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Curso “A Formação da Personalidade” com Bruno Lamoglia

Aula 1 - O ser

SINOPSE
Nesta aula, são apresentadas três visões diferentes (grega, septenária e
12 camadas da personalidade) acerca da constituição do ser, conhecimentos-
chave que servem como guia para ascender a uma vida com mais sentido.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta aula, espera-se que você saiba: qual a constituição do ser
para os gregos; qual a constituição do ser na escala septenária; qual a
constituição do ser nas doze camadas da personalidade; os quatro
temperamentos; o que é o eu substancial.

1. INTRODUÇÃO
Eu sou Bruno Lamoglia, sou psiquiatra e preparei esta aula nos últimos
anos para explicar como ter uma visão totalitária de um ser humano. Isso
porque, tanto em consultório quanto na observação do dia a dia da sociedade,
eu noto o quanto as pessoas mal se conhecem, mal sabem seu próprio
potencial. Essas pessoas simplesmente vivem em uma esfera do seu bel-
prazer, na busca de evitar sofrimento e buscar um pouco mais de prazer. Com
base nisso, nesse meio tempo, eu fui percebendo que as pessoas deixam de
viver um potencial gigante.
Qual é o maior potencial que podemos viver como seres humanos? É o
potencial de um ser humano espiritual. Quando uso a palavra “espiritual”, não
estou fazendo referência a dogmas religiosos ou a outros similares, mas
simplesmente à capacidade de cada um de ser o máximo. Para ver isso, não é
preciso ir tão distante, basta começar a observar as pessoas que foram mais
além. Se um indivíduo foi, talvez seja possível que todos também consigam
trilhar esse caminho.
Além disso, eu percebi que a pessoa que mais ascende, ou seja, a pessoa
que mais sobe, também é a pessoa que sofre menos. Ela possui uma nova visão
sobre a vida que é mais calma, mais pacífica, e até, para os mais raros,
iluminada. Então, basicamente, você não só deixa de sofrer as intempéries do
meio ambiente, como você também começa - e falaremos sobre isso mais para
frente - a exercer influência sobre o meio. Aí é maravilhoso, porque eu não só
sou impassível no ambiente externo, como agora eu o influencio. Para isso,
você precisa ter uma boa visão de si mesmo, uma boa visão do ser humano.
Ao longo desta aula, você não só vai entender um pouco mais sobre si
mesmo, como também vai entender as pessoas ao seu redor. Isso vai facilitar
a convivência com os demais. Além disso, em uma das aulas, vamos abordar
também um pouco sobre a formação de outro ser, ou seja, vamos abordar a
educação e a formação de uma outra consciência. A formação, talvez, do seu
próprio filho, sobrinho ou afilhado. Eu sei que isso interessa muito à maioria
dos que estão nos assistindo.
Esse assunto, de fato, é de suma importância, pois acredito que nada na
Terra é tão importante quanto um ser humano bem-formado. Diante de um
ser humano bem-formado, não é preciso estar se preocupando com temas
específicos, não é preciso se questionar: ‘será que ele será um bom cidadão?
Será que ele vai ser um bom aluno? Será que ele vai ser um bom profissional?
Será que ele vai ser ecológico?’. Se você tiver um ser humano bem-formado
em sua plenitude, isso é automático. Então, qual é a importância dessa aula?
Eu não vejo nada mais importante do que isso.
O trabalho da minha vida vem sendo esse. Evidente que eu uso isso em
consultório para curar pessoas, mas, na minha opinião, esse assunto tinha que
ser estudado ainda na escola, como um ensinamento obrigatório porque, sem
isso - e é isso que acontece -, vemos pessoas vivendo, sem ofensas, como
animais, buscando prazer, sobrevivência e achando que isso pode ser o
máximo da vida. E aí você também vê o que observamos hoje na sociedade
brasileira, em que cerca de 30% das pessoas são doentes. Esse número é
inaceitável, sob qualquer hipótese, sob qualquer circunstância. Só de
depressão, esse percentual é de 5 a 6%. Ansiedade, atinge por volta de 15%.
Juntos, esses dois diagnósticos somam 20% da população geral de doentes.
Fora as outras doenças: bipolares, esquizofrênicos, neuróticos, transtorno de
personalidade, que está em voga. Qual é a importância dessa aula? É toda, é
fundamental.

2. AS VISÕES SOBRE OS SERES HUMANOS


Eu viajei um pouco no tempo e na história para saber como os sábios,
tanto os antigos quanto os grandes nomes de personalidades do mundo atual,
viam e veem os seres humanos. Vamos começar pelos gregos, porque é mais
simples.

2.1. Os gregos
Os gregos dividiam o ser em três. A primeira parte é o corpo físico. A
segunda parte é a soma, ou a psique, ou a mente humana, e a terceira é o que
eles chamaram de nous, sendo isto a vida espiritual, a vida superior. Entre
essas três partes, os gregos estabeleceram uma intersecção (tal como na figura
abaixo).

Nous

Psique

Soma

As três partes do ser gregas


Como vocês podem perceber, existem áreas de transição e, de alguma
forma, o nous se conecta com a soma. Essa é a nossa primeira constituição
humana, que está dividida em três, em que observamos claramente uma
hierarquia, uma dinâmica dentro do ser humano.
Eu conheço muitas pessoas que vivem somente na soma, no físico. Ou
seja, para aquilo que é gostoso, um carinho, um cafuné, o sexo, a comida.
Quantas vezes eu não ouvi pessoas falarem: ‘o que tem de bom na vida é comer,
ir no banheiro, transar e dormir’. Quantas vezes eu não escutei isso na minha
vida?! Essa pessoa está vivendo como um animal. Não é grande coisa, dá para
melhorar isso.
A psique envolve a mente e todos os problemas desta estão incorporados
ali. Quando adentramos na psique, vemos alguns problemas relacionados, por
exemplo, a busca excessiva de dinheiro, a busca excessiva de poder, a busca
excessiva de subjugação dos outros. Portanto, há os problemas e as vantagens
de você viver na mente. A vantagem é que o indivíduo já não vive tanto na parte
somática. Deste modo, ele já exerce algum controle e percebe que existe
alguma coisa a mais. Na vida psíquica, o indivíduo percebe que não é igual a
um animal. Ele consegue conceber alguns mistérios da vida e consegue se
destacar do mundo instintivo. Todos eles vão falar sobre como isso acontece.
Os estoicos falam muito bem sobre isso e Freud também falava muito sobre
isso.
A última parte é o nous, é a vida espiritual. Esta será explicada ao longo
da aula, juntamente com as demais, porque iremos ver agora a constituição
septenária, mais ligada ao hinduísmo, que aborda essa questão.

2.2. A Constituição Septenária


Arthur Powell fez uma descrição chamada constituição septenária, na
qual há a parte baixa e a parte alta. Para representar a parte baixa, Powell
dividiu o quadrado em quatro partes, horizontalmente. A parte alta, por sua
vez, é representada por um triângulo dividido em três partes. Assim, juntos, o
quadrado e o triângulo somam sete partes.
A primeira fração do quadrado, Powell chamou de Étero-físico e
podemos identificá-la com a soma, pois são basicamente a mesma coisa, o
físico. A segunda fração é o Prana, a vitalidade humana. A terceira fração é a
esfera astral, que nada mais é do que as emoções. Nesta “etapa”, podemos falar
de emoções, de instintos, de inclinações e das paixões. A quarta parte é o
Kama-Manas. Eu não vou usar esse nome porque realmente não faz o menor
sentido para nós. Por isso, nessa quarta parte, vamos falar sobre a mente
racional, a mente da razão.
Claro que, na transição de um e outro, alguns animais também vão ter
isso, porque eles pensam, eles raciocinam alguma coisa. Na hora em que veem
uma presa passando, precisam calcular sua velocidade, a fim de determinar se
conseguem alcançar a presa. Os animais também têm uma certa razão dentro
dos mecanismos mentais deles.
No entanto, a mente da razão é uma mente fragmentada. Essa é a mente
que resolve, por exemplo, matemática e aritmética simples. Essa é uma mente
que faz planos, é a mente que começa a argumentar todos os entendimentos
possíveis de tudo que pode aparecer de pequenos problemas. Acima de tudo,
essa é uma mente fragmentada.
Ao subir, você tem a mente sábia. Esta, que Powell chama de Manas, é
uma mente ligada à sabedoria, uma mente que já não vê mais a fragmentação,
mas sim a totalidade. Essa é uma mente que começa a entender o todo, começa
a perceber que está ligada a outras pessoas e consegue entender um pouco
mais sobre uma vida sábia. Neste ponto, entra a sabedoria, que é o mundo das
virtudes. Então, a pessoa começa a viver a vida mais pelo mundo das virtudes.
Aqui, por exemplo, as pessoas falam em amor. Amor estaria onde? O amor não
está nas emoções. As emoções são a afetividade, algo mais baixo. Depois que
consegue dominar as emoções, a pessoa consegue calar inclusive a mente.
Racionalmente, mentalmente, você já deve ter ouvido falar que o amor é a
produção de ocitocina e conexão para você ter mais filhos, ou seja, uma ligação
reprodutiva. Pelo amor de Deus, o amor, não. O amor é uma coisa que, muitas
vezes, você se doa sem ganhar nada em troca, absolutamente nada em troca.
Estamos falando dessa mente sábia, é desse amor que estamos falando. Essa
pessoa que está na mente sábia já não tem mais os sofrimentos das partes mais
baixas.
Após passar certo tempo sendo sábia, a pessoa começa a entender um
pouco mais sobre o mundo das virtudes e chega numa vida chamada de
Buddhi ou vida búddhica. Isso não tem relação com Buda. Buddhi seria o
mundo das intuições. O que seria a intuição? Para a ciência, intuição é uma
coisa. Para a filosofia, principalmente hindu, é uma outra. Para a ciência, a
intuição seria tomadas de decisão baseadas em memórias inconscientes,
conforme você for errando e acertando. Eu vou dar um exemplo aqui bem
básico. Digamos que você está diante de uma bifurcação e precisa optar entre
direita ou esquerda. Você opta pela direita. Por quê? Porque antigamente você
optou pela esquerda - você não se lembra disso, é inconsciente - e deu errado,
aconteceram coisas terríveis na esquerda. E aí, diante dessa bifurcação, você
opta pela direita. Se alguém te perguntar o que aconteceu, você responde: ‘Eu
não sei. Intuitivamente eu fui para a direita’. Isso é a intuição para a ciência, é
quando você usa sua memória de forma inconsciente, você usa mecanismos
pelos quais você não tem mais consciência. Por outro lado, na constituição
septenária, a intuição é uma conexão com algo maior, é a busca da verdade.
Portanto, a intuição é muito mais ligada à busca da verdade. E o que é verdade?
A verdade é uma concepção das coisas sobre o que elas realmente são e não
mais sobre os achismos pessoais, não mais sobre as interpretações pessoais,
mas uma interpretação da própria verdade em si. Perceba que, a partir daqui,
você começa a falar: ‘eu não entendo muito bem o que ele está falando’. Daqui
para lá, você começa a falar: ‘conheço poucas pessoas nesse nível’. É raro, tanto
que é uma pirâmide. A pirâmide quer dizer que quanto mais alto, mais difícil,
mais raro. Consideramos a vida búddhica até uma vida religiosa, porque é uma
vida de aceitação plena. Eu sei que muita gente fala: ‘Ah, mas eu já aceito tudo
na minha vida’. Será que aceita mesmo, de verdade, profundamente?
Provavelmente, não, porque é uma vida quase passiva, que tem essa leitura das
coisas que acontecem. É uma visão deliberadamente externa e alheia a si
mesmo.
A última parte da pirâmide é o atma. Eu também vou poder dizer pouco
sobre o que é o atma, porque existem diversas interpretações, inclusive
dentre as vertentes orientais. O atma seria a iluminação, seria viver como um
ser de luz, fonte de iluminação completa e constante. Isso ficaria restrito aos
grandes mestres espirituais, às pessoas que talvez nem sejam mais ativas na
própria mente, que simplesmente recebem, ou seja, estão mais para o outro
lado do que para o lado de cá. Então, são pessoas que já não se dão nem mais o
luxo de errar. São presenças e personalidades gigantescas. Elas vivem sob uma
verdade. Elas já estão bem embasadas no buddhi, já estão vivendo pela intuição
a tal ponto que definitivamente não se encontram mais passíveis desses
próprios erros. Elas simplesmente exercem total influência não só física e na
própria história quanto espiritual. Os iniciados no mundo que conhecemos são
Jesus, Zaratustra, Krishna, Sidarta Gautama. Essas pessoas que vieram com
grandes mensagens que não sabemos dizer mais ou menos da onde. A gente
não tem como dizer, sinceramente, como que acontece de fato nem de buddhi
nem de atma, porque é como se eu estivesse explicando o fogo para o peixe.
Como você vai explicar o fogo para o peixe? Você pode dizer: ‘Eu fui lá na Terra,
vi o fogo. Ele é quente, amarelo’. Mas não sei explicar como funciona, o peixe
não vai entender. Então, quando fazemos essas comparações, começamos a
entender que são comparações impossíveis de serem feitas, completamente
impossíveis. É como explicar as cores para um daltônico. Ele não vai
compreender, na sua plenitude, o que são as cores. O buddhi e o atma são uma
coisa complicada.
Na atualidade, algumas pessoas estão tendo uma experiência mais
embasada nessa vida búddhica, que é super difícil, quando têm experiências
com enteógenos. Enteógenos, para quem não sabe, são os psicodélicos na sua
totalidade. En - dentro; teo - Deus; Geno - gerador. Portanto, significa gerador
de Deus dentro de si. Ainda não sabemos exatamente o que é, pouco
conhecemos, porque a psiquiatria começou a estudar isso agora. Por conta do
movimento hippie, houve uma deturpação da imagem dos psicodélicos.
Atualmente, estes vêm sendo amplamente utilizados dentro da psiquiatria,
principalmente para fins de cura e agora, espero - vai acontecer, evidente,
porque é natural do ser humano - não para fins recreativos como foi usada no
movimento hippie.
A iluminação seria o atma, que é o estágio final dessas pessoas. É uma
coisa incrível, porque, mais uma vez, vemos uma ascendência e isso tem cerca
de cinco mil anos. Então, se eu tivesse que deixar uma só mensagem seria: você
pode melhorar através da constituição da personalidade.
O setor baixo é a personalidade e o setor de cima é a identidade. O que
isso quer dizer?
A personalidade, que é essa parte física, terrena, é o ser que a gente vive,
é o que a gente sente, é como sentimos o mundo. Por exemplo, no físico. Nós
vamos receber estímulos, que vão ser transformados em algum tipo de
energia ou algum tipo de sensação. Isso vai ser interpretado pela mente. Essa
personalidade é a ligação e a apresentação de quem você é, é o ponto de vista
com o qual você vai se comunicar com o mundo e consigo mesmo.
Basicamente, é o que você recebe e o que você dá.
A identidade é quem você realmente é. Isso dá mais uma pista do que
vamos falar hoje sobre o ser, sobre quem você realmente é. Nesse caso, o atma
seria o sou, o eu sou. Você só pode falar o que você é quando você estiver
vivendo nas esferas átmicas, porque seria aquela centelha divina, centelha de
iluminação. Vamos falar, depois, sobre a parte mais profunda do eu, que seria
o eu substancial, o eu essencial, o âmago, o cerne da questão.
Para isso, eu quero que vocês vejam essa estrutura septenária de cima.
Vocês vão ver basicamente um círculo - finjam que essa estrutura é um círculo
- e, no meio disso tudo, passa o eixo da consciência, no entendimento que a
filosofia faz da consciência, que é a posse de si.

Na medicina, a consciência é completamente diferente, apresenta


outros significados. Para psicologia, ainda é outro significado, que é aquele
eixo ensinado praticamente pelo Dr. Freud, que é sobre sair do inconsciente
para o consciente, que é adquirir luz dentro das ações. No caso da constituição
septenária, a consciência é a posse de si mesmo. Quantos de nós podem dizer
que têm posse de si mesmo? Pare para pensar um minutinho nisso. Quando
você pensa em posse de si mesmo, teoricamente, você tem que dominar todas
as esferas. Você precisa entender e viver todas as esferas. Em nossa quinta
aula, vamos falar sobre tudo que pode vir a dar errado. São várias coisas que
podem acontecer. Quando as pessoas não se dão a posse de si mesmas, coisas
erradas acontecem em cada esfera. Na segunda aula, vamos abordar como nos
movimentamos de baixo para cima.

2.3. As 12 camadas da personalidade


Há outra constituição que eu acho sensacional, que é a teoria das 12
camadas da personalidade do professor Olavo de Carvalho. Na verdade, não é
uma teoria, mas sim uma descrição. A meu ver, porque isso não é desenhado
por ele, até a 8ª camada da personalidade teríamos mais ou menos um
quadrado. Depois, até a 12ª camada, teríamos um triângulo, ficando
extremamente parecido com o que já estávamos vendo. Isso fica
extremamente parecido porque todo mundo chegou nessa conclusão.
Freud e Jung têm a própria concepção de personalidade.
Para essa aula, o que seria a personalidade, desse ponto de vista? Isso vai
ficar confuso e é confuso, simplesmente porque cada autor conceitua de uma
forma diferente. Quando falamos sobre caráter, quando falamos sobre a
personalidade e os temperamentos, é complicado mesmo, porque cada um
tem uma descrição, seja um pouco mais ou um pouco menos específica, ou um
pouco mais abrangente. Algumas vezes, até uma descrição diferenciada. Por
isso, ficamos um pouco perdidos, mas vocês vão ver que, no final, isso vai fazer
um sentido, que é basicamente só o que eu preciso. Eu não preciso que vocês
saibam cada pontinho dessas diferentes formas de ver o ser humano. É
interessante saber cada pontinho, evidente, mas isso pode ficar mais para uma
pessoa que trabalha na área, porque isso aqui é elemento de cura, sem menor
sombra de dúvida, ou para uma pessoa que é extremamente curiosa.
Na teoria das 12 camadas da personalidade, você começa com um corpo.
Evidente que se você não tem um corpo, você também não vai ter uma
personalidade. Esse primeiro ponto, em que estamos falando basicamente de
uma pessoa que vai receber, como veículo, o corpo, seria igual ao étero-físico
e igual à soma. Logo em seguida, a pessoa começa a desenvolver a
conceituação de cognição e vai começar a interagir com e a inteirar-se do
meio.
A terceira camada é facilmente atingida por qualquer pessoa que tenha
um corpo saudável. Portanto, qualquer pessoa passa pelas três camadas, a não
ser que tenha um retardo mental ou alguma doença grave.
A quarta camada seria a camada da criança, a camada infantil. É
importante falarmos sobre a quarta camada, pois é nesta que o ser busca o
afeto, o ser busca se sentir mais seguro no mundo. Então, a criança busca a
estabilidade no adulto, busca simplesmente ser aceita. É um conceito de
aceitabilidade. Ela fica principalmente com os pais e já tem uma base da
cognição da terceira camada.
Na terceira camada, o ser experimenta tudo. Então, a pessoa vai buscar,
por exemplo, testar todas as texturas, todos cheiros, querer saber da onde vem
a música e por que aquele cachorro é felpudo.
Na quarta, não. Na quarta, a pessoa já está um pouco mais solidificada
sobre os aprendizados, já compreendeu mais ou menos o meio ambiente onde
está inserida, já compreendeu que tem um corpo, que não é a mãe, que é um
outro ser. Então, a cognição já está mais ou menos afiada. A busca da quarta
camada é a afetividade.
Por que estou insistindo na 4ª camada? Por que estou deixando sua
explicação mais longa? Porque, na quarta camada, a referência é si mesmo.
Nesse momento, os egos - eu não posso dizer inflados -, são o centro de tudo, é
egocentrismo. A criança é egocêntrica. E é característica da quarta camada
que essa pessoa fique completamente à mercê do ambiente externo. É muito
simples: se eu dou um pirulito, a pessoa fica feliz; se eu tiro o pirulito, a pessoa
fica triste; se eu dou o brinquedo, a pessoa fica feliz; se eu tiro o brinquedo, a
pessoa fica triste. Assim é a criança. Ela é completamente passível do ambiente
externo. Autorreferência: tudo que acontece no mundo, a percepção dela é
sobre ela mesma. Se você é duro com ela, ela fala: ‘puxa vida, essa pessoa não
gosta de mim’, começa a chorar e fica triste. Ao mesmo tempo que, se algo de
bom acontece, como, por exemplo, passar de ano ou tirar dez numa prova,
alguém que gosta a elogia, pronto, aí ela fica feliz. Isso faz com que o mundo
seja um inferno. Por quê? Porque não controlamos o ambiente externo, a
gente sempre soube disso. Os sábios sempre souberam disso. Por isso, quem
permanece na quarta camada tem uma vida infernal. Trata-se de uma pessoa
extremamente emotiva, emocional cujo centro está sendo invadido a todo
tempo.
Por que eu me delongo nessa camada? As outras três camadas não tem
tanta importância para gente, a não ser que você seja psicopedagogo ou algo
do gênero, ou esteja estudando Piaget, ou algumas dessas fases do
neurodesenvolvimento da criança. A quarta camada, infelizmente, é onde está
a maioria do Brasil. O que acontece? Digamos que, numa grande empresa, você
chega e fala para um funcionário: ‘eu preciso que o relatório esteja pronto’. A
pessoa começa a chorar e pensar: ‘Ah, o fulano não gosta de mim’. Outro
exemplo: a pessoa está passando por um problema grave na vida, não lhe dá
atenção e você se sente rejeitada. Ou, no caso de relacionamentos amorosos,
o namorado quer ver um jogo de futebol e a pessoa acha que ele não quer estar
com ela. Tudo é ela. Tudo é sobre ela. O Brasil se encontra aqui.
Qual é o grande problema disso? É o vitimismo. O vitimismo toma conta
da quarta camada. Você não é dono de si, você não escreve sua biografia, você
é simplesmente uma marionete no mundo, você é simplesmente um ator
coadjuvante passivo nessa história. Isso é terrível.
Normalmente, ou seja, uma criança normal, passa para a quinta
camada, que é a camada do adolescente. O que um adolescente faz? Qual é a
primeira coisa que um adolescente saudável faz? Ele rompe com os pais e testa
a sua força. Ele fala: ‘eu sou dono de mim, eu quero mudar, eu quero fazer as
coisas acontecerem, eu quero saber até que ponto eu posso ir, eu não não
quero mais ser a criança’. Então, ele propõe testes a si mesmo.
Tanto que, somando a neuropsicologia a isso, o adolescente não tem o
pré-frontal totalmente desenvolvido. Isso quer dizer que ele tem muitas
reações do corpo amigdalóide, as quais vão fazer impulsos. Todo mundo tem
medo, tem pânico, tem vontade de bater em alguém ou realizar um ato
impulsivo de risco. Só que temos o pré-frontal, o qual nos alerta: ‘não, isso é
uma idiotice’, e aí nós travamos. O adolescente não tem o pré-frontal
totalmente desenvolvido e, na quinta camada, está se provando. Então, é um
pouco perigoso, definitivamente. Por isso é interessante que ainda haja o freio
dos pais, porque é perigoso mesmo.
Na quinta camada, a pessoa começa a propor testes a si mesma. Esses
testes, de qualquer coisa, tem o objetivo de fazê-lo conhecer a sua própria
força.
Quando eu vejo uma pessoa extremamente assustada com o mundo,
autorreferente, explico isso da quarta e da quinta camadas, para ver se a pessoa
consegue ver como é a quinta camada e subir para esta, onde fala: ‘eu vou
conseguir’. Às vezes, eu faço esse trabalho com adultos de quarenta anos e eles
mudam sua vida.
Tenho uma conhecida que foi para a quinta camada com 38 anos. Ela
sempre fora extremamente dependente dos pais, extremamente - não digo
vitimista, porque esse ponto específico era algo com o qual ela já lutava -
emotiva, que levava tudo para o pessoal. Típico da quarta camada. Quando ela
foi para a quinta, o que começou a fazer? Ela começou a viajar o mundo e foi a
felicidade da vida dela. Só que, depois, ela me disse: ‘Bruno, vou viajar pelo
mundo para o resto da minha vida, vou ficar fazendo as aventuras’. Também
não é por aí. Vemos uma ou outra pessoa presas nessa camada.
A sexta camada seria basicamente você buscar os resultados das coisas
que você fez. Ou seja, eu não preciso mais só me testar, como também preciso
do resultado desse teste. Por exemplo, digamos que eu queira dar uma aula
para mil pessoas. Como eu sou quinta camada, eu faço acontecer. No entanto,
quando eu chego lá, faço uma péssima palestra. Eu gaguejo, eu simplesmente
não sei me colocar perante o público, eu não me lembro exatamente o que está
acontecendo. Em suma, eu não sei fazer a palestra. Para o sexta camada, eu
falhei. Na sexta camada, eu quero o resultado. Eu acho legal essa constituição
porque ela faz com que você fale sobre você mesmo em relação ao meio. Na
sexta camada, a pessoa busca um salário. Ela pensa: ‘ué, eu me esforcei, eu me
arrisquei, eu sei fazer, eu quero um salário’. Aí, muita gente fala: ‘eu trabalho.
Será que sou sexta camada?’. Não sei, talvez não. Se você trabalha para ser
amado, para ser aceito, você não está na sexta camada. Você está vivendo na
sexta, mas, mentalmente, você está na quarta. Isso é um perigo e acontece
muito. Portanto, na sexta camada, é quando você busca o resultado.
A sétima camada é o cidadão. A pessoa não apenas saber fazer, como
também ganha um papel social. A sétima camada é típica, por exemplo, de pai
e mãe. Eles são forçados a estar lá. Claro que você pode ser um péssimo pai ou
uma péssima mãe, negligente, e isso não vai fazer com que você esteja de fato
na sétima camada. A sétima camada é quando você deliberadamente
consegue criar maior importância nas necessidades da sociedade - seja a
sociedade a sua própria família, ou seu bairro, ou seu país, não importa - do que
na sua própria. É quando você consegue colocar o sofrimento dessa sociedade
dentro do seu papel social. Ou seja, o Bruno já não é mais o filho Bruno, já não
é mais o marido Bruno, mas é o Bruno psiquiatra e a sociedade demanda dele
que seja psiquiatra e isso é muito mais importante, do ponto de vista do
sofrimento e da necessidade dessa sociedade, do que seu próprio sofrimento.
Nessa camada, até mesmo o resultado não importa tanto. A pessoa faria aquilo
mesmo sem ser o seu próprio emprego. Ela faria aquilo sem pensar nos
resultados, simplesmente porque a parte do resultado, a sexta camada, já está
bem fundamentada nela. Na sétima camada, a pessoa começa a aprender um
pouco sobre leis e a ter interesse sobre como funciona as complexidades de
uma sociedade.
Isso também tem relação com estabilidade. A pessoa faz algo durante
muito tempo, por exemplo, um médico ou advogado, e pode fazer isso pelos
outros, às vezes, nem mesmo sendo pago, às vezes, por uma emergência,
porque essa pessoa é aquilo. A identidade social, o papel social dela é bem
fundamentado. O Olavo fala muito que o que fundamenta a sétima camada
seria pai e mãe. Ser pai ou mãe forçaria e fundamentaria o papel, porque você
não coloca mais o teu sofrimento em cima de absolutamente mais nada em
relação ao dos filhos. Se o filho chorar, pode ser a hora que for, você vai lá
acudir. Isso tem a ver com o que? Dever e amor, que é basicamente o que a
sétima camada tem pela sociedade. ‘Ah, mas eu não estou ganhando bem’,
ainda assim, dever e amor. O papel social fica bem fundamentado nessa sétima
camada.
Mas aí vem os quarenta, quarenta e poucos anos. Nesse momento, a
pessoa apresenta estabilidade, porque há muito tempo vem fazendo aquilo que
faz, e a pessoa consolidou a sua rotina. Além disso, a pessoa já conhece seus
limites. Aí, nesse momento, ela se questiona: ‘Isso tudo tem sentido perante a
morte?’. Memento mori dos estóicos. A pessoa se dá conta de que vai morrer
e não tem muito tempo. Com sorte, ela já atingiu a metade da sua vida. Isso
acontece mais ou menos com quarenta anos.
Evidente que isso não é linear, não é científico, e jamais vamos
conseguir colocar isso na ciência, simplesmente porque não se encaixa na
metodologia científica, uma vez que isso tudo isso está acontecendo ao mesmo
tempo. A camada em que alguém está é onde predominantemente se encontra
a sua maior energia, a sua maior atenção, o seu maior sofrimento, o seu maior
desejo. No entanto, todas as camadas existem e coabitam dentro de si.
Dentro da oitava camada, tal como na quarta, a pessoa tem uma grande
crise.
Como é a crise da quarta camada? A pessoa percebe que afeto não é bem
o que ela quer. Como é a crise do adolescente? Ele fala: ‘Isso aqui não me
preenche mais, não é mais sobre afeto’. Quando a mãe diz que lhe ama, ele
pensa: ‘Tá bom, mãe, mas eu quero brilhar na minha vida, eu quero ter uma
profissão, eu quero ter um cargo, eu quero ter um papel social na festinha, eu
quero ser popular’. O adolescente sai um pouco da vertente do amor,
principalmente do amor materno e paterno. É uma crise em que ele precisa
ser forte.
A crise da oitava camada é uma crise de sentido, é uma crise muito mais
profunda. Nessa crise, alguns se suicidam. Na hora em que você precisa
confrontar que: ‘eu vivi quarenta anos e não foi nada a ver com o que eu
queria’, puxa vida, dói. Nesse momento, ocorre-lhe que: ‘bom, meu tempo está
acabando e eu preciso conseguir algo que tenha mais substância perante a
minha morte’. Por outro lado, também pode acontecer o contrário, a pessoa
observar e falar: ‘é, eu vim vivendo e vou manter esse caminho’. Na oitava
camada, que é o último “estágio” do quadrado, qualquer adulto poderia
chegar. Aliás, é interessante que todos os adultos cheguem, porque, a partir
daqui, entra numa esfera do nous, entra numa esfera que seria a própria vida
espiritual em si.

Claro que é interessante todo mundo continuar subindo, mas se a vida


tiver sentido, a pessoa pode ter certeza que de tristeza não morre. A falta de
sentido, o vazio existencial, essa crise dos quarenta, não vai afetá-la tanto,
porque está diante do seu sentido, está bem fundamentada. Então, o caminho
é muito mais concreto, é um caminho muito mais embasado. Assim, você está
imune a tudo que está embaixo. Se o fulaninho não gosta de você, paciência,
porque você está no seu sentido. Geralmente, como funciona? As pessoas
falam: ‘Ah, todo mundo é assim. Eu vou ser também’. Não é? Na oitava camada,
o argumento já é outro: ‘eu estou pautado no meu sentido, mesmo que isso seja
contrário ao caminho que a civilização está tomando nesse momento’.
A nona camada é a da personalidade intelectual, na qual você propõe
questões intelectuais, resoluções de problema, acima de você mesmo.
Teoricamente, chamamos de intelectual uma pessoa que tem conhecimento.
Entretanto, como falei para vocês, quando tratamos sobre a etimologia das
palavras, fica um pouco mais difícil de trabalharmos porque, definitivamente,
a vida intelectual, para um ponto filosófico, tem outra vertente que não é a da
sabedoria. Aqui, sinceramente, é uma camada que poderia ser transpassada -
não é o ideal, claro, pois está ali, está na constituição, quem sou eu para poder
criticar?! -, pois a vida intelectual é uma vida pautada em bons conhecimentos,
em conexão de conhecimentos, em resolução de problemas. É óbvio que seria
perfeito viver numa sociedade cheia de intelectuais, mas a verdade é que nem
todo mundo tem essa veia, nem todo mundo tem essa vocação e, talvez, nem
precise.
Peguemos, por exemplo, Epiteto, um grande sábio que era escravo. Ele
ditou grandes livros, pois não escrevia. Ele era um grande sábio e não era
intelectual. Talvez não tenha lido três livros na vida, principalmente se
considerarmos aquela época. Portanto, não era intelectual.
Essa camada da personalidade intelectual seria ótima, seria
interessantíssima, mas eu, pessoalmente, não vejo como primordial e
necessária, desse ponto de vista.
A décima camada é muito parecida com a vida búddhica. Na décima
camada, a pessoa tem uma busca pela verdade, tem o sentido e tem, de
preferência, a base intelectual, portanto, é impassível ao meio externo. Ela
simplesmente influencia as pessoas. Basicamente, é a nona camada sendo
posta em prática. O ser pegou todos os conhecimentos, tudo que vem pautando
na vida, criou uma identidade - que é a nona camada - e, agora, coloca em
prática e começa a influenciar os demais. E isso, para ele, é a coisa mais
importante. Então, a décima camada tem uma vertente praticamente altruísta.
A pessoa já não pensa mais em si mesma. Se determinada pessoa não gosta
dela, não tem problema, pois ela já conhece sua força, seus limites. Ela já tem
um papel social longo, já está bem pautada, bem solidificada, sua busca de
sentido já foi resolvida com quarenta anos ou até antes e, agora, depois de já
ter uma personalidade intelectual, decide que está na hora de colocar isso em
prática. Então, é uma pessoa que tem um poder e exerce essa força na
sociedade.
O exemplo perfeito de décima primeira camada seria Napoleão. Nesta
camada, a pessoa quer, como primazia de toda sua força energética e mental,
alterar o curso da história humana. São pessoas que tem um poder em nível
político. Claro que não é preciso ser político para estar na décima primeira
camada, mas são cargos de total liderança em que se vive simplesmente para
o curso daquelas pessoas, daquela sociedade.
Já é o ápice da pirâmide humana, sendo a décima segunda camada a
camada divina, que seria o atma, a própria iluminação. Eu diria que até buddhi
e atma, porque o buddhi também está muito ligado na busca da verdade, no
recebimento. A décima segunda camada é algo como intelecto passivo,
extremamente passivo, em que a pessoa está conectada com aquelas vertentes
espirituais, como vimos dezenas de vezes pelo mundo. São os santos, os líderes
religiosos, tal como mencionamos quando falamos em atma. São pessoas que
têm o domínio completo das outras onze camadas. Quando estamos falando
sobre a décima segunda camada, estamos falando de uma raridade, raridade,
raridade, mas que qualquer ser humano tem a condição de chegar. É muito
bonito isso, toda essa ascensão.
2.4. Pirâmide de Maslow
Eu lembro também de Maslow1. O Maslow fez somente uma pirâmide e
a dividiu em cinco. Basicamente, é muito parecido com tudo que falamos. Ele
foi bem menos profundo nas características. Ele fala que é uma pirâmide das
necessidades. A primeira parte seria a mesma coisa que está presente na teoria
das 12 camadas da personalidade e na constituição septenária, que é uma
necessidade física. Estamos falando de você ter um corpo, de você ter uma
estrutura física mínima. A segunda parte é a segurança. Depois que a estrutura
física e a estrutura emocional estão bem supridas, sobe-se para a busca de
afeto. O afeto corresponde à quarta camada e à esfera astral.
Percebam como todo mundo chegou a uma conclusão mais ou menos
parecida. Depois da camada do afeto, qual seria a próxima? A quarta parte da
pirâmide de Maslow seria a busca do reconhecimento. Essa parte seria mais
ou menos equivalente da quinta até a sétima camada. É terrível isso, mas, no

1 Abraham Maslow, psicólogo (1908 - 1970).


Brasil, o adulto busca afeto. Apenas para lembrar. A quinta camada é o
reconhecimento profissional; a sexta camada é a busca de resultado e a sétima
é a busca do papel social solidificado. Isso seria o reconhecimento na pirâmide
de Maslow, quando você começa a ser visto na sociedade de uma forma mais
ligado ao seu trabalho, ao que você fornece. Se você ver a Terra como um
grande formigueiro ou, se você quiser ver de uma forma um pouquinho mais
nobre, como um corpo físico, cada um tem a sua função.
Eu gosto das 12 camadas da personalidade porque esta contempla a si
mesmo - o que você pensa, o que você deseja, o que dói em você -, mas também
como você se relaciona. Se você entender bem as 12 camadas e a pirâmide de
Maslow, você começa a se relacionar melhor com o mundo e muita coisa para
ou deixa de doer. As pessoas, evidentemente, vão te chamar de frio, mas você
responde: ‘não é frio, não. Eu estou buscando outra coisa. Eu não quero mais
afeto. Talvez eu queira amar’.
É engraçado. Quando você começa a subir nas camadas da
personalidade, você dá uma baita volta e chega nos fundamentos da religião. É
algo impressionante. Você começa a entender o que foi falado há três, há cinco
mil anos, a mensagem de Cristo, que é o amor, que, no caso dele, é quando a
pessoa consegue entender que está todo mundo ligado. Na perspectiva da
constituição septenária, isso acontece mais ou menos da mente sábia para
cima.
O topo da pirâmide de Maslow é a autorrealização. Maslow afirma que,
nos Estados Unidos, a autorrealização está restrita a menos de 1% da
população. Do meu ponto de vista, o Brasil está na quarta camada enquanto os
Estados Unidos estão entre a quinta e a sexta camadas.
Isso é muito triste, sobretudo para mim. Eu sou psiquiatra e vejo, no meu
consultório - portanto, não é achismo -, que se as pessoas soubessem dessas
escadas que estou mostrando aqui, 90% delas, talvez, evita-se os consultórios
de psicologia e de psiquiatria. Seria medicina profilática, que o Brasil não faz e
que nunca fez.
Na verdade, esses conhecimentos são muito pouco difundidos, porque
apresentam uma mistura - e vamos falar sobre isso - de medicina, de
psicologia, de religião e da própria filosofia.
A autorrealização, o ápice de Maslow, seria a busca do sentido. Trata-se
de uma pessoa que, depois de ter o reconhecimento da quarta, de ter um
sentido de vida, de ter uma ideia de como mudar algo na sociedade, consegue
ser uma personalidade dentro daquela sociedade e diretamente influenciar e
não mais ser só influenciada. Autorrealização é uma plenitude.

2. 5. As linhas da psicologia
Ele colocou um pontinho somente e está bom mesmo, porque é muita
coisa para ficarmos falando aqui e as pessoas não vão ver sentido nisso. Eu vejo
muito isso. Eu reduzi um pouco do que eu falo em palestras e cursos
exatamente porque pouco fazia sentido. As pessoas estão aqui embaixo, nas
primeiras seis, sete camadas, então, para elas, o que faz sentido mesmo é o
TCC, a Teoria Cognitivo-Comportamental. A Teoria Cognitivo-
Comportamental é a cognição da mente racional em cima das emoções. Há
também a psicanálise. Qual é a grande teoria psicanalítica? Como começa a
teoria psicanalítica? Começa com o Freud falando sobre traumas. Traumas do
passado. Algo que não estava conforme os seus planos aconteceu que abalou e
fez uma estrutura emocional danosa. Isso é um trauma: alterou algum tipo de
plano, algo esperado dentro da sua vida. Freud decide fazer uma teoria em
cima disso, porque, às vezes, esse trauma fica até no inconsciente. Freud
elaborou a teoria do consciente e do inconsciente e colocou os traumas como
a premissa do sofrimento humano, principalmente e sobretudo nos primeiros
anos de vida. Freud falou muito sobre isso e Piaget corrobora. Esses traumas e
traumas e traumas, alguns dos quais você sequer lembra, estão aqui nas
emoções, é na quarta camada. Ele fica ali, fomentando. A psicanálise gira em
torno dali. Por que a psicanálise é tão rica? Porque é rico mesmo, é uma área
muito rica, uma área muito longa, uma área muito vasta. É por isso que às vezes
funciona e às vezes, não. Porque, quando você está tratando de uma pessoa que
está da quinta camada para cima, ela está buscando resultados. Então, aquilo
ali não vai fazer o menor sentido para ela. Pelo contrário, a pessoa vai ficar
completamente desgostosa de fazer análise. Aí, migra para o TCC, cognitivo -
mente - sobre comportamentos. É onde eu domino a esfera da razão sobre as
minhas emoções e, consequentemente, sobre os meus comportamentos.
Você pode me questionar: “A TCC funciona então?’. Sim, funciona, se você já
está nessa camada ou nesse nível, ela vai funcionar muito bem. No entanto, é
só um ponto dentro do ser.
As diversas áreas da psicologia estão completamente aqui dentro e
nenhuma que eu conheça consegue fazer com que o ser humano saia lá de
baixo e ascenda de uma forma orientada.
Eu gosto de usar uma metáfora para explicar isso. É como se você
estivesse dentro de uma mata densa. Tente imaginar aquela mata
completamente cerrada, aquela da floresta amazônica. Se, dentro dessa mata,
eu pedir para você andar, o que você faz? Você pensa, fala: ‘eu não consigo’. Se
você for arrancar matinho por matinho, você vai demorar anos para andar um
metro. Aí, alguém te dá um facão. Isso facilita o seu avanço, a sua situação
melhora mais rapidamente. Quando você tem um mestre, uma pessoa que te
oriente, um tutor, uma pessoa que está bem formada na personalidade, que
está autorrealizada, que está na esfera, pelo menos, da sabedoria, ela vira um
trator na sua mão. Essa pessoa é um instrumento. Veja bem, ela não resolve a
sua vida para você. Você vai ter que estar operando o trator, mas, pelo menos,
aquilo vira um trator. Você consegue sair dali e, depois de um tempo, inclusive
consegue encontrar um trilho teu. Daí, desse trilho, a sua vida anda a milhão.
Analogamente, depois que você sai da quarta camada, você consegue subir da
quinta para sexta de uma forma rápida, você consegue, simplesmente
sabendo, passar. Eu conheço muitos médicos que ficaram presos na sexta
camada. Médico adora a sexta camada. Por quê? Porque é a camada técnica. Eu
observo os assuntos entre os médicos. Eles ficam horas debatendo sobre o que
fizeram e sobre o que deixaram de fazer, sobre a técnica X, o que está
acontecendo. O assunto deles gira em torno disso. Ou, pior ainda, quando o ego
está mais aflorado, a pessoa volta até para a quarta camada, em que precisa
impor o seu poder.
Adler2 fala muito disso, de o ápice do ser humano ser o poder. Ele está
falando da quinta camada. Vocês veem como é. Agora, é compreensível o que
cada linha representa, simplesmente um ponto, porque nós somos seres
espirituais.

3. OS TEMPERAMENTOS
Quando falo espiritual, as pessoas acham que é uma nuvem. Não é isso,
não é sobre isso. Quando você nasce, você tem o corpo e você também ganha o
código genético. Tudo bem que existe a epigenética, é a parte da genética, é a
parte do cromossomo que está sujeita à alteração de acordo com ou o que você
pensa, ou o que você faz, ou com as circunstâncias externas. Nós temos isso,
todo mundo sabe disso. Código de DNA, bem científico.
Junto com isso, existem os temperamentos: fleumático, colérico,
sanguíneo e melancólico. Isso aí é de Hipócrates3, o pai da medicina. Não sei
nem quantos mil anos tem isso. Os quatro temperamentos, na verdade, seriam
condições parecidas com a personalidade, mas com as quais você já nasce. É
uma forma de você receber as informações e as sensações e é também a forma
como você vai reagir a estas. O temperamento é uma constante na vida, até que
você domine a personalidade.
Quando você domina a personalidade, você constrói uma
personalidade. A personalidade é uma ponte, é uma ferramenta para você
chegar na vida espiritual. Eu sei, isso é bastante confuso mesmo. É confuso
principalmente porque, além de ganhar o temperamento, você também ganha
o caráter, que é mais difícil ainda de descrever. A psiquiatria e a psicologia já
descrevem há muito tempo, mas é difícil até escrever em palavras, porque são
inclinações positivas, negativas dentro desses quatro temperamentos.

2 Alfred Adler, psicólogo (1870 - 1937).


3 Hipócrates, pai da medicina (460 a.C. - 370 a.C.).
Os quatro temperamentos são interessantes. Todo mundo devia saber
isso também, pelo simples fato de que facilita o relacionamento entre as
pessoas. Se eu sei que tal pessoa é melancólica, sei que vai responder dessa
forma. O mesmo vale para saber que outra pessoa é sanguínea e outra,
colérica. Para finalizar essa primeira aula, quero falar sobre cada um dos
temperamentos.
O temperamento colérico, por exemplo, é o grande líder, como São
Tomás de Aquino. O colérico é aquela pessoa que tem a resposta rápida, que
resolve as coisas, é aquela pessoa que não perde tempo, que está sempre
fazendo execução das coisas, aquela pessoa que, muitas vezes, é beligerante.
Ela não foge de nenhum confronto, não é próprio da natureza dela. São aquelas
pessoas que até podem vir a brigar, que enfrentam o mundo. Você nasce com
isso, você vê a criança já assim.
O sanguíneo é a pessoa que fala muito, que tem a vontade e a
necessidade de falar. É uma pessoa completamente dispersa, que esquece das
coisas e que tem tendência à superficialidade, tem que tomar cuidado, porque
fala muito, quer comunicar, quer contactar. São excelentes líderes também.
Eles também executam e respondem rapidamente.
O colérico e o sanguíneo são os extrovertidos. Isso vai dar nos tipos
psicológicos de Jung, extrovertido e introvertido, que já se baseiam nos
temperamentos. Embora ninguém nunca tenha falado disso, é nítido, porque
é possível perceber que as coisas se cruzam entre si.
Os outros temperamentos seriam o melancólico e o fleumático. O
melancólico é introvertido, tem tendência a trazer ainda mais para ele. Esse
temperamento lembra um pouco a quarta camada. Claro que o melancólico
vai reagir dessa forma, mas todos esses temperamentos podem ser alterados
conforme a personalidade for ascendendo. Em uma personalidade bem
formada, não vai importar tanto o temperamento nem qualquer outra coisa
que você queira falar.
Para a maioria dos autores, o caráter seria imutável. Para outros, no
entanto, o caráter é mutável. Eu acho bem interessante. Eu gosto de tudo que
possa ascender, inclusive o caráter.
Voltando aos temperamentos, o melancólico tem uma reação voltada
para a tristeza, é uma reação interna. Ele é mais introvertido, mais lentificado
nas suas ações.
Por último, temos o fleumático. A fleuma, na Antiguidade, seria a
preguiça. Na Antiguidade, a preguiça era vista de uma forma um pouco
diferente, seria aquelas pessoas ‘de boa’. Os fleumáticos são aquelas pessoas
que não ligam muito para nada, que são mais ‘olha, eu prefiro ficar em casa, eu
quero evitar conflito, não faz sentido ficar brigando, simplesmente quero viver
a minha vidinha aqui de boa’. É o pacífico. O perigo desse temperamento seria
a preguiça. Por outro lado, o fleumático tem uma boa tendência a chegar nas
esferas mais altas, é mais fácil para eles, simplesmente porque são mais
tranquilos, não são tão emotivos quanto os sanguíneos nem tão pragmáticos
quanto os coléricos. Os fleumáticos se adaptam muito facilmente.
Cada um tem suas vantagens e desvantagens. Isso faz com que você
monte uma pequena base. Essa pequena base seria a parte do temperamento
e do caráter.

4. O EU ESSENCIAL
Uma base muito maior seria o eu essencial. Essa explicação é bem
complicada, mas o eu essencial, o eu substancial, o eu transcendental - que se
confunde com alguns aspectos de outros psicólogos - seria esse eixo de
consciência, seria o eu que se mantém em um bloco único. Você só percebe
esse eu único quando você está num nível muito alto. Por que isso? Você
percebe o mundo através da mente e é muito difícil conseguir se elevar ao
nível espiritual pela mente. Geralmente, são as pessoas que meditam e
consegue diminuir a frequência dos pensamentos, conseguem diminuir
aquela gritaria dos medos, das emoções e dos excessos de pensamentos e de
preocupações, que muitas vezes é completamente ilusória, e começam a
escutar essa vozinha. Por isso, na psiquiatria e em qualquer tratamento
psiquiátrico, mandam você meditar, para você tentar calar um pouco do
excesso de tudo que está acontecendo mentalmente.
Nesse momento, você percebe que você tem um eu desde que você é
criancinha. Talvez, até antes. Alguns fundamentos da psicologia falam desde
quando você é feto. Tem gente que vai até antes. Os reencarnacionistas já
falam que esse eu segue para trás e para frente. Isso gera uma certa
divergência de crença, mas podemos pelo menos falar que esse eu é o mesmo
desde que você é criancinha até este dado momento. Você que está aqui agora
olhando, porque o seu corpo já nasceu e morreu um trilhão de vezes. A nossa
célula mais duradoura não dura doze anos. Então, houve a regeneração. O seu
corpo não é mais o que era quando você era criança.
A sua memória é fragmentada. Então, esse eu da memória também não
é você, simplesmente são coisas que você lembra. Há outras que você perdeu.
O Eu mental é o eu da razão, é aquela biografia de tudo que você percebeu e
assimilou, mas também não é o eu substancial. A sua biografia, tudo que você
lembra, internamente ou externamente, tudo que você fez, isso é o eu
biográfico, o eu histórico, mas nada disso justifica, nada disso se assemelha
com o eu substancial.
Esse eu substancial permanece em você, mesmo se você estiver em
coma, mesmo se você tiver dormindo. Você pode lembrar de um sonho que
você teve quando era criança. Nesse ponto, a ciência é muito interessante.
Houve um autor que tentou trazer isso pela ciência através do estudo das
experiências de EQM, que são as experiências de quase morte. Nesse estudo,
ele ouviu os relatos de diversos pacientes que narravam suas experiências de
quase morte e, ao que tudo indicava, tinham visões às quais não poderiam ter
tido acesso, estando acamados da forma como estavam, nem mesmo pelo
inconsciente. Eram visões de coisas em cima da prateleira ou fora da sala. São,
portanto, essas experiÊncias de percepção extra-corporal e as próprias
meditações, em que a pessoa jura que saiu do corpo.
Isso se mantém como um eu. Com isso, surge a dúvida: será que esse eu
está no cérebro ou não? Algumas pessoas que tiveram uma atividade cerebral
praticamente anulada e depois voltaram, continuaram tendo esse eu
substancial fora dali. Então ninguém sabe exatamente. Os egípcios, há muito
tempo, falavam disso e afirmavam que isso estava no coração. Contudo, isso
não é, porque já vimos transplantes de coração. Isso ficou algo um pouco difícil
de se explicar, muito subjetivo, mas esse eu substancial pauta todos os outros
eu que você vem experimentando e vem construindo. Aqui, são diversos
pontos de vista do eu: eu histórico, eu biográfico, memórias, emoções, como
que você lida, as suas personas.
As personas, vamos dizer assim, são as máscaras. Para os gregos, eram
máscaras. Jung apontava que o jeito como uma pessoa se apresenta como
médico não é o mesmo jeito como se apresenta como pai e também não é o
mesmo jeito que se apresenta como filho. Assim, a pessoa tem identidades
diferentes. Lembra um pouco da sétima camada da personalidade, do papel
social. As diferentes personas nas quais você se adequa a cada situação. Isso é
o que pauta. Você pode criar grandes torres. A personalidade é uma dessas
torres, mas é uma torre muito poderosa, que vai funcionar como ponte, que
vai funcionar como elucidação e percepção mais apurada.
A gente vai falar sobre isso na próxima aula, sobre como fazemos os
movimentos de ascensão.

5. PERGUNTAS
1) O Eu essencial, essa propriedade, faz com que nós sejamos humanos?
Exato.
2) Na sua opinião, o feto já tem essa propriedade (do eu essencial)?
É uma boa pergunta. Eu acredito que sim e vou te explicar por quê. Os
estudos da psicologia avançam e uma das ferramentas que temos na
psiquiatria, não de agora, mas que era usada desde os sumérios e também
pelos egípcios, é a hipnose. A hipnose faz com que você chega a alguns estados
ainda ultrauterinos. Eu já vi isso algumas vezes na minha vida. Eu trabalhei
algum tempo com hipnose, não como terapeuta, embora eu tenha formação,
mas acompanhando uma clínica de hipnose, como parte dos meus estudos. Lá,
eu vi pessoas resolverem traumas físicos e elas não sabiam, não tinham
conhecimento daquilo. Até mesmo, no momento do parto. Uma pessoa
conseguiu resolver uma cefaleia antiga através de uma liberação emocional
ligada a um parto com fórceps que foi complicado. Eu também vi outros
traumas, como brigas dentro da família, agressões. Isso faz com que a pessoa
possa vir a alterar, não o eu essencial, que é um estado divino, que é como se
fosse uma centelha divina… Quando uso a palavra “divino”, estou fazendo
referência ao fato de você conseguir ver o planeta, o globo, ligado a você. Isso
é mais ou menos divino e isso tem uma inteligência. É mais fácil perceber
quando olhamos para um planta, uma floresta. Você observa os ciclos. As
folhas caem e renascem. Existem as quatro estações: verão, inverno, outono e
primavera. Você vê que isso tem um dharma, as coisas vão acontecendo
conforme uma regra. Essa é a melhor teoria de divino que consigo explicar.
Portanto, é quando você consegue se conceber conectado a isso. Podemos até
dizer que a sabedoria está na natureza. Você vê que a mente sábia não tem
relação com conhecimento. O conhecimento ajuda muito, é o que falei sobre
o trator, mas ela é um caminho em si. A mente sábia tem relação com
vivências, com o que você assimila de cada vivência. E aí você tem a sabedoria.
Voltando à sua pergunta, você tem essas duas esferas aqui
(temperamento e caráter) que são totalmente fixas e que você constrói a
personalidade. Eu acredito que sim, o feto já tem o eu essencial, embora seja
um estado rudimentar de consciência.
3) Minha última pergunta é sobre a ascensão das camadas. Isso não
significa que é bom necessariamente, você pode tranquilamente incluir
vários ditadores na décima e na décima primeira camada?
Sim.
4) Onde os psicopatas e os sociopatas se encaixam? Eles são fleumáticos de
temperamento?
Vamos tentar cruzar primeiro com as personalidades malévolas da
nossa história. Sim, elas podem chegar até a décima primeira camada. No
entanto, na constituição septenária, eles não conseguem passar nem da razão.
Nessa parte, é algo que não podemos cruzar. Na verdade, até daria, por um
motivo que é o seguinte. Por exemplo, eu li Mein Kampf do Hitler e é um
estado de vitimismo gigante. Teoricamente, pela sua premissa, Hitler seria
décima primeira camada. No entanto, não dá para saber qual é a camada de
outra pessoa, só a própria pessoa conhece suas motivações. Exceto, claro, que
tenha feito como Napoleão, que narrou tudo. Observando, vemos que Hitler
via os judeus como inimigos e que tinha medo deles, muito medo. Medo gera
ódio - como vimos no Star Wars - e o ódio gera tudo aquilo que aconteceu ali.
Quando você tem o poder dessa pessoa, é perigoso, claro, mas ela pode estar
em qualquer camada. A camada da personalidade não necessariamente quer
dizer que a pessoa tenha poder ou não. A décima primeira, a camada de alguém
que está dentro da história, a pessoa pode estar agindo dentro da história de
uma forma malévola. Com certeza, pode.
Já ali, na septenária, não. Não há maldade na sabedoria, porque você está
começando a contemplar a verdade e a verdade é aquilo que falei da formação
do ser humano. O ser humano bem formado está em harmonia com a
natureza. Ele não conseguiria, por exemplo, matar outra pessoa, a não ser que
precise. No entanto, não faria disso um movimento de busca de poder.
Quando você fala sobre psicopata, ou sociopata, ou transtorno de
personalidade antissocial, que é o nome atual, estamos falando de uma
doença. Essas constituições são terríveis dentro da doença, porque a doença
pode até diminuir a percepção delas. Por exemplo, uma depressão. O sociopata
é uma pessoa que vai ter pouquíssima afinidade, pouquíssima empatia, e não
vai ter o sentimento de culpa vendo as outras pessoas sofrendo perante o seu
caminho de ascensão, a sua aquisição de ascensão de personalidade. Então,
fica presa na mente da razão, raciocina as coisas.
Como lidamos com o sociopata? Isso vai estar presente na nossa quinta
aula, em que vamos abordar o que pode dar errado na formação do ser. Sem
dúvida nenhuma, a sociopatia é uma delas e precisaremos usar outros freios,
uma vez que essas pessoas não conseguem criar nem o vínculo afetivo nem o
vínculo do amor. Portanto, é preciso criar outros vínculos. Essa é uma situação
mais complicada, sobre a qual iremos falar. Você tinha mencionado outro
ponto. Era líder, sociopata e …?
Eu perguntei também se os psicopatas se encaixam no temperamento
fleumático.
Ah, sim, os temperamentos. Nesse momento, o temperamento não vai
interferir grandes coisas. O colérico tem tendência maior para fazer ou estar
envolvido em guerras. Eles são os grandes líderes, mas isso não quer dizer que
seja assim sempre. Há outros líderes que fizeram guerra e inclusive até
ganharam de coléricos na batalha. Quando você está num poder público,
teoricamente, você estaria na décima primeira camada, pois você tem outros
poderes que não são mais somente os seus. Você tem o poder de um exército e
de um conselho que vai ter que forçar sua reação à determinada situação. Nem
sempre o temperamento vai influenciar nisso. Os sociopatas e psicopatas têm
uma facilidade para ascender dentro de uma empresa, dentro da sociedade,
porque, quando você não tem vínculo, você atropela os outros, infelizmente. Já
tivemos casos assim na política, pessoas que só sentem dor quando tocam
nelas, nada, nenhum outro resto dói. Não importa se eu vou matar uma
população de fome, pois eu não estou vendo. Aliás, mesmo se eu visse, eu não
ligo, porque eu não tenho empatia. Nesse caso, é um perigo e eles chegam. Por
isso, mais uma importância de estarmos trabalhando isso aqui. É mais uma
importância, você conhecer um ser humano, porque isso não é à psiquiatria e
à psicologia. Qualquer um pode ver que o outro não está em estado empático.
Claro que é difícil, mas, hoje, com a internet, ajudou muito. Vemos discursos
de presidentes antigos e ficamos assim: ‘meu deus! Não é o que vemos na
televisão, não é a persona que ele vem apresentando’. A gente consegue fazer
o discernimento de pessoa para pessoa, mas, primeiro, você tem que conhecer
a sua própria personalidade.

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