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Editora Monergismo
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Sítio: www.editoramonergismo.com.br
1ª edição, 2008
“Mas isso é o que o Velho Testamento dizia! Vivemos nos tempos do Novo
Testamento!” – Essa é a reclamação de muitos cristãos diante de qualquer
sugestão que deveríamos nos conformar a algum requerimento da lei de
Deus, dizia o dr. Greg L. Bahnsen em 1985, no prefácio ao seu excelente
livro By This Standard.[1] O cenário ainda é o mesmo, senão pior.
É irônico que, embora a correta afirmação que “a Bíblia é a nossa
regra de fé e prática” tenha se tornado quase um jargão no meio evangélico,
essas mesmas pessoas negam a aplicação dessa verdade nos diversos
contextos da experiência humana. Pensam que os conselhos de Deus são
eficazes, oportunos e dignos de atenção apenas no que concerne à igreja e, no
máximo, à vida privada do cristão, enquanto que nas demais áreas devemos
seguir o “senso comum”. Mas se a Palavra de Deus não tem autoridade
universal, como podemos julgar algo, seja o que for, como certo ou errado?
Qual padrão escolheremos para emitir juízo?
Com efeito, infelizmente, só uma pequena minoria de cristãos aceita
as implicações totalizantes da doutrina de que Deus é o Senhor de todas as
coisas. Alguns dirão que a razão autônoma consegue lidar com a ética de
maneira satisfatória. Mais ainda, dirão que a razão autônoma é capaz de obter
conhecimento completo nas ciências especiais. Dirão que a razão autônoma é
capaz de prover um padrão estético adequado. Todavia, essa separação entre
o mundo da razão e o mundo da religião, ou a distinção entre “natureza” e
“graça” foi quebrada com a formulação do pensamento reformado ao longo
do tempo. Não há neutralidade religiosa no raciocínio. Não existe razão
autônoma. As pessoas podem se submeter ao senhorio de Cristo sobre todas
as coisas ou podem rejeitá-lo parcial ou completamente. Em todo caso, trata-
se de uma escolha que reflete uma relação pessoal com Deus. Uma relação de
obediência ou de desobediência.
Sendo esse o caso, cabe ao cristão buscar a obediência a Cristo em
cada área de sua vida. Uma cosmovisão cristã não é resultado mecânico de
uma vida convertida. Deve ser buscada ativamente, como parte do processo
de santificação. Seguindo a prática histórica e o pensamento de Calvino, a
experiência dos primeiros puritanos que se instalaram no Novo Mundo e a
formulação teológica de outros pensadores reformados, o Rev. Dr. Kenneth
Gentry apresenta, aqui, de uma maneira concisa, um resumo do ensino
reformado sobre a relevância da Lei de Deus para os tempos atuais. Ao invés
de discutir todas essas influências, no entanto, Gentry focaliza a discussão na
unidade da Palavra de Deus à luz da história redentiva. O resultado não é o
cristianismo prático covarde que tem prevalecido, segundo o qual a igreja
nada tem a fazer a respeito dos “assuntos ordinários” da vida. Pelo contrário,
a idéia emergente deste esforço didático é um convite à prática da missão
cristã de colocar em ação a doutrina de que Deus é o Senhor de todas as
coisas, inclusive das coisas do dia-a-dia.
Agradecemos ao Rev. Dr. Kenneth Gentry que, sabendo da
importância da Lei de Deus para a nossa sociedade brasileira, permitiu a
tradução e publicação deste livro em nosso idioma. Concordamos com J.
Gresham Machen, quando disse que “uma nova e mais poderosa proclamação
da lei de Deus é talvez a maior necessidade dos nossos dias”. Que esse livro
seja o passo inicial para que isso se concretize no nosso país.
O SIGNIFICADO DO TERMO
“Teonomia” é derivado de uma combinação de duas palavras gregas: theos
(“Deus”) e nomos (“lei”). Significa simplesmente “a Lei de Deus”. Falando
de maneira ampla, o termo descreve a posição ética cristã que sustenta que a
Palavra de Deus determina o que é certo e errado, e não o direito natural.
Mais estritamente, teonomia é geralmente entendida como apontando a
justiça e a praticidade do código civil mosaico para a aplicação moderna.
A Escritura define a natureza da Lei de Deus de uma forma que sugere mui
fortemente sua validade contínua hoje. Isso pode ser visto a partir de vários
ângulos.
A natureza da Lei
1. A Lei representa a presença de Deus. Singular à Lei de Deus é que ela foi
pessoalmente escrita pelo dedo de Deus. “E deu a Moisés (quando acabou de
falar com ele no monte Sinai) as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra,
escritas pelo dedo de Deus” (Ex. 31:18; veja também Ex. 32:16; Dt. 4:13;
9:10; 10:4). A origem extraordinária da Lei, tal como a da alma de Adão (Gn.
2:7), sugere seu caráter sagrado.
2. A Lei reside no próprio cerne da nova aliança. Sobre o novo pacto,
como registrado em Jeremias 31:31-33, lemos:
Eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que farei uma aliança nova
com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a
aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão,
para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha
aliança apesar de eu os haver desposado, diz o SENHOR. Mas esta
é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias,
diz o SENHOR: Porei a minha lei [23] no seu interior, e a
escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o
meu povo. (Ênfase adicionada)
O novo pacto foi executado com a instituição da Ceia do Senhor, um
pouco antes da crucificação de Cristo.[24] Vivemos hoje sob a nova
dispensação pactual da redenção e somos lembrados disso todas as vezes que
participamos da Ceia do Senhor.
3. A Lei reflete o caráter de Deus. Quando analisamos as
representações bíblicas do caráter da Lei de Deus, logo descobrimos que as
mesmas atribuições morais aplicadas a ela são também usadas em referência
ao próprio ser de Deus. Deus é bom (Marcos 10:18; Sl. 143:10; a Lei é boa
(Dt. 12:28; Sl. 119:68; Rm. 7:12, 16). Deus é santo (Is. 6:3; Ap. 15:4); a Lei é
santa (Nm. 15:40; Rm. 7:12). Deus é perfeito (2Sm. 22:31; Sl. 18:30; Mt.
5:48); a Lei é perfeita (Sl. 19:7; Tiago 1:25). Deus é espiritual (João 4:24); a
Lei é espiritual (Rm. 7:14). Deus é reto (Dt. 32:4; Esdras 9:15; Sl. 116:5); a
Lei é reta (Dt. 4:8; Sl. 19:7; Rm. 2:26; 8:4). Deus é justo (Dt. 32:4; Sl. 25:8,
10; Is. 45:21); a Lei é justa (Pv. 28:4, 5; Zc. 7:9-12; Rm. 7:12).
O propósito da Lei
Quando lemos do propósito da Lei na Escritura, não há nada que pareça
torná-la inapropriada para os nossos dias. Na verdade, há tudo para
recomendá-la aos cristãos modernos.
1. A Lei define o pecado. O que o cristão é chamado a restringir e
resistir no mundo é o pecado. A lei é essencial para a nossa luta contra o mal,
visto que ela define o que é pecado. “Qualquer que comete pecado, também
comete iniqüidade; porque o pecado é iniqüidade” (1 João 3:4). “Porque até à
lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado, não havendo
lei” (Rm. 5:13). “Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não
conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás” (Rm.
7:7b). Outras referências falam de “iniqüidade” como repreensível e digna do
julgamento de Deus.[25]
2. A Lei convence do pecado. Com a pregação da Lei segue a
convicção de pecado, visto que a Lei expressamente proíbe e julga o pecado.
Apontando o pecado, a Lei mexe com o coração, trazendo um conhecimento
das conseqüências mortais do comportamento iníquo.
Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum. Mas eu
não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a
concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás… E eu,
nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu
o pecado, e eu morri. Porque o pecado, tomando ocasião pelo
mandamento, me enganou, e por ele me matou. (Rm. 7:7, 9, 11;
cf. Tiago 2:9)
ROMANOS 6:14
Romanos 6:14 é a passagem “anti-teonômica” mais famosa. “Porque o
pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas
debaixo da graça.” Essa é uma passagem Classe 4. Observe duas coisas:
1. Paulo não está se referindo à Lei Mosaica, mas à lei-princípio para
a salvação, isto é, ao legalismo. A Lei de Deus não é uma inimiga da graça de
Deus, pois a Lei de Deus endossa a graça de Deus.[36]
2. A frase “debaixo da lei” significa ser um escravo do legalismo. De
acordo com o contexto, devemos ser “escravos da justiça”, pois estamos
“debaixo da graça”.
Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para
lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do
pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? Mas
graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de
coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E, libertados
do pecado, fostes feitos servos da justiça. (Rm. 6:16-18)
ROMANOS 7:4
Romanos 7:4 é uma passagem Classe 2. “Assim, meus irmãos, também vós
estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele
que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus”.
Para entender corretamente esse versículo, deveríamos observar que é
o crente quem morreu, não a Lei. Essa é uma diferença muito grande! A Lei
requer perfeição e nos afasta de Deus, quando falhamos por causa das suas
justas demandas. Mas em Cristo, morremos para a Lei como um condenador.
Não morremos para o que Paulo, na mesma epístola, diz que a fé estabelece
(Rm. 3:31), a santificação requer (Rm. 7:12, 14) e o Espírito Santo estimula
(Rm. 8:3-4).
ROMANOS 10:4
Romanos 10:4 é claramente uma passagem Classe 1. “Porque o fim da lei é
Cristo para justiça de todo aquele que crê.”. Aqui Paulo simplesmente diz,
contrário ao judaísmo farisaico, que Cristo é o fim da Lei para a justiça, ou
justificação diante de Deus. Ninguém pode ser justificado diante de Deus
aderindo à Lei de Deus, não importa quão meticulosamente.
2 CORÍNTIOS 3
2 Coríntios 3 é uma passagem Classe 4. A Lei é considerada em seu sentido
letal, pois os homens a quebram. Deus “nos fez também capazes de ser
ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra
mata e o espírito vivifica” (2Co. 3:6-8).
Paulo observa que o novo pacto ultrapassa o velho pacto em glória,
pois tem o poder de vivificar e transmitir vida.
E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio
em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os
olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual
era transitória, como não será de maior glória o ministério do
Espírito? Porque, se o ministério da condenação foi glorioso,
muito mais excederá em glória o ministério da justiça. (2Co.
3:7b-9)
Foi a glória da ordem do velho pacto que desapareceu, não a Lei:
Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é em
glória o que permanece. Tendo, pois, tal esperança, usamos de
muita ousadia no falar. E não somos como Moisés, que punha
um véu sobre a sua face, para que os filhos de Israel não
olhassem firmemente para o fim daquilo que era transitório.
(2Co. 3:11-13)
GÁLATAS
Em Gálatas temos passagens que podem ser designadas Classe 1 e Classe 3.
Os gálatas estavam tentando guardar os aspectos cerimoniais da Lei na
esperança de ganhar a justificação diante de Deus (Gl. 5:1-4; 2:19, 21; 3:11).
Mas Cristo nos libertou da maldição que a quebra da Lei demanda. “Cristo
nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (Gl. 3:13). A Lei
mesma não é uma “maldição”, mas contém uma maldição para aqueles que a
quebram.
JOÃO 1:17
João 1:17 é uma passagem Classe 4. “Porque a lei foi dada por Moisés; a
graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.” O contraste aqui não é entre Lei e
graça ou verdade, mas entre Moisés e Cristo em seus papéis na proclamação
da revelação divina: A Lei veio por intermédio de Moisés (ela não era dele).
A graça e a verdade foram de fato cumpridas em Cristo (eram dele). Assim, a
lei manifesta indiretamente a Deus como um reflexo, enquanto Cristo
manifesta diretamente a Deus como a “exata representação” (João 1:14, 18;
Hb. 1:3).
LUCAS 16:16
Lucas 16:16 é uma passagem Classe 4. “A lei e os profetas duraram até João;
desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força
para entrar nele.” Ela ensina meramente que a era da Lei e os profetas
levaram historicamente à vinda de Cristo. Nada aqui é anti-teonômico.
A LEI CERIMONIAL
A lei cerimonial é freqüentemente apresentada para minar uma exposição
apropriada de Mateus 5:17-19, como apresentada num capítulo anterior.
Contudo, devemos reconhecer, em primeiro lugar, que a Lei de Deus reflete
dois tipos de verdade: moral e restaurativa. Isto é, a Lei reflete a justiça santa
de Deus e Sua salvação graciosa. A lei cerimonial, intencionalmente, nunca
pretendeu ser um fim em si mesmo. Ela sempre apontou profética e
tipicamente para o Redentor vindouro. Ela prenunciou as verdades eternas da
obra de Cristo e estava destinada a ser substituída.
De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico
(porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia
logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de
Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Arão?
Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz
também mudança da lei. (Hb. 7:11, 12)
Em segundo lugar, a vinda de Cristo confirmou o significado
essencial das cerimônias e validou eternamente seu ensino. Cristo é a
realidade da qual elas eram apenas a sombra.
Em terceiro lugar, temos as cerimônias observadas para nós em
Cristo. Ele não destruiu seu significado, mas transformou a forma como elas
devem ser observadas. Ele é o nosso sacrifício (1Co. 5:7; 1Pe. 1:19; João
1:29). Algumas vezes podemos achar difícil determinar que leis são
cerimoniais e quais não são, mas isso não destrói o princípio da ética
teonômica.
CAPÍTULO SEIS: O escopo mundial da Lei de Deus
É frequentemente argumentado que a Lei Mosaica foi expressamente
designada para uso somente no Israel do Antigo Pacto. Sua relevância era
exclusivamente para a nação especial redimida nos tempos pré-cristãos.
Os dispensacionalistas costumam usar esse argumento com muito
vigor: “As estipulações do Sinai não foram para as nações em geral, mas a
um povo debaixo da graça… Visto que as nações ao redor do Sinai não foram
chamadas a adotar o Pacto Mosaico, parece evidente que as nações pagãs não
seriam julgadas pela lei de Moisés.”[37]
A ética teonômica e as nações
O que segue é apenas uma lista de poucas respostas a esse tipo de objeção:
1. A objeção dispensacionalista confunde mandamentos morais com
forma pactual. Os mandamentos morais são distinguíveis do sistema pactual
no qual eles são encontrados. Por exemplo, tanto no Novo como no Antigo
Pacto, somos ordenados a amar nosso pai e mãe (cp. Dt. 5:16 e Ef. 6:2). Isso
não significa que o Antigo Pacto e o Novo Pacto são o mesmo!
A forma do Antigo Pacto, que incluía o sistema sacrificial e outros
requerimentos cerimoniais, e foi estabelecido somente com Israel, possuía
vários requerimentos morais divinamente ordenados, que são mandamentos
da parte de Deus perpetuamente obrigatórios. Os requerimentos morais
imutáveis podem ser distinguidos da muldura histórico-redentiva nos quais
eles são encontrados. Os mandamentos morais (justiça definida) são
distinguíveis das distintas leis cerimoniais (redenção explicada), como é
evidente no próprio Antigo Testamento. Deus contrasta a lei moral e
cerimonial, quando Ele diz: “Porque eu quero a misericórdia, e não o
sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos” (Oséias
6:6).
Em outros lugares testemunhamos a mesma coisa. “Porém Samuel
disse: ‘Tem porventura o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios,
como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor
do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros’ ” (1
Samuel 15:22). Davi escreveu:
Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha
salvação, e a minha língua louvará altamente a tua justiça. Abre,
Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor.
Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas
em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito
quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não
desprezarás, ó Deus. (Sl. 51:14-17)[38]
Para ilustrar a praticidade da Lei de Deus (que foi apresentada como uma
obrigação moral até aqui), listarei brevemente uns poucos benefícios
fundamentados na ética teonomista.
Benefícios bíblicos
Um dos benefícios mais imediatos da teonomia é que somos deixados com
uma Palavra de Deus intacta. A ética teonomista não aborda a Escritura com
a pressuposição que certas partes do Antigo Testamento devem ser colocadas
de lado, exceto quando repetidas no Novo Testamento. Antes, somente uma
palavra da parte de Deus na própria Escritura tem a permissão de anular
qualquer porção da Escritura.
Por exemplo, o Livro de Hebreus coloca de lado o sistema sacrificial,
seu propósito de apontar para Cristo tendo sido consumado. Para o adepto da
ética teonomista, a Bíblia é deixada intacta como uma Palavra unificada da
parte de Deus, que tem relevância para todas as épocas.
Benefícios públicos
BENEFÍCIOS GERAIS
1. Na abordagem cristã auto-consciente à ética social, uma Lei imutável
torna-se a base da ordem social, e não os caprichos volúveis dos legisladores,
o humor da sociedade, ou a mania dos revolucionários. A Lei de Deus é
imutavelmente justa. “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada
lhe acrescentarás nem diminuirás” (Dt. 12:32).[43]
Toda lei é necessariamente religiosa, pois toda lei é uma expressão de
moralidade. E a moralidade está baseada em idéias de fundamento e valor.
Pela sua própria natureza, fundamentos e valores são conceitos religiosos. A
religião cristã, sendo a verdade (como demonstrada por uma apologética
apropriada), fornece uma inerrante e autoritativa Palavra de justiça imutável
como o padrão de moralidade social.
2. A prosperidade nacional abunda somente em termos da justiça
definida por Deus, pois vivemos em um universo moral (Pv. 15:3). “A justiça
exalta os povos, mas o pecado é a vergonha das nações” (Pv. 14:34). Deus é
soberano em Sua administração providencial das questões do mundo.
Conseqüentemente, os profetas podem descrever poeticamente as nuvens
como a poeira dos Seus pés (Na. 1:3-6). Jó pode falar de Deus como
dirigindo o relâmpago (Jó 37:3). Ele controla até mesmo o número de cabelos
em nossas cabeças e a vida e morte dos pardais (Mt. 10:29-30). De fato, ele
“faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade” (Ef. 1:11). A história
tem significado e propósito por Seu envolvimento pessoal. Ele ordenou que,
culturalmente, a obediência à Lei determine os destinos naturais no longo
prazo (Dt. 28).
BENEFÍCIOS SOCIAIS
Muitos benefícios sociais florescem de uma abordagem teonomista da lei e
ordem. Aqui estão uns poucos exemplos.
[1] Greg L. Bahnsen, By This Standard (Tyler, Tex.: Institute for Christian Economics,
1985).
[2] Hal Lindsey, The Road to Holocaust (New York: Bantam, 1989), e Dave Hunt,
Whatever Happened to Heaven? (Portland, Oreg.: Harvest, 1989). Veja a análise desses
livros em conjunção com outra obra, em Kenneth L. Gentry, Jr., e Greg L. Bahnsen, House
Divided: The Break-up of Dispensational Theology (Tyler, Tex.: Institute for Christian
Economics, 1989).
[3] William S. Barker e W. Robert Godfrey, Theonomy: A Reformed Critique (Grand
Rapids: Zondervan, 1990). Para críticas, veja Gary North, Westminster’s Confession: The
abandonment of Van Til’s Legacy (Tyler, Tex.: Institute for Christian Economics, 1991),
Greg L. Bahnsen, No Other Standard: Theonomy and Its Critics (Tyler, Tex.: Institute for
Christian Economics, 1991), e Gary North, ed., Theonomy: An Informed Response (Tyler,
Tex.: Institute for Christian Economics, 1991).
[4] Greg L. Bahnsen, Theonomy in Christian Ethics, 2d ed. (Phillipsburg, N.J.:
Presbyterian and Reformed, 1984) e By This Standard (Tyler, Tex.: Institute for Christian
Economics, 1985).
[5] Gary Noth, Tools of Dominion: The Case Laws of Exodus (Tyler, Tex.: Institute for
Christian Economics, 1990).
[6] R. J. Rushdoony, Institutes of Biblical Law (Nutley, N.J.: Craig, 1973; reimpresso pela
Presbyterian and Reformed) e Law and Society: Volume 2 of the Institutes of Biblical Law
(Vallecito, Calif.: Ross House, 1982).
[7] Dispensacionalista é a pessoa que crê no dispensacionalismo, o qual o Dr. J. G. Vos
definiu como “aquele falso sistema de interpretação da Bíblia representado pelos escritos
de J. N. Darby e a Bíblia de Estudo Scofield, que divide a história da humanidade em sete
períodos distintos de ‘dispensações’, e afirma que em cada período Deus lida com a raça
humana sobre a base de algum princípio específico. O dispensacionalismo nega a
identidade espiritual de Israel e a Igreja, e tende a colocar a ‘graça’ e a ‘lei’ como
princípios mutuamente exclusivos.” (Nota do tradutor).
[8] Agora publicado como Lord of the Saved: Getting to the Heart of the Lordship Debate
(Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and Reformed, 1992).
[9] Para um estudo da questão escatológica pós-milenista contra o pano de fundo do
dispensacionalismo, veja: Greg L. Bahnsen e Kenneth L. Gentry, Jr., House Divided: The
Break-up of Dispensational Theology (Tyler, Tex.: Institute for Christian Economics,
1989), caps. 9-16.
[10] J. Dwight Pentecost, Things to Come (Grand Rapids: Zondervan, 1958), p. 387; veja
também Hal Lindsey, The Late Great Planet Earth (Grand Rapids: Zondervan, 1971), p.
176.
[11] Os dois títulos por Kik foram combinados num único volume, An Eschatology of
Victory (Phillipsburg, N. J.: Presbyterian and Reformed, 1971). Para uma informação mais
detalhada sobre essa questão histórica específica e a justificativa bíblica para o pós-
milenismo, veja meu livro He Shall Have Dominion: A Postmillennial Eschatology (Tyler,
Tex.: Institute for Christian Economics, 1992).
[12] House e Ice dizem enfaticamente que devemos diferenciar “a lei de Deus” da “lei de
Moisés”. H. Wayne House e Thomas D. Ice, Dominion Theology: Blessing Or Curse?
(Portland, Oreg;: Multnomah, 1988). p. 100. Contudo, quando lemos as Escrituras do
Antigo Testamento, descobrimos que Deus mostra um zelo especial e inflexível em manter
que a Lei dada por meio de Moisés é a Sua Lei. A Lei de Moisés é identificada
continuamente com a Lei de Jeová: e.g., Dt. 30:10; Js. 24:26; 2 Reis 10:31; 17:13; 21:8;
1Cr. 22:12; 2Cr. 6:16; 31:21; Esdras 7:6, 12, 14, 21; Ne. 8:8, 18; 9:3; 10:28,29; Sl. 78:1;
81:4; 89:30; 119:34, 77, 92, 97, 109, 174; Is. 1:10; Jr. 6:19; 9:13; 16:11; 26:4; 31:33;
44:10; 22:26; Dn. 6:5; Os. 4:6; 8:1.
[13] Um “Reconstrucionista” é aquele que sustentam a aplicabilidade da Lei de Deus à
sociedade e governo modernos, enquanto mantendo ao mesmo tempo a esperança pós-
milenistas que as promessas do Cristianismo ganharão o mundo para Cristo através do
evangelho, que é “o poder de Deus para a salvação”.
[14] Erroll Hulse, “Reconstructionism, Restorationism or Puritanism”, em Reformation
Today, nº 116 (Julho/Agosto 1990:25).
[15] House and Ice, Dominion Theology, p. 77.
[16] Minutes of the Seventh General Assembly of the Presbyterian Church in America
(1979), p. 195 (“Report on Theonomy”).
[17] Minutes of the Ninth General Assembly of the Presbyterian Church in America
(1979), p. 145, seção 7 (“Review and Control of Presbyteries Report”).
[18] Minutes of the Tenth General Assembly of the Presbyterian Church in America
(1979), pp. 107ss. (“Lee, et al. v. Gulf Coast Presbytery”). A antipatia de alguns para com a
teonomia é observada nessa decisão: “É o julgamento da Comissão que o [Presbítero
Docente] Donald C. Graham ajudou a agravar o problema da dissensão sobre ‘teonomia’ ao
circular materiais que continham linguagem intemperada a certos membros do Presbitério
de Gulf Coast” (p. 108).
[19] Minutes of the Eleventh General Assembly of the Presbyterian Church in America
(1979), p. 97 (“Advice of the Sub-Committee on Judicial Business”).
[20] Meredith G. Kline, “Comments on an Old-New Error: A Review Article”, em
Westminster Theological Journal 41 (Outono de 1978): 173.
[21] Greg L. Bahnsen, “M. G. Kline on Theonomic Politics: An Evaluation of His Reply”,
The Journal of Christian Reconstruction 6 (winter 1979-80): 195ss.
[22] A ética teonomista sustenta que o Novo Testamento é a revelação conclusiva de Deus
para o homem. Se o Novo Testamento rejeita ou anula uma lei particular da Lei de Deus,
quer por preceito ou exemplo, então essa lei não é mais obrigatória nesta era. Mas
mantemos que é somente Deus falando na Escritura que tem a autoridade para fazer isso.
[23] Veja nota 5 na introdução.
[24] Mt. 26:28; Mc. 14:24; Lucas 22:20; 1Co. 11:25; 2Co. 3:7ss.; Hb. 8:6ss.
[25] Mt. 7:23; 13:41; 23:28; 24:12; Atos 8:23; Rm. 3:20; 6:19; 1Co. 13:6. Tito 2:14; Hb.
1:9; Tiago 3:6. O termo traduzido como “iniqüidade” significa literalmente “sem lei” no
grego: a (“não”) e nomos (“lei”).
[26] Considerações mais detalhadas das passagens podem ser encontradas em Greg L.
Bahnsen, Theonomy in Christian Ethics, 2d ed. (Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and
Reformed, 1984).
[27] A versão do autor diz: “Não vim destruir, mas cumprir”. (N. do T.)
[28] Não aparece na RA, mas na RC, ACF e NVI sim. (N. do T.).
[29] Veja o capítulo 5 para uma discussão da lei cerimonial e sacrificial. Essas são leis
proféticas que prefiguram a vinda de Cristo e simbolizam a redenção. Por essa razão, não
mais são válidas para os cristãos da era do novo pacto.
[30] Mt. 3:2; 4:17; 10:7; 11:11-12.
[31] A versão do autor é mais clara: “Qualquer que disser ao pai ou à mãe, ‘O que
poderias aproveitar de mim foi dedicado ao templo’ – está livre de honrar a seu pai ou
mãe” (N. do T.)
[32] Veja a apresentação anterior mais acima.
[33] Contrário à opinião popular, Apocalipse não foi o último livro escrito. Veja Kenneth
L. Gentry, Jr., Before Jerusalem Fell: Dating the Book of Revelation (Tyler, Tex.: Institute
for Christian Economics, 1989).
[34] Veja também 1:13; 2:17-20, 28-29; 9:31; 10:3.
[35] Cp. Gl. 2:21-3:3, 10, 11; 5:4.
[36] Ex. 32:13; 33:13; Jr. 3:12; 1 Reis 8:46, 48-53; Hb. 1:1ss.
[37] H. Wayne House and Thomas D. Ice, Dominion Theology: Blessing or Curse?
(Portland, Oreg.: Multnomah, 1988), pp. 128, 129.
[38] Ver também Pv. 21:3; Is. 1:10-17.
[39] Ver também Dt. 7:5-6, 16, 25; 12:1-4; 19:29-32; Amós 1:6 (Ex. 21:16; Dt. 24:7);
Naum 3:4 (Ex. 22:18; Lv. 19:21); Habacuque 2:6 (Ex. 22:25-27; Dt. 24:6, 10-13);
Habacuque 2:12 (cp. Mq. 3:10)
[40] House and Ice, Dominion Theology, p. 95.
[41] Ibid., p. 339.
[42] Para uma discussão mais completa de Rm. 1:32, veja Kenneth L. Gentry, “Civil
Sanctions in the New Testament,” Gary North, ed., Theonomy: An Informed Response
(Tyler, Tex.: Institute for Christian Economics, 1991).
[43] Ver também Sl. 119:44, 137, 142, 144.
[44] Ver também Pv. 11:1; Is. 1:22.
[45] Esse trabalho forçado forçaria o ladrão a literalmente pagar por seu crime.
[46] Ver também vv. 7-9.
[47] Kenneth L. Gentry, Jr., The Christian Case Against Abortion, 2d ed. (Memphis,
Tenn.: Footstool, 1989), pp. 62-68.
[48] Em sua defesa do relatório especial da PCUSA sobre a sexualidade humana em 1991,
John Carey, diretor do comitê que escreveu o relatório, comentou: “A ética bíblica e a ética
cristã para a igreja hoje não são a mesma coisa” (Randy Frame, “Sexuality Report Draws
Fire”, Christianity Today, 29 de abril de 1991, p. 37).