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O ativismo digital
alexsandro teixeira ribeiro
Redes e ciberat ivismo: not as para uma análise do cent ro de mídia independent e
Eugenia Rigit ano
At ivismo social digit al: a inserção dos moviment os sociais de Manaus nas redes on-line
Maurília Gomes
AMBIENTALISMO.COM: a at uação do moviment o ambient alist a diant e as novas mídias digit ais – uma …
Rafael Sant os de Oliveira, Mariana Fenalt i Salla
O ativismo digital
Dênis de Moraes∗
2001
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O ativismo digital 3
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despesas astronômicas. O MST, por exem- mia para detonar campanhas, sejam elas de
plo, considera que a Internet proporciona à denúncia, de pressão, de conscientização ou
causa da reforma agrária “um amplo canal de arrecadação de fundos; abertura de fóruns
de comunicação com a sociedade”, mas nem cooperativos (listas de discussão, conferên-
por isso deixou de imprimir, mensalmente, cias on line, chats).
um milhão de exemplares de seu jornal Sem A homepage do MST (www.mst.org.br)
Terra. O periódico, com quatro páginas e registra objetivos, posicionamentos e comu-
em cores, começou a circular em outubro de nicados, com rapidez e economia de recur-
2000. É distribuído nos acampamentos pelo sos. Recebe de 300 a 400 visitas por dia.
país, onde a Internet ainda não chegou, e nos O coordenador do MST Neuri Rosseto ar-
meios sindicais, estudantis, políticos e inte- gumenta: “O fato de termos nossos canais
lectuais. possibilita uma maior credibilidade, uma vez
Esse modelo alternativo de expressão, que as notícias neles veiculadas estão sob a
apoiado em processos interativos, contribui ótica das próprias forças progressistas, sem
para reduzir a dependência aos meios tra- filtragem, censura ou deturpação dos fatos.
dicionais, com a sua crônica desconfiança Uma coisa é ler uma notícia sobre a polí-
dos movimentos comunitários. O mosaico tica de privatizações em um meio de difu-
comunicacional da Web reforça, assim, os são controlado ou influenciado pelo governo,
campos de resistência à concentração da mí- que tem todo o interesse em promovê-las.
dia, permitindo que idéias humanistas se ex- Outra é ler essa mesma notícia sob a ótica
primam no perímetro do espaço político des- de quem se opõe a tal política. Uma home-
territorializado. “Na Internet, até as peque- page feita pelas forças progressistas possi-
nas entidades têm oportunidade de divulgar bilita, e muito, a divulgação de seus pontos
suas atividades ao conhecimento de segmen- de vista. Os meios de comunicação massiva
tos mais amplos da sociedade. Apesar de funcionam como uma espécie de filtro en-
anárquica, a rede é muito mais democrática, tre o que deve ser noticiado, destacado, de-
pois deixa que todo mundo se expresse”, turpado ou ocultado. A Internet rompe com
opina a diretora do Greenpeace na Espanha, essa intermediação. Por isso, pode facilitar
María Peñuelas.8 que os agentes das notícias sejam os agentes
que fazem esse acontecimento chegar até o
conhecimento da sociedade.”9 O MST pre-
2 As ONGs e a comunicação on
tende interligar seus principais acampamen-
line tos, mas depende de recursos financeiros e
A maioria das ONGs procura usufruir das de conexões que dispensem linhas telefôni-
vantagens de curto, médio e longo prazos cas fixas (a solução talvez venha com o apri-
da comunicação virtual: barateamento dos moramento da tecnologia wireless, por celu-
custos; abrangência ilimitada; velocidade de lar, satélite ou rádio). O Movimento já con-
transmissão; ruptura com as diretivas ideo- seguiu apoios em 50 países; normalmente, os
lógicas e mercadológicas da mídia; autono- contatos são feitos por correio eletrônico.
9
8
María Peñuelas, citada por El País, 07.11.1999. Entrevista de Neuri Rosseto, 13.08.1998.
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A Central Única dos Trabalhadores zíamos isso por telefone, fax ou até mesmo
(www.cut.org.br) assinala em seu site que carta, quando tínhamos que falar com grupos
quer viabilizar uma “rede nacional de comu- de outros estados. Até algumas decisões são
nicação, potencializando recursos internos tomadas pela Internet".10 O Cedus usou e-
previamente levantados (boletins, revistas, mails para articular adesões em várias cida-
jornais, páginas na Internet, programas de des ao Dia Mundial de Luta contra a AIDS,
rádio e TV, jornalistas, dirigentes, forma- em 1o de dezembro de 1999. Com a cria-
dores de opinião etc.), que, com rapidez ção de sua homepage, passou a recebermen-
e eficácia, possam externar as políticas de sagens de adolescentes e jovens com dúvi-
nossa Central e suas ações na conjuntura, de das sobre sexualidade, doenças sexualmente
modo a influenciar a agenda nacional, inclu- transmissíveis e gravidez.
sive pautando na grande mídia o que a classe Cresce o número de ONGs que, atra-
trabalhadora entender como essencial”. Por vés da Web, captam recursos financeiros
meio da Internet, a CUT incrementa parce- para projetos assistenciais. E ainda existem
rias com entidades nacionais e estrangeiras. ONGs como Médicos sem Fronteiras, Ox-
A Central planeja um boletim eletrônico, a fam e Care que financiam projetos de coo-
ser distribuído aos sindicatos, e a construção peração executados por outras entidades ci-
de uma Intranet (rede interna) que assegure vis. Há dois tipos de contribuições: 1) o
acessos aos órgãos filiados. internauta entra na página, clica em um bo-
O Centro Feminista de Estudos e Assesso- tão e olha, por alguns segundos, os ban-
ria (www.cfemea.org.br), sediado em Brasí- ners dos anunciantes, os quais repassam ver-
lia, atua junto ao Poder Legislativo, de forma bas proporcionais à visitação; 2) através
suprapartidária, acompanhando e sugerindo de doações voluntárias. The Hunger Site
proposições que visem à regulamentação e (www.thehungersite.com), fundado em 1999
à ampliação dos direitos das mulheres e de nos Estados Unidos, destaca-se entre os pres-
relações de gênero eqüitativas e solidárias. tigiados por anunciantes. Trabalha em con-
Está na Internet desde 1998. Disponibiliza junto com o Programa Mundial da Alimen-
dados estatísticos e edita o jornal eletrônico tação, das Nações Unidas, em 82 países, par-
mensal Fêmea. Promove ainda o Fórum Ar- ticularmente na África. Desde que entrou no
ticulação de Mulheres Brasileiras, formado ar, repassou US$ 3,5 milhões à ONU.
por grupos feministas de 24 estados, cujos No Brasil, existem iniciativas
endereços, e-mails e homepages ali se en- similares, como o Click Fome
contram. (www.clickfome.com.br). O internauta
O correio eletrônico transformou-se em faz doações para dois programas da Ação
aliado fundamental das ONGs. “O e-mail da Cidadania contra a Fome e a Miséria e
mudou o modo de comunicação entre as pela Vida: a Bolsa Escola e o Natal sem
ONGs; a relação entre as instituições se tor- Fome. Idealizada pelo sociólogo Herbert
nou mais dinâmica”, avalia Roberto Pereira, 10
Roberto Pereira, citado por Elisa Travalloni,
diretor-geral do Centro de Educação Sexual “Exercício da cidadania cresce com a rede”, Jornal
(Cedus), completando: “É mais fácil orga- do Brasil, 15.12.1999.
nizar as passeatas e as reuniões. Antes, fa-
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obrigatória àqueles que querem se inteirar para duas dezenas de instituições afins e uma
de seminários e eventos em prol de crianças lista de discussão com milhares de assinantes
portadoras do HIV. O fórum científico reúne (www.amnesty.org/news/emailnws.htm). O
estudos sobre tratamentos e recentes desco- correio eletrônico aproxima 80 mil voluntá-
bertas em pesquisas. rios de diferentes nações, treinados para so-
O campo dos direitos humanos também se correr e amparar vítimas de violências. Em
beneficiou com a Internet. Existem centrais 1998, 425 atendimentos foram prestados em
virtuais de denúncias, como as da Anistia In- 92 países pela serviço Urgent Actions, tendo
ternacional (www.amnesty.org), do Human sido solucionados 272 casos. A Urgent Acti-
Rights Watch (www.hrw.org) e da Ordem ons mobiliza advogados, médicos, assisten-
dos Advogados do Brasil (www.oab.org.br). tes sociais, psicólogos e outros profissionais,
Os denunciantes não precisam, necessaria- e subdivide-se por núcleos temáticos (pre-
mente, se identificar nos e-mails. Mas, se sos políticos, refugiados, mulheres, crianças
o fazem, o sigilo é assegurado. A Human e adolescentes, jovens etc).
Rights Watch treina ativistas interessados em Fundada em 1o de maio de 1995, em Na-
programas codificados, úteis para se escapar tal, Rio Grande do Norte, a Rede Telemática
ao monitoramento de dados por regimes au- de Direitos Humanos (www.dhnet.org.br) é o
toritários. "Em locais onde não é permitida braço virtual do Movimento Nacional de Di-
a divulgação de relatórios sobre violações de reitos Humanos. Informa endereços eletrô-
direitos humanos, a Internet tem sido vali- nicos de entidades, órgãos governamentais
osa para as organizações internacionais e lo- e igrejas que acolhem casos de desrespeito
cais", diz James Cavallaro, representante da aos direitos individuais. Há listas de discus-
Human Rights no Brasil.12 são sobre temas econômicos, sociais e cul-
A Anistia — uma das primeiras ONGs turais; fórum entre internautas e o ombuds-
a aderir à Web — objetiva com sua pá- man; cursos de cidadania à distância; textos
gina: a) mundializar as denúncias e acom- sobre a inserção dos movimentos sociais na
panhar investigações sobre desrespeitos aos Internet e a trajetória dos direitos humanos
direitos humanos; b) interconectar as se- no mundo; legislações, códigos de ética e de
ções regionais; c) agilizar comunicados so- conduta. A seção “Onda de Sonhos” arquiva
bre agressões e tomar as conseqüentes pro- escritos de Glauber Rocha, Karl Marx, Char-
vidências. Com um milhão de membros em lie Chaplin, Ernesto Che Guevara, Carlos
160 países, a Anistia dispõe de 50 websi- Marighela, Antônio Conselheiro e Antonin
tes. A homepage principal apresenta no- Artaud. A DHnet hospeda, gratuitamente,
tícias e campanhas contra tortura, pena de duas dezenas de sites afins, como os do Mo-
morte, prostituição infantil, prisões arbitrá- vimento Nacional de Direitos Humanos, o
rias, violências policiais, execuções e per- Conselho Estadual de Defesa do Homem e
seguições a dissidentes políticos. Há links do Cidadão, da Paraíba, o Centro de Estu-
12
dos, Documentação e Articulação da Cultura
James Cavallaro, citado por Roldão Arruda, “Ati-
vistas usam Internet para romper barreiras”, O Estado Negra e o Dossiê de Mortos e Desapareci-
de S. Paulo, 09.01. 2000. dos. Os pedidos de parceria com a DHnet
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são apreciados por um conselho de avalia- mento de que os métodos de luta precisam
ção. convergir. Não bastam as greves, as passe-
Reporters Sans Frontières (www.rsf.fr) atas e a imprensa sindical. Pode-se inundar
luta pela liberdade de imprensa. Com sede de e-mails as caixas postais dos patrões e de
em Paris, tem escritórios na Alemanha, Bél- organismos governamentais; denunciar, em
gica, Espanha, Grã-Bretanha, Itália, Suécia e tempo recorde, demissões e abusos, concla-
Suíça, e representações nos Estados Unidos, mando os consumidores a boicotarem deter-
Tailândia, Turquia e Costa do Marfim. Seu minados produtos; e convocar afiliados para
site, em três idiomas, é um roteiro confiável assembléias conjuntas, manifestações de rua
sobre agressões cometidas por governos au- e piquetes.
toritários contra jornalistas e órgãos de co- Em abril de 1999, os operários da com-
municação. O informativo diário baseia-se panhia petrolífera Elf valeram-se de alguns
em notícias transmitidas por 100 correspon- desses métodos durante greve na refinaria
dentes espalhados pelo mundo. São veicula- de Pau, na França, e ainda colocaram no ar
das denúncias e aceitas doações. Os usuários o site Elf-en-Résistance, por intermédio do
mandam e-mails de reprovação a autorida- qual mantiveram as demais unidades fabris e
des dos países que violam o direito à infor- a mídia informadas sobre o movimento. O
mação, encarceram jornalistas e suspendem episódio animou organismos sindicais fran-
periódicos independentes. Reporters Sans ceses a estreitarem seus vínculos virtuais.
Frontières inclui nestes casos Cuba, Etió- “A Internet nos permite uma comunicação
pia, Ruanda, Síria, Irã, China e Birmânia. muito mais eficaz com os sindicatos. Desde
Há dossiês sobre cada um deles, com fo- as negociações para a redução da jornada
tos e legendas de seus presidentes ou chefes de trabalho, a rede tem sido um instrumento
de governo, qualificados como “predadores para o debate das grandes questões trabalhis-
da liberdade de imprensa”. Desde abril de tas”, depõe o secretário-geral da Confedera-
2000, foram fechadas no Irã mais de 30 pu- ção Geral dos Trabalhadores, Noël Lechat.13
blicações reformistas. Existem dez jornalis- O porta-voz da Federação Internacional
tas presos naquele país. Segundo o relatório dos Sindicatos de Trabalhadores em Indús-
anual de Reporters Sans Frontières, disponí- trias Químicas (Icem), Iam Graham, diz que,
vel on line, o quadro atual da liberdade de ex- sem a Internet, teria sido impossível sen-
pressão entre os 189 países-membros da Or- sibilizar a opinião pública contra a decisão
ganização das Nações Unidas, é o seguinte: do conglomerado Bridgestone-Firestone de
em 96 deles, a situação é correta; em 65, di- substituir os 2.300 grevistas de suas usinas
fícil; e em 28, muito grave. nos Estados Unidos por trabalhadores avul-
Para tentar deter os malefícios da globali- sos, em julho de 1996. Graham declarou
zação econômica e do neoliberalismo, cen- ao jornal francês Libération que a queda-de-
trais e federações sindicais da Europa e dos braço com a direção da empresa só começou
Estados Unidos recorrem à Web para pres- 13
Noël Lechat, citado por Martine Bulard, “Syndi-
sionar empresas transnacionais e despertar cats virtuels. Grèves en réseau”, Le Monde Diploma-
a solidariedade aos trabalhadores. As ci- tique, dezembro de 2000.
bercampanhas sindicais partem do entendi-
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a ONGs informativos, fóruns, base de dados, tar uma cultura de solidariedade social. As
serviços eletrônicos e apoio em tecnologias. redes de ONGs exercem função estratégica
Sérgio Góes ressalva que “falta muito para como plataformas de comunicação. No site
que as organizações conquistem um grande da Associação Brasileira de Organizações
espaço no mundo virtual."Para ele, a Inter- Não-Governamentais (Abong), há noticiário,
net demonstra enorme potencial para a mo- documentos e links para 250 filiadas pelo
bilização, mas não podemos deixar de levar país. Muitas delas participam dos fóruns on
em consideração que uma parcela pequena line da Abong, agrupadas por região. A pá-
da população brasileira tem acesso a ela". gina da Fase (www.fase.org.br) traduz bem
Tornar as páginas mais conhecidas dos in- a estratégia político-cultural-ideológica que
ternautas implica expandir alianças e inter- norteia a circularidade de informações por
câmbios; divulgar intensivamente os websi- afinidades eletivas. A Fase funciona como
tes junto a setores da sociedade civil, tanto pólo de articulação de 70 ONGs do Brasil e
por meios convencionais, quanto por bole- do exterior ligadas à defesa dos direitos hu-
tins e eventos eletrônicos; realizar conferên- manos, do meio ambiente, da reforma agrá-
cias e seminários sobre estratégias comuni- ria e da educação. As organizações contam
cacionais para a Internet; e aprimorar os pro- com uma base de dados comum, uma agenda
gramas de busca e as árvores de links. “A In- de eventos e links para entidades associadas.
ternet para nós é fundamental, mas há tantos Já foram promovidas conferências eletrôni-
sites que você pode navegar a vida inteira e cas sobre reforma agrária na América Latina
não saber que existe determinada página. O e agricultura familiar.23
difícil é dizer às pessoas onde estão a infor- Além de uma maior percepção pública dos
mação, a interação, a discussão, o debate”, sites, pelo menos três desafios terão ser en-
atesta o coordenador da Federação de Órgãos frentados pelos movimentos sociais na Inter-
para Assistência Social e Educacional, Luiz net: 1) a definição de estratégias de comuni-
Antônio Correia de Carvalho.22 cação que aproveitem plenamente as poten-
As redes devem funcionar como faróis que cialidades criativas e interativas das tecnolo-
iluminam as rotas até pontos de referência gias multimídias; 2) o aumento substancial
sobre determinadas questões. A Rits planeja do número de usuários, o que depende da su-
criar o Portal da Cidadania, com informa- peração de entraves econômico-financeiros
ções sobre um abrangente conjunto de enti- (custos de computadores, modems, linhas e
dades, evitando a dispersão por muitas pági- tarifas telefônicas, provedores de acesso); 3)
nas. Para aprofundar-se em algum tema, o uma melhor formação para os ciberativistas,
internauta será instruído a pesquisar nas ho- com simplificação de procedimentos infor-
mepages de instituições específicas. máticos, cursos e treinamentos. Quer di-
Providências como essa são decisivas para zer, as competências humanas permanecem
fazer sobressair as reivindicações e resga- essenciais numa era de acelerado progresso
23
cio da cidadania cresce com a rede”, Jornal do Brasil, Com sede no Rio de Janeiro, a Fase é patroci-
15.12.1999. nada por um consórcio de 12 agências internacionais
22
Entrevista de Luiz Antônio de Carva- da Holanda, da Grã-Bretanha e da Alemanha.
lho, 24.07.2000.
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técnico. Nesse sentido, não há por que dis- bre tecnologias de informação na atividade
cordar de Dominique Wolton — um crítico sindical, promovido pela Organização Inter-
da comunicação eletrônica — quando ele as- nacional do Trabalho, em Turim, Itália, e
sinala a importância de intermediários quali- acompanhou os estudos de estruturação de
ficados para instruir e capacitar a navegação redes eletrônicas junto à Secretaria Nacional
pelos imensos continentes de saberes, dados de Formação da CUT e à Confederação Na-
e conhecimentos da Web.24 Pensar o contrá- cional dos Metalúrgicos. Para potencializar
rio seria admitir, ingenuamente, que o ambi- sua inserção na Web e viabilizar uma Escola
ente high tech se sustenta por automatismos Sindical em rede, estabelecem outros passos,
ou fascínios. O aluvião informacional da In- como a disponibilização de uma homepage,
ternet não subsiste sem o discernimento crí- a formação de usuários prioritários e a elabo-
tico da inteligência humana que o concebeu ração de um projeto de educação à distância
e não cessa de renová-lo. Deixemos claro, para adultos.25
uma vez mais, que instruir e capacitar não se Cada vez mais, as organizações não-
confundem, na Internet, com doutrinar, con- governamentais – esses “embriões da socie-
trolar ou censurar. dade civil internacional, na feliz definição de
A experiência da Escola Sindical 7 de Ou- Ignacio Ramonet26 - necessitarão ampliar a
tubro, mantida pela Central Única dos Tra- interlocução com as comunidades e os pode-
balhadores, prova a importância de avalia- res públicos e aperfeiçoar as táticas de pres-
ções criteriosas e investimentos pontuais na são organizada contra o statu quo. O dife-
Web. A Escola iniciou o projeto de comu- rencial da Internet consiste em veicular li-
nicação on line em 1998, com conexão e e- vremente princípios, anseios e pleitos numa
mail. Depois de inteirar-se das peculiarida- escala nunca antes sonhada. A arena virtual
des do novo meio, chegou a uma certeza: insinua-se, pois, como âmbito de representa-
“Não valeria a pena criar nossa homepage, ção para contrapoderes cívicos germinarem
apenas dispor de um domínio, de um site, e na direção apontada por Félix Guattari:
parar por aí. É preciso haver interatividade; é “Precisamos fomentar com êxito uma nova
preciso que os parceiros e o público alvo da consciência planetária, que se apóie em
Escola acessem nosso site não apenas para nossa capacidade coletiva para a criação de
conhecer o que a Escola é, já fez ou fará; sistemas de valores que escapem aos pressu-
é preciso que seja algo dinâmico e útil, um postos morais, psicológicos e sociais do ca-
instrumento de formação e de comunicação. pitalismo, os quais se centram apenas no be-
E aí, reside um dos desafios: os dirigentes nefício econômico. A alegria de viver, a so-
e militantes dos movimentos sindical e po- lidariedade e a compaixão pelos outros são
pular, em geral, desconhecem as possibilida- sentimentos em vias de extinção e que devem
des e não sabem utilizar a Internet.” A 7 de ser protegidos, reavivados e impulsionados
Outubro participou, então, de um curso so- 25
Sobre a inserção da Escola Sindical 7 de Outubro
24
Ler Dominique Wolton. Internet et après: une na rede de comunicação eletrônica da CUT, consultar
théorie critique des nouveaus médias. Paris: Flam- www. escola7.org.br/plano/pg02cex03.html.
26
marion, 1999, p. 115 e 206. Ignacio Ramonet, “Pour changer le monde”, Ma-
nière de Voir, no 52, julho-agosto de 2000.
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14 Dênis de Moraes
27
Félix Guattari, “Pour une refondation des prati-
ques sociales”, Le Monde Diplomatique, outubro de
1992. Ver ainda Denis Duclos. “Un projet civique
pour le nouveau siècle. Universelle exigence de plu-
ralité”, Le Monde Diplomatique, janeiro de 2000.
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