Você está na página 1de 10

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

FERNANDA PAULA SOUSA CRUZ, brasileira, solteira, advogada inscrita na


OAB/SP sob o nº 400.678 com escritório de advocacia na Rua Dr. Marrey Júnior,
n° 2305, sala 8, CEP: 14400-830, Franca/SP, com fundamento no artigo 5º,
LXVIII, da Constituição Federal, e nos artigos 647 a 667 do Código de Processo
Penal, vêm respeitosamente, impetrar o presente

HABEAS CORPUS

COM PEDIDO DE LIMINAR

Em favor de xxxxxxxxxxx, brasileiro, solteiro, portador do CPF nº xxxxxxxxxxxx,


RG nº xxxxxxxxxxxxx, filho de xxxxxxxxxxxxxxx, atualmente recluso na
Penitenciária de Franca/SP, MTR xxxxxxxxxxxx SAP, contra decisão ilegal do
MM. Juiz da Vara de Execução Criminal de Franca/SP, processo de execução
da pena, nº xxxxxxxxxxxxxxxxxx, pelas razões de fato e de direito a seguir
expostas:

Henryette Prado - henryetteprado@gmail.com - CPF: 043.378.609-40


1. DO CABIMENTO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL

1.A jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça


pacificou-se no sentido de que a existência de recurso específico não impede
a interposição do writ, mormente diante de decisões proferidas em sede de
execução criminal, quando há risco ao direito de locomoção ao paciente.

2.Outrossim, tanto na Constituição Federal como no Código de


Processo Penal não há qualquer óbice em preferir a impetração do writ ao
processamento de eventual recurso, quando a decisão combatida for violadora
da liberdade de ir e vir do paciente e esta estiver devidamente comprovada
documentalmente.

3.Neste sentido:

“O habeas corpus constitui ação autônoma de impugnação


a decisões proferidas no âmbito da Justiça Criminal. Como
observam Ada Pellegrini Grinover, Antônio Magalhães
Gomes Filho e Antônio Scarance Fernandes ‘o habeas
corpus é remédio constitucional de maior amplitude,
destinado à proteção do direito de liberdade de locomoção
contra toda a espécie de ilegalidade” (Recursos no
Processo penal, SP: RT, 1996, p. 345).

Trata-se de instrumento mais ágil, que visa assegurar a


tutela do direito que se quer garantir. Nem mesmo a
previsão de recurso específico impede a impetração de
habeas corpus desde que a ilegalidade tenha o respaldo
de prova pré-constituída [...].

Assim sendo, por votação unânime, conheceram a


presente da impetração e, convalidada da liminar,
concederam a presente ordem de habeas corpus para
assegurar em definitivo ao paciente o direito à progressão
de regime (TJ/SP – HC 1.045.142.3/0-00 – 12ª CCrim, Rel.
Des. Angélica de Almeida, VU).

Henryette Prado - henryetteprado@gmail.com - CPF: 043.378.609-40


Também esclarecedor sobre o tema é julgado in verbis:

O Judiciário deve afastar digressões burocráticas,


principalmente quando se tratam de casos concretos onde
a situação vivenciada pelo cidadão tem o vício da
inconstitucionalidade. Daí a soberba natureza do HC, para
corrigir, sem delongas, a ilegalidade de um ato (TJ/SP –
HC nº 1.017.043-3/8, 7ª C. Crim., Rel. Des. Cláudio
Caldeira, VU) (g.n.).

4.Portanto, cabível o writ no presente caso concreto.

5.Contudo, vale apenas frisar entendimento já exarado pelo Superior


Tribunal de Justiça, no sentido de que mesmo quando não cabível a impetração
de habeas corpus, nos casos de manifesta ilegalidade, é possível a concessão
da ordem de ofício:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS


SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.
UTILIZAÇÃO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL COMO
SUCEDÂNEO DE RECURSO. NÃO CONHECIMENTO DO
WRIT. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME.
REQUISITO SUBJETIVO. ALEGAÇÃO DE NÃO
PREENCHIMENTO, COM FUNDAMENTO NA
GRAVIDADE DO CRIME E NA NECESSIDADE DE
OBSERVAÇÃO DO PACIENTE, EM REGIME FECHADO,
COMO FORMA DE SE AFERIR SUA CONDIÇÃO PARA
RETORNAR AO CONVÍVIO EM SOCIEDADE.
INEXISTÊNCIA DE FATOS CONCRETOS, OCORRIDOS
NO CURSO DA EXECUÇÃO, QUE DEMONSTREM O
DEMÉRITO DO CONDENADO. ILEGALIDADE. ORDEM

Henryette Prado - henryetteprado@gmail.com - CPF: 043.378.609-40


NÃO CONHECIDA. EXISTÊNCIA DE MANIFESTA
ILEGALIDADE, A ENSEJAR A CONCESSÃO DE
HABEAS CORPUS, DE OFÍCIO. (STJ, HC 251001/SP)

6.Dessa maneira, muito embora a decisão atacada seja passível de


Agravo em Execução, a manifesta ilegalidade enseja a propositura do presente
writ, o que possibilita o conhecimento da ordem pleiteada.

7. Ressalta-se que o cálculo homologado pelo MM. Juiz a quo,


computa o requisito objetivo data estranha aos autos e não da data da última
prisão (16/08/2016), o que fará o reeducando cumprir lapso temporal maior do
que o exigido em lei.

2. DOS FATOS:

1. O paciente foi condenado pelo crime do art. 33, “caput”, da Lei de


Drogas às penas de 05 anos e 10 meses, condenação com trânsito em julgado
para o Ministério Público em 26/03/2018;

2. Depois disso, sobreveio nova condenação, pelo crime do art. 33,


“caput”, da Lei de Drogas à pena de 05 anos, ainda sem trânsito em julgado.

3. Portanto, o paciente cumpria pena privativa de liberdade em regime


fechado (Proc. nº 0005163-98.2018.26.0496 - fls. 16), sobrevindo nova
condenação (Proc. nº 0009364-36.2018.8.26.0496 - fls. 16), com isso, houve
somatória das condenações e elaborado um cálculo de pena, o qual foi
homologado pelo juiz a quo.

4. Contudo, para fins de progressão de regime, constou-se como


data base “23/07/2018”, data esta, totalmente estranha aos autos.

5. Deveria ter-se constado data base “16/08/2016”, tal como


consta na data base do Livramento condicional, eis que é a data da sua
última prisão, o que, se mantido, fará com o que paciente cumpra lapso

Henryette Prado - henryetteprado@gmail.com - CPF: 043.378.609-40


temporal maior do que o exigido em Lei.

6. Em razão disso, fora feito um agravo em execução, o qual se


discutiu a indevida alteração da data base, com a sobrevinda do trânsito em
julgado de nova condenação. Com isso, decidiu-se pelo parcial provimento do
Agravo para determinar que a data-base para a concessão do livramento
condicional não se altere em decorrência da unificação das penas, deixando,
contudo, de fazer o mesmo com a data base para fins de progressão de regime.

7. Entretanto, tivemos um ganho recentemente sob orientação da


Corte Superior que, após análise do disposto nos artigos 111, § ú, e 118, inciso
II, da Lei de Execuções Penais, onde se concluiu não se inferir da leitura dos
dispositivos citados a alteração da data-base para a concessão de novos
direitos.

8.Haja vista que a regressão não é consequência imediata da


unificação de penas, podendo ocorrer ou não, bem como diante da inexistência
de respaldo legal nesse sentido, o que forçaria o condenado ou a condenada
a cumprir lapso superior àquele em que permaneceu em regime mais
gravoso para que novamente pudesse progredir.

9. Ademais, a Terceira Seção do STJ, em recente julgado, alterou seu


entendimento para estabelecer que a unificação das penas, por si só, não
altera a data-base para concessão de novos benefícios, devendo ser
considerada a data da última prisão:

RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL.


UNIFICAÇÃO DE PENAS. SUPERVENIÊNCIA DO
TRÂNSITO EM JULGADO DE SENTENÇA
CONDENATÓRIA. TERMO A QUO PARA CONCESSÃO
DE NOVOS BENEFÍCIOS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO
LEGAL PARA ALTERAÇÃO DA DATA-BASE.
ACÓRDÃO MANTIDO. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. A
superveniência de nova condenação no curso da execução

Henryette Prado - henryetteprado@gmail.com - CPF: 043.378.609-40


penal enseja a unificação das reprimendas impostas ao
reeducando. Caso o quantum obtido após o somatório
torne incabível o regime atual, está o condenado sujeito a
regressão a regime de cumprimento de pena mais gravoso,
consoante inteligência dos arts. 111, parágrafo único, e
118, II, da Lei de Execução Penal. 2. A alteração da data-
base para concessão de novos benefícios executórios,
em razão da unificação das penas, não encontra
respaldo legal. Portanto, a desconsideração do período
de cumprimento de pena desde a última prisão ou
desde a última infração disciplinar, seja por delito
ocorrido antes do início da execução da pena, seja por
crime praticado depois e já apontado como falta
disciplinar grave, configura excesso de execução. 3.
Caso o crime cometido no curso da execução tenha sido
registrado como infração disciplinar, seus efeitos já
repercutiram no bojo do cumprimento da pena, pois,
segundo a jurisprudência consolidada do Superior Tribunal
de Justiça, a prática de falta grave interrompe a data-base
para concessão de novos benefícios executórios, à
exceção do livramento condicional, da comutação de
penas e do indulto. Portanto, a superveniência do
trânsito em julgado da sentença condenatória não
poderia servir de parâmetro para análise do mérito do
apenado, sob pena de flagrante bis in idem. 4. O delito
praticado antes do início da execução da pena não constitui
parâmetro idôneo de avaliação do mérito do apenado,
porquanto evento anterior ao início do resgate das
reprimendas impostas não desmerece hodiernamente
o comportamento do sentenciado. As condenações por
fatos pretéritos não se prestam a macular a avaliação do
comportamento do sentenciado, visto que estranhas ao
processo de resgate da pena. 5. Recurso não provido

Henryette Prado - henryetteprado@gmail.com - CPF: 043.378.609-40


(REsp 1557461, Rel. Ministro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ,
TERCEIRA SEÇÃO, DJe 15/3/2018).

10. Dessa forma, o Superior Tribunal de Justiça, nesse recente


julgamento, teve por prevalecer no âmbito da Terceira Seção, o entendimento
de que sobrevindo o trânsito em julgado de nova condenação no curso da
execução penal, por delito praticado antes ou após o início da execução da pena,
não há alteração da data-base para a obtenção de eventuais direitos,
permanecendo como marco a data da última prisão.

11. Recentemente, em março de 2019, a 3ª Seção do Superior


Tribunal de Justiça afetou dois recursos especiais (REsp 1.753.512 REsp
1.753.509) para julgamento sob o rito dos recursos repetitivos e, com base em
jurisprudência consolidada na corte, fixou tese no sentido de que a unificação
de penas não enseja a alteração da data-base para concessão de novos
benefícios na execução penal.

12. Apesar da 3ª Seção já ter consolidado entendimento sobre a


definição da data base ao julgar o RESP nº 1.557.461/SC, agora, novamente,
fixação da tese no âmbito do sistema de recursos repetitivos permitirá maior
segurança jurídica, estabilidade e coerência à jurisprudência do STJ, conforme
estabelecido pelos artigos 926 e 927 do CPC/2015.

13. Dito isso, reforçamos: o tempo de pena já cumprido até a


publicação do último trânsito em julgado e da posterior unificação das
reprimendas não pode ser desprezado, sob risco de se aplicar medida mais
maléfica ao réu.

14. Com efeito, conclui-se que o marco inicial para definição da


progressão de regime prisional deve ser a data da última prisão, no caso em
tela a data de 16/08/2016, e não a data da decisão somou as penas e regrediu
o paciente ao regime fechado, sob pena de cumprir lapso temporal maior que o
previsto em Lei.

Henryette Prado - henryetteprado@gmail.com - CPF: 043.378.609-40


15. Sendo assim, é mister que a presente decisão seja revista desde
logo e, o cálculo de pena seja refeito, considerando como data base, para fins
de benefícios, a data de 16/08/2016.

3. DO PEDIDO LIMINAR

1.É cediço que a medida liminar em ação de habeas corpus longe está
de ser a regra, pois decorre de fatos excepcionais, somente possível quando a
violência praticada ao direito de locomoção do paciente está sobejamente
comprovada por documentos que instruem o writ, bem como na configuração de
risco de a demora no julgamento final da ordem trazer um prejuízo de
impossível ou difícil solução.

2.Contudo, no caso em testilha estes dois requisitos restam


demonstrados nos autos.

3.Com efeito, o fumus bonis juris restou configurado pela prova


documental que segue em anexo a esta petição, onde todos os fatos, descritos
a seguir, restaram indelevelmente comprovados, sendo que o cálculo de penas
homologado pelo magistrado consta data equivocada para calcular os
benefícios que poderão ser pleiteados futuramente.

4.Já o periculum in mora mostra-se aqui evidente pelo fato de que o


sentenciado foi prejudicado por decisão que, como dito acima, foi baseada em
um cálculo errado, posto que a data utilizada para o cálculo de benefícios não
condiz com a data em que o sentenciado preencheu o requisito objetivo
para a progressão de regime, o que, se mantida acarretará enorme prejuízo ao
paciente, que deverá cumprir maior lapso temporal maior que o exigido em Lei.

5.Assim, pede-se liminarmente a correção do cálculo de penas do


reeducando, para que conste no campo “Data utilizada para cálculo de
benefícios” o marco inicial de 16/08/2016, visto que esta é a data em que o

Henryette Prado - henryetteprado@gmail.com - CPF: 043.378.609-40


sentenciado preencheu o requisito objetivo exigido nos artigos 111, § ú, e 118,
inciso II, da Lei de Execuções Penais.

6.Sendo assim, presentes os requisitos para a antecipação dos


efeitos do writ, requer de V. Exa. a concessão da medida liminar pleiteada, antes
mesmo da requisição de informações à autoridade coatora, que poderão ser, até
mesmo, dispensadas.

4. DOS DOCUMENTOS ACOMPANHADOS:

Para legitimar o pedido presente nesse remédio heroico, junta-se os


seguintes documentos:

1. Cálculo da pena, doc. 01


2. Decisão homologatória do cálculo, doc. 02
3. Acórdão 1ª condenação, doc. 03
4. Acórdão 2ª condenação, doc. 04
5. Acórdão Agravo de Execução, o qual determinou que apenas o
Livramento Condicional não se alterasse e razão da unificação das
penas, doc. 05;
6. Acórdãos paradigmas do próprio TJSP, doc. 06;

5. DOS PEDIDOS:

Diante de todo o exposto, requer-se seja concedida a medida liminar


pleiteada e, ao final, a ordem definitiva, julgando-se procedente a pretensão
impetrada no presente writ para o fim de cassar a decisão do ilustre magistrado
a quo, e determinar que seja considerado o marco interruptivo em que foram
preenchidos os requisitos legais do art. 111 e 118, inciso II, da Lei de Execução

Henryette Prado - henryetteprado@gmail.com - CPF: 043.378.609-40


Penal", ou seja, 16/08/2016.

Franca, 10 de dezembro de 2019

FERNANDA PAULA SOUSA CRUZ


OAB/SP nº 400.678

Henryette Prado - henryetteprado@gmail.com - CPF: 043.378.609-40

Você também pode gostar