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CONJUNÇÃO
Conjunção
Conjunção (do latim conjunctus, “unido, ligado”) é a classe gramatical

que relaciona duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração.

Com raras exceções, a conjunção carrega em si um sentido próprio. Veja:

Para acabar as coisas, é preciso começar a fazê-las. Parece

óbvio, mas falta-te tantas vezes esta simples decisão. E...como satanás se

alegra com a tua ineficácia.

(Josemaria Escrivá)

Note como as palavras marcadas (mas e e) articulam respectivamente

relação de adversidade e de adição.

Estudar ou trabalhar: eis a questão.

Perceba como a palavra ou estabelece uma escolha entre os

infinitivos estudar e trabalhar.

Classificação
Podem ser coordenativas ou subordinativas.

As coordenativas, de acordo com Amini Hauy, conectam duas

palavras da mesma classe ou valor gramatical e mesma função sintática

[ou ainda duas orações]: substantivo, substantivo (ou equivalentes, isto é:


pronome substantivo/substantivo ou locução substantiva etc.); com igual

ocorrência: adjetivo/adjetivo; pronome/pronome; preposição/preposição;

advérbio/advérbio; verbo/verbo etc. Em geral, são as conjunções aditivas,

adversativas ou alternativas que, além de ligarem orações (verbo/verbo),

relacionam quaisquer termos de mesma classe ou valor gramatical e

função sintática.

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Exemplos:

Qualquer um e nós (locução pronominal – pronome)

Corpo e alma (substantivo – substantivo)

Ou eles chegarão a tempo, ou não entrarão. (oração coordenada

sindética – oração coordenada sindética)

Já as conjunções (ou locuções conjuntivas) subordinativas

introduzem orações subordinadas, ou seja, orações que sintaticamente

dependem de uma principal.

Exemplos:

Já que a escola está fechada, faremos a aula em casa. (oração

subordinada adverbial causal – oração principal)

Apenas espero que ele me ligue de volta. (oração principal – oração

subordinada substantiva objetiva direta)

No primeiro caso, “já que” é locução subordinativa adverbial causal

e, no segundo, “que” é conjunção subordinativa integrante.

Quanto às semelhanças e diferenças entre conjunções e preposições,

convém pontuar o seguinte, a título de esclarecimento: ambas podem ligar


palavras ou orações. Agora atenção:

○ As preposições (e locuções prepositivas) estabelecem relação de

subordinação sempre; quando introduzem orações, estas são

sempre reduzidas.

○ Já as conjunções, quando conectam palavras, são sempre

coordenativas. Quando conectam orações, podem ser

coordenativas ou subordinativas. Sendo subordinativas, jamais

serão reduzidas (caso forem, tratar-se-á de preposição, não de

conjunção).

Essas diferenças serão pontuadas quando se falar em sintaxe.

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Alguns exemplos de conjunções na prática:

“Todo amor é eterno e (coordinativa aditiva), se (subordinativa

adverbial condicional) acaba, não era amor.” (Nelson Rodrigues)

“Invejo a burrice, porque (subordinativa adverbial causal) é

eterna.” (Nelson Rodrigues)

“O cristão amou a filha do sertão, como (subordinativa adverbial

comparativa) nos primeiros dias, quando (subordinativa adverbial

temporal) parece que (subordinativa integrante) o tempo nunca poderá

estancar o coração. Mas (coordenativa adversativa) breves sóis bastaram

para murchar aquelas flores de uma alma exilada da pátria.


O imbu, filho da serra, se (subordinativa adverbial condicional)

nasce na várzea porque (subordinativa adverbial causal) o vento ou

(coordenativa alternativa) as aves trouxeram a semente, vinga, achando

boa terra e fresca sombra; talvez um dia cope a verde folhagem e enflore.

Mas (coordenativa adversativa) basta um sopro do mar, para tudo

murchar. As folhas lastram o chão; as flores, leva-as a brisa.” (José de

Alencar, Iracema)

Observações:

1) É frequente que uma conjunção (ou locução conjuntiva) tenha

mais de um sentido, o qual somente se esclarecerá no contexto. Veja alguns

exemplos:

Desde que cheguei, não falaram de outro assunto, senão o pedido

de demissão do chefe. (conjunção adverbial temporal)

Dede que nos alimentemos bem, ganharemos massa magra.

(conjunção adverbial condicional)

Se bebermos mais, passaremos mal. (conjunção adverbial

condicional)

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Não sei se esta é uma boa ideia. (conjunção integrante)

A equipe deve agir como ordenou o superior. (adverbial conformativa)

Como Pedro se atrasou, passei outra pessoa à sua frente. (adverbial

causal)

2) A conjunção e é particularmente polissêmica. Não raro, nem

sequer chega a ser uma conjunção.

E você por acaso acredita nele? (palavra denotativa de assunto)

Estudou como nunca e obteve seu primeiro dez. (valor conclusivo =

portanto)

Tomei todas as precauções, e peguei a doença. (valor adversativo =

mas)

Preciso chamar meu filho e dar uma explicação séria sobre este

assunto. (finalidade = para)

Abaixo, nota-se a riqueza da referida palavra:

Nas conversas gerais, a morte é tratada como se fosse, por

exemplo, um triângulo esférico e (oposição de ideias) não como uma

intensa realidade que ronda pela sala em torno de nossos corpos. É coisa

que acontece com parentes afastados e (conecta oraçõa) que elimina

periodicamente personagens de destaque na política e na literatura

(conecta palavras); e por isso, quando nos cai perto e cobre de lividez o
rosto da esposa, nosso primeiro sentimento é de absoluto espanto, como

se, apesar de todas as enormes cifras demográficas, aquele fenômeno

fosse ímpar no mundo. Cada morte é terrivelmente inesperada. 

(Gustavo Corção, A descoberta do outro)

Segundo o professor Fernando Pestana: “A conjunção e, além desses

valores, pode indicar sequenciação temporal, isso ocorre quando o papel

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dela é apenas ligar dois eventos sucessivos: Depois da ferrenha discussão,

Maria fechou o rosto e João foi para o quarto em seguida”.

Ainda sobre a referida conjunção, ressalta-se que pode ela aparecer

após ponto, a fim de lhe ressaltar o sentido, como faz Clarice:

Será preciso coragem para fazer o que vou fazer: dizer. E me

arriscar à enorme surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita.

Mal a direi, e terei que acrescentar: não é isso, não é isso! Mas é preciso

também não ter medo do ridículo, eu sempre preferi o menos ao mais por

medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor.

(Clarice Lispector, A paixão segundo G.H.)

3) É bastante comum que a relação de sentido entre as orações seja

capturada pelo usuário da língua sem que haja uma conjunção. No entanto,

colocando-a, a relação se esclarece. Veja:

Vestiu-se inadequadamente e proferiu muitos palavrões: foi

despedido sumariamente do emprego.

Embora não haja uma conjunção explícita, a segunda oração expressa

claramente uma conclusão, de maneira que poderia ser introduzida por

“por isso”, “portanto”, “logo” etc.

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