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NASCIMENTO DA SEMIÓTICA E O SEU DESENVOLVIMENTO

Introdução

A semiótica é um aspecto do saber, muito antigo, intimamente ligado com o modo como
damos significado a tudo o que nos rodeia. É como o oxigênio no mundo do sentido.
Significar é dar vida e forma ao sentido de tudo aquilo que nos rodeia (os signos). O signo
direito, por exemplo, pode ser um adjetivo ou substantivo.

O pensamento e a linguagem, presentes em todos os domínios da nossa vida, são os sinais


mais evidentes da superioridade do homem em relação aos animais. Daí, a semiótica não é
uma disciplina acadêmica independente. Interessa a todos: linguistas, filósofos, psicólogos,
sociólogos, antropólogos, etc.

Para os estudantes do curso de Direito, a semiótica tem grande utilidade no campo da


comunicação e da linguagem, ao oferecer-lhes um código linguístico (regras de combinação
dos signos), uma gramatica para estruturar o discurso significativo, facilitando a comunicação
e a compreensão entre os homens.

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NASCIMENTO DA SEMIÓTICA E O SEU DESENVOLVIMENTO

Desenvolvimento

Uma Nova Criação Cientifica

O termo semiótica tem o seu início na medicina grega. Galeno, na tradição hipocrática, inclui
a semiótica entre os seis ramos da medicina: semiótica, fisiologia, etiologia, patalogia,
higiene e terapia. Na diagnose cabia a semiótica descobrir os sintomas da doença. No século
XX, a disciplina da semiótica inclui tudo e todos.

O suíço Ferdinand de Saussure (1857- 1913), chamado o pai da linguística, referiu-se à


possibilidade de se conceber uma ciência que estudasse o papel dos signos como parte da
vida social, ciência com todo o direito a existir, propondo o nome de semiologia (do grego
semeion, “sinal”) para designar essa ciência.

Seguiram-se outros linguistas que trabalharam no campo semiótico, tais como: o linguista
dinamarquês Louis Hjelmslev (1899- 1966) e o linguista russo Roman Jacobson (1896-
1982). De 1839 a 1914 surge a figura do filósofo americano Charles Sanders Peirce que vai
ser considerado o pai da semiótica, o pioneiro da nova ciência, ao analisar as bases da sua
doutrina dos signos, as bases do seu pragmatismo e ainda a Semiotica do homem no seu
ensaio consciência e linguagem.

Continuando a linha de Peirce, Charles Morris apresenta a semiótica como a ciência dos
signos, estabelecendo a divisão epistemológica da semiótica nas três seguintes subdisciplina:
sintática, semântica e pragmática.

A semiótica, saber muito antigo, deu um salto qualitativo a partir de 1956, apresentando-se
como ciência, ou pelo menos com cientificidade. Em 1969, foi criada a International
Association for Semiotic Studies e iniciou-se a publicação do respectivo órgão cientifico
Semiotica em Haia.

Entre os muitos estudiosos desta criação cientifica do século XX mencionamos os seguintes:


Charles Williams Morris (1901- 1979), protagonista da semiótica bebaviorista, Ivor A.
Richards (1893- 1979), Charles K. Ogden (1899- 1957) entre outros.

Tradição Semiótica

A temática estudada pela semiótica é tão antiga como o pensamento filosófico, e a linguagem
tão antiga como o próprio ser humano. Esta antiguidade já revela teor semiótico no Crátilo de
Platão (427-347 a. C). Aí já é tratado o caráter convencional e arbitrário dos signos quando
Hermógenes afirma a Sócrates: “De facto, nenhum nome pertence por natureza a nenhuma

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coisa, mas é estabelecido pela lei e pelo costume daqueles que o usam chamando as coisas
(2001, P. 44).

Sócrates conduz o diálogo de forma a tornar explicito que mesmo não havendo uma relação
similar direta entre a coisa e o nome, há uma relação mais profunda aonde conduz o processo
dialético do conhecimento, pois ideias puras. Os gregos foram fornecendo os princípios
fundamentais da linguagem que têm permanecido constantes até aos nossos dias. Na segunda
metade do século XX, Julia Kristeva afirma que a linguagem se apresenta sobretudo como
um significado que tem de ser organizado lógica ou gramaticalmente.

Platão ensina que o discurso só existe com regras e com os referentes criados pelo próprio
discurso, pois o discurso é sempre sobre alguma coisa e nunca sobre nada. Signo e
pensamento cruzam-se, criando sentido e produzindo referência.

Os filósofos que precederam Sócrates, Platão e Aristóteles (Hipócrates e Parménides, século


V a.c) não estavam interessados nos signos linguísticos. O termo signo não era aplicado as
palavras porque, segundo esses filósofos pré-socráticos, se o SER existe, então é um todo
indivisível, idêntico a si próprio. Deduzia-se que as palavras (nomes) poderiam ser apenas
pseudoequivalencias da realidade que ocultavam.

A semiótica de Platão e Aristóteles apresenta-se de uma forma bem diferente dos seus
predecessores: analisam as palavras numa perspectiva dupla, apresentam a diferença entre
significante e significado, assim como a diferença entre significação e referência. Significado
diz o que a coisa é, usando termos isolados, mas um ato de referência diz que a coisa é e
precisa de uma frase completa.

Aristóteles, nas suas obras de lógica e linguagem procura evitar o termo signo para as
palavras, prefere usar o termo símbolo por se apresentar mais neutro tanto na linguagem
escrita como na fala.

1. Semiótica

A semiótica é a ciência que estuda os signos, portanto, seu campo de estudo é amplo,


pois abarca todas as linguagens (verbais e não verbais), já que cada linguagem é formada de
signos que permitem a comunicação entre os indivíduos. Isso porque os signos estão
associados a algum tipo de representação.

Queremos dizer, com isso, que os signos são sinais indicadores de algo, dentro de um
determinado contexto sociocultural.

Os signos podem ser vistos em toda parte e estão relacionados a elementos naturais e
culturais. Portanto, são signos, por exemplo: uma cor, um gesto, uma palavra, um ruído, um
cheiro, uma carta, um acontecimento, uma música, um olhar etc. De acordo com o contexto
em que estão inseridos, sempre associamos a eles alguma significação.

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Divisões da Semiótica

A sintaxe: que estuda as relações formais ou estruturais entre os signos (expressões de


qualquer coisa) ou seja, analisa apenas as relações entre expressões, fazendo parte do sistema
da língua.

A semântica: que estuda as relações dos signos com a realidade que eles traduzem
(referentes) ou seja, analisa apenas as expressões e as suas significações.

A pragmática: estuda as relações dos signos com os seus intérpretes (utentes da linguagem).

2. Linguística

A linguística é o estudo cientifico da linguagem e das línguas naturais, cobrindo o aspecto


funcional dos fonemas dentro do sistema da língua, assim como os aspectos morfossintáticos,
semânticos e pragmáticos do mesmo sistema.

A partir da segunda metade do século XX, a Linguistica transformou-se numa ciência social/
ciência da cognição. Ao pensar e ao falar utilizamos palavras, construímos frases,
relacionamos palavras, ideias, factos, argumentamos, construímos um discurso organizado e
logico para transmitir os nossos saberes e experiencias.

Diz Charles S. Peirce: “O homem só pode pensar por meio de palavras ou de outros símbolos
externos”, e Jean J. Rousseau continua “Se os homens têm necessidade da palavra para
aprender a pensar, têm ainda mais necessidade de saber pensar para descobrir a arte da
palavra”.

3. Hermenêutica

A hermenêutica tradicionalmente foi definida como o estudo do lócus do sentido e dos


princípios de interpretação; hoje, é entendida como a ciência da compreensão, passando da
simples explicação cientifica da língua do texto para a verdade última que ele encarna. O
sentido descobre-se, não se cria.

A arte de falar e a arte de compreender estão intimamente relacionadas, sendo o falar apenas
a face exterior do pensar. Todo o ato de comunicação se relaciona em equilíbrio com a
totalidade da língua e a totalidade do pensamento.

O texto informa o leitor da intenção do autor (função expressiva/emotiva), comunicando


sentido (função representativa/referencial) que espera uma resposta por parte do leitor
(função conativa/apelativa).

Gadamer afirma que compreender um texto não é apenas captar-lhe o sentido; é compreender
o que ele nos pede e o impacto que ele tem no mundo da nossa existência real; é permitir que
o que está longe e distante se faça de novo ouvir não só com voz renovada, mas também com

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uma voz mais clara. Segundo E. Benveniste, o discurso desempenha uma dupla função:
representa a realidade, para o locutor; recria essa realidade, para o receptor.

Um texto é a última vontade de um autor. Envolve um código linguístico e forense que tem
de ser honrado e seguido. A hermenêutica, enquanto ciência da interpretação, ocupa-se de
compreender, interpretar e explicar o sentido de um texto, sem nunca o desvincular do seu
contexto.

4. Texto Jurídico

O texto jurídico está dentro da categoria de um texto cientifico. Versa matéria que tenha sido
objeto de estudo, reflexão ou investigação. Ao conteúdo do texto pertence uma linguagem
especifica, tendo em conta os destinatários.

A matéria tratada no texto jurídico é o “jus” ou direito substantivo. Este obedece a técnicas
jurídicas, extremamente rigorosas, apoiadas em conceitos e terminologia de igual rigor.

É próprio do texto jurídico uma linguagem bem estruturada e apurada, pois o direito remete
para a função humano-social, onde está implícita a ideia de justiça. Daqui se deduz o caráter
pragmático-cientifico do texto jurídico que depende da pragmática, dos códigos, de princípios
racionais e de situações comunicativas.

Semiótica ou Semiologia

“Semiótica” e “semiologia” são palavras sinônimas atualmente. O termo “semiologia” foi


usado pelo linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913), que o entendia como uma
ciência da comunicação; mais tarde, passou a ser entendido também como ciência da
significação.

No entanto, estudiosos, em outros países, utilizavam o termo “semiótica”. Então, alguns


pesquisadores, como Roman Jakobson (1896-1982) e Greimas, em 1969, optaram por utilizar
apenas a palavra “semiótica” e não mais “semiologia”.

Semiologia e Semântica

A semiologia ou semiótica, originalmente, está relacionada ao reconhecimento do signo, à


forma, de modo que entende o significado como algo conceitual, intralinguístico ou
intratextual.

Já a semântica está relacionada ao discurso, que depende do que é extralinguístico ou


extratextual, já que o sentido se constrói em uma situação comunicativa, em um contexto
específico. Para saber mais sobre essa área da gramática, leia o texto: Semântica.

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Importância da Semiótica

Já que podemos encontrar signos em toda parte, a semiótica está associada a várias áreas
do conhecimento. Assim, ela é uma ciência de grande importância para entender fenômenos
comunicativos de caráter natural ou cultural. Por meio dela, é possível compreender os
mecanismos de comunicação humana e animal, associados a pensamentos, emoções ou
instintos.

Linguística e Semiótica

Na linguística, Saussure traz a ideia de que um signo é formado por:

 um significante (forma ou “imagem acústica”)

 um significado (conceito)

Por exemplo, a palavra “céu” é um significante, já aquilo a que ela se refere é o significado.
Assim, o signo linguístico é estudado por uma perspectiva sintática, semântica e pragmática.

Semiótica e Comunicação

O estudo da comunicação engloba não só os meios de comunicação, mas a comunicação em


si, isto é, a produção e a difusão de informação em determinado contexto. A existência da
comunicação depende da linguagem, que, por sua vez, é formada de signos. Portanto, uma
vez que a semiótica é a ciência dos signos ou da significação, comunicação e semiótica estão
intrinsecamente relacionadas.

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Conclusão

Durante o processo de investigação do trabalho com o tema nascimento da semiótica e seu


desenvolvimento cheguei a seguinte conclusão que o estudo da semiótica é um saber tão
relevante na modernidade como o foi na Antiguidade e na Renascença, pois a semiótica
apresenta sempre a realidade numa linguagem nova, num processo de contínua aprendizagem
do mundo cheio de significado.
E também para os estudantes do curso de Direito, a semiótica tem grande utilidade no campo
da comunicação e da linguagem, ao oferecer-lhes um código linguístico ( regras de
combinação dos signos), uma gramatica para estruturar o discurso significativo, facilitando a
comunicação e a compreensão entre os homens.

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Bibliografia

SEMIÓTICA LINGUÍSTICA E HERMENÊUTICA DO TEXTO JURÍDICO 2ª EDIÇÃO.


MARIA AMÉLIA CARREIRA DAS NEVES

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