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OAB/ES 20935
FATOS
Depreende-se que foi bloqueado, via SISBAJUD, conta salário da Executada no valor de R$
1.871,90 (mil e oitocentos e setenta e um reais e noventa centavos), conforme documentos
anexos.
Insta de chofre asseverar que esse valor se trata do único saldo bancário disponível da
Executada, cujo destino e propósito é um só: sua subsistência, pois tais valores possuem
natureza alimentar.
Vale ressaltar ser esta a única conta corrente da Executada.
O que se sustenta nesta manifestação é a IMPENHORABILIDADE DE BENS da
Executada, sendo que tais valores são referentes ao salário que recebe em decorrência da
função empregatícia que exerce, conforme contracheques anexos.
FUNDAMENTOS
Por ser instituto de direito público, a impenhorabilidade absoluta do bem pode ser declarada
de ofício e a qualquer tempo, não havendo falar-se em preclusão. A impenhorabilidade
também decorre da inalienabilidade, pois o titular do direito respectivo não pode dispor do
bem.
Constata-se que a constrição recaiu em conta-salário da Executada, a qual utiliza esta conta
bancária para fazer pagamentos de suas despesas com sua família (mercado, farmácia etc),
tendo em vista que por ela recebe seu salário, não existindo outros meios que possa lançar
mão para prover o sustento de sua família.
Cumpre ressaltar, nos termos do art. 832 do Código de Processo Civil que “não estão sujeitos
a execução os bens que a lei considera impenhoráveis ou inalienáveis”.
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WALACE XAVIER DA SILVA
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Com efeito, o artigo 833, IV, do Código de Processo Civil, qualifica como absolutamente
impenhorável os vencimentos, soldos, proventos, salários etc., salvo para o pagamento de
prestação alimentícia, que não é o caso dos autos.
Art. 833. São absolutamente impenhoráveis:
[...];
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as
quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e
de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional
liberal, ressalvado o § 2o.
Afronta, ademais, ao princípio constitucional de proteção ao salário disposto na Constituição
da República:
Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
[...];
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
A ordem jurídica positiva neste ponto privilegiou a sobrevivência pessoal em prejuízo de
outros débitos.
Indiscutível que verbas trabalhistas não podem ser penhoradas, isso é consagrado tanto na
doutrina como na jurisprudência. O salário é verba alimentar e garante a mínima existência do
ser humano. Para dirimir a controvérsia, deve a parte que teve constrangido o patrimônio
demonstrar que esse valor seria correspondente a tal “vantagem” [salário].
Ressalta-se que a norma instrumental processual civil não cuida de materializar de forma
expressa se esse salário deveria integrar a conta do trabalhador, pelo contrário, é necessário
que se dê interpretação extensiva ao direito processual para que sejam asseguradas maiores
garantias aos assalariados/trabalhadores.
Em igual sentido, vem o ensinamento de Luiz Guillerme Marinoni, ao tratar sobre a penhora
eletrônica:
[...] o ônus da prova é do executado, provada a impenhorabilidade, o juiz tem o
dever de ordenar urgente e eletronicamente o desbloqueio da quantia penhorada de
maneira indevida, tendo em conta o direito fundamental à igualdade no processo
(art.5º, I, CRFB e 125, I, CPC).
De outro turno, o tema ora enfrentado já foi objeto de exaustivo debate também perante o
Egrégio Tribunal Superior do Trabalho, resultando na edição OJ nº 153, da SDI2, abaixo
descrita:
Ofende direito líquido e certo, decisão que determina o bloqueio de numerário
existente em conta salário, para satisfação de crédito trabalhista, ainda que seja
limitado o determinado percentual dos valores recebidos ou a valor revertido para
fundo de aplicação ou poupança, visto que o art. 649, IV, do CPC contém norma
imperativa que não admite interpretação ampliativa, sendo a exceção prevista no art.
649, § 2º, do CPC espécie e não gênero de crédito de natureza alimentícia.
Neste mesmo sentido, o recente julgado deste Tribunal Catarinense, da 2ª Câmara de Direito
Público, como segue:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO POR IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDA DE BENS. PENHORA
ON LINE VIA SISTEMA BACEN JUD. IMPOSSIBILIDADE DA
CONSTRIÇÃO ATINGIR ATIVOS DESTINADOS À
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