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Dolo como compromisso cognitivo c Eduardo Viana D 9 —_ £ Oo * Pe S a g S 2 Y © a 088 Marcial Pons Parte IV spANSICAO PARA O DOLO SEM VoNTADE b Consideragdes preliminares Na seco anterior tentei demonstrar que o ponto essencial para a determi- sagio da dolosidade do comportamento humano esté na consideragiio sobre se 0 néiodo utilizado pelo individuo era adequado, ou nfo, para a realizagiio do tipo peal. Também registrei que 0 dolo deve ser compreendido como 0 compromisso cognitivo do autor com a realizagdo do perigo representado. Feito isso, e apos sbordar as tradicionais solugSes cogitadas para delinear a fronteira entre o dolo eaculpa, sejam essas concepgdes as mais classicas (as do dolo como vontade), sam as mais recentes (por exemplo, a do perigo doloso), chego ao nticleo da investigagio, isto 6, ao momento de precisar adequadamente a transig&o de dolo com dupla programagao psiquica para o dolo cognitivo (ou o que convencionou ecominar de dolo sem vontade)."" A tese central que defenderei doravante, portanto, deriva da constatagiio a {he € possivel chegar a luz da investigag’io desenvolvida nas partes anteriores: a ‘estao juridica fundamental da imputagio subjetiva no é averiguar se algum Sado Psicol6gico anima a conduta do individuo, sendo estabelecer os critérios Patir dos quais & Poss{vel afirmar se houve, ou nio, dolo. A ; i ano fi Para que isso possa ser realizado com éxito, sera necessério ter como pi Kteu 7 COM? Problema suspenso — aquele que decorre da pansies a formulada para 0 caso do cinto de couro, qual seja: jé seats pretendo ame * que representa o perigo de realizagao do tipo? Doravai fe responder “ilar os critérios que devem ser manejados para enfrentar tante ataque 15 jstéria de um const I, éahistéria de aes Angi Com cero exagero, 1h& quem considere que a hist6ria do dolo aS meio aut ou teh nt SUbjetiva. Cf, Demuno, Gian Paolo. It dolo... OP. cits Pm aang g, 18). ‘otfia, a utilizar essa expressio foi Lu’s Greco (acima, EDUARDO VIANA 252 isfatori a esse problema. E como isso seré realizado? ¢, Sever wer desnvatidon 8 partir da resposta que ee se dada nt pouco apresentada, a — gusis eae ms ae Piteiees daar a tiva a ermal lnpliea reconhecer uma exigncia estrutur, a ey ironed que a consisténcia de uma teoria nfo deriva apenas eg dos argumentos que so manejados para a sua construgiio, senaig também 7 cipalmente, do fato de que toda as partes se fundam em um todo de y que cada uma é necesséria para explicar as outras.” Desse modo, ¢ dineng® precisiio do dolo ndo pode ignorar os elementos da dimensio de fundamen acima apresentados (parte II, excurso, itens 2.2; 2.2; 2.4). Tentarei man organicidade e, para isso, convém ancorar e reforgar alguns pontog de cong ensio dilufdos no decorrer da argumentagao. Ainda no infcio da exposigio deixei bastante evidente incl diregdo A doutrina que sustenta que 0 dolo e a culpa so conceitos es a0 campo da ciéncia juridica e, como tal, dever ser determinados pela dogmiticg ou pela jurisprudéncia; isso jé deixava bastante evidente, desde o Prinefpio,, que o nivel do injusto nao poderia ser orientado Pela postura mental do individuo, sengo | Por um terceiro julgador que, a luz de critérios sugeridos pelos encarregados de determinar os conceitos juridicos, a ciéncia ou a Jurisprudéncia, seja capaz dg | INat-Me em alorar, objetivamente, ¢ desde uma perspectiva ex ante, qual o njver de reprova- bilidade que deve ser atribuido & conduta realizada (acima, especialmente pare MH, item 3.2.3). brasileira” foi possivel verificar que essas Apresentam respostas insatisfatérias Para casos nao muito complexos e isso basicamente Porque argumentam com um critério psicolégico volitivo aliado a uma base tudo ou nada, qual seja: ou bemo individuo quer o resultado (aqui Pouco importa o que isso significa exatamente)€ Serd possivel imputar 0 dolo, ou bem o individuo no quer o resultado e, portan'o, i Posa.™' Esse modelo volitivo bindrio, conuit to, como pi 180 6 vals ue podem estar marcados em um comportament 5 " Ye para abranger o conjunto de circunstfncias que envol 782, Cf, Huse, David. Tratado Teimental de racioetnio nos ase Unep, 2009, p. 187, am. 20, 753. Cf notas de rodapé ie 2. 60en. 104, ‘segundo Rox distancia. th. OP: $12.0. 1 e48;f,acima, pane The ste modelo, Roxwy, Claus; Greco, Luts. strafed : boo sobre a natureza humana. Uma tentativa de oe dior ios morais; tad. Déborah Danowsk. 2. ed. SHO Pal 9 COMPROMISSO COGNITIVO ~ PARTE IV 253 7 poLo COM! __. 18 Ge recordarmos, Por exemplo, 0 caso da tenda de tiro ao al 10 alvo a0 que wltrapassa em uma curva perigosa ¢ admitirmos hipotetica- tor jstas da conduta’ pudess« i qo m0" otagonistas di ‘pudessem ser indagados, oe ge : i se tudo sairia bem, ambos poderiam acreditar ciiceeesney o ome .m seria crivel a resposta de que e rarmente’que Ci que em nada concreto ch oe oas agiram (ii); fosse dado um longo momento para a refle: te om . oA atm reconsiderar 28 Tespostas i ¢ if, racionalmente, cred gi on cia sit mal (iii).”*° Isso representa, como antecipado, que os aoe a uividu0 SODTE realizago de um tipo penal é tao intui Rete aval aaa supor, Sem. maiores esforgos, na sua insuficiéncia como ele nel eitagio de responsabilidade. E € assim porque a imputaci peat So pon m iputacio a titulo de dolo ie wbérn BO apenas uma questo de querer ou nao querer; assumi 0 mi rc, como se 0 cenéso deliv fesse fo pro e hee pesisomente delimitadas como essas expressdes fazem crer. Além do onan ‘niggico em ajustar a responsabilidade com base na posigéo psiquica em io 0 resultado, hé uma série de fatores e circunstincias que envolvem a ralizgfo tfpica e que, por isso mesmo, merecem ser levados em consideragao no foert de valorar comportamento humano.’*’ Ao fim e ao cabo, quero insistir nofato de que um modelo unidimensional de determinagio de responsabilidade pode, por um lado, dificultar a afirmagao de dolo em casos evidentes, como 0 datenda de tiro ao alvo e, por outro, simplificar em duvi mie oe casos duvidosos, como 0 do nwjorista sob efeito de Alcool que atropela fatalmente o transeunte.’** Em rae Bet tal adverténcia, fica patente que no 4mbito da fronteira entre o I a Ipaa grande tarefa é justamente igualar os polos daquela relagio, isto eae 0 complexo. Para isso, seré necessério imprimir certo hete- iene que hoje é representado de forma simples, isto ¢, enriquecer elon f cae unidimensional (querer ou assumir 0 risco). Creio que a sents con : contornar a insatisfatéria solugio que as teorias oferecem para iplexos é propor uma série de critérios objetivos que possam opera- 15S. Cnft 5 Citica nes Beteanny ‘género aparece em Hart, Fritjof. Die Lehre vom bedingten Vorsatz unter 6 cr achschtigung des wirtschafiichen Betrugs. In: ZStW, 1976, n- 88, p. 365 €58. 9) Bemeg: Pare Mh item 4.2. sideraga i ade imag eases dese gEnero nlo sio excusivas da mputagio subjetiva. A propria teoris So castiade, re naet entiquecer o processo de s nlise da atribuigdo do tipo objetivo antes inode anes ats um panorama, entre 6s, por todos, ef ‘Guaco, Luts. Um panorama da teoria 9 ete Sao Pl: RT, 2014 Na Alemanke: Ch. FRAC Wolfgang. bee Bag 004 a ixeR, Christoph, Die Entwicklung der objektiven Zurechinun’. Berl ia : ee Gage te In: SA, mnie Hans. Objektive und subjektive Zurechnung von Erfolgen im Sirafreclt~ Gen gy: 210; 681 ea; Rance, dol. erect OF cis p73 5: Ron Cle RES Fu peg? 133 5s; Rox, Claus; Gasco, sate, Strafrect.. Op. ct» §11-Ro. Oe. MP TIS eyg ats Pate, Michael, Durebtck ‘Kausalitae und objetiveZareclnan. mA simp ica aqui tm eonotagdo negative ist 6 rata amen cases 2x08 do io negative, que aparentam. EDUARDO VIANA 254 as ym isso, criat mecanismos que ecito primi to do jutzo de imputagdo."? Pornse ®t quando uma determinagio prévia & apresentacio dos cris, ein dove rie erecer urn candidato que permits 2 elaboragea gg" ce de or cera interessante que sobre eS3¢ candidat hoy critérios, Adem, Hen doutrindria.”® Se unirmos ambas as exigencias uma estive’ esentagio™® do individuo € 0 nico candidate apropriady pyr dtivida, a desempenhar essa tarefa. Naturalmente a represen cionalizar um 00 maior seguranca bom conceito de de precistio, pois ele d tagio, por si, também 6 insuficiente para leptin, re de liberdade do individuo. Assim como ay intervengio do Estado na es! panel dieento volitvo foi agregada uma marca da dolosidade, isto €, 0 querer © suas respectivas concretizagdes lingufsticas, 20 elemento cognitivo também deve ser de Caim.”® Aqui, duas exigéncias devem ser atendi iia emica 6 pire pratica: a primeira, seré necessario que essa marca alae do elemento cognitivo permita ao terceiro julgador desempenhar o seu Papel de atribuigdo da responsabilidade com o maior nivel de seguranga e de clareza possfvel; € que, a0 contrério do que acontece com o querer psicolégico, nig possa ser apoderada por um terceiro por meio da forga (acima, parte I, item 42), A segunda, 0 candidato a atributo deve ser identificado a partir do balaneo de avaliagio do material jurisprudencial.’® Se outra vez mais unimos o que sepa. ramos, a marca de Caim que permite identificar 0 dolo em sua singularidade, 0 candidato a atributo do conhecimento € 0 perigo.” Mas, isso ainda nao é suficien- temente claro para identificar indubitavelmente a fronteira entre as modalidades de imputagdo subjetiva. Seré necessério seguir na argumentagGo, pois ainda nio 759. Isso no é novo no émbito da dogmética, basta considerar o enriquecimento tedrico que # tet u. Contudo, quando recorro a ideia de seecalidade, 8 i . a Oi ae Proposi¢ao € tio singela quanto evidente: ela goede gral : as we ‘ » Porquanto as regras de experiéncia nao indicam Ha cavalos ganham co as apenas porque so bonitos.”* Fago uso, agora, de wart propositos ual oe imaaine;se ae a Pessoa, em um quarto escuro e sticament 2 rovavelmente choveré”. Também aqui, seaeeito de inferencialidade deixa evidente o seu potencial. ae proposigao caeceré de grau de racionalidade porquanto nfo € possfvel derivar daf qualquer gnu de vinculo relacional. Somente seré posstvel falar em inferencialidade da afrmagio culo ea sai aecmpanbl do complexo de dados meteorolé- gicos que dé suporte & proposigao. 0 inferencialismo, portanto, nada mais é que um método utilizado para isolar circunstncias penalmente relevantes as quais, por meio de sua articulacao, pemitam, ou néo, a atribuig&o de responsabilidad penal. Com isso, a determi- io da atribuigao do dolo nao decorreré de dado tinico — seja esse numérico ou tio - sendio da valoragio de um complexo de dados. Creio que ao se fazer uso desse método de determinagio da responsabili- ade seré possfvel alcangar resultados mais convincentes e ganhar em seguranga Juidica.” E a razaio para acreditar nesse melhor rendimento é bastante simples: ‘inferencialidade expressa a determinagdio da qualidade do perigo a partir de barlmettos objetivos que devem ser aplicados ao caso concreto, ao passo que as taticionais teorias da probabilidade pretenderam determinar o nivel de impu- ‘so a partir da valoragzio da crenga (efétiva) de uma pessoa influenciada pelo seu romo prova de indfcios cf. Kuscit, deutschen Strafverfahrensrecht. ind materielles Strafrecht. Bern: 78, ays gat * gusto das regras de experiéncia que se wilizam Harp gee, Der Indicenbeweis des Vorsatz im gemeinen Lagi, pg Pastin (Dissertation); Ves, Hans. Vorsatonachwes P93 e ss, cnet POPosta, Racuts 1 Vattts inelina-se pela naturezaprocessual des eB denuigtodo ge 980. Nesse sentido, ele assinala qu tai regras se assemelbam 8s 78/78 deen ts egg °e8SUalmente para a valoragio da prova. Racuts | VaLLés, Ramon. El dele.’ OMT Bei, ap melo a esse modo de roveder bobjetivaglo do dolo Konan, Michael ‘Anmerkung 2 27/80. In: 32, 1981, p.35 e 88. EDUARDO VIANA 260 15 Mais ainda, em regra, nfo seré possivel falar em ng ' i ren, universo psfquico™” Bem inferencialidade a luz do caso, cig idade imediata, mas sim : oa a ideia de inferencialismo que aqui seré adotads, oy. apontar como essa serd traduzida para 0 direito penal, isto €, qual seré o ele Ponta eoMpimar o vinculo relacional entre a conduta © a consequéng ae eee autorizaré a atrbuigdo de responsabilidades 20 individuo cogyine eente compromissado. Aqui, parece-me necessério adicionar uma exigéng omplexo de dados a ser valorado pelo terceiro sensato deve ser guiado por un, linha diretriz, A esta altura creio no ser mais novidade ~ até porque ié afin; expressamente algumas linhas atrés ~ que essa linha diretriz € a periculosidai, bjetiva do perigo representado. Adequadamente concretizada, a periculosidaie objetiva do comportamento seré o elemento vindicante daquela responsabilidad, ‘Até aqui estabeleci as linhas iniciais da argumentagtio de transigdo para 9 dolo sem vontade, parece-me pertinente, adicionalmente, condensé-las e adianta qual seré o pr6ximo passo, Vejamos: a imputagiio a titulo de dolo requer 0 eco nhecimento da existéncia de perigo doloso (i); 0 perigo doloso ¢ identificado pelo vinculo relacional que hé entre a conduta e a consequéncia (i); a linha diretiz para a identificagao desse vinculo relacional é animada pela periculosidade obj. tiva do perigo representado (iii). Como esse vinculo relacional est4 animado pe periculosidade objetiva do perigo, 0 préximo passo, fatalmente, serd o de concre tizagdo de critérios que permitam identificé-lo. 5 Qual Excurso, A redugio do ambito do dolo a luz da imputagiio objetiva Parece bastante Sbvio que, modernamente, as atividades humanas sio marcadas pelo perigo. O simples fato de dirigir 0 proprio automével ou mest sair 4 rua pode ensejar considerdvel fator de risco na realizagao de um tipo pend. Contudo, essas atividades so cotidianamente desenvolvidas sem maiores preoa Pagdes seja porque inconscientemente calculamos que essas entranham um perig? aceitivel, seja porque a elas nos habituamos. Se isso parece pouco questionsvel um bom candidato a critério para a determinagao da qualidade do perigo dol0s° deve ter uma propriedade que seja capaz de diferencié-lo desses perigos diéios® 0 mesmo tempo, seja capaz de reforgar a premissa da convivéncia social. __ Aprimeira alavanca de identific i igo necesséra PY a imputago dolosa pode ser fitsaeee aa ee Te mptasfo obj” aeneeiae ¢ mais bem expressada recorrendo-se a um exempl0 A lex artis, , inde ogi “Aliza uma operacio perfeita, isto &, de com, homicidio dolores nest MOM @ paciente, em nenhuma hipotese reali eso, ainda que a tenha querido (em sentido psicol6aico) * 785. Cf. acima, Parte III, item 3.1.2, 786, Com argumentagao, 7" mu tensa ef, Fauco Since, Bernardo, El dala OP: i poL0 COMO COMPROMISSO COGNITIVO - PARTE IV e : com essa estivesse de acordo.”®7 © me ioctni: . ado 8 a ac de cursos causais naturais: 0 sobrinho emie, a Byaece # eae de que caia um raio em sua cabeca para odes ae Hse ey 1 eranga, oque efetivamente ocorre; ou do genro que emg a soba pied eg de barco na esperanca de que uma tempestade o afunde e a 80; sn pee ade, 0 que também efetivamente ocorre. A auséncia de relevaneis on yo esté ali onde tradicionalmente se vé, isto é, na ausencia de domiate ago cu causal, mas sim em uma limitagao valorativo-normativa imposta i prio 11P0 rae ae Ai Prévia a teoria da imputagio ee ativa;™ dito de ou abate ana | da conduta, nesses casos, deve-se 10! fato de haver limitagé y putacaio subjetiva. com isso, sem necessidade de me aprofundar nesse ponto, posto que estou indo de uma posicdo A qual a doutrina jé dedicou suficiente ateng&o, ajusto-me J sigo que considera o dolo inicialmente limitado pelo tipo objetivo, razo por seo perigo representado pelo agente deve sobrepassar o perigo permitido pelo ipo penal correspondente.”*? Portanto, a primeira indicagdio da qualidade do risco, 0, est anunciada no préprio Ambito do tipo objetivo a ser imputado, precisa- mente nos limites normativos do perigo representado. O tipo penal, por evidente exgtncia[dgico-semédntica, somente pode ser vinculado ao individuo se esse cria winerementa um perigo que realiza um tipo penal correspondente. Desse modo, dqule que cria um risco que no se encontra desaprovado, ainda que seja de ata intensidade, nao € possfvel imputar, sequer, a tentativa, pois, nesse caso, a conduta move-se fora do Ambito de desaprovagdio da agdo. Se considerarmos os mobleméticos casos de embriaguez ao volante, € possivel afirmar, a principio, eo simples fato de beber e dirigir, mesmo sabendo-se que € possivel provocar um acidente, isso, por si, nao possui qualidade suficiente para a imputagiio da ‘eniativa de homicfdio doloso.”°7"-7% 181. Roxy, Claus. Gedanken... Op. cit, p. 144. 788. Cf. na Alemanha: Frisci, Wolfgang. Vorsatz... Op. cit, p- 141 ¢ ss; Roxtx, Claus. Zur lenati.. Op. cit., p. 137. Na Espanha: Feu6o Sancutz, Bernardo. El dolo... Op. cit. p- 101 € ss: tava Onotio, Enrique, La causalidad... Op. cit, p. 561. 7. No mesmo sentido Fuscu, Wolfgang, Vorsatz... Op. cit, passim; Geresxt, Klaus. Sira/bares wen derch i ; Rolf Dietrich. Die = méglich ~ Aids-Ubertragung? In: Jura, 1987, 670; HEz3=0, : Op. cit, p. 86, Ra. 15; ScHMMDHUSER, rau. Op. cit., p. 260; Kt ristian. Strafrecl Bethad. Strafreche,. Fa cit., p. Sian 31) ate, Horst. Aufbau... Op. cit., p- 239. aioe He 131 pot © sincronismo entre a condugio sob efeito de Aleool e o dole event ye ing 29-RJ, rel. Min. Luiz Fux, relator p/ Acérdio: Min. Edson Fachin, p- (ea aoe Rg SP Yoto vista do Min, Luiz Fux; HC 46.791-RS, rel. Min Aliomar Baleeiro, p. 8% ¢ 20 §'to Agravo em REsp 235,654-RS (2012/0205310-5), rel. Min. Moura Ribeiro, P- & © Oe SSC (20080155660. 5), rel. Min. Paulo Medina, p. 17. AGrmando o dolo de mata sri A eg eMbriaguez pré-ordenada, ef. HC 107.801-SP, voto vista do Min. Lulz up. aoa tip yrltstndo-se 0 doo de matar em razio do excesso de velocidade: Graco, TORE Me Sess; Suacana, Sérgio Salomio, Dolo eventual... Op. cit. P- 149: SHECAIRA. Salon. "rst. Op cit, p. 373. EDUARDO VIANA 262 ao do critério a9 doloso: a corregao idade do perigo 2.3.A qualidade Uma vez ultrapassada . necessi perigee tos (ain, i WAIL Bue dade do perigo, como antecipei, seguirei a ideig Para identifica a quaidade do Poe rr epetigdes desnecessne 8 perigo doloso formulada por PUP acepeio puppeana agasalhadg = conveniente registrar apenhs & (i 0 porqué da necessidade do aprimoramens teria da inferencialidade do eo jada A utilizacio de um método no 0 doloso estar associ y todo que (id a qualidade do Per nal -€ (apto) & realizagao do perigo; a valorag dy = ee fo pene deve ser orientada pela consideragdo de um complexo ae Pas eel dizer que apenas mencionar a utilizagaio de um métody eee ‘ara a realizagdo do tipo é insuficiente para determinar com segurana a fronteira entre 0 dolo e a culpa (ii). Racionalizando-se 0 passo dado por PupPEe, é possivel chegar a primeira formula para a concretizagao da imputagao subjetiva dolosa, qual seja: a utili- zagdio de um método apto d realizagéo do tipo é 0 indicativo de um perigo com qualidade dolosa, O dolo, portanto, e em esséncia, é constitufdo pelo conheci- mento do perigo e da realizagdo de um método apto para realizar o tipo penal. Donde é possfvel chegar as seguintes exigéncias gerais: o perigo doloso somente pode ser imputado aquele individuo que cria um perigo adequado a realizacio de tum tipo penal correspondente (i); entre a consequéncia e a conduta deve haver um vineulo relacional (fi); a relacdo vinculacional é animada pela periculosidade objetiva perigo (iii). E esse item iii é exatamente o tiltimo ponto a ser abordado: 0 catilogo de concretiza¢ao do perigo doloso ou para o jufzo inferencial. taco Iégico-semntica de realizagg oe Finda que brevemente, alguns Pus parte III, item 3.2.3). 791. Na legislacao brasileira, inclusive, ha o ti i 9 ; » hé 0 tipo penal espectfico para o homicidio provocado n0 test, Confrme © art. 302, do CTB, “Art. 302. Praticar homicfdio culposo na dirego de velculo tor: Penas — detengao, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensiio ou proibigio de se obter ® et a habilitagdo para. dirigir vefculo automotor”. 2 eee — 2 condusio sob efeito de élcool constitui auténomo crime de perig0 “Kerk Ken, te: Der Tatbestand der Gefahrdung des Strapenverkehrs. In: JA, 2071 P. 168; Lacentn, Kat Kone. ney Beck, 2014, Rn. 20, Pas Chestt § 315. In: Strafgeserebuch Kommentar, 28. Auf Mint Christian. § 315¢, In: ® ‘Ziescuanc, Fr ¢. In: MiKo, 2 ‘Aufl. Mtin 7 2014, B. 5, Ra. 8% cma! 215. Ins Komeausen, Urs; Nauman, Ultrid; rae an-Ulich (58) trafgesetabuch. 4 Aufl, B nal . den-Baden: N 6, Sobre © Zarb jaden-Baden: Nomos, 2013, Ra. Ges sine Gefahr im Verkehrssiafrec, In: NZV, 1989, 409 firs (§ 315 © StGB) und Trunkenheit im Verkehr (316 1. Das konkrete Gefttirdungsdelikt im Verkehrsiefec cme ae lhrlichkeit und Gefakr bei den StraBenverkehrstelt oe Horst. Strafgeser . Detley, tA 460 ss; Ranrr, Otftied. Delikte im StraBen al Sree Kommentar 29. ben Muncnents Berd § 315, In: Scuones, Adal soa 783 Para concn aoe" CB). 48, 201 oes Rn. 1 ess; ZisntsRMans ™ conferiracima, parte UI item, 3. COMPROMISSO COGNITIVO - PARTE poLo COMO oa 263 soeatlogo pats © juizo inferencial e Como ponto de partida, de a cones sve a literatura cientifica e a _adéncia, em maior ou menor medida, reconhecem que a intensidade dq som ‘ado para o bem juridico € indicador fundamental da dolosidade do 9 famento. Por exemplo, ninguém negaré que se uma pessoa utilizar an conta ou efetuar 0 disparo de arma de fogo em diregio a uma regio vital do mo porque estabeleceu um compromisso cognitivo com a realizagao do tipo o rudo, o que permanece em aberto éa questo sobre como concretizar essa corisa em casos de ataques a0 bem jurfdico que niio slo tio evidentes, E. por jsgo mesmo, uma boa teoria do dolo niio pode ser apenas teoricamente coerente, seaio também, © principalmente, deve ser capaz de apresentar parametros que tam a sua aplicagao segura. Em outros termos: 0 perigo doloso aquele sobre 0 qual, fOssemos indagados, serfamos capazes de responder com naturali- dade que nfo haveria razio alguma para duvidar da realizac&o do tipo penal, 0s critérios que conduzem a esse grau de inferencialidade, por exigéncia légica, no esto relacionados com comportamentos posteriores realizagao ‘pica ou com a atitude psfquica volitiva do individuo. Tais circunstancias, pelas mies indicadas no decorrer da exposico, nfo podem desempenhar papel algum nadeterminagao do nfvel de imputaco subjetiva; isso nao significa, contudo, que tssas nfo possam ser levadas em consideragao para fins de calibragdo da pena.” Fortanto, por um lado, uma lamentagfo, uma tentativa de suicfdio ou mesmo uma ‘enlativa de resgate apds a concretizagao do perigo, por exemplo, nao permitem, Porsi, que a imputagaio dolosa: seja colocada em xeque, mas podem permitir menor dosagem da pena.” De outra banda, um desumano comportamento posterior & Conduta como, por exemplo, nao prestar socorro A(s) vitima(s) do atropelamento teahum papel pode desempenhar para fins de imputagdo subjetiva; eventual- ant Pode ser considerados para fins de reproche, mas nunca para determinar ny. agente agiu dolosa ou culposamente: no é dogmaticamente correto concluir tn dolosidade, ou no, de um comportamento “apenas” porque o agente fugiu local.” pitt eteontrar o vinculo relacional entre a conduta € @ consequnci, 0 He devers ser valorado a partir de trés perspectivas, quais sejam: a qu catélogo de critérios uilizados 4, Suseri 204 cectindo que esas (e outras) citcunsténcias sejam inclufdas no thee cen. OP ; aed Sragg™inapH0 da propria imputagio subjetiva, Hassemer, Winfrie a imagao” por exemplo, itepag oRPOFAMENLOs como “chamar por socorro" ou “tenatvas de reainac e Boa) Sete de circunsténcias que o BGH leva em consideragio para il uN 4S 191709, Nz 2008, 628; BGH ~ 4 SiR 16314, NSIZ 2015, 26. cane pa 6 of. Roxas, Claus; Greco, Luls. Strafrecht.. Op. city § 12. Ra. a Je 1-1), rel. a ' Thomas, § 212... Op. cit., Rn. i Mn a ie tipo de considera i ialboo ad jurisprudéncia, cf. RHC 56627/SP (2015/00 “li Fischer, p.7 cae EDUARDO VIANA 264 e aque se refere a0 complero i). Para operacionaling critérios sejam assim compreendidos: no ue da a intensidade do perigo representagg ea 7 valora eer are dla no que diz respeito a vitima, deverd ser vValorady ima (ii); refere ao autor (i); a que Se rete ia eet tireunstincias que envolvem & TeX" fessas perspectivas, proponho qu diz respeito ao autor, marca dominant da sje concreto; Finalmente, no que diz respeito a0 or o seu grau de vulnerabi aquelas circunsténcias relacionadas com o context, deverdo ser avalint tp. Todas esses esto conexos, apenas, com a linha dirty de realizagio da Cot ide objetiva do perigo. Ademais, vale ressaltar que a iden. elegida: a Leavin ‘em determinada perspectiva nao impede que esse também ee ahiito no contexto de outro critério. Passo, entio, & concretizacig desses critérios do perigo doloso. 2.3.1.1 Periculosidade objetiva da conduta O primeiro critério para a determinacao da qualidade dolosa é a pericu- losidade objetiva da conduta do agente. Mesmo a jurisprudéncia alemé, a qual ainda permanece essencialmente vinculada 4 doutrina voluntarista, reconhece que a gravidade objetiva do perigo é um indicador fundamental para a imputacdo dolosa.” A avaliac&o sobre a periculosidade objetiva do perigo criado, aliado a0 grau de vulnerabilidade concreto da vitima, é o indicador fundamental da dolosi- dade. E por qué? Porque a representagao do perigo deve ser suficiente para que 0 individuo detenha a conduta que est prestes a realizar. Considerando-se haver diversos niveis de perigo, sugito que a imputagio subjetiva leve em consideragao os seguintes nfveis: perigo sui generis,™ perigo de alta, média ¢ baixa intensidade. Creio que essa racionalizagao, além de impactar de modo distinto a determinagao do nivel de responsabilidade penal, permitiré maior controle das decisGes. Pergunta-se: como esses niveis devem operar dentro a ‘eoria da inferencialidade? Para responder a essa pergunta hé que se fazet F teingio-sane © perigo sui generis, por um lado, e as demais classes de perigo, __E verdade que o perigo, sozinho, a imputagio dolosa. Deixei registrado, falar em inferencialidade ix . © em regra, nao € suficiente para justificar istrado, inclusive que, em regra, nao serd posstvel imediata (acima, item 2.2). Contudo, também é igual a Tazo da sua extraordindria intensidade, ‘© sem maiores consideragées. Imagine DrGximo a vitima efetue dog a8 2° Peito da vitima: ou ‘aguele que estan Auer razio, destere um polpoade nS 7OSt0; ou aquele individuo que, por qu! Belpe de machado no térax da vitima, Quem age servil © individuo que desfe; ~2SIR 484/14, NStZ 2 NSIZ 20 de rodapé n, 886, 17.22 23), Com mais detathes, abaixo, parte V. (0 COMPROMISSO COGNITIVO - 010 COM /O-PARTE IV 265 10s nfo cria outro perigo, seniio o de morte. A intensidade desses ase Jenomino de perigos sui generis, indica, com um grau de credibi- tif oo | proximo a0 incontestével, o dolo de matar. Desse modo, estando o | jase el de DEE é posstvel sugerir a seguinte racionalizagio: nos casos (goes generis 0 sinal exterior de extrema violéncia possui inequivoca & PO nculacional com @ tealizagao do perigo de matar; desse modo, como si es para afastar 0 compromisso cognitivo do agente com a realizagio gon tg qe se imptaro dol, Sem mores considerages, também hd perigos cujo compromisso cognitive do agente com a izagio dO perigo niio é tio eee E, nesse caso, a valoragio da pericu- ssidade objetive do comportamento dependerd da consideragio pericial sobre a veiatidade Iesiva no caso concreto. Assim, por exemplo, a prépria potencia- jade lesiva do instrumento, local, duragao e intensidade da agressio podem ser wilizadas como critérios de valoragao (exemplos: 0 calibre da arma, o tamanho vy fc, o local da lesdo, a quantidade de lesGes, o peso do bastdo ou a duragdo do sfocamento). Todos esses elementos, por via pericial, so imprescindiveis para Shere o perigo criado era de alta, de média ou de baixa intensidade. Diante de um perigo ajustavel a qualquer desses trés nfveis, serd necessdrio senir coneretizando 0 critério perigo doloso. E, nesse caso, a proxima perspec- ivaase considerar € a perspectiva da vitima. 23.1.2 A gravidade do perigo determinado pela vulnerabilidade concreta da vitima Quando da andlise da concep¢iio normativa-volitiva de Roxin (acima, parte ILitem 2.2.2) registrei que a vitima poderia desempenhar o promissor papel no ocesso de atribuigdo de responsabilidade. Aquela altura ainda nao haviam argu- aos suficientes para fundamentar a incorporagao da vitima & imputagio da ubjeiva, Mas, agora, ereio que esta lacuna pode ser preenchida e ser4 possivel i na argumentagdo para verificar se a suspeita de ganho cientffico é verda- in, ima no processo 1 da viti asain como Salvo algumas consideragies timidas sob attibuigéio de ee parece-me nfo somente ser possivel, « tan mnecesséro,retirr consequéncias da perspectiva da vitima para a iP: . Te betiva. Como antecipei, essas consequéncias ndo podem estar veel Fo st Possivel dever de autossalvagdo da vitima como fato de rebaixamento d8 Ponebildade penal, Essa impossiilidade decorre do compromisso SU dajgt fundamentos que empreguei para justificar 8 ratio de pene oO aae hinge’ Chave para a impossibilidade de a vitima participe® oe esa iio da imputaggo subjetiva A luz de um suposto dever de aulonn Tr (2 da auséncia de dominabilidade sobre aquilo que esté prestes 8 aie ‘feito, como anteriormente argumentei (acima, parte IIL, item 2.3), Ie EDUARDO VIANA 266 sta punitiva para © crime doloso esté a dominait severidade da resp onto, convém rememorar 0 CAS 2 bareita poli comportamento. a. em diante de si uma barreira policial. Para Continuar a fyg, a canes bare, na qual se encontra ea policial Sai trei deverd passar PY To essa. A segue com o automével, passa pela barreira ¢ ai para situagdes © re dias depois em consequencia dos ferimentos, Ne i. ss pela opaliial, o dual dominabilidade do comportamento esté nas mos 65 cas fod oer conigesindcadas, 2 whim flece qualquer possi autor e, , i Je dominio. E se é assim, 0 nivel de responsabjy, de alterar @ ere pode ser rebaixado. Parcela da doutrina cons den ae oct peda ter imaginado que o policial altamente treinado pularig oP Gita instante e, nesse caso, nao teria assumido 0 oe de Matar Eyse tipo de argumento € equivocado, e hd ao menos duas razdes: a primeira dela conhecida, nao existe um dever da vitima de autossalvacao; a segunda esti na incorregio de substincia do argumento. Essa incorrego pode ser expressada por meio da seguinte racionalizagao e indagagao: se 0 fundamento ara exclusto do dolo é de que o terrorista poderia ter confiado que o policial pularia, também ¢ possfvel argumentar que 0 policial poderia confiar que o fugitivo dominaria 9 seu comportamento e, no iiltimo momento, desviaria da barreira. Entfo, surge a incorregdo levantada: quem tem o direito de confiar em quem? O autor no policial ou o policial no autor? Por diversas vezes registrei que a possibilidade de autossalvagio da vitima no poderia ser levada em considerago para fins de imputago subjetiva, razio pela qual a indicagao desse critério poderia causar alguma estranheza. Contudo, no causaré, De fato, a possibilidade de autoprotego da vitima néo serve como parimetro de determinagio da imputago subjetiva, nao interessa a contribuigio da propria vitima para a redugo do perigo criado pelo autor. O que deve set evado em consideragio, isso sim, 6 a intensidade mesma do perigo em relagio & condigdo de vulnerabilidade da vitima, Dito de modo mais claro: o critério mio deve ser valorado a partir da perspectiva de que a vitima tinha ou no um direito ou um dever de fazer, mas sim se ela tinha condigées, ou nao, de fazé-lo, isto de ativar algum sentido de autossalvagio. Somente a partir da valoragiio do peris® Aes das consideragdes sobre a vulnerabilidade concreta da vitima seré poss! lcangar um promissor ganho de preciso dentro da imputagio subjetiva. we ieee eae clareza, 6 possfvel considerar, por exempl ey vulnerabilidade idosos, vitimas que naturalmente tém no seu £7 ‘| um elemento potencializador do perigo de realizagdo do tp®.” considerarmos, por exemple, itlzndor do perigo de reatizaglo 0B Tididieiion ence lo individuo experiente em arte c ‘ casos: fécil perceber como o eritério deve operat me 800, Chr: Rox Claus. Ober. Op. cit, P. 1210, pOLO COMO COMPROMISSO COGNITIVO - PARTE IV 267 variante 1. C, cxperiente em artes marciais, uma crianga com 6 (seis) meses de idade, de quem sempre cuidon con os eres que se espera de um bom pai de familia, esté sozinho com o fhe em,

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