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LINSUA PORTUGUESA E LNGUISTICA Textos da unieade 2 Terto-W2 Fomos anéando para os arredores de uma iluminagSo.Foiqando me apercebique ‘er um velho. Um mest, até sem ma aparéncla. Mas era uma quart dade, cabelo todo branco. No pareia um pobre. Ouse fosse era desss pobresj fora de mods, esses de quando o mundo tinh a nossa idade, No meu tempo de menino tshames ‘pena dos pobes.Eescablam naquelelugarznho menor, carenes de tudo, mas sem perder humanidade. Os meus fos, hoje, tim medo dos pobres. A pobreza converteu- se num lugar monstruoso. Queremos que os pobresfiquem longe, ronterados no seu terstéio. Mas este no ers um miserdvelemergido desses infernos. Fol quando, cansado,pergurtel = © que quer de mim? — Eu quero conversar— Conversa? — Sim, apenasisso, conversar. € que, agora, com esta minha idade,jé ninguém me conversa. _Entdo, isso? Simplesmente, um palaveado? Sin, era s6 esse omébi do crime. 0 hhomem recor salt de arma de fogo pare roubar instants, uma frestinha de stengEo. Se ninguém the dava a cortesia de um cearo ele obteria esse dteto nem que fosse ato de pistols. NBo pot era perder sua ima humardade —o drelto de encontrar os ours, olhos em olhos, alma revelando-se em oxtrorost. me sentel, sem hore nem gasto. lina beco escur Ihe cone vida, em cores ‘ventras. No fim, i quase ele adormecera em minhashistres eu me decpedi ern requerimento: que, em prximo encontro, e dspensara a pitola, De bom agrado, nos sentarlamos ambos num bom banco de jardim. Ao que o velo, pronto ipostou: ~ Ngo faga eso, Me deve arealtaro senor. Assim, me dé mae gost. se converte, assim: desde eno, sou vitima de asato J sem Sombra de medo. assalto sem sobressalto. Me conformel,e & como quem eve passearo cio que i {aleceu. Anal, no crime como no amor: agente s6 sabe que enconta a pessoa cert, (tia cou, Oazesto} Texto 2402, Um Grande Portugués ou ‘A Origern do Conto do Vigario Vivia hi J4 mo poucas anos, algures, num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigirio. a sua qualidade, como diriam os psicélogos préticos, falaré o bastante a circunstancia que dé principio a esta narrative. Chegou uma vez a0 pé dele certo fabricante ‘legal de notas tals, @ clsse-he: «Sr. Vigaio, tenho aqui umas notazinhas de ccem mil réis que me falta passar. 0 senhor quer? Largo-thas por vinte mil éis cada uma.» -Delxa ver, disse 0 Vigério; © depots, reparando logo que eram imperteitisimas, rejeitou-as: -Para que quero eu is0?-, disse; «sso nem a egos se passa.» O outro, porém, insistiu; Vigirio cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negicio de vinte notas, a dez mil réis cada uma. Sucedeu que dali a dias tinha o Vighrio que pagar a uns irmios negociantes de ‘gado como ele a diferenca de uma conta, no valor certo de um conto de réi. No primeiro cia da fera, em a qual se deveria efectuar o pagamento, estavarn (0 dois irmaos jantando numa tabema escura da localidade, quando surgiu ppela porta, cambaleando de bébado, o Manuel Peres Vigirio. Sentouse & mesa deles, e pediu vinho. Dai a um tempo, depois de varia conversa, pouco Inteligivel da sua parte, lembrou que tinha que pagar-ihes. E, puxando da cartelra, perguntou se, se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis, Eles disseram que ndo, e, como a carteira nesse momento se fentreabrisse, © mais vigilante dos dois chamou, com um olhar répido, @ ‘tengo do iemao para as notas, que se via que eram de cem. Houve entéo a troca de outro olhar. (© Manuel Peres, com lentidéo, contou tremulamente vinte notas, que fentregou. Um dos irmlos guardou-as loge, tendo-as visto contar, nem se Perdeu em olhar mais para elas. O vigirio continuou a conversa, e, varias vezes, pediu e bebeu mals vino. Depois, por natural efeito da bebedeira Progressiva, disse que queria ter um recibo. Néo era uso, mas nenhum dos Iimaos fez questio. Ditava ele o recibo, disse, pois queria as coisas todas certas. E ditou 0 recibo - um recibo de bébedo, redundante ¢ absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, e ~estando nés a jantar (© por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bébedo...), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigirio, do lugar de qualquer coisa, em pagaments de ndo sei qué, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil rs, © recibo foi datado, foi selado, foi assinado. 0 Vigério meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daf a um tempo fot-se embora. Quando, no préprio dia ou no outro, howe ocasiéo de se trocar @ primeira nota, © que ia a recebé-la devolveu-a logo, por escarradamente falsa, e 0 mesmo fez & segunda e & terceira... & os irmlos, olhando entio ‘verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar. (Queixaram-se & polica, e foi chamado o Manuel Peres, que, auvindo aténitoo ‘caso, ergueu as mos 2o céu em gracas da bebedelra providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem iss0, disse, talvez, embora inocente, estivesse perdido Se nfo fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza 0 pediia ‘come aquele que tinha, © apresentou, assinado pelos dois irmlos, que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil rés. «E se eu tivesse pago em notas de cem=, rematou 0 Vigario -nem eu estava tio bébedo que pagasse vinte, como estes senhores dizem que tém, nem muto menos eles, que sio homens honrados, mas receberiam.- E, como era de justia fol mandado em paz. 0 caso, porém, no péde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. Ea histéria do -conto de réls do Manuel Vigério» passou, abreviada, para a ‘mortalidade quotidiana, esquecida ja da sua origem. (0s imperfitisimos imitadores, pessoats como politicos, do mestre ribatejeno nunca chegaram, que eu satba, a qualquer simulacro digno do estratagena ‘exemplar. Por {sso € com ternura que relembro 0 feito deste grande Portugués, me figuro, em devaneio, que, se hi um céu para os habeis, como Constou que o havia para os bons, ali the nfo deve ter faltado o acolhimento {dos préprios grandes mestres da Realidade - nem um leve britho de olhos de Machiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentineo de George Savile, Marqués de Halifax. (Fernando Pessoa) Texto 3-U3 lo fo snd, ee espiouthe as pernas,o bolenc do corpo no andar © pedaco da cona corde conela, Ela valtow orto Pais boa nate, seu mega. Desaparecia no escuro do corredor, Nach porecev owvilo ocrescenta, ‘mastigando os palovres: “mogo borito."Levantouse quase o chamé-to. NBo, fora & tarde na fera que ela disera. Se @ chomasse, podria ossusté-e, ela tinka um or Jngénuo, toler até fesse maga donselo..Havia tempo para tudo. Naci trou a pale, ‘pendurou no codeira,arroncou 0 camise.O perfure ficra ne sola, um perfume de ravo, No do seguintecomprara um veside para el, de cite, umes chnelas tombém. Doria de presente sem descontor no ordenod Sentou-se na coma desobotoando os sapotss. Dio complicado aquele. Multa coisa ocontecera. Vestu 0 camisolé. Morena e tent, essa suc empregada. Uns ols, ‘meu Deus . Eda cor queimade que ele gostave. Detou-se, epogou a luz. 0 sono 0 venceu, um sono agitade, sano inguleto com sinhazinho, © corpo au, caso com ‘melas pretas,estendida morta no convés de um novi estrangeiroentrando na bora, (Osmundo fugia de Morinete,Jesuino ctrove em Toric, MundinhoFaleo precio com ‘dona sinhazinho, cutra vez viva, srrinde pore nact, estendendo os brofos mas era {dona sinhariha com a cara morena de nova emaregode. $6 que Naclb nBo podio cleancésa, la sola dongando no cabart. forge Amado, Gabriel, rav econo}

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