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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

ECONOMIA INDUSTRIAL – PROF. WALTER TADAHIRO SHIMA

PAULO CÉSAR CALLUF GRR 20192424 05/11/21

TRABALHO SOBRE INDICES DE CONCENTRAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

Um dos capítulos mais interessantes da disciplina de Economia


Industrial é, sem dúvida, o que explica a Concentração Industrial. Conhecer o
paradigma E-C-D, Estrutura – Conduta – Desempenho é de extrema
importância e relevância não apenas na área da Economia, mas também para
o Direito, bem como nas três esferas da Administração Pública – Executivo,
Legislativo e Judiciário, para controle, regulação, resolução de conflitos,
elaboração de políticas públicas com foco em antitruste ou concorrência
desleal, com fim no bem-estar social, garantindo aos consumidores acesso a
práticas justas, claras e transparentes, impedindo a formação de monopólios,
oligopólios, cartéis e conluios.

Neste sentido, a quantificação do componente estrutural, da E-D-C, é o


termômetro capaz de medir a temperatura das estratégias, condutas e
atuações das firmas indicando suas intensões frente ao padrão de
concorrência do setor em que atuam.

Os instrumentos mais apropriados para identificação destes padrões


maliciosos de comportamento, principalmente no que diz respeito a fusões e
aquisições, quando as participações de mercado, das firmas, podem se alterar
rapidamente, são as medidas de concentração, capazes de captar de que
forma agentes econômicos apresentam um comportamento dominante em
determinado mercado, segundo diferentes critérios de ponderação, permitindo,
assim, aferir o poder de mercado e dizer se o mesmo é ou não significativo.

Kupfer e Hasenclever (2013) apresentam pelo menos três razões para


que os indicadores de concentração, construídos a partir de participações de
mercado, não sejam completos: a) se a entrada em um mercado for fácil,
nenhuma empresa poderá exercer poder de mercado, não importando o quão
ampla seja sua participação nesse mercado; b) uma empresa pode ter uma
parcela de mercado elevada não decorrente de poder de mercado, mas
advinda de custos reduzidos ou de produtos de qualidade superior; c) o cálculo
de medidas de concentração pressupõe a delimitação de mercado e implica
ignorar a influência exercida por substitutos próximos, comercializados em
outros mercados.

Feita esta breve introdução a cerca do tema, título deste trabalho,


pretende-se, aqui, apresentar e definir as principais medidas, ou índices, de
concentração e aplicá-las em um caso concreto (mercado de telefonia móvel
no Brasil), calculando e indicando os méritos relativos desses diferentes
indicadores.

2. DESENVOLVIMENTO

Índices de concentração pretendem fornecer um indicador sintético da


concorrência existente em um determinado mercado em certo período. Quanto
maior o valor do índice de concentração, menor é grau de concorrência entre
as empresas e mais concentrado estará o poder de mercado da indústria. O
poder de mercado de uma empresa individual está relacionado com sua
capacidade de controlar, ou impor, o preço de venda de determinado produto
ou serviço. Por isso, empresas mais eficientes, com custos de produção mais
baixos, têm mais facilidade de competir em preço e de ocupar parcelas
crescentes de mercado, por meio de reduções progressivas no preço. Ou seja,
o poder de mercado de uma empresa se manifesta pela sua capacidade de
fixar e sustentar o preço de venda, em um nível acima daquele fixado pelas
concorrentes, sem prejuízo para sua participação no mercado.
Os índices de concentração são classificados em parciais ou parciais.
Os parciais não utilizam os dados da totalidade das empresas em operação na
indústria em consideração, mas apenas uma parte delas. O principal exemplo
de índices de concentração parciais são as chamadas razões de
concentração (ou CR, na sigla em inglês, referindo-se a concentration ratios),
e os índices mais amplamente utilizados na literatura são o CR4 e o CR8, que
utilizam, respectivamente, os dados das quatro e das oito maiores empresas
em operação, em um certo mercado. Os índices sumários, por sua vez,
requerem dados sobre todas as empresas em operação, nesta categoria se
enquadram os índices de concentração de Hirschman-Herfindahl (HH) e
entropia.

Conforme já antecipado, o presente trabalho pretende demonstrar o


cálculo dos índices CR4, CR8 e HH para o mercado de telefonia móvel no
Brasil, com os dados mais atuais publicados tanto no site da ANATEL –
Agência Nacional de Telecomunicações1 (junho/2021) quanto no site da Teleco
Inteligência em Telecomunicações2.

2.1. ANÁLISE DO MERCADO

A Figura 1, abaixo, apresenta as informações de participações de


mercado das operadoras de telefonia móvel atuantes no Brasil.

FIGURA 1 – OPERADORAS DE TELEFONIA MÓVEL NO BRASIL

Fonte: Teleco

1
www.anatel.gov.br
2
www.telecom.com.br
Cumpre aqui um esclarecimento sobre a atuação de diferentes tipos de
empresas no mercado de telefonia móvel no Brasil, controlado e regulado pela
ANATEL.

Existem, no Brasil, 6 (seis) Operadoras de telefonia móvel, listadas na


Figura 1, de um a seis, com concessão e outorga para exploração do campo
magnético no Brasil, o qual é fatiado (e distribuído) em espectros de diferentes
faixas de frequências. Há ainda, outras tantas, aproximadamente 100
operadoras móveis virtuais (ou na sigla em inglês MVNO – Mobile Virtual
Network Operator), também listada na Figura 1, tratam-se, como o próprio
nome indica, de operadoras virtuais de rede sem fio que não possuem
concessão de espectro de frequência, portanto carecem de rede e faixa de
frequência próprias, obrigando-se a negociarem com as seis operadoras
diretas, através de parcerias de negócio.

Os clientes de operadoras tradicionais e das MVNOs têm como


vantagem receber um serviço especial e acessível por meio de diferentes
canais. Contando com mais opções e qualidade nos planos de internet e
telefonia, o consumidor demonstra cada vez mais interesse em determinada
marca. Tal fato contribui para a constante melhoria dos serviços de diversas
empresas, que buscam facilitar suas chances de competir com a concorrência,
em um mercado que teriam poucas empresas atuantes, por conta da limitação
da distribuição do campo magnético ou do espectro de frequências.

O crescimento do serviço em parceria com operadoras tradicionais tem


sua justificativa no potencial de mercado que representa, com canais
diferenciados de atuação para alcançar um maior grupo de consumidores.

Com empresas cada vez mais focadas na inovação e otimização dos


serviços, a tendência é que o negócio continue a crescer em diferentes regiões
do mundo. O serviço diferenciado tem como objetivo oferecer mais qualidade
aos consumidores, aumentando a fidelização por meio da mobilidade e
diversificação de produtos.
A Figura 2, abaixo, traz a participação das operadoras no mercado de
telefonia móvel pós-paga no Brasil.

Neste trabalho, as MVNOs serão consideradas como sendo uma


operadora única, ou seja, a sétima operadora no mercado.

FIGURA 2 - MARKET SHARE DAS OPERADORAS DE TELEFONIA


MÓVEL PÓS-PAGA NO BRASIL

Fonte: Teleco

Outra ressalva que se faz necessária é com relação aos celulares da Oi,
conforme nota da Teleco, a divisão de celulares da Oi foi vendida para a TIM,
Vivo e Claro, e os contratos com os consumidores finais foram alterados de
pós-pagos para pré-pago. Entretanto, para a realização deste trabalho, a
participação da Oi será mantida conforme apresentada na Figura 2.

2.2. CÁLCULO DOS ÍNDICES DE CONCENTRAÇÃO

a) CR4 – Four-Firm Concentration Ratio

Conforme já antecipado, o CR4 é um índice de concentração parcial,


que considera apenas as participações de mercado das quatro maiores
empresas atuantes no mercado em questão.

A Figura 3, abaixo, apresenta a fórmula para calcular o CR4 em


determinado mercado j.
Sendo Si a participação de mercado de cada uma das quatro maiores
empresas do mercado j.

FIGURA 3 – CR4

Fonte: Elaborado pelo autor.

A partir da Figura 2, obtém-se as participações das 4 primeiras


empresas e aplicam-se diretamente na fórmula da Figura 3.

CR4 = 33,00% + 27,64% + 20,90% + 16,36%

CR4 = 97,90%

b) CR8 – Eight-Firm Concentration Ratio

O cálculo do CR8 é análogo ao do CR4, acontece que no mercado


escolhido, de telefonia móvel pós-paga no Brasil, mesmo considerando as
MVNOs como uma operadora independente tem-se apenas sete participantes
no total.

Há duas saídas para este impasse, a primeira seria abrir as quase 100
operadoras virtuais de telefonia móvel e pegar as duas maiores desta lista,
para fechar as 8 maiores empresas do mercado, e a segunda, é manter as sete
operadoras tal qual apresentadas na Figura 2, e calcular o CR7 ao invés do
CR8.

Seguindo o mesmo raciocínio ilustrado na Figura 3, tem-se:

CR7 = 33,00% + 27,64% + 20,90% + 16,36% + 1,23% + 0,02% + 0,85%

CR7 = 100,00%
c) HH – Herfindahl-Hirschman

Herfindahl-Hirschman é um índice de concentração sumário, ou seja,


utiliza dados de todas as empresas atuantes em um mercado ou indústria.

FIGURA 4 – HH

Fonte: Penpoin3

Obtendo os dados de participação do mercado das 7 empresas


atuantes, a partir da Figura 2, e aplicando-as na fórmula apresentada na Figura
4, acima, tem-se:

HH = 33,002 + 27,642 + 20,902 + 16,362 + 1,232 + 0,022 + 0,852

HH = 2.559,665 ou 25,60%

2.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O presente trabalho adotou as orientações do Departamento de Justiça


norte-americano4, para analisar os resultados dos índices de concentração
calculados. De acordo com as classificações do DOJ o mercado de telefonia
móvel pós-paga no Brasil é altamente concentrado (HH > 2,500 ou 25%).

Desde o início de 1980, a Federal Trade Commission dos Estados


Unidos tem defendido a utilização do índice Herfindahl-Hirschman em
substituição ao índice CR4 para fins de análise antitruste. As orientações
emitidas em 2010, a respeito de processos de fusões (Horizontal Merger
Guidelines) instituem bandas referenciais com o objetivo de balizar a análise

3
https://penpoin.com/herfindahl-hirschman-index. Acessado em 05/11/2021.
4
https://www.justice.gov/atr/horizontal-merger-guidelines-08192010#5c. Acessado em 05/11/2021.
das fusões entre empresas, bem como classificar o mercado sob análise,
quanto a concentração de mercado, em três faixas:

HH < 1.500 – Mercados Sem Concentração;

1500 < HH < 2.500 – Mercados Moderadamente Concentrados;

HH > 2.500 – Mercados Altamente Concentrados.

3. CONCLUSÃO

O objetivo deste trabalho foi analisar a concentração do mercado no


setor de telecomunicações, mais especificamente no setor de telefonia móvel
pós-paga, em Julho/2021. Para tanto, foram calculados os índices de
concentração de mercado CR4, CR7 e HH.

A partir da análise do índice HH, segundo as orientações propostas pelo


Departamento de Justiça dos Estados Unidos, através da Federal Trade
Comission, em 2010, conclui-se que o presente mercado é altamente
concentrado.

Isso se justifica pelo pequeno número de empresas atuantes neste


mercado que desde o seu nascimento em meados dos anos 90, em meio às
privatizações das operadoras de telecomunicações, já se originou concentrado.
Com a quebra da Oi e a venda fatiada de sua divisão de telefonia móvel, os
índices tendem a piorar.

O recente leilão do serviço 5G ampliará a faixa do espectro de


frequência, do campo magnético, utilizado pelas operadoras de
telecomunicações, reduzindo as interferências, melhorando a qualidade dos
serviços prestados, e melhorando consideravelmente a velocidade de dados
móveis, entretanto, dentre os vários leilões realizados, não se percebeu
interesse de novos entrantes neste mercado. Ou seja, a concentração tenderá
a se perpetuar, mesmo com as MVNOs atuando, haja vista que a participação
de quase 100 operadoras virtuais de telefonia móvel é restrita a meros 0,85%
do mercado nacional.
4. REFERÊNCIAS

https://www.teleco.com.br/mshare.asp. Acessado em 14/10/2021

https://www.justice.gov/atr/horizontal-merger-guidelines-08192010#5c.
Acessado em 05/11/2021.

KUPFER, D. e HASENCLEVER, L. Economia Industrial: Fundamentos


Teóricos e Práticas no Brasil. Elsevier: São Paulo, 2013. pp. 55-65.

CARVALHO, G. e VASCONCELOS, S. Análise da concentração do


mercado brasileiro de telefonia móvel. In:__ Revista de Direito
Concorrencial, Vol. 8º, nº 1. Junho 2020. p. 47-71. Disponível em
https://revista.cade.gov.br/index.php/revistadedefesadaconcorrencia/
article/view/468/35. Acessado em 14/10/2021.

DOMINGUES DA SILVA, J. Técnicas para Medir Concentração de


Mercado de Mídia: modo de usar - Juliano Domingues da Silva.
Disponível em
https://www.portalintercom.org.br/anais/nordeste2016/resumos/R52-1663-
1.pdf. Acessado em 14/10/2021.

DE ANDRADE, D. A. e MEDEIROS, N. H. Análise do Grau de


Concentração Setorial da Indústria de Transformação do Paraná entre
2000 e 2012. Disponível em
http://www.eaic.uem.br/eaic2015/anais/artigos/3.pdf. Acessado em
14/10/2021.

Economia industrial - Concentração Industrial.UNESP. Disponível em


https://youtu.be/bJzOEv8kMEg. Acessado em 14/10/2021.

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