modernização
acelerada.
O ecletismo da edificação é revelado logo em seu
exterior. É possível identificar a função de cada
pavimento em sua fachada:

• O térreo e o primeiro pavimento são revestido com


texturas mais rústicas (embasamento rusticado).

O embasamento rústico será adotado na


arquitetura eclética com o intuito de demostrar
solidez. Desde o renascimento, percebe-se o
embasamento rústico, com uso de pedras. Na
arquitetura eclética é apenas um detalhe
decorativo.
O ecletismo da edificação é revelado logo em seu
exterior. É possível identificar a função de cada
pavimento em sua fachada:

• O pavimento superior apresenta paredes lisas, com


os vãos decorados com elementos fitomorfos.

O fitomorfismo é uma característica da


arquitetura nouveau. O termo significa “forma
de planta, de suas estruturas”.
Além dos balcões, os elementos de
escoamento pluvial, também foram
trabalhados com ferro fundido,
trabalhados com formas torcidas.
Ornamentações em estuque são presentes no interior da
edificação:

“A Sala de Música apresenta ornamentação em estuque


evocativa a temas musicais, sendo um ambiente
adequado aos saraus em que Alice Tem-Brink poderia
expor seus dotes vocais. Os estuques são em alto relevo
e trazem uma harmonia entre motivos florais,
mitológicos, célticos, angelicais e referentes à realeza,
tornando o ambiente um dos mais nobres do Palacete.”
“O acesso à Sala de música pelo interior do Palacete
permite visualizar as duas figuras femininas localizadas
simetricamente em relação à abertura central que
conduz ao balcão frontal. Estas figuras estão em
movimento de dança e despidas, além de um estar
portando um pandeiro e outra segura uma lira,
indicando serem duas Musas (13): Érato, a musa da
poesia lírica, amorosa ou erótica; e Terpsícore, a musa
da dança. Geralmente Érato é representada com uma
lira ou com uma coroa de rosas enquanto Terpsícore é
representada com uma lira ou viola.”
“O estuque é constituído por uma massa branca ou
policromática, constituída por cal, areia fina, pó de
mármore e gesso, incluindo uma maior ou menor
percentagem de cal e gesso, consoante as
utilizações. Consiste no revestimento de paredes,
tectos e outras superfícies rebocadas de estruturas
de edifícios feito com pastas de gesso para estuque
[...] e ao qual se adicionaram outros materiais
convenientes como por exemplo, gelatina ou cola
forte. O estuque é colado entre e sobre fasquias de
madeira dispostas de modo a permitir melhor
aderência“
“estão divididos em cinco placas, cuja temática principal remete ao deus Baco (15) e
suas celebrações: neles destacam-se jovens portando flauta e clarinete, sendo a flauta de
siringe consagrada ao deus Fauno (16), cachos de uvas, Mênades ou Bacantes (17), Baco
e criança segurando um címbalo (18), símbolo de festejo. O acabamento brilhante do
painel e a divisão em placas sugere se tratar de material cerâmico, embora adotando as
referências mitológicas empregadas nos ornamentos estucados.”
Os pisos fazem figuras
geométricas, combinando
materiais, desde os matérias de
pedra, como o mármore,
cerâmicos, como lajotas
hexagonais, e madeira de lei.
ENTRE A TRADIÇÃO COLONIAL E A
MODERNIDADE
Antes da virada do século – antes
dos 1900 – fachadas e partidos que
conservavam a tradição colonial
de implantação começam a
receber elementos modernizantes,
fruto da industrialização e
formação de uma sociedade
urbana.
“As novas residências
contavam com plantas
confortáveis, aposentos
ventilados, e iluminados,
além de instalações sanitárias
no fundo do lote. No fim do
século XIX, o banheiro foi
incorporado ao corpo da
casa.”
Os elementos arquitetônicos e
construtivos também vão
mudando. Surge o alpendre,
que é a projeção entre a casa e
o exterior, além também das
materialidades que mudam.

As telhas capa passam a ser


substituídas por telhas do tipo
Marselha.

Os novos elementos
aproximavam a arquitetura
feita no brasil da arquitetura
feita na Europa.
O ecletismo vai perdurar
como tendencia no Brasil
até o início do século XX,
por volta de década de
1930.

A verdade é que no início


do século XX, varias
correntes arquitetônicas
coexistirão...

É o caso do ecletismo, do
neocolonial (como uma
afirmação de um estilo
nacional), o art-deco e as
primeiras experiências
modernas
A arquitetura neocolonial
será empregada em diversas
tipologias arquitetônicas,
mas sobretudo nas
residências.
Além da arquitetura
tradicional brasileira
colonial, começam a
aparecer elementos da
arquitetura hispânica e do
sul dos Estados Unidos.
1.
a) Quais novos programas de arquitetura podemos perceber no desenvolvimento
do ecletismo em nosso país?
b) Quais novos materiais podemos perceber sendo empregados nas edificações
ecléticas, em seu exterior e interior?

2. Sobre a tipologia e a tecnologia das casas na transição do século XIX, para o


século XX, quais foram as grandes inovações?

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