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Universidade Federal do Acre

Pró-reitoria de Extensão e Cultura


Diretoria de Ações de Extensão

1: Identificação da proposta

Título:
CINE LABOR: A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL SOB A ÓTICA FÍLMICA

Local de realização:
Estado: Acre, Munícipio: Cruzeiro do Sul, Auditório do Bloco C do Campus Floresta - Rua Estrada da Canela Fina,
KM 12 Gleba Formoso - São Francisco, Cruzeiro do Sul - AC, 69895-000

Área temática:
Cultura

Área de Conhecimento:
Ciências Sociais Aplicadas

Centro/Unidade Integradora:
Centro Multidisciplinar de Cruzeiro do Sul

Cidade de realização:
Outra(s) cidade(s)

Outra(s) cidade(s) de realização da ação:


Cruzeiro do Sul, Acre

Data de início da execução:


22/12/2022

Data de término da execução:


22/05/2023

Carga horária semanal da ação:


10

Carga horária total da ação:


200

Carga horária semanal do coordenador:


10
Carga horária total do coordenador:
200

2: Previsão de pessoas envolvidas

Número de alunos envolvidos:

Número de professores envolvidos:

Número de técnicos-administrativos envolvidos:

Número de membros da comunidade externa envolvidos:

Número de alunos público alvo:

Número de professores público alvo:

Número de técnicos-administrativos público alvo:

Estimativa de pessoas da comunidade externa a serem atendidas:


100

A ação é desenvolvida em parceria com outra(s) instituição(ões), em caso positivo identifique-a(s):

Arquivo do termo de cooperação ou documento de intenção da parceria (email, ofício, etc.) (PDF):
Não enviado

3: Detalhamento da Ação de Extensão

Apresentação/Resumo:
O passado e o presente histórico da sociedade brasileira, por um dos lados, tem por marca uma intensa exploração
do trabalho e uma frequente negativa de direitos básicos, como os trabalhistas e sociais. Em sentido adverso,
como forma de resistência à esses desmandos, a luta pela transformação da realidade social também tem se
mostrado constante. Diante desse cenário conflituoso é que esse projeto se coloca. O que se pretende é promover
uma
série de sessões de cinema, abertas para a comunidade externa e interna, onde serão exibidos filmes que tratem
da precarização das relações laborais e das lutas contrárias à sua consolidação, seguidas por debates conduzidos
por pesquisadoras e pesquisadores e integrantes de movimentos sociais e sindicais.

Resumo do Trabalho:
Justificativa:
Retornando o relógio da história a algumas centenas de séculos, Caio Prado Júnior irá dizer que a motivação do
não desenvolvimento de uma economia nacional até os dias de hoje tem estreita relação com o fato do nosso
“descobrimento” ter sido guiado pelo interesse mercantil (ou pela falta dele). Sobre esse evento, apontará o autor
que “Tudo que se passa são incidentes da imensa empresa comercial a que se dedicam os países da Europa a
partir do séc. XV, e que lhes alargará o horizonte pelo Oceano afora” . Em outras palavras, será a falta do interesse
comercial, nos anos iniciais da colonização, o elemento determinante da falta de povoamento do território
americano. E, mesmo quando o povoamento começar a existir, este terá por único intuito facilitar o abastecimento e
manutenção das feitorias necessárias para organizar a produção dos gêneros para a exportação . Assim, começa-
se a formar uma identidade subserviente, ocupada unicamente de alimentar a existência de outros povos, que
explica, em parte, a insistência brasileira em um modelo econômico extremamente predatório ao ser humano e ao
meio-ambiente.
Outro importante relato que ajuda a explicar a violência laboral no capitalismo periférico se situa na teoria da
dependência, do economista brasileiro Ruy Mauro Marini. Segundo Marini, a revolução industrial inglesa
corresponde na América Latina à independência política dos territórios coloniais. Ignorando uns aos outros, os
novos países se articularam diretamente com a metrópole inglesa e, em função dos requerimentos desta,
começaram a produzir e a exportar bens primários, em troca de manufaturas de consumo e — quando a
importação supera as exportações — de dívidas . E é diante desse processo de troca extremamente desigual que a
superexploração do trabalho nos corpos e territórios do Sul começará a tomar forma.
No campo do cinema, principal ferramenta do projeto que se propõe, as análises de Ruy Mauro Marini e Caio
Prado Júnior, sobre uma sociedade brasileira ainda acorrentada aos padrões de exploração coloniais,
primeiramente tomaram forma pelas obras dos cineastas ligados ao movimento do ”Cinema Novo”. De acordo com
o sociólogo José de Lima Soares, a intenção do movimento era, primordialmente, a de “libertar o cinema dos laços
coloniais e da produção estrangeira. Usando elementos da cultura popular nacional, criticou a alienação cultural e
política da sociedade de forma a gerar uma reflexão e quem sabe ações contra esta cultura de alienações” . Nessa
seara, ganham importância as obras do cineasta baiano Glauber Rocha, considerado por muitos “como o principal
personagem da história do Cinema Novo” . De acordo com Soares, dentre as características cinemanovistas que
marcam os filmes de Glauber, como Barravento (1961), Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Terra em Transe
(1967) e A Idade da Terra (1980), se encontram: “a improvisação, a fragmentação nas imagens, a referência
revolucionária, a violência, a religião, os diálogos gritados, a temática sobre o Brasil e o posicionamento político de
esquerda, de denúncia da miséria provocada pelo colonialismo antigo e moderno”. Seguindo esta mesma trilha,
mas trazendo ainda mais enfoque para a exploração das classes trabalhadoras brasileiras na cidade e no campo,
se destacam outras obras importantes como Eles Não Usam Black Tie (1981) e ABC da Greve (1990), do cineasta
Leon Hirzman, e Cabra Marcado Para Morrer (1984) e Peões (2004), de Eduardo Coutinho. Mas é interessante
notar que o movimento do “Cinema Novo” tem, recentemente, irradiado a sua influência por toda uma nova geração
de cineastas.
Diante de um inegável avanço do projeto neoliberal no território brasileiro, resultante em processos de verdadeiro
desmanche da normatividade jus laboral (como a Reforma Trabalhista, de 2017), as narrativas sobre o processo de
precarização do trabalho têm ganhado força no cinema brasileiro contemporâneo, dando sequência ao projeto de
denúncia social encampado pelos partidários do “Cinema Novo”. Filmes como Arábia (2017), dos cineastas
mineiros Affonso Uchoa e João Dumans, Temporada (2018), do também mineiro André Novais Oliveira, Estou Me
Guardando Para Quando o Carnaval Chegar (2019), do pernambucano Marcelo Gomes, e Medida Provisória
(2022), de Lázaro Ramos, são importantes instrumentos de denúncia e reflexão sobre uma realidade que, apesar
de atual, remete aos padrões seculares de exploração relatados por Ruy Mauro Marini e Caio Prado Júnior.
Assim, considerado o passado e o presente histórico de uma realidade periférica e dependente, marcada, por um
lado, pela exploração do trabalho e pela negativa de direitos básicos, como os trabalhistas e sociais, e, por outro,
pela luta pela transformação social, é que este projeto se coloca como necessário. O que se pretende pelo
presente projeto é promover uma série de sessões de cinema no auditório do Bloco C, da UFAC Campus Floresta,
abertas para a participação de toda a comunidade externa, onde serão exibidos alguns dos filmes citados, seguidos
de debates conduzidos por especialistas nos temas. Os debates contarão ainda com a participação e mediação do
presente docente e de discentes das disciplinas lecionadas por este que, além de assistirem previamente ao filme
debatido, deverão realizar leituras de bibliografia indicada pelo professor.
Objetivo Geral:
O que se pretende com o presente projeto é utilizar da exibição e dos debates da filmografia selecionada para
auxiliar à comunidade externa e interna a refletir sobre as raízes históricas e a continuada ocorrência da exploração
laboral no Brasil.
Importante ressaltar que o docente responsável pelo projeto pretende construir, em conjunto com a população e
com os discentes participantes, as reflexões e críticas sobre a temática discutida. O compartilhamento de saberes e
conhecimentos pela comunidade local será essencial para que este processo construtivo seja satisfatoriamente
atingido.

Objetivos Específicos:
O que se pretende com o presente projeto é utilizar da exibição e dos debates da filmografia selecionada para
auxiliar à comunidade externa e interna a refletir sobre as raízes históricas e a continuada ocorrência da exploração
laboral na cidade de Cruzeiro do Sul e na região do Vale do Juruá.

Metas:

Metodologia:
1ª etapa: seleção ampla da filmografia e da bibliografia.
2ª etapa: discussão e exibição da filmografia principal e discussão e leitura da bibliografia principal com os
discentes.
3ª etapa: encerramento do projeto e entrega de relatório com resumo dos resultados principais obtidos.

Conteúdos a serem abordados:


1 - Capitalismo periférico e dependente nas obras de Glauber Rocha, Caio Prado Júnior e Ruy Mauro Marini
2- O sindicalismo ontem e hoje, no campo e na cidade: análise a partir dos filmes de Eduardo Coutinho e da obra
de Ricardo Antunes
3 - Entre a Greve e o Boicote, formas novas e clássicas de resistência da classe trabalhadora: dos filmes de Leon
Hirzman à obra de Márcio Túlio Viana
Vinculação com ensino e pesquisa:

Compatibilidade com o Projeto Pedagógico do Curso (PPC) e Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI):

Acompanhamento e Avaliação da ação:


O acompanhamento do projeto será feito pelo docente supervisor através de anotações sobre os debates
realizados após a
exibição dos filmes.
Os discentes participantes também serão avaliados, devendo elaborar resenhas críticas sobre o filme exibido e
sobre o debate
realizado. Estas resenhas serão corrigidas pelo docente supervisor com a atribuição de nota.

Resultados e/ou impactos esperados:


Através da exibição da filmografia selecionada e dos debates realizados espera-se que a comunidade de Cruzeiro
do Sul e do Vale do Juruá possa refletir sobre as raízes históricas e a continuada ocorrência da exploração laboral
no Brasil. A disseminação dos resultados poderá ser feita por meio da elaboração de um
livro contendo as resenhas críticas dos discentes participantes.

Referências:
ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho: Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo,
Boitempo/Coleção Mundo do Trabalho, 3ª ed, 1999.

BENJAMIN, Walter. Comentários a Sobre o conceito de história. In: O anjo da história. Belo Horizonte: Autêntica,
2012, tradução modificada.

BENSAÏD, Daniel. Marx for Our Times: Adventures and Misadventures of a Critique. Verso, 2002;

BERTOLLO, K. Mineração e superexploração da força de trabalho: análise a partir da realidade de Mariana-MG.


(Doutorado), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Tradução de Galeno de Freitas. 39ª ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2000. 307p. (Coleção Estudos LatinoAmericanos, v.12)

GALVÃO, Daniel de Faria. Superexploração e acidentalidade nos desastres da mineração. Revista Direito e Práxis,
Ahead of print, Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/article/view/57853 Acesso em: 01 de agosto de 2022.

JÚNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. São Paulo: Brasiliense, 1961
LOUREIRO, Isabel. A menos eurocêntrica de todos. Rosa Luxemburgo e a acumulação primitiva permanente. In:
Rosa Luxemburgo ou o preço da liberdade. Jörn Schütrumpf (org); tradução: Isabel Loureiro, Karin Glass, Kristina
Michahelles e Monika Ottermann : 2ª edição ampliada – São Paulo: Fundação Rosa Luxemburgo, 2015.

LUXEMBURGO, Rosa. A acumulação do capital. Estudo sobre a Interpretação Econômica do Imperialismo.


Tradução de Moniz Bandeira. Zahar Editores: Rio de Janeiro, 1970.

MAIOR, Jorge Luiz Souto. A escravidão que nos habita. Disponível em: https://www.jorgesoutomaior.com/blog/a-
escravidao-que-nos-habita Acesso em: setembro de 2021.

MELHADO, Reginaldo. Marx, a mais-valia e o mito da subordinação. Disponível em:


http://www.justificando.com/2020/09/10/marx-a-mais-valia-eo-mito-da-subordinacao/ Acesso em: setembro de 2021.

MARINI. Ruy Mauro. Dialética da dependência, 1973. Editora Era, México, 1990, 10ª ed (1ª ed. 1973). Tradução:
Marcelo Carcanholo, Universidade Federal de Uberlândia – MG. In: Ruy Mauro Marini: Vida e Obra. TRASPADINI,
Roberta; STEDILE, João Pedro (Orgs.). 2a ed. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

________. Memória: por Ruy Mauro Marini. In: Ruy Mauro Marini: Vida e Obra. TRASPADINI, Roberta; STEDILE,
João Pedro (Orgs.). 2a ed. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política, Livro 1: o processo de produção do capital. Trad. Rubens
Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011. p. 702.

OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: LTr,
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SOARES, José de Lima. DA EXPERIÊNCIA DO CINEMA NOVO AO NOVO CINEMA BRASILEIRO DO SÉCULO
XXI: UMA ABORDAGEM SOCIOLÓGICA E POLÍTICA DO FILME BACURAU. Revista Wamon. v. 5. n. 1. 2020. p.
165-190.

4: Equipe de Trabalho

Daniel de Faria Galvão

CPF: 090.050.966-08

Modalidade: Coordenador

Instituição: UFAC
Carga horária semanal: 10

Carga horária total: 200

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