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Superior Tribunal de Justiça

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP N° 158.051 - RJ (2000/0080498-3)

RELATOR : MINISTRO JOSÉ ARNALDO DA FONSECA


EMBARGANTE : BORIS JAIME LERNER
ADVOGADO : DÉCIO NUNES TEIXEIRA E OUTROS
EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGANTE : RAMON RODRIGUEZ CRESPO E OUTROS
ADVOGADO : WELLINGTON MOREIRA PIMENTEL E OUTROS
EMBARGADO : BORIS JAIME LERNER E OUTRO
EMBARGADO : RAMON RODRIGUEZ CRESPO E OUTROS
EMBARGADO : UNIÃO

EMENTA

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.
1) NAUFRÁGIO DA EMBARCAÇÃO BATEAU MOUCHE IV. FIGURAÇÃO
DA UNIÃO FEDERAL NO PÓLO PASSIVO DA RELAÇÃO PROCESSUAL.
COMPETÊNCIA INTERNA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DEMANDA
POSSUI NATUREZA ACENTUADAMENTE PRIVASTÍSTICA CARACTERÍSTICA
PREDOMINANTE PARA EFEITO DE DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA,
CRITÉRIO QUE RESULTA DA NORMA INSCRITA NO CAPUT DO ART. 9o,
RI/STJ. COMPETÊNCIA DA 2a SEÇÃO.
2) EXCLUSÃO DA UNIÃO DA RESPONSABILIDADE PELA
INDENIZAÇÃO DE DANOS MATERIAIS. AOS OUTROS RÉUS, PELO MESMO
ATO ILÍCITO, ESTENDE-SE A EFICÁCIA DESSA DECISÃO EM HOMENAGEM À
REGRA DE UNITARIEDADE. DESPICIENDA, NA HIPÓTESE, A NATUREZA DO
LITISCONSÓRCIO, O QUE IMPORTA É SABER SE A SITUAÇÃO JURÍDICA
SERÁ DECIDIA UNIFORMEMENTE PARA TODOS OS LITIGANTES-RÉUS. OS
INTERESSES SÃO COINCIDENTES, LOGO, O RECURSO DE UM APROVEITA
AOS DEMAIS.
3) INDENIZAÇÃO POR ATO ILÍCITO. CUMULAÇÃO DAS
INDENIZAÇÕES POR DANOS PATRIMONIAL E MORAL. MORTE DE MENOR
IMPÚBERE, NÃO TRABALHADOR, CUJA FAMÍLIA NÃO É POBRE.
INACUMULABILIDADE RESSARCÍVEIS, SOMENTE, NO CASO, OS DANOS
MORAIS.
EMBARGOS DE DIVEGÊNCIA NÃO CONHECIDOS.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da CORTE ESPECIAL do Superior Tribunal de
Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir,
prosseguindo no julgamento, por unanimidade, não conhecer dos embargos de
divergência, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros
Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Eliana Calmon, Nilson Naves, Garcia Vieira,
Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro, Francisco

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Peçanha Martins, César Asfor Rocha, Vicente Leal, Ari Pargendler e José Delgado
votaram com o Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro,
Edson Vidigal, Hélio Mosimann e Ruy Rosado de Aguiar não participaram do
julgamento (RISTJ, art. 162 § 2o). O Sr. Ministro Francisco Falcão não proferiu
voto, por ser sucessor do Sr. Ministro Hélio Mosimann. Ausente, justificadamente,
o Sr. Ministro Gilson Dipp.
Brasília (DF), 17 de abril de 2002 (data do julgamento).

Ministro Milton Luiz Pereira


Presidente

Ministro José Arnaldo da Fonseca


Relator

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EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP N° 158051 - RJ (2000/0080498-3)

MINISTRO:JOSÉ ARNALDO DA FONSECA

RELATÓRIO

Ao admitir os Embargos, fi-lo vazado nestes termos (fls. 2678/79):


"Decidiu a 4a Turma, Rel. Min. Barros Monteiro (fl. 2575):
"RESPONSABILIDADE CIVIL.
NAUFRÁGIO DA EMBARCAÇÃO "BATEAU MOUCHE IV".
ILEGITIMIDADE DE PARTE PASSIVA "AD CAUSAM". SÓCIOS. TEORIA
DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA'. DANOS
MATERIAIS. PENSIONAMENTO DECORRENTE DO FALECIMENTO DE
MENOR QUE NÃO TRABALHAVA.
1. Argüições de ilegitimidade de parte passiva e imputações
recíprocas dos réus acerca da responsabilidade pelo trágico evento. Em
sede de recurso especial não é dado rediscutir as bases empíricas da lide
definidas pelas instâncias ordinárias. Incidência da súmula n° 07-STJ.
2. Acolhimento da teoria da "desconsideração da personalidade
jurídica". O Juiz pode julgar ineficaz a personificação societária, sempre
que for usada com abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar
terceiros.
3. Reconhecido que a vítima menor com seis anos de idade não
exercia atividade laborativa e que a sua família possui razoáveis recursos
financeiros, os autores - pai e irmã - não fazem jus ao pensionamento
decorrente de danos materiais, mas tão-somente, nesse ponto, aos
danos morais fixados.
Recurso especial interposto por Ramon Rodriguez Crespo e
outros não conhecido; recurso da União conhecido, em parte, e provido. "
A esse julgado opuseram o Ministério Público Federal e Ramon Rodriguez
Crespo e outros Embargos de Divergência, sustentando os primeiros Embargos
discrepância com o entendimento adotado pela 1a Turma que, por seu turno,
apóia-se em orientação da 2a Seção do STJ, ou seja, em se tratando de
indenização por ato ilícito são acumuláveis as indenizações por dano patrimonial e
moral, e a pensão decorrente de ato ilícito que provocou a morte de menor deve ser
paga até o dia em que a vitima, se viva fosse, completaria 25 anos. Assim,
enquanto o aresto embargado afasta o dever de indenizar os danos materiais
provenientes de ato ilícito (morte de menor), o paradigma lhe reconhece o direito.
Os outros Embargos fundam-se na divergência com o julgado da 6a
Turma, restrita à discussão quanto à competência para julgar matérias de Direito
Público, como a dos autos, concernentes à responsabilidade civil do Estado.
Desse modo, o acórdão Embargado, ao rejeitar, por maioria, a preliminar de
incompetência suscitada, dissentiu da diretriz fixada no REsp 162.504/SP, rel. Min.
Vicente Leal, assim ementado (fls. 2671):
"REGIMENTAL. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE CIVIL
DO ESTADO. COMPETÊNCIA DA 1A. SEÇÃO. RISTJ, ART. 9., PAR. 1.,
VIII.
- O REGIMENTO INTERNO DO STJ, AO DEFINIR AS ÁREAS

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DE ESPECIALIZAÇÃO DOS SEUS ÓRGÃOS JUDICIÁRIOS, ATRIBUI A
PRIMEIRA SEÇÃO COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR
FEITOS RELATIVOS A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO (ART.
9., PAR. 1., VIII).
- NÃO COMPETE A 3A. SEÇÃO PROCESSAR E JULGAR
AÇÃO PUGNANDO PELA DEFINIÇÃO DO TERMO FINAL DA PENSÃO
DEVIDA PELO ESTADO NO ÂMBITO DE SUA RESPONSABILIDADE
OBJETIVA.
- INCOMPETÊNCIA DA 3A. SEÇÃO DECLARADA. REMESSA
DOS AUTOS A 1A. SEÇÃO. "
Nesse passo, tenho como evidenciado o descompasso entre o aresto
embargado e os exemplares, razão por que admito ambos os Embargos. As partes
Embargadas para impugná-los. "
Também admiti os apresentados por Boris Jaime Lerner (fls. 2594/2602),
apontando descompasso do acórdão da eg. 4a Turma (REsp 158.051-RJ) com a
orientação da 1a, 2a e 3a Turmas no que se refere à natureza do vínculo jurídico
processual que se estabeleceu entre a União e os outros co-réus Bateau Mouche
Rio Turismo Ltda., Itatiaia Agência de Viagens e Turismo Ltda etc,
caracterizando-se o litisconsórcio facultativo, sem a extensão assegurada no
acórdão embargado, que entendeu haver, na espécie, litisconsórcio passivo
necessário.
A União Federal impugnou-os às fls. 2687/2691, também o fazendo Boris
Jaime Lerner e Karina Lerner (fls. 2694/2697), Ramon Rodriguez Crespo e outros
(fls. 2709/2724 e fls. 2766/2779).
São três os embargos de divergência, em resumo:
a) Os de Ramon Rodriguez Crespo e outros (2664/2670) buscam,
unicamente, fazer prevalecer a competência da Seção de Direito Público para
julgar a responsabilidade civil do Estado, tal como a preconizou o aresto exemplar
da 6a Turma;
b) os do Ministério Público Federal apoiam-se em discrepância com a
diretriz da 1ª Turma e da própria 2a Seção, isto é, em se tratando de indenização
por ato ilícito, são acumuláveis as indenizações por dano patrimonial e moral, e a
pensão decorrente de ato ilícito, que provocou a morte de menor, deve ser paga até
o dia em que a vítima, se viva fosse, completaria 25 anos. Assim, enquanto o
aresto embargado afastou a obrigação de indenizar os danos materiais
provenientes de ato ilícito (morte de menor), o aresto paradigma lhe reconhece o
direito. Ademais, acrescem, o fato de o menor, vítima do infortúnio, com seis anos,
então não exercer atividade laborativa e de ter sua família recursos financeiros
constituem tema que esbarram na Súmula 7, do STJ, descabendo exame na via
do recurso especial (fls. 2609/2614);
c) afinal, a irresignação de Boris Jaime Lerner (fls. 2594/2602),
indicando assimetria entre o aresto embargado e a diretriz das 1" 2a e 3" Turmas,
no pertinente à natureza da relação jurídico-processual estabelecida entre a União
Federal e os co-réus Bateau Mouche Rio Turismo Ltda, Itatiaia Agência de Viagens
e Turismo Ltda, Cavalo Marinho Comestíveis Ltda. e todas as pessoas fisicas
integrantes dessas empresas. Esta relação, segundo os Embargos com base em
precedentes exemplares dessas Turmas, (fls. 2597/2599) constitui litisconsórcio
facultativo, e, desse modo, não aproveita a todos réus a decisão da 4a Turma que,
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dando provimento ao Especial da União Federal, cancelou a pensão concedida em
virtude da morte do menor Eduardo, com esta cláusula: "solução esta que
aproveita a todos os réus em razão de tratar-se no caso de obrigação solidária". A
exclusão, arremata-se, deve cingir-se à União, e não aos demais réus.
Feito esse escorço, passemos ao exame da pretensão de cada um dos
Embargos.

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MINISTRO: JOSÉ ARNALDO DA FONSECA

VOTO

No tocante à incompetência da 4a Turma sopesada pelos Embargos de


Ramon Rodriguez Crespo e outros, bem já o respondera o voto condutor do
acórdão embargado, de autoria do Min. Barros Monteiros, às fls. 2.558/59:
"Segundo reza o art. 9o, §2°, inc. III, do RISTJ, à Segunda Seção cabe
processar e julgar os feitos relativos a:
"III - responsabilidade civil, salvo quando se tratar de
responsabilidade civil do Estado".
A espécie conta com uma peculiaridade: a presente ação de indenização
por ato ilícito é movida contra a União e, também, contra particulares. Para efeito
de competência interna no Tribunal, situa-se numa "zona cinzenta", pois, enquanto
as ações de responsabilidade civil do Estado são de competência de uma das
Turmas que compõem a 1ª Seção, as de responsabilidade civil de particular são de
competência de uma das Turmas da 2a Seção.
Nessa hipótese, penso, salvo melhor juízo, que deve prevalecer, para
efeito de determinação da competência, a característica predominante do litígio,
critério que resulta da norma inscrita no caput do art. 9o do mesmo RI ("A
competência das Seções e das respectivas Turmas é fixada em função da
natureza da relação jurídica litigiosa"). Aqui, a demanda possui natureza
acentuadamente privatística, não só em face dos diversos pleitos formulados, mas
também da causa de pedir (naufrágio de embarcação pertencente a particular).
É de conveniência, ademais, que todas essas ações relativas ao acidente
da embarcação "Bateau Mouche IV" sejam apreciadas por uma só Seção, sendo
certo que o simples fato de a União participar da lide não é o bastante para
deslocar a competência à Eg. 1a Seção (a competência das Seções não se define
pela qualidade da parte).
Por essas razoes, em suma, é que estou mantendo a competência desta
Turma para julgar os recursos especiais aqui interpostos.
É o meu voto."
Com efeito, prepondera, na hipótese, pleito de responsabilidade civil de
caráter privatístico, fundada na causa de pedir: naufrágio de embarcação
pertencente a particular. E descaberia, na dúvida quanto à competência entre
órgãos desta Corte, decorridos já mais de 10 anos, anular o julgamento para
atribuir competência à 1a Seção, competência, como dito, que não se apresenta
estreme de dúvidas, eis que, na hipótese, não está revelada, com nitidez, a
competência regimental. Ademais, esta Corte Superior tem decidido que a
competência interna se fixa levando em conta a relação jurídica litigiosa, e não a
qualidade das pessoas figurantes na demanda.
Não há cogitar de nulidade de julgamento.
Não conheço, pois, dos Embargos de Ramon Rodriguez Crespo e outros
por indemonstrada a discrepância irrogada.

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Por sua vez, busca o Parquet Federal se proclamem cumuláveis os danos
materiais e os danos morais devidos à família do menor vitimado, que não exercia
atividade remunerada, com base na Súmula 37, do STJ.
Restou decidido pelo aresto hostilizado (fls. 2565):
"Diz respeito à pensão concedida em virtude da morte do menor impúbere
Eduardo, à época com seis anos de idade. O falecido - claro está - não trabalhava
e, de outra parte, a própria decisão recorrida reconhece que a sua família não é
pobre. Não se afigura razoável, pois, supor que essa vítima fosse contribuir para o
sustento dos autores, pai e irmã.
Este órgão fracionário do Tribunal tem entendido que, tratando-se de
menor que não exercia atividade laborativa, em princípio, seus pais não fazem jus
ao pensionamento decorrente de danos materiais, mas tão-somente aos morais.
Confiram-e o REsp n° 28.861-0/PR (in RSTJ vol. 50, pág. 305) e o REsp n°
119.963-PI, ambos relatados pelo il. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.
Neste item da irresignação recursal por conseguinte, o decisum guerreado
contrariou a norma inscrita no art. 1.537, inc. II, do Código Civil, expressamente
invocada pela recorrente."
Por primeiro, diga-se que o acórdão paradigma lavrado no REsp
147.412-DF, difere, em certo aspecto, do caso ora versado. Em ambos os
julgados, discute-se responsabilidade civil por morte de menor em decorrência de
ato ilícito e se postula indenização por danos materiais, a converter-se em
pensionamento. Esses os pontos comuns. A especificidade se destaca, contudo,
no fato de que, no exemplar, a vítima fatal era um preso, de família pobre, de
parcos recursos financeiros, condição em que se subentende a prestação de
serviços dos menores para colaborar na subsistência dos progenitores.
Aqui, como ressaltado, nas instâncias comuns e proclamado na instância
especial, tratava-se de menor impúbere, vitimado, não trabalhador, cuja família não
é pobre. Dessarte, a hipótese é: de menor de pouca idade (6 anos), não exercente
então de atividade laborai, de família que não é pobre, não tendo os familiares do
infeliz menor direito a danos materiais, e sim aos morais.
A propósito, à vista da invocação da Súmula 37, do STJ, convém se
relembre o aresto do il. Desemb. Barbosa Moreira, no ponto pertinente (fls. 2715):
"É bem conhecida, e resumida com clareza por YUSSEF SAID CAHALI,
Dano e indenização, S. Paulo, 1980, págs. 43 e segs., a evolução do direito
brasileiro na matéria, tal como refletida na jurisprudência. A partir de uma posição
inicial negativa, que se fundava na dupla recusa em ver prejuízo patrimonial na
perda do filho menor, sem atividade remunerada, e em admitir a reparabilidade do
dano moral, passou-se a uma etapa em que os tribunais, ainda relutantes no que
concerne a este último ponto, mas pouco propensos a manter uma atitude já
percebida como fonte de iniqüidades, se lançaram a construções que lhe
permitissem colocar, como fundamento da responsabilidade, algo diverso do dano
moral. Recorreu-se então a expedientes como o de considerar que o menor
representava "um valor econômico/potencial", frustrando sua morte a expectativa
dos pais de que ele viesse a constituir "uma fonte de renda ou de futuros
alimentos", aludiu-se também à perda, pelos pais, daquilo "que já haviam gasto ou
investido na criação e educação do filho" (CARLOS ROBERTO GONÇALVES,
Responsabilidade civil. S. Paulo, 2a ed, 1984, pág. 171). A essa fase remonta a

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consagração de indenizabilidade no verbete n° 491 de Súmula de Jurisprudência
Predominante.
Tratava-se, contudo, de artifícios, facilmente identificáveis como tais.
Expressamente o reconheceu a própria Corte Suprema, em v. acórdão de 3.5.1977,
no recurso Extraordinário n° 83.875 (RTJ, vol. 82, págs. 546/9), onde se lê: "A
construção jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, no sentido da indenização
pela morte de filhos menores, em decorrência de ato ilícito, inspirou-se no princípio
de reparação do dano moral (...). É, pode-se dizer, uma forma oblíqua de se atingir
a reparação do dano moral, dadas as reações que suscita o pleno reconhecimento
do instituto" (Rev. Trim, deJur., vol. 82, págs. 548/9).
Alcança-se agora a terceira etapa da evolução, a que se deveria ter
chegado desde logo, sem rodeios e subterfúgios cientificamente insustentáveis e,
do ponto-de-vista prático, não só inúteis, mas francamente prejudiciais. Basta
assinalar, para demonstrá-lo, que o circunlóquio consistente em rotular de
ressarcimento de dano material o que no fundo se estava concedendo a título de
reparação de dano moral responde pela difusão da esdrúxula tese segundo a qual
seria impraticável cumular uma coisa com a outra, quando a suposição do bis_in
idem repousa exclusivamente sobre o equívoco de aludir a hipotético dano material,
fruto de mera conjectura, para designar o que na verdade nada mais é do que dano
moral efetivo.
O correto é reconhecer com franqueza que, se o filho menor não produzia
economicamente, não há dano material a ser ressarcido, a não ser porventura,
quanto a verbas de luto e funeral, se comprovadas. Consoante acentuou o
eminente MINISTRO MOREIRA ALVES, em declaração de voto no Recurso
Extraordinário nº 84.718, de 26.10.1977, in Rev. Trim. Jur., vol. 86, pág. 565, "só
se ressarce o que efetivamente se perdeu ou não se continuou a ganhar, e não o
que, eventualmente, com a ocorrência de outros fatos que nada têm de ver com o
ato ilícito (continuarem os pais pobres, vir o filho a poder alimentá-los, etc.) se
pudesse vir a ganhar".
Nessa linha de entendimento, a 3ª e 4ª Turmas do STJ, sejam exemplos:
4ª Turma, REsp 119.963-PI, DJ 22.06.98, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo; REsp
36.409 - Rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJ 02.05.94; 2ª Seção - EREsp 28.861 - PR,
RSTJ 50/305; 3ª Turma, REsp 83.032-RJ, DJ 6.08.99, de cujo julgado destaca-se
o voto do Min. Carlos Alberto Menezes, que em judiciosos traços, revela orientação
pretoriana (fls. 2721/23):
"Uma primeira consideração deve ser feita. A Seção, como assinalado em
diversos julgados, tem entendido que o pensionamento, quando se trate de menor
de tenra idade sem atividade laboral, tem sido concedido mais a título de dano
moral, merecendo especial destaque os votos dos Senhores Ministros EDUARDO
RIBEIRO e BARROS MONTEIRO nos Embargos de Divergência no Recurso
Especial n° 28.861-PR. Isso poderia ocasionar um cenário especial para os casos
em que há condenação em dano moral, sendo a criança ausente de mercado de
trabalho. A meu juízo, em tal caso duas situações de fato podem ocorrer, a saber:
1a) sendo os pais das classes média ou alta, a reparação não traz conseqüência
material evidente ou presumida, à medida que a presunção é a de que os pais
apoiem os filhos até mesmo após o casamento, sendo justo, assim, que recebam,
tão-somente, a reparacão pelo dano moral; nesses casos não há dano material
algum, nem expectativa de que tal venha a ocorrer, diante da realidade conhecida
hoje: 2ª) sendo os pais da classe trabalhadora, com baixa renda, a presunção
opera em sentido contrário, ou seja, ademais do dano moral há, também, dano

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material pela só razão de contar os pais com a renda do filho, presente ou futura,
pouco importando, desse modo, que exerça a vítima no momento da morte
atividade remunerada. Em resumo: nos casos em que houve indenização por dano
moral, a situação de fato é que vai condicionar o cabimento, ou não, do dano
material.
(... )
O seguinte quadro poderia ser desenhado:
Reparação pelo dano moral: deferimento possível sempre que houver
evento morte de filho, excluída a culpa da vítima, pouco relevando exercesse ela,
ou não, atividade laborai, fosse, ou não, menor, fixada em quantia fixa, tendo por
base o salário mínimo, se, contudo, for fixada sob a forma de pensionamento
observar-se-á o critério estabelecido para a reparação pelo dano material,
Reparação pelo dano material:
1. Se menor a vítima e exercendo atividade remunerada em família de
baixa renda, cabível a indenização com pensionamento até os sessenta e cinco
anos, tendo como termo inicial a data em que o direito laborai admite o contrato de
trabalho;
2. se menor a vítima e exercendo atividade remunerada em família de
classe alta ou média, cabível a indenização com pensionamento até os vinte e
cinco anos, com termo inicial da data em que o direito laboral admite o contrato de
trabalho;
3. se menor a vítima sem exercer atividade remunerada, cabível a
indenização em se tratando de família de baixa renda, com pensionamento até os
sessenta e cinco anos, tendo como termo inicial a data em que o direito laborai
admite o contrato de trabalho;
4. se menor a vítima sem exercer atividade remunerada, em se tratando
de famílias das classes alta e média não é cabível a indenização por ausência de
dano material salvo se provado que a vítima contribuía, efetivamente, para as
despesas da família;
5. se maior a vítima exercendo atividade remunerada, cabível a
indenização em se tratando de famílias de baixa renda, com pensionamento até os
sessenta e cinco anos;
6 se maior a vítima exercendo atividade remunerada, em se tratando de
famílias da classes alta e média, será cabível a indenização se provado que
contribuía, efetivamente, para se despesas da família;
7. se menor ou maior a vítima, mas impossibilitada, por doença, para o
exercício de atividade remunerada, não será cabível a indenização."
Com esses fundamentos, não conheço dos Embargos do Ministério
Público Federal.
Remanescem os Embargos de Boris Jaime Lerner, sustentando, em
abreviado, que a decisão que excluiu a União Federal da responsabilidade pelo
pensionamento, não alcança os demais réus por tratar-se de ação indenizatória,
em que o litisconsórcio é sempre facultativo.
O aresto impugnado, no tópico pertinente, às fls. 2565, diz: "dou-lhe
provimento, a fim de cancelar a pensão concedida em virtude da morte do menor
Eduardo, solução esta que aproveita a todos os réus em razão de tratar-se no

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caso de obrigação solidária".
Sem fazer menção, adotou-se o preconizado no art. 509, parágrafo único,
do CPC, isto é, "havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um
devedor aproveitará aos outros, quando as defesas opostas ao credor lhes forem
comuns".
No caso, reconhecendo o acórdão embargado inexistir a obrigação de
indenizar danos materiais por parte da União Federal, pelo mesmo ato ilícito, é
curial que aos outros réus, demandados sob a mesma causa de pedir,
estenda-se-lhes a eficácia dessa decisão em homenagem à regra da unitariedade,
sob pena de tornar cindível essa decisão, vale dizer, para a União não haverá
responsabilidade por danos materiais, para os demais réus, solidários, haverá.
Despicienda, na hipótese, a natureza do listisconsórcio, o que importa é saber se a
situação jurídica deverá ser decidida uniformemente para todos os litigantes que
figuram no pólo passivo. Os interesses coincidem, logo, o recurso de um aproveita
aos demais.
"Não é pela característica de ser necessário o litisconsórcio que o recurso
de um a todos os outros aproveita. O ponto nodal da questão está no caráter
unitário do litisconsórcio, de modo que, se a situação jurídica tiver de ser decidida
uniformemente para vários litigantes em determinado pólo da demanda, a
insurgência de um deles beneficiará os demais" (STJ - 4a Turma, REsp 84.079 -
Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJ 25.5.98, p. 120, Theotônio, Nota 3, ao art. 509,
CPC, 31a ed. p. 528).
"Ainda que o litisconsórcio não seja unitário, há o efeito expansivo
subjetivo do recurso interposto por apenas um dos litisconsortes, quando as
defesas deles forem comuns. O recurso do litisconsorte se estende ao outro, ainda
que este tenha aquiescido à decisão ou renunciado ao recurso" (CPC Comentado,
art. 509, Nelson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Nery - 4a ed., p. 992, com
remissão a Barbosa Moreira, Comentários, 214 e 345).
Por fim, cabe a lição de Cândido Dinamarco (fls. 2772):
"A sentença é uma só e seria aberrante ao juiz afirmar e ao mesmo
tempo negar o mesmo fato, ou sustentar duas interpretações diferentes para o
mesmo texto de lei. Nem, é à toa ou por acaso que o Código contém dispositivos
que aproximam os litisconsortes e mitigam expressamente a regra de sua
independência: é o caso, p. ex., do art. 320, inc. I, dispondo que a presunção
emergente da revelia considera-se afastada quando a omissão não é de todos os
litisconsortes".
("Litisconsórcio", 4a ed. rev. e atual, São Paulo, Malheiro, 1996, pp. 151 e
152)."
Em conclusão, não conheço dos três Embargos Divergentes por não
vislumbrada discrepância entre o aresto embargado e os paradigmas
apresentados.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2000/0080498-3 ERESP 158051 / RJ

PAUTA: 06/06/2001 JULGADO: 06/06/2001

Relator
Exmo. Sr. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO COSTA LEITE

Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ELA WIECKO VOLKMER DE CASTILHO

Secretária
Bela AZELMA ELVIRA MONTENEGRO DE SOUZA FRANÇA

AUTUAÇÃO

EMBARGANTE : BORIS JAIME LERNER


ADVOGADO : DECIO NUNES TEIXEIRA E OUTROS
EMBARGANTE : MINISTÉRIO PUBLICO FEDERAL
EMBARGANTE : RAMON RODRIGUEZ CRESPO E OUTROS
ADVOGADO : WELLINGTON MOREIRA PIMENTEL E OUTROS
EMBARGADO : BORIS JAIME LERNER E OUTRO
EMBARGADO : RAMON RODRIGUEZ CRESPO E OUTROS
EMBARGADO : UNIAO

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL ao apreciar o processo em


epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Após o voto do Sr. Ministro Relator não conhecendo dos três embargos de
divergência opostos, no que foi acompanhado pelos Sr. Ministros Fernando
Gonçalves, Felix Fischer, Eliana Calmon, Nilson Naves, Garcia Vieira, Fontes de
Alencar, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Francisco Peçanha
Martins, pediu vista o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barras. Aguardam os Srs.
Ministras Milton Luiz Pereira, Cesar Asfor Rocha, Vicente Leal, Ari Pargendler e José
Delgado."
Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.

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Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Edson Vidigal, Hélio Mosimann
e Ruy Rosado de Aguiar.

O referido é verdade. Dou fé.

Brasília, 06 de junho de 2001

AZELMA ELVIRA MONTENEGO DE SOUZA FRANÇA


Secretária

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EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP N° 158.051 - RJ (2000/0080498-3)

VOTO-VISTA

MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS:


- Sr. Presidente, releio o relatório do eminente Ministro José Arnaldo da
Fonseca:
"Ao admitir os Embargos, fi-lo vazado nestes termos (fls. 2678/79):
"Decidiu a 4a Turma, Rel. Min. Barros Monteiro (fl. 2575):
"RESPONSABILIDADE CIVIL. NAUFRÁGIO DA EMBARCAÇÃO
"BATEAU MOUCHE IV". ILEGITIMIDADE DE PARTE PASSIVA "AD
CAUSAM". SÓCIOS. TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA'. DANOS MATERIAIS. PENSIONAMENTO
DECORRENTE DO FALECIMENTO DE MENOR QUE NÃO
TRABALHAVA.
1. Argüições de ilegitimidade de parte passiva e imputações
recíprocas dos réus acerca da responsabilidade pelo trágico evento. Em
sede de recurso especial não é dado rediscutir as bases empíricas da lide
definidas pelas instâncias ordinárias. Incidência da súmula n. ° 07-STJ.
2. Acolhimento da teoria da "desconsideração da personalidade
jurídica". O Juiz pode julgar ineficaz a personificação societária, sempre
que for usada com abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar
terceiros.
3. Reconhecido que a vítima menor com seis anos de idade não
exercia atividade laborativa e que a sua família possui razoáveis recursos
financeiros, os autores - pai e irmã - não fazem jus ao pensionamento
decorrente de danos materiais, mas tão-somente, nesse ponto, aos
danos morais fixados.
Recurso especial interposto por Ramon Rodriguez Crespo e
outros não conhecido; recurso da União conhecido, em parte, e provido. "
A esse julgado opuseram o Ministério Público Federal e Ramon Rodriguez
Crespo e outros Embargos de Divergência, sustentando os primeiros Embargos
discrepância com o entendimento adotado pela V Turma que, por seu turno,
apóia-se em orientação da 2a Seção do STJ, ou seja, em se tratando de
indenização por ato ilícito são acumuláveis as indenizações por dano patrimonial e
moral, e a pensão decorrente de ato ilícito que provocou a morte de menor deve ser
paga até o dia em que a vítima, se viva fosse, completaria 25 anos. Assim,
enquanto o aresto embargado afasta o dever de indenizar os danos materiais
provenientes de ato ilícito (morte de menor), o paradigma lhe reconhece o direito.
Os outros Embargos fundam-se na divergência com o julgado da 6a
Turma, restrita à discussão quanto à competência para julgar matérias de Direito
Público, como a dos autos, concernentes à responsabilidade civil do Estado.
Desse modo, o acórdão Embargado, ao rejeitar, por maioria, a preliminar de
incompetência suscitada, dissentiu da diretriz fixada no REsp 162.504/SP, rel. Min.
Vicente Leal, assim ementado (fls. 2671):
"REGIMENTAL. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE CIVIL
DO ESTADO. COMPETÊNCIA DA Ia. SEÇÃO. RISTJ. ART. 9o, PAR. 1o,
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VIII.
- O REGIMENTO INTERNO DO STJ. AO DEFINIR AS ÁREAS
DE ESPECIALIZAÇÃO DOS SEUS ÓRGÃOS JUDICIÁRIOS, ATRIBUI A
PRIMEIRA SEÇÃO COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR
FEITOS RELATIVOS A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO (ART.
9°, PAR. 1°, VIII).
- NÃO COMPETE A 3a. SEÇÃO PROCESSAR E JULGAR
AÇÃO PUGNANDO PELA DEFINIÇÃO DO TERMO FINAL DA PENSÃO
DEVIDA PELO ESTADO NO ÂMBITO DE SUA RESPONSABILIDADE
OBJETIVA.
- INCOMPETÊNCIA DA 3a. SEÇÃO DECLARADA.
a
REMESSA DOS AUTOS A I . SEÇÃO. "
Nesse passo, tenho como evidenciado o descompasso entre o
aresto embargado e os exemplares, razão por que admito ambos os
Embargos. Às partes
Embargadas para impugná-los. "
Também admiti os apresentados por Boris Jaime Lerner (fls. 2594/2602),
apontando descompasso do acórdão da eg, 4a Turma (REsp 158.051-RJ) com a
orientação da 1a, 2a e 3a Turmas no que se refere à natureza do vínculo jurídico
processual que se estabeleceu entre a União e os outros co-réus Bateau Mouche
Rio Turismo Ltda., Itatiaia Agência de Viagens e Turismo Ltda etc,
caracterizando-se o litisconsórcio facultativo, sem a extensão assegurada no
acórdão embargado, que entendeu haver, na espécie, litisconsórcio passivo
necessário.
A União Federal impugnou-os às fls. 2687/2691, também o fazendo Boris
Jaime Lerner e Karina Lerner (fls. 2694/2697), Ramon Rodriguez Crespo e outros
(fls. 2709/2724 e fls. 2766/2779).
São três os embargos de divergência, em resumo:
a) Os de Ramon Rodriguez Crespo e outros (2664/2670)
buscam, unicamente, fazer prevalecer a competência da Seção de Direito
Público para julgar a responsabilidade civil do Estado, tal como a
preconizou o aresto exemplar da 6a Turma;
b) os do Ministério Público Federal apoiam-se em discrepância
com a diretriz da Ia Turma e da própria 2a Seção, isto é, em se tratando de
indenização por ato ilícito, são acumuláveis as indenizações por dano
patrimonial e moral, e a pensão decorrente de ato ilícito, que provocou a
morte de menor, deve ser paga até o dia em que a vítima, se viva fosse,
completaria 25 anos. Assim, enquanto o aresto embargado afastou a
obrigação de indenizar os danos materiais provenientes de ato ilícito
(morte de menor), o aresto paradigma lhe reconhece o direito. Ademais,
acrescem, o fato de o menor, vítima do infortúnio, com seis anos, então
não exercer atividade laborativa e de ter sua família recursos financeiros
constituem tema que esbarram na Súmula 7, do STJ, descabendo exame
na via do recurso especial (fls. 2609/2614);
c) afinal, a irresignação de Boris Jaime Lerner (fls. 2594/2602),
indicando assimetria entre o aresto embargado e a diretriz das 1a, 7 e 3a
Turmas, no pertinente à natureza da relação jurídico-processual
estabelecida entre a União Federal e os co-réus Bateau Mouche Rio
Turismo Ltda, Itatiaia Agência de Viagens e Turismo Ltda, Cavalo Marinho
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Comestíveis Ltda. e todas as pessoas físicas integrantes dessas
empresas. Esta relação, segundo os Embargos com base em
precedentes exemplares dessas Turmas, (fls. 2597/2599) constitui
litisconsórcio facultativo, e, desse modo, não aproveita a todos réus a
decisão da 4a Turma que, dando provimento ao Especial da União Federal,
cancelou a pensão concedida em virtude da morte do menor Eduardo,
com esta cláusula: "solução esta que aproveita a todos os réus em razão
de tratar-se no caso de obrigação solidária".
Esse é o relatório de S. Exa., e o voto termina por não conhecer dos
embargos, dizendo:
"No tocante à incompetência da 4a Turma sopesada pelos Embargos de
Ramon Rodríguez Crespo e outros, bem já o respondera o voto condutor do
acórdão embargado, de autoria do Min. Barros Monteiros, às fls. 2.558/59:
"Segundo reza o art. 9o, § 2o, inc. III, do RISTJ, à Segunda Seção
cabe processar e julgar os feitos relativos a:
"III - responsabilidade civil, salvo quando se tratar de
responsabilidade civil do Estado".
A espécie conta com uma peculiaridade: a presente ação de
indenização por ato ilícito é movida contra a União e, também, contra
particulares. Para efeito de competência interna no Tribunal, situa-se
numa "zona cinzenta", pois, enquanto as ações de responsabilidade civil
do Estado são de competência de uma das Turmas que compõem a 1a
Seção, as de responsabilidade civil de particular são de competência de
uma das Turmas da 2a Seção.
Nessa hipótese, penso, salvo melhor juízo, que deve prevalecer,
para efeito de determinação da competência, a característica
predominante do litígio, critério que resulta da norma inscrita no caput do
art. 9o do mesmo RI ("A competência das Seções e das respectivas
Turmas é fixada em função da natureza da relação jurídica litigiosa").
Aqui, a demanda possui natureza acentuadamente privatística, não só em
face dos diversos pleitos formulados, mas também da causa de pedir
(naufrágio de embarcação pertencente a particular).
É de conveniência, ademais, que todas essas ações relativas ao
acidente da embarcação "Bateau Mouche IV" sejam apreciadas por uma
só Seção, sendo certo que o simples fato de a União participar da lide
não é o bastante para deslocar a competência à Eg. 1a Seção (a
competência das Seções não se define pela qualidade da parte).
Por essas razoes, em suma, é que estou mantendo a
competência desta Turma para julgar os recursos especiais aqui
interpostos.
É o meu voto. "
Com efeito, prepondera, na hipótese, pleito de responsabilidade civil de
caráter privatístico, fundada na causa de pedir: naufrágio de embarcação
pertencente a particular. E descaberia, na dúvida quanto à competência entre
órgãos desta Corte, decorridos já mais de 10 anos, anular o julgamento para
atribuir competência à 1a Seção, competência, como dito, que não se apresenta
estreme de dúvidas, eis que, na hipótese, não está revelada, com nitidez, a
competência regimental. Ademais, esta Corte Superior tem decidido que a
competência interna se fixa levando em conta a relação jurídica litigiosa, e não a
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qualidade das pessoas figurantes na demanda.
Não há cogitar de nulidade de julgamento.
Não conheço, pois. dos Embargos de Ramon Rodriguez Crespo e outros
por indemonstrada a discrepância irrogada.
Por sua vez, busca o Parquet Federal se proclamem cumuláveis os danos
materiais e os danos morais devidos à família do menor vitimado, que não exercia
atividade remunerada, com base na Súmula 37, do STJ.
Restou decidido pelo aresto hostilizado (fls. 2565):
"Diz respeito à pensão concedida em virtude da morte do menor
impúbere Eduardo, à época com seis anos de idade. O falecido - claro
está - não trabalhava e, de outra parte, a própria decisão recorrida
reconhece que a sua família não é pobre. Não se afigura razoável, pois,
supor que essa vítima fosse contribuir para o sustento dos autores, pai e
irmã.
Este órgão fracionário do Tribunal tem entendido que, tratando-se
de menor que não exercia atividade laborativa, em princípio, seus pais não
fazem jus ao pensionamento decorrente de danos materiais, mas
tão-somente aos morais. Confiram-e o REsp n. ° 28.861-0/PR (in RSTJ
vol. 50, pág. 305) e o REsp n. ° 119.963-PI, ambos relatados pelo il.
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.
Neste item da irresignação recursal, por conseguinte, o decisum
guerreado contrariou a norma inscrita no art. 1.537, inc. II, do Código Civil,
expressamente invocada pela recorrente. "
Por primeiro, diga-se que o acórdão paradigma lavrado no REsp
147.412-DF, difere, em certo aspecto, do caso ora versado. Em ambos os julgados,
discute-se responsabilidade civil por morte de menor em decorrência de ato ilícito e
se postula indenização por danos materiais, a converter-se em pensionamento.
Esses os pontos comuns. A especificidade se destaca, contudo, no fato de que,
no exemplar, a vítima fatal era um preso, de família pobre, de parcos recursos
financeiros, condição em que se subentende a prestação de serviços dos menores
para colaborar na subsistência dos progenitores. "
Como ressaltado no voto embargado proclamado nas instâncias comuns,
trata-se de menor impúbere vitimado, não-trabalhador, cuja família não é pobre, por
isso se explicou a não-incidência da indenização do dano efetivo, material.
O Sr. Ministro José Arnaldo se estende por essa linha, também não
conhecendo dos embargos do Ministério Público.
Quanto aos embargos de Boris Jaime Lerner, sustentando que excluiu a
União da responsabilidade pelo pensionamento, não alcança os demais réus por
tratar-se de ação indenizatória e que o litisconsórcio é sempre facultativo. O aresto
impugnado no tópico pertinente diz:
"Dou-lhe provimento, a fim de cancelar a pensão concedida em virtude da
morte do menor Eduardo, solução esta que aproveita a todos os réus em razão de
tratar-se no caso de obrigação solidária".
Sem fazer menção, adotou-se o preconizado no art. 509, parágrafo único,
do CPC, isto é, havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um
devedor aproveitará o dos outros quanto às defesas opostas ao credor que lhes

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forem comum.
O Sr. Ministro José Arnaldo da Fonseca termina não conhecendo também
desses últimos embargos e, por isso, seu voto é pelo não-conhecimento.
Pedi vista do processo preocupado com a questão da competência da 1a
Turma, já que se envolvia a União Federal. No entanto, verifiquei que o voto de S.
Exa. esclarece, a partir do voto do Sr. Ministro Barros Monteiro, perfeitamente, o
fenômeno que determinou a competência da 4a Turma, 2a Seção.
Por isso, acompanho o eminente Ministro José Arnaldo da Fonseca, não
conhecendo dos embargos.

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EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP N° 158.051 - RJ (2000/0080498-3)

VOTO

O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA:


Sr. Presidente, mantenho o entendimento de que a competência é de uma
das Turmas da 1a Seção, mas, por uma questão processual, o eminente
Ministro-Relator não está conhecendo dos embargos por não dar como
configurada a divergência.
Acompanho o voto de S. Exa. nesse ponto e nos demais aspectos.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2000/0080498-3 ERESP 158051 / RJ

NÚMERO ORIGEM: 199700878864

PAUTA: 06/06/2001 JULGADO: 17/04/2002

Relator
Exmo. Sr. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MILTON LUIZ PEREIRA

Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. DELZA CURVELLO ROCHA

Secretária
Bela AZELMA ELVIRA MONTENEGRO DE SOUZA FRANÇA

AUTUAÇÃO

EMBARGANTE : BORIS JAIME LERNER


ADVOGADO : DÉCIO NUNES TEIXEIRA E OUTROS
EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGANTE : RAMON RODRIGUEZ CRESPO E OUTROS
ADVOGADO : WELLINGTON MOREIRA PIMENTEL E OUTROS
EMBARGADO : BORIS JAIME LERNER Ê OUTRO
EMBARGADO : RAMON RODRIGUEZ CRESPO E OUTROS
EMBARGADO : UNIÃO

ASSUNTO : Civil - Responsabilidade Civil - Indenização

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em


epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo no julgamento, a Corte Especial, por unanimidade, não
conheceu dos embargos de divergência, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. "
Os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Eliana Calmon, Nilson
Naves, Garcia Vieira, Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros
Monteiro, Francisco Peçanha Martins, Cesar Asfor Rocha, Vicente Leal, Ari
Pargendler e José Delgado votaram com o Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Edson Vidigal, Hélio Mosimann e
Ruy Rosado de Aguiar não participaram do julgamento (RISTJ, art. 162 § 2o).
O Sr. Ministro Francisco Falcão não proferiu voto, por ser sucessor do Sr.
Ministro Hélio Mosimann.

Documento: IT11094 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 03/06/2002 Página 19 de 9
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Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp.

O referido é verdade. Dou fé.

Brasília, 17 de abril de 2002

AZELMA ELVIRA MONTENEGRO DE SOUZA FRANÇA


Secretária

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