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História dos Descobrimentos e da Expansão

Portuguesa
Apontamentos – 2º Semestre – 2º Ano – 2012/2013

Mariana Iannucci

0
Índice

Resumo do Livro do historiador Disney:

1. A passagem para a Ásia Marítima


a) A primeira viagem de Vasco da Gama à Índia
b) A introdução ao “Outro”
c) O sonho manuelino
d) Albuquerque
e) A consolidação pós-Albuquerque
f) A escalada da diplomacia
2. Um Império no Oriente
a) O Estado da Índia
b) A Coroa e o comércio da pimenta
c) A entrada no comércio interportuário
d) A Carreira da índia
e) Um governo à distância

Resumo do artigo de André Lopes - O CONFLITO ENTRE O ISLÃO E O OCIDENTE: DA ASCENSÃO DOS ÁRABES AO OCASO OTOMANO

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Wikipédia – Império Português

Quadros Cronológicos

Resumo do capítulo IV do terceiro volume de Jaime Cortesão

1
Apontamentos do caderno

Resumo dos capítulos IV e V d’ “A construção do Brasil” de Jorge Couto

Resumo de “Os portugueses em Marrocos” de Farinha

2
Resumo do Livro do historiador Disney

1. A passagem para a Ásia Marítima


a) A primeira viagem de Vasco da Gama à Índia

Depois de receber os relatos de Cão, Dias e, provavelmente, Covilhã, entre o final da década de 1480 e o início dade 1490, D. João II soube que
estava muito próximo de conseguir ligar Portugal, através do mar, ao mundo comercial da Ásia das monções.

D. João II morreu em 1495 e foi o seu sucessor, D. Manuel I, quem patrocinou a expedição lançada dois anos depois. Vasco da Gama ia ao
comando. Tratava-se de um nobre ao serviço do rei, sem qualquer distinção social. Sabemos relativamente pouco das suas origens e início de
carreira1 . Sabe-se que os pais eram oriundos de Sines, uma área há muito associada à Ordem de Santiago e o próprio Vasco da Gama esteve
desde cedo identificado com a ordem. Terá servido durante algum tempo no Norte de África. Não há nenhuma prova que possuísse
particulares competências ou experiência marítima. Também não é seguro se Vasco da Gama foi escolhido por D. João II ou D. Manuel I para
liderar a expedição à Índia; nem é claro porque é uma figura tão obscura, provavelmente com vinte e poucos anos, recebeu este comando tão
importante. Talvez fosse simplesmente consequência de disputas políticas entre facções rivais na corte.2

A expedição estava bem financiada e foi cuidadosamente preparada, contando com Bartolomeu Dias entre os consultores navais. Dois dos
quatro navios fornecidos – as naus São Gabriel capitaneada pelo próprio Vasco da Gama e a São Rafael – foram construídas por encomenda a
custos consideráveis. Os outros dois eram simplesmente uma caravela de trabalho algarvia chamada Berrio e um navio de carga. Vasco da
Gama pôde escolher os capitães e seleccionou o irmão, Paulo, para a São Rafael e Nicolau Coelho para Berrio, sendo as tripulações escolhidas a
dedo e invulgarmente bem pagas. Pêro de Alenquer, o antigo piloto de Dias, navegou com a nau-almirante. A expedição levantou âncora e
deixou o Tejo a 8 de Julho de 1497.

1
Vide: SUBRAHMANYAM (1997); BOUCHON (1998); FONSECA (1998).
2
SUBRAHMANYAM (1997).

3
Na primeira e longa parte da viagem, Vasco da Gama confrontar-se-ia com a questão da melhor aproximação ao Cabo da Boa Esperança.
Decidiu navegar pela rota da costa apenas até à Serra Leoa; então numa arrojada quebra das convenções, dirigiu-se para mar aberto na
direcção oés-sudoeste e assim navegou durante três meses sem nunca avistar terra. A fonte mais importante da viagem – um famoso roteiro,
ou diário, escrito por alguém a bordo da São Rafael, normalmente identificado como Álvaro Velho – não esclarece qual a rota que a armada
seguiu. Os ventos predominantes levaram-na, provavelmente, até algumas centenas de quilómetros da costa do Brasil, antes de Vasco da
Gama inflectir numa rota mais para sul.

Chegou por fim à baía de Santa Helena no Cabo Ocidental da África. A expedição parou durante alguns dias, procedeu a algumas reparações e
entrou em contacto com os Khoisans locais. Ao deixar esta baía, Vasco da Gama começou a segunda etapa da sua épica viagem, durante a qual
voltou a adoptar a navegação costeira. Ainda teve de descer ao longo da costa sudoeste de África durante quase mais duzentos quilómetros
antes de dobrar, por fim, o Cabo da Boa Esperança.3 Depois navegou ao longo das costas sul e sudeste do continente, realizando
desembarques periódicos à medida que prosseguia. A primeira ida a terra foi na baía de Mossel. Aí teve um breve encontro com os Khoikhois.
O último padrão teve de Dias foi passado cerca de dez dias depois de deixarem a baía de Mossel e a expedição entrou no desconhecido.

A 10 de Janeiro de 1498, chegou à foz de um rio, provavelmente o Inharrime no sul de Moçambique. Aí estabeleceu contacto com o povo
Banto. Ao contrário dos Khoikhois, os Bantos praticavam a agricultura e tinham um sistema de diferenciação social. Seis semanas depois,
atingiu o estuário do rio Quelimane. Uma semana depois a frota chegou a Moçambique, a mais a sul das cidades suaíli da costa leste africana.

Quando chegaram a Moçambique os Portugueses perceberam que tinham passado para lá da linha divisória fundamental: tinham atravessado
a última extensão de mar desconhecido que separava o mundo atlântico das redes mercantis do Oceano Índico. A partir daí a armada podia
aproveitar os conhecimentos náuticos dos marinheiros asiáticos, acumulados ao longo de séculos, para prosseguir para a Índia.

3
PARRY (1974).

4
A terceira etapa da viagem – de Moçambique para
Calecut – levou menos de três meses, com quase
metade deste tempo gasto em paragens em
Moçambique, Mombaça e Melinde. Vasco da Gama
contratou em Melinde um piloto local que o
pudesse guiar através do Mar Arábico, repleto de
recifes e ilhas.

Os navios chegaram à costa de Kerala, perto de


Calecut, a 18 de Maio de 1498. A expedição
permaneceu em Calecut durante cerca de três
meses. Coligiu informações, negociou com o
samorim, ou príncipe dirigente, e conseguiu
arranjar um pequeno carregamento de especiarias,
antes de partir de regresso a Portugal em Agosto de
1498. Os navios passaram três meses a tentar voltar à
África oriental através do Mar Arábico, apanhados
no meio de sucessivas calmarias e tempestades.
Este foi o segmento mais difícil de toda a viagem, com as tripulações tão afectadas pelo escorbuto que haveria apenas sete ou oito homens a
trabalhar em cada navio. Numa breve paragem em Melinde, a São Rafael foi abandonada e queimada, para que os navios restantes pudessem
ser adequadamente tripulados. Em Março de 1499, fustigados por ventos frios, dobraram o Cabo e começaram a longa viagem Oceano
Atlântico acima. Chegaram à Terceira, nos Açores, onde faleceu Paulo da Gama. A expedição entrou no Tejo, abordo do São Gabriel, a 29 de
Agosto de 1499, e foi recebido em êxtase.

Vasco da Gama levou mais de dez meses a ir de Lisboa a Calecut e cerca de onze meses a regressar. Reduzia assim à insignificância todas as
outras viagens anteriores da época das Descobertas.

5
6
b) A introdução ao “Outro”

Na viagem de 1497-9 Vasco da Gama não foi apenas


o almirante do rei, mas também o seu embaixador,
estando encarregue de representar o monarca junto
dos governantes distantes. Esperava-se que coligisse
tanta informação quanto pudesse sobre o
desconhecido.

Vasco da Gama e os seus homens socorreram-se, em


parte, da observação e, em parte, de uma Índia
imaginada, retirada das lendas medievais, para tentar
compreender e determinar a forma correcta de
comportamento da sociedade indiana que
encontraram em Kerala. Como Rubiés notou
recentemente, as expectativas, os desejos e as
“mediações” ajudaram a definir o modo como os
portugueses interpretaram o que viram.4 Os erros de
compreensão e julgamento eram por isso inevitáveis.

Vasco da Gama tinha a bordo várias pessoas fluentes


em árabe para servirem de intérpretes nesta região.

4
RUBIÉS (2000); FONSECA (1998).

7
Foi apenas à chegada à costa suaíli que Vasco da Gama começou a desempenhar seriamente o papel de embaixador. Usou os intérpretes
árabes para comunicar e negociar com os governantes das cidades portuárias que visitava. Foram trocados presentes e feitos reféns; mas
Vasco da Gama manteve-se cautelosamente a bordo da sua nau-almirante. Em Moçambique e em Mombaça as relações estavam tensas: os
portugueses foram tratados como intrusos cristãos que não eram bem-vindos, ou pelo menos foi isso que concluíram.

Em Melinde o sultão deu genuínas boas vindas aos portugueses porque os viu como aliados providenciais contra uma Mombaça hostil. Enviou
um embaixador a Lisboa com Vasco da Gama e desenvolveram-se relações de amizade entre Melinde e Portugal que duraram longos anos.

Vasco da Gama procurou apresentar-se em Calecut, acima de tudo, como embaixador de D. Manuel. Para desempenhar bem este papel não
tinha outra alternativa senão deixar a segurança da nau-almirante e ir a terra.5 A 28 de Maio de 1498 foi-lhe concedida uma audiência com o
samorim, onde fez uma descrição deliberadamente exagerada da riqueza e poder de D. Manuel. Concluiu a descrição assegurando ao anfitrião
que D. Manuel o via como “amigo” e, na verdade, como “irmão”. Infelizmente Vasco da Gama não tinha trazido consigo nenhum dos ricos
presentes que o costume local exigia. Tentou, à última da hora, improvisar um e os resultados foram embaraçosamente desadequados.6 Ainda
assim os portugueses compreenderam que o samorim tinha concordado em enviar um embaixador a Portugal com eles.

Em audiência subsequente, de forma algo casual, foi concedida permissão à expedição para comerciar. Mas os portugueses, com poucos bens
notáveis para oferecer e nenhuma experiência nas delicadezas da cultura de bazar, depressa consideraram frustrante fazer negócio em
Calecut. As autoridades locais também terão suspeitado que Vasco da Gama estaria a tentar evadir-se aos impostos aduaneiros e negaram-lhe
a audiência que então pediu7. Vasco da Gama, em resposta, fez reféns; quando acabou por partir para Portugal, no final de Agosto de 1498,
sem o embaixador que julgava prometido, levou alguns destes reféns. Como embaixada, a expedição não foi um grande sucesso.

Ao contrário do que acontecera com os Khoisans, os Khoikhois e alguns Bantos, a comunicação verbal foi possível, desde o início, com as
pessoas de Calecut. Mesmo assim, a diplomacia de Vasco da Gama estava ainda deveras fragilizada por dificuldades linguísticas, já que a língua

5
SUBRAHMANYAM (1997)
6
BIEDERMANN (2005).
7
SUBRAHMANYAM (1997)

8
da corte do samorim era o malaiala. Era necessário traduzir para trás e para diante entre o português, o árabe e o malaiala, e usar os serviços
dos intérpretes de árabe-malaiala locais em quem os portugueses não confiavam.

Vasco da Gama estava sempre em desvantagem pela sua não familiaridade com os procedimentos da corte do samorim, embora não fosse tão
insensível aos costumes locais como por vezes é assumido.

Durante os três meses em Calecut, Vasco da Gama foi capaz de coligir alguma informação comercial relativamente precisa e fiável; a
compreensão das paisagens políticas e culturais locais manteve-se confusa. Alguma desta confusão advinha da incompreensão fundamental da
religião hindu; pensaram que os hindus seriam uma espécie de cristãos orientais. Só numa segunda expedição, em 1500-1, é que os
portugueses perceberam que os indianos não eram cristãos, muçulmanos ou judeus. E portanto catalogaram-nos simplesmente como gentios.

Esta incompreensão profunda tem espantado alguns historiadores, pois o facto de o Indostão ter uma “civilização idólatra” já era bem
conhecido em círculos informados no Ocidente através de relatos de viajantes como Marco Pólo e Niccolò da Conti. Além disso o relatório
enviado do Cairo por Pêro da Covilhã, se chegou a Lisboa, dificilmente falharia em alertar as autoridades portuguesas para a predominância da
“idolatria”. Uma explicação possível é que Vasco da Gama e os seus homens tenham sido induzidos em erro, deliberadamente ou não, por
alguns dos primeiros contactos do leste africano ou da Ásia.8

c) O sonho manuelino

Em Março de 1500, cerca de seis meses após o regresso de Vasco da Gama, D. Manuel enviou para a Índia uma segunda frota, muito maior,
comandada por Pedro Álvares Cabral. Uma terceira frota partiu em 1501 e uma quarta, mais uma vez comandada por Vasco da Gama, em
1502. Em breve se estabelecia um padrão, com viagens anuais entre Portugal e a Índia a terem lugar com quase tanta regularidade como as
monções. O conhecimento do Oceano Índico ocidental cresceu rapidamente, como revela o mapa de Cantino de Outubro de 1502, que ilustra

8
THOMAZ (1985).

9
as costas da África oriental e do sudoeste da Índia com notável precisão. Mesmo assim, nessa altura, muito permanecia desconhecido: a linha
de costa noroeste do Oceano Índico e praticamente toda a Ásia a leste de Kerala aparecem no mapa de Cantino mais de acordo com a
cosmografia de Ptolomeu do que com a realidade geográfica.

D. Manuel estava convencido de que a viagem de Vasco da Gama fornecera duas grandes oportunidades a Portugal. A primeira seria
redireccionar, das rotas terrestres para a rota do Cabo, o comércio de especiarias entre a Ásia e a Europa sob o controlo monopolista
português: uma mudança que lhe traria lucros substanciais.

A segunda oportunidade seria estender a luta contra o Islão do Médio Oriente com o desenvolvimento de um enorme movimento que o
atacasse a leste. Este objectivo era mais controverso e um número significativo de elementos na corte não o aprovava; mas era
entusiasticamente defendido pelo próprio D. Manuel.

Encorajado pelos elementos pró-cruzada que o rodeavam, D. Manuel já procurava vigorosamente a neo-Reconquista em Marrocos. Sonhava
em vencer o Egipto mameluco, recuperar para a Cristandade os lugares santos da Palestina e tornar-se imperador de Jerusalém como prelúdio
da segunda vinda de Cristo.9 Vasco da Gama dissera que a Índia era maioritariamente habitada por cristãos e esperava-se que também eles
pudessem ser alistados na causa da cruzada. No rescaldo da viagem de Vasco da Gama, o sonho de construção de uma grande aliança cristã
contra o Islão parecia próximo de se realizar.10

D. Manuel esperava poder financiar a aventura de cruzada com os lucros ganhos no comércio da pimenta e das especiarias. 11 Mesmo depois de
Cabral relatar, em 1501, que a maior parte dos indianos não eram cristãos, o rei e os seus apoiantes pró-cruzada, talvez activamente
encorajados pelos mercadores florentinos e genoveses com sede em Lisboa, hostis aos interesses comerciais venezianos, continuaram
determinados a estender a campanha militar cristã para o Oceano Índico. Tudo isto se passava apesar das grandes reservas da maioria do
conselho real.

9
THOMAZ (1990).
10
AUBIN (1976).
11
THOMAS (1994).

10
A Etiópia cristã, que os reis portugueses há muito imaginavam ser um aliado potente contra o Islão, mostrou ter pouca capacidade para
participar numa cruzada. E só em 1520 é que uma embaixada oficial, encabeçada por Rodrigo de Lima, chegou finalmente à corte deste
distante reino montanhoso.12

Pouco tempo depois do regresso de Cabral a Lisboa, em 1501, D. Manuel autoproclama-se “senhor da conquista, navegação e comércio da
Etiópia, Pérsia e Índia”13. Neste contexto “Etiópia” significava toda a África Oriental e do Sul, enquanto “Índia” incluía toda a Ásia a leste do Mar
Arábico. Ao declarar-se senhor da “conquista” de uma região tão vasta D. Manuel não pretendia ser o seu governante efectivo, mas um senhor
ou suserano imperial distante e benigno.14 Em termos de princípios seguia um precedente instituído por D. João II, que quinze anos antes tinha
adoptado o título de “senhor da Guiné”.

Da mesma maneira, a pretensão de senhorio de D. Manuel a leste do Cabo era um meio de afastar possíveis rivais europeus. Em termos de
direito internacional fundamentava-se em sucessivas concessões papais à Coroa portuguesa e em acordos luso-castelhanos, em particular no
tratado de Tordesilhas.

De acordo com esta linha de pensamento, durante os primeiros sete anos de presença no Oceano Índico os Portugueses não adquiriram
qualquer possessão territorial. Mesmo assim, desde o início, a tensão com os mercadores muçulmanos foi aguda e logo depois do regresso de
Vasco da Gama decidiu-se usar a força contra eles e os seus navios. Em 1500 Cabral recebeu instruções para bloquear o Mar Vermelho e
encetar operações corsárias. Foi-lhe ordenado que estabelecesse uma feitoria em solo indiano, o que fez em Calecut. Três meses depois, uma
multidão em fúria, encorajada por mercadores muçulmanos do Médio Oriente, atacou a feitoria e massacrou os ocupantes. Cabral respondeu
com o bombardeamento de Calecut e mudou as operações comerciais para Cochim e Cananor. Calecut foi novamente bombardeada por Vasco
da Gama no seu regresso, em 1502, enquanto Cochim, que recebeu bem os portugueses, rapidamente se transformou no principal aliado
indiano e no lugar de uma nova feitoria.

12
ALBUQUERQUE.
13
BARROS (1945).
14
THOMAZ (1990).

11
As hostilidades entre cristãos e o império otomano tinham sido reacendidas no Mediterrâneo oriental. A potência cristã mais envolvida era
Veneza, que apelou à ajuda da Europa ocidental. Significativamente, foi D. Manuel quem respondeu de forma mais positiva, ao mandar uma
frota para as águas da Grécia, tendo-lhe dado instruções de cooperação com os Venezianos, em 1501.

A decisão era outra indicação do compromisso de Portugal manuelino com a guerra global contra o Islão e demonstrava a vontade em
participar em múltiplas e simultâneas frentes.15

No Cairo o sultão mameluco estava tão preocupado que ameaçou destruir os locais sagrados cristãos na Palestina, se os portugueses
persistissem com as políticas hostis.

D. Manuel decidiu que era urgente melhorar a presença de Portugal no Oceano Índico e, em 1505, enviou Francisco de Almeida com uma
armada de vinte navios e o pomposo título de vice-rei. Ordenou a Almeida que construísse fortalezas em Kerala e na África oriental, bem como
na ilha de Socotorá. Devia também fazer uma viagem de reconhecimento ao Ceilão e a Malaca e, se possível, estabelecer fortes em ambos.

Em 1505-6 construiu fortalezas em Quíloa, Angediva, Cochim e Cananor; mas depois o seu compromisso com o programa manuelino terá
enfraquecido. Enviou o filho, Lourenço de Almeida, a Ceilão, em 1507, mas a visita não teve seguimento; nem tão pouco realizou o
reconhecimento de Malaca que D. Manuel desejava. Em vez disso concentrou-se na costa ocidental da Índia, onde acabou por determinar que
a verdadeira central de energia não estava em Kerala mas no Guzerate. Concluiu igualmente que os comerciantes guzerates controlavam muito
mais negócios que os parceiros pardeses muçulmanos. E tinha razão.

Almeida foi ficando cada vez mais alarmado com as notícias que diziam que al-Ashraf Qansuh al-Ghawri, o sultão mameluco do Egipto, estava a
construir uma frota no Suez para, com ajuda dos Guzerates, atacar e expulsar os portugueses do Oceano Índico. Em grande medida foi a
preocupação com a ameaça desta aliança muçulmana que levou o vice-rei a abster-se de gastar mais dos seus limitados recursos em fortalezas
isoladas ou em expedições a Malaca.

15
GÓIS (1790); WEINSTEIN (1960); THOMAZ (1990).

12
Em 1508 a armada mameluca navegou para o Oceano Índico ocidental e infligiu pesadas perdas a uma força portuguesa ao largo de Chau,
matando o filho do vice-rei, Lourenço. Mas o vice-rei desforrou-se, em 1509, com a derrota das frotas mamelucas e guzerates numa batalha
decisiva ao largo de Diu D. Manuel recebeu a vitória com uma indicação de que Deus aprovava a sua política antimuçulmana e como um passo
adiante na reocupação cristã de Jerusalém.16 O que a vitória realmente fez foi lançar as bazes para uma presença portuguesa de longa duração
na Ásia marítima.

d) Albuquerque

O substituto de Almeida foi Afonso de Albuquerque, um nobre de serviço de meia-idade com grande experiência obtida nas guerras de finais
do século XV em Castela e em Marrocos.

Na corte era associado à facção que favorecia as políticas anti-islâmicas de D. Manuel e partilhava a convicção do rei de que o domínio
mameluco sobre a Terra Santa estava destinado a acabar em breve. Albuquerque já realizara uma viagem anterior à Índia, em 1503-4, após o
que concluíra que os portugueses teriam de adquirir uma rede extensa de bases permanentes para assegurar uma presença duradoura e
estável.

Albuquerque exerceu funções, com o título de governador, entre 1509 e o fim de 1515. Durante esse período supervisionou um programa
expansionista audaz, com uma rudeza controlada e apenas igualada pela notável visão estratégica. O programa envolvia a tomada e
fortificação de várias possessões territoriais longínquas que controlavam rotas comerciais chave. E se inicialmente se inscrevia na aventura
cruzadista de D. Manuel concentrada em Jerusalém, aos poucos foi fazendo nascer os nódulos de um império marítimo português na Ásia com
uma lógica e um ritmo próprios. No final do mandato de Albuquerque já emergira o esboço geral do que mais tarde ficaria conhecido como
Estado da Índia.

16
SUBRAHMANYAM (1993).

13
Albuquerque fez a primeira jogada decisiva em Fevereiro de 1510 com o ataque e ocupação de Goa, na costa ocidental central da Índia.
Acreditava que Goa tinha os atributos necessários para servir como base marítima principal e tornou-se, efectivamente, no quartel-general de
Portugal na Ásia durante os 450 anos seguintes. A escolha de Goa para este papel ficará a dever-se a vários factores: em primeiro lugar,
ocupava uma boa posição defensiva com um porto mais interior e abrigado; em segundo lugar estava convenientemente localizada entre
Kerala e o Guzerate; e, em terceiro lugar, era um porto de entrada já bem estabelecido de cavalos importados da Arábia e do Irão para o sul da
Índia, comércio que Albuquerque desejava explorar. Goa era uma possessão dos sultões muçulmanos do Bijapur desde 1471, mas antes fora
um principado de Bisnaga. A população era maioritariamente hindu.

Albuquerque estava entusiasmado com o que Goa tinha para oferecer e nunca hesitou na determinação em retê-la para Portugal. Fixou
residência pessoal no palácio do sultão e deleitou-se com os seus ornamentos e mobiliário.17

No entanto, antes de conseguir consolidar o controlo, foi esmagado por um imenso contra-ataque de Bijapur. Cercados, os portugueses
retiraram-se para os navios no porto, onde passaram grandes privações antes de serem forçados a abandonar Goa, em Agosto. Mas a retirada
foi apenas táctica e três meses depois Albuquerque regressou com reforços. A 25 de Novembro de 1510 retomou a cidade, com a ajuda de
Timoja e outros aliados hindus. Desta vez autorizou o saque e não deu quartel aos habitantes muçulmanos que considerava traidores. Foram
espoliados e muitos foram queimados vivos nas mesquitas ou massacrados enquanto fugiam.

Depois da segunda conquista Albuquerque instituiu uma política de estabelecimento de veteranos portugueses como casados e encorajou-os a
tomarem mulheres locais, incluindo antigas muçulmanas, como esposas. Esforçou-se por implantar o Cristianismo e dotou uma Igreja dedicada
a Santa Catarina com propriedades roubadas às mesquitas. Ao mesmo tempo procurou sossegar os hindus locais: protegia as suas terras, os
seus templos e as suas instituições em geral e tentou até reduzir as suas obrigações fiscais.

Menos de seis meses depois da segunda conquista de Goa, Albuquerque já encabeçava uma grande expedição a Malaca. Esta cidade portuária
tinha uma excelente localização no lado malaio do Estreito de Malaca, o canal de comunicações da Ásia oriental e do sudeste.

17
BOUCHON (1992).

14
Malaca tinha uma sociedade cosmopolita.18 A reputação de grande centro de comércio marítimo chamara a atenção de D. Manuel no início do
século XVI. Assim, perto do final do mandato de Almeida como vice-rei, D. Manuel enviou de Lisboa uma expedição de reconhecimento
encabeçada por Diogo Lopes de Sequeira para tentar estabelecer uma feitoria em Malaca (1509). A tentativa falhou e foi despachada uma
segunda expedição, em 1510, comandada por Diogo Mendes de Vasconcelos. Assim que chegou à Índia foi afastado por Albuquerque, que
queria ir ele próprio a Malaca. O governador limitou-se a incorporar os navios de Vasconcelos na sua frota.19

No entanto, a condução de operações contra Malaca constituía um desafio logístico formidável, pois as linhas de comunicação de Albuquerque
eram muito mais longas do que alguma vez os portugueses tinham experimentado no Oceano Índico. Seguiu-se um mês de luta encarniçada
antes de o sultão e da sua corte desistirem e fugirem.

Albuquerque tomara Malaca não para a saquear mas para ficar com ela. O saque da cidade ocorreu, ainda que selectivamente. A propriedade
dos que tinham cooperado com os portugueses, especialmente os mercadores Keling e os chineses, foi poupada. Albuquerque queria que
houvesses mercadores de todas as nações a comerciar na Malaca pós-conquista e, por isso, fez o possível por sossegar a comunidade
mercantil.

Começou a construir uma enorme fortaleza que se tornaria conhecida em todo o lado como “a Famosa”. A fortaleza ficava, por razões
estratégicas e simbólicas, no local da principal mesquita de Malaca. Apesar de arrasar o importante edifício religioso – um acto condizente com
a tradição da Reconquista – Albuquerque tratou os muçulmanos de Malaca com tolerância.

A conquista de Malaca deu a Albuquerque o controlo do principal ponto de entrada do Oceano Índico na Ásia oriental e do sudeste, regiões até
aí praticamente desconhecidas dos europeus. Rapidamente instigou uma série de outras viagens exploratórias a partir da cidade.

Uma das consequências destas viagens foi a significativa integração portuguesa nas redes asiáticas de comércio e comunicações preexistentes.
Os navios portugueses partiam de Malaca acompanhados e guiados por juncos chineses ou prahus indonésios, ou partiam portugueses

18
THOMAZ (1994).
19
BOUCHON (1992).

15
individuais a bordo de embarcações locais, como passageiros. Em 1512 António de Abreu fez a primeira viagem portuguesa às Molucas. Um
ano depois Jorge Álvares foi enviado pelo capitão português de Malaca como “embaixador” à China.

Entretanto, depois de assegurar Malaca, Albuquerque regressou rapidamente a Goa para preparar outra conquista: a de Ormuz, na ilha de
Djarum, à entrada do Golfo Pérsico.

A ilha de Djarum localizava-se a meio de uma das duas principais rotas que uniam o Oceano Índico ao Médio Oriente, ao Mediterrâneo e à Ásia
Central tinha uma grande importância estratégica.20 Ormuz – onde os mundos árabe, iraniano e indiano se encontravam – possuía uma
população deveras cosmopolita.

Albuquerque vira pela primeira vez Ormuz em 1507, enquanto navegava de Socotorá para o Golfo Pérsico. Era uma viagem de reconhecimento
importante, o início da longa associação de Portugal com a Região. Mas envolvera também muito saque e terror nas cidades portuárias ao
longo da rota.21 O auge foi atingido em Ormuz, onde Albuquerque forçou o sultão a reconhecer a soberania de D. Manuel e a concordar com a
construção de uma fortaleza portuguesa, cujos trabalhos se iniciaram de imediato. Mas Albuquerque seria obrigado a suspendê-los e a deixar
Ormuz antes de tempo.

Em 1515, como governador do Estado da Índia, regressou para impor a vontade de D. Manuel. Completou a fortaleza, que foi chamada de
Nossa Senhora da Vitória. O grande forte, um dos mais formidáveis do Estado da Índia, permitiu a Portugal dominar o estreito de Ormuz
durante mais de um século e canalizar uma grande parte dos lucrativos direitos aduaneiros para os cofres portugueses. 22

Depois de tomar Ormuz, Albuquerque planeou a extensão da rede de bases com a captura de Adém. Este porto estratégico dominava o
estreito de Bab el-Mandeb que une o Oceano Índico ao Mar Vermelho. O governador lançou-se contra Adém em 1513, mas não conseguiu
conquistá-lo. Então decidiu fazer um reconhecimento completo do Mar Vermelho, elaborou mapas das costas e ilhas e provou que podia ser
navegável até Suez.

20
AUBIN (1973).
21
AUBIN (1973); BOUCHIN (1992).
22
BOUCHON (1992).

16
Albuquerque planeava uma nova tomada do porto quando morreu, em 1515.

As três aventuras militares importantes de que Albuquerque saiu vitorioso – as conquistas de Goa, Malaca e Ormuz – envolveram a destituição
ou a subjugação de governantes muçulmanos. Foram desenvolvidas no contexto de uma ideia de luta global contra o Islão herdada do passado
ibérico e depois revivida na visão de cruzada de D. Manuel, partilhada pelo Governador Albuquerque. 23 Albuquerque considerava a expansão
asiática e a luta contra o Islão missões paralelas e complementares. Percebeu, com as extensas viagens e a crescente experiência do Oriente, a
pequena e insignificante dimensão da população cristã na Ásia marítima.

23
THOMAZ (1990).

17
e) Consolidação pós-Albuquerque

Depois da morte de Albuquerque a expansão formal do Estado da Índia foi conduzida de forma menos agressiva e instalou-se um período de
consolidação. As novas iniciativas eram cautelosas e na sua maioria confinaram-se à Índia ocidental, ao Ceilão e às costas orientais do Mar
Arábico. Na Índia ocidental foram estabelecidas fortalezas portuguesas em Coulão, e Chaul, e em Colombo, no Ceilão.

Isto reflectia as mudanças de política em Portugal, onde, a partir de 1515, D.


Manuel fora obrigado a dar ouvidos aos conselheiros mais pragmáticos que se
mostravam cépticos em relação ao sonho de cruzada.24

Existiam razões convincentes para que Portugal concentrasse a sua força na Ásia
marítima noroeste durante este período, razões resultantes de grandes mudanças
políticas no Médio Oriente e na Índia. Em 1516 os Turcos otomanos tinham
destituído os Mamelucos e tomado o controlo do Egipto e da Síria. Os Otomanos
eram rivais potenciais bastante mais formidáveis para os portugueses na Ásia
marítima do que os seus predecessores mamelucos, relativamente fracos. O
governo otomano começou a construir uma base naval em Suez logo em 1517, o
que aumentou de forma considerável a preocupação portuguesa, e depressa se
seguiu o domínio do Mar Vermelho. Os Otomanos introduziram-se também no
golfo Pérsico, outra área estratégica, onde seriam abordados pelo rei de Ormuz
com vista a uma acção conjunta contra os portugueses. Mas aqui a expansão
otomana deparava-se com os interesses territoriais do Irão.

24
THOMAZ (1991).

18
O Xá Ismael do Irão, como principal figura xiita era o rival religioso e político dos sultões otomanos sunitas Selim I e Suleimão o Magnífico.

Durante o governo de Albuquerque enviara uma embaixada a Goa para explorar a possibilidade de uma cooperação luso-iraniana, à qual
Albuquerque respondeu com o envio do seu representante a Ismael. D. Manuel aprovava fortemente estes contactos, à espera não só de uma
aliança como da conversão de Ismael ao Cristianismo.

Com o Irão e a Turquia em guerra, a partir de 1514, e os Iranianos muito pressionados a defender o seu território, terão parecido bastante
promissoras aos portugueses as perspectivas de forjar uma espécie de aliança anti-otomana. Uma missão diplomática viajou com alguma
dificuldade até ao quartel-general do xá em Tabriz, em 1524, mas, ao descobrir que Ismael tinha acabado de morrer, foi forçada a regressar de
mãos a abanar.25 Entretanto, em 1520-1 uma embaixada portuguesa enviada de Goa conseguira chegar à muito cobiçada corte da Etiópia. Era
um avanço de grande significado simbólico; mas revelou-se decepcionante quando se compreendeu que o “Preste João” – o imperador etíope
– não passava de um governante cristão fraco e em dificuldades.26 Assim, na década de 1520 esmoreciam as esperanças portuguesas de
construção de uma aliança poderosa contra os Turcos.

Na década de 1530 as forças otomanas subjugaram o Iraque e, em 1535, ganharam controlo do porto chave de Bassorá, à entrada do Golfo
Pérsico. Seguiram-se hostilidades intermitentes entre os Turcos e os portugueses no Golfo Pérsico e no Mar Arábico. Na década de 1540 os
esquadrões de galeras turcas apareciam ao longo das costas do sul da Arábia, ao largo do Guzerate e até na região de Malaia-Sumatra. A
ameaça aos interesses portugueses era bem viva e apenas afrouxou depois de serem derrotados perto de Ormuz, em 1554. Seguiu-se uma
trégua de facto luso-turca, com os Otomanos a controlar a entrada do Golfo enquanto os portugueses, que retinham Ormuz, dominavam o
baixo Golfo e o Mar Arábico. Os Turcos evitavam interferir com os portugueses no Oceano Índico e os portugueses deixavam o Mar Vermelho
aos Turcos mesmo sem que houvesse um acordo formal entre os dois.27

Entretanto, na Índia ocidental, a expansão portuguesa voltava a ganhar velocidade, com a principal acção a decorrer na costa do Guzerate. Os
portugueses tinham começado a ver a enorme importância comercial da região, em especial devido à produção de têxteis de algodão e ao
25
ALBUQUERQUE.
26
ALBUQUERQUE.
27
OZBARAN (1994); THOMAZ (1995).

19
facto de ser uma fonte de capital e de experiência do mundo dos negócios. O coração da rede de comércio marítimo do Guzerate situava-se no
golfo de Cambaia e nas cidades portuárias ao longo da sua costa. Os portugueses já há algum tempo que cobiçavam as duas fortalezas
estratégicas de Diu e Damão, localizadas respectivamente, nos flancos ocidental e oriental, do golfo. Em 1509, depois da grande vitória naval
de Almeida, Diu tinha sido oferecida aos portugueses mas o vice-rei declinara a oferta. Albuquerque estabeleceu uma feitoria em Diu e gostaria
de ter construído uma fortaleza. Na década de 1520 a Coroa ordenou a sucessivos governadores que ocupassem imediatamente Diu, mas
durante vários anos nada se fez.

Em consequência da expansão do império mogol, acabou por surgir uma oportunidade para Portugal ganhar uma posição no Guzerate. Após
vários conflitos Portugal conseguiu Diu e Damão.

Em meados do século XVI os portugueses estavam já na posse de uma cadeia de fortalezas ao longo da costa noroeste da Índia, que se estendia
de Chaul a Diu. Adjuntos a alguns destes fortes – em particular ao de Baçaim – havia grupos de aldeias e campos cultivados. Os territórios de
Baçaim passaram a ser chamados “ a Província do Norte” e estavam entre as poucas zonas do Estado da Índia fora de Goa onde os Portugueses
controlavam terra e população em dimensão significativa.

f) A escalada da diplomacia

À medida que os portugueses se espalharam pela Ásia marítima foram estabelecendo contactos com um crescente número de povos pouco
familiarizados com os Europeus. Portugal fornecia agora a uma Europa curiosa sobre as descrições de muitas sociedades e locais exóticos a
leste do Cabo da Boa Esperança, baseadas na observação directa. O Ocidente viu primeiro estes “outros”, muitas vezes de olhos portugueses, e
as percepções portuguesas acabaram por formar as bases de muitos estereótipos. Do mesmo modo, as primeiras imagens asiáticas do que
constituía um europeu derivavam da observação dos portugueses.

As principais expedições portuguesas marítimas eram muitas vezes organizadas com missões diplomáticas em que os comandantes assumiam
também o papel de embaixadores ou enviados. Tal como Vasco da Gama antes dele, Cabral apresentou-se em Calecut em 15000 como

20
embaixador de D. Manuel; trouxe ao samorim presentes mais apropriados, que incluíam jóias de ouro e prata, e estava, em geral, muito mais
bem preparado do que o seu antecessor.

O vice-rei Francisco de Almeida estabeleceu contactos diplomáticos com vários governantes da costa ocidental da Índia até ao Guzerate. Em
1508-9, a primeira viagem oficial para o Oceano Índico oriental foi também organizada como uma embaixada. Diogo Lopes de Sequeira, o seu
comandante, foi instruído a negociar um acordo comercial com o sultão de Malaca.

Como Biedermann salientou recentemente, a natureza ampla e dispersa do “império” português na Ásia e na África oriental implicava que as
relações diplomáticas fossem especialmente importantes para o Estado da Índia.28

Na condução da sua diplomacia fora da Europa, os portugueses utilizavam habitualmente uma fórmula derivada da prática romana, segundo a
qual era oferecida aos governantes a amizade e a irmandade do rei de Portugal, em troca de concessões específicas.

A “amizade” neste contexto era uma associação que implicava obrigações mútuas; “irmandade” significava uma espécie de relação de sangue
fictícia com tonalidades espirituais.29 Através desta relação forjada, o círculo de relações da Coroa portuguesa podia ser entendido
indefinidamente e podia incluir governantes não-europeus distantes com os quais não havia laços familiares prévios, obrigações mútuas ou
sequer lealdades religiosas comuns. Vasco da Gama usou esta fórmula em Melinde e Calecut, em 1498, e em anos posteriores a “amizade” e
“irmandade” foram dadas a uma série de príncipes menores ao longo da costa ocidental indiana. Uma vez estabelecida tal relação, o
governante estrangeiro era invariavelmente tratado nas cartas do rei de Portugal como “amigo” e “irmão”. Em pouco tempo havia
destinatários de tais cartas desde Melinde até Minangkabau, e desde Java até ao Japão. Mesmo os governantes principais, como o imperador
de Bisnaga (1508) e o xá do Irão (1513), eram endereçados desta forma pelo rei de Portugal. Estes termos podiam também ser usados para
mascarar a imposição das exigências portuguesas.30 Em 1506 o rajá de Cochim, como “amigo” e “irmão” de D. Manuel, foi persuadido a
conceder licença de construção de uma fortaleza portuguesa no seu território e exigências semelhantes foram sendo feitas durante toda a
expansão. No início do século XVI alguns governantes de menor estatuto tiveram de reconhecer a soberania do rei de Portugal com o
28
BIEDERMANN (2005).
29
SALDANHA (1997).
30
SALDANHA (1997).

21
pagamento de um tributo simbólico. Revivia-se uma prática comum na Península durante as últimas fases da Reconquista, quando os príncipes
das taifas se submeteram aos reis de Castela ou de Portugal e tiveram de pagar páreas para demonstrar a vassalagem.

Em breve começou a desenvolver-se uma distinção entre a forma como eram conduzidas as relações com os pequenos principados costeiros e
com os estados maiores e mais poderosos. As negociações com os governantes menos importantes concentravam-se em questões comerciais e
eram dirigidas de forma directa e terra a terra. Mas as relações diplomáticas com as potências maiores – como Bisnaga, o Irão ou os Mongóis –
desenrolaram-se num nível formal que muitas vezes envolvia um cerimonial elaborado. Nesses casos a tarefa do embaixador era
consideravelmente mais difícil e requeria uma preparação cuidadosa e o conhecimento do protocolo da corte. 31 Os contactos iniciais eram
muitas vezes feitos de forma oportunista. As primeiras trocas com o imperador de Bisnaga (1509-29), realizaram-se através de um franciscano,
Frei Luís do Salvador; este havia viajado para o interior desde Cananor, em 1503, na esperança de conversões, e depressa se tornou visita
regular da corte do imperador.

Os laços criados no início do século XVI com estados como Bisnaga e a Tailândia ilustram a forma rápida como os portugueses se adaptaram a
algumas das realidades políticas da Ásia marítima.

Os portugueses tentaram mas falharam sempre a inclusão da China nesta rede diplomática formal. D. Manuel pretendia estabelecer contacto
com a China por causa da sua óbvia importância comercial mas não só; estava também muito preocupado que os Castelhanos, que se
aproximavam da Ásia oriental através do Pacífico, em breve estivessem em posição de se adiantarem a ele. Por isso em 1515, mesmo antes de
receber notícias sobre a viagem de reconhecimento de Jorge Álvares ao sul da China, enviou uma armada portuguesa para Guangzhou, sob o
comando de Fernão Peres de Andrade, que transportava uma missão diplomática. 32 O líder da missão era Tomé Pires; era especialista em
drogas e especiarias exóticas, possuía uma longa experiência da Ásia marítima e acabara de compor a Suma Oriental, um tratado sobre as
terras e povos da Ásia com uma ênfase especial no Extremo Oriente. Pires e o seu grupo chegaram ao rio das Pérolas em Agosto de 1517, mas
durante mais de dois anos não foram autorizados a prosseguir para lá de Guangzhou. Quando finalmente receberam licença para continuar
partiram para Nanjing, capital do sul, em Janeiro de 1520. Pires teve o privilégio, aparentemente invulgar, de ser recebido de modo informal

31
BIEDERMANN (2005).
32
PIRES (1978); THOMAZ (1995).

22
pelo jovem imperador. Um pouco mais tarde viajou para a corte em Pequim onde, depois de receber instruções sobre o cerimonial necessário,
esperou ser recebido numa audiência mais formal e ter a oportunidade de conduzir negociações substanciais. No entanto, pouco tempo depois
de Pires chegar a Pequim, a sua posição começou a ser questionada devido às queixas na corte contra a tomada de Malaca por Albuquerque.
Malaca era uma cidade que a China via como sua tributária. As autoridades chinesas estavam também a receber relatórios hostis acerca do
comportamento agressivo de outros portugueses – expedicionários e mercadores – nas costas do sul da China. Por fim, após rigoroso
escrutínio, a carta de apresentação formal de D. Manuel trazida por Pires foi julgada inaceitável. A referência ao imperador como “irmão” terá
ofendido as sensibilidades chinesas, por parecer presumir a igualdade. Os portugueses foram instados a entregar Malaca ao sultão e o pedido
de autorização para comerciar foi recusado. A situação deteriorou-se para Tomé Pires com a morte repentina do Imperador. Esta morte
significava o abandono imediato de Pequim de todas as missões estrangeiras e Pires regressou a Guangzhou. 33 À chegada descobriu que
também aí a sua posição se encontrava terrivelmente comprometida, desta vez pelo comportamento insensível de uma armada portuguesa
visitante. Tomé Pires e os companheiros foram detidos e repetidamente interrogados. Morreram todos na prisão provavelmente na década de
1530.34

A missão diplomática de Tomé Pires foi um falhanço total. A desilusão ainda era maior porque, tal como frisou Loureiro, muito antes da
intervenção da “embaixada” já os comerciantes portugueses faziam negócio na cosa do sul da China. O único resultado da missão foi, afinal, a
exclusão definitiva de todos os portugueses dos portos chineses

33
LOUREIRO (2000).
34
CHANG (1963); THOMAZ (1998); LOUREIRO (2000).

23
2. Um Império no Oriente
a) O Estado da Índia

As possessões da Coroa portuguesa na Ásia marítima e na África oriental eram colectivamente chamadas Estado da Índia. Esta expressão
começou a aparecer com regularidade nos documentos por volta de meados do século XVI. Em sentido legal estrito significava todas as
cidades, fortalezas e territórios constantes da lista do acto de transferência dada a cada novo vice-rei ou governador na cerimónia de tomada
de posse. No entanto, existiam numerosas colónias portuguesas que não constavam da lista por não serem oficiais, mas informalmente
estabelecidas por iniciativa privada. A mais importante entre elas era Macau, que irá ser trazida para a protecção da Coroa, e que obteve o
estatuto de colónia oficial no início do século XVII.

Ao fazer-se a distinção entre o Estado da Índia formal e a presença informal não se nega que, muitas vezes, estas se sobrepunham e estavam
ligadas de formas muito significativas.35

Uma das características mais marcantes do Estado da Índia formal era o facto de ser maioritariamente urbano. No final do século XVI apenas
cinco dos 24 componentes significativos – Goa, Damão, Baçaim, Chaul e Colombo – possuíam territórios associados e populações rurais de
alguma importância. Este carácter urbano era, em grande medida, um produto da função. A razão de ser do Estado era a detenção de portos
protegidos a partir dos quais o comércio e as comunicações marítimos no Oceano Índico pudessem ser dominados e, tanto quanto possível,
controlados.36 Consequentemente, este Estado era incapaz de se alimentar dos seus próprios recursos; em vez disso, as cidades portuárias,
demasiado afastadas umas das outras, viam-se obrigadas a depender de mantimentos importados por mar.

Muitas das possessões formais foram conquistadas por governantes locais ou adquiridas através da persuasão violenta e, naturalmente, os
antigos donos e seus sucessores tentavam recuperá-las em momentos oportunos. Reinava assim uma insegurança endémica em especial
durante os primeiros três quartos do século XVI. Os sultões do Bijapur permaneciam uma ameaça constante, dormente ou activa, à Goa

35
NEWITT (2001).
36
THOMAZ (1994).

24
portuguesa. Em 1570 uma aliança entre Bijapur, Ahmadnagar e Calecut ameaçou expulsar os portugueses de toda a costa da Índia ocidental.
Por vezes, havia também forças poderosas exteriores à região que ameaçavam igualmente a posição portuguesa, em particular os otomanos,
cuja captura de Adém, em 1538, e Bassorá, em 1547, os aproximou de forma desconfortável das áreas de interesse luso.

O Estado da Índia era obrigado a manter uma forte ênfase na defesa e sofria do tipo de problemas e ansiedades típicos de um fronteira militar
extensa.37

Do ponto de vista português a construção de fortalezas era indispensável; a volatilidade das situações em que tantas vezes de encontravam na
Ásia e os problemas de distância e isolamento das feitorias a isso os obrigava. A partir de 1500 quase todas as possessões do Estado da Índia
foram fortificadas, em alguns casos de forma maciça.

Para além de soldados, depressa surgiu uma população permanente de civis a viver neste Estado. Os residentes permanentes eram chamados
de casados – casais de colonos oficialmente reconhecidos – e consistiam em antigos soldados e seus descendentes. A primeira comunidade
formou-se em Cochim, seguida pela de Goa, e por aí adiante.

A par com as fortalezas, os edifícios eclesiásticos dominavam o horizonte da maior parte dos povoados portugueses. Eram especialmente
evidentes em Goa.

O Estado da Índia desenvolveu as características de um híbrido cultural.

37
BOXER (1969).

25
b) A Coroa e o comércio da pimenta

D. Manuel esperava usar a passagem portuguesa para o Oceano Índico para tomar o comércio de especiarias entre a Ásia e a Europa e
redireccioná-lo das rotas terrestres para a rota do Cabo. Não ficou imediatamente esclarecido se este comércio seria conduzido pela própria
Coroa ou deixado à iniciativa privada, mas a Coroa, com uma antiga tradição de participação directa no comércio e a operar um sistema
mercantilista estatal parcial que envolvia vários monopólios régios, estava desejosa de explorar ao máximo todas as oportunidades.38

Apenas cinco anos depois da viagem pioneira de Vasco da Gama, os portugueses já estavam a introduzir mais especiarias no mercado europeu
através do Cabo do que os Venezianos através do Egipto.

O grosso destas especiarias importadas consistia em pimenta. Esta especiaria rapidamente se tornou numa importantíssima fonte de receitas
para a Coroa e, em 1520, depois de muito debate político, o comércio da pimenta foi declarado monopólio régio. Instituíram-se monopólios
semelhantes para muitos outros produtos, incluindo lingotes de ouro e prata exportados de Portugal para a Índia e cravinho, noz-moscada,
casca de noz-moscada, canela, gengibre, seda e pérolas enviadas em direcção contrária.39

Quase toda a pimenta embarcada para Lisboa, provinha de Kerala ou Kanara, regiões da Índia e sudoeste de Goa. À chegada a Lisboa era
trazida para terra sob estrita supervisão dos serviços alfandegários, para ser guardada nos armazéns da Casa da Índia. 40

No início do século XVI a Coroa vendia a pimenta no mercado europeu, em especial, através da feitoria de Antuérpia, onde também comprava
a prata alemã de que necessitava para o comércio com a Índia. A partir de 1508, com grandes dificuldades na gestão destas operações
bastante complexas, a Coroa arrendou-as sob contrato, inicialmente aos Mendes-Affaitadi e, mais tarde, a muitas outras companhias. A
estratégia garantia dinheiro no curto prazo, mas conduziu a uma constante acumulação de dívida de longo prazo. No princípio da década de

38
SUBRAHMANYAM (1993); THOMAZ (1998).
39
THOMAZ (1998).
40
DISNEY (1978).

26
1540, a Coroa devias aos seus contratantes mais de dois milhões de cruzados e aproximava-se, rapidamente, da insolvência.41 D. João III foi
obrigado a interromper os contractos de comercialização e, em 1548, a feitoria de Antuérpia era encerrada. A partir daí a maior parte da
pimenta importada por Portugal seria directamente vendida através da Casa da Índia em Lisboa.

Em 1570, a Coroa abandonou temporariamente o sistema de monopólio e abriu a importação à livre concorrência. No entanto, a experiência,
bastante arrojada para a Coroa, foi de curta duração. Seis anos depois D. Sebastião regressava ao princípio de monopólio com todas as etapas
contratadas. A procura na Índia, o envio para Lisboa e a comercialização na Europa foram individualmente arrendadas a companhias
diferentes, cujos eram, na sua maioria dos membros oriunda das comunidades mercantis italiana, alemã, ou cristã-nova. A prática terá
funcionado razoavelmente bem até ao final do século XVI. Mas a partir daí o aumento dos preços da pimenta na Índia, as perdas crescentes de
transporte, o agravamento das condições de segurança e a ameaça da concorrência holandesa e inglesa fizeram perder o interesse dos
contratantes potenciais.42 A Coroa foi forçada a continuar o monopólio directo.

c) A entrada no comércio interportuário

A Coroa envolveu-se no comércio interportuário asiático de três maneiras principais: o corso e o saque; a participação aberta; e a imposição de
controlos sobre os negócios que canalizassem alguns dos lucros.

41
Qualidade de insolvente; incapacidade de pagar suas próprias dívidas, de dissolver-se num outro meio. Sinónimo de insolvência: bancarrota. DIFFIE & WINIUS (1977);
BOYAJIAN (1993).
42
DISNEY (1978).

27
d) A Carreira da índia

Sem um sistema intercontinental eficiente de transportes e comunicações não teria existido uma presença portuguesa sustentada na Ásia
marítima. A Carreira da Índia era esse sistema, a viagem de ida e volta regular entre Lisboa e a Índia, cujo pioneiro fora Vasco da Gama.

Desde início, estes navios oceânicos seguiam uma rota mais ou menos definida; mas a sua enorme extensão e os desafios técnicos e logísticos
envolvidos tornavam-na num feito deveras formidável. Durante o século XVI, a viagem de Portugal para Goa durava, em média, pouco menos
de seis meses e a viagem de regresso quase sete. Se considerarmos o tempo de paragem na Índia, uma viagem de ida e volta demorava cerca
de ano e meio.43

Existe a ideia feita de que a carreira da Índia era mal gerida, muito ineficiente e uma trágica perdulária de vidas humanas. Haverá nisto alguma
verdade em relação a certos períodos; mas os registos sobreviventes também exigem prudência. As perdas de navios nas viagens de ida,
durante a maior parte do século XVI, correspondiam, no total, cerca de dez por cento e, na de regresso, de cerca de quinze por cento. Embora
não fossem particularmente bons, também não eram números especialmente maus para as viagens de longo curso da época.

Ainda que as provas sejam algo fragmentárias, a partir de 1510 a carreira da Índia, tal como o comércio da pimenta, terá sido gerida como um
monopólio da Coroa. A situação interessava à maior parte dos mercadores, com os riscos e custos de gestão da viagem a permanecerem nas
mãos do estado. Mas à medida que o compromisso da Coroa com o princípio de monopólio foi desaparecendo e a viagem se tornou mais
rotineira, ambas as partes começaram a aceitar melhor o envolvimento privado. Por fim, em 1570, as viagens da Índia eram arrendadas por
contrato a particulares, tal como o comércio da pimenta.

43
DUNCAN (1986).

28
Para além da manutenção da carreira da Índia, os portugueses comunicavam regularmente entre Lisboa e Goa através do Médio Oriente e do
Mediterrâneo oriental. As rotas parcialmente terrestres eram usadas por correios que transportavam despachos estatais e, por privados, para
viagens individuais, para correspondência comercial ou pessoal e para o transporte de alguns bens de pequenas dimensões muitíssimo
valiosos, como os diamantes. Os portugueses que usavam estas rotas viajavam, muitas vezes, através do Golfo e não do Mar Vermelho, e
Ormuz era o ponto de chegada e de partida preferido.

e) Um governo à distância

Visto que a distância entre Portugal e a Índia era muito grande, era necessário criar uma autoridade no local com poderes para tomar decisões.
A nomeação de Francisco de Almeida como capitão-geral, governador e capitão-geral, governador e vice-rei, em 1504, foi o primeiro passo
nessa direcção. Os cargos de capitão-geral e governador colocavam Almeida à cabeça da administração militar e civil, respectivamente,
enquanto o título de vice-rei lhe conferia um prestígio quase régio.44 Não havia precedente de vice-rei na história de Portugal ou na da
expansão portuguesa anterior e o modelo adoptado em 1504 seria, provavelmente, aragonês ou castelhano.

Na altura não existia ainda uma capital colonial a leste do Cabo e Almeida continuou a ter por base os navios e a pequena fortaleza e feitoria de
Cochim. Foi instruído a implantar outras fortalezas mas, ainda assim, a sua nomeação pouco tinha a ver com ambições territoriais. Era em vez
disso, uma tentativa de criação de uma estrutura de comando clara que pudesse funcionar efectivamente longe da metrópole e que desse ao
Portugal na Ásia uma figura com suficiente prestígio para negociar com os governadores locais em termos equilibrados.

A partir de 1504 o Estado da Índia passou a ser administrado por um governador. Se o nomeado fosse um nobre de estatuto com o título de
“dom” ou mais elevado, era-lhe dada a designação de vice-rei. Sem título, Albuquerque foi governador, mas não vice-rei.

44
SALDANHA (1997).

29
Em 1530 Goa tornou-se na sede permanente do vice-rei, em vez de Cochim, que tinha sido a única alternativa possível.

A jurisdição do vice-rei era vasta, em teoria, e incluía todas as possessões e interesses portugueses a leste do Cabo da Boa Esperança. No
entanto, as enormes distâncias e a emergência gradual de uma rede paralela e dispersa de povoamentos e possessões informais significavam
que, na prática, os vice-reis controlavam apenas uma área central relativamente pequena. O Estado da Índia tornou-se, rápida e
inevitavelmente, muito mais descentralizado na prática do que na teoria. À excepção da costa ocidental central da Índia, o poder de facto
estava nas mãos de capitães de fortaleza, pequenos grupos de funcionários e câmaras locais praticamente autónomos. Os vice-reis visitavam
de vez em quando locais sob a sua jurisdição para lá de Goa, fazendo sentir, temporariamente, a sua presença. Mas essas deslocações eram
raras e quase sempre breves.

Os vice-reis concentravam-se em cinco áreas de responsabilidade administrativa: assuntos militares e navais, diplomacia, finanças, comércio e
gestão de pessoal. Era também esperado que assegurassem a aclamação da reputação da Coroa e apoiassem os interesses da Igreja. Cada vice-
rei tinha, naturalmente, um estilo e modus operandi individuais. Deviam consultar o seu conselho de estado, constituído por fidalgos de
serviço, para assuntos relacionados com contendas, e para assuntos económicos deviam consultar o conselho da fazenda.45

Estado da Índia

casa dos contos -


vedoria da fazenda
contablilidade

casa da matrícula -
registos e superintendência do
45
SANTOS (1999). fornecimentos tesouro
militares

30
A partir de Albuquerque, sucessivos governadores e vice-reis escolheram viver no antigo palácio dos sultões do Bijapur, parcialmente
reconstruído, por causa das evidentes associações reais. Depressa o vice-rei adquiriu uma corte. Copiava muitas características da corte D.
Manuel mas incorporava elementos indianos, tais como o uso de palanquins e elefantes processionais.

A igreja católica desempenhava um papel considerável nos assuntos públicos, ao lado da administração secular, como outro braço virtual do
governo. No entanto, a igreja do Estado da Índia enfrentava os mesmos problemas impostos pela distância que as autoridades seculares eram
prejudicadas por uma estrutura administrativa cada vez mais esquelética.

As câmaras desempenhavam um papel igualmente indispensável na administração do Estado da Índia. A maior parte das possessões
ultramarinas portuguesas de importância menor receberam, mais cedo ou mais tarde, uma câmara, normalmente com as mesmas
responsabilidades, direitos e privilégios das instituições equivalentes em Portugal. No Estado da Índia a câmara representava normalmente o
ponto de vista dos casados ou, pelo menos, dos mais influentes de entre eles. Na verdade, as câmaras eram a única instituição através da qual
a opinião dos povoadores podia ser expressa. As câmaras eras responsáveis pelo governo local, recolhiam impostos municipais e agiam como
tribunais de primeira instância.

Resumo do artigo de André Lopes - O CONFLITO ENTRE O ISLÃ E O OCIDENTE: DA ASCENSÃO DOS ÁRABES AO OCASO OTOMANO

Nos séculos que se seguiram às conquistas mongóis e à destruição do califado, três centros de poder emergiram no Oriente Médio muçulmano:
o Irão, a Turquia e o Egipto. O primeiro, governado por uma linhagem de khans mongóis, converteu-se ao islamismo, embora tenha conservado
importantes elementos da tradição mongol; o segundo, governado por príncipes turcos, muçulmanos, foi, por um tempo, vassalo dos mongóis;
o terceiro, sob o governo dos sultões mamelucos, resistiu aos exércitos mongóis e reconquistou e manteve com sucesso a Síria.

31
Esse período presenciou uma série de iniciativas diplomáticas interessantes entre os mongóis e a Europa cristã, com o objectivo de planejar
uma guerra em duas frentes contra o inimigo comum islâmico. Tais tentativas nunca obtiveram resultado e, em breve, o Irão mongol
enfrentaria seus próprios problemas no oriente com a invasão de Timur Lang, conhecido na Europa como Tamerlão.

O Egipto foi, no primeiro instante após a destituição dos califas, o principal centro do mundo árabe. A invasão de Timur, seguida por pestes,
gafanhotos e ataques de beduínos, no entanto, foi um golpe do qual o sultanato mameluco nunca conseguiu se recuperar.

Da mesma maneira, o império seljúcida foi completamente destruído pela invasão mongol e os turcos sobreviveram na Anatólia sob a forma de
pequenos principados sujeitos à autoridade do Irã mongol. Um desses principados se transformou em um vasto império. Localizado no
extremo ocidente da Anatólia, esse principado estava longe dos mongóis e próximo das riquezas da decadente Constantinopla. Com efeito,
Osmã e seus sucessores travaram uma guerra constante e sempre vitoriosa contra os bizantinos.

Quando o século XV começou, havia dois grandes Estados muçulmanos no Oriente Médio: o Egipto mameluco e o principado otomano. Ambos
tinham relações cordiais e foram igualmente derrotados por Timur ainda na década de 1400. No ocaso do século XV, apenas o agora Império
Otomano se recuperara e expandira; as relações entre ambos eram conflituosas e, na primeira década do novo século XVI, surgiria outro
Estado muçulmano no Oriente: a Pérsia safávida.

A superioridade militar dos otomanos sobre os mamelucos se devia a inovações tecnológicas, especialmente o surgimento de armas de fogo
portáteis e o uso extensivo de canhões nos campos de batalha. Os otomanos adoptaram imediatamente essas inovações e se mostraram
bastante eficazes no seu uso. Já os mamelucos, não podiam adoptá-las. Em agosto de 1515 e Janeiro de 1516, os otomanos impuseram duas
severas derrotas aos mamelucos e, após mais um ano de campanha militar, anexaram o sultanato mameluco e a península arábica a seus
domínios.

Após essas conquistas orientais, os otomanos voltaram-se novamente para a Europa. Capturando Belgrado em 1521 e Rodes, a base dos
cavaleiros hospitalários após sua expulsão do Levante, no ano seguinte, os otomanos, sob a liderança vigorosa do sultão Suleimão I, o
Magnífico, solidificaram sua posição nos Balcãs. O único reino cristão restante no sudeste da Europa era a Hungria e, quando o jovem rei Luís II
se recusou a pagar tributo, Suleimão o invadiu em 1526.

32
A Pérsia, era a única esperança do Ocidente para muitos europeus, tinha sido reunificada pelo xá Ismail Safávida, no início do século XVI (1501).
Soberano político, líder militar e religioso, ele declarou o islamismo xiita como a religião oficial do Estado e, assim, se opôs aos otomanos tanto
no campo político quanto religioso. Embora derrotada pelo sultão otomano Selim I na década de 1510, a Pérsia safávida permaneceu um
Estado separado, rival, e em geral hostil.

Na época, a ideia de uma aliança anti-otomana entre a Cristandade e a Pérsia foi levantada por alguns, mas em vão. O xá Ismail enviou uma
carta ao imperador Carlos V em 1523, mas a resposta do imperador só chegou ao Irã em 1529, quando o xá já estava morto há cinco anos.

Os primeiros sintomas de uma possível decadência otomana surgiram no mar. Em 1498, dez anos após Bartolomeu Dias ter dobrado o Cabo da
Boa Esperança, Vasco da Gama chegou à Índia inaugurando uma nova rota comercial entre o Ocidente e o Oriente. Já em 1502, a República de
Veneza enviou um emissário ao sultão do Cairo para precavê-lo contra o perigo que os navegadores portugueses representavam para sua
posição comercial. As expedições navais egípcias contra os portugueses, no entanto, redundaram em fracasso total. Os navios portugueses
eram maiores, mais manobráveis em mar aberto e mais bem armados que as galeras egípcias, adaptadas à navegação no ambiente
relativamente seguro do Mediterrâneo e do Mar Vermelho.

Após a conquista do Egipto em 1516-7, os otomanos tomaram em suas mãos a tarefa de expulsar os portugueses dos mares orientais. No
entanto, não dedicaram muitos esforços à tarefa e os resultados foram, na melhor das hipóteses, inconclusivos. Tais embates eram vistos como
questões menores, relativas a fronteiras longínquas e desimportantes. Algumas vozes se levantaram alertando para o perigo da superioridade
marítima europeia no Índico, mas eram poucas e esparsas e suas admoestações receberam pouca atenção.

Um bom exemplo de tal desinteresse foi a expedição otomana a Atjeh, na Sumatra. Em 1563, o governante local, muçulmano, enviou um
pedido de ajuda contra os portugueses à Istambul e acrescentando como bónus a oferta de conversão de diversos governantes não-
muçulmanos da área, também ameaçados pelos portugueses. Apenas dois anos depois os otomanos reuniram uma frota de 19 galeras e as
enviaram para auxiliar

Atjeh. A maior parte das embarcações, no entanto, foi desviada para o Iêmen e, na verdade, apenas dois barcos chegaram à Sumatra, onde
foram facilmente rechaçados pelos portugueses.

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O impacto comercial da rota oceânica aberta pelos portugueses foi menor do que se pensou no passado. Durante todo o século XVI, o
comércio entre o sul e o sudeste da Ásia, de um lado, e a Europa mediterrânea, de outro, intermediados pelo Oriente Médio, continuou a
prosperar. No século XVII, porém, uma situação mais ameaçadora se desenvolveu. Os portugueses – e, junto com eles, holandeses, ingleses e
outros europeus – estavam estabelecendo bases no Índico, que, posteriormente, se tornariam dependências coloniais. Quando estenderam
seu controle do mar para os portos, os impérios europeus, a partir de então donos dos pontos de partida e de chegada das mercadorias
asiáticas, levaram a melhor sobre os impérios do Oriente Médio.

Em 1645, os otomanos entraram em guerra com a República de Veneza e, de início, foram bastante mal. Em 1656, os venezianos tiveram
condições de levar uma frota ao estreito de Dardanelos e obter uma vitória naval frente às forças turcas.

Mas, nesse mesmo ano, Mehmed Köprülü foi apontado grão-vizir e, sob sua liderança, a frota foi reconstruída e os venezianos capitularam em
1669, entregando a ilha de Creta aos otomanos.

http://www.infopedia.pt/$mamelucos;jsessionid=jDNxZYZyweSQx92dfbmckA__

Com uma nova dinastia mameluca muçulmana_no poder assistiu_se a uma expansão progressiva, anexando_se aos territórios egípcios préexistentes alguns
domínios pertencentes a cruzados, a Síria, Meca, o Chipre e uma porção da Arábia.

A cidade do_Cairo tornou_se sede de califado_e detentora, por conseguinte, de um maior poderio a partir da altura em que um membro dos abássidas_
correspondeu ao convite de Bairbas I e se instalou na cidade.

Sendo os principais proventos destes governantes retirados_das taxas sobre o comércio no Mar Vermelho, entre a Índia_e a Europa Ocidental, a política de
D. Manuel I entrou em conflito com esta dinastia já_decadente no século XV, uma_vez que eram suas intenções descobrir uma rota para Oriente_ circum-
navegando África e aliar-se ao Preste João para proceder à destruição do Egipto e à conquista de Jerusalém.

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Alertado para estas_intenções pelo samorim de Calecute e_respondendo ao seu pedido, decidiu o sultão egípcio, em 1505, enviar uma armada _contra os
portugueses. Conseguiu-o com o auxílio turco, guzarate e veneziano.

Contudo, apenas se deu o ataque em 1507, em Chaúl, tendo _obtido vitória_nesta altura mas sendo derrotada no ano seguinte, por D. Francisco de
Almeida. A_oposição egípcia não cessou, apesar_de retardada, fraca e sem sucesso,_uma vez que qualquer esforço era aniquilado pelos_portugueses ou
pelos seus_aliados, os persas e os cavaleiros da ilha de Rodes, e o comércio no Mar Vermelho tinha diminuído drasticamente.

A dinastia mameluca enfraqueceu de tal modo que o sultão otomano Selim I conquistou todo o território pertencente àquela soberania entre 1516 e 1517.

Wikipédia – Império Português

A presença no Oriente

A viagem comandada por Vasco da Gama até Calecute, foi ponto de partida da implantação portuguesa na costa oriental africana e na Índia. O
primeiro contacto deu-se a 20 de Maio de 1498. Após alguns conflitos com mercadores árabes que detinham o monopólio das rotas de
especiarias, Vasco da Gama conseguiu uma carta de concessão ambígua para as trocas comerciais com o samorim de Calecute, aí deixando
alguns portugueses para estabelecerem uma feitoria. Pouco depois, foi criada em Lisboa a Casa da Índia para administrar o monopólio régio da
navegação e comércio com o Oriente.

O objectivo de Portugal no Oceano Índico foi o de assegurar o monopólio do comércio de especiarias. Jogando continuamente da rivalidade
que opunha hindus e muçulmanos, os portugueses estabeleceram, entre 1500 e 1510, várias fortalezas e feitorias comerciais.

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Em 1500 a segunda armada à Índia que vinha de descobrir o Brasil explorou a costa oriental africana, onde Diogo Dias descobriu a ilha a que
deu o nome de São Lourenço, mais tarde designada Madagáscar. Esta armada, comandada por Pedro Álvares Cabral, chegou a Calecute em
Setembro, onde assinou o primeiro acordo comercial na Índia. A feitoria portuguesa aí instalada teve contudo efémera duração: atacada pelos
muçulmanos em 16 de Dezembro, nela pereceram vários portugueses, entre os quais o escrivão Pero Vaz de Caminha. Após bombardear
Calecute, Cabral seguiu para Cochim.

Beneficiando da rivalidade entre o marajá de Cochim e o samorim de Calecute, os portugueses foram bem recebidos e vistos como aliados na
defesa, fundando em Cochim o forte (Forte Manuel) e posto comercial que seria a primeira colónia europeia na Índia. Aí construíram em 1503
a Igreja de São Francisco. Em 1502 Vasco da Gama tomou a ilha de Quíloa, na costa da Tanzânia, onde em 1505 foi construída a primeira
fortificação portuguesa da África Oriental para proteger as naus da carreira da Índia.

Em 1505 o rei D. Manuel I nomeou D. Francisco de Almeida primeiro Vice-rei da Índia por um triénio. Sedeada em Cochim iniciou-se a
governação portuguesa no oriente. Nesse ano os portugueses tomaram Cananor onde fundaram a fortaleza de Santo Ângelo e Lourenço de
Almeida chega a Ceilão- a lendária Taprobana - actual Sri Lanka, onde descobre a origem da canela. Encontrando-o dividido em sete reinos
rivais, estabelece um pacto de defesa com o reino de Kotte e, explorando as rivalidades internas, estende o controlo nas áreas costeiras, onde
em 1517 seria fundada a fortaleza de Colombo.

Em 1506 os portugueses, sob o comando de Tristão da Cunha e Afonso de Albuquerque, conquistam Socotorá na entrada do Mar Vermelho,
em 1507Mascate e temporariamente Ormuz, onde Albuquerque inicia a construção do Forte de Nossa Senhora da Vitória, seguindo a
estratégia que pretendia fechar as entradas para o Índico. Nesse mesmo ano foram construídas fortalezas na Ilha de Moçambique e
em Mombaça, na costa queniana.

Em 1509 é travada a batalha de Diu contra uma frota conjunta do Sultanato Burji do Cairo, do Sultão Otomano Bayezid II,
do samorin de Calecute e do Sultão de Gujarat, com o apoio naval da República de Veneza e da República de Ragusa. A vitória portuguesa foi

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determinante, marcando o início do domínio europeu no Índico. Com o poder dos otomanos seriamente abalado, os Portugueses
conquistaram rapidamente localidades costeiras.

Já sob o governo de Albuquerque Goa foi tomada aos árabes em 1510 com o auxílio do corsário hindu Timoja. Cobiçada por ser o melhor porto
comercial da região, entreposto de cavalos árabes para os sultanatos do Decão, permitia cumprir a vontade do Reino de não permanecer
eterno hóspede de Cochim. Apesar de ataques constantes, Goa tornou-se a sede da presença portuguesa, sob nome de Estado Português da
Índia, com a conquista a desencadear o respeito dos reinos vizinhos: Guzerate e Calecute enviaram embaixadas, oferecendo alianças,
concessões e locais para fortificar. Albuquerque iniciou nesse ano em Goa a primeira cunhagem de moeda portuguesa fora do reino,
aproveitando a oportunidade para anunciar a conquista

Inicialmente D. Manuel I e o conselho do reino tentaram distribuir o poder a partir de Lisboa, criando três áreas de jurisdição no Índico:
Albuquerque seguira com a missão de tomar Ormuz, Adém e Calecute assegurando o domínio no mar Vermelho; Diogo Lopes de Sequeira fora
enviado para o sudoeste asiático, com a missão de tentar um acordo com o sultão de Malaca; Jorge de Aguiar e, depois, Duarte de Lemos
presidiam à área entre o Cabo da Boa Esperança e Guzerate. Contudo estes cargos foram centralizados por Afonso de Albuquerque, que se
tornou plenipotenciário, e assim permaneceram.

Em Abril de 1511 Albuquerque zarpou para Malaca, na Malásia, com uma força de cerca de 1 200 homens e 17 ou 18 navios. Placa contornante
do comércio com a China e com o sudeste asiático, a península de Malaca tornou-se então a base estratégica para a expansão portuguesa na
Índia Oriental, sob o Estado Português da Índia cuja capital era Goa. Para defender a cidade foi erguido um forte cuja porta, denominada a "A
Famosa", ainda subsiste. Vencido o sultanato de Malaca, Afonso de Albuquerque envia imediatamente Duarte Fernandes em missão
diplomática ao Reino do Sião (Tailândia), onde é o primeiro europeu a chegar, dadas as pretensões siamesas em Malaca. Em Novembro desse
ano, ficando a saber a localização das chamadas "ilhas das especiarias" nas Molucas, as ilhas Banda, enviou uma expedição comandada
por António de Abreu para as encontrar. Pilotos malaios guiaram-nos via Java, as Pequenas Ilhas da Sonda e da ilha de Amboíno até Banda,
onde chegaram no início de 1512. Aí permaneceram, como primeiros europeus a chegar às ilhas, enchendo os seus navios com noz-moscada e

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cravinho. Abreu partiu por Ambão enquanto o seu vice-comandante Francisco Serrão se adiantou para Ternate. Nesse mesmo ano, na
Indonésia, os portugueses tomam Macáçar, chegando a Timor em 1514.

Em 1513, partindo de Malaca, Jorge Álvares chegou ao Sul da China, aportando na foz do Rio das Pérolas na Ilha de Lintin. Seguiu-se a chegada
a Cantão e Sanchoão por Rafael Perestrelo. Em 1517 Tomé Pires foi enviado como embaixador de D. Manuel I à China, na frota de Fernão Peres
de Andrade, que conseguiu negociar com as autoridades de Cantão o seu envio a Pequim e uma feitoria em Tamau. Inicialmente bem-
sucedida, a embaixada ficou retida. Comerciantes portugueses sedearam-se então na ilha de Sanchoão, subornando mandarins locais, mais
tarde em Liam Pó que seria destruída, Tamau onde em 1521 e 22 foram combatidos pelas forças chinesas e Lampacau, uma pequena ilha na
baía de Guangzhou (Cantão).

No Golfo Pérsico os portugueses conquistam Ormuz em 1515 e, devido à posição estratégica na região, o Bahrein em 1521. Em 1522 o rei
hindu de Sonda na Indonésia procurou selar uma aliança com os Portugueses em Malaca para se defender do aumento de poder muçulmano
no centro de Java., convidando-os a construir uma fortaleza no porto de Kalapa (actual Jacarta). O Tratado de Sunda Kalapa (1522) foi selado
com um padrão, mas os portugueses não conseguiriam cumprir a promessa de voltar no ano seguinte: nesse ano torna-se governador da
Índia Duarte de Meneses que, após uma administração desastrosa, é enviado sob prisão para o reino e substituído por Vasco da Gama, que
veio a falecer em Cochim em 1524. Entre 1522 e 1529, na sequência da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães, os castelhanos
contestaram o limite Este do Tratado de Tordesilhas, disputando as valiosas Molucas "berço de todas as especiarias" e as Filipinas com os
portugueses. Em 1529 D. João III e Carlos I de Espanha selaram o Tratado de Saragoça, que definia a continuação do meridiano de Tordesilhas
no hemisfério oposto, a leste das ilhas Molucas, cedidas pela Espanha mediante o pagamento de 350.000 ducados de ouro.

Em 1533 Portugal conquista Baçaim, a cerca de 50 km de Bombaim. Em 1534, Guzerate foi ocupada pelos mogóis e o sultão Bádur Xá de
Guzerate foi forçado a firmar o tratado de Baçaim, onde estabelecia uma aliança para recuperar o seu país, cedendo em
troca Damão, Diu, Bombaim e Baçaim. Em 1535 o capitão António de Faria, partindo de Da Nang, onde os portugueses tinham aportado em
1516, na então chamada Cochinchina (actual Vietname), tentou estabelecer um posto comercial em Faifo, o que falhou.

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Em 1538 a fortaleza de Diu é novamente cercada por 54 navios otomanos. Um outro cerco falhado em 1547 poria fim às ambições otomanas,
confirmando a hegemonia portuguesa.

A presença no Brasil

Em 1499 na segunda armada à Índia, a mais bem equipada do século XV, Pedro Álvares Cabral afastou-se da costa africana. A 22 de Abril
de 1500 avistou o Monte Pascoal no litoral sul daBahia. Oficialmente tida como acidental, a descoberta do Brasil originou a especulação de ter
sido preparada secretamente. O território conseguira fazer parte dos domínios portugueses renegociando a demarcação inicial da Bula Inter
Caetera de 1493, quando D. João II firmou o Tratado de Tordesilhas em 1494, que movia mais para oeste o meridiano que separava as terras de
Portugal e de Castela.

Até 1501, a Coroa portuguesa enviou duas expedições de reconhecimento. Confirmando a descrição de Pero Vaz de Caminha, de que "Nela até
agora não podemos saber que haja ouro nem prata, nem alguma coisa de metal nem de ferro lho vimos; pero a terra em si é de muitos bons
ares, assi frios e temperados como os d'entre Doiro e Minho", encontrou-se como principal recurso explorável uma madeira avermelhada,
valiosa para a tinturaria europeia, que os tupis chamavam ibirapitanga e a que foi dado o nome pau-brasil. Nesse mesmo ano o rei D. Manuel
I decide entregar a exploração a particulares, adoptando uma política de concessões de três anos: os concessionários deveriam descobrir 300
léguas de terra por ano, instalar aí uma fortaleza e produzir 20.000 quintais de pau-brasil.

Em 1502 um consórcio de comerciantes financiou uma expedição, que terá sido comandada por Gonçalo Coelho, para aprofundar o
conhecimento sobre os recursos da terra, estabelecer contactos com os ameríndios e principalmente fazer o mapeamento da parte situada
aquém do Meridiano de Tordesilhas, por isso pertencente à coroa portuguesa.

Em 1503, todo o território foi arrendado pela coroa para exploração do pau-brasil aos comerciantes que financiaram a expedição, entre
eles Fernão de Noronha, que seria representante do banqueiro Jakob Fugger, que vinha financiando viagens portuguesas à Índia. Em 1506
produzia cerca de 20 mil quintais de pau-brasil, com crescente demanda na Europa, cujo preço elevado tornava a viagem lucrativa Os navios

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ancoravam na costa e recrutavam índios para trabalhar no corte e carregamento, em troca de pequenas mercadorias como roupas, colares
e espelhos (prática chamada "escambo"). Cada nau carregava em média cinco mil toras de 1,5 metro de comprimento e 30 quilogramas de
peso. O arrendamento foi renovado duas vezes, em 1505 e em 1513. Em 1504, como reconhecimento, o rei D. Manuel I doou a Fernão de
Noronha a primeira capitania hereditária no litoral brasileiro: a ilha de São João da Quaresma, actual Fernando de Noronha.

Nas três primeiras décadas o Brasil teria um papel secundário na expansão portuguesa, então centrada no comércio com a Índia e para o
Oriente. O litoral servia fundamentalmente como apoio à carreira da Índia, em especial a Baía de Todos-os-Santos onde as frotas se abasteciam
de água e lenha, aproveitando para fazer pequenos reparos. No Rio de Janeiro, junto à foz do rio foi erguida uma construção inspirou o nome
que os índios deram ao local: "cari-oca”, casa dos brancos.

Comerciantes de Lisboa e do Porto enviavam embarcações à costa para contrabandearem pau-brasil, aves de plumagem colorida
(papagaios, araras), peles, raízes medicinais e índios para escravizar. Surgiram, assim, as primeiras feitorias. A cultura da cana-de-açúcar foi
introduzida a partir de 1516 e as grandes plantações na Bahia e em Pernambuco exigiriam um número crescente de escravos negros da Guiné,
do Benim e da Angola.

Desde as expedições de Gonçalo Coelho que se assinalavam incursões de franceses no litoral brasileiro. A partir de 1520, os portugueses
apercebem-se que a região corria o risco de ser disputada, dada a contestação do Tratado de Tordesilhas por Francisco I de França, que
incentivava a prática do corso. O aumento do contrabando de pau-brasil e outros géneros por corsários, desencadearam um esforço de
colonização efectiva do território.

Entre 1534-36 D. João III instituiu o regime de capitanias hereditárias, promovendo o povoamento através das sesmarias, como se fizera com
sucesso nas ilhas da Madeira e de Cabo Verde. Foram criadas quinze faixas longitudinais que iam do litoral até o Meridiano das Tordesilhas.
Este sistema envolvia terras vastíssimas, doadas a capitães-donatários que possuíssem condições financeiras para custear a colonização. Cada
capitão-donatário e governador deveria fundar povoamentos, conceder sesmarias e administrar a justiça, ficando responsável pelo seu
desenvolvimento e arcando com as despesas de colonização, embora não fosse proprietário: podia transmiti-la aos filhos, mas não vendê-la. Os

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doze beneficiários eram elementos da pequena nobreza de Portugal que haviam-se destacado nas campanhas da África e na Índia, altos
funcionários da corte, como João de Barros e Martim Afonso de Sousa. Das quinze capitanias originais (a dois meses de viagem de Portugal)
apenas as capitanias de Pernambuco e de São Vicente prosperaram. Ambas se dedicaram à lavoura de cana-de-açúcar e, apesar dos problemas
comuns às demais, os donatários Duarte Coelho e os representantes de Martim Afonso de Sousa, conseguiram manter os colonos e
estabelecer alianças com os indígenas.

Percebendo o risco que corria o projecto de colonização, a Coroa decidiu centralizar a organização da Colónia. Com a finalidade de "dar favor e
ajuda" aos donatários, o rei criou em 1548 o Governo-geral, enviando como primeiro governador-geral Tomé de Sousa. Resgatou dos herdeiros
de Francisco Pereira Coutinho a Capitania da Baía de Todos os Santos, transformando-a na primeira capitania real, sede do Governo Geral. Esta
medida não implicou a extinção das capitanias hereditárias.

O governador-geral passou a assumir muitas funções antes desempenhadas pelos donatários. Tomé de Sousa fundou a primeira
cidade, Salvador (Bahia), capital do estado. Trouxe três ajudantes para ocupar os cargos das finanças, da justiça e da defesa do litoral. Vieram
também padres jesuítas, para catequese dos indígenas. Em 1551, foi criado o 1º Bispado do Brasil. Foram também instaladas as Câmaras
Municipais, compostas pelos "homens bons": donos de terras, membros das milícias e do clero. Sob o governo de Tomé de Sousa que chegou
ao Brasil um considerável número de artesãos. De início trabalharam na construção da cidade de Salvador e, depois, na instalação de engenhos
na região.

Os governadores seguintes, Duarte da Costa (1553 - 1557) e Mem de Sá (1557 - 1572), reforçaram a defesa das capitanias, fizeram explorações
de reconhecimento e tomaram medidas no sentido de reafirmar a colonização, enfrentando choques com índios e com invasores,
especialmente os franceses, que em 1555 trazidos por Nicolas Durand de Villegagnon ocuparam o território o Rio de Janeiro, onde tentaram
estabelecer uma colónia, a França Antártica. A ocupação francesa perduraria até 1567, ano em que foram definitivamente derrotados,
estabelecendo-se em definitivo a hegemonia portuguesa. Surgiram ainda conflitos com o bispo, e com os próprios jesuítas que se opunham à
escravidão indígena, e entre antigos e novos colonos.

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1515 1516 1517 1518 Notas
Castela / Europa Morte de D. Fernando; Carlos I (de facto)
Fim da Guerra da Liga de
Cambrai
Regência de Cisneros
Renovação da Guerra contra Barbaroxa e os corsários magrebinos (até 1520)
Campanha naval do marquês de Comares
Interferência na zona portuguesa
Argélia e Tunísia Conflito entre Castela + Aragão (desde 1505), Zaiânidas (Argélia), Háfsidas (Tunísia), outros poderes locais e Barbaroxa (desde 1513)
→ Corso e pirataria →
Morte de Aruj
Hairedin →
Portugal (Marrocos) Mamora Morte de Nuno F. de Ataíde Fim das grandes
operações terrestres;
Dissolução do
Protectorado no Sul de
Marrocos;

Pirataria de pequena intensidade oriunda de Larache, Targa e Tetuão (demarcação portuguesa)


Barbaroxa assinalado em Reconfiguração Epicentro no Estreito;
Larache Naval Percep. Ameaça Turca e
Campanha naval no Estreito (Diogo Lopes de Sequeira) Castelhana. Estratégia
Naval Defensiva.

Brasil João de Dias Solis


(rio da Prata / Guanabara)
→ Franceses na costa brasileira →
I Exp. Cristóvão Jacques (até 1519) Ocupação do espaço
Perseguição dos navios de Solis / Transf. Feitoria de Cabo Frio para Pernambuco; terrestre e marítimo.
aliança com os Tabajaras Esboço.

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Med. Oriental / Mar Conquista otomana do
Vermelho Egipto
Guerra Turco-Egípcia
Guerra entre o Egipto e Portugal (Guerra Mameluca) Guerra Turco-Portuguesa →
Estado da Índia Conquista de Ormuz Expedição de Djedá Ordem p/a Recuo da fronteira para o
Morte de Albuquerque (Lopo Soares) conquista de Diu NO da Índia; Presença
(DL Sequeira) naval no E. de Adém.
Estratégia Defensiva
Reconfiguração Naval (DL Sequeira)

Resumo do capítulo IV do terceiro volume de Jaime Cortesão

Surge um conflito com a viagem de Fernão de Magalhães sobre a posse das Molucas, entre D. João III e o imperador Carlos V. tanto D. Manuel
como D. João III empregaram os maiores esforços, quer para obstar a que os castelhanos alcançassem as Molucas, quer se o impedimento não
lograsse, para evitar que se apossassem delas e do seu comércio. António de Brito, que saíra de Lisboa com uma esquadra, levando este último
encargo, chegou no começo do ano de 1522 às ilhas do cravo, onde, do mesmo passo que fazia construir uma fortaleza em Ternate,
aprisionava todos os espanhóis sobreviventes da expedição de Magalhães, que nesse arquipélago ou próximo dele pôde colher.

Qualquer dos dois governantes afirmava que as Molucas ficavam dentro do hemisférios respectivo, conforme o meridiano de partilha fixado
pelo Tratado de Tordesilhas, e um suposto contra meridiano que projectava, em semicírculo, a linha divisória no Pacífico.

A contenda terminava pelo Tratado de Saragoça de 23 de Abril de 1529, pelo qual o imperador não só abandonava a Portugal as suas
pretensões ao arquipélago das Molucas, mas convinha também em que a linha de partilha no Oriente recuasse para lá das Molucas.

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Apontamentos do Caderno

D. Manuel sobre ao trono em 1495 – não deveria ter sido rei, foi um total acaso da fortuna. Tinha um apetite autocrático e centralista.

1475-79 – 1ª guerra que se alastra para além mar: naval.

1ª herança do reinado de D. João II – Tratado de Tordesilhas.

2ª herança do rei nado de D. João II – travou uma batalha com a alta aristocracia e ganhou.

No início do século XVI Portugal é o estado mais moderno da Europa pois era já centralista. A coroa não tinha só enorme autoridade, tinha
também muito prestígio.

Um fidalgo é um aristocrata com linhagem.

Um nobre pode ser de toga.

O rei D. Manuel fez-se sentir em todos os sentidos, todo o reino foi alterado.

Entre a viagem de Bartolomeu Dias e a de Vasco da Gama vai um longo tempo:

- 1489 – Bartolomeu Dias regressa a Portugal.

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- 1497 – Vasco da Gama parte – 1499 – regressa.

Cortes em Montemor-o-Novo: conselho onde o rei questionou se se fazia nova viagem ou não. Maioria votou contra, mas o rei insistiu.

Vasco da Gama já utilizava naus que lhe permitiam entrar mais dentro no mar, e por que se está à procura de uma rede comercial.

Os navios não podem navegar contra o vento.

A viagem de Vasco da Gama teve grande perícia técnica exactamente por causa dos ventos contrários.

Especiaria – lista de produtos preciosos da Índia.

Há duas rotas tradicionais das especiarias:

a) A do mar vermelho – porto de Djjedah – Europa.


b) Golfo Pérsico – Bassorá – Fenícia (Beirute) – Europa.

A exploração da rota comercial da Índia terá, talvez, marcado o início da globalização.


Viagens:
1. 1497 – Gama
2. 1500 – Cabral
3. 1501 – João da Nova

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4. 1502 – Gama
5. 1503 – Albuquerque e Saldanha
6. 1504 – Lopes Soares

A partir de Cabral há duas armadas no mar ao mesmo tempo. A segunda armada de Vasco da Gama foi preparada com as premissas de Cabral,
e assim sucessivamente. A armada de Cabral foi arranjada bastante à pressa.
O Estado Português é um Estado Empresa.
3 grandes entrepostos comerciais: Ormuz, Malaca, Malabar.
Os portugueses eram militarmente superiores aos indianos.
Alviçaraz – recompensa dada pelo rei por notícias boas.
As viagens para a Índia estabilizam em cinco navios.
A aristocracia que está na Índia são filhos segundos.

Valores identitários: rei, terras, família, parentesco…

Ser português no século XVII era ser um súbdito do rei de Portugal.

Por isso é que Portugal tinha marinheiros de várias nações, pois eram considerados portugueses, desde que jurassem submissão e se
vinculassem ao rei.

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Categoria dos estrangeiros - mercenários, contratavam-se por 6 meses etc. Recebiam soldo, mantimentos e, se fosse decidido na expedição,
saque.

O piloto era sempre português de nascimento!

Todas as categorias estão cheias de estrangeiros, fora a de piloto.

Título do rei: D. Manuel pela graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves, de aquém e de além mar em África. Senhor de Guiné e da Conquista,
navegação comércio de Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia. Este título chama-se o ditado do rei. Está tudo contido neste título. É uma afirmação
pública para consumo europeu, é simultaneamente uma reivindicação. Segundo o direito romano um dos elementos essenciais para a garantia
da propriedade é o anúncio público sem contestação. Se ninguém reclama após o anúncio é dele e ponto final.

Senhorio – domínio de um determinado espaço (comercial, territorial, etc.).

O Reino de Fez pertence a castela, pelo direito de conquista.

O rei avança para a criação da armada da índia e dos armazéns.

1502 – 2º viagem de Vasco da Gama

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Com Afonso de Albuquerque começa-se a pensar na criação de estruturas administrativas na índia – Estado da índia (1504) – vice-rei (que tem
exactamente o mesmo poder que os governadores, mas mais dignidade); e estruturas térreas.

Momento de organização

Naus da Pimenta = armada da carreira

Presença na costa oriental de áfrica precede a presença na costa da índia.

Sofala, Kilva, Moçambique, Mombaça, Melinde – deixam aqui força naval.

ASDIVA = GOA

Conlão – fazem lá feitoria, só em 1508 por soares

Pegu, Malaca = Birmânia

1502 – primeira vez que mandam coisas em peças para depois serem montados.

Tentativa de influência do Egipto no Mar Vermelho e Índico.


Razões para a Guerra Mameluca:
a) Protecção dos lugares Santos
b) Influência política na Índia
c) Comércio das especiarias.

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Aproximidade entre o Cairo e Veneza.
Não existem políticas de governadores – o governador é um executor.
Diu é a chave de toda a Índia.

COMPLEXO POLÍTICO ENTRE 1515-18:

1516 – Morre D. Fernando Rei de Aragão, Regente de Castela por Joana, a Louca – filha mais velha dos reis católicos, só morre em 1555,
e é Rainha de Castela até a sua morte, o que faz com que Carlos V seja co-regente de Castela, e não rei/imperador total. O casamento
dos reis católicos não significa a união de Espanha, juridicamente vai estar separada até ao século XIX.
Isabel (morre em 1504) + Fernando II de Aragão

Joana, a Louca + Filipe, o Belo

Carlos V (1518 passa a ser Rei de Espanha, quando é jurado em Cortes em Aragão e Castela).

1515 – Conflito entre Castela e Aragão


1517 – Campanha naval do Marquês de Comares – interferência na zona portuguesa.
1518 – Morte de Aruj Hairedin

ÁFRICA
1. Norte – ceuta; Alcácer; Arzila; Tânger; Graciosa.
2. Sul – Mogador; Santa Cruz do Cabo de Gue; Aguz; Safim; Azmor; Mazagão.
3. Centro – Mamora.

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Surge no sul, uma família que se reclama sharifina. E começam a pregar a guerra santa contra os portugueses, e que os infiéis têm de ser
expulsos de Marrocos.
O poder em Fez é fraco.
O barbaroxa uma das razoes do poder dele foi o ter-se aliado aos marabutos da Argélia.

A bancarrota portuguesa de 1549 é literalmente a insolvência da feitoria da flandres (Antuérpia). Quando a feitoria fecha quer dizer que o rei
rejeita a divida.

Porque o estado não tem condições para fazer face à divida que é causada por juros altíssimos.

Porquê que a dívida é contraída?

1) As despesas correntes com gastos militares;


2) As despesas correntes com o funcionalismo (burocratização do estado – métodos muito menos directos);
3) Um aumento exponencial de mercês (é uma graça que el-rei dá a quem serviu bem a coroa) – pode ser qualquer coisa, dinheiro,
terrenos, etc.; só para alguns mas vão acumulando, e o quadro de receitas do estado é muito reduzido pelo que isto o torna precário.
 PORQUE O DINHEIRO NUNCA ESTÁ DISPONÍVEL, NÃO É QUE O DINHEIRO SEJA VIRTUAL, É REAL, TEM-SE SEMPRE DE PEDIR
EMPRESTADO PARA DESPACHAR O QUE FOR PRECISO, ESTÃO SEMPRE A TRABALHAR EM AVANÇO E SOBRE RENDIMENTOS FUTUROS,
NÃO ASSEGURADOS.

1 MILHÃO DE CRUZADOS = 1 MILHÃO DE OURO

As margens de lucro não eram muito grandes, portanto bastava falhar alguma coisa sistematicamente e pim – falência.

Porquê que não abandonou Norte de África (D. João III):

a) Subsídios da Santa Sé;


b) Rivalidade com Castela;

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c) Espirito de cruzada e a conquista do reino de fez como desígnio do espírito português;
d) Actividade militar em Marrocos é favorito da casta militar;
e) Pirataria.

A conquista do Reino de Fez era uma realidade na mentalidade portuguesa. Não esquecer que as praças do norte estavam todas viradas para
Fez.

Existem duas grandes controvérsias sobre a história da expansão: e derrota em Alcácer-Quibir e conquista de Ceuta.

O desastre de Alcácer-Quibir provocou um trauma no país, o que fez com que D. Sebastião fosse exorcizado.  Culpabilização de D. Sebastião
na historiografia portuguesa tradicional. Mas a verdade é que todos os que foram, foram culpados pelo desastre. Tudo muda após este
desastre. Até esta altura os portugueses eram supremacistas, ou seja tudo o que é português era o melhor, o estrageiro era mau. O plano desta
batalha quando é apresentado em 1576 à corte espanhola é inatacável, de tal forma que o embaixador de Espanha (Juan da Silva –
extremamente antiportuguês) diz que este plano é acertadíssimo e que deve ser adoptado pelo rei espanhol também.

Conquista de Larash estava nos planos.

D. Sebastião vai para a África com medo da Otomonização da zona e tomada dos portos.

1540 – Capitulado daria direitos de sucessão muito especiais, fortemente contestados na corte portuguesa – “Os Portuguesíssimo” – liderado
por D. Afonso de Portugal, que vem a morrer na batalha. É a primeira vez que circulam panfletos difamatórios do poder real em Portugal –
durante o casamento de Maria e Filipe.

O Cardeal D. Henrique já mostra outra tendência. Quando D. Sebastião sobe ao trono em 68 vinga na corte o partido portuguesista porque o
próprio rei era um dos seus membros mais destacados. A ruptura com Filipe dá-se por altura da ruptura do noivado de D. Sebastião com a filha
do Imperador. É evidente que esta rivalidade entre os dois monarcas ibéricos iria materializar-se no Norte de África desde 1415.

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Expedição de D. Sebastião e suas consequências; Consequências da batalha:

a) Enfraquece o país, as suas finanças e a aristocracia;


b) A perda da independência significa o fim da expansão portuguesa.

Afonso de Albuquerque conquista Malaca - 1511. A Índia sempre foi macrocéfala. Malaca tem uma zona de jurisdição que vai desde o Pegu até
à China + Brunei e ilhas das especiarias.

Há um regime de capitanias nos anos 30 que foi continuado até mais tarde

Problemas das Molucas  Tratado de Saragoça provocado pela viagem de Fernão Magalhães (ao acaso, a circunavegação foi acidental). Os
portugueses iam as Molucas desde 1512, mas não estão estabelecidos no arquipélago, são viagens comerciais e a presença dos portugueses no
arquipélago é apressada pela notícia do desembarque de navios espanhóis no arquipélago. Portugueses foram expulsos do Brunei. Na década
de 60 Portugal só tinha posições em dois lugares: Malaca e Molucas, mas viajavam para todo o lado (Oriente era uma zona de aventureiros).
Espanhóis nunca desistiram das Molucas. A sua permanência nas Filipinas vai contra o Tratado de Saragoça. 1513  PRESENÇA NA CHINA.
1515  Planos para a conquista da China. Simão de Andrade, irmão de Peres de Andrade decidiu construir uma fortaleza sem a autorização
imperial chinesa. Os chineses não gostaram. Livro de Duarte Barbosa.

Quando os portugueses começam a ser derrotados no mar as coisas começam a ser preocupantes.

1523  ano terrível para os portugueses no sudeste asiático. Assentamento em Samatra foi impedido, e começam a sofrer derrotas navais (e
isto é o que realmente preocupa) e são expulsos da China.

1523  portugueses são expulsos da China, devido a Simão de Andrade e a sua fortaleza.

1512  na zona de Cantão presença portuguesa.

Malaca era o ponto de convergência de todas as rotas comerciais no sudeste asiático.

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Portos chineses foram fechados aos portugueses, mas jugos chineses continuaram a ir a Malaca e aos seus portos.

Chinchéu – 45/48; Liampó – 42/45. Foram outra vez expulsos, mas tarde.

Japão – 1543. Negócios. Monopolizando as rotas. As viagens para o japão são regulamentadas pelo Estado. Isto é que salvou a permanência na
China. Estes foram permitindo a presença portuguesa.

Cobre e seda do Japão.

China – prata.

Sinopse dos argumentos apresentados contra o abandono das praças de Marrocos.

Principais Argumentos apresentados Rebatido Sucessão Actuante na definição da


entre ca.1530 e ca.1560 na política africana de D.
época? Sebastião?
As conquistas como herança inalienável não não
A conquista do reino de Fez como não Impopularidade do monarca; mal-estar latente: Um sim
desígnio colectivo da sociedade rei fraco faz fraca a forte gente.
portuguesa

Teatro de serviço eleito pela Aristocracia não Idem sim

Perda de prestígio internacional não Em sentido inverso ao ganho de prestígio pelas sim
conquistas africanas. Derrota da reconquista de Além-
Mar, em África. A precipitada (e imprevista) retirada
de 1541 propagou a ideia de fuga; A retirada dos
portugueses, os primeiros novos cruzados, reforça a

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ideia de uma Europa cercada pelo Islão.

Perda de influência regional para Castela não O vazio criado por Portugal reforça e renova as sim
e crescente subalternidade portuguesa ambições e o inconformismo de Castela face às
nas relações entre os dois reinos. demarcações. Entrega da cruzada ao Imperador.
Surgimento de novos intervenientes na região: França
(tenha-se em conta O NA como palco
e Inglaterra46
principal da rivalidade luso-castelhana)

Recrudescimento do Corso / segurança sim Na sequência do abandono de Arzila, Larache torna-se sim
da frota de pesca e do litoral peninsular numa importante base pirata; os navios de pesca
portugueses perdem o seu tradicional ponto de apoio
no Norte: Arzila; os navios são atacados no litoral de
Marrocos, quer por fustas de Larache quer por navios
franceses e ingleses. Corsários magrebinos surgem no
Algarve (→ 1550).
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Intervenção de Hairedin Barbaroxa / sim (v. nt.)
Turcos

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O levantamento do bloqueio dos portos de mar que literalmente cercava a fachada marítima de Marrocos muito facilitou a entrada de novos agentes e velhos
interessados. Não entram em análise circunstâncias que eventualmente ou de facto se encontram subjacentes à ofensiva de D. Sebastião sobre Marrocos, como o receio de
otomanização da região, mas que sendo posteriores fogem aos considerandos em torno da política joanina. Certas evoluções, como as relações diplomáticas e comerciais
entre franceses e ingleses e os xarifes, embora tenham por causa primitiva o recuo português e tenham subsidiado a tese intervencionista, eram imprevistas em 1541 e
mesmo em 1550.
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Não se trata do receio de otomanização de Marrocos tal como sentido em 1576, mas sim de uma intervenção naval e de um golpe de mão contra um dos portos, atalhável
com a prontidão da frota cristã no Med. Ocidental, na qual Portugal deveria participar, e com o reforço de Ceuta.

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48
Perda de rendimentos da bula da sim não (embora tenha sido
Cruzada renovada)

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Não dispomos de dados para defender que os rendimentos líquidos da Bula da Cruzada oscilaram grandemente, tanto mais que resultavam da venda de indulgências.
Contudo, os subsídios extraordinários dados pela Santa Sé à coroa portuguesa, ao abrigo da Bula da Cruzada (para além do reforço dos privilégios espirituais), têm no século
XVI dois picos que, quanto a nós, são significativos: os primeiros anos do século XVI até 1516, coincidente com a ofensiva manuelina, e o período anterior à expedição de
Alcácer Quibir.

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