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Questão:

Lula, no discurso de sua diplomação como presidente eleito, fala várias vezes sobre a
“democracia”, “estado democrático” e sobre os “inimigos da democracia no Brasil”. Explique
o discurso de Lula dentro do atual contexto histórico brasileiro e de acordo com os estudos
realizados até o momento na disciplina de Políticas Educacionais.

Resposta:

“A descrição da posição do indivíduo em sua comunidade apresenta aspectos tipicamente


complementares, relacionados com a fronteira cambiante entre a apreciação dos valores e o
contexto em que eles são julgados. Sem dúvida, toda sociedade humana estável requer a
imparcialidade, especificada nas normas judiciais, mas, ao mesmo tempo, privada de alguns
de seus valores mais preciosos. Todavia, embora a combinação mais íntima possível de
justiça e caridade represente uma meta comum de todas as culturas, convém reconhecer que
qualquer ocasião que requeira a aplicação rigorosa da lei não deixa espaço para a
manifestação de caridade, e que, inversamente, a benevolência e a compaixão podem entrar
em conflito com as ideias de justiça.”

Niels Bohr, Física Atômica e Conhecimento Humano, p. 103

“Errar é humano” diz o ditado. O ser humano, entretanto, não é apenas errante - ele é
lento, inconfiável até mesmo quando é honesto, pois é possível a ele que acredite em algo que
não seja verdadeiro mas o transmita como se fosse, inconsciente ou consciente disso. Por
isso, em 1995, houve uma iniciativa do ministro Carlos Mario Velloso e do ex-secretário da
Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, de desenvolverem uma série de
autômatas confiáveis com matemática impecável por trás de seus designs e livres de hacking
e fraudes para a coleta dos votos da população brasileira. Suas invenções ficaram conhecidas
como as urnas eletrônicas.
Qual é a natureza por trás delas?
Todos os votos dos eleitores são gerados como informações que ficam estocadas em uma
espécie de planilha que o sistema da urna grava para si. Previamente, seu software os
organiza de maneira aleatória, até que o momento de uma eleição seja efetivo. Em seguida, o
autômata computadorizado tem inserido nele os dados de todos os candidatos, com seus
respectivos números. Formalmente, ele não aceita nenhum dado incompleto, não efetiva
nenhuma decisão que não envolva a realização de todas as etapas, e contempla toda sorte de
eleitores, a saber: I) indígenas e analfabetos que não sejam letrados no idioma brasileiro; II)
cegos. O fato das teclas terem a possibilidade de serem em braile, e de que a decisão ultimal e
fatal seja através da exibição da imagem do candidato, quebra por fim qualquer dúvida de que
o sufrágio universal se restrinja ao direito de voto à todos, mas não ao direito do poder efetivo
de votar com razão e consciência, equivalente ao ato de conceder o direito de voto à um
cotoco sem dar a ele próteses para efetivar seu voto no poder-votar. A invenção das urnas
eletrônicas é, a usar a expressão cibernética, uma verdadeira “caixa preta” digna do projeto
nacional do filósofo e tecnólogo Álvaro Vieira Pinto.
Foi graças às urnas eletrônicas que não mais houveram fraudes durante as eleições, algo
essencial à democracia. Algo que, graças à confiança que houve no governo Lula à
confiabilidade e irrefutabilidade da tecnologia, se efetivou e se consolidou.
Sabemos que Lula é uma figura política de destaque não apenas nacionalmente, como
globalmente. Grande parte disso se deve a uma de suas máximas, de que “não é gasto quando
o assunto é o povo. É investimento”. De fato, mesmo se os economistas, os empreendedores
tivessem razão sobre a recuperação do déficit, das partes perdidas, do endividamento da
nação, o fato é que nenhum país, até hoje, chegou a pagar sua dívida para o mercado
internacional. Não se trata, de fato, de pagar dívidas, e sim de investimentos compensatórios.
No seu discurso de diplomação, fica evidentíssimo sua posição popular quanto a
coexistência e compossibilidade de um país governado pelo governante e pelo povo
simultaneamente. Lula, que jamais foi um universitário, jamais foi agraciado com um
diploma acadêmico, jamais teve uma formação técnica ou superior, foi, apesar disso, o
presidente que mais dedicou esforços ao aprimoramento e construção escolar nacionalmente.
Assim como ele destaca como um dos inimigos da democracia no Brasil a compra ilegal
de votos, é igualmente uma ameaça a capitalização e financiamento da democracia, que é
justamente como as democracias morrem, quando são alvos de empresas e empreendedores.
As mentiras no submundo internáutico, descobertas pelas netnografias, os bloqueios às
estradas como impedimentos das vias de acesso dos eleitores nas regiões onde
estatisticamente são maiores as taxas de voto ao, na época, candidato rival do presidente em
vigor até então, Bolsonaro, dentre outras afrontas à lei.
Vemos que esse discurso de diplomação dele representa um dos maiores preceitos da
carta magna: a soberania do voto popular.
Objetivamente, também podemos constatar que, se interpretarmos a presidência como
um patrimônio nacional, ela também é vulnerável à vandalismos, à agressões. E quando, no
caso o presidente prévio age infringindo legalmente essa posição, tomando atitudes como a
de “legalizar” a exploração da Amazônia, a do corte dos investimentos na educação,
desviando o capital para um “orçamento secreto”, podemos afirmar que isso é
inconstitucional.
O lema de que “a justiça é para todos”, entretanto, não têm correspondentes materiais.
Diante de políticos com foros privilegiados, as posições políticas tendem a ser tentadoras,
sedutoras justamente para se ter a imunidade à punição nesse cenário. É o caso do presidente
prévio e de sua família, assim como seus defensores, que abertamente defenderam e
incentivaram, como disse sagazmente Lula, ameaças à nossa democracia.

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