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FICHAMENTO HESÍODO
(CITAÇÕES DE ARES NO TEXTO)
Neste caso, a palavra "causa" está sendo usada num sentido transposto; a
palavra "causa" está sendo empregada como uma metáfora a que se recorre
para se descrever a condição da múltipla presença divina. Uma "causa",
cujo efeito é ela mesma e outros seres que são eles próprios causas de si
mesmos, não pode ser considerada como "causa" senão por um uso
metafórico (i.e., transposto e deslocado) da palavra "causa". E com este uso
propositalmente deslocado desta palavra "causa" procuro estabelecer uma
comparação entre nossa hodierna e habitual apreensão e compreensão dos
entes e das coisas e a experiência grega arcaica na qual o Ser se manifesta
como numinoso e na qual o universo não é senão um conjunto não-
enumerável de Teofanias.”
p.64 “Na verdade, o pensamento mítico, servindo-se de figuras não-conceituais,
de imagens concretas e de ideações plásticas, servindo-se de relatos e à
fábulas (i.é., disto em que se constituem propriamente os mythoi e os hieroì
lógoi, os "mitos" e os "relatos sagrados"), coloca em seus próprios termos
(i.e., em termos míticos) o problema da relação entre a Alteridade e a
Ipseidade: Zeus é ele-Mesmo e é o Outro; o Outro é tanto Outro quanto é o
Mesmo.”
“Cada Deus, como Presença absoluta que é, instaura sua própria ordem
temporal. E cada uma dessas ordens temporais, como o próprio âmbito de
cada Deus, encontra suas determinações e configura-se na Grande
Conflagração na qual Zeus se faz o Supremo Soberano e seus inimigos
tornam-se prisioneiros. No conflito e na guerra é que se determina a
extensão do âmbito e dos privilégios de cada um, segundo a força de ser de
cada um. Como os Deuses são imortais, a guerra pela qual eles se
configuram é também inextinguível definitivamente; a trégua e a ordem
que se impõem ao respeito advêm da supremacia de Zeus, cujo espírito
alerta e vigilante é invencível e impõe a seus adversários as condições por
ele decididas (scilicet as Moirai que vêm de Zeus).”
“Pelo fato de o tempo ser múltiplo e não único, adjetivo e não substantivo,
a inter-relação dos Deuses não é de ordem cronológica, mas crato-
ontológica: os Deuses se conexionam, se organizam e se hierarquizam
segundo & força de ser.”
p.77 “Na Teogonia, portanto, o tempo e a temporalidade se subordinam ao
exercício dos Poderes divinos e à ação e Presença das Potestades divinas.
Para Hesíodo, o tempo não é de modo algum uma categoria absoluta e nem
sequer uma categoria. Nem há, na língua de Hesíodo, uma palavra que
designe o tempo (como também não há uma que designe o espaço) de um
modo abstrato. Nela, o tempo sempre se indica através de expressões
adverbiais, adjetivas ou verbais; o tempo não é substantivo e deve sempre
subordinar-se às exigências do Ser. E o Ser, na Teogonia, se revela como
aforça-de-ser, i.e., o poder de fazer-se Presença e de Presentificar.”