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1 BIOENERGÉTICA
Repare que, de acordo com a primeira lei, a energia presente nas reações metabólicas
poderá sempre ser transportada de uma molécula a outra, ou poderá ser convertida em outra
forma de energia, como por exemplo, o calor.
G = H -TS
Como descrito por Nelson e Cox, 2014:
“Energia livre de Gibbs (G) expressa a quantidade de energia capaz de realizar trabalho
durante uma reação à temperatura e pressão constantes. Quando uma reação ocorre com a
liberação de energia livre, isto é, quando o sistema libera energia, a variação de energia livre
(∆G) possui um valor negativo e a reação é chamada de exergônica. Nas reações endergônicas,
o sistema adquire energia livre, e o ∆G é positivo.”
“Entalpia (H) é o conteúdo de calor do sistema reagente. Ela reflete o número e o tipo
de ligações químicas nos reagentes e produtos. Quando uma reação química libera calor, ela é
denominada exotérmica; o conteúdo de calor dos produtos é menor do que o dos reagentes e,
∆H possui, por convenção, um valor negativo. Os sistemas reagentes que captam calor do
meio são endotérmicos e possuem valores positivos de ∆H.”
G = Gp - Gr
H = Hp – Hr
S = Sp –Sr
Onde p quer dizer produtos e r quer dizer reagentes. Repare que quando a energia
presente nos produtos é maior do que a dos reagentes, o valor de ∆G é positivo, e a reação é
endergônica, ou seja, os reagentes adquirem energia para formar os produtos. Quando a
energia presente dos reagentes for maior do que a dos produtos, o valor de ∆G é negativo, e a
reação é exergônica, ou seja, os reagentes perderam energia para formar os produtos. O
mesmo raciocínio poderá ser feito no que diz respeito ao ganho ou perda de calor (∆H) e
entropia (∆S):
As reações exergônicas tendem a ser espontâneas, pois é mais fácil para o sistema
perder do que ganhar energia. Já nas reações endergônicas, os reagentes necessitam adquirir
energia de alguma fonte para que possam ser sintetizados os produtos e, portanto, essas
reações tendem a não ser espontâneas.
Nesta reação, na realidade, temos duas reações acopladas: (1) a reação em que o ATP
é quebrado em ADP + Pi. (2) a reação em que o Pi é incorporado na glicose, no lugar da OH
ressaltada, formando a glicose-6-fosfato.
Para compreender essas reações acopladas, precisamos entender o que é o ATP. A
figura abaixo mostra que a adenosina trifosfato (ATP) é formada por uma base nitrogenada
(adenina), um açúcar (ribose) e três grupos fosfato ligados um a outro. As ligações que
ocorrem entre os grupamentos fosfatos são dotadas de grande quantidade de energia.
Quando um grupo fosfato (Pi = fosfato inorgânico) é retirado da molécula de ATP, essa energia
é liberada e poderá ser aproveitada em uma reação endergônica. A energia utilizada para a
formação dessas ligações fosfato do ATP é obtida conforme explicado no tópico “fosforilação
oxidativa”, mais adiante, porém, podemos assumir que essa energia, em nosso caso, surge a
partir das macromoléculas degradas no catabolismo.
2.1 INTRODUÇÃO
Mas, há aproximadamente 4 bilhões de anos atrás, não havia plantas e nem animais,
mas sim os primeiros organismos procariontes, bactérias muito simples, mas que, como
qualquer ser vivo, necessitava extrair energia de alguma fonte para sobreviver. Esses micro-
organismos retiravam a energia presente nas ligações químicas entre os átomos que
constituíam os minerais disponíveis à época. Ao longo do tempo, essas bactérias aprenderam
que poderiam predar umas às outras e digerir a sua presa por meio de enzimas, obtendo,
assim, uma nova fonte de energia.
Cerca de 2 bilhões de anos depois, ocorreu um evento que mudou o curso da evolução
da vida na Terra. Por algum motivo, uma bactéria se alimentou de outra e não conseguiu
digerí-la. A presa permaneceu ali, no citoplasma de seu predador. Essa presa era uma bactéria
que utilizava o oxigênio para realizar as reações químicas necessárias para a obtenção de
energia. O predador passou a utilizar parte dessa energia, enquanto a presa encontrou ali uma
proteção diante de agressões externas. Essa primeira célula formada pela união de duas
bactérias daria origem às células eucariontes. A bactéria predada, ao longo da evolução
transformou-se em uma organela responsável pela obtenção de energia: a mitocôndria.
A CTE é composta por cinco diferentes complexos enzimáticos. Todo o processo está
representado na figura abaixo. Os elétrons carregados pelo NADH + H+ e FADH2 (succinato→
fumarato) serão transportados para o complexo I ou complexo II, conforme detalhado a seguir.
Após, esses elétrons são transferidos de um complexo enzimático para o outro, sofrendo a
atração do oxigênio, o aceptor de elétrons que está presente no final da CTE.
Complexo I: NADH-desidrogenase
Podemos representar a reação total que ocorre por meio do complexo I da seguinte
forma:
Os elétrons recebidos por QH2 serão doados agora para o um complexo proteico
chamado citocromo c. Essa transferência de elétrons está acoplada ao complexo III.
Oportunadamente, nos referiremos ao complexo II. Dois elétrons são transferidos, mas o
citocromo c recebe apenas um elétron por vez, de forma que a equação da reação poderia ser
simplificada da seguinte forma:
Essa transferência de elétrons gera energia, que é aproveitada pelo complexo III para
bombear mais 4H+ da matriz para o espaço intermembrana.
Esse oxigênio que recebe esses elétrons é o mesmo oxigênio que utilizamos em nossa
respiração. Sem a presença desse gás solubilizado na matriz mitocondrial, impossível seria a
realização da CTE, e, portanto, impossível seria a fosforilação oxidativa, o principal meio do
qual dispomos para obtenção de ATP. A reação total poderia ser simplificada da seguinte
forma:
(HARPER)
O íon superóxido pode ser formado na passagem de elétrons de QH2 ao complexo III e
a passagem de elétrons dos complexos I e II ao QH2 envolvem a formação do radical •Q- como
intermediário. O radical • Q- pode, embora com baixa probabilidade, passar um elétron para o
O2 na reação:
O2 + e- → •O2-
Quando há maior demanda de elétrons para entrar na CTE do que oxigênio para
captura-los, dizemos que a mitocôndria está sob estresse oxidativo. A formação de EROs é
favorecida quando duas condições são satisfeitas: (1) as mitocôndrias não estão produzindo
ATP (por falta de ADP ou de O2), e, portanto, têm grande força próton-motriz e elevada razão
QH2/Q; e (2) há uma alta razão NADH + H+/NAD+ na matriz.
O peróxido de hidrogênio, por sua vez, é convertido na inofensiva água (H2O) pela
glutationa peroxidase ou catalase. A glutationa peroxidase torna-se oxidada e é novamente
reduzida para sua função ser reestabelecida e, para isso, outra enzima entra em cena,
denominada glutationa redutase.
No complexo II, elétrons do succinato são doados para o FAD, formando fumarato e
FADH2. Esses elétrons são doados para centros Fe-S, e deles para Q, formando QH2,e todo o
processo continua a partir daí, do complexo III ao complexo V. O FADH2, produzido a partir de
outras reações metabólicas pode adentrar ao complexo II diretamente. Repare que o
complexo II não bombeia nenhum hidrogênio para fora da matriz.
Saldo de ATPs
Repare que cada molécula de NADH + H+ que chega ao complexo I é capaz de induzir
ao bombeamento de 10 prótons, enquanto cada molécula de FADH2 ou succinato que chega
ao complexo II é capaz de induzir ao bombeamento de 6 prótons. 4 prótons são necessários
para produzir 1 ATP. Ora, lançando mão de uma matemática simples, é fácil verificar o
bombeamento de 10 prótons gera energia suficiente para produção de 2,5 ATPs, enquanto o
bombeamento de 6 prótons gera energia suficiente para produção de 1,5 ATP. Assim, cada
molécula de NADH + H+ que participa da CTE é capaz de produzir 2,5 ATPs, e cada molécula
de FADH2 ou succinato que participa da CTE é capaz de produzir 1,5 ATP.