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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – DOM ALBERTO

PROGRAMA DE COMPLIANCE

SANTA CRUZ DO SUL - RS


Sumário
1. DEFINIÇÃO DE COMPLIANCE............................................................... 2

2. PROGRAMA DE COMPLIANCE ............................................................. 9

2.1- Compliance na esfera empresarial .................................................. 10

2.2- Importância do Compliance............................................................. 11

2.3- Elementos de um programa de Compliance eficaz ......................... 14

2.4- Multiplicidade das áreas de Compliance ......................................... 15

2.5- Benefícios da Compliance para as empresas ................................. 18

3. LEGAL COMPLIANCE: AMBIENTAL .................................................... 21

4. LEGAL COMPLIANCE: DESPORTIVO ................................................. 27

5. LEGAL COMPLIANCE: FISCAL E TRIBUTÁRIO .................................. 35

6. LEGAL COMPLIANCE: TRABALHISTA ................................................ 40

7. LEGAL COMPLIANCE: DIGITAL........................................................... 51

8. LEGAL COMPLIANCE: SAÚDE ............................................................ 55

9. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 58

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1. DEFINIÇÃO DE COMPLIANCE1

Fonte: portaldeauditoria.com.br

O termo “Compliance” tem origem no verbo em inglês “to comply”, que significa
“cumprir”, “satisfazer”, “executar”, “realizar o que lhe foi imposto” com integridade, não
obstante, compreende o dever de respeitar, de estar em “conformidade” e fazer
cumprir regulamentos internos, externos, leis e diretrizes de mercado (regulação –
fiscal-financeiro-contábil), com transparência e elevado valor ético, determinantes às
atividades da organização empresarial.
Na prática, o termo “Compliance” especifica a execução de um grande conjunto
de processos e atividades de controle, fundamentados em diretrizes (guidelines), que
ao longo do tempo (mais de 20 anos) tem evoluído, para atender as necessidades da
“Governança Corporativa” no cumprimento de suas missões, bem como, no
atendimento as melhores práticas de mercado, as determinações de regulação e
principalmente dos requerimentos legais, no cumprimento das Leis e Regulamentos
nacionais e internacionais.

1 Texto adaptado de: UPDATE – Guia COMPLIANCE – Fundamentos - Prof. João Roberto

Peres / Prof. Nilson Brizoti

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Compliance é um dos elementos intrínsecos dos modernos processos de GRC
(Governança /Risco /Compliance), compreendendo uma estrutura essencial no
ambiente empresarial e ou corporativo.
GRC é a integração das atividades de Governança, avaliação e gestão de
Risco e a busca de validação da Compliance (Conformidade) regulatória no
cumprimento de leis, regulamentos de mercado e normas internas.
A integração dessas três atividades se fez necessária para garantir o perfeito
funcionamento das instituições e das empresas aderentes a essa forma democrática
de gestão.
As atividades direcionadas para a execução dos processos do domínio de
Compliance, na visão GRC 360° mostra que se deve atender com “controles” diversas
áreas que se inter-relacionam, que podem tipicamente serem divididas em duas
categorias:
 Compliance de influência Interna
 Compliance de influência Externa
Observa-se que para se atender as necessidades de conformidade, ou seja, de
Compliance em geral, se faz necessário ter como alicerce a “Análise e Avaliação
Jurídica”, que é fundamental para balizar todos os requerimentos, inclusive os
técnicos e regulatórios. No contexto de validação da Compliance encontramos:
Políticas e Normas internas – produzidas pela organização, como por exemplo:
 Códigos de Conduta;
 Política de Segurança Corporativa;
 Normas Internas; o Termos de Responsabilidade; o Termos de
Confidencialidade; o Termos de Aceitação e Uso;
 Políticas de Responsabilidade Social e Ambiental; outros instrumentos.
Legislação Nacional e Regulamentar – Leis, Decretos, Portarias, Resoluções,
Instruções Normativas, Pareceres, como exemplo:
 Lei Anticorrupção Brasileira (12.846/2013); o Lei das S.A. (6.404/1976);
 Código de Processo Civil (13.105/2015); o Código Civil (10.406/2002);
 Lei de Informática e Automação (8.248/1991);
 Lei do Desenvolvimento e Inclusão Social (13.146/2015);
 Leis e normas que regulamentam Condomínios residenciais e
comerciais; diversas outras.

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Regulação de Mercado Nacional e Internacional – como exemplo:
 Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC; o
Instruções Normativas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários); o
Instruções Normativas da RFB (Receita Federal Brasileira); o Instruções
Normativas Setoriais (ANS, ANSINE, IBAMA, INSS, etc....); o Código
Brasileiro de Auto-regulamentação Publicitária CONAR;
 Práticas exigidas, baseadas na Lei Norte Americana FCPA (Foreign
Corrupt
 Practices Act) anticorrupção; o Diretrizes da OCDE sobre governança
corporativa para empresas de controle estatal; diversas outras.
 Normativas Técnicas Nacionais e Internacionais – produzidas por
Entidades e Institutos, como exemplo:
 Normas Técnicas ABNT NBR – ISO/IEC e as internacionais; o Norma
IFRS (International Financial Reporting Standards) para práticas de
contabilidade em padrão internacional;
 Norma COPC® (Metodologia para gestão de Call Center);
 Padrão Normativo MPS-br (Modelo para qualidade definido como
“Melhoria de Processos do Software Brasileiro” - baseado nas normas
ISO/IEC 12207 e ISO/IEC 15504 e compatível com o CMMI); o Padrão
PMBOOK (Project Management Body of Knowledge): guia baseado em um
conjunto de práticas para a gestão de projetos, organizado pelo instituto
PMI;
 Padrão PCI DSS (Payment Card Industry Data Secutity Standart) é um
amplo requerimento para quem opera cartões de credito;
 Requisitos Normativos BM&FBOVESPA Supervisão de Mercados
(BSM); o Padrão Normativo CERFLOR para manejo florestal (CERFLOR
conta com acervo normativo, e utiliza normas internacionalmente aceitas
como as Diretrizes para auditorias de sistema de gestão (ABNT NBR ISO
19011):
 NBR 14789:2012 - Manejo Florestal - Princípios, Critérios
e Indicadores para Plantações Florestais
 NBR 14790:2014 - Manejo Florestal - Cadeia de Custódia
(baseada na PEFC ST 2002:2013)

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 NBR 14792 - NBR 14793:2008 - NBR 15789:2013 - NBR
16789:2014 -NBR 15753:2009 - NBR 17790:2014 – entre outras;
Para atender as Normativas Técnicas Nacionais e Internacionais, encontra-se
um número muito grande de referências, que são demandas como requerimento de
acordo com o tipo e área de atuação das empresas. Esses requerimentos normativos
técnicos podem ocorrer por necessidade da empresa se tornar aderente as melhores
práticas alinhadas a concorrência, por requerimento dos parceiros de negócio, de
financiadores e até por própria iniciativa interna da organização. O importante para o
Compliance é que se for adotado um padrão ou norma, que ela seja cumprida,
portanto, elas devem fazer parte do processo de análise da conformidade, inclusive
jurídica.
A área Jurídica abrange praticamente quase todo o conjunto de influências
internas e externas, atuando de forma indissociável inclusive sobre os requerimentos
normativos técnicos. É bom observar que se uma organização, por qualquer razão,
adote ou tenha de adotar um padrão normativo ou regulatório, a área jurídica deve
observar o cumprimento desse padrão na inter-relação com contratos, compromissos
estatuários, setoriais, de mercado, trabalhistas, entre outros, identificando as
responsabilidades e consequências positivas da adoção e negativas do
descumprimento.
A demanda pela aplicação de processos estruturados de “Compliance” nas
organizações está crescendo no mundo todo. Já se percebe a elevação do nível de
consciência dos executivos, de que “Compliance” é fundamental para manter elevada
a imagem e a reputação da organização, bem como, promover a garantia da redução
de perdas invisíveis por desvios operacionais, erros involuntários, corrupção e fraudes
ocupacionais, entre outros fatores que contribuem com a redução do desempenho
dos negócios.
As melhores práticas de Compliance são adotadas porque:
 Se pode afirmar com convicção que Compliance é um grande negócio
para todos, pois é bom para as empresas, para os empregados, para os
mercados em geral, para o pais e para a sociedade mundial.
 As práticas de Compliance devidamente estabelecidas e sistematizadas,
permitem que as organizações identifiquem de forma proativa os desvios
operacionais e de conduta humana, de forma que estes possam ser

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corrigidos, sem que haja grandes impactos, sejam perda de tempo, falhas
em processos, desvios financeiros e de imagem perante os mercados.
 O ganho com os investimentos realizados na implantação dos processos
estratégicos e operacionais das atividades de Compliance é percebido em
curto prazo, pois, os retornos financeiros de redução de custos e perdas
invisíveis nas atividades laborais, aparecem através da identificação e
mitigação ativa, por profissionais de conformidade.
De certa forma, apesar de objetivos distintos, a área de Compliance se interliga
a área de Qualidade, pois, são atividades complementares e imprescindíveis.
Hoje, já existem diversos estudos sobre o retorno de investimentos em
atividades de Compliance, estudos estes produzidos por entidades independentes,
tanto na Europa e Estados Unidos, como a ICA (International Compliance
Association), a ICPA (International Compliance Professionals Association), entre
outras.
Alguns renomados pesquisadores e autores literários, definem o “C” de GRC
como “Controle”, portanto, Compliance também pode ser entendido como Controle,
até porque, as atividades de validação da conformidade estão intimamente baseadas
em controles.
Pode-se dizer que Compliance é fundamentado principalmente em Controles
Internos, portanto, é basilar se adotar para realizar as atividades de Compliance, um
sistema de controle seguro, aceito mundialmente, para se reduzir os riscos e ampliar
a flexibilidade para viabilizar os negócios.
Todo profissional que atua em atividades de “Compliance” deve seguir a
“deontologia” adequada, aderente as melhores práticas de mercado. Deontologia se
refere ao conjunto de princípios e regras de conduta — os deveres e obrigações —
inerentes a uma determinada profissão. Dessa forma, cada profissional estará sujeito
a uma deontologia própria que regula o exercício de sua profissão, conforme o “Código
Profissional de Ética” de sua categoria profissional. O ICPA (International Compliance
Professionals Association), definiu um Código de Ética Profissional para Profissionais
de Compliance.
10 princípios básicos da Compliance para organições:
Princípio 1; O Conselho ou a Alta administração é responsável por
supervisionar a gestão do risco de Compliance da organização. O Conselho ou a Alta

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Administração deve aprovar a política de cumprimento empresarial, incluindo um
documento formal que estabeleça o cumprimento permanente e eficaz da função de
Compliance. Pelo menos uma vez por ano, o Conselho ou a Alta Administração deve
avaliar se a organização está gerindo eficazmente os seus riscos de conformidade.
Princípio 2; A Alta administração da organização é responsável inquestionável
pela gestão eficaz dos riscos de Compliance.
Princípio 3; A Alta administração é responsável por estabelecer e comunicar
uma política de conformidade, para garantir que ela é observada e para relatar ao
Conselho de Administração sobre os resultados da gestão dos riscos de Compliance.
Princípio 4; A Alta administração é responsável por estabelecer uma
permanente função profissional de Compliance eficaz dentro da organização, como
parte da política de conformidade.
Princípio 5; A organização deve garantir a total independência hierárquica da
função de Compliance.
Princípio 6; A função de Compliance da organização deve ter os recursos para
realizar as suas atividades e poder cumprir com as suas responsabilidades de forma
eficaz.
Princípio 7; É responsabilidade da função de Compliance da organização,
apoiar a gestão eficaz dos riscos de conformidade enfrentados pela organização.
Caso algumas dessas responsabilidades sejam atribuídas a pessoas em diferentes
departamentos, as atribuições de competências a cada departamento devem ser
claras.
Compete ao profissional de Compliance:
a. Promover a atualização permanente de regras e recomendações;
b. Produzir manuais de Compliance para determinadas leis e regulamentos
e sua educação e disseminá-los na cultura da organização;
c. Realizar a identificação e a avaliação do risco de Compliance, inclusive
para novos produtos e atividades;
d. Verificar as responsabilidades estatutárias (combate à lavagem de
dinheiro e ao financiamento ao terrorismo);
e. Implementar o programa de Compliance e validá-lo.
Princípio 8; O alcance e a amplitude das atividades da função de conformidade
(Compliance) deverá ser objeto da revisão periódica pela função de Auditoria Interna.

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Princípio 9; As organizações devem cumprir com as leis e regulamentos
aplicáveis em todas as jurisdições em que elas fazem negócios, mantendo a
coordenação e a estrutura da função de Compliance com suas responsabilidades
consistentes com os aspectos legais e regulamentares, conforme o país, estado ou
município onde atuam.
Princípio 10; Compliance deve ser considerada como uma atividade central
para a devida gestão dos riscos da organização. As tarefas específicas da função de
conformidade podem ser terceirizadas, mas elas devem permanecer sujeitas a uma
supervisão adequada por parte do responsável por Compliance, colaborador da
organização.
É importante os colaboradores e principalmente os profissionais de
“Compliance” estarem conscientes da importância de “ser e estar em Compliance”.
Ser Compliance: é conhecer as normas da organização, seguir os
procedimentos recomendados, agir em conformidade e sentir quanto são
fundamentais os aspectos sobre a ética e a idoneidade em todas as atitudes.
Estar em Compliance: é estar intimamente em conformidade com leis e
regulamentos internos e externos que interagem com a organização.
Ser e estar Compliance é, acima de tudo, uma obrigação individual de cada
colaborador dentro da empresa. “É altamente recomendável que a criação do
“Programa de Compliance” seja compatível com a estrutura, tipo de negócio e perfil
de riscos de cada organização.

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2. PROGRAMA DE COMPLIANCE

Fonte: www.dclogisticsbrasil.com

A corrupção é um mal secular, que assombra e compromete todo o sistema


organizacional público ou privado. Seja no Brasil ou em qualquer outro país. Dentre
as ações criadas para combatê-la, aparecem os Programas de Compliance.
No Brasil, a corrupção vem se alastrando há séculos. Em todas as fases
históricas ela nunca deixou de existir e sempre foi uma particularidade característica
de formação do nosso país.
Atualmente, em proporção maior do que em outros tempos, o Brasil vem se
destacando nos noticiários pelos inúmeros casos de corrupção, instalados em quase
todos os setores públicos que possuem contratos com organizações privadas.
Várias são as ações tomadas para fins de combate aos atos de corrupção,
sendo a medida mais atual a criação da nova Lei Anticorrupção. A Lei nº 12.846/2013
dispõe sobre a responsabilização administrativa, civil e penal de pessoas jurídicas e
pessoas físicas pela prática de atos corruptivos, praticados no âmbito das empresas,
interna e externamente.

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A Lei traz em seu texto as condutas irregulares que podem ser praticadas pelos
agentes no âmbito interno das empresas. Também traz como serão as sanções que
insurgirão nos casos em que essas condutas sejam efetivadas.
A nova Lei Anticorrupção menciona também, no artigo 16, sobre o acordo de
leniência, que poderá ser celebrado entre as empresas e o Estado. Isso resultará na
diminuição da pena quando houver colaboração com as investigações pelos atos de
corrupção. Tal acordo vem se evidenciando, cada vez mais, por ter sido celebrado por
grandes empreiteiras no âmbito dos processos da operação Lava-Jato.
A referida legislação também teve como intuito, em sua criação, que as
empresas adotassem medidas regulamentadoras para evitar a prática da corrupção e
da lavagem de dinheiro. Que nada mais é do que a adoção de Programas de
Compliance.
O Compliance é uma medida antiga de combate à corrupção, previsto há muito
tempo na legislação estrangeira, especialmente no Foreign Corrupt Practices Act of
1977 – FCPA norte-americano – e no britânico Bribery Act 2010.
Entretanto, no Brasil, ainda é uma prática adotada em menor proporção.
Porém, vem ganhando considerável espaço, demonstrando ser extremamente
importante nas relações empresariais.
São vários os aspectos motivacionais para instalação das medidas de
Compliance. A corrupção, em suas várias formas, provoca prejuízos financeiros
imediatos, destrói a imagem e a reputação das organizações. Além disso, estraga o
ambiente de trabalho, aumenta os custos de investimento e alimenta condutas nocivas
para o desenvolvimento econômico e social.
Exemplo disso são os mais recentes escândalos de corrupção em nosso país,
envolvendo tratativas de empresas privadas com o setor público, como Mensalão,
Operação Lava-Jato, entre outras.

2.1- Compliance na esfera empresarial

O compliance na esfera empresarial surge como um princípio essencial da


Governança Corporativa, o qual se dispõe como um requisito para as sociedades
atualmente, visto abarcar pontos essenciais para se ter ética e transparência nas
relações empresariais internas e externas.

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O uso de código de ética, código de conduta, canal de denúncia,
desenvolvimento de controles internos, procedimentos internos de divulgação de
temas relacionados à corrupção, análise de aderência ética dos profissionais e
parceiros comerciais, são formas de Compliance cada vez mais crescente nas
organizações com escopo de mitigar fraudes internas.
Portanto, compliance no aspecto empresarial seria a adoção de atos internos
para fins de evitar os atos fraudulentos/corruptos nas empresas, objetivando a
mitigação dos riscos legais.
Já no âmbito criminal, os programas de Compliance estão relacionados às
políticas internas de prevenção, investigação ou supervisão de condutas. O objetivo é
evitar ou descobrir delitos praticados por meio ou sob a proteção da pessoa jurídica.
A nova Lei Anticorrupção prevê em seu texto os programas de Compliance para
que haja a diminuição das condutas ilícitas, relacionadas às práticas dos atos de
corrupção e lavagem de dinheiro. Condutas essas que vêm afetando
substancialmente o mercado empresarial.
Sendo assim, dada a necessidade de se combater os atos ilícitos praticados
pelas empresas e steakholders a essas relacionados, os quais visam atingir a
liderança no poderio a qualquer custo, pode-se inferir que o Compliance é uma medida
que deve ser imposta no âmbito das relações comerciais, internacionais e nacionais,
como já vem sendo.

2.2- Importância do Compliance

As normas de Compliance ajudam a prevenir os riscos operacionais, abrem


novos mercados e possibilitam maior concessão de empréstimos pelas instituições
financeiras. Além disso, atraem investimentos, atribuem credibilidade, conferem ética,
transparência, segurança e estabilidade jurídica, impedindo a penalização das
empresas e dos sócios pela infringência das normas legais.
Ressalta-se que a implantação dos programas de Compliance, para algumas
empresas, é indiscutivelmente importante e bem visto no meio corporativo e mercado
financeiro. Afinal, não se visualizam imagens negativas na implementação destes
programas, posto que os resultados são perceptíveis e até mesmo podem garantir
retorno financeiro, devido a inúmeros benefícios.

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Portanto, as normas de Compliance são importantes tanto para o aspecto
empresarial como pelo aspecto penal. A sua adoção, é imprescindível para tentar
combater a corrupção e os atos de lavagem de dinheiro. Mas também é medida
importante para o crescimento e desenvolvimento econômico das empresas.
Principais benefícios que a área de compliance pode trazer para a empresa:
 Ganho de credibilidade por parte de clientes, investidores, fornecedores,
etc.;
 Importante ferramenta para as empresas que buscam mercados
externos;
 Aumento da eficiência e da qualidade dos produtos fabricados ou
serviços prestados;
 Melhora nos níveis de governança corporativa;
 Oferece prevenção (muitas empresas só pensam em Compliance
quando já foram punidas por algum “desvio”, postura custosa ao caixa da
organização).
Em geral, as empresas brasileiras de pouca estrutura, sob o aspecto da
governança, relutam em adotar programas de Compliance em seu universo. É o velho
hábito do brasileiro de preferir remediar a prevenir. O problema é que travar uma longa
briga judicial porque uma lei trabalhista foi descumprida, arcar com multas pesadas
da Receita Federal por falhas em sua prestação de contas ao Fisco ou mesmo receber
imposições por descumprimento às leis ambientais enfraquecem a empresa no
mercado, sublimam sua credibilidade e secam seu caixa e suas perspectivas de
futuro.
Subestimar o Compliance e a importância de jogar dentro das regras é o que
explica, talvez, porque a taxa de mortalidade das empresas com até 5 anos de vida
beira os 50% no Brasil. Menos de 20% das empresas chegam aos seus 10 anos de
vida, em geral, por falta de controles internos, falhas de gestão, respeito às normas e
regulamentação.
Como criar uma área de Compliance:
1- O primeiro passo para quem deseja ter um setor de Compliance em sua
empresa é elaborar, com o auxílio dos especialistas contratados, um código de
conduta, em linguagem simples e objetiva ao entendimento de todos.

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2- Endomarketing para disseminar a importância de seguir regras e
procedimentos. Assim, poderá trabalhar o envio de SMS (ou e-mail) para funcionários,
lembrando-os da importância de usar o telefone apenas com fins profissionais, para o
risco de levar para fora da empresa informações ligadas aos seus processos internos,
etc. Criar canais de comunicação permanentes com sua equipe, permitindo, inclusive,
que eles denunciem condutas inadequadas;
3- Mostrar que o exemplo vem de cima. O Núcleo Gerencial da empresa deve
agir com justiça internamente e prezando por ações éticas na competição externa.
Ganhar espaço no mercado, mas sem abrir mão de seus valores, é algo que deve ser
sempre reforçado na empresa.
4- Não basta agir dentro da legalidade: deve-se mostrar aos stakeholders que
a empresa não se envolve com atos imorais. Permitir que parentes da direção da
companhia participe de uma concorrência para ser seu fornecedor é, no mínimo,
imoral. Compliance é ideologia e deve ser incorporada ao comportamento de todos
dentro da empresa.
Objetivos, papéis e responsabilidades da função de Compliance na
organização:
 Analisar meticulosamente os riscos operacionais;
 Gerenciar os controles internos (o profissional dessa área é uma espécie
de “xerife” das normas e procedimentos, em todas as esferas da
organização);
 Desenvolver projetos de melhoria contínua e adequação às normas
técnicas;
 Analisar e prevenir de fraudes (esse profissional tem também papel
consultivo; não se trata apenas de cobranças e imposição de mudanças);
 Monitoramento, junto aos responsáveis pela TI, no que se refere às
medidas adotadas na área de segurança da informação;
 Realização de auditorias periódicas;
 Gerenciar e rever as políticas de gestão de pessoas, juntamente com os
responsáveis pela área de Gestão de Capital Humano.
 Trabalhar na elaboração de manuais de conduta e desenvolver planos
de disseminação do compliance na cultura organizacional;

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 Fiscalização da conformidade contábil de acordo com as normas
internacionais (International Financial Reporting Standards – IFRS);
 Interpretar leis e adequá-las ao universo da empresa.

2.3- Elementos de um programa de Compliance eficaz

Para implementar um programa de compliance eficaz, as empresas devem, no


mínimo, incorporar os seguintes elementos:
Liderança: Um programa de Compliance eficaz deve ter substância real e
compromisso “de cima para baixo”, a partir da alta administração. Os executivos
sêniores da empresa devem supervisionar a função de Compliance e devem ter
recursos suficientes para fazer isso. Eles devem ter acesso direto ao conselho de
administração ou equivalente da empresa para os assuntos de Compliance.
Avaliação de riscos: Os programas de Compliance devem se basear em uma
avaliação de riscos inicial que considere os fatores específicos enfrentados pela
empresa em suas operações. Essas avaliações devem considerar, entre outros
pontos, os riscos por setor e região, e os riscos relacionados ao cliente e ao processo
de vendas da empresa. As empresas devem reavaliar regularmente seus programas
para garantir a sua eficácia e identificar as áreas onde melhorias podem ser
necessárias.
Código de conduta e políticas de Compliance escritas: Os códigos, políticas e
procedimentos devem ser claros, concisos e acessíveis a todos os funcionários e
àqueles que realizam negócios em nome da empresa. Dependendo dos riscos
enfrentados pela empresa, essas políticas e procedimentos podem abranger um
amplo espectro de áreas, por exemplo, a proibição de suborno, uso de consultores,
agentes e representantes, processo de due diligence em fusões e aquisições;
presentes, hospitalidade, entretenimento e despesas; viagens; contribuições políticas;
doações de caridade e patrocínios.
Comunicação e treinamento: A empresa deve tomar as medidas necessárias
para comunicar periodicamente suas políticas e procedimentos para os funcionários
e, se necessário, para terceiros. Eles devem receber treinamento, esses treinamentos
devem ser documentados, repetidos periodicamente e ter um currículo abrangente

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para transmitir as lições de Compliance de forma correta, fornecendo exemplos de
casos práticos e red flags comuns.
Denúncias anônimas: As empresas incorporam em seus programas de
Compliance mecanismo por meio do qual os funcionários e outras pessoas podem
denunciar suspeitas de má conduta ou violações reais de políticas internas da
empresa ou leis anticorrupção de forma confidencial e sem retaliações.
Incentivos e punições: As empresas devem responder rapidamente a
alegações de violações de leis anticorrupção e de suas políticas internas. As
empresas devem investigar os fatos e punir os funcionários envolvidos com
irregularidades, independentemente de sua posição. Ao mesmo tempo, as empresas
devem incentivar os funcionários a trabalhar de acordo com os programas de
Compliance.
Controles internos: Os programas de Compliance devem incluir controles
internos razoavelmente criados para garantir a manutenção de livros e registros
precisos, assim como para garantir que os fundos da empresa não sejam utilizados
para o suborno ou outros propósitos ilegais. Os tipos de políticas e os procedimentos
que deverão ser implementados dependerão do tamanho, da natureza, das
particularidades da empresa e sua localização geográfica.
Monitoramento: As empresas devem avaliar regularmente os seus programas
de Compliance para identificar as áreas que necessitam de modificação ou de reforço.
O monitoramento permite às empresas determinar para onde direcionar seus esforços
de Compliance.

2.4- Multiplicidade das áreas de Compliance2

Em vários países, entre eles o Brasil, legislações vêm cada vez mais
consolidando responsabilidades no âmbito civil, administrativo e criminal de empresas
assentadas no descumprimento de normativas que previnem riscos relacionados a
sua atividade. Os programas de Compliance incorporaram-se no cenário doutrinal não
apenas como uma importante ferramenta de organização para as empresas obterem
êxito em sua estrutura administrativa (prevenção de fraudes, corrupção

2 Texto adaptado de Ricardo Breier - Atuação de advogado na área de Compliance impõe


desafios

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pública/privada, gestão de custos operacionais, implementação de códigos de
conduta e de ética, gestão de riscos, etc.), mas também para delimitar a
responsabilidade jurídica dos administradores, gerentes, executivos e demais
funcionários.
Atualmente, só irão sobreviver no cenário competitivo mundial as empresas que
possuírem uma estrutura administrativa capaz de transmitir confiança tanto no setor
público como no privado; a sua reputação, imagem e confiabilidade estão intimamente
firmadas através de êxitos no controle interno, de uma profícua gestão de riscos e de
um programa contínuo na área de políticas sociais (meio ambiente, consumidores,
segurança do trabalho, saúde, etc.).
Os programas de Compliance materializam um atuar que pode ser definido pela
prática da “boa governança corporativa”, um caráter constitucional necessário na
incansável luta contra o abuso de poder dentro das corporações. Em nosso cenário
nacional, essa realidade projeta uma necessidade de maior qualificação dos
advogados que atuam ou pretendem atuar nessa área, pois tudo está a indicar que
cada vez mais serão fundamentais tanto para a elaboração como para a revisão dos
programas de Compliance. Sem dúvida, essa é uma prerrogativa profissional que
credita, valida e, principalmente, eleva a eficácia dos programas para as empresas.
Todo advogado inicialmente deve ampliar seus conhecimentos em temas
extrajurídicos (administrativo, financeiro, contábil, sistemas de auditorias e due
diligence, etc.), sendo este um requisito importante para uma efetiva orientação,
elaboração e identificação do melhor programa de Compliance a ser adaptado e
operacionalizado no universo específico de cada empresa.
Os programas de compliance, por sua natureza e expressiva peculiaridade, são
dotados de alta complexidade, obrigando o advogado especializar-se não somente
nas normativas nacionais (por exemplo: os regramentos do Conselho Monetário
Nacional, Comissão de Valores Mobiliários e Conselho de Controle de Atividades
Financeiras), como também, e na mesma proporção, dedicar-se ao estudo
aprofundado de normativas legais internacionais em Compliance. Essa perspectiva
amplia em muito a sua capacidade de avaliação para a organização de protocolos
conectados com políticas de prevenção, compromissos dos órgãos diretivos, regras
na formação de profissionais e implantação de sistemas disciplinares.

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Tema igualmente importante vem a ser a adaptação de normas internacionais
de Compliance nas filiais de empresas situadas no Brasil, um fenômeno jurídico que
a doutrina define como normas de cumprimento não harmonizadas. Essas,
necessariamente, deverão ser adaptadas à realidade nacional, impondo ao advogado
que domine, além das normas de direito, as normas de cultura organizacional da
empresa, para que assim seja propiciado mecanismos de flexibilização dentro deste
contexto de culturas variadas.
Outro desafio para o advogado vem a ser a análise e a gestão de riscos nas
atividades empresariais. O risco se confunde com incerteza, de modo que as
atividades que apresentam riscos estão referendadas por princípios de segurança e
por inúmeros regulamentos técnicos. Gestão de riscos reforça a avaliação de decisões
a serem tomadas pelas empresas em suas atividades e as consequências possíveis
e aceitáveis destas, seja na área jurídica ou social, uma fonte importantíssima para a
definição dos programas de Compliance.
Pode-se citar como exemplo a área bancária, que cada vez mais vem sendo
fortalecida pelo constante estímulo à criação de programas de controle interno como
forma de conter riscos relacionados a fraudes (casos de corrupção e operações
cambias duvidosas). Uma gestão deficiente poderá colocar em risco a imagem e gerar
enormes prejuízos econômicos para empresa, além de acarretar sanções
administrativas e criminais. Cabe ao advogado avaliar e interagir com os diversos
segmentos empresariais para um diagnóstico sobre os riscos envolvidos em cada
operação e inserir nos programas de Compliance medidas aptas a identificar e
minimizar os riscos dos negócios da empresa.
Não menos importante é o tema da correlação da relevância jurídico-penal do
Compliance, pois com o aumento significativo das investigações na estrutura
organizacional das empresas, estas servem de fonte para identificar e definir a
responsabilidade individual de seus gestores quando da prática de atos ilícitos
(financeiros, corrupção, farmacológicos, fraudes e etc.). No Brasil, estamos
timidamente iniciando o debate no tema da responsabilidade criminal pelo não
cumprimento de normas de prevenção. Temos a Lei 12.846/13, denominada Lei
Anticorrupção, que poderá servir de parâmetro para uma responsabilização criminal
individual. O ponto inovador da lei, para o Brasil, já que em muitos países há muito é
adotado, vem a ser a obrigação das empresas na adoção de programas de

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compliance voltados à constituição de mecanismos e procedimentos interno de
integridade, auditoria e incentivo à aplicação de códigos de conduta e de ética no
âmbito da pessoa jurídica, além de responsabilizar dirigentes e administradores na
medida de sua culpabilidade por atos ilícitos.
A taxatividade da lei, na medida de sua culpabilidade, obriga que o advogado
auxilie na elaboração de um programa que determine as funções estruturais
organizacionais da empresa, como forma de minimizar os problemas de déficit
organizacional. Os programas de Compliance terão que identificar as formas de
decisão organizativa e o papel do administrator na avaliação dos programas
anticorrupção e de prevenção. Em muitos casos, pela experiência de outros países,
revelou-se que um programa impreciso e amplo poderá levar a uma multiplicação de
deveres e de garantias que não limitarão a responsabilidade dos
diretores/administradores na gestão administrativa, oportunizando a conhecida
responsabilidade genérica.
Sempre haverá por parte do advogado o dever de conhecer os fundamentos,
funções, poderes e consequências de decisões dos gestores da empresa, seja na
forma ativa ou omissiva, bem como os limites para delegações de poderes
(compliance officer).
A busca por um modelo mais adequado possível de Compliance criminal
deverá estar associado aos princípios e valores básicos voltados à ética corporativa,
um compromisso pela prevenção de condutas ilícitas no mundo empresarial.
Como visto, o advogado é a medula no marco teórico da elaboração, orientação
e revisão de programas de Compliance. É um elemento crucial, dentre outros, para o
seu efetivo sucesso do referido programa.

2.5- Benefícios da Compliance para as empresas

O Documento Consultivo “Função de Compliance” (2009), da ABBI e


FEBRABAN, afirma que a missão do Compliance é:

Assegurar, em conjunto com as demais áreas, a adequação, o fortalecimento


e o funcionamento do Sistema de Controles Internos da Instituição,
procurando mitigar os Riscos de acordo com a complexidade de seus
negócios, bem como disseminar a cultura de controles para assegurar o
cumprimento de leis e regulamentos existentes. Além de atuar na orientação

18
e conscientização à prevenção de atividades e condutas que possam
ocasionar riscos à imagem da instituição.

A versão preliminar do Guia Programas de Compliance, publicada em 2015


pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade, elenca os benefícios para
as Empresas em virtude da adoção de Programas de Compliance, conforme abaixo:
1. Prevenção de riscos – a adoção de Programas de Compliance mitiga os
riscos de violações das leis e suas consequências adversas, como multa, publicação
da decisão condenatória em jornal de grande circulação, proibição de contratar com
instituições financeiras oficiais e participar de licitação por até cinco anos, inscrição do
infrator no Cadastro Nacional de Defesa do Consumidor, além de outras. Como
corolário para as pessoas físicas envolvidas podemos citar a responsabilização
criminal e o impedimento para exercer função de direção em outras empresas;
2. Identificação antecipada de problemas – a conscientização acerca das
condutas desejadas e não toleradas pela organização, efeito dos Programas de
Compliance, permite a identificação mais célere de eventuais violações à lei,
possibilitando maior agilidade nas ações corretivas, favorecendo a celebração de
acordos que podem resultar em substancial redução de pena e, em alguns casos,
imunidade na esfera criminal para as pessoas físicas;
3. Reconhecimento de ilicitudes – a cultura de envolvimento e
comprometimento implementada pelos Programas de Compliance estimula os
funcionários da empresa e permite que identifiquem a prática de infrações por
concorrentes, fornecedores, distribuidores ou clientes. Relacionamento com terceiros
que violam a legislação pode ser bastante prejudicial para a organização. Com o fito
de demonstrar a sua boa-fé, é importante agir imediatamente no caso de identificação
de condutas ilícitas de terceiros com quem as trocas são intensas;
4. Benefício reputacional – ações afirmativas de incentivo à conformidade
são essenciais para uma cultura de ética nos negócios, resultando em benefícios para
a reputação da empresa e sua atratividade para fins promocionais, de recrutamento e
de retenção de funcionários. Tendem a aumentar a satisfação e o comprometimento
dos empregados no trabalho e o senso de pertencimento e identificação com o grupo.
Tornam as empresas bem mais atraentes como parceiras comerciais, inspiram a
confiança dos investidores, clientes e consumidores. De forma contrária, violações à
lei geram questionamentos sobre a ética e o modelo de negócios da instituição. O

19
impacto econômico decorrente do dano à reputação pode ser maior do que o
resultante da pena pela infração, levando a perdas financeiras e de oportunidades de
negócios;
5. Conscientização dos funcionários – os Programas de Compliance,
quando bem elaborados, permitem aos funcionários realizar negócios com mais
segurança e tomar decisões com mais confiança, como também os direciona a
procurar assistência caso identifiquem possíveis questões concorrencialmente
sensíveis. O medo de violar as leis – notadamente quando envolvido risco de
persecução penal – pode intimidar os funcionários e eventualmente desestimular a
concorrência mais acirrada e perfeitamente legítima;
6. Redução de custos e contingências – a adoção de um Programa de
Compliance tem o condão de evitar que as empresas incorram em custos com
investigações, multas, publicidade negativa, interrupção das atividades,
inexequibilidade dos contratos, indenizações, impedimento de acesso a recursos
públicos ou de participação em licitações públicas, despesas judiciais e
administrativas etc. Adicionalmente ao processo administrativo, as empresas podem
responder civil e criminalmente pelo cometimento da infração, causando danos à sua
reputação até antes do desfecho do processo, configurando-se em perda de clientes,
oportunidades de negócios, investimentos e valor de mercado. A afetação negativa
também pode abranger a carreira dos executivos, inclusive gerando impedimento para
o exercício do comércio em nome próprio ou como representante de pessoa jurídica
por até 05 (cinco) anos;
7. Circunstâncias atenuantes – além da diminuição do risco de imposição
de multa ou do próprio valor da multa em decorrência da celebração de leniência ou
outros acordos com as autoridades, a adoção de Programas efetivos de Compliance
pode configurar circunstância atenuante – em reconhecimento à adoção pela empresa
de medidas para prevenir violações à lei – amainando a pena mesmo em caso de
condenação.
Ao estar em Compliance a empresa demonstra confiabilidade, postura ética,
rigidez nos controles internos, sustentabilidade dos processos, adimplência com as
obrigações e efetividade na administração de eventuais conflitos. Em alinhamento
com as boas práticas de gestão e com os padrões atualmente exigidos, a organização
se destaca e recebe o reconhecimento do mercado, obtendo vantagem competitiva.

20
Como sucedâneo, obtém maior valor no mercado, melhor retorno dos investimentos
e suas transações são facilitadas, por meio de desconto em linhas de crédito ou de
aquisição de capitais através de financiamentos públicos e privados.
A implementação de Programas de Compliance é fundamental para as
empresas que pretendem crescer de forma sustentável, longeva. É imprescindível
para aquelas que pretendem organizar a sua estrutura societária objetivando abertura
de capital, expansão para o mercado internacional ou participação na Bolsa de
Valores. Neste caso, as carteiras são avaliadas e medidas conforme o cumprimento
às boas práticas de gestão e os analistas de valores imobiliários deixam de lado as
empresas que não as adotam, desvalorizando a sua composição.

3. LEGAL COMPLIANCE: AMBIENTAL3

Fonte: ovma.com.br

Recentemente, produtores de grãos e madeira precisaram regularizar suas


atividades conforme a legislação ambiental. As certificações e a conformidade com
normas e condutas são cada vez mais exigidas em contratos com multinacionais,
assim como consideradas ferramentas de competitividade: é hora de implantar o
Compliance. A expressão teve nascimento nas instituições financeiras com a criação

3 Texto adaptado de Cristiano de Souza Lima Pacheco - Compliance Ambiental: Antecipe o


problema

21
do Banco Central Americano, em 1913. Foi criada visando incentivar um sistema mais
seguro e estável, menos suscetível às naturais turbulências de mercado.
Estar em conformidade (Compliance) significa dizer que a empresa cumpre
toda a legislação local, além do código de conduta interno. No Brasil, o Compliance
na governança corporativa tem sido mais utilizado na captação de recursos, sucessão,
fusões ou aquisições. Mesmo assim, é crescente o número de empresas que trata o
assunto como estratégia. Compliance é o conjunto de disciplinas e métodos voltados
ao cumprimento de normas legais e regulamentações. Tais mecanismos buscam
detectar, evitar e tratar qualquer desvio ou inconformidade, inclusive para além da
corporação, na relação contratual com terceiros e parceiros de negócios.
Daí surge a relevância do Compliance, do ponto de vista ambiental. Para cada
segmento produtivo há dezenas de leis ambientais aplicáveis, diferentes entre si.
Alguns exigem a interpretação de muitas portarias e resoluções. Outros, além da
licença, a outorga da União ou anuência de agências reguladoras.
Nessa colcha-de-retalhos de leis, portarias, normas e obrigações, torna-se
cada vez mais difícil para as empresas controlar toda a cadeia de produção. Na
contramão do setor do varejo, por exemplo, existem dois fatores particularmente
desafiadores no Brasil: o primeiro é um número cada vez maior de consumidores bem
instruídos e conscientes de seus direitos, os chamados consumidores-cidadãos, que
buscam informação clara sobre os produtos, como a origem e qualidade. O segundo
é o próprio art. 6o do Código de Defesa do Consumidor, pois ele garante que dados
completos são direitos básicos dos clientes.
Se ocorrem danos ambientais na cadeia produtiva, surge outra enorme
preocupação: o zelo pela marca empresarial. Ela representa o maior ativo de boa parte
das corporações com capital aberto, especialmente aquelas voltadas ao consumo de
massa com forte apelo na mídia. Nestes casos, as ferramentas de Compliance como
estratégia de prevenção farão toda a diferença, tanto para evitar quanto para gerir
crises e possíveis prejuízos. O objetivo é possibilitar que a empresa se antecipe,
identificando em tempo as fragilidades. Avaliar lacunas respectivas ao meio ambiente
e legislação, passivos, fraudes e riscos, contornando-os e planejar a minimização de
impactos financeiros e institucionais.
O Compliance na gestão ambiental das empresas é também um importante
instrumento de adequação em uma nova era da competitividade, diante de um

22
mercado cada vez mais acirrado e exigente. Conhecer de perto o verdadeiro tamanho
do problema, ou antecipar-se frente a ele, aumenta em muito as chances de adotar
estratégias acertadas para a prevenção de danos ambientais e a resolução mais
imediata de crises.
Atualmente, no Brasil, duas normas receberam atenção especial:
1˚) – A Resolução nº 4.327, de 25 de abril de 2014, do Banco Central do Brasil;
2˚) – O Normativo SARB n˚14, de agosto de 2014, do Sistema de
Autorregulação Bancária da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN).
A Resolução nº 4.327/2014 instituiu a Política de Responsabilidade
Socioambiental (PRSA). Com a intenção de assegurar os modelos tradicionais das
diretrizes e daquilo que era um objetivo das PRSAs falando sobre a implementação
pelas instituições financeiras e outras instituições autorizadas, as obrigaram a realizar
uma organização gerenciando, mesmo que correndo risco socioambiental, e
colocando em pauta os critérios e ferramentas específicas para avaliação das
margens de erros e riscos quando a realização de operações que são relacionadas a
atividades econômicas de grande potencial de causar danos socioambientais.
Já o Normativo SARB n˙14/14, posterior, especificou detalhadamente os
critérios e meios usados ao serem observados realizando avaliações e gestão dos
riscos socioambientais dos projetos que estavam sendo e serão financiados.
Operações consideradas significativas quanto à exposição a riscos
socioambientais passarão por avaliações que verificarão, com ajuda de análises de
licenças ambientas, os Certificados de Qualidade em Biossegurança, que são
emitidos pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), apontaram a
referida norma.
Existem normas, como as citadas anteriormente, que tem natureza
estritamente autor regulatória destinadas a instituições financeiras onde conferem
maior segurança ao empresariado quanto a quem será utilizado para obter os
financiamentos, produtos e serviços, sendo de forma bem indireta a maneira com que
estimulam a criação e aprimoramento de processos e procedimentos de Compliance
ambiental, visando empresas e impulsionando a consolidação da sustentabilidade
como elemento indissociável das atividades de empresas do país.
Para atendimento dessa nova realidade, as empresas precisaram planejar suas
ações, com foco à valorização da prevenção de riscos em diversas áreas, tais como

23
ambiental, tributária, trabalhista, cível, administrativa e penal, atentando-se às leis
vigentes, a fim de resguardar sua imagem e patrimônio, especialmente em face do
aparelhamento dos órgãos de fiscalização e controle do poder público, bem como pelo
“empoderamento” da sociedade decorrente da difusão de conteúdo por meio das
mídias sociais, impactando decisivamente na decisão dos gestores, notadamente por
meio da produção de bens de consumo que atendam aos anseios éticos, morais,
sociais do consumidor moderno.
Por outro lado, muito embora estejamos em pleno século XXI, ainda existem
empresas que não consideram tais questões importantes, fato é que tal realidade vem
sendo paulatinamente transformada. Diante do domínio do mercado globalizado, o
esgotamento dos recursos naturais e o desenvolvimento sustentável, a sociedade tem
despertado seu interesse por empresas que executam suas atividades em harmonia
com a Natureza e práticas éticas, morais vigentes.
A pessoa jurídica que não adotar uma postura preventiva e cuidadosa em
relação às questões ambientais dificilmente conseguirá sobreviver em meio ao
mercado de consumo tão exigente e interconectado. Isso porque, tal mercado, ao
mesmo tempo em que esgota os recursos naturais, demonstra o interesse em
preservá-lo, em que pese a aparente contradição.
A existência de uma farta legislação protetiva do meio ambiente em nosso país,
especialmente com caráter simbólico, obrigando as empresas à sua constante
observância e adequação de seus métodos e tecnologia, à luz da máxima proteção
do meio ambiente possível.
O direito ao meio ambiente pode ser caracterizado como sendo de 3ª ou 5ª
Geração dependendo-se da corrente a ser seguida. Podemos adotar a corrente que
entende ser o meio ambiente direitos de terceira geração dentre eles, direito ao
desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos,
direito de comunicação, de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e
direito à paz, cuidando-se de direitos transindividuais, sendo em geral difusos, o que
é uma peculiaridade, uma vez que não são concebidos para a proteção do homem
isoladamente, mas de coletividades, de grupos.
Tratando-se, portanto de direitos de natureza difusa ou coletiva, as
organizações que por ventura descumpram normas atinentes ao meio ambiente ficam
diretamente vulneráveis a sofrerem ações civis públicas criadas originalmente pela lei

24
7.347/85. Sendo extenso o rol de legitimados a promover tais ações pode-se impactar
seriamente na reputação da empresa, além de gerar incomensuráveis prejuízos
financeiros.
A legitimidade ativa para propositura desta ação é dada pelo art. 5º da LACP e
pelo art. 82 do CDC. São legitimados:
a) o Ministério Público;
b) a Defensoria Pública;
c) a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
d) as autarquias, as empresas públicas, as fundações (públicas e privadas) e
as sociedades de economia mista;
e) as associações civis constituídas há pelo menos um ano que tenham
finalidades institucionais compatíveis com o interesse que se vise a defender;
f) as entidades e os órgãos de administração pública, direta ou indireta, ainda
que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses
e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor. Além destes legitimados,
também poderão propor a ação civil pública os sindicatos (art. 8º, III, CF) e as
comunidades indígenas (art. 232, CF).
Muito embora as regras básicas de implementação de um programa de
Compliance tenham sido criadas para o setor financeiro, suas regras, princípios e
métodos, poderão ser transportados diretamente para instituições atuantes e outras
áreas inclusive ligadas ao meio ambiente, tais como mineradoras, empresas ligadas
ao agronegócio. Todavia, cada uma delas deverá aplicá-las de acordo com sua área
e local de atuação, em consonância com os objetivos corporativos e sociais, haja vista
que a sociedade empresária tem uma função social, observando-se e complexidade
das suas operações.
Há que se ressaltar que o surgimento do Compliance guarda relação direta com
a prevenção de crimes praticados por empresas, isso porque inicialmente as
organizações assistirem seus gestores imbricados em processos criminais de toda
ordem, especialmente com acusações de crimes econômicos.
O Brasil, ao instituir a responsabilização criminal das pessoas jurídicas na Lei
Ambiental (Lei nº 9.605/98), deixou de prever hipóteses de redução ou exclusão de
responsabilidade corporativa, caso medidas internas de prevenção fossem adotadas
segundo programas sérios de atuação ética preventiva. Desta forma, a organização

25
fica exposta ao rigor direito da norma jurídica violada, não obstante as inexistências
dessas regras minorastes de responsabilidade.
Há que se registrar a existência de princípios jurídicos de aplicação da lei em
que o julgador, não poderá furtar-se à sua observância. Tais princípios
proporcionalidade e razoabilidade são previstos na constituição federal e podem
invocados pela organização.
Extraído do excelente artigo Informativo Jurídico da Biblioteca Ministro Oscar
Saraiva, v. 19, n. 1, jan./jun. 2008:

A responsabilidade civil no Direito Ambiental, diferentemente da


responsabilidade do Direito Civil, não visa à satisfação de um particular, mas
de grupos indeterminados de pessoas que dependem das condições naturais
para sobrevivência. Isso sempre deve ser levado em consideração na
responsabilização do poluidor. Trata-se de direito público, com caráter
notadamente coletivo.
Aplicar indenização pecuniária como forma de responsabilizar aquele que
provocou o dano ambiental deve ser meio subsidiário de responsabilização.
A forma primeira deve ser a recuperação do meio ambiente e só na
impossibilidade desta reparação deve o agente indenizar a coletividade.

A responsabilidade civil por dano ambiental, como se extrai do art. 14, § 1º, da
Lei nº 6.938/81, é objetiva, isto é, não há que se provar culpa. Para sua caracterização
há que comprovar somente o evento danoso, a conduta lesiva e o nexo causal entre
o dano e a conduta do poluidor.
A pessoa jurídica, portanto, deve perseguir, por meio da implantação de um
sólido programa de Compliance, a prevenção de riscos por meio da adoção de um
contínuo programa de proteção da empresa e seus gestores da responsabilização
penal ou a redução dos riscos e sansões através da detecção prévia de ilícitos.

26
4. LEGAL COMPLIANCE: DESPORTIVO

Fonte: www.lecnews.com

A alta competitividade do mercado demanda uma forte imagem das empresas


e instituições. No esporte, temos inúmeros exemplos de competitividade empresarial.
Nesse contexto, a função de Compliance tem protegido, agregado valor e aprimorado
a gestão dos riscos nas instituições dos mais diferentes setores.
No mundo desportivo, marcado por escândalos financeiros, lavagem de
dinheiro, corrupção e prisões de dirigentes, instaurar e manter programas de
Compliance eficientes são medidas necessárias e cada vez mais urgentes.
A Lei nº 9.615/98, comumente denominada Lei Pelé, em apenas 18 anos de
existência, teve quase 80 % dos seus artigos modificados ou revogados por 9 leis
(uma cada dois anos em média) que a descaracterizaram totalmente e dela fizeram
uma autêntica colcha de retalhos.
Boa parte dessas mudanças teve por objeto a forma de administração das
entidades desportivas, envolvidas em esquemas de corrupção, gestão temerária,
sonegação fiscal dentre outras irregularidades, que só fizeram com que o esporte
brasileiro continuasse patinando sem resultados que demonstrassem a força e a
grandeza de nosso país.

27
Mas a maioria esmagadora dessas normas da Lei Pelé tem se mostrado
ineficaz e a pergunta que se faz é: Porque um número enorme de regras que prega a
governança corporativa nos clubes e federações não se mostrou eficaz?
A resposta é simples: por falta de fiscalização. E essa carência de controle é
uma decorrência de um erro de interpretação do art. 217 da Constituição federal, em
que muitos alardeiam que a autonomia constitucional das entidades desportivas
impede a fiscalização do Estado.
E isso faz lembrar as origens da democracia, cuja primeira manifestação se deu
no ano 450 antes de cristo em Esparta, em que aprovação ou não das leis se dava
pela quantidade de barulho que cada um dos lados, do “sim” ou do “não”, fizesse.
Parece que o mesmo ocorreu em relação ao art. 217 da Constituição Federal,
pois o fato das entidades terem autonomia não significa que não tenham que se
adequar a princípios e direitos fundamentais fixados pelo Estado, muito embora os
adeptos do “não” tenham bastante força perante a mídia e poderes públicos para dizer
o contrário.
Entretanto, basta ver que outras entidades gozam expressamente de
autonomia no texto constitucional e nem por isso deixam de se submeter ao controle
e vigilância do Estado.
As universidades, por exemplo, gozam expressamente de autonomia didático-
científica na forma do art. 207 da Constituição, mas nem por isso, deixam de estar
sujeitas à cassação da autorização de seu funcionamento em caso de avaliação
governamental insatisfatória sobre sua atuação.
Os partidos políticos, por sua vez, também foram contemplados pelo texto
constitucional com artigo semelhante ao que fora dedicado às entidades desportivas,
precisamente no art. 17, parágrafo primeiro, que vai dizer que é assegurado aos
partidos políticos autonomia para definir sua estrutura, organização e funcionamento.
Mas também os partidos estão sujeitos a terem o cancelamento do registro,
caso tenham recebido recursos do exterior ou não tenham prestado contas à Justiça
Eleitoral.
O mesmo ocorre com as instituições financeiras que podem sofrer intervenção
do banco central em determinadas situações e etc.
Destaque-se a propósito, que recentemente o STF, numa ação direta de
inconstitucionalidade proposta contra o Estatuto do Torcedor, decidiu de forma

28
unânime o seguinte: sendo o esporte um direito do cidadão, a autonomia das
entidades desportivas é mero instrumento para concretização deste bem jurídico
protegido no ordenamento jurídico: o direito ao esporte digno e legítimo e que “nenhum
direito, garantia ou prerrogativa ostenta caráter absoluto…”.
E estamos coincidentemente vivendo um momento muito peculiar, em que o
mundo do esporte está em verdadeira ebulição com tantos escândalos de corrupção,
com destaque para o escândalo da FIFA, com pelo menos três presidentes de
confederações continentais envolvidos, inúmeros presidentes de confederações
nacionais presos e indiciados, dentre outros.
Por outro lado, presenciamos o maior escândalo de corrupção por doping na
Federação Internacional de Atletismo, em que testes positivos de atletas russos foram
ocultados e que envolveram dirigentes e políticos do alto escalão do governo russo.
E agora mais recentemente a denúncia de manipulação de resultados no tênis
mundial, em que tenistas top estariam perdendo de propósito suas partidas para
beneficiar grupos de apostadores.
O esporte pode ser uma força benéfica, infelizmente, por vezes a corrupção
não permite que o esporte atinja plenamente o seu potencial de beneficiar os
indivíduos e sociedades.
A corrupção esportiva pode ser dividida em corrupção nas competições e
corrupção da gestão.
Entre os exemplos de corrupção da gestão, temos o suborno e a manipulação
de eleições. Nos casos mais graves, a corrupção da gestão constitui infração penal a
ser resolvida pelos órgãos de execução da lei.
As formas mais proeminentes de corrupção nas competições são:
 O doping;
 A manipulação de partidas, que inclui resultados previamente
combinados, alterações no decorrer das partidas e as atividades
relacionadas, seja para fins de ganhos financeiros através de jogos de azar
ou por razões esportivas (ex.: para evitar o rebaixamento).
Doping (drogas e doping nos esportes) - As violações de regras que a Agência
Mundial Antidoping (WADA) define podem ser resumidas como:
 Presença de substâncias proibidas numa amostra de sangue ou urina
do atleta;

29
 Uso de substâncias ou métodos proibidos;
 Evasão de um teste antidoping;
 Posse ou manejo de substâncias ou métodos proibidos;
 Auxílio a outros numa violação antidoping ou associação a uma pessoa
que tenha violado o código antidoping.
Manipulação de partidas (resultados combinados e corrupção em apostas e
jogos de azar no esporte) - A Convenção do Conselho da Europa sobre a Manipulação
de Competições Esportivas (2014) define a manipulação de competições esportivas
como:

Um arranjo, ato ou omissão intencionais destinados a uma alteração


imprópria do resultado ou do curso de uma competição esportiva, a fim de
remover, ao todo ou em parte, a natureza imprevisível da referida competição
esportiva, tendo em vista obter uma vantagem indevida para si mesmo ou
para outros.

A definição engloba, portanto, esforços para alterar o curso de um evento


(lances combinados), bem como o resultado geral. Estão incluídas as partidas com
resultados combinados tanto por razões esportivas quanto para ganhos financeiros.
O status da manipulação de partidas perante a lei é uma questão complexa e
varia de acordo com o país.
Em uma escala de padrões de governança, a corrupção da gestão reside numa
das extremidades, com os casos de melhores práticas na outra ponta.
O influente Cadbury Report on Corporate Governance (1992) definiu
governança como “o sistema pelo qual as companhias são dirigidas e controladas”.
Em 2013, o Grupo de Especialistas em Boa Governança da União Europeia
produziu sua própria versão dos Princípios da boa governança no esporte (Principles
of good governance in sport), a qual inclui esta definição:

A estrutura e a cultura dentro das quais um organismo esportivo define suas


políticas, seus objetivos estratégicos, envolve-se com as partes interessadas,
monitora o desempenho, avalia e gerencia o risco e relata suas atividades e
seu progresso aos constituintes, incluindo o fornecimento de
regulamentações e políticas esportivas efetivas, sustentáveis e
proporcionais.

Em 1999, a AMA foi instituída como uma agência internacional independente,


composta e financiada igualmente pelo movimento esportivo e pelos governos.

30
Suas atividades-chave incluem pesquisas científicas, educação, o
desenvolvimento de competências antidoping e a fiscalização do Código Mundial
Antidoping – o documento que harmoniza as políticas antidoping em todos os esportes
e todos os países.
O Código Mundial Antidoping é obrigatório para o Movimento Olímpico. Além
disso, muitos esportes não olímpicos também adotaram o Código.
Inúmeras organizações esportivas a nível internacional e nacional são
responsáveis por realizar iniciativas antidoping, inclusive programas de testes e
educação.
O Código Mundial Antidoping estabelece as sanções para violações de normas.
Existe a possibilidade de uma suspensão de 1 ano, 2 anos, 4 anos ou até para sempre,
dependendo das circunstâncias. Existe agora a possibilidade de redução do período
de suspensão caso o indivíduo forneça auxílio substancial em relação a transgressões
por parte de outros. O histórico dos resultados de um atleta num determinado período
pode ser anulado e sanções financeiras podem também ser impostas.
Há uma corrida interminável contra aqueles que desejam ajudar os atletas a
trapacearem através da exploração dos avanços da medicina e dos testes de drogas.
A AMA e outras entidades conduzem pesquisas a fim de aprimorar os procedimentos
de testes para as substâncias, sejam novas ou já existentes, consideradas
melhoradoras do rendimento esportivo.
O foco atual no combate à ameaça dos resultados combinados data do início
da década de 2000. Entre as respostas por parte do movimento esportivo, tive-se o
Early Warning System (2007), uma companhia criada pela FIFA para fiscalizar as
apostas em seus torneios. O COI tem agora seu próprio Integrity Betting Intelligence
System (IBIS), o qual tem um propósito similar.
Vários esportes a nível internacional e nacional criaram suas próprias equipes
de integridade, como a Tennis Integrity Unit (2008), que recebeu a tarefa de combater
a corrupção ligada aos jogos de azar.
A ameaça da manipulação de partidas foi também reconhecida pelos governos
e instituições internacionais.
No Reino Unido, o Sports Betting Group reúne representantes de todos os
esportes para oferecer liderança e enfrentar os riscos da corrupção das apostas
esportivas, incluindo através de um Código de Conduta para os órgãos governantes.

31
Recentemente em 2014, a Convenção do Conselho da Europa sobre a
Manipulação de Competições Esportivas (2014) definiu medidas detalhadas a serem
implementadas pelos estados-membro em território europeu e também,
potencialmente, para além dele.
Em 2015, o COI adotou o Olympic Movement Code on the Prevention of the
Manipulation of Competitions. O objetivo do Código é definir e uniformizar as normas,
procedimentos disciplinares e sanções com relação à manipulação de jogos.
Uma pequena indústria de consultores em corrupção esportiva e organizações
sem fins lucrativos está se desenvolvendo para prestar serviços aos organismos
esportivos a fim de ajudá-los a reduzir o risco de manipulação nas partidas.
Tem-se reconhecido, também, que o formato das competições esportivas deve
ser ajustado para assegurar que estas não incentivem involuntariamente a
manipulação de partidas.
A governança esportiva começou a ser alvo de exames minuciosos como um
tópico independente na década de 1990, após os trabalhos de acadêmicos, jornalistas
investigativos e campanhas de organizações como a Play the Game.
Entre as várias recomendações relacionadas à governança na iniciativa da
Agenda de 2020 do COI, há um requisito específico de que as organizações
pertencentes ao Movimento Olímpico devem aceitar e cumprir os Princípios
Universais Básicos da Boa Governança do Movimento Olímpico e Esportivo.
A Association of Summer Olympic International Federations (ASOIF) tem
subsequentemente desenvolvido uma ferramenta de análise de governança para
Federações Internacionais.
Algumas organizações individuais de esporte têm embarcado em processos de
reforma de governança, geralmente depois de enfrentar uma crise. Entretanto, o ritmo
de progresso no setor de esportes em geral é lento.
Adicionalmente aos vários códigos de boa governança que têm sido
publicados, governos e órgãos regulatórios em muitos países têm colocado em ação
padrões de governança para corporações esportivas, para alcançar a condição de
financiamento público.
A União Europeia tem sido ativa na área da governança esportiva. Além de
definir o Expert Group referenciado acima, a UE tem elaborado uma série de projetos
relacionados à governança.

32
O Conselho Europeu também está cada vez mais ativo neste domínio. Um
encontro de ministros de esportes em novembro de 2016 pediu mais cooperação entre
organizações governamentais e acionistas de esportes.
A corrupção refreia o esporte e ameaça o seu bem-estar financeiro.
Implementar programas antidoping e de melhores práticas é um processo
necessariamente complexo e dispendioso, exigindo as mais recentes tecnologias em
testes médicos, uma logística sofisticada, rigorosos processos legais e a vontade
política de penalizar aqueles que forem descobertos infringindo o Código.
Algumas prioridades atuais dos programas antidoping:
 A qualidade é mais importante que a quantidade – concentrar os
recursos onde provavelmente terão o maior efeito.
 Coleta de informações como complemento aos testes – vários dos mais
proeminentes casos de doping foram revelados por delatores, em vez de
testes antidoping.
 Respeitar os direitos dos atletas – ao passo que os atletas devem aceitar
submeter-se aos testes antidoping a fim de competir, a regulamentação dos
testes deve ser proporcional e efetiva, respeitando os direitos dos atletas.
 Financiamento necessário – tanto os governos quanto os patrocinadores
responsáveis têm o dever de pagar para proteger o esporte limpo do qual
esperam beneficiar-se.
 Independência – frequentemente, órgãos esportivos nacionais ou
internacionais, e até mesmo os governos, têm parecidos dispostos a
sancionar suas próprias estrelas. Testes e sanções devem ser conduzidos
de forma independente dos órgãos esportivos.
 Testagem de amostras históricas – as amostras obtidas dentro e fora
das competições devem ser congeladas para novos testes vários anos
depois, quando a ciência poderá ter evoluído.
 Prestação de contas mais clara – as responsabilidades dos vários
interventores internacionais e nacionais no antidoping não são claras. Se
os “beneficiários” finais do regime antidoping são identificados – atletas, o
público em geral e/ou um outro grupo – então o plano institucional do
regime antidoping pode levá-los totalmente em conta.

33
Embora a questão dos resultados combinados seja reconhecida por todo o
movimento esportivo e novos programas educacionais e outras medidas estejam em
vigor, a resposta limitada em muitos dos casos sugere que a gravidade desse risco
nem sempre é devidamente avaliada.
Algumas das prioridades atuais no combate à manipulação de partidas:
 É preciso mais cooperação internacional e compartilhamento de
informações entre os governos, órgãos de execução da lei, organismos
esportivos e a indústria dos jogos de azar.
 Uma boa governança geral é um componente importante na luta contra
os resultados combinados, tanto aqueles relacionados aos jogos de azar
quanto os incidentes motivados por objetivos esportivos.
 O monitoramento está presente agora na maioria das grandes ligas e
esportes para verificar por padrões de apostas suspeitos. Ele deve
continuar e evoluir.
 O status da corrupção esportiva perante a lei varia consideravelmente
entre um mercado e outro, dificultando a instauração de processos. A meta
definitiva deve ser a harmonização das legislações.
 A indústria dos jogos de azar deverá pagar por uma parte significativa
dos custos do combate aos resultados combinados.

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5. LEGAL COMPLIANCE: FISCAL E TRIBUTÁRIO

Fonte: www.advadrienemiranda.com.br

Diante do complexo cenário tributário brasileiro, a prioridade para a gestão de


qualquer negócio deve ser o pagamento correto dos tributos, além da apresentação
de informações corretas ao fisco, de modo que não tragam riscos de fiscalização ou
prejuízos financeiros para a empresa. Ou seja, cresce a cada dia mais a importância
do um Compliance Fiscal na realidade das empresas brasileiras ou multinacionais que
atuam em território nacional para que as mesmas tenham a segurança financeira e
não fiquem na mira do fisco.
Como sabemos, sob o ponto de vista de tributos e fiscalização, o Brasil é um
dos países que apresentam maior complexidade. Temos mais de 90 tributos e pelo
menos 150 obrigações acessórias.
Uma estimativa estabelece que, todos os dias são publicados mais de 50 atos
legais referentes à legislação tributária, gerando uma série de regras e procedimentos
impossíveis de serem administradas pelo gestor de qualquer empresa.
Diante desse quadro, muito mais do que apenas o peso dos impostos, é
importante o processo referente à apuração, ao cálculo e ao pagamento dos impostos
e contribuições, exigindo o envolvimento de profissionais capacitados, implantação de

35
sistemas e constante atualização dos departamentos responsáveis. Uma empresa
que não entenda a importância do Compliance fiscal corre sérios riscos quanto a sua
sobrevivência.
A média mundial para cuidar de todo o processo de apuração e pagamento de
impostos é de 260 horas anuais. No Brasil, esse número é multiplicado por 10, ou
seja, são pelo menos 2.600 horas por ano.
As áreas de consultoria e de apuração tributária, diante disso, tornam-se
estratégicas para qualquer empresa, com a necessidade de contribuir para a redução
de custos, reduzindo os riscos quanto a possíveis descumprimentos de obrigações
tributárias, procurando melhor favorecer a posição empresarial diante do mercado.
As empresas brasileiras ainda possuem uma série de desafios internos para
resolver todos os problemas em busca da melhoria da gestão tributária em seu ramo
de atividade, precisando de sistemas adequados para acompanhar as constantes
mudanças na legislação e as alterações operacionais/administrativas promovidas por
elas.
No entanto, quando se trata de programas de Compliance Fiscal, ainda há
pouco envolvimento por parte dos administradores, uma situação que, aos poucos,
tende a ser alterada diante da necessidade de implementação de programas que
tragam a conformidade para os procedimentos internos.
É importante ressaltar, no entanto, que muitas companhias têm mudado seu
ponto de vista, percebendo os benefícios que o Compliance Fiscal pode trazer para a
organização, principalmente diante da necessidade de aplicar procedimentos que
possam gerar redução de custos e transformar problemas em oportunidades.
A legislação contábil e fiscal produz diversos impactos sobre as empresas e,
diante disso, a importância do Compliance Fiscal se torna ainda maior. Um
levantamento realizado por analistas tributários aponta mais de 300 mil novas leis
desde a promulgação da Constituição de 1988, somente com relação a tributos.
Acrescido a esse número, já foram editadas mais de 3 milhões de normas, seja pela
Receita Federal, seja pelas Secretarias da Fazenda dos Estados e Municípios.
Essa enormidade de regras, normas e leis exige que as empresas mantenham
processos administrativos rigidamente controlados e gerenciados, evitando que
qualquer informação deixe de ser declarada. Assim, o Compliance Fiscal torna-se

36
cada vez mais relevante, gerando procedimentos para a empresa para manter sua
conformidade diante do fisco.
O Compliance Fiscal tem como objetivo oferecer modelos eficientes para a
gestão tributária. A única forma de evitar qualquer tipo de complicação fiscal ou penal
diante do fisco, é adotar um sistema de gestão de Compliance Fiscal, permitindo
garantir maior vantagem competitiva de mercado e gerar condições de
sustentabilidade para a organização.
A empresa deve contar com um sistema de gestão eficiente, integrando todos
os processos e informações de forma automatizada, informatizada, atendendo as
normas e movimentações promovidas pelas áreas de vendas, de compras, de custos,
de estoques, de patrimônio e do departamento de pessoal, sempre com vistas a
atender a todas as obrigações acessórias em que a empresa estiver enquadrada.
Para isso, evidentemente, a empresa deve buscar o auxílio de profissionais
especializados na área de Compliance Fiscal, principalmente porque, diante de
qualquer falha ou equívoco, por menor que seja, a empresa pode ter sua integridade
financeira comprometida, seja no campo fiscal ou até mesmo penal.
Desde 2014 tem-se em vigor uma nova Lei Anticorrupção Empresarial,
estabelecendo que as empresas, fundações e associações passam a ter
responsabilidade civil e administrativa sempre que qualquer profissional ou
representante da empresa gerar prejuízos ao patrimônio público, ou se infringir
princípios da administração pública ou compromissos internacionais assumidos pelo
Brasil.
Um dos fatores mais importantes a ser observado nessa nova legislação é a
denominada responsabilidade objetiva, não havendo a necessidade de comprovação
de dolo ou culpa para que as sanções sejam aplicadas de acordo com os termos da
lei.
Com essa nova legislação, quando qualquer pessoa ligada à empresa, seja um
empregado, um agente da cadeia de fornecedores ou um parceiro da empresa tenha
envolvimento com qualquer atividade de corrupção ou de lavagem de dinheiro, a
empresa pode ser responsabilizada, mesmo que não tenha participação ou
conhecimento no evento.

37
No mercado brasileiro, as empresas que não se adaptarem e não implantarem
um sistema de Compliance Fiscal não conseguirão se manter, ou seja, devem se
adaptar para sua própria sobrevivência.
É evidente que há necessidade de cumprimento da nova legislação e das
regras tributárias, o que exige o estabelecimento de procedimentos internos e
externos, tornando as empresas mais confiantes em suas atividades e garantindo que
não haja qualquer tipo de equívoco diante do fisco.
Não apenas com relação à lei anticorrupção, mas também diante da complexa
legislação tributária, a importância do Compliance Fiscal torna-se cada vez mais
evidente, pois se trata de uma necessidade básica para que possa haver a adequação
à legislação e às normas de mercado.
A adoção de um programa de Compliance Fiscal para a criação de diretrizes
de conduta, de controles internos e de procedimentos é essencial para a empresa e
para a sua rede de relacionamentos.
Um programa eficiente de Compliance Fiscal é o que irá permitir a comunicação
e o controle de normas e boas práticas para a empresa em todas as suas camadas,
tanto interna quanto externamente.
Muitos empresários e empreendedores detém a ilusão de que a sonegação de
tributos seria a melhor forma para se tornarem competitivos no mercado e obter uma
enorme economia tributária. Por óbvio, esta não é a melhor opção, visto que a
sonegação fiscal no Brasil é considerada crime, conforme art. 1º da Lei 4.729/1965.
Sendo assim, cabe aos empresários e empreendedores buscarem um
planejamento tributário lícito que lhes diminua a carga tributária sofrida para obter uma
maior competitividade no mercado.
O Planejamento Tributário nas empresas deve ser realizado por um profissional
especializado na área, de modo que, além de realizar o referido planejamento,
introduza a este o programa do Compliance.
O Planejamento Tributário lícito, consiste na adoção de procedimentos
permitidos pelo ordenamento jurídico que tem como propósito incorrer numa menor
carga tributária.
Já o Compliance é o dever de cumprir e estar em conformidade com diretrizes
estabelecidas na legislação, normas e procedimentos determinados, interna ou
externamente, para uma empresa, de forma a mitigar riscos relacionados a sua

38
reputação e aspectos regulatórios a sua aplicação está intrínseca à realização de um
Planejamento Tributário efetivo. Somente desta forma o empresário poderá mitigar os
riscos (econômicos e jurídicos) relacionados ao planejamento que se pretende
realizar, assim como, verificar se o mesmo se enquadra dentro dos ditames legais.
No mundo empresarial e jurídico pouco se escuta falar em Compliance
Tributário. Os empresários e empreendedores, assim como estudiosos do direito,
carecem de tal conhecimento. Por consequência, realizam um planejamento tributário
perfeito no papel, mas em total desconformidade com a lei (planejamento tributário
evasivo), o que comumente ocasiona processos judiciais de responsabilização
criminal dos sócios, execuções fiscais, penhora de bens e queda na visibilidade
externa da entidade, resultando, na maioria das vezes, em falência das empresas.
Os reflexos da aplicação do programa de Compliance Tributário aos
Planejamentos Tributários realizados para as empresas trarão a estas maiores
transparências, alta produtividade, redução de pagamento de tributos, vantagens
competitivas e visibilidade externa favorável (de modo a receber um maior número de
investidores).
A Lei de nº 12.846/2013 e o Decreto nº 8.420/2015, versam sobre a
responsabilização objetiva (sem necessidade de comprovação de culpa)
administrativa de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração
pública, nacional ou estrangeira.
O art. 5º, inciso III, da referida Lei, estabelece que incorre em ato lesivo à
administração pública aquelas pessoas jurídicas que se utilizarem de interposta
pessoa física ou jurídica para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a
identidade dos beneficiários dos atos praticados. Ou seja, a pessoa jurídica que
fraudar livros contáveis e utilizar-se de atos jurídicos dissimulados (além de incorrer
na Lei 8.137/90 – a qual discrimina os crimes contra a ordem tributária) sofrerá a
instauração de um processo administrativo, podendo ser sancionada aplicação de
multa no patamar de 0,1% a 20% sobre o faturamento bruto do último exercício
financeiro, anterior a instauração do referido processo (art. 6º, inciso I, Lei de nº
12.846/2013), assim como, a decisão proferida no mesmo será publicada nos meios
de comunicação (art. 6º, inciso II, Lei de nº 12.846/2013).
Cabe ainda um último alerta, as empresas que realizarem sonegação fiscal
através de planejamentos tributários ilícitos, com o advento da Lei nº 12.683/12, além

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de incorrerem em crime contra a ordem tributária, poderão responder também pelo
delito de Lavagem de Capitais.
Conforme já mencionado, o Compliance não é utilizado apenas para verificar
se um planejamento tributário está em conformidade com a lei (tributária,
constitucional, penal e civil), mas também para apurar se o mesmo se encontra dentro
das normas contábeis e se as suas operações financeiras estão sendo registrados
pela área contábil da entidade de maneira correta, com o fim de se evitar as sanções
acima reportadas.

6. LEGAL COMPLIANCE: TRABALHISTA4

Fonte: static.wixstatic.com

Inegavelmente as políticas de compliance produzem efeitos na dinâmica da


empresa de forma expressiva, principalmente quanto ao comportamento das pessoas
com quem mantém relações jurídicas, inclusive seus empregados.
As pessoas a quem estes efeitos atingem são os chamados pela doutrina
especializada de stakeholders. Em tradução livre do inglês, a palavra stakeholder

4 Texto adaptado de Marcos Antonio Madeira De Mattos Martins - Objeções do empregado ao

comando superior: mecanismos de defesa do Compliance para evitar fraudes na organização

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refere-se àquele que possui aplicações financeiras, um acionista ou investidor,
contudo, para a doutrina de trata de compliance, esta palavra possui um significado
mais amplo, sendo entendida como o grupo de pessoas que engloba: empregados,
consumidores fornecedores, prestadores de serviços, acionistas, instituições, etc., ou
seja, todos os sujeitos que de alguma forma tocam a atividade empresarial.
A relação de emprego é uma espécie do gênero relação de trabalho. Os
requisitos caracterizadores da relação de emprego podem ser encontrados no art. 3º
da CLT, o qual dispõe que:

Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza


não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

O empregado diferencia-se de trabalhador autônomo pois este não está


submetido ao comando do empregador, assumindo o risco da atividade prestada
difere-se do autônomo “porque, além de ficar juridicamente subordinado ao poder de
comando do empregador este é que assume todo o risco da atividade empreendida”.
(2004, p. 233)
O empregado diferencia-se do representante comercial uma vez que este
possui legitimidade para ir até o cliente e vender a mercadoria, contudo não tem
competência para finalizar a venda sem prévia autorização da empresa. O
representante comercial promove a venda dos produtos objeto do contrato de
representação, encaminha os ‘pedidos’ ao representado e aguarda a decisão deste
para concluir as operações mercantis. O empregado diferencia-se do trabalhador
terceirizado pois este atua em atividades secundárias face à atividade-fim da
empresa, mantendo com seu empregador a subordinação jurídica (e não com a
tomadora de serviços) e a percepção de salário.
Portanto, os stakeholders são todas as pessoas que causam ou sofrem efeitos
pela atividade da empresa e o trabalhador autônomo, representante comercial e do
trabalhador terceirizado (dentre outros) também estão englobados por este conceito.
São muitos os benefícios na utilização das ferramentas de compliance, como
por exemplo: integridade da organização, fidelidade dos empregados, boa reputação,
boas relações com stakeholders, fornecedores, clientes, investidores e órgãos
reguladores.
O Compliance incorpora princípios de integridade, conduta ética e moral.
Portanto, deve-se ter em mente que, nenhuma lei ou regulamento cause o
41
descumprimento destas normas, ações que tragam impactos negativos para os
stakeholders podem gerar risco reputacional e publicidade diversa, colocando em
risco a continuidade de qualquer empresa.
O Compliance como sistema integrado de medidas que a organização deve
executar para que os colaboradores possam agir de forma ética e com
responsabilidade social pode ser nutrido pelo poder disciplinar do empregador.
Levando-se em conta que a principal característica da relação empregatícia é
a subordinação jurídica (da qual surge o dever de obediência do empregado às ordens
do empregador), o exercício do poder diretivo seria inócuo e ineficaz se o empregador
não dispusesse de sanções (penalidades) para a hipótese de o empregado infringir
seus deveres.
A subordinação jurídica transfere ao empregado, por meio do contrato
individual de trabalho, o dever de prestar diligentemente o serviço ajustado, o dever
de colaboração, obediência e lealdade, o dever de acatar, respeitar e cumprir as
normas internas.
Caso o empregado não cumpra fielmente suas obrigações e funções a ele
destinadas, o empresário deve aplicar sanções disciplinares como forma pedagógica
de corrigir erros cometidos pelo colaborador e, ainda, como meio de fortalecimento
das regras internas aderidas pelo empregado para convivência na organização. A
sanção, quando aplicada de forma adequada e razoável, evita que o Compliance se
enfraqueça e se desmanche em meio às inúmeras atividades desempenhadas na
rotina empresarial.
As sanções disciplinares, além de fortalecer a execução do Compliance, têm,
pelo menos, três funções fundamentais:
a) punitivo (aplicar pena pela falta cometida);
b) educativo (prevenir possíveis faltas futuras dos empregados);
c) político (manter a ordem interna da empresa, resguardando o cumprimento
das regras impostas).
A sanção deve ser aplicada levando-se em conta o ato faltoso e os danos que
esse ato pode proporcionar ao ambiente empresarial. A proporcionalidade entre a falta
do empregado e a sanção a ser aplicada, advém dos ideais de ética, bom senso e
equidade.

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A conduta inadequada do empregado pode levar o empregador ao exercício
legítimo do direito de puni-lo, negando-lhe o trabalho, fonte do salário ou indo ao
extremo da despedida com justa causa.
O artigo 482 da Consolidação das Leis Trabalhistas prevê os casos de rescisão
por justa causa por parte do empregador, nas hipóteses em que o empregado tenha
cometido as seguintes faltas:
a) ato de improbidade;
b) incontinência de conduta ou mau procedimento;
c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do
empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha
o empregado, ou for prejudicial ao serviço;
d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha
havido suspensão da execução da pena;
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
f) embriaguez habitual ou em serviço;
g) violação de segredo da empresa;
h) ato de indisciplina ou de insubordinação;
i) abandono de emprego;
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer
pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa,
própria ou de outrem;
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o
empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou
de outrem;
l) prática constante de jogos de azar.
O parágrafo único do artigo 482 prevê que: constitui igualmente justa causa
para dispensa de empregado a prática, devidamente comprovada em inquérito
administrativo, de atos atentatórios à segurança nacional.
A ausência de norma que disponha o modo pelo qual deve ser aplicado o poder
disciplinar encontrou respaldo na jurisprudência. O que deve ser levado em
consideração na aplicação da sanção é o grau da falta cometida pelo empregado. Se
for de menor potencial ofensivo à relação do trabalho, pode-se aplicar uma
advertência ou suspensão. Se for de maior potencial ofensivo à relação do trabalho

43
ou aos demais grupos de pessoas envolvidos, como quebra da boa-fé contratual ou
ato de improbidade, a rescisão imediata por justa causa deve ser aplicada.
O empregado pode, no desempenho de suas funções, negar a execução de
funções ou cumprimento de tarefas sob o argumento de que tais atribuições a ele
delegadas não fazem parte do contrato individual do trabalho.
Não se pode olvidar que alguns comandos, quando ordenados por pessoas que
possuem funções superiores aos subordinados, podem conter fragmentos velados de
ilicitudes. É certo e lícito, por parte dos empregados, negar o cumprimento de normas
que não estão de acordo com as normas internas ou normas gerais do Direito do
Trabalho. O grande problema dessas atividades é que a habitualidade de algumas
ações acaba incrustando na rotina organizacional como sendo lícita e comum,
trazendo, a curto ou médio prazo, prejuízos à organização.
O direito de objeção do empregado em fazer ou deixar de fazer alguma coisa
determinada pelo seu superior consiste no direito de se opor às determinações ilegais
do empregador, podendo ser enquadras aquelas que não estejam ajustadas à
natureza do serviço contratado, aquelas que reduzam a sua condição moral humana
(humilhação, mácula a sua imagem) ou que o coloquem em grave risco.
A subordinação do empregado não pode ser entendida como escravização, o
exercício do poder diretivo deve ser exercido de forma funcional, atendendo aos fins
da empresa e às exigências da produção, sem prejuízo da preservação e do
aperfeiçoamento dos direitos pessoais e patrimoniais de cada trabalhador.
O não cumprimento de determinadas funções ou ações atribuídas ao
empregado, portanto, deve ser apreciada de forma imparcial, com razoabilidade, pois
a segurança física e psíquica do empregado deve ser protegida durante todo o tempo
em que o trabalhador estiver sob os cuidados da organização.
As objeções feitas pelo empregado na jornada de trabalho, pois, devem ter
justificativas fundamentadas e legais, cabendo a ele, inclusive, a possibilidade de
rescindir indiretamente o contrato de trabalho. A legislação trabalhista prevê que o
empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização
quando:
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários
aos bons costumes, ou alheios ao contrato;

44
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor
excessivo;
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua
família, ato lesivo da honra e boa fama;
f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso
de legítima defesa, própria ou de outrem;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma
a afetar sensivelmente a importância dos salários.
Salvo as hipóteses enumeradas pela legislação e em outros casos análogos
em que ocorra a violação da dignidade humana do trabalhador, o empregado não
pode se negar a fazer alguma tarefa ou deixar de cumprir normas internas da
empresa, ficando sujeito às sanções disciplinares caso ocorra o descumprimento.
Veja que não se trata de um poder discricionário ou meramente subjetivo do
empregado em colocar objeção a uma tarefa ou conduta a ele atribuída. A função a
ser desempenhada pelo empregado, no ideário de uma organização que busca
desenvolver-se de maneira satisfatória e sustentável, tem um liame direto com o
resultado esperado pela sociedade empresarial.
Ao deixar ao livre arbítrio do empregado a reflexão do que deve ou não deve
ser feito, cria-se uma rotina insustentável no ambiente organizacional, de tal modo a
criar um caos organizacional, carreando prejuízos à sociedade empresarial. Como
exemplo, note-se que se cada um dos partícipes dos setores entenderem que os
serviços a serem executados devem ser alterados ou que não precisam ser feitos da
maneira em que outrora foram a eles transmitidos para a execução, haverá mais
discussões do que produção e a otimização do tempo ou redução de custo ficarão
prejudicadas causando elevação no custo final do bem ou serviço prestado.
Entretanto, com o advento da Lei 12.846/2013 (Lei Anticorrupção), a
responsabilização dos empregados passou a ser dimensionada de forma objetiva,
pois eventuais danos causados pela empresa ao erário público não exclui a
responsabilidade individual de seus dirigentes, administradores ou qualquer outra
pessoa que tenha participado das ações ilícitas.

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Diante desse novo quadro de responsabilização, os empregados deverão se
atentar para o cumprimento de ordens que firam o Código de Ética e as diretrizes do
Compliance, uma vez que, ao atingir pessoas externas, sobretudo a Administração
Pública, as investigações sobre responsabilidade em eventos danosos poderão recair
diretamente contra empregados que tenham participado das ações ilícitas, que
tenham ou não poder de comando.
É recomendável, pois, a criação de uma carta de objeção do empregado que
entenda não ser possível ou eticamente correto cumprir ou deixar de cumprir alguma
ordem ou comando superior que possa trazer iminente prejuízo à Administração
Pública, ao meio ambiente e aos demais agentes econômicos, respeitando-se sua
relação com os stakeholders, pois somente por meio de um registro formal, justificado,
de sua decisão, é que se poderá formar convicção de inexistência de sua ilicitude em
grau de apuração de culpabilidade.
O contrato individual de trabalho pressupõe a conexão entre empregado e
empresário numa organização econômica para que os objetivos societários sejam
efetivados. Os objetivos da sociedade empresarial devem ser cumpridos dentro de um
padrão de sustentabilidade, sendo indispensável Código de Ética ou Regulamento
Interno que contenha normas de disciplina e de comando integrado num conjunto de
medidas de combate contra a corrupção.
Diante da edição da Lei Anticorrupção e de flagrantes questionamentos éticos
das organizações empresariais na tomada de decisões que violam princípios
econômicos, o contrato individual de trabalho passou a ter uma função social ainda
maior do que o simples ingresso de uma pessoa em uma organização: o empregado
passa a ter uma responsabilidade social com a empresa, com a comunidade e com
seus stakeholders.
A Lei Anticorrupção prevê a responsabilização de qualquer empregado em
evento danoso contra a Administração Pública, com apuração do grau de sua
responsabilidade administrativa, civil e penal, ainda que ele esteja submetido ao
comando de ordens superiores.
Em face das ações repressivas tomadas pela Polícia Federal no cumprimento
de decisões judiciais, não há como fechar os olhos, diante da magnitude do problema
da corrupção e fraudes que permeiam as relações jurídicas, de que o colaborador,
mesmo subordinado às ordens de seus superiores, não seja responsabilizado por

46
ações que ele, de algum modo, poderia ter estancado dentro da sociedade
empresarial.
O momento social e normativo revela a necessidade de todos colaboradores,
ainda que dependentes economicamente de seus salários e prêmios, comunicar às
autoridades competentes sobre os desvios de conduta praticados dentro das
organizações que desrespeitem normas, regimentos e princípios constitucionais da
ordem econômica e social.
A solução para proteção dos empregados que não praticam delito ou que, de
alguma forma, se abstém de tomar qualquer medida contrária à norma, mesmo que
tenha que não cumprir decisão de comando superior da sociedade empresarial, é a
carta de objeção. A carta de objeção serve de ferramenta de proteção jurídica ao
empregado, pois a empresa é notificada pelo colaborador, de maneira formal,
indicando as razões pelas quais ele deixará de cumprir determinada ação a ele
imposta, sob a pena de responder solidariamente pelos danos causados pela empresa
a terceiros.
A carta de objeção é um meio jurídico de efetivação do Compliance, pois além
de proteger o empregado sobre eventual responsabilização por atos cometidos contra
terceiros, também consolida sua função de contribuir com a ética organizacional,
solidificando seu papel solidário no sentido de se evitar danos contra a Administração
Pública e à ordem econômica e social.
As hipóteses de justa causa para rescisão do contrato de trabalho por iniciativa
do empregado não podem ficar apenas nos itens dispostos no artigo 483 da CLT,
informadas no capítulo anterior.
Com a necessidade de se efetivar uma política de Compliance na empresa para
regular suas condutas e decisões internas, e diante da força normativa imposta pela
Lei Anticorrupção, há de se amparar os empregados através de novos mecanismos
de proteção para rescisão do contrato, em razão da função social que as organizações
representam na ordem socioeconômica.
Nesse aspecto, a Lei Anticorrupção (Lei 12846/2013) impôs a obrigatoriedade
para as empresas destinarem recursos para implantação de medidas que evitem a
prática de atos lesivos à administração pública, nacional ou estrangeira, que atentem
contra o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração
pública ou contra os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.

47
O empregado, portanto, passou a participar de uma equação de
relacionamento jurídico-social que transfere a ele uma responsabilidade
anteriormente não difundida no campo normativo e na sociedade.
Para todos, sem distinção, ficou registrado como atos lesivos à administração
pública – e, portanto, ao Estado, como ente público municipal, estadual e federal – as
seguintes condutas:
I - Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a
agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada;
II - Comprovadamente, financiar, custear, patrocinar ou de qualquer modo
subvencionar a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei;
III - comprovadamente, utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para
ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos atos
praticados;
IV - No tocante a licitações e contratos:
a) frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro
expediente, o caráter competitivo de procedimento licitatório público;
b) impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento
licitatório público;
c) afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de
vantagem de qualquer tipo;
d) fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente;
e) criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de
licitação pública ou celebrar contrato administrativo;
f) obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modificações
ou prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem
autorização em lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respectivos
instrumentos contratuais;
g) manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos
celebrados com a administração pública;
V - Dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou
agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das agências
reguladoras e dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro nacional.

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A necessidade de uma maior reflexão dos efeitos quanto à responsabilização
dos empregados que possuem ou não função de comando nas empresas ficou ainda
mais latente quando a citada Lei Anticorrupção incluiu, em seu artigo 3º, que a
responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilidade individual de seus
dirigentes ou administradores ou de qualquer pessoa natural, autora, coautora ou
partícipe do ato ilícito.
A responsabilização do empregado detentor do poder de decisão ou do
empregado que participou de alguma forma, do ato ilícito, retirou, por força da lei, a
concepção de que os empregados – na qualidade de subordinados – não responderão
mais por crimes contra a administração pública, ao meio ambiente ou contraordem
social e econômica.
O embate jurídico que traz discussão sobre a ausência de culpabilidade do
colaborador para se esquivar de atos ilícitos por força da subordinação jurídica que o
empregado possui em relação ao contrato individual do trabalho caiu por terra com
responsabilização objetiva prevista na Lei Anticorrupção e com a conhecida
concretização da prisão de diversos empregados de empresas privadas que
mantinham contratos com a administração.
A operação “Lava-jato” demonstrou a condutas lesivas das organizações e
vulnerabilidade de seus empregados. Não somente os sócios ou diretores foram
encarcerados, mas também empregados de empreiteiras, tendo sido noticiados em
diversas impressas escritas e televisivas. Além disso, funcionários da Petrobrás foram
presos, pouco se atentando para o grau da função do empregado.
Pois bem, se os empregados respondem, objetivamente, por condutas
praticadas em detrimento aos interesses da Administração Pública, mesmo no
cumprimento de funções determinadas por seus superiores, há de se alertar todos os
empregados – em quaisquer tipos de organização que estejam contratados – que
devem declarar sua objeção ao comando ilícito.
É legítimo, e sobretudo legal, a apresentação de carta de objeção dos
empregados – qualquer que seja o cargo ocupado – para justificar a recusa de se
fazer ou deixar de fazer algo em decorrência da lei. Não há mais como sustentar que
a lei não foi observada porque o líder ou diretor da empresa assim determinou.
A responsabilização da empresa não excluir a responsabilidade individual de
qualquer pessoa natural que tenha se envolvido com o ato ilícito. Dessa forma, é

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plenamente satisfatória a decisão do empregado de não cumprir conduta determinada
por seu superior imediato ou mediato, manifestando, por meio de carta ou até mesmo
por ação judicial trabalhista, a rescisão do seu contrato de trabalho, uma vez que tal
ordem afronta a lei e a efetividade do Compliance que visa justamente a
conscientização e a concretização de condutas que não causem prejuízos à
organização e à sociedade.
Embora a subordinação jurídica do contrato de trabalho pressupõe um
comando de atender os comandos de quem tem o poder diretivo na empresa, no atual
estágio legislativo em que se encontram as medidas anticorrupção e a forma pela qual
se buscam efetivar o Compliance nas organizações, somente por meio de cartas de
objeção formais assinadas pelo empregado é que o colaborador poderá se proteger
de eventuais medidas investigativas para apurar se ele cooperou ou, de algum modo,
participou do ato danoso.
A comunicação do fato danoso deve ser apresentada, por meio de carta de
objeção ao cumprimento de determinada decisão organizacional, em tempo razoável
para evitar danos internos e externos na empresa.
A carta de objeção deve conter os fatos transferidos a ele para execução bem
como os fundamentos legais que obstam o cumprimento das medidas, bem como os
pessoais, a fim de ressaltar seu dever e responsabilidade social para a sociedade e
demais stakeholders.
O tempo, nesses casos, entre o recebimento de uma ordem eivada de ilícito
social ou organizacional e a comunicação do colaborador de que tal decisão fere o
Código de Ética da empresa e viola diretrizes do Compliance é muito relevante paras
se estancar efeitos nocivos à sociedade e à formação de provas de excludente de
ilicitude do próprio empregado.
A doutrina e a jurisprudência entendem que a comunicação do ato ilícito, por
quaisquer das partes, deve ser atual, imediata, salvo nos casos em que o próprio
regulamento interno da empresa preveja outra forma disciplinar ou quando o próprio
sistema de Compliance possua canal direto com a ouvidoria ou a organização possua
o Chief Compliance Officer (profissional contratado pela organização para garantir,
em departamento próprio e autônomo, que todos os procedimentos comerciais, fiscais
e negociais realizados pelos colaboradores estão sendo feito de acordo com os
regulamentos internos e com as legislações do país em que a empresa está sediada).

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Caso a empresa não possua um departamento específico de implementação
do Compliance, o empregado pode ingressar com ação judicial para rescindir seu
contrato de trabalho, por culpa exclusiva do empregador, quando não verificado o
cumprimento do Código de Ética e da própria Lei Anticorrupção. Porém, se essa
medida não for capaz de evitar um dano ainda maior à sociedade, deve ele reportar o
fato ao Ministério do Trabalho e aos demais órgãos reguladores a fim de demonstrar
sua ação protetiva à sociedade e à Administração Pública.

7. LEGAL COMPLIANCE: DIGITAL

Fonte: esr.rnp.br

Basicamente, Compliance é o cumprimento fiel às leis, regulamentos e normas


reguladoras de uma determinada atividade — é inovar sem deixar de lado a
conformidade legal.
Dessa forma, assim como as áreas financeira, contábil, de saúde e segurança
do trabalho devem seguir padrões e procedimentos legais para que a empresa não
esteja vulnerável a multas, interdições e ações indenizatórias, o setor de tecnologia
da informação também precisa adequar suas políticas a uma postura ética.

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O monitoramento de e-mails corporativos, durante anos, esteve sob intensas
discussões jurisprudenciais quanto à sua legalidade. Atualmente, entende-se que o
correio eletrônico empresarial, em função de ser propriedade da organização, bem
como pela sua responsabilidade objetiva perante seus empregados (art. 932 do
Código Civil), é passível de monitoração. Desse modo, alinhar a TI a esses
regramentos é estar em Compliance.
Governança de TI é um conjunto de práticas adotadas por gestores de TI,
técnicos e usuários, com o objetivo melhorar o valor agregado da tecnologia na
organização, reduzir riscos e custos, e suportar as melhores decisões — alinhando,
por consequência, a TI ao negócio.
Compliance, por outro lado, diz respeito à adequação dessas práticas à
legislação (instruções normativas, decretos, regulamentos, leis ordinárias, etc.),
tratando-se muito mais de uma obediência a determinações externas à empresa.
Os dados e informações estratégicas das organizações sempre foram alvos de
atenção e controle. São ativos de altíssimo valor agregado, demandam proteção
regida pelo Compliance Digital, por severas políticas de segurança de informação e
investimentos tecnológicos que suportem as transações diárias.
Além disso, com a crescente utilização da internet, as empresas devem estar
mais atentas aos limites jurídicos ao fazer uso dessa ferramenta, evitando uso
indevido dos dados, as instituições públicas, privadas e o usuário final estão mais
expostos aos ataques cibernéticos cujas proporções podem ser devastadoras e
imensuráveis jurídica e economicamente. A regulamentação ainda não é
suficientemente abrangente, portanto as empresas devem estruturar planos de
contingência sob pena de exposição a riscos muito altos.
Para se manter seguras e lucrativas, empresas de qualquer setor precisam
investir em Compliance da informação, visto que é ela um de seus maiores
patrimônios. Quando falamos em informação, estamos nos referindo a qualquer ativo,
conteúdo ou dado gerenciado ou desenvolvido pela organização, que deve ser
protegido de maneira adequada e compatível com a missão que detém, é esse o
motivo de a segurança da informação ser uma das maiores preocupações de um
gerente de TI. Ela interfere diretamente na credibilidade da empresa perante o
mercado e pode significar maiores lucros ou perdas, dependendo de como for
aplicada.

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Mesmo realizando regularmente auditorias internas e externas para checar a
conformidade dos processos na empresa, a segurança da informação ainda é uma
preocupação para gestores de TI.
O elevado número de obrigações acessórias e suas constantes alterações já
não são novidades no cotidiano dos contribuintes brasileiros. Todavia, é cada vez
mais importante o entendimento sistemático das diversas obrigações entregues.
Informações prestadas com enfoques diferentes são cruzadas pelos entes tributantes
e expõem inconsistências que "aos olhos do fisco" representam erros no
preenchimento, embaraço nas informações ou até mesmo sonegação fiscal.
O principal motivo da adoção é a segurança que a ferramenta traz para os
empresários e especialmente para os gestores, permitindo gerenciar e mitigar os
riscos, tendo em vista que as multas relacionadas às obrigações acessórias
eletrônicas, seja por preenchimento inadequado, incorreções, omissões ou
inexatidões, são exorbitantes e ficam atreladas ao faturamento ou de suas transações
comerciais e operações financeiras.
As empresas há muitos anos já se utilizam de sistemas informatizados para a
escrituração contábil e fiscal e já estavam obrigadas a manter arquivos digitais, amplia
as possibilidades de seleção, pois integra todos os dados dos contribuintes. Não há
dúvida de que as auditorias fiscais serão processadas utilizando-se as informações
prestadas pelos próprios contribuintes por meio desses arquivos, gerando autos e
infração ou comunicados de forma automática, a exemplo dos Despachos Decisórios
gerados pela Secretaria da Receita Federal.
O Compliance é uma forma de garantir que a política de segurança está sendo
cumprida, dando, assim, mais tranquilidade ao seu trabalho e às atividades da
organização como um todo. Um bom trabalho de compliance deve ser aliado a uma
solução de segurança digital, para assegurar a proteção dos dados corporativos.
Sendo uma ferramenta que permite o cruzamento de dados com o objetivo de
identificação de inconsistências para evitar o envio de informações incorretas. O que
pode vir a inibir as atividades ilícitas são as novas demandas de obrigações acessórias
originadas.
Nessas obrigações, as pessoas jurídicas irão informar seus registros contábeis,
fiscais, tributários e comerciais com um nível de detalhe que permitirá ao fisco cruzar
essas informações com dados de outros contribuintes. Entretanto, o Compliance pode

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ser uma ferramenta de auxílio das metas de governança corporativa das
organizações. Essas governanças traçam regras, limites e procedimentos a serem
seguidos pela administração e por todos os colaboradores nos negócios
desenvolvidos pela entidade com clientes, fornecedores, funcionários, sindicatos e
governo.
Quando se fala em solução de segurança digital, não se refere somente ao
software ou hardware. É necessário desenhar qual estratégia implementar para
assegurar a segurança da informação, sem interferir na realização do trabalho diário
dos funcionários.
O nível de Compliance da informação da empresa deve ser divulgado junto à
diretoria. Porém, o Compliance não é uma atividade única, mas um novo ponto, que
deve sempre estar presente na sua gestão, com o objetivo de gerar melhores
resultados para o negócio, o nível de Compliance deve ser avaliado para entender se
ele está satisfatório, de acordo com as necessidades da empresa, deve ser elaborado
um planejamento de ações capazes de garantir que ele seja mantido ou melhorado,
quando for o caso.
Algumas leis ligadas ao Compliance digital:
 Lei n.º12.965/2014 (Marco Civil da Internet)
 Lei nº 12.850/2013 (Provas Eletrônicas)
 Lei nº 12.551/2011 (Lei Home Office e Teletrabalho)
 Lei nº 9.609/1998 (Lei de Software)
 Lei nº 12.527/2011 (LAI)
 Lei n.º 12.846/2013 (Lei Anti-Corrupção)
 Leis de nº 12.735 e 12.77/2012 (Crimes Eletrônicos)
 Decreto n.º 7962/2013 (Lei do Comércio Eletrônico)
 Decreto n.º 7.845/2012 (Lei de Tratamento da Informação Classificada)
 Lei n.º 9.296/1996 (Lei de Interceptação)
 Lei nº 9.610/1998 (Lei de Direitos Autorais)
 Lei nº 9.279/1996 (Lei de Propriedade Industrial)

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8. LEGAL COMPLIANCE: SAÚDE

Fonte: ogimg.infoglobo.com.br

O momento atual mostra-se extremamente desafiador para o mundo


corporativo e exige um olhar atento da gestão, sobre tudo, nas empresas de setores
como o de saúde, que vive um ambiente complexo, de risco e custos elevados, sob
rígidos padrões de governança e de administração nacional e internacional.
Um programa de Compliance robusto, com implementação flexível ao tamanho
da empresa e adoção de medidas disciplinares, se faz necessário neste ambiente
assistencial e administrativo da saúde no Brasil.
Compliance na área de saúde significa garantir competência e conhecimento
técnico e administrativo que permitam atendimento assistencial adequado com
qualidade, humanizado, ético e com precisão dos custos de procedimento, destinado
para o maior número de pacientes possível. Um conjunto de procedimentos e quesitos
que devem estar presentes em hospitais públicos e privados.
Programa de ética e Compliance inclui:
 Código de conduta;
 Mapa de riscos, contendo as exposições de descumprimento de leis e
regulamentos;

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 Implementação de mecanismos de monitoramento e auditoria
independente;
 Programa de comunicação e treinamento interno e externo para
fornecedores;
 Implementação do canal de denúncias com reporte ao Conselho de
Administração ou Comitê de Ética;
 Implementação de medidas corretivas e punitivas adequadas.
Desafios do Compliance na saúde:
 Incorporar corpo clínico no processo de gestão;
 Garantir transparência do atendimento ao paciente;
 Investir em capacitação;
 Promover a conscientização dos colaboradores, do corpo clínico e dos
fornecedores a estarem em Compliance;
 Ter um relatório de ética e Compliance submetido ás esferas mais altas
de governança;
 Permitir denúncias anônimas;
 Conduzir diligências e auditorias internas;
 Contar com recursos financeiros e pessoas para investir em ética e
Compliance.
O setor de saúde é bastante vulnerável em relação às práticas não conformes
e atos ilícitos, pois está cercado de incertezas dentro das suas relações. E são
diversos atores envolvidos no processo: governo, planos e sistemas de saúde,
hospitais, fornecimentos de suprimentos e pacientes.
Não se sabe, por exemplo: quem irá adoecer, quando, que tipo de tratamento
será necessário ou quão eficiente o tratamento será. Os pacientes não têm
informações suficientes para buscar melhor preço e qualidade.
Após a implementação de um Programa de Compliance, o paciente/ cliente,
pode, por exemplo: ficar mais confiante de que não serão pedidos exames sem
necessidade ou que o prestador de serviço tem algum acordo com a indústria
farmacêutica ou de equipamentos na hora de prescrever um tratamento. No entanto,
o maior desafio ainda está em colocar a legislação em prática.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um desafio adicional do Brasil, pois ao
mesmo tempo em que trouxe uma série de benefícios decorrentes da

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descentralização, acabou dificultando o controle de recursos por conta da
complexidade da forma de financiamento.
Advogados e profissionais de saúde têm a oportunidade de aprofundar seus
conhecimentos nas legislações e normas que regem as principais entidades
regulatórias do setor de saúde, através de cursos específicos para a área.
O foco do Compliance está na promoção de interações éticas entre Empresas
e os indivíduos ou entidades que estão envolvidos na provisão de serviços de saúde
aos pacientes e que compram, alugam, recomendam, usam ou encaminham a compra
ou aluguel de Tecnologias Médicas das Empresas, ou seja, dos chamados
Profissionais da Saúde.
Na área da saúde envolve um comprometimento completo da empresa e acaba
mudando de forma integral os mecanismos de gestão das empresas. Ele acaba por
criar normas e regras éticas e de conduta, políticas, procedimentos e controles
internos, que são capazes de garantir, que a empresa previna, em todos os seus
âmbitos de atuação, a prática de ilícitos, em especial aqueles de corrupção.
Nesse sentido, seria importante que essas medidas, hoje existentes apenas
como mecanismo de auto regulação, fossem formalizadas por meio de uma legislação
consistente, que torne obrigatória a exigência de um programa de Compliance para
todas as pessoas jurídicas, que se envolverem direta ou indiretamente com a área da
saúde. Somente assim se estará dando um passo concreto no enfrentamento
sistemático das distorções no mercado de saúde no Brasil.

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9. BIBLIOGRAFIA

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uma análise à luz da ISO 19600 e 37001. Revista dos Tribunais, 2017.

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