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WALACE XAVIER DA SILVA

OAB/ES 20935

MERITÍSSIMO JUÍZO DA TERCEIRA VARA FEDERAL DE EXECUÇÃO FISCAL


DE
VITÓRIA – SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESPÍRITO SANTO

Autos n.º 5002893-15.2020.4.02.5001

CAROLINE DA SILVA CALATRONI, brasileira, casada, bancária, portadora do CPF n.º


090.104.817-86 e Carteira Nacional de Habilitação n.º 04813033254, residente na Rua
Augusto Ruschi, 27, Urbes, Conceição da Barra/ES, CEP 29.960-000, telefone (27) 99811-
7943nome), por seu advogado in fine assinado nos autos da Execução de Título Extrajudicial
epigrafada, vem, respeitosamente perante este Juízo, interpor o presente PEDIDO DE
DESBLOQUEIO DE CONTA SALÁRIO pelos motivos e fundamentos jurídicos que a
seguir passa a expor.

 FATOS
Depreende-se que foi bloqueado, via SISBAJUD, conta salário da Executada no valor de R$
1.871,90 (mil e oitocentos e setenta e um reais e noventa centavos), conforme documentos
anexos.
Insta de chofre asseverar que esse valor se trata do único saldo bancário disponível da
Executada, cujo destino e propósito é um só: sua subsistência, pois tais valores possuem
natureza alimentar.
Vale ressaltar ser esta a única conta corrente da Executada.
O que se sustenta nesta manifestação é a IMPENHORABILIDADE DE BENS da
Executada, sendo que tais valores são referentes ao salário que recebe em decorrência da
função empregatícia que exerce, conforme contracheques anexos.
 FUNDAMENTOS
Por ser instituto de direito público, a impenhorabilidade absoluta do bem pode ser declarada
de ofício e a qualquer tempo, não havendo falar-se em preclusão. A impenhorabilidade
também decorre da inalienabilidade, pois o titular do direito respectivo não pode dispor do
bem.
Constata-se que a constrição recaiu em conta-salário da Executada, a qual utiliza esta conta
bancária para fazer pagamentos de suas despesas com sua família (mercado, farmácia etc),
tendo em vista que por ela recebe seu salário, não existindo outros meios que possa lançar
mão para prover o sustento de sua família.
Cumpre ressaltar, nos termos do art. 832 do Código de Processo Civil que “não estão sujeitos
a execução os bens que a lei considera impenhoráveis ou inalienáveis”.
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Com efeito, o artigo 833, IV, do Código de Processo Civil, qualifica como absolutamente
impenhorável os vencimentos, soldos, proventos, salários etc., salvo para o pagamento de
prestação alimentícia, que não é o caso dos autos.
Art. 833. São absolutamente impenhoráveis:
[...];
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as
quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e
de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional
liberal, ressalvado o § 2o.
Afronta, ademais, ao princípio constitucional de proteção ao salário disposto na Constituição
da República:
Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
[...];
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
A ordem jurídica positiva neste ponto privilegiou a sobrevivência pessoal em prejuízo de
outros débitos.
Indiscutível que verbas trabalhistas não podem ser penhoradas, isso é consagrado tanto na
doutrina como na jurisprudência. O salário é verba alimentar e garante a mínima existência do
ser humano. Para dirimir a controvérsia, deve a parte que teve constrangido o patrimônio
demonstrar que esse valor seria correspondente a tal “vantagem” [salário].
Ressalta-se que a norma instrumental processual civil não cuida de materializar de forma
expressa se esse salário deveria integrar a conta do trabalhador, pelo contrário, é necessário
que se dê interpretação extensiva ao direito processual para que sejam asseguradas maiores
garantias aos assalariados/trabalhadores.
Em igual sentido, vem o ensinamento de Luiz Guillerme Marinoni, ao tratar sobre a penhora
eletrônica:
[...] o ônus da prova é do executado, provada a impenhorabilidade, o juiz tem o
dever de ordenar urgente e eletronicamente o desbloqueio da quantia penhorada de
maneira indevida, tendo em conta o direito fundamental à igualdade no processo
(art.5º, I, CRFB e 125, I, CPC).
De outro turno, o tema ora enfrentado já foi objeto de exaustivo debate também perante o
Egrégio Tribunal Superior do Trabalho, resultando na edição OJ nº 153, da SDI2, abaixo
descrita:
Ofende direito líquido e certo, decisão que determina o bloqueio de numerário
existente em conta salário, para satisfação de crédito trabalhista, ainda que seja
limitado o determinado percentual dos valores recebidos ou a valor revertido para
fundo de aplicação ou poupança, visto que o art. 649, IV, do CPC contém norma
imperativa que não admite interpretação ampliativa, sendo a exceção prevista no art.
649, § 2º, do CPC espécie e não gênero de crédito de natureza alimentícia.
Neste mesmo sentido, o recente julgado deste Tribunal Catarinense, da 2ª Câmara de Direito
Público, como segue:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO POR IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDA DE BENS. PENHORA
ON LINE VIA SISTEMA BACEN JUD. IMPOSSIBILIDADE DA
CONSTRIÇÃO ATINGIR ATIVOS DESTINADOS À
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SUBSISTÊNCIA FINANCEIRA DA FAMÍLIA (ART. 649, INC. IV,


CPC). RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
O Tribunal Regional Federal, no entanto, firmou direcionamento acolhendo a tese da
impenhorabilidade absoluta do salário, conforme julgado que enfrentou o âmago do tema:
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSUAL CIVIL EXECUÇÃO.
RESTABELECIMENTO DO DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. MARGEM CONSIGNÁVEL. CONSIGNAÇÃO
FACULTATIVA NÃO CONSTITUI DIREITO SUBJETIVO DO EXEQUENTE A
PARCELAMENTO DE DÍVIDA. 1. Agravo de instrumento interposto em face de
decisão que indeferiu o pedido de restabelecimento da consignação em folha uma
vez que as verbas oriundas de trabalho e aposentadoria não podem ser objeto de
qualquer constrição judicial, em face de seu caráter alimentar, por força da norma do
inciso IV do art. 649 do CPC que dispõe acerca da impenhorabilidade absoluta dos
vencimentos, proventos, salários, etc. 2. A agravante objetiva o restabelecimento da
consignação em folha de pagamento, diretamente na fonte pagadora, por meio da
penhora mensal de parte do salário do devedor/agravado. Alega o exaurimento das
diligências que lhe competiam, as quais restaram inexitosas. Preconiza, neste
contexto, que se deve levar em consideração o princípio da efetividade do processo
executivo. 3. O art. 8º do Decreto nº 6.386/2008 disciplina, exclusivamente, a
consignação facultativa de parte do salário, visando o pagamento mensal de dívidas
contraídas em razão de contrato celebrado pelas partes, não se aplicando a hipóteses
de restabelecimento da consignação em sede de execução, por meio de penhora. 4. A
regra que impõe limite de 30% na soma mensal das consignações facultativas
relaciona-se aos descontos efetuados na remuneração ou proventos dos servidores
públicos federais (art. 45 da Lei nº 8.112/90), não configurando, a toda evidência,
direito subjetivo a parcelamento de dívida objeto de ação executiva, sendo incabível,
portanto, a contrição na forma pretendida. 5 Agravo de instrumento desprovido.
Considerando o rito próprio existente na Ação Civil de Improbidade Administrativa, a
Requerente oportunamente irá fazer a defesa das acusações, onde poderá provar que os fatos
levados ao conhecimento deste Juízo e que fundamentaram a decisão ora combatida não são
verdadeiros, estando a Requerente segura quanto a sua inocência.
Desta forma requer, neste momento, apenas a liberação da sua conta onde recebe seu salário,
uma vez que a requerente não possui outra fonte de renda, nem exerce outras atividades
remuneradas, que possa lhe garantir o sustento, tudo em observância ao princípio da
dignidade da pessoa humana.

 DOS PEDIDOS E DEMAIS REQUERIMENTOS


Diante do exposto, uma vez que a razão de ser do pedido se deve a
IMPENHORABILIDADE DE SALÁRIO, pois, tem natureza alimentar de retribuição
pecuniária e, diante das razões fáticas e de direito deduzidas, Vossa Excelência, requer a este
Juízo:
1. Desbloquear, liminarmente, o valor R$ 1.871,90 (mil e oitocentos e setenta e um reais
e noventa centavos), da conta salário da Executada, sendo Banco 104 (Caixa
Econômica Federal), Agência n.º 0717, Operação n.º 001, 6353-0, pois, se trata de
salário, cuja impenhorabilidade se reporta aos alimentos da Executada, sob pena de
prejuízos ao seu sustento e de sua família;
2. Produção de todos os meios de prova admitidos em direito;
3. Intimação do Exequente.
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Termos em que pede e espera deferimento.


Conceição da Barra/ES, 19 de novembro de 2021.

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