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RESPOSTA A QUESTÕES SOBRE O CONCEITO DE PECADO E A CONDIÇÃO DO

PECADOR SUSCITADAS NO GRUPO "NOVO NOME: REFORMADORES"

Prezados irmãos,

Peço a compreensão de todos, pois, diante de tudo o que foi dito, aqui no grupo, nas últimas
quarenta e oito horas, terei que me estender um pouco em minhas considerações.

Confesso que fiquei surpreso com algumas enfáticas manifestações dirigidas a mim, antes que eu
pudesse tomar ciência das primeiras questões propostas e pudesse responder a cada uma delas.

Aos que não me conhecem ainda, informo que sou advogado. Minha profissão está intimamente
atrelada ao debate. E tenho como método prosseguir num diálogo por semanas, meses ou anos, se
preciso for, até que cheguemos a um consenso ou até que a outra parte desista de conversar. Eu
mesmo nunca desisto. Ou sou convencido pelos argumentos propostos, o que pode acontecer, ou
prossigo indefinidamente. Os que me conhecem, sabem que minha disposição é forte nesse sentido.

Não obstante, procuro sempre ser muito técnico nos diálogos que entretenho. Embora minha
linguagem, por vezes, possa ser enérgica, como a de Paulo, não é do meu feitio partir para agressões
pessoais. E não pretendo agir de maneira diferente aqui.

É que seria muito estranho que, para defender a perfeição cristã, que implica o exercício do domínio
próprio, nós venhamos a nos morder e devorar uns aos outros, de modo a sermos mutuamente
destruídos (Gl 5:15).

Aliás, isso me faz lembrar dos debates ocorridos na Assembleia Geral de Mineápolis, em 1888.
Recordando os maus momentos testemunhados naquela ocasião, Ellen G. White exclamou dois
anos depois:

Sou forçada, pela atitude que meus irmãos tomaram e pelo espírito evidenciado, a dizer:
"Deus me livre de suas ideias sobre a lei em Gálatas, se o fato de receber estas ideias
me tornar tão anticristã em meu espírito, palavras e obras como alguns que deviam
saber melhor o que têm sido." (Manuscrito 55, de 1890, tradução minha)

Texto original:

I am forced, by the attitude my brethren have taken and the spirit evidenced, to say, God
deliver me from your ideas of the law in Galatians, if the receiving of these ideas would
make me so unchristian in my spirit, words, and works as many who ought to know better
have been. {Ms55-1890.8}

Por vezes, a linguagem enérgica é, sim, necessária, como as Escrituras o evidenciam, mas eu
sempre temo falhar nesta admoestação inspirada de Ellen G. White:

Os servos de Cristo não devem agir segundo os naturais ditames do coração. Precisam de
íntima comunhão com Deus a fim de que, sob provocação, o próprio eu não sobressaia,
e despejem uma torrente de palavras inconvenientes, palavras que não são como o
orvalho ou como a chuva suave que refrigera as ressequidas plantas. É isto que Satanás
quer que façam, pois são esses os seus métodos. É o dragão que está irado; é o espírito
de Satanás que se revela em zanga e acusação. Mas aos servos de Deus cumpre ser Seus
representantes. Ele quer que usem apenas a moeda corrente no Céu, a verdade que Lhe

Autor: Henderson H. L. Velten


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apresenta a imagem e inscrição. O poder com que têm de vencer o mal, é o poder de Cristo.
A glória dEle, a sua força. Devem fixar os olhos em Sua beleza de caráter. Podem então
apresentar o evangelho com divino tato e suavidade. E o espírito que se conserva manso
em face da provocação, dirá mais em favor da verdade, do que o fará qualquer
argumento, por mais vigoroso que seja.

Os que são lançados em conflito com os inimigos da verdade, têm de enfrentar, não
somente homens, mas Satanás e seus instrumentos. Lembrem-se eles das palavras do
Salvador. “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos”. Lucas 10:3. Descansem no
amor de Deus, e o espírito permanecerá calmo, mesmo quando pessoalmente maltratados.
O Senhor os revestirá de divina armadura. Seu santo Espírito há de influenciar a mente e o
coração, de modo que a voz não se lhes assemelhe ao UIVO DOS LOBOS. -- O
Desejado de Todas as Nações, p. 245.

Eu não quero que minha voz se assemelhe ao uivo dos lobos! Por isso, mesmo nos diálogos
prolongados de que participo, esforço-me por manter um padrão técnico de confrontação saudável
de ideias. É o que tentarei fazer agora.

Bem, seria mais natural que eu começasse minha resposta pelas primeira perguntas que foram
propostas após o que eu escrevi ao irmão Francisco na sexta-feira, à tarde, mas eu não seguirei essa
ordem. Tratarei, primeiramente, dos textos lançados no grupo pela nossa irmã Kelly.

ELLEN G. WHITE E O "PECADO INATO"

Nossa irmã Kelly trouxe à discussão o seguinte texto como contribuição:

É nosso privilégio ter diariamente calma, íntima e feliz caminhada com Jesus. Não
precisamos ficar alarmados se o caminho passa por conflitos e sofrimentos. Podemos ter a
paz que excede o entendimento; mas isso nos custará batalhas com os poderes das trevas,
severas lutas contra o egoísmo e o pecado INATO. As vitórias alcançadas diariamente,
mediante perseverante e incansável esforço em fazer o bem, serão preciosas por meio de
Cristo, que nos amou, que “Se deu a Si mesmo por nós, para nos remir de toda iniqüidade e
purificar para Si um povo seu especial, zeloso de boas obras. Tito 2:14. -- Exaltai-O,
Meditação Matinal de 1992, p. 104.

Como bem pontuou a irmã Kelly, a expressão usada por Ellen G. White nesse trecho é: "selfishness
and inbred sin". O trecho está aqui:

It is our privilege to have daily a calm, close, happy walk with Jesus. We need not be
alarmed if the path lies through conflicts and sufferings. We may have the peace which
passeth understanding; but it will cost us battles with the powers of darkness, struggles
severe against selfishness and inbred sin. The victories gained daily through persevering,
untiring effort in well-doing will be precious through Christ who has loved us, who gave
Himself for us, that He might redeem us from all iniquity, and purify unto Himself a
“peculiar people, zealous of good works”.... {LHU 98.5}

Mas o que foi que nossa irmã Kelly não observou? Ela não atentou para o uso que Ellen G.
White faz da palavra "inbred".

Observem este outro texto:

Something is wrong in those families, says the _Bazar_, where the little courtesies of
speech are ignored in the every-day home life. True politeness cannot be learned, like a
lesson, by one effort, any time in one’s life; it must be INBRED. “Well meaning, but
rough,” is said of many a man; and too often the beginning of the difficulty lies with the

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parents in a family. Is it hard for the husband to give a smiling “Thank you” to his wife as
she brings his slippers on his evening return home? Is it more difficult for the mother to say,
“John, will you shut the door please”? than to use the laconic phrase, “Shut the door!”
When Tom knocks over his sister’s baby-house, why should not “Excuse me, I didn’t meant
to,” be the instinctive apology? {HR February 1, 1874, Art. B, par. 1}

Aqui está minha tradução para esse parágrafo:

Algo está errado nessas famílias, diz o _Bazar_, onde as pequenas cortesias da fala são
ignoradas na vida doméstica de cada dia. A verdadeira cortesia não pode ser aprendida,
como uma lição, por um esforço, a qualquer momento da vida; deve ser INBRED. "De boa
intenção, mas áspero", é dito de muitos homens; e muitas vezes o início da dificuldade
recai sobre os pais em uma família. É difícil para o marido dar um sorridente "obrigado"
à sua esposa quando ela traz seus chinelos em seu retorno para casa à tardinha? É mais
difícil para a mãe dizer: "João, você vai fechar a porta, por favor?", do que usar a frase
lacônica: "Feche a porta!" Quando Tom esbarra na caixa de brinquedos de sua irmã, por que
não deveria dizer: "Desculpe-me, não foi minha intenção", ser a desculpa instintiva? --
Health Reformer, de 1º de fevereiro de 1874, art. B, parágrafo 1, tradução minha.

Observem os detalhes dessa citação. Ellen G. White diz que a cortesia deve ser "inbred". Mas, se,
no uso que Ellen G. White faz, "inbred" significa "inato", como algo que é transmitido
geneticamente, pelo sangue, então esse texto deixa de fazer sentido.

Ora, qual é a lógica de exortar os leitores quanto à necessidade de que uma qualidade deva ser
herdada geneticamente, pelo sangue? Não faz sentido algum, pois o ser humano não tem qualquer
controle sobre tendências ou propensões que herda de seus pais.

Ellen G. White esclarece o que ela quer dizer por "inbred" ao afirmar logo a seguir: "muitas vezes o
início da dificuldade recai sobre os pais em uma família". Sim, o problema de os filhos não terem
uma cortesia INBRED decorre da postura dos pais, pois estes transmitem seus traços de caráter aos
filhos pelo exemplo e por sua conduta dentro de casa.

A palavra "inbred" é formada pela conjugação de "in" e "bred". O que significado "bred"?

O Noah Webster’s 1828 Dictionary, dicionário do século XIX, dá estes significados:

BRED
BRED, pp. of breed. Generated; produced; contrived; educated.

Observem que "bred" também significa "contrived" e "educated", o que se encaixa perfeitamente no
contexto da transcrita declaração de Health Reformer.

No uso de Ellen G. White, "inbred" NÃO É necessariamente aquilo que se herdou geneticamente,
mas pode ser perfeitamente aquilo que "vem de berço", aquilo que foi transmitido pelos pais aos
filhos por seu exemplo, no convívio doméstico. Trata-se de algo longamente arraigado.

Aliás, ao se expressar assim, Ellen G. White não está senão reproduzindo uma ideia bíblica. O
apóstolo Pedro fala que seus leitores "foram resgatados do fútil procedimento que vossos pais vos
legaram" (1Pe 1:18).

Portanto, respeitando tecnicamente o uso que Ellen G. White faz da palavra inglesa "inbred", sua
referência a "egoísmo e pecado inbred" deve ser entendida como alusão ao egoísmo e ao pecado
fortemente arraigados no ser humano por uma prática de toda a vida. Ela não se refere a uma

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espécie de pecado que exista por natureza, mesmo sem que o ser humano não faça nada, pois esse
conceito não é bíblico.

NASCIDOS À SEMELHANÇA DE SATANÁS

Outro texto que nossa irmã Kelly trouxe ao grupo foi este aqui:

Pessoas NASCIDAS na SEMELHANÇA DE SATANÁS, foram transformadas à


imagem de Deus. A mudança é, em si mesma, o milagre dos milagres. Uma modificação
realizada pela Palavra, é um dos mais profundos mistérios da Palavra. Não a podemos
compreender; só podemos crer, como o declaram as Escrituras, que é “Cristo em vós, a
esperança da glória”. Colossences 1:27. O conhecimento desse mistério fornece a chave
para todos os demais. Abre ao ser humano os tesouros do Universo, as possibilidades do
desenvolvimento infinito. -- Minha Consagração Hoje, Meditação Matinal de 1953 e de
1989, p. 22.

Talvez, ao terem se deparado com essa impressionante citação, alguns tenham ficado abalados e
tenham até cogitado de o Novo Adventismo estar correto em sua abordagem.

Mas o que foi que nossa irmã Kelly deixou de observar aqui? Bem, aqui ela deixou de recorrer ao
texto em Inglês, publicado pela primeira vez na revista Signs of the Times, de 25 de abril de 1906.
Em Inglês, o texto consta da seguinte maneira:

SOULS that have BORNE the likeness of Satan have been transformed into the image
of God. The change is itself the miracle of miracles. A change wrought by the Word, it is
one of the deepest mysteries of the Word. We cannot understand it; we can only believe,
that, as declared by the Scriptures, it is “Christ in you, the hope of glory.” A knowledge of
this mystery furnishes a key to every other. It opens to the soul the treasures of the universe,
the possibilities of infinite development. {ML 26.3}

No que é que o texto em Inglês ajuda na compreensão do que Ellen G. White realmente quis dizer?

Bem, em primeiro lugar, deve-se observar que, a rigor, o texto diz "souls" ("almas") e não "people"
ou "persons" ("pessoas"). Isso tem alguma consequência? Tem, sim, mas o outro ponto que preciso
destacar é MUITO mais relevante.

Equivocadamente, o tradutor vertou "borne" como "nascidos". Ocorre que "borne" não é o
particípio de "to born" ("nascer"), mas, sim, de "to bear".

E o que significa "borne"? Recorramos novamente às definições do antigo Noah Webster’s 1828
Dictionary:

BORNE
BORNE, pp. of bear. Carried; conveyed; supported; defrayed.

Como se vê, de acordo com esse dicionário do século XIX, "borne" pode significar
"transportado/levado/carregado", "transmitido", "apoiado/sustentado/mantido" e "custeado", MAS
NUNCA "NASCIDO".

Portanto, a tradução correta do trecho trazido ao grupo pela irmã Kelly é: "Almas que foram
levadas à semelhança de Satanás têm sido transformadas à imagem de Deus".

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Malabarismo meu?! De maneira nenhuma. Trecho semelhante aparece no livro Educação, à p. 171.
Vejam:

Souls that have BORNE the LIKENESS OF SATAN have been transformed into the
image of God. This change is itself the miracle of miracles. A change wrought by the word,
it is one of the deepest mysteries of the word. We cannot understand it; we can only believe,
as declared by the Scriptures, it is “Christ in you, the hope of glory.” Colossians 1:27. {Ed
171.4}

Aqui o tradutor foi mais cauteloso e tecnicamente preciso. Vejam como ele verteu o trecho em
discussão:

Almas que tinham a semelhança de Satanás, transformaram-se na imagem de Deus.


Esta mudança é em si mesma o milagre dos milagres. Uma mudança operada pela Palavra é
um dos mais profundos mistérios dessa Palavra. Não o podemos compreender; apenas
podemos crer, como declaram as Escrituras, que “é Cristo em vós, esperança da glória”.
Colossences 1:27.

Curiosamente, nossa irmã Kelky declarou em resposta ao irmão Edmundo: "O que eu aceito é o
texto como ele é." Infelizmente, ela foi levada a erro por traduções inadequadas de textos
inspirados.

Na terminologia usual de Ellen G. White, o homem não nasce à semelhança de Satanás. De


forma alguma. Isso é o que Satanás quer que nós pensemos. Ele quer que ofendamos o coração
de Deus dizendo que nós já nascemos à imagem de Satanás. Mas isso não é verdade. Ainda que
muito do esplendor da glória de Deus tenha, sim, sido perdido pela Queda do homem, nós somos
Sua imagem e semelhança. É a prática reiterada do pecado que pode fazer com que nossa
imagem se assemelhe à de Satanás. Vejam este texto:

Com autoridade ordena aos espíritos imundos que saiam deles. Os infelizes homens
compreendem estar ali perto Alguém que os pode salvar dos atormentadores demônios.
Caem aos pés do Salvador para suplicar misericórdia; mas, quando os lábios se abrem, os
demônios falam por eles, bradando: “Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus? Vieste
aqui atormentar-nos antes de tempo?” Mateus 8:29.

Os maus espíritos são forçados a libertar suas vítimas, e aos possessos sobrevém uma
transformação maravilhosa. A luz brilha em sua mente. Os olhos iluminam-se de
inteligência. A fisionomia POR TANTO TEMPO desfigurada à semelhança de Satanás
torna-se de repente branda, aquietam-se as mãos ensanguentadas, e os homens erguem a
voz em louvores a Deus. -- A Ciência do Bom Viver, pp. 96 e 97.

Obs.: Esse texto fala da libertação de um possesso. Foi a possessão demoníaca que desfigurou a
imagem de Deus nele, tornando-o semelhante a Satanás.

Vejam ainda estas outras citações:

Uma longa operação preparatória desconhecida ao mundo, tem lugar no coração, antes que
o cristão cometa francamente o pecado. A alma não desce de pronto da pureza e santidade à
depravação, corrupção e crime. LEVA TEMPO para que se degradem aqueles que
foram FORMADOS À IMAGEM DE DEUS, ao estado brutal e satânico. Pelo
contemplar nos transformamos. Alimentando pensamentos impuros, o homem pode de tal
maneira conduzir a mente que o pecado que uma vez lhe repugnava tornar-se-lhe-á
agradável. -- Patriarcas e Profetas, p. 336.

Aqueles que desonrarem a imagem de Deus e macularem Seu templo em suas próprias

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pessoas, não terão escrúpulos para praticarem qualquer desonra a Deus que satisfaça o
desejo de seus depravados corações. A condescendência sensual enfraquece o espírito e
avilta a alma. As faculdades morais e intelectuais ficam embotadas e paralisadas pela
satisfação das inclinações animais; e é impossível ao escravo da paixão compenetrar-se da
obrigação sagrada imposta pela lei de Deus, apreciar a obra expiatória, ou dar o devido
valor à alma. Bondade, pureza e verdade, reverência para com Deus e amor pelas coisas
sagradas – e tudo isto são afeições santas e nobres desejos que ligam os homens ao mundo
celestial – são consumidos nos fogos da lascívia. A alma se torna um deserto enegrecido e
desolado, habitação de espíritos maus, e “guarida de toda a ave hedionda e abominável”.
Seres FORMADOS À IMAGEM DE DEUS são arrastados ao nível dos irracionais. --
Patriarcas e Profetas, p. 335.

Certamente, muitos seres humanos, que já nascem com uma natureza pecaminosa, são tão
fortemente atraídas pelos enganos do Maligno que, pela prática reiterada do pecado, tornam-se
semelhantes a Satanás. Mas Deus é mais poderoso e pode restaurar nessas almas a Sua imagem,
pelo poder da graça operando em seus corações.

Aí está, irmã Verônica Magalhães, um exame técnico dos textos propostos pela irmã Kelly, com
base nas palavras e expressões exatas empregadas por Ellen G. White em Inglês, e não com base em
traduções infelizmente equivocadas.

A irmã Kelly transcreveu ainda este texto:

Somos esclarecidos pelos preceitos da lei, mas homem algum pode por eles ser justificado.
Pesado e achado em falta é nossa inscrição, por natureza. Mas Cristo é nosso Mediador,
e aceitando-O como nosso Salvador, podemos requerer a promessa: “Sendo, pois,
justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo.” Romanos 5:1. –
The Review and Herald, 8 de Março de 1906. -- Nos Lugares Celestiais, Meditação Matinal
de 1968, p. 158.

Não vou me ocupar longamente desse texto, pois seu sentido é o mesmo de Efésios 2:3, que já
comentei aqui no grupo, com provas tecnicamente não superadas. Para os que se interessarem,
remeto-os para aquela abordagem. Vejam aqui minhas considerações sobre Efésios 2:3.

Pois bem, feitas essas considerações, volto minha atenção às primeiras questões suscitadas após
minha resposta ao irmão Francisco. Refiro-me às questões suscitadas pelo Thiago Fonseca.

Em primeiro lugar, devo ressaltar a exortação de Paulo a seus leitores: "Não ultrapasseis o que está
escrito" (1Co 4:6). O intérprete tem de se restringir ao que os autores inspirados escreveram,
pois foram eles que receberam a inspiração. Não é dado ao intérprete afirmar, em nome dos
autores inspirados, o que eles simplesmente não escreveram.

Dito isso, afirmo, e com ênfase, que não há nenhum verso em toda a Bíblia, como também não
há nenhum texto de Ellen G. White, que afirme que o ser humano já nasça pecador. Para que
se pudesse dizer que o indivíduo já nasce pecador, necessário seria que um autor inspirado (um
apóstolo ou profeta) afirmasse isso, mas algo assim nunca é dito na Bíblia e no Espírito de Profecia.
Esse é o ponto central aqui. Somente um autor inspirado poderia declarar que uma pessoa já nasça
pecadora, mas declaração nesse sentido nunca ocorre nos textos sagrados.

Exigir um texto que afirme que as crianças não nasçam pecadoras é inverter o ônus natural da
prova. Conforme uma máxima secular, o ônus da prova é de quem alega. Além disso, negativa non
sunt probanda, isto é, as negativas não precisam ser provadas. Por exemplo, não somos nós que
devemos provar que o domingo não é dia de guarda. São os observadores do primeiro dia da

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semana que devem provar que o domingo foi consagrado por Cristo ou pelos apóstolos. Nós
podemos declarar que a Bíblia nunca afirma que o domingo é dia de guarda e, ainda assim, o ônus
da prova não estará conosco, mas com aqueles que defendem que o domingo seja o verdadeiro dia
atual de descanso e adoração, pois nas negativas genéricas não têm como se provadas. Isso é uma
regra básica da Lógica e da Letórica.

Da mesma forma, não é quem alega que a Bíblia nunca afirma que bebês nascem pecadores que
devem provar que eles realmente não sejam pecadores ao nascerem. São os que alegam que o ser
humano já nasce pecador que devem provar isso. Não tem como ser diferente.

O VERBO "PECAR" E O USO DE ROMANOS 3:23

Alguns usam a declaração paulina de que "todos pecaram" (Rm 3:23) para tentar provar que todos
já nascem com o título de "pecadores", mas isso está totalmente errado.

Se Paulo quisesse dizer que todos já nascem automaticamente pecadores, ele poderia ter afirmado
isso facilmente. Ele poderia ter escrito escrito: "todos nasceram pecadores". Seria muito fácil redigir
isso em Grego. Mas a verdade é que ele não o fez. Antes, o que Paulo realmente escreveu é que
"todos pecaram".

Ora, o verbo "pecar" (em Português), assim como o verbo ἁμαρτάνω ("hamartano", em Grego) e o
verbo "to sin" (em Inglês), indica uma ação ou CONDUTA. É como "mentir", "roubar",
"embriagar-se" ou "matar". Assim como não se nasce "mentiroso", "ladrão", "ébrio" ou "assassino",
também não se nasce "pecador".

Para que alguém se torne "mentiroso", precisa praticar o ato de mentir. Para que alguém se torne um
"ladrão", precisa praticar o ato de roubar ou furtar. Para que alguém se torne um "ébrio", precisa se
embriagar. Para que alguém se torne um "assassino", precisa praticar o ato de matar. Por
conseguinte, para que alguém se torne um "pecador", precisa "pecar". Pode ser em pensamento.
Pode ser em palavra. Pode ser em ato. Mas precisa pecar. Precisa praticar o pecado.

Vejam o caso do "alcoólatra". Se uma pessoa for filha de pais alcoólatras, pode nascer com forte
tendência para esse mal. Entretanto, só se tornará efetivamente alcoólatra se der curso às tendências
herdadas e passar a fazer uso de bebidas alcoólicas. Isso é de uma obviedade pueril.

É absurdo que se considere que, ao nascer e mesmo antes de ter praticado o mal, um bebê já tenha
incorrido em pecado, pelo simples fato de existir!

Nesse ponto, alguém dirá: "Ah, mas ninguém está dizendo que o bebê já pecou. O que se está
dizendo é que o bebê é pecador." Ora, mas o argumento que se está a combater aqui e agora é o uso
inadequado de Romanos 3:23 como prova de que um bebê já nasça pecador.

Romanos 3:23 não diz que um bebê já nasce pecador. O que Romanos 3:23 declara é que todos já
pecaram, ou seja, já praticaram um pensamento ou uma ação que possa ser qualificada como
transgressão da lei.

Esse é um ponto tão básico que é de surpreender que alguém ainda afirme que Romanos 3:23 diga
que todos já nascem pecadores, quando as palavras "todos já nascem pecadores" simplesmente
NÃO constam desse verso. Mudar as palavras do texto de Paulo é algo muito grave e que nós não

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podemos admitir.

O mesmo se pode dizer do texto de Salmos 51:5, o qual já foi suficientemente abordado aqui no
grupo, mas cujo exame, ainda que ligeiro, é salutar refazer.

O SALMISTA DISSE QUE JÁ NASCEU PECADOR?

O salmista não escreveu "eu nasci pecador". O salmista sabia escrever isso. Ele poderia ter
escrito isso em Hebraico. Mas o fato é que ele não usou tais palavras. E nós não podemos forçá-lo a
dizer o que ele não quis escrever.

Já foi demonstrado, aqui mesmo no grupo, que a palavra hebraica traduzida por "nasci" (‫ – חול‬khul
– lê-se: "hul") é usada, em outros textos, no sentido de "dançar" (Jz 21:21 e 23), "tremer" (1Cr
16:30), "contorcer-se" (Is 13:8; e 26:17) e "ser formado" (Jó 15:7). No contexto do Salmo 51:5,
refere-se ao ato de o bebê ser contorcido e expelido para fora no ato do nascimento.

O que o verso diz literalmente é que o salmista "foi contorcido" na iniquidade. Mas na
iniquidade de quem? De sua mãe, é claro. Como provar isso? Pelo paralelismo da poesia
hebraica.

Que a "iniquidade" referida pelo salmista era de sua mãe, fica mais do que evidente pela segunda
parte do mesmíssimo verso: "e em pecado me concebeu minha mãe". A mãe do salmista o concebeu
em pecado. O pecado era dela, não do salmista.

Substitua-se a expressão "em pecado" por outras semelhantes e se verá que sua função sintática é a
de "adjunto adverbial", o qual modifica o sentido do verbo.

Exemplos:

"E em dores me concebeu minha mãe".

"Em tristeza me concebeu minha mãe".

"Em pobreza me concebeu minha mãe".

"Em alegria me concebeu minha mãe".

"Em pecado" é, pois, adjunto adverbial de MODO.

Modifica o sentido da ação descrita na oração.

E quem é que está praticando a ação? O sujeito ("minha mãe"), é claro.

O que o salmista está declarando literalmente é que ele foi contorcido dentro de uma pessoa que já
tinha cometido iniquidade. Obviamente que ele não afirma isso sem propósito algum, mas, sim,
para ressaltar que esse fato não ficou sem consequências.

Em função de sua mãe já ter pecado, o salmista nasceu com uma natureza propensa ao mal,
mas não nasceu pecador. Ele nasceu com uma natureza fragilizada diante da tentação. Ele nasceu

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com tendências inerentes ao mal.

Repito, com ênfase e tranquilidade: se o salmista quisesse afirmar que ele já nasceu pecador,
ele teria condições de redigir isso, mas não foi assim que ele escreveu. E ninguém tem
autoridade de fazer o salmista dizer o que ele não disse.

O salmista herdou a natureza pecaminosa de sua mãe porque é da natureza das coisas e do homem
que os filhos herdem as características gerais de seus progenitores. Mas seria injusto que Deus já
considerasse pecador um ser que sequer teve ainda a oportunidade de exercer o livre arbítrio. E não
se pode dar outro sentido à palavra "pecador".

Assim como "enganadOR" é aquele que pratica o engano, "estupradOR" é aquele que pratica o
estupro, "sequestradOR" é aquele que pratica o sequestro e "agressOR" é aquele que pratica a
agressão, "pecadOR" é aquele que pratica o pecado. Isso não tem como ser alterado. É o sentido
normal da palavra.

A DOUTRINA DE QUE JÁ SE NASCE COMO PECADOR

A ideia de que todos já nascem pecadores faz parte do "vinho de Babilônia". Foi por causa dessa
falsa doutrina que os católicos conceberam a prática do batismo infantil. Raciocinavam que, como
todos já nascem maculados pelo pecado original, só poderiam ser recebidos no Céu caso a culpa de
Adão fosse extirpada pelo batismo.

Crianças que morressem sem ter sido batizadas não poderiam ser recebidas na visão beatífica da
glória de Deus, por estarem manchadas com a culpa de Adão, o que levou os teólogos medievais a
formularem a hipótese do limbo, uma realidade na extremidade do Céu em que as almas das
criancinhas seriam deixadas em trevas eternas, até mesmo como um ato da misericórdia divina, para
que elas não tivessem que ser lançadas no tormento do inferno, o qual arde pelos séculos dos
séculos.

Também foi em função dessa falsa doutrina, "vinho de Babilônia", que os católicos conceberam que
a virgindade de Maria serviu para impedir que Jesus fosse maculado com o pecado original, de
modo que não nascesse pecador. E, para que Maria não transmitisse o pecado original para Jesus, a
doutrina católica formulou ainda o dogma da imaculada conceição, segundo a qual a graça de
Cristo agiu retroativamente para preservar Sua mãe da mancha do pecado original. Não tendo ela
nascido pecadora, não transmitiu essa mancha para seu filho.

Tudo isso é falsa doutrina de Babilônia, a Grande Meretriz, sem base alguma em textos inspirados
expressos, claros e conclusivos.

A verdade é que só há uma definição de pecado, que é transgressão da lei, algo que Ellen G. White
repete à exaustão em seus escritos. São várias as citações nesse sentido. Qualquer ensino que
sustente que o pecado seja algo atrelado à natureza e independente do exercício do livre arbítrio
viola as declarações inspiradas a respeito e constitui "vinho de Babilônia".

A SITUAÇÃO DOS QUE MORREM BEBÊS OU MUITO PEQUENOS

Uma interessante questão suscitada no grupo diz respeito à situação de um bebê ou de uma criança

Autor: Henderson H. L. Velten


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pequena que morre antes de atingir a idade da razão. Se ela não nasce pecadora, poderá herdar a
vida eterna sem depender do sacrifício expiatório de Cristo? E como é que ela poderá ser
recebida na glória sem ter aceitado na vida prática a mensagem do Evangelho e sem que tenha sido
submetida à prova do caráter?

Bem, a Revelação não dá todos os detalhes sobre o assunto, mas os que são fornecidos externam o
princípio geral (é "geral", o que significa que admite exceções) que rege as relações entre pais e
filhos menores no que diz respeito à sua responsabilidade diante de Deus: a vida (ou existência)
dos filhos menores (aqueles que ainda não chegaram à idade da razão) está atrelada à vida de
seus pais.

Foi justamente por essa razão que, quando Israel estava para invadir Canaã, Deus
determinou que fossem mortas todas as crianças do sexo masculino, juntamente com seus pais
(Nm 31:7-9 e 15-18; Jz 6:21; e 1Sm 15:2 e 3).

Também com base no mesmo princípio foi que a fé manifestada pelos hebreus maiores de idade,
sacrificando o cordeiro pascal e aplicando seu sangue na verga e nas ombreiras das portas, protegeu
os primogênitos de Israel, mesmo que fossem bebês ou crianças pequenas, ao passo que os
primogênitos do Egito foram destruídos (Êx 11:4-7; 12:29; e 13:14 e 15).

Acerca desse episódio, Ellen G. White extrai o seguinte conceito:

Filhos de pais que são crentes – sei que alguns têm perguntado se os filhinhos, mesmo de
pais que crêem, hão de ser salvos, pois não tiveram nenhuma prova de caráter, e todos
precisam ser provados, e seu caráter tem de ser determinado pela prova. É feita a pergunta:
“Como podem as criancinhas ter este teste e prova?” Respondo que a fé dos pais que
crêem protege os filhos, como sucedeu quando Deus enviou Seus juízos sobre os
primogênitos dos egípcios.

A palavra de Deus veio aos israelitas na servidão, para que reunissem seus filhos em suas
casas e assinalassem as ombreiras das portas de suas casas com o sangue de um cordeiro
imolado. Isto prefigurava a morte do Filho de Deus e a eficácia de Seu sangue, o qual foi
derramado pela salvação do pecador. Era um sinal de que a família aceitava a Cristo como
o Redentor prometido. Ela era protegida contra o poder do destruidor. Os pais
evidenciavam sua fé obedecendo implicitamente às instruções que lhes foram dadas, e a fé
dos pais protegia a eles mesmos e a seus filhos. Eles manifestavam sua fé em Jesus, o
grande Sacrifício, cujo sangue era prefigurado no cordeiro imolado. O anjo destruidor
passava por toda casa que continha esse sinal. Isto é um símbolo para mostrar que a fé dos
pais se estende a seus filhos e os protege do anjo destruidor. -- Mensagens Escolhidas,
vol. 3, pp. 313 e 314.

O que ocorre é que, até que os filhos atinjam a idade da razão, sua vida (ou existência) está atrelada
à de seus pais. É como se os filhos nascessem biologicamente, mas, até que venham a atingir a
idade da razão, permanecessem ligados quase que "umbilicalmente" a seus pais, pois deles são
dependentes.

Com base nesse raciocínio, pode-se afirmar que todos os filhos de pais descrentes, ou que se
perderem, também se perderão? Não, de modo algum. A Revelação não autoriza essa conclusão.
Não há informação suficiente a respeito.

Ellen G. White declara:

Eu disse ao irmão Matteson: “Não podemos dizer se todos os filhos de pais descrentes

Autor: Henderson H. L. Velten


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serão salvos, porque Deus não tornou conhecido o Seu propósito a respeito desse assunto, e
convém que o deixemos onde Deus o deixou e que nos demoremos em assuntos elucidados
em Sua Palavra.”

Este é um assunto muito delicado. Muitos pais descrentes dirigem seus filhos com maior
sabedoria do que muitos dos que pretendem ser filhos de Deus. Eles fazem grande esforço
por seus filhos, a fim de torná-los bondosos, corteses, altruístas, e para ensiná-los a
obedecer, e neste sentido os descrentes manifestam maior sabedoria do que os pais que
possuem a grande luz da verdade, mas cujas obras não correspondem absolutamente com
sua fé. -- Mensagens Escolhidas, vol. 3, p. 315.

Alguns poderão alegar: "Mas, nesse caso, Deus estaria responsabilizando os filhos muito pequenos
pelos pecados de seus pais." Não. É justamente o contrário.

Um bebê não consegue sobreviver sozinho. Embora tenha nascido biologicamente, é como se ainda
estivesse ligado "umbilicalmente" a seus pais. O mesmo se pode dizer de crianças pequenas, que
ainda não chegaram à idade da razão.

Enquanto menores, elas simplesmente não respondem moral e diretamente diante de Deus. Elas
respondem perante seus pais, que estão na posição de Deus em relação a elas:

Os pais têm direito ao amor e respeito em certo grau que a nenhuma outra pessoa é devido.
O próprio Deus, que pôs sobre eles a responsabilidade pelas almas confiadas aos seus
cuidados, ordenou que durante os primeiros anos da vida estejam os pais em lugar de
Deus em relação aos seus filhos. E aquele que rejeita a lícita autoridade de seus pais,
rejeita a autoridade de Deus. -- Patriarcas e Profetas, p. 217.

Os pais ficam em lugar de Deus para com os filhos, e terão que prestar contas no que se
refere à fidelidade do encargo que lhes foi confiado. – The Review and Herald, 14 de
Outubro de 1875. -- A Fé pela qual Eu Vivo, Meditação Matinal de 1959, p. 267.

Isso se dá porque bebês e crianças muito pequenas não têm como responder diretamente diante do
Tribunal de Deus por si mesmas.

Se os pais herdam a vida eterna, como regra [geral], seus filhos bem pequenos também a herdam,
mas não porque tenham se arrependido do pecado, que não chegaram a cometer, mas, sim, porque
sua vida está atrelada à de seus pais.

Bebês e crianças muito pequenas não serão chamadas a prestar contas no Juízo de pecados que elas
não praticaram.

Aliás, devem ser rememoradas aqui as palavras expressas e peremptórias do anjo: "antes que a luz
venha NÃO HÁ PECADO, pois não existe luz rejeitada" (Testemunhos para a Igreja, vol. 1, p.
116).

Alguém dirá: "Ah, mas eu acho que há, sim, alguma espécie de pecado." Bem, cada qual pode achar
o que bem quiser, mas o fato é que o anjo já declarou que, "antes que a luz venha, NÃO HÁ
PECADO". Sem luz, não há pecado. Isso é o que diz a Revelação.

As crianças muito pequenas, que não têm ainda como discernir entre claramente entre o bem e o
mal, não incorrem em pecado, pois não são capazes de entender como devem ou não agir. Por isso é
que o destino delas, em regra, está atrelado ao de seus pais.

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ENTENDENDO AS PALAVRAS DE JESUS SOBRE AS CRIANÇAS

Diante disso, é um equívoco usar as palavras de Jesus sobre as crianças no sentido de que toda
criança, apenas por ser criança, já tem entrada automática no Reino do Céu.

De fato, Jesus declarou: "Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a Mim, porque dos tais é o
reino dos céus" (Mt 19:14).

Mas em que contexto foi que Jesus disse essa palavras? Ellen G. White esclarece:

Cristo abençoava as crianças conduzidas a Ele por MÃES FIÉIS. Ele fará isto agora se
as mães cumprirem seu dever para com os seus filhos, ensinando-os e educando-os em
obediência e submissão. Então eles suportarão a prova e serão obedientes à vontade de
Deus, pois os pais estão em lugar de Deus para seus filhos. -- Mensagens Escolhidas, vol.
3, p. 314.

O comentário de Ellen G. White sobre aquele evento revela que as palavras de Jesus decorreram
do fato de Ele conhecer as mães que conduziam as crianças a Ele. Tendo em vista que o destino
dos filhos, como regra geral, está lidado ao de seus pais, Jesus pôde declarar que daquelas crianças
era o Reino dos Céus.

Como já afirmei mais de uma vez, enquanto menores, as crianças não respondem diretamente diante
de Deus. Elas respondem diante de seus pais, que estão na posição de Deus em relação a elas. Como
regra, se os pais se salvam, seus filhos pequenos também recebem a vida eterna, por estarem ligadas
a eles.

E, nesse sentido, acabam por ser beneficiadas pelo sacrifício de Cristo. Se a fé de seus pais as
protege, então, por via indireta, pode-se dizer que os bebês e as crianças muito pequenas só
terão entrada no Reino da Glória em função do sacrifício vicário de Cristo. Se Jesus não
tivesse morrido, todos os seres humanos pereceriam, inclusive as crianças, ainda que não tivessem
que responder por si mesmas diante do Tribunal Celeste.

Mas esse é apenas um conceito geral, que de modo algum permite saber antecipadamente como
Deus lidará com todos os casos. É porque pode acontecer de uma criança pequena falecer quando os
pais não eram convertidos ou, já sendo cristãos, não tenham sido suficientemente cuidadosos na
educação de seu pequenino, permitindo que ele desenvolvesse uma disposição irritadiça e muito
caprichosa, vindo depois esses pais a se converterem. Nesse caso, talvez Deus não possa introduzir
essa criança no Reino, já que, por culpa dos pais, ela desenvolveu traços iniciais de caráter que não
terão como ser removidos por intervenção miraculosa.

Talvez, nesse caso, a criança seja deixada no esquecimento, ou seja, simplesmente não venha a ser
ressuscitada, tal como Deus fará com os escravos, a quem Ele não considera culpados, pois não
tiveram qualquer oportunidade de desenvolver um caráter correto, já que foram tratados por seus
senhores como verdadeiros animais irracionais.

Muitos escravos não ressuscitarão para comparecer perante o Grande Trono Branco do final dos mil
anos porque Deus não tem como responsabilizá-los pelos traços objetáveis de caráter que
desenvolveram. Eles não responderão por pecado algum e, por isso, não serão lançados no lago de
fogo e enxofre para pagar por qualquer delito. Deus simplesmente os tratará como se nunca
tivessem existido. Ver Primeiros Escritos, p. 276.

Autor: Henderson H. L. Velten


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Não obstante, devo esclarecer, por honestidade intelectual, que a Revelação nada diz a esse respeito
acerca das crianças. Apenas suscitei uma hipótese, que não tenho como provar, nem na qual devo
insistir, pois não tenho autorização divina para isso.

Quanto à situação das crianças cujos pais se perdem, a Revelação silencia. O princípio geral
indicaria que elas não herdarão a vida eterna, à semelhança dos filhos dos cananeus, que foram
destruídos com seus pais, mas Ellen G. White afirma que não há luz plena sobre esse assunto.
Portanto, devo tomar todo o cuidado aqui.

Além disso, em visão celestial, Ellen G. White viu crianças que não tinham mães e que eram
levadas pelos anjos até a árvore da vida:

Quando os pequenos se levantam imortais de seus berços no pó, imediatamente voam até os
braços de suas mães. Reúnem-se outra vez, para nunca mais se separarem. Todavia, muitos
destes pequenos não têm ali suas mães. Esperávamos ouvir as canções de triunfo destas
mães, porém em vão. Os anjos recebem os pequenos órfãos e os conduzem à árvore da
vida. – The Youth’s Instructor, 1 de Abril de 1858. -- A Verdade sobre os Anjos, p. 279.

Mas a situação por trás dessas crianças não é clara, já que Ellen G. White só afirma que não viu
suas mães ali, nada informando sobre o que aconteceu com seus pais.

Poderia ser o caso de que ambos os pais tivessem se perdido, mas que os pequeninos tivessem sido
criados por outras pessoas, almas fieis e dedicadas a cuidar de muitas crianças ao mesmo tempo.
Poderia ser que as mães tivessem se perdido, mas os pais, não. O quadro realmente não é claro e
especular não ajuda em nada. Por isso, não devo avançar além desse ponto.

O que importa é que as crianças menores não respondem por si mesmas, diante de Deus, até
atingirem a idade da razão.

Aliás, isso ajuda a entender por que Jesus não seria o Salvador do mundo caso Herodes tivesse
conseguido destruí-Lo quando mandou matar as crianças de Belém e dos arredores. Pelo conceito
da Igreja Católica e do Novo Adventismo, isso fica incongruente.

Se Jesus, diferentemente dos demais seres humanos, não nasceu com "natureza pecaminosa", que os
católicos consideram a mesma coisa que o "pecado original", apesar de a Bíblia nunca dizer isso,
Sua eventual morte por Herodes não teria sido por pecado próprio, de modo que já seria suficiente
para salvar o mundo. Mas isso não está certo. Satanás sabia que, se tivesse matado a Jesus ali, o
plano de salvação teria sido frustrado.

É, enquanto menor, a existência de Jesus estava a ligada à de seus pais. Ele precisaria crescer,
atingir a idade da razão, tornar-Se independente e ser fortemente tentado, para ter Seu caráter
cabalmente formado e plenamente testado. Somente depois disso é que Sua morte teria valor
substituinte.

O profeta já tinha declarado:

Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um
filho e Lhe chamará Emanuel. Ele comerá manteiga e mel quando souber desprezar o
mal e escolher o bem. Na verdade, antes que Este menino saiba desprezar o mal e
escolher o bem, será desamparada a terra ante cujos dois reis tu tremes de medo. (Is 7:14 e
15)

Autor: Henderson H. L. Velten


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Por sua vez, Hebreus 5:9 diz que Jesus foi "aperfeiçoado". Ainda que não tivesse incorrido em
pecado desde infância, Jesus teve que desenvolver um caráter perfeito pela experiência. Ele teve
que ser tentado como um adulto é tentado, para que recebesse o título de "justo" e Sua morte tivesse
eficácia salvadora.

O PECADO É A HERANÇA DE ADÃO

Foi dito no grupo que há outros textos do Espírito de Profecia que expressam a ideia de que
herdamos de Adão o pecado e a morte. E há mesmo. Se quiserem, eu mesmo os posto aqui. Mas
o equívoco em que muitos incorrem está em extrair do texto mais do que ele realmente está a
oferecer. Ora, que herdamos o pecado e a morte de Adão, não há dúvida alguma.

Pode-se dizer, sim, que os seres são transgressores ou pecadores em função da Queda de Adão. A
condição de pecadores e mesmo a sentença de morte constituem uma herança que todo ser humano
recebe do primeiro homem. Mas é preciso entender COMO essa transmissão se processa.

O ser humano não nasce já pecador, pois pecador é o que pratica o pecado, que é a transgressão da
lei.

Um bebê não transgride a lei pelo simples fato de existir. Mas nasce com uma natureza pecaminosa,
que o torna frágil diante das influências negativas que o rodeiam. Ao atingir a idade da razão e optar
pelo mal, recebe o título de "pecador".

O bebê herdou essa condição de Adão? Sim, claro. É óbvio que sim. Se ele não tivesse nascido com
uma natureza caída ou pecaminosa, é possível que seu futuro fosse diferente. Mas, tecnicamente, ele
só passa a ser considerado "pecador" diante do Céu a partir do momento em que decide fazer o mal
tendo suficiente consciência de que deveria praticar o bem.

Como somente Deus sonda os corações, apenas Ele pode determinar o exato momento em que o ser
humano atinge a idade da razão, até porque o amadurecimento constitui um processo bastante
gradual.

O que realmente importa é que a Bíblia e Ellen G. White nunca afirmam que os seres humanos já
nascem pecadores, pois isso estaria errado, consistindo numa conclusão ligada à falsa doutrina do
pecado original.

Aliás, que houve um "pecado original", NO SENTIDO DE um primeiro pecado praticado


pelo pai da raça humana, é algo de que ninguém discorda. Foi aquele primeiro pecado que
perverteu a natureza de Adão, tornando-a caída, a qual ele transmitiu aos seus filhos. E essa
natureza caída favorece a prática do pecado, mas ela, em si mesma, não é pecado. Somente um
profeta poderia dizer que a natureza pecaminosa é pecado, mas nenhum profeta jamais disse
isso. E pastor, teólogo ou intérprete algum tem o direito de afirmá-lo em nome dos autores
inspirados.

Não há, nem na Bíblia, nem no Espírito de Profecia, linha alguma que sustente a falsa doutrina de
que o primeiro pecado de Adão é transmitido a todos os seus descendentes, tornando-os
automaticamente, desde o ventre, seres pecadores. Essa doutrina é "vinho de Babilônia".

Autor: Henderson H. L. Velten


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Observem este conhecido texto de Ellen G. White:

Sem o consentimento próprio, ninguém poderá ser vencido por Satanás. O tentador não
tem poder para governar a vontade ou forçar a alma a PECAR. Pode angustiar, mas não
contaminar. Pode causar agonia, mas não o aviltamento. -- O Grande Conflito, p. 510.

Se até o tentador não pode forçar a alma a pecar, o ser humano já vai estar em pecado sem
fazer nada, apenas por existir? Isso contraria totalmente os mais básicos princípios de lógica e de
justiça das Escrituras.

Por outro lado, é claro que, no ser humano, o pecado é natural, pois é uma consequência da natureza
pecaminosa. Mas o pecado não se concretiza enquanto o ser humano não exerce sua vontade no
sentido de transgredir a Lei de Deus.

Ensinar que um ser humano inerte, sem violar nenhuma ordem divina, já esteja em pecado pelo
simples fato de possuir uma natureza pecaminosa é algo que não encontra amparo em linha alguma
da Bíblia ou do Espírito de Profecia. O ensino de que um bebê já é pecador, mesmo sem praticar ato
consciente algum contrário à vontade de Deus, integra o "vinho da Babilônia Mística".

Esse assunto já tinha sido expressa e claramente ensinado por Tiago, em sua epístola. Vejam o que
diz Tiago 1:13-15:

Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado
pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua
própria concupiscência. Depois, HAVENDO A CONCUPISCÊNCIA CONCEBIDO, dá
à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.

Primeiro a concupiscência deve agir, atraindo o homem para o que é o mal. Tendo o homem cedido
à conscupiscência, dá à luz o pecado. Essa é a sequência ensinada pelo autor inspirado, alguém para
quem Jesus apareceu pessoalmente após Sua ressurreição.

E qual é o problema dos defensores da doutrina do pecado original e de suas variações? O problema
é que, contrariando a autoridade de Tiago, eles ensinam que o pecado já existe no homem
antes que a concupiscência o dê à luz. Inverte-se a sequência indicada no texto inspirado. Não
poderia existir nada mais falso.

Autor: Henderson H. L. Velten


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