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Transcrição de Solos – Como Fazer

Neste guia, serão abordados:

• Habilidades básicas de transcrição;


• Passo 1: selecionar um solo;
• Passo 2: descrever a forma e os acordes;
• Passo 3: esboçar os ritmos;
• Passo 4: adicionar alturas e expressão.

Transcrever (escrever) um solo gravado deve ser um exercício


prazeroso para nós improvisadores, pois ele é uma das principais fontes para
o aprendizado desta arte. Veremos neste guia como transcrever solos de
maneira eficiente. Abaixo estão os passos básicos a serem seguidos para se
transcrever um solo gravado (de melodia a uma voz):

1) Esboce a forma do solo e divida-a em “choruses” (números de ciclos


em que a música se repete) e compassos no pentagrama.
2) Se você já conhece os acordes do solo, escreva-os acima de
compassos vazios no papel.
3) Se você não souber os acordes, transcreva-os da gravação.
4) Esboce os ritmos do solo com a melhor precisão possível.
5) Adicione as alturas e as figuras de expressão (articulações, acentos,
efeitos, “rubato” etc.) ao ritmo inicialmente escrito.

Habilidades essenciais para o trabalho de transcrição

O trabalho de transcrição requer o domínio das habilidades musicais


listadas abaixo. Se você tem dificuldades nestas habilidades, é necessário
aprimorá-las para a realização da transcrição de solos.

• Divisão e organização de música em “choruses”;


• Reconhecimento de harmonias (se não há um lead sheet – melodia e
cifra – da música a ser transcrita). Você deve ser capaz de identificar
as tônicas dos acordes (elas geralmente são dadas pelo contrabaixo)
e o tipo (maior, menor, dominante etc.);
• Reconhecimento de alturas e intervalos. Ter ouvido absoluto não é
necessário, mas um bom ouvido relativo é essencial;
• Escrita correta de ritmos. Para praticar a notação rítmica, você pode
cantar ou tocar qualquer melodia familiar, e gravá-la com ritmos
interessantes, (“suingados” – o que não significa necessariamente em
ritmo de jazz, mas sim utilizando ritmos “ativos”, interessantes). Em
seguida, reproduza a gravação e escreva os ritmos exatos do que
você gravou. Por fim, toque ou cante os ritmos que você escreveu e
veja se eles se equivalem aos da gravação.

Passo 1 – Selecione um solo


Aqui vão algumas ideias para a seleção do solo a ser transcrito:
• O nível de complexidade do solo deve se encaixar às suas habilidades
de transcrição;
• O solo deve ser interessante para você e ao mesmo tempo propor
novos desafios;
• Se a gravação é antiga, o som dela deve estar claro o suficiente para
que você consiga ao menos ouvir as notas do solo.
• Se você tem um “lead sheet” da música escolhida para a transcrição,
isso pode lhe poupar muito tempo que seria gasto na descoberta das
harmonias do solo.

Comece com solos simples. Por exemplo, o solo do trompetista


Miles Davis na música “So What” do disco Kind of Blue é simples ambos
melódica e ritmicamente, sendo excelente para o aprendizado do
improvisador iniciante.

Passo 2 – Descreva a forma e os acordes


Delinear a forma do solo antes de começar a transcrição nos ajuda a
descobrir o número correto de compassos da transcrição.
Determine qual é a fórmula de compasso (4/4, 3/4 etc.). Geralmente,
ela será igual à da música original (salvo algumas exceções).
Caso você tenha uma melodia cifrada da música, ouça o solo ao
menos duas vezes e analise a partitura, conferindo na primeira vez se as
seções e os números de compassos conferem, e analise na segunda vez se
as harmonias conferem.
Após isto, copie – por extenso – as harmonias, escrevendo-as
utilizando quatro compassos por sistema, acima dos compassos em branco
no pentagrama. Lembre-se de que em um solo improvisado o solista jamais
irá repetir melodias (na exposição da melodia principal podemos ter
repetições exatas, mas isto não ocorre nos improvisos). Sempre utilize barras
duplas ao final de cada seção.

Transcrevendo os acordes:

Qual seria a necessidade de transcrevermos os acordes do solo se


estamos apenas tentando “copiar” a melodia do solo? A transcrição da
harmonia nos ajuda nas seguintes questões (dentre muitas outras):

• Os acordes certamente nos ajudarão a determinarmos melhor


algumas notas difíceis do solo;
• Quando a transcrição estiver finalizada, nós podemos analisar e
compreender melhor como a melodia do solista interage com a
progressão harmônica;
• Esta é uma ótima atividade de percepção.

Para transcrever os acordes de uma gravação, siga estes passos:

1) Transcreva a linha de contrabaixo para o primeiro “chorus” da maneira


mais correta possível (ou ao menos identifique quais são as notas do
contrabaixo no exato momento de mudanças harmônicas). Estas notas
do contrabaixo irão geralmente indicar as tônicas dos acordes que
você está tentando transcrever. Encontre movimentos fortes de
acordes dominantes, tais como o de resolução em uma 4a acima ou
em um semitom abaixo etc.;
2) Quando você já conhecer as tônicas dos acordes, determine a
qualidade dos mesmos (maior, menor, dominante etc.). Use um
instrumento harmônico para esta parte;
3) Encontre quaisquer tensões de acordes dominantes, como b5, #5, b9,
#9 etc.
4) Quando você encontrar todos os acordes do primeiro “chorus”, copie
os mesmos para os “choruses” remanescentes do solo.
Ocasionalmente, os acordes podem mudar de um “chorus” para outro,
mas pelo menos você terá os acordes básicos do solo à sua
disposição.

Passo 3 – Esboce os ritmos:


Após a progressão de acordes estar pronta, você precisa escrever
um esboço rítmico do solo, “chorus” por “chorus”. Em alguns trechos, os
ritmos e as alturas do solo podem ser óbvios o bastante de maneira que você
pode ir em frente e já escrevê-los por completo. No entanto, é provável que
haja ao menos alguns trechos em que o uso de esboços rítmicos irá
definitivamente agilizar o processo de transcrição. Os passos a seguir
mostram como criar esboços de ritmos.

1) Encontre e marque exatamente em qual tempo ou contratempo a


frase do solista começa. Escreva quantos sinais de pausa forem
necessários antes do início da frase;
2) Descubra e escreva exatamente em qual tempo ou contratempo a
frase do solista termina (geralmente os fragmentos melódicos
terminam em um silêncio ou em uma nota longa);
3) Escute o ritmo da frase até que você possa solfejá-lo corretamente;
4) Com um lápis, escreva o ritmo que você ouve. Use figuras típicas de
notação rítmica, como as de formato de “diamantes” para semibreves
e mínimas; use barras para notas mais rápidas. Escreva então o
esboço de cada nota, fazendo a equivalência rítmica da melodia;
5) Repita os passos 1 a 4 para cada frase do solo. Quando você
terminar, volte e cheque se os seus esboços rítmicos estão fiéis à
gravação.
6) Se uma frase parece ter um ritmo estranho, o solista pode ter usado
efeitos de manipulação de tempo (como por exemplo, um “rubato”), ou
até mesmo ter tocado/cantado errado. Caso você não consiga
encontrar uma notação rítmica aproximada do que ocorre na gravação,
marque onde a frase começa e termina, conte o número de notas que
você ouve, e escreva “rubato” acima da frase.

Passo 4 – Adicione alturas e expressão:


Uma vez que o seu esboço rítmico está completo, você já ouviu o
solo o bastante para ter certa familiaridade com as alturas das notas. Para
adicioná-las ao solo, transforme as notas rítmicas em notas melódicas. Utilize
um instrumento como o piano ou o violão para verificar as notas.
Caso você tenha dificuldade em ouvir a altura de algumas notas,
tente os seguintes passos:

1) Determine primeiramente a nota mais aguda e a mais grave do


contorno melódico da frase (elas são frequentemente as mais fáceis
de se ouvir). Logo após, encontre as alturas que ocorrem nos tempos
1 e 3, se possível.
2) Veja se as notas que faltam para serem descobertas se encaixam no
acorde pertencente ao compasso em questão (notas características,
ou de tensão). Faça uma análise harmônica rápida, procurando
encontrar qual é o modo inferido pela melodia e harmonia originais da
música, ou pelo que você já descobriu do compasso improvisado.
Descobrindo a escala, teste todas as notas dela para encontrar o que
falta. Se ainda assim você não encontrar as notas restantes, elas
podem ser parte de um acorde adicionado ou de algum acorde de
substituição (possivelmente tornando-se cromatismos).
3) Se você tem o recurso de ajustar a velocidade sem alterar a afinação
(programas como “Transcribe”, “Amazing Slow Downer”) diminua a
velocidade de trechos muito rápidos, isto será de grande ajuda para
solucionar áreas problemáticas. Não abuse do uso desta ferramenta,
pois ela pode atrapalhar/retardar o desenvolvimento de sua
percepção.

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