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EM ORIENTALISMOS
André Bueno [org.]
Reitor
Mario Sérgio Alves Carneiro
Chefe de Gabinete
Bruno Redondo
Direção
Pró-reitora de Extensão e Cultura
Cláudia Gonçalves de Lima
Produção
Obra produzida e vinculada pelo Projeto Orientalismo,
Proj. Extens. UERJ Reg. 6078, coordenado pelo Prof.
André Bueno [Dept. História].
Rede
www.orientalismo.blogspot.com
Ficha Catalográfica
Bueno, André [org.]
Novos Estudos em Orientalismos. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Proj. Orientalismo/
UERJ, 2022. 100 p.
ISBN: 978-65-00-54418-3
História da Ásia; Oriente; Orientalismo; Diálogos Interculturais.
André Bueno
Primavera, 2022
Gostaria de começar esse texto contando uma anedota que vivenciei ao longo
dos meus anos como professor e sinólogo. Uma vez, participei de um evento
de história no qual tive oportunidade de discutir algumas das questões
relacionadas ao ensino das culturais ‘orientais’. No final, um dos professores
que estava neste encontro disse que também se interessava muito pelo estudo
do ‘Oriente’. Quando perguntei o que ele gostava de estudar, ele respondeu
prontamente: ‘Uruguai’. Visto assim, parecia apenas um chiste; mas ele falava
sério, e seu comentário foi uma abertura importante para refletir sobre o que
chamamos de ‘Oriente’, e o que isso poderia vir a significar.
Afinal, ‘Oriente’ já foi mais do que um espaço geográfico, esta palavra já foi
usada como um conceito denominador. A República Oriental do Uruguai tem
esse nome pois era a ‘banda oriental’, ‘o outro lado do Rio Prata’ em relação a
Argentina – aliás, os argentinos denominaram suas províncias nordestinas,
localizadas entre o rio Paraná e o rio Uruguay como ‘Mesopotâmia Argentina’.
Ou seja, o uso de ‘Oriente’, nesses casos, não tem a ver com o espaço
geográfico ou cultural da parte ‘Oriental’ do mundo, mas com a ideia de ser ‘um
outro lado’. Na geografia do Brasil, já existiu a denominação ‘Amazônia
Oriental’, bem como no mesmo século 19, o Barão de Marajó não tinha receio
de comparar o rio Amazonas ao Nilo [Abreu, 1874-1876]. Essa noção parece
ser ainda mais ampla. Indo a outro extremo, Konrad Adenauer, chanceler da
Alemanha Ocidental entre 1949-1963, ficou famoso por murmurar a palavra
‘Ásia’ sempre que atravessava o rio Elba em direção ao ‘Oriente’ [Buruma,
2006, 56] – Alemanha, inclusive, que seria dividida entre ‘Ocidental’ e ‘Oriental’
[assim chamadas em português e espanhol] até 1989. Quero comentar ainda
mais um último deslocamento: em um dos cursos em que lecionei história do
Extremo Oriente na graduação, tive que lidar com a argumentação de um aluno
que, não bastasse a tentativa de querer reaproveitar um trabalho já feito,
insistia igualmente que seu texto era sobre ‘Oriente’. O tema? Austrália...
Essas breves considerações servem para que possamos ponderar sobre o que
significa ‘Oriente’ para um estudante brasileiro. A palavra representa um
horizonte abstrato e impreciso, que inclui qualquer país do norte da África até o
Japão. Mário Sproviero [1998] propôs, em um breve texto, que a demarcação
Ocidente-Oriente passa por várias etapas, que incluem critérios culturais,
etimológicos e geográficos, entre outros. O autor encerra seu texto afirmando:
‘Para o mundo globalizado de hoje é premente um conhecimento recíproco
Nesse breve texto, eu gostaria de discutir algumas questões sobre como esse
termo – e outros conexos, como ‘Ásia’ – têm sido utilizados no ambiente
acadêmico brasileiro, muitas vezes dificultando o nosso entendimento sobre o
que é ou não ‘oriental’. Gostaria ainda de discutir a sua validade como
referência geográfica, cultural e epistemológica, no que diz respeito ao
problema do ensino universitário. Afinal, um dos problemas cruciais nos
estudos da antiguidade no Brasil é compreender as nossas heranças orientais,
das quais os acadêmicos muitas vezes se sentem afastados. A tensão
existente entre as leituras universitárias e as dimensões do ‘Oriente’ no
imaginário popular dão azo a uma importante discussão sobre como
precisamos – e devemos, urgentemente – trazer os muitos ‘Orientes’ antigos
para a sala de aula.
Orientes ausentes
Essa dicotomia surgiu em meio ao próprio problema de formação da identidade
cultural brasileira. Autores como Gilberto Freyre [2003], José Roberto Leite
[1999], José Amaral Lapa [1968], Philomena Antony [2013] e Ana Paulina Lee
[2018] já demonstraram cabalmente o quanto o Brasil era afro-asiático antes da
vinda de Dom João VI e da família real para o país em 1812, e o subsequente
projeto de europeurizar os trópicos. Isso se refletiu diretamente na formação de
nossos currículos escolares e universitários. A disciplina de História ficou
fortemente vinculada ao currículo francês, incorporando no estudo da
antiguidade o mundo clássico Greco-romano. A ‘Antiguidade Oriental’
permaneceu subjacente a esse quadro, tornando-se uma especialidade de
poucos estudiosos como Emanuel Bouzon [nos estudos mesopotâmicos] e Ciro
Flamarion Cardoso [Egito]. Note-se que a dimensão dada o ‘Oriente’, nesse
sentido, delimitava-se geograficamente ao norte da África e a região do
Levante, excluindo as demais civilizações do leste. Outro elemento importante
é que, temporalmente, esses núcleos eram analisados somente no período da
antiguidade; a estrutura universitária não demonstrava qualquer interesse ou
preocupação em questões de continuidade histórica, como se as civilizações
de Grécia e Roma ‘encerrassem’ a participação ‘oriental’. Nesse meio tempo,
apenas Mário Curtis Giordani publicou, em 1963, o livro História da Antiguidade
Oriental, no qual eram feitas apresentações gerais das civilizações orientais,
incluindo aí Índia e China; para além disso, a literatura sobre essas civilizações
Conclusões
O que esse quadro significa para nós? Numa visão tradicional da cultura
brasileira [e ainda vigente em vários setores de nossa sociedade], o ‘Oriente’
segue como um conjunto indistinto de povos e línguas, arrumados em troncos
mais ou menos genéricos [tais como ‘árabes’ ou ‘japonês], sobre os quais paira
um interesse superficial e relativamente oportunista. As produções literárias
surgidas ao longo do século 20 destinavam-se a um público aberto a diálogos
culturais mais amplos, mas sem preocupações de especialização – o que fez
com que não houvesse a formação de uma base escolar de interesse nesses
temas. Nas universidades, um grupo restrito de especialistas dedicou-se a um
aprofundamento nesses estudos, mas as dificuldades de difusão de
conhecimento próprias de nossa sociedade criaram um hiato entre o trabalho
dos pesquisadores e o público geral. Essa situação acaba criando questões
contraditórias. Por exemplo, o sucesso de novelas televisivas como O Clone,
Caminho das Índias ou Dez Mandamentos mostra um público avidamente
interessado em história ‘orientais’; mas qualquer telespectador que se decida a
entrar na universidade para aprofundar seus conhecimentos enfrentará
dificuldades em achar um curso que responda a sua demanda. Essa é apenas
um dos muitos pontos de atrito que poderíamos elencar; há diversos aspectos
que atraem o público ao estudo do ‘Oriente’, ainda que de modo superficial,
mas que não encontram ressonância no ambiente acadêmico. De certa forma,
pois, a ideia de ‘Oriente’ continua sem um aprofundamento, sem uma distinção
clara no âmbito do imaginário e das tradições brasileiras. As manifestações
xenofóbicas, resultantes do contexto da Pandemia em 2020, testemunharam
um aumento expressivo de ataques aos descendentes de asiáticos no país –
simplesmente porque os agressores não conseguem distinguir chineses de
outros povos do Extremo Oriente, e ainda convivem com ideias arcaicas,
racistas e preconceituosas em relação aos ‘orientais’ [Raff, 2021 e Sayuri,
2021]. Da parte do Orientalismo brasileiro, portanto, parece que o trabalho está
feito, com todas as péssimas consequências que o desconhecimento e o
interesse superficial têm promovido. Por essa razão, é preciso pensar que
‘outros orientes’ são possíveis de serem discutidos e analisados em nosso
contexto cultural.
Referências
André Bueno e Prof. Adj. De História Oriental da UERJ.
Diop, Cheikh Anta. The African origin of Civilization. Chicago: Lawrence Hill &
Co., 1989.
Veras, Daniel. 'Yo Ban Boo: asian brazilian identity and social media' in Bueno,
André, Veras, Daniel [orgs.] Studies on Chinese Migrations: Brazil, China and
Mozambique. Rio de Janeiro: Proj. Orientalismo/UERJ, 2021, 225-266.
Após repetir três vezes este ritual ele entra pelas portas do templo e dá início à
cerimônia: batidas de sinos e tambores em pulso lento, solene, e um canto leve
feminino suave projeta-se sobre as casas. É o início da cerimônia budista que
abre todas as manhãs e desperta a vizinhança a volta do templo Tzong Kwan.
Nos usos dados à voz cantada encontra-se uma ciência ancestral dos sons,
que envolve de um lado a vocalização de textos sagrados e, de outro, o uso de
ambiências sonoras providas por instrumentos de percussão, tais como sinos,
gongos e tambores. Via de regra, é dessa combinação entre voz e percussão
que os ritos e cerimônias budistas cumprem a função de conectar as pessoas à
prática espiritual.
Os sons e a música
Muito em virtude desse uso canalizado da música, por razões ligadas à
doutrina budista, que, em geral, os textos distinguem a música mundana da
espiritual, conferindo a esta última um status sonoro único. A música mundana
entretém, é um tanto passiva; ao passo que a música espiritual cria uma
realidade ativa e benéfica para a prática espiritual.
Fruto de uma época em que o homem deveria buscar harmonia com o cosmos
por meio da prática religiosa, a música budista também é vista como
pertencendo à categoria das manifestações celestiais. No budismo Terra Pura
de tradição chinesa, por exemplo, o paraíso budista é descrito como um lugar
profundamente musical no qual o Dharma (a lei budista) assume a forma de
melodias deslumbrantes:
Mas isso não significa que tudo seja fruto de um grande fenômeno ilusório. O
monge gaúcho Lama Padma Santem ilustra bem essa visão — para ele: “Tudo
o que é visto, é visto pela mente, e tudo o que é visto pela mente é, na
verdade, a mente vendo a si própria, vendo as imagens e objetos por ela
mesma geradas”.
Nem por isso a música deixa de ter grande efeito sobre o nosso organismo. Na
verdade, ela é uma potência genuinamente humana (e paradoxal) de buscar
por meio dos fenômenos intangíveis um contato duradouro com a realidade,
como também aproximar pessoas e beneficiar a coletividade de um senso de
pertencimento forte e constante.
O silêncio e a mente
Devido a essa prevalência do signo mental, que a doutrina budista imputa a
toda experiência humana, os ritos sonoros budistas, acredita-se, contém
propriedades salutogênicas. Isso porque eles são produzidos por meio do
esforço autêntico e coletivo das mentes budistas (monges) reunidas em ato
cerimonial. Entretanto ― e eis a singularidade que distingue os ritos sonoros
budistas de outras práticas religiosas ― o que define, produz e condiciona o
rito sonoro é o exercício de uma mente ativa orientada aos sons produzidos no
silêncio da concentração mental.
Em termos simples, esta prática reflete uma ligação espiritual entre som e
silêncio (fenômenos) feita por um conjunto de mentes orientadas para o rito. E
no contexto do budismo chinês, ambos dão origem ao que é
convencionalmente chamado de Sons do Dharma – sons livres de intenções
mundanas. Este conceito da mente produzindo sons puros e espirituais na
cerimônia se estende além do indivíduo, monge ou leigo.
Para conseguir isso, nas cerimônias diárias, a prática comum entre os monges
define que as vozes devem moldar um único corpo sonoro que reflita a mente
como um fenômeno orientado ao desdobramento da energia espiritual através
do tempo e do espaço.
Assim, a mente precisa estar ciente das influências externas sem ser
permeada por estas. Ao mesmo tempo, deve-se convergir a leitura de textos, e
seus diferentes significados, conteúdo emocional, à projeção vocal em uma
concentração sonora equilibrada, mas dinâmica.
A mente musical
Havendo uma música mundana e outra espiritual, a nós inacessível, é justo ao
meio, conectando ambas, que a música budista se localiza. Ele é a ponte entre
duas realidades, também chamadas “duas verdades”: a realidade
‘convencional’ do homem comum, não-iluminado, e a realidade última
alcançada somente pelos Budas.
Seguindo a leitura das mitologias budistas fica claro que a nossa mente
comum, presa às condições mundanas de existência, é incapaz de perceber, e
até mesmo conceber, os sons do Dharma expresso nos sutras. Com isso,
torna-se claro também que a música é uma interpretação, se bem que
sofisticada, de nossos sentidos. Apreciá-la é uma habilidade conquistada pelo
exercício subjetivo da escuta e prática do canto.
Vai daí também o sentido de pertencimento que ela suscita, pois, em último
caso, é pelo exercício, recitando sutras e mantras, que o praticante poderá
auxiliar o seu próprio processo de iluminação e nele encontrar o sentido de sua
existência:
A beleza dessa visão, que convida a contemplar toda uma linhagem ancestral,
está no momento em que cada um se conecta musical e sonoramente, uns
com os outros, e assim ficando um pouquinho mais perto — e quem sabe
desperto — para a celebração de uma vida conjunta que pulsa, existe e canta a
si própria buscando algo de melhor. Afinal, os Sons do Dharma, estão por aí,
despertando, celebrando e encerrando todos dias.
Ambos instrumentos musicais são tocados apenas duas vezes ao ano: durante
a Cerimônia de Nascimento, Nirvana e Morte de Buda (o Vesak) e durante a
Cerimônia dos Antepassados — 108 badaladas estremecem o salão nessas
ocasiões.
A grande porta central (uma porta dupla) é reservada apenas aos monges e
alguns discípulos treinados nas cerimônias. Quando abertas aos domingos
temos uma vista ampla do salão com o altar ao fundo, tendo do lado direito um
sino grande, depositado em cima de uma mesa alta, que dá a impressão de
estar de cabeça para baixo (um sino invertido), e do lado esquerdo um
instrumento de percussão esculpido em madeira na forma de um peixe gordo e
arredondado, e que se assemelha muito a um tamborzão oco de madeira.
Quando tocado produz um som grave e calmante — serve para marcar o ritmo
dos cânticos, ao passo que o sino invertido é tocado para delimitar as sessões
dos textos e dizer quando começa e acaba a recitação.
Referências
André Ribeiro é professor de musicologia da Universidade de Brasília (UnB),
músico, compositor e etnomusicólogo pela Universidade de São Paulo (USP).
Instrumentista de guqin, sob a orientação de Peiyou Chang 張培 幼 e tem como
mentor o Mestre Yuan Jung-Ping 袁 中平 da Taipei Qinhall). Coordenador do
Gao, Leung, Wu, Skouras & Hin Hung sik, The neurophysiological correlates of
religious chanting, Nature: Scientific Reports, March 2019.
Guzy, Marinna. The Sound of Life: What Is a Soundscape? Available at: <
https://folklife.si.edu/talkstory/the-sound-of-life-what-is-a-soundscape >
Published on Accessed on: Sep, 08.
Li-Hua Ho. Dharma Instruments (Faqi) in Chinese Han Buddhist Rituals. The
Galpin Society Journal, Vol. 59 (May, 2006), pp. 217-228, 260-261.
Pi-yen Chen. The Chant of the Pure and the Music of the Popular: Conceptual
Transformations in Contemporary Chinese Buddhist Chants. Asian Music, Vol.
35, No. 2 (Spring - Summer, 2004), pp. 79-97
Introdução
No começo do livro Viagens de Jean de Mandeville, o autor se apresenta como
cavaleiro, nascido na Inglaterra, na cidade de St. Albans, que viajou para o
além-mar no ano de 1322. Enquanto no final do texto, afirma que regressou à
Cristandade a contragosto “(...) por causa de uma artrite gotosa. Sendo
obrigado a descansar, recordei o passado, compilei essas coisas e as coloquei
por escrito, do modo como pude lembrar-me, no ano da graça de 1356, 34
anos depois de deixar nossas terras” (MANDEVILLE, 2007, p. 256).
Ainda que tal divergência pareça chocante a uma primeira vista, não devemos
deixá-la nos levar a conclusões precipitadas que tendem a diminuir o
Antes de nos voltarmos à nossa fonte, cabe uma breve introdução acerca de
seu referencial: a Catedral de Santa Sofia. A Hagia Sofia (“santa sabedoria” foi
construída por volta dos anos 532 – 537 d.C. em Constantinopla, pelo
imperador Justiniano (482 d. C. – 565 d.C.). Logo que foi completa, sua cúpula
se tornou seu maior símbolo, notado por viajantes do período como Procópio,
ainda no século VI. Destruída 20 anos depois após um grave terremoto, foi
prontamente reconstruída novamente sob ordem de Justiniano. Seu objetivo
era claro e foi atingido com sucesso: se tornar um símbolo do poder imperial e
de sua relação com o sagrado, algo que permaneceu verdade até a conquista
de Constantinopla pelos Turcos no século XV (CHING, 2019, p. 280).
Entretanto, mesmo que essa seja uma das explicações plausíveis, ainda há
outras questões. Ao pensarmos em um público que possivelmente
reconheceria as feições da Santa Sofia original, fica a dúvida: por que ainda
seria necessário recorrer à tradução?
Peter Burke (2001) pode nos oferecer uma outra hipótese plausível, não
necessariamente excludente à de Hartog. Em seus termos, podemos pensar tal
imagem como um “estereótipo”, ou seja, uma imagem que segue inteiramente
a visão do “eu” para retratar um “outro”, não como esse “outro” é, mas como
ele o é para o “eu”. Ainda mais importante, o estereótipo não tem como função
necessariamente a de tornar o “outro” compreendido pelo “eu”. Na verdade, se
trata de uma forma de assimilação através da analogia, assim, se ignora ou se
nega a distância cultural e se retrata o outro como um reflexo do “eu”, o modelo
a ser seguido (seja moral, estético, etc.). É a “domesticação” do outro (BURKE,
2001, p. 123).
Referências
Jorge Luiz Voloski é formado em História pela Universidade Estadual de
Maringá. Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação em História, da
Universidade Estadual de Maringá. Atualmente cursa o doutorado no Programa
de Pós-Graduação em História na Universidade Estadual de Maringá, sendo
membro do Laboratório de Estudos Medievais [LEM]
FRINTA, Mojmír. Searching for the sources of inspiration of the master of the
travels of John Mandeville. In: Wiener jahrbuch fûr Kunstgeschichte. Vol. 57, n.
01, 2019. Disponível em: doi.org/10.7767/wjk.2008.57.1.7. Acesso: 20 set
2022.
HIGGINS, Iain Macleod. Writing East: the ‘travels’ of Sir John Mandeville.
Philadelphia, Pennsylvania: University of Pennsylvania Press, 1997.
LETTS, Malcolm. Sir John Mandeville. The man and his book. London: The
Batchworth Press, 1949.
ROYT, Jan. Medieval Painting in Bohemia. Prague: The Karolinum Press, 2003.
Tal fato faz o Japão, quando surge nas Letras Portuguesas, muito
recorrentemente ser retratado em um momento histórico específico: entre
aproximadamente 1549 a 1614, quando os portugueses e jesuítas circularam
pelo Japão em sua missão religiosa e comercial. De fato, se bem observado, a
literatura portuguesa – ao menos aquela tida como canônica – tem como uma
característica marcante a visitação a temas histórico-políticos nacionais. Ou
seja, os principais autores do cânone lusitano desde o século XV até, pelo
menos, a segunda metade do século XX, são, muitas vezes, assinalados pelo
modo como cada um leu seu país, sua história e sua sociedade.
Por um lado, o romance pode ser visto como um texto “típico” de Tordo, uma
vez que nele são identificáveis diversas características presentes em outros
romances do escritor: a presença de um personagem que tenta “apropriar-se e
valer-se da memória do outro e da própria memória” [SILVA, 2017, p. 6071]
para entender o mundo ao seu redor; a solidão humana; o isolamento; a morte;
a narrativa fragmentada; entre outros. Assim, como alguns estudos têm
explorado, a psicologia e a psicanálise parecem caminhos bastante ricos de
leitura não apenas desta obra, mas da bibliografia tordiana como um todo.
Também é possível depreender uma leitura da história portuguesa no romance,
principalmente do período da ditadura salazarista e da guerra colonial [1961-
1974], que culminou no 25 de Abril. Pode-se, assim, colocar este romance em
diálogo com outros textos de Tordo, como Anatomia dos mártires [2011].
O mesmo clima impregna a casa em que Saburo vive com a mãe no bairro de
Tateishi. A natureza de Hamada é substituída por um espaço apertado, em que
se ouvia apenas o som “[d]os comboios [a] passarem pela linha férrea e o
locutor da rádio” [p. 421].
É interessante notar que a parte narrativa que se passa no Japão, embora não
resgate o passado histórico português, não se priva de colocar personagens
lusitanas. Entretanto, ao contrário do que se pode pensar num primeiro
momento, a ruptura com a “tradição” de seu país, de fato, se fortalece com a
presença dessas personagens. A atitude e o papel que cada uma assume
reforçam a pouca ligação do romance com o passado histórico quinhentista
português.
Gaspar pouco participa do enredo, não fazendo mais do que ensinar Katsuro a
nadar, sem outras ações ou falas significativas. É submisso aos desmandos de
seu aluno, que é salvo vez ou outra da correnteza e de sua arrogância pelo
professor de natação. O par de páginas em que Gaspar surge no início do
romance e seu papel coadjuvante, de certa forma, já anuncia ao leitor que
Referências
José Carvalho Vanzelli realiza pós-doutorado [Estudos Literários] na
Universidade Federal do Paraná [UFPR]. É mestre e doutor em Letras [Estudos
Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa] pela USP. Graduado em
Letras [Português-Japonês] pela USP. Autor do livro Portugal e o Oriente:
Antero de Quental – Camilo Castelo Branco – Eça de Queirós - Pinheiro
Chagas [2021]. Organizador do livro Literatura Portuguesa Contemporânea:
entre ficções e poéticas [2020]. Suas pesquisas centram-se principalmente nos
temas: Orientalismo; representações do Japão nas literaturas de língua
portuguesa; literatura japonesa; e diálogos da literatura com outras artes e
outras ciências humanas.
TORDO, João. “No tempo e território da escrita: entrevista com João tordo”.
[Entrevista concedida a] Bruno Mazolini de Barros. in Navegações, v. 11, n. 2,
2018, p. 186-188.
Essa recusa perpassa todo o livro publicado pela primeira vez em 1993. O
autor reitera constantemente que “a tendência de disciplinas e
especializações em se subdividir e proliferar é contrária à compreensão do
todo, quando se trata do caráter, da interpretação e direção ou tendência da
experiência cultural” [Said, 2011, p. 48]. Said faz referência e critica de modo
contundente as análises puramente formais da cultura, que acreditam em uma
autonomia ou neutralidade intrínsecas às representações estéticas, e no seu
exame apartado do seu entorno político, social e econômico.
Quero dizer com isso que não raro o estudo desse tema em particular, devido
à singular polissemia e imprecisão teórica que o cerca, termina por operar
uma cooptação normalizadora da memória, tomada e analisada quase como o
lado terno da história, uma questão de “pontos de vista” ou de “sentimentos”
privados. Nessa perspectiva, a memória é não só “exonerada de qualquer
envolvimento com o poder”, conforme afirma Said [2011, p. 110] em relação à
cultura, como é despida de suas camadas políticas. Tal cisão absolutamente
artificial e inócua em suas pretensões a uma suposta neutralidade acadêmica
não é nada mais do que um “ato de cumplicidade” [Said, 2011, p. 110] que
produz, ademais, modalidades requintadas de negacionismo.
A memória participa desse esforço ao ser tomada como uma mera questão de
ponto de vista: uns lembram desse modo, outros não. Nessa perspectiva,
reconhecer não significa mais do que admitir que determinadas pessoas ou
grupos partilham de “sentimentos” ou visões subjetivas dos acontecimentos,
diante das quais pouco importa a veracidade dos fatos. Assim, o sentido
negativo da criação de Israel para os palestinos pode ser plenamente admitido
por setores ditos “progressistas” do sionismo, por exemplo, sem que estes
jamais admitam que o caráter judeu do Estado possa ter qualquer coisa a ver
com este “mau sentimento”. O posicionamento que admite os fatos enquanto
nega o evento, para utilizar os termos da análise perspicaz do autor armênio
Marc Nichanian [2009], reduz além disso as possíveis “resoluções” para
conflitos políticos de primeira grandeza à circulação dos diferentes pontos de
vista, quase como se o que faltasse a palestinos e isralenses para pôr suas
“diferenças” de lado fosse nada mais do que uma bem intencionada ciranda
mnemônica.
Ter por vezes que driblar discursos que se aferram a compreensões quase
místicas ou metafísicas da memória é um dos ônus inerentes a um campo
inundado de imprecisões, diante do qual corre-se o risco de mergulhar em um
vazio semântico, seja este um mar de clichês ou um vale-tudo conceitual no
qual certas palavras- tais como “representação”, “narrativa” e o próprio
Said não ignora que essa proposta teórica pode ser sedutoramente genérica e
de difícil aplicação, uma vez que “ninguém é capaz de ter tal mapa inteiro na
cabeça” [Said, 2011, p. 58], e por isso confere foco às suas análises ao
considerar “apenas algumas configurações mais destacadas”. Este
movimento não retorna à compartimentalização artificial e ao particularismo
exacerbado que o método contrapontual busca justamente inverter; aproxima-
se muito mais, na verdade, do exercício genealógico de Foucault- de cujo
pensamento Said é abertamente tributário-, para o qual um único traço basta
como indício a partir do qual articular e sustentar um argumento a respeito de
um conjunto. E, no entanto, vai além ao levar em consideração não apenas o
que veio antes ou o que ocorre simultaneamente, mas também o que virá
depois, em uma análise temporalmente tridimensional.
Ressalto uma vez mais que não se trata de “ver todos os lados” de um
contexto conflituoso, e sim de um exame intelectual que abarca a realidade
em toda a complexidade das suas relações constitutivas. Said não advoga
nenhuma panaceia de tolerância e muito menos ignora diferenciais de poder e
as relações de brutal dominação que costumam se encontrar na raiz da falta
de “diálogo” entre povos e culturas. O que almeja é poder “pensar
experiências divergentes e interpretá-las em conjunto, cada qual com a sua
pauta e ritmo de desenvolvimento, suas formações, sua coerência interna e
seu sistema de relações externas, todas elas coexistindo e interagindo entre
si” [Said, 2011, p. 75]. O embate travado é contra o exclusivismo teórico, e por
isso a centralidade do encontro para o pensamento saidiano, notadamente o
encontro cultural. É provável que a batalha epistemológica contra qualquer
noção de homogeneidade cultural seja aquela na qual o autor mais se
engajou, defendendo reiteradamente que “longe de serem algo unitário,
monolítico ou autônomo, as culturas, na verdade, mais adotam elementos
‘estrangeiros’, alteridades e diferenças do que os excluem conscientemente”
[Said, 2011, p. 51]. É a partir dessa premissa de mobilidade e fortalecimento
mútuo que Said propõe em Cultura e Imperialismo uma relação dialética entre
o romance enquanto forma cultural e a visão de mundo imperialista,
irremediavelmente conectadas.
Referências
Nina Galvão é historiadora e mestra e Humanidades, Direitos e Outras
Legitimidades pela Universidade de São Paulo. Doutoranda do Programa de
Pós Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(PPGHIS-UFRJ), desenvolve pesquisa sobre memória política, identidade
nacional e o direito de retorno dos refugiados palestinos.
O sociólogo Karl Emil Maximiliam Weber possui uma vasta obra, a ponto de ser
considerado o mais erudito dos autores considerados clássicos deste campo
científico (além de Karl Marx, Émile Durkheim e Pierre Bourdieu). De fato, Max
Weber teve sua formação inicial em Direito mas atuando tanto em História e
Economia. A partir de 1904, quando passa a dirigir e a pulicar na revista Archiv
für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik [Arquivos para a Ciência Social e
Política Social] Weber orienta-se cada vez mais para uma obra que não apenas
sedimentasse a nova ciência da sociologia, mas, principalmente, lhe desse
novos direcionamentos e métodos. Assim, pode-se encontrar as temáticas
mais diversas em sua obra, desde questões de metodologia, além de política,
direito, arte, ciência, religião e economia (o capitalismo). Teorizou sobre formas
e processos de poder e dominação e de estratificação social (classes sociais,
estamentos e castas e partidos). Enfim, trata-se de um relevante autor do
século XX, possuindo dois textos que são emblemáticos de sua produção: texto
A ética protestante e o “espírito” do capitalismo (2004) e os dois volumes de
Economia e Sociedade (2004A). Um aspecto fundamental da obra de Weber é
também sua visão sobre o Oriente especialmente quando questiona dos
grandes sistemas de religião no mundo (confucionismo, taoísmo, hinduísmo e
budismo). Para nossa proposta neste texto, antes de apresentarmos as ideias
weberianas a respeito da religião chinesa, devemos compreender algumas de
suas proposições e conceitos sociológicos.
Das infinitas possibilidades de ações que o ser humano pode realizar, a ação
racional é essencial no ocidente, e sua compreensão é base do estudo
sociológico da modernidade. No entendimento de Weber, a tipologia ideal da
ação racional comporta as seguintes formas de ação:
No texto “Os três tipos puros de dominação legítima” (2006A) Weber questiona
a respeito da tipologia ideal pura das formas sociais de obediência legítima, ou
seja, na relação onde o dominado tem convicção que a obediência é justa,
correta e até mesmo racional. Nesta base de legitimidade, há inclusive a
presença de uma “base jurídica” (Weber, 2006A) que garante sua existência
interna no dominado. A primeira forma de dominação legítima é a Dominação
legal, cuja ideia básica é “qualquer direito pode ser cria do e modificado
mediante um estatuto sancionado corretamente quanto à forma” (p. 129). Esta
dominação acontece em virtude estatutos e normas e seu tipo mais puro é a
dominação burocrática. Esta forma de dominação se relaciona com a ação
racional, e acontece em virtude da crescente racionalidade tanto nas
instituições políticas, como o Estado, como nas empresas capitalistas. A
segunda forma de dominação é a Dominação tradicional, que ocorre “em
virtude da crença na santidade das ordenações e poderes senhoriais” (p. 131),
sendo que seu tipo mais puro é a dominação patriarcal. Se relaciona com a
ação tradicional, e é a repetição do costume e da tradição – familiar – nas
relações individuais. O terceiro tipo é a Dominação carismática, que é “a
devoção afetiva à pessoa do senhor e a seus dotes sobrenaturais (carisma)” (p.
134), que implica no reconhecimento, por parte do dominado (apóstolo), em
dotes extraordinários, mágicos, heroicos, de poder (intelectual ou oratória) no
dominador (líder). A teoria da dominação em Weber tem o condão de
compreender o direcionamento de nossas ações, uma vez que a probabilidade
de obedecermos a um desses três tipos legitimamente é uma constante social,
mas também se encaixa em sua teoria da racionalidade, uma vez que a
dominação legal é aquela que cada vez mais se faz onipresente na vida do
sujeito.
No caso do Oriente, considera ele que “Mais que pela posse, a posição social
na China tem sido determinada há doze séculos pela formação cultural e,
particularmente, pela qualificação para ofícios públicos, constatada por exame”
(Weber, 2016, p. 203, grifo no original). Formação literária chinesa estabelecia
a posição social, e assevera, “até muito mais exclusivo do que na Europa
durante a época humanista” (p. 203). Os letrados chineses foram a camada de
dominância nesta sociedade:
Ao analisar a China e seus letrados, considera ele que não se trata nem de
uma educação carismática e nem da educação técnica: “Os exames chineses
não fixavam a qualificação especializada ao modo dos regulamentos e ordens
modernos e racionalmente burocráticos para os exames para os nossos
juristas, médicos, técnicos, etc. Por outro lado, não tampouco determinaram
especificamente a posse de um carisma, como as provas típicas de magos e
associações de homens” (Weber, 2016, p. 219). Assim a formação de letrados
é do tipo do cultivo, ou seja, o humanístico, onde se forma um determinado tipo
de homem, o letrado. O que daí decorre a unidade de classe em tão extenso
território. O que é interessante no caso é que “a camada culta chinesa nunca
foi um estamento autônomo de eruditos, como os brâmanes, mas sim uma
camada de servidores públicos e de candidatos a cargos públicos” (Weber,
2016, p. 221).
Desta forma, embora o Estado chinês tenha se tornado estável por milênios,
justamente por sua camada de intelectuais, que, embora formados em uma
perspectiva religiosa não atuavam de forma religiosa, mas burocrática e
Referências
Rafael Egidio Leal e Silva é professor Me. de Sociologia do Instituto Federal do
Paraná Campus Umuarama.
Introdução
Um dos temas mais debatidos e controversos na historiografia universal desde
a década de 1920 é a respeito do fascismo em suas múltiplas e possíveis
definições. Com o tempo, novas pesquisas tanto na área de história como na
das ciências sociais passaram a considerar o fascismo a partir de diferentes
enfoques, como regime, ideologia, visão de mundo, cultura, movimento político
ou social, dentre outros.
O contexto da Guerra Fria teve uma clara influência nos estudos sobre o
fascismo como um todo, como aponta Francisco Teixeira (2000, p. 114-122).
No caso do Japão, as discussões acerca da natureza do seu regime político
foram fortemente influenciadas pelo governo dos EUA que não tinha interesse
Outro ponto em comum é a noção de que o regime imperial japonês foi menos
radical e revolucionário que a Alemanha nazista ou a Itália fascista. O sistema
parlamentar japonês nunca foi totalmente destruído, não houve uma variante
japonesa para a SS ou para os campos de extermínio (PAYNE, 1995, p.336) e
nenhuma tentativa de modificar radicalmente as estruturas políticas e
econômicas, (KASZA, 1984, p. 614-615). Esse menor radicalismo é explicado
por Paxton pelo fato de o Japão, em comparação com Itália e Alemanha, ter
enfrentado menos problemas críticos. Não sofreu derrotas militares
internacionais, não passou pela intensa mobilização e ação de movimentos
revolucionários de esquerda e nem o risco de desintegração territorial
(PAXTON, 2004, p.200).
Paxton defende que a questão do fascismo japonês pode ser pensada em dois
momentos: fascismo de baixo (from below) e de cima (from above). Sendo que
o fascismo “de baixo” chega ao fim em 1932, após uma série de assassinatos
políticos e das tentativas frustradas de golpes de Estado por parte de jovens
oficiais ultranacionalistas com apoio de alguns grupos civis. É curioso destacar
que a nomenclatura fascismo de baixo (from below) e de cima (from above),
utilizada por Paxton, foi proposta décadas antes por Maruyama Massao, um
dos grandes arquitetos e defensores do conceito de fascismo japonês.
Assim, o Japão não pode ser considerado fascista por ter sido menos
industrializado, não ter desenvolvido plenamente uma democracia de massas e
ter permanecido com instituições elitistas, mesmo levando-se em conta os
assassinatos, a histeria ultranacionalista, a pressão dos radicais e o grande
crescimento do poder estatal nos anos 1930.
Gregory Kasza em seu artigo sobre a direita japonesa nos anos 1931-1936
procura demonstrar uma tipologia onde, a partir de outro trabalho de Payne,
afirma que os grupos da direita predominantes no Japão não eram os fascistas,
mas sim os denominados como direita radical e autoritarismo conservador. Tais
grupos estavam longe do fascismo por serem moderados em termos de
reformas políticas e econômicas e defenderem princípios monárquicos (todos
os grupos reverenciavam o imperador) e, por vezes, religiosos. O crescimento
da direita no pós 1932 se deu devido à guerra com a China e não por crises
internas. Kasza afirma que a direita que se tornou majoritária (a autoritária
conservadora) não usava diretamente a violência política e propunha
manipulação da população pela elite ao invés da mobilização de massa.
Ainda que negado por seus governantes, o autor setencia: ‘operating without
any need for accountability to the masses, an elitist authoritarian and
imperialistic government committed to a denial of basic human equality and a
code of behavior based on lies; in other words, a fascist State’ (WILLENSKY,
2005, p.74).
Tal como Mauyama, Willensky busca demonstrar que o Japão não teve uma
democracia súbita e abruptamente interrompida nos anos 1930 por um
militarismo e sim que a própria configuração da “democracia” do Japão Imperial
foi um pré-requisito para a construção de sua forma particular de fascismo, o
qual pouca coisa fez além de exaltar e elevar a níveis extremos algumas ideias,
concepções e práticas já presentes, ainda que de forma embrionária, no
período Meiji, sendo que Maruyama vai ainda mais além, retornando ao
Período Tokugawa.
Ainda que não fique claro em que momento o Japão poderia ser considerado
fascista, ambos os autores defendem que as semelhanças com a experiência
do nazismo e do fascismo italiano são deveras evidentes. O antiliberalismo, o
anticomunismo, o racismo, o militarismo, o expansionismo, o culto ao Estado e
ao governante, a valorização da disciplina, da família e da autoridade, o ideal
corporativista, as semelhanças na organização da estrutura do Estado e da
economia, justificam o conceito de fascismo, apesar das particularidades
culturais, sociais, políticas e econômicas do Japão.
Considerações finais
Diante da complexidade e amplidão do debate acerca da validade do conceito
de fascismo japonês, a intenção deste artigo foi realizar uma breve
apresentação e um convite à reflexão sobre esse tema, tendo em vista a
escassa produção em língua portuguesa sobre temáticas da história do Japão,
mesmo quando se trata de um tópico de grande relevância para a
compreensão de realidades extra nacionais como o caso do fascismo japonês.
Debater sobre tal conceito é um exercício inevitável e inseparável de retorno à
discussão sobre o que é o fascismo, quais suas formas e características e as
condições para sua emergência no passado, ou reemergência sob novas
roupagens no mundo atual.
Referências
Ricardo Sorgon Pires é graduado em história pela Unesp de Assis e doutor em
História Social pela USP onde desenvolveu uma tese sobre a imigração
PAXTON, Robert, O. “Other Times, Other Places”. In: The Anatomy of Fascism.
New York: Vintage Books, 2004.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira. “Os fascismos”. In: FILHO, Daniel Aarão
Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA Celeste. O Século XX Volume II O tempo das
crises Revoluções, fascismos e guerras. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2000.
No entanto, para Voltaire, a resposta estratégica para uma civilização, que ele
considerava em decadência e imersa no obscurantismo, era justamente buscar
na história antiga dos povos e nas suas respectivas culturas as matrizes e os
modelos para uma reforma social de grande amplitude. Vale destacar, aqui,
que, a partir disso, Voltaire nunca foi partidário de uma “revolução”, “rebelião”
ou ainda uma “insurgência” política que abalaria os esquemas hierárquicos
estabilizados no âmbito do Antigo regime (BERCÉ, 1987). A China forneceria,
pelo contrário, várias práticas, hábitos e valores que, adaptados ao contexto
coetâneo, reconduziria, de modo satisfatório, o sistema europeu de ordens,
com seus graus diversos de subordinação, à estabilidade, à paz e à harmonia.
Desde muito cedo, é possível reconhecer na obra de Voltaire esse fascínio pelo
Oriente, em que pesava uma mistura explosiva, intelectualmente falando, entre
curiosidade e admiração. Em seu Essai sur le poème épique (primeira versão,
publicada em inglês, datada de 1727), Voltaire destacava que foram os
portugueses os primeiros a trazer à luz o caminho marítimo para as Índias e,
portanto, essa nova abertura europeia em direção ao Oriente, com seus
cobiçados produtos e com seus povos inusitados. De passagem, na Idade
Média, as terras orientais vinham descritas na narrativa de Marco Polo na corte
do grande Cã e nos inúmeros relatos de peregrinação que descreviam os
reinos para além da Terra Santa. Entretanto, esta obra voltariana, cujo
fundamento se destaca por seu pioneirismo, é, como muitas vezes se disse,
um longo ensaio de literatura (e de antropologia) comparada, em que se
avaliam os grandes poemas épicos, desde o grego Homero ao inglês John
Milton. É por isso, justamente, que permitiu um quadro comparativo de mais
ampla gama, concorrendo diferentes costumes e hábitos de nações diversas.
(VOLTAIRE, 1830)
Uma longevidade impressionante, pois foram quatro mil anos, com leis,
costumes, língua, modo de vestir sem qualquer alteração relevante. A história
chinesa começou em tempos imemoriais, segundo reza a tradição fundada em
relatos orais, com as observações astrológicas, em que o conhecimento acerca
do funcionamento dos eclipses exerceu papel estratégico. E foi justamente a
partir disso, que foi possível o surgimento das dinastias, ligando “l’histoire du
ciel à celle de la terre” (VOLTAIRE, 1835, p. 14). Além disso, foi a enorme
inventividade dos chineses que possibilitou a criação dos tipos móveis para a
imprensa, da artilharia, dos canhões e da pólvora, dos instrumentos
astronômicos (astrolábio, bússola), e a impressionante descoberta das
coordenadas geográficas com seus meridianos e paralelos. O que
demonstrava cabalmente “la supériorité des Chinois sur les autres peuples
d’Asie” (VOLTAIRE, 1835, p.25).
Quer dizer, tudo aquilo que Voltaire reconhecia como virtudes e valores que
mantiveram a China como grande império, fora tratado com enorme desprezo.
Dessa forma, a famigerada estabilidade chinesa significava inércia e
consolidação de uma tradição arcaica. As rebeliões locais e as guerras civis
No limite, foi justamente essa visão sinofóbica que mais tempo permaneceu (e,
de certo feita, ainda permanece) nas representações que tratam da China (DU
PLEISS, 1998, pp.145-160). As obras políticas de Montesquieu, apenas para
referir o mais conhecido dos teóricos políticos do século XVIII, se esforçaram
por refutar o sistema governativo chinês e sua pretensa caracterização, com
seu viés ilustrado, em “despotismo esclarecido”, ou seja, naquilo que
estrategicamente se considerava a perfeição do Estado e a consecução de
uma sociedade igualitária (pelo menos, em termos jurídicos), em que se
mantinha a harmonia, a concórdia e a estabilidade ao longo do tempo
(MONTESQUIEU, 2000, p.211). Por outra, para François Quesnay e os
pensadores da teoria fisiocrata (QUESNAY, 1767), contemporâneos de
Voltaire, o povo chinês entendeu, desde o inicio dos tempos, que a acumulação
de riqueza em grande escala, sobretudo, envolvendo o conjunto da nação, e a
garantia de que a prosperidade era um direito dos cidadãos, era o objetivo mais
importante da sociedade. Aqui, a agricultura desempenhava papel central não
apenas para a sobrevivência da população, em termos de segurança alimentar,
mas também como forma de angariar enriquecimento e engrandecimento do
Estado. O que quadrava perfeitamente com a doutrina antiga da “economia”
(do oikós), conforme as coordenadas centrais do governo da casa, da família, e
da obtenção de sustento e incremento de patrimônio.
Referências
Ricardo Hiroyuki Shibata é Doutor em História/Teoria Literária (Unicamp) e
Pós-Doutor em História da Cultura e das Mentalidades (UFPR).
VOLTAIRE. Essai sur les mœurs et l’esprit des nations. Paris, Treutel et Würtz,
1835.
Quer dizer:
Referências
Ricardo Hiroyuki Shibata é Doutor em História/Teoria Literária (Unicamp) e
Pós-Doutor em História da Cultura e das Mentalidades (UFPR).
ELLIS, Harold A.. Montesquieu’s Modern Politics. “The Spirit of the Laws” and
the problem of Modern Monarchy in Old Regime France. History of Political
Thought, v.10, n.4, Winter/1989, pp.665-700.
MAVERICK, Lewis A.. China. A Model for Europe. San Antonio: Paul Anderson
Co., 1946.
O “Monzaemon do Ocidente”
Atuante do fim do século XVI até o início do século XVII, William Shakespeare
é dono de um legado cultural que o coloca ainda na contemporaneidade como
o maior dramaturgo da história. Com um total de 37 peças teatrais, e uma
significativa produção de poesia, o inglês se esgueira, em termos quantitativos,
atrás da produção cênica de Chikamatsu Monzaemon, atuante a partir somente
do fim do século XVII, que conta com cerca de cento e dez peças teatrais.
O que nos leva a mais um ponto: a maior parte do teatro escrito na vida de
Chikamatsu foram peças para o Ningyō Jōruri (人形浄瑠璃) (ningyō que
significa “bonecos” ou “semelhante ao humano” e jōruri que se refere a um
estilo particular de narrativa cantada, que significa literalmente “lápis-lazúli”, ou
ainda “bela joia”), uma das maiores referências nipônicas dentre as formas de
Teatro de Bonecos, também conhecido como Bunraku. Tal arte pode ser
definida como uma espécie de narrativa cantada, onde o texto prevalece como
componente mais importante; contudo, a formação de unidade de seu
espetáculo deriva de três elementos, básicos e essenciais, que devem ser
apreciados por igual e consistem na manipulação silenciosa dos bonecos pelos
manipuladores (três, ao todo, para cada boneco); o tocador de shamisen,
instrumento de três cordas derivado de um formato semelhante da cultura
Desse modo, não podendo ter sua originalidade atrelada a história de Romeu e
Julieta, Shakespeare se destaca na construção deste mundo a partir de
múltiplas referências (ele estando ciente do histórico de todas ou não). Aqui
não importam as semelhanças com poemas e dramaturgias passadas e sim o
novo caminho para qual o dramaturgo os leva em sua abordagem muito
moderna.
O que nos leva a analisar outro ponto paralelo entre essas duas obras: o
suicídio. Como anteriormente observado, o ato do shinjū não se atinha apenas
a uma comprovação de amor final, mas servia também como forma de
contracultura às jovens fadadas a um destino cruel dentro das Casas dos
bairros dos prazeres e outros indivíduos marcados para um fim desonroso.
Mitsuya Mori (2004) afirma encarecidamente que o suicídio em Romeu e
Julieta não seria propriamente um shinjū no verdadeiro sentido da palavra. O
que entra em muita concordância ao levarmos em conta as disparidades
sociais dos japoneses do período Edo e dos ingleses do período Elisabetano,
assim como as disparidades das classes sociais retratadas por Shakespeare e
Monzaemon em suas peças. Entretanto, não obstante, no suicídio presente em
Romeu e Julieta há um consenso de rebelião contra o que lhes foi estabelecido
pelos seus pais e sua sociedade. Mesmo que não para se livrar das amarras
Referências
Rodrigo de Sousa Barreto é graduando em Artes Cênicas – Indumentária pela
EBA/UFRJ, artista visual e atual coordenador do GEAA (Grupo de Estudos em
Arte Asiática/UFRJ). [https://linktr.ee/roba_iam]
HACHT, Anne Marie. Shakespeare for Students: 3 Volume Set. Detroit: Gale
Cengage, 2007.
HOSLEY, Richard. Romeo and Juliet. New Haven: Yale University Press, 1965.
[livro]
MORI, Mitsuya. Double Suicide at Rosmersholm. In: The Seijo Bungei: The
Seijo University Arts na Literature Quarterly vol. 186 (78 – 65). Seijo University,
2014.
O Orientalismo e o Japão
A Japonologia (ou os Estudos Japoneses) foi a “filha mais nova” no hall dos
estudos orientalistas em meados do século XIX. Ela começou a tomar corpo no
espaço acadêmico nas décadas de 1850-1870 em um contexto no qual o
Japão como representação estética, histórica e política começa a dialogar com
o ocidente. Mas ainda visto como um coadjuvante nos estudos orientalistas
[Krämer, 2019, p. 144] se comparado a longevidade e representatividade
asiática das civilizações axiais hindu e chinesa [Eisenstadt, 2011].
Com mais de cem membros, a maioria na faixa etária dos 30 anos - muito dos
quais nunca haviam saído do Japão - a primeira missão diplomática do novo
governo foi liderada pelo ministro Iwakura Tomomi (1825-1883) e percorreu em
dezoito meses os Estados Unidos, Inglaterra, Escócia, França, Bélgica,
Holanda, Alemanha, Rússia, Dinamarca, Suécia, Itália, Áustria e Suíça. Nas
palavras do próprio Iwakura, o principal intuito era “descobrir os grandes
princípios (ocidentais) que nos servirão de guia para o futuro”. [Pyle, 1996, p.
95]. O relatório final de cinco volumes e quase duas mil páginas compiladas
pelo secretário da missão Kunitake Kume (1839-1931) foi publicado em 1878 e
tornou-se um importante documento primário sobre o impacto da visita de
emissários, políticos e estudantes japoneses aos Estados Unidos e a Europa.
Base para muitas das diretrizes tomadas pelos oligarcas Meiji a partir de
observações da indústria, marinha, exército, sistemas de transporte, político e
educacional e de hábitos ocidentais. Observações que possibilitaram uma
hierarquização geopolítica, econômica e cultural das nações europeias
visitadas (França e Inglaterra na liderança, seguida pela recém unificada
Alemanha e por último a Rússia); o início de um processo de mimesis da
tecnologia e de hábitos ocidentais até meados da década de 1880 e da
percepção in loco da primeira participação efetiva do Japão em uma exposição
Para Behdad o Orientalismo não deve ser entendido apenas como um discurso
ideológico de dominação e poder ou como um termo neutro na História da Arte,
mas como uma rede de relações estéticas, políticas e econômicas que
atravessam as fronteiras nacionais e históricas [Behdad, 2013, p. 13] em
narrativas transculturais.
Considerações finais
Para dar sentido a realidade vivenciada a partir de fenômenos transculturais no
campo textual e visual, a intersecção de sistemas codificados ou semiosferas
[Lotman, 1990, p. 123-142] se torna uma importante forma de representação da
maneira como cada sociedade constrói as narrativas sobre si e sobre os
outros. Ao privilegiar o processo dialético como operação fluída e complexa
entre diferentes espaços culturais [ver Ortiz, 2003] e seus produtos (“textos de
cultura”) não-binários, as semiosferas possibilitam a averiguação dos desvios,
das complexidades e dos ecos dos discursos orientalistas. Portanto a análise
da nascente diplomacia Meiji e o seu diálogo com as nações europeias, do uso
da fotografia como decodificadora de si e do outro não-japonês e dos discursos
acerca do conflito russo-japonês que transitam entre “ameaças” e
“esperanças”, contribuem para ressignificação do(s) olhar(es) orientalista(s)
sobre o Japão. Semiose que ressalta as nuances discursivas sobre o “outro”
japonês e dessa forma problematiza à afirmação de Said de que o Orientalismo
é um discurso binário de domínio sobre os povos e culturas orientais.
Referências
Rogério Akiti Dezem é Historiador e Professor de Cultura e História do Brasil no
Departamento de Estudos Luso-Brasileiros da Universidade de Osaka (Japão).
Autor das obras Shindô-Renmei: Terrorismo e Repressão (AESP, 2000),
Matizes do Amarelo. A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil 1878-
1908 (Humanitas-USP/FAPESP, 2005) e de mais de duas dezenas de artigos
relacionados à História da Imigração Japonesa no Brasil. Desde 2015 se
dedica a pesquisar aspectos culturais e sociais da História Contemporânea
Japonesa (1868-1968) a partir da iconografia e fotografia sobre o
Japão/japoneses produzida por olhares nativos e estrangeiros.
BEHDAD, Ali. “The Orientalist Photograph”. In: Ali Bhdad and Luke Gartland
(Edited by). Photography’s Orientalism. New Essays on Colonial
Representation. Los Angeles, Getty Research Institute, 2013. pp. 11-32.
BHABHA, Homi. (Edited by). Nation and Narration. London, Routledge, 1990.
KRÄMER, Hans Martin. “Orientalism and the Study of Lived Religions. The
Japanese Contribution to European Models of Scholarship on Japan around
1900.” In: Engbert, Christiaan e Paul, Herman J. (org.) Schorlarly Personae in
the History of Orientalism, 1870-1930. Leiden, Brill, 2019.p. 143-171.
KUME, Kunitake et al. Japan Rising. The Iwakura Embassy to the USA and
Europe. New York, Cambridge University Press, 2009.
Outro detalhe que Kurematsu não menciona é se Heiji, seu irmão e as suas
respectivas esposas mantêm-se em Belém ou se participam do novo
empreendimento colonial japonês em Acará. A base de dados Ashiato (esta
base de dados só contém registros dos imigrantes japoneses que vieram
diretamente de seu país natal ao Brasil, não disponibilizando informações
daqueles que fizeram migrações internas ou vieram de outros países após
imigrarem do Japão), por sua vez, só reforça que Iku partiu diretamente do
Japão para Belém. Porém, na dissertação da pesquisadora Reiko Muto,
podemos encontrar uma clara referência à chegada de Iku Gemba, no navio
Montevidéu Maru (o mesmo utilizado na viagem dos primeiros colonos de
Acará no percurso Kobe - Rio de Janeiro em 1929), à colônia de Acará no dia 2
de julho de 1932 (MUTO, 2010, p. 334), mesma data de chegada
disponibilizada na base Ashiato. Ou seja, podemos entender que Iku Gemba
chegou diretamente da cidade de Okayama, no Japão, para a colônia de Acará,
no Pará, onde lá estava esperando o seu futuro marido, Heiji Gemba. Sendo
assim, Heiji passou alguns anos com a sua esposa, irmão e cunhada neste
empreendimento colonial recente do império japonês (Shiro Kurematsu diz, em
sua obra, que Heiji e Iku viajaram ao Recife definitivamente em 1931 para criar
uma sorveteria [KUREMATSU, 1996, p. 19], a futuramente conhecida
“Sorveteria Gemba”. Esta data bate de frente com a encontrada na base de
dados Ashiato e na dissertação de Reiko Muto, que cravam a chegada de Iku
em Tomé-Açu, na cidade de Acará, em 1932, gerando dúvidas a respeito da
veracidade da data informada por Kurematsu).
A colônia de Acará passa a ter novos líderes neste momento, que decidem,
dentre outras mudanças, transformar a Cooperativa de Hortaliças em
Cooperativa Agrícola do Acará para centralizar a venda dos produtos e fornecer
gêneros de subsistência aos cooperados. Nesta época, o cultivo da pimenta-
do-reino já vinha sendo praticado de maneira experimental. Esta variação foi
inserida por Makinosuke Ussui. Este, que partiu de Tóquio para o Brasil a
bordo do navio Hawai-Maru, parou em Cingapura para realizar o enterro de
outro imigrante japonês que havia falecido na viagem. É nesta ocasião que
Ussui adquire vinte mudas da pimenta-do-reino e leva-as à Belém (DE
CASTRO, 1979, p. 46). Destas vinte, somente três sobreviveram ao serem
cultivadas na fazenda Açaizal, de propriedade do imigrante Kozo Yoshida.
Quando esta fazenda foi fechada em 1935, os colonos Tomoji Kato e Enji Sato
levaram estas mudas para a sua fazenda, mesmo sendo praticamente os
únicos interessados nelas (DE CASTRO, 1979, p. 46).
Com o final da Segunda Guerra em 1945, havia a necessidade, por parte dos
colonos de Acará, que a situação fosse normalizada. Para tanto, solicitaram o
reestabelecimento das atividades da Cooperativa. Enquanto a autorização por
parte do Governo do Estado não vinha, os colonos se organizaram através da
União dos Lavradores, criada por aproximadamente 20 colonos (DE CASTRO,
1979, p. 47). Esta organização durou até 1949 e exerceu as funções realizadas
pela Cooperativa no período antes do conflito mundial. Ao perceber a
necessidade cada vez maior de normalizar a situação, finalmente o Governo do
Estado autorizou a reorganização da Cooperativa (DE CASTRO, 1979, p. 48).
Referências
Ronaldo Sobreira de Lima Júnior é professor efetivo de História e História da
Cultura na Rede Municipal de Ensino da Vitória de Santo Antão-PE, graduado
em Licenciatura e em Bacharelado em História (UFPE), especialista em
História do Nordeste do Brasil (UNICAP) e mestrando em História Social da
Cultura Regional (UFRPE), além de membro da Rede de Pesquisadores
Visões da Ásia.