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E DIREITO PENAL
ANÁLISE CRÍTICA DO SISTEMA DE
JUSTIÇA CRIMINAL BRASILEIRO
(Organizadores)
CRIMINOLOGIA CRÍTICA E DIREITO PENAL: ANÁLISE CRÍTICA DO
SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL BRASILEIRO
Antônio Leonardo Amorim, Anderson Rocha Rodrigues,
Paulo Eduardo Elias Bernacchi e Stefania Fraga Mendes
(Orgs.)
1ª Edição
Quipá Editora
2022
Copyright © dos autores e autoras. Todos os direitos reservados.
Conselho Editorial:
Dra. Anny Kariny Feitosa (IFCE) / Dra Anna Ariane Araújo de Lavor (IFCE) /Dra. Elaine
Carvalho de Lima (IFTM) / Dra. Érica P. C. L. Machado (UFRN) / Dra. Harine Matos
Maciel (IFCE) / Dra. Patricia Verônica Nunes Carvalho Sobral de Souza (TCE-SE/UNIT)
VerônicaNunes
137 p. : il.
ISBN 978-65-5376-024-0
DOI 10.36599/qped-ed1.143
www.quipaeditora.com.br / @quipaeditora
APRESENTAÇÃO
20dedemaio
Cuiabá/MT,20 maiodede2022.
2022.
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO 1 08
CAPÍTULO 2 20
CAPÍTULO 3 32
CAPÍTULO 4 44
CAPÍTULO 5 56
CAPÍTULO 6 67
CAPÍTULO 7 80
CAPÍTULO 8 89
CAPÍTULO 9 101
CAPÍTULO 10 113
CAPÍTULO 1
Abstract: The Brazilian prison system is collapsing, this research has the largest
number of people incarcerated since its foundation, and thousands of inmates in
degrading situations, as well as overcrowding and precarious hygienic conditions,
factors that, in addition to removing the freedom of individuals, are sufficient to
promote the worst crime against humanity. The Criminal Execution Law (LEP),
instituted to promote the execution of the sentence and resocialize the convict, seems to
fulfill its role only in the execution of the sentence imposed, turning a blind eye to the
convict's resocialization process, especially with regard to applicability Human and
1 Graduado em Direito pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), e-mail:
dhieiderbg@gmail.com.
2 Doutorando Doutorando em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista CAPES
(2022), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES durante o período do mestrado (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal
(2017-2018), Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (2012-2016) -
Unidade de Naviraí/MS, pesquisador de Direito Penal, Processo Penal, Criminologia e Direito da Criança
e Adolescente. Associado ao Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), foi Coordenador do
Grupo de Pesquisa Novas Perspectivas do Direito Penal (2019-2021), e-mail:
amorimdireito.sete@hotmail.com.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
fundamental rights. Given the above, the question is: has the Brazilian prison system
been sufficiently resocialized to promote human dignity? The answer to this research
problem will be based on the hypothetical deductive, inductive method of
bibliographical and documentary research, with the objective of verifying whether the
Brazilian prison system has re-socialized human beings inserted in it, in order to
promote the dignity of the human person . From this study, we can conclude that the
LEP has several tools and principles that contemplate resocialization, but it lacks
applicability due to the current prison situation. Therefore, the existence of the law is
not enough, it is necessary a more effective applicability, with mutual duties of the
State, the re-educated and society.
INTRODUÇÃO
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
Isso demonstra, mais uma vez, a omissão estatal relativa aos problemas
carcerários brasileiros. O sistema prisional brasileiro é superlotado e ineficiente e o
Poder Público não toma medidas capazes de resolver esse estado degradante.
Constatada essa situação, é preciso fazer sua análise do ponto de visto da
função preventiva especial positiva da pena: a ressocialização. Se a pena possui a
finalidade de possibilitar o retorno do condenado ao convívio social, é necessário
discutir essa possibilidade no contexto fático-prisional brasileiro, o que será feito no
próximo tópico.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
superlotação, sendo superior a 60% (sessenta por cento), conforme já citado. Isso indica
uma correlação entre o índice de superlotação e o índice de reincidência criminal.
A seguir, a tabela com o percentual de reincidência por cada estado da
federação:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAPÍTULO 2
Abstract: The main objective of this article is to analyze how the institute of remission
of the sentence for working in the Public Prison of Vila Rica/MT is applied, considering
that, in theory, the place is intended only for provisional prisoners. In order to achieve
this objective, an exploratory research was carried out, using bibliographical research,
as the main characteristics, concepts and requirements for applying the benefit of
remission of sentence for work were initially presented. Afterwards, both quantitative
and qualitative field research was carried out, in view of an analysis of the prison reality
of the prison establishment in Vila Rica/MT, through an interview conducted with the
director of the place and reports by him. cited. From all the information and materials
collected, it was possible to observe the positive effects that the work has on the
prisoner's prison time, whether provisional or convicted, with a significant improvement
in their behavior and feelings such as loneliness and anxiety, as well as, the satisfaction
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of being able to observe the result of their efforts, by discounting the days worked in
their time spent serving their sentence, which has a great contribution to their recovery
process.
INTRODUÇÃO
Criada pelo Direito Penal Militar, a remição da pena foi instituída no Código
Penal espanhol, em 28 de maio de 1937 e era aplicada aos prisioneiros da Guerra Civil,
condenados pelo cometimento de crimes especiais e, posteriormente, em 14 de março de
1939, o instituto foi estendido para os crimes comuns. No Brasil, o benefício da remição
foi incorporado ao ordenamento jurídico pela Lei de Execução Penal n° 7.210/84.
A remição trata-se de um benefício que proporciona ao condenado uma
redução do tempo de cumprimento de sua pena privativa de liberdade por meio do
trabalho e/ou estudo.
A lei traz uma distinção, determinando que os condenados que cumprem pena
em regime fechado ou semiaberto podem ter seu tempo de pena diminuído tanto pelo
trabalho, quanto pelo estudo, já aos condenados que cumprem suas penas em regime
aberto ou em livramento condicional é permitida a remição somente pelo estudo.
Pelo trabalho, a remição é computada descontando-se 01 (um) dia de pena,
para cada 03 (três) dias trabalhados. Já pelo estudo, é descontado 01 (um) dia de pena,
para cada 12 (doze) horas de frequência escolar, as quais podem ser divididas em, no
máximo, 03 (três) dias, ou seja, 04 (quatro) horas de estudo por dia. A remição ainda
pode se dar pela leitura, sendo realizadas resenhas de obras literárias pelo sentenciado.
O presente trabalho, delimitou-se em analisar os principais elementos da
aplicação do benefício da remição da pena por meio do trabalho, como: quais os
serviços são aceitos e o tempo de jornada de trabalho estabelecida em lei para fins de
remição da pena? Como é feito o controle, declaração e abatimento dos dias remidos
dentro do processo de execução penal? Se existe a possibilidade de perda dos dias
remidos? É possível a remição da pena para o preso provisório? e etc.
A par das principais características e requisitos para aplicação do referido
instituto, foi realizada entrevista com o diretor da Cadeia Pública do município de Vila
Rica/MT, Rivelino Pereira de Jesus, na tarde do dia 29 de junho de 2021, para o
levantamento de informações sobre a forma de aplicação do benefício da remição da
pena para os presos que se encontram recolhidos no local.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
DA REMIÇÃO
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
Como pode ser observado pela leitura do dispositivo legal, o aludido instituto
reconhece tanto o trabalho, quanto o estudo como atividades capazes de ensejarem na
diminuição do tempo de execução da pena, contudo, o presente trabalho se limitou a
analisar os requisitos e a forma de aplicação da remição da pena apenas por meio do
trabalho.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
um perdão de parte da condenação, este exige um esforço por parte do condenado para
ser alcançado.
O item 132 da Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal dispõe que:
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
compensados pelo trabalho são considerados como pena cumprida para a Lei de
Execução Penal.
Dos 67 (sessenta e sete) presos, 40 (quarenta) deles realizam trabalhos no local,
destinados à remição do seu tempo de pena, sendo distribuídos da seguinte forma:
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
realizada pela Prefeitura Municipal, no valor de 01 (um) salário mínimo, do qual, 1/3
era enviado à família do preso, 1/3 era destinado à compra de suprimentos para o
próprio reeducando que lhe eram fornecidos na cadeia e o outro 1/3 era depositado em
uma conta, que tinha como titular o próprio preso, a fim de que este tivesse um suporte
financeiro para sua ressocialização após a conquista de sua liberdade ou progressão de
regime. Antes da suspensão das atividades extramuros, 03 (três) presos do
estabelecimento prisional se encontravam integrando esse convênio com a prefeitura do
município de Vila Rica/MT.
No final de todo mês os presos assinam as planilhas que constam os dias e
horas trabalhadas, as quais são encaminhadas ao Ministério Público, acompanhadas de
relatórios de comportamento, para análise e posterior homologação dos dias remidos
pelo Juízo da Comarca.
Os presos que realizam trabalhos no local, tendem a ter um melhor
comportamento e em razão disso, o próprio sistema carcerário procura auxiliá-los em
seu processo de recuperação, dando-lhes um tratamento diferenciado dos demais presos
e reconhecendo a importância de suas atividades para o estabelecimento prisional,
sendo, também, uma forma de incentivo aos outros detentos para também aderirem ao
trabalho ou melhorarem seu comportamento, eis que, ―só existem dois caminhos para a
ressocialização, o trabalho ou a religião‖ (Rivelino Pereira de Jesus, Diretor da Cadeia
Pública de Vila Rica/MT).
Caso algum dos presos que são beneficiados com instituto da remição da pena
pelo trabalho venha a apresentar um mal comportamento ou desobediência, seu direito
ao trabalho e consequentemente da remição, é suspenso, retornado após cessadas as más
condutas por parte do reeducando.
O principal objetivo dos servidores da Cadeia Pública é o de tentar elevar a
autoestima dos presos para auxiliá-los em seu processo de recuperação, e a remição
trata-se do principal incentivo para encorajá-los a trabalharem e se sentirem incluídos
nas relações sociais, mesmo que adstritas ao estabelecimento penal, já melhoram de
forma significativa a ansiedade e humor desses detentos.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
capacidade para 62 (sessenta e dois) presos, foi ampliada para 86 (oitenta e seis).
Atualmente essa capacidade de lotação está ainda maior, também em decorrência dos
trabalhos realizados pelos detentos.
Até a data da entrevista os presos da Cadeia Pública de Vila Rica/MT estavam
trabalhando na ampliação de algumas celas e da área administrativa do local, com o
objetivo de diminuir a insalubridade tanto para os servidores, quanto para os
reeducandos.
Esses são apenas alguns exemplos da contribuição dos trabalhos desenvolvidos
pelos detentos, que vai muito além do mero abatimento dos dias de cumprimento de
pena a título de remição, eis que, proporcionam ao reeducando uma oportunidade de
estarem inseridos em projetos desenvolvidos em parceria com entes públicos e com
representantes da comunidade, refletindo de forma significativa em sua autoestima,
desenvolvimento profissional e consequente ressocialização.
DO TRABALHO DE ARTESANATO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pôde ser observado nos capítulos acima, foi possível atingir todos os
objetivos propostos pelo presente trabalho de pesquisa, eis que, discorreu-se sobre os
principais elementos, características e requisitos de aplicação do instituto da remição da
pena pelo trabalho, bem como, a partir da entrevista realizada com o diretor da Cadeia
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
ser observado na figura 6, do item 2.3, há no citado estabelecimento uma sala de aula
que foi construída pelos próprios presos, na qual são ministradas aulas em alguns dias
da semana, pois atualmente os detentos estão tendo aulas pelo sistema híbrido, em
decorrência das medidas de restrições de contaminação da Covid-19.
Desta forma, uma importante linha de pesquisa que poderia complementar as
pesquisas já realizadas neste projeto, seria a análise da aplicação do instituto da remição
da pena pelo estudo na Cadeia Pública de Vila Rica/MT, pois, conforme as informações
apresentadas pelo diretor do local, o estudo é outra atividade que possui uma grande
aceitação pelos presos provisórios.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AVENA, Norberto. Execução Penal, 6ª Edição, São Paulo-SP, Editora Forense, p. 402,
2019;
BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF,
Palácio do Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em: 23 de jun. 2021;
tempo de execução da pena por estudo ou por trabalho. Brasília, DF, Palácio do
Planalto. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2011/lei/l12433.htm>. Acesso em: 25 de jun. de 2021;
OVIEDO, Julia. Cadeia Pública de Vila Rica é ampliada com 24 novas vagas. Sesp-
MT. Disponível em: < http://www.sesp.mt.gov.br/-/15668275-cadeia-publica-de-vila-
rica-e-ampliada-com-24-novas-vagas >. Acesso em: 01 de julho de 2021;
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
CAPÍTULO 3
Abtract: Criminality and violence are two obstacles to good human coexistence.
Throughout in the history some facts have led the human collective to reflect on what
punishment is, different from the grotesque actions used in periods of war, which the
world still fears and wishes they would not happen again. The American Convention on
Human Rights (ACHR), or Pact of San José, Costa Rica (1969), established basic
principles of civility and respect for the human person and, among many issues, the
Custody Hearing emerges as a civilizing milestone in the axis of the Penitentiaries
imposed on criminals or, before the fact, "custodians". In 1992, Brazil became a
signatory to the ACHR and the practice of the Hearing has been implemented in
Brazilian municipalities. In the present study, a bibliographical research was conducted
on the theme "Custody Hearing and Fundamental Rights" and data were also collected
from the Prison System, in the city of Porto Alegre do Norte/MT, on custody hearings
for the years 2017, 2018 and 2019. Analyzing these data, it was observed that the people
5Graduado em Direito pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT (2021). E-mail:
deusimarc505@gmail.com.
6 Mestre em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis, RJ. Professor de Crime e Sociedade,
Direito Penal e Direito Processual Penal da Faculdade de Miguel Pereira. Professor contrato temporário
na UNEMAT. E-mail: profandersonrocharodrigues@gmail.com.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
in custody are being presented in court, according to the law, and that those for whom
the resources of freedom do not fit are kept in prison, due to the criminal types or the
severity of these. Thus, this prison conforms to the requirements established both in
relation to the ACHR and the CNJ parameters.
INTRODUÇÃO
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
presos, sendo o único país onde as estatísticas continuam aumentando. Diante de tal
cenário, fica evidente a inversão da regra estabelecida no processo penal, onde as
presunções de culpabilidade sobressaem à culpabilidade sentenciada. Assim, a
persecução criminal é tida como elemento substancial na segurança pública para que a
sociedade sinta segura tanto da pressão da criminalidade quanto da possibilidade de
perda ou sufrágio dos direitos fundamentais.
Com a ratificação, pelo Congresso Nacional da Convenção Americana de
Direitos Humanos (CADH) – Decreto nº 678/1992 (BRASIL, 1992a) e pelo Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos – Decreto 592/19992 da Organização das
Nações Unidas – ONU (BRASIL, 1992b), constitui-se a qualquer preso a garantia de ser
conduzido, sem demora, à presença de um juiz. Este deverá analisar se a prisão foi legal
e se estão presentes os fundamentos para decretar a prisão preventiva ou, ainda, se a
pessoa deve ser solta, mediante fiança ou outras medidas cautelares, se necessárias.
Cabe salientar, ainda, o que preconiza o Art. 5º da Constituição Federal onde
―todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes‖. Este artigo,
da carta magna brasileira, também dispõe no Inciso LVII que ―ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória‖
(BRASIL, 1988).
Assim sendo, a Audiência de Custódia se apresenta como instituto garantidor
dos direitos fundamentais e da dignidade da pessoa humana. Assegurar o direito à
audiência de custódia, além de garantir as prerrogativas individuais respaldadas na
Constituição, é uma maneira eficiente de diminuir o avolumado número de detentos e,
por conseguinte, desarticular o recrutamento das organizações criminosas.
Com a implantação da Audiência de Custódia pelo Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), Resolução 213/2015 (BRASIL, 2015) determina-se que ―toda pessoa presa em
flagrante delito, independentemente da motivação ou natureza do ato, seja apresentada
em até 24 horas da comunicação do flagrante, à autoridade judicial competente‖. A
CADH atribui que a Audiência de Custódia seja realizada por autoridade competente
que detenha poderes legais, ou seja, um juiz ou tribunal competente, independente e
imparcial. Dentre as finalidades da audiência de custódia destaca-se a tentativa de evitar
prisões ilegais e desnecessárias, além da premissa de garantir os direitos fundamentais e
a integridade do acusado (CORREIA JÚNIOR, 2020).
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
fisicamente, ou daquele que melhor conseguisse gerir o grupo, por arguições que
apelassem para o imaginário ou fictício (HARARI, 2017).
Em posse desta convivência coordenada por algum ou por alguns membros,
além da necessidade de ressoar a justiça para todos, muitos códigos foram
desenvolvidos ao longo da história. Desde os primórdios, a humanidade tenta trazer os
fatos e as justificativas a fim de deliberar se haverá, ou não, castigo ao acusado. Um
exemplo histórico é o código de Hamurabi (1800 a. C.), um conjunto de leis para
controlar e organizar a sociedade que foi baseado nas Leis do Talião (―Olho por olho,
dente por dente‖) (BOUZON, 1980).
Neste código as 282 leis dispostas continham normas e penalidades para os fatos
que costumam ocorrer diariamente na vida dos cidadãos. Além disso, De Paula (1963, p.
269) ressalva que o Código de Hamurabi ―não é somente um monumento jurídico, mas
também é um documento literário de extremo valor, índice de um grande movimento
intelectual que culminou na tradução para o acadiano de um grande número de velhos
textos sumerianos‖. Em outras palavras, o Código de Hamurabi foi referência
consultada para pontuar outros códigos ou tratados legislativos.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
de execuções penais, com falta de decisões judiciais, existem presos que já cumpriam
suas penas sem passar pela Audiência de Custódia. Ademais, o autor salienta que o
número de juízes é insuficiente, ou por falta de verbas e ou por ineficientes meios de
seleção, cerceando o acusado do direito sagrado à liberdade.
Portanto, as várias modificações feitas na legislação Penal e Processual, para
ajuste constitucional, não foram capazes de modificar sua estrutura fundamental
autoritária e inquisitorial, por ser oriundas dos referidos diplomas. O que ao certo seria
resolvido por meio de uma reforma integral que viesse quebrar paradigmas do Estado
Democrático de Direito. Destaca-se que a Audiência de Custódia serve como um
indicador da promoção da garantia dos Direitos Fundamentais, tendo o cuidado de não
se banalizar em mero formalismo jurídico.
A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
dignidade da pessoa humana. Após as avaliações acerca dos delitos cometidos e das
circunstâncias são tomadas as decisões cabíveis pelo magistrado. Deste modo, quanto
maior o risco apresentado pelo acusado mais penosas deverão ser as cautelares a serem
estabelecidas.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
Percebeu-se que há uma variedade de tipos penais, sendo que dos 29 casos
registrados no ano de 2017 os tipos penais mais cometidos foram furto, violência contra
a mulher e homicídio (ou tentativa). Os tipos penais mais comuns em 2018 foram
Tráfico de drogas e condutas afins, homicídio qualificado, estupro e violência contra a
mulher. Verificou-se, no ano de 2019, que dentre os tipos penais cometidos, destacam-se
a violência contra a mulher com nove casos, onde apenas um foi favorecido com
Liberdade provisória com medidas cautelares. Ainda em 2019, foram registrados casos
de estupro de vulnerável, furto ou furto qualificado, crimes de trânsito e tráfico de
drogas ou condutas afins.
Fechando a avaliação das Audiências de Custódia verificou-se que no ano de
2017 a prisão foi mantida em 17 casos (58%), em 29 casos (93%) em 2018, e em 40
casos (73%) em 2019. Sabe-se que não são todos os prisioneiros que, aguardando
julgamento ou cumprindo pena, permanecem na Cadeia Pública, pois acontecem
transferências para outras instituições. Ainda assim, somando-se as prisões mantidas ou
convertidas de 2017 a 2019, foram 84 audiências convertidas em prisão nos termos da
Lei.
Sobre as instalações carcerárias, no Relatório Mensal do Cadastro Nacional de
Inspeções nos Estabelecimentos Penais (CNIEP) de 05 de maio de 2021, o Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) realizou a inspeção da Cadeia Pública de Porto Alegre do
Norte constatando que ela está em pleno funcionamento. A referida unidade prisional
conta com 14 agentes penitenciários e 4 computadores para uso administrativo com
acesso à internet. Não há pessoal terceirizado trabalhando na unidade, sendo todos os
envolvidos agentes do Estado de Mato Grosso. Certificou-se que o estabelecimento
destinado a presos do sexo masculino, provisórios ou no cumprimento de pena no
regime fechado (CNJ, 2021).
Acerca dos quantitativos, verificou-se na inspeção que a lotação atual da Cadeia
comporta 55 presos. A cadeia tem capacidade projetada para 66 presos, sendo 8 celas
com proteção. Atualmente são oferecidas 4 vagas para trabalho interno e 26 vagas para
estudo na unidade. Na data da Inspeção verificou-se o quantitativo de 54 presos
provisórios e 12 cumprindo pena em regime fechado. Quanto à situação dos presos no
estabelecimento, há 4 presos em regime semiaberto trabalhando internamente nas
demandas da cadeia e 22 presos estão estudando. Avaliando-se a estrutura
complementar da Cadeia, verificou-se que a seguridade pessoal dos presos vem sendo
mantida.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho versou sobre o direito que a pessoa presa tem de ser apresentada
em juízo visando respaldar o que preconiza a Convenção Americana de Direitos
Humanos (CADH). Para além das questões jurídicas elaboradas sobre o tema, o
presente estudo constatou que na comarca estudada (Porto Alegre do Norte/MT) os
custodiados foram apresentados em juízo como estabelece a Lei.
Nos anos de 2017, 2018 e 2019 foram realizadas, respectivamente, 29, 31 e 55
Audiências de Custódia, seguindo o pressuposto no Art. 310 do Código de Processo
Penal (CPP), onde após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até
24 horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com
a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o
membro do Ministério Público. Deste total de audiências (105), 80% dos casos autuados
foram mantidos ou convertidos em prisão preventiva em virtudes dos tipos penas bem
como dos agravantes.
Também foi averiguado junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os dados
das inspeções nos estabelecimentos penais no Relatório Mensal do Cadastro Nacional
de Inspeções nos Estabelecimentos Penais (CNIEP) de maio de 2021. Nestes, verificou-
se que a Cadeia Pública de Porto Alegre do Norte atende as solicitações em todas as
etapas da inspeção realizada.
REFERÊNCIAS
41
Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
<https://abres.org.br/wp;content/uploads/2019/11/declaracao_universal_dos_direitos_hu
manos_de_10_12_1948.pdf >. Acesso aos 18 de novembro de 2020.
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de descumprimento de preceito fundamental 347 Distrito Federal (ADPF 347 MC /
DF). Súmulas. Relator: Ministro Marco Aurélio. Pesquisa de Jurisprudência, Acórdãos,
09 de setembro de 2015.
42
Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
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LIMA, Cezar Bueno de Lima; FOGAÇA, Maurício Luciano; CRUZ, Antônio Carlos. A
audiência de custódia como forma de aplicabilidade e efetividade dos direitos
humanos no Brasil. RIDH, Bauru/SP, v. 7, n. 1, p. 263-277, 2019.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
CAPÍTULO 4
Abstract: The purpose of this paper is to analyze compliance with a criminal conviction
from the second instance under the perspective of the Principle of Innocence (or non-
guilt) provided for in article 5, LVII of the Federal Constitution of 1988, which
guarantees that ―Nobody will be considered guilty until the final and unappealable
sentence of the criminal sentence‖, and its consequences for society, the legal and prison
system. To this end, legal institutes such as provisional arrest and penalty will be
addressed, along with the principle of due process, which is considered by many
44
Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
thinkers the most important of constitutional principles, deriving from it all the others,
as it ensures everyone the right to a fair process, in which the principles of contradictory
and broad defense are contemplated, ensuring due legal certainty. At the same time, this
research is responsible for examining whether, by violating the principle of the
presumption of innocence, the penal system will further contribute to the stigmatization
and imprisonment of blacks and poor people in Brazil, violating the most basic human
rights such as equality and freedom.
INTRODUÇÃO
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
Desde o período colonial, e ainda antes, com a chegada dos europeus em terras
brasileiras, percebe-se uma nítida diferença de tratamento entre o ―filho de algo, ou
fidalgo‖, o indígena e o afrodescendente, diferença que se perpetua ao longo dos
séculos, aumentando o abismo criado através de uma equivocada visão de superioridade
hegemônica do europeu branco e ―civilizado‖ em detrimento da população nativa, dos
negros trazidos para serem escravizados e, posteriormente, os ―mestiços‖ decorrentes da
miscigenação étnica.
Com a evolução de tal entendimento surgiu e se alicerçou a sociedade
brasileira, onde existem dois ―brasis‖: o país Brasil dos ricos e poderosos nascidos sob a
égide da proteção do rei com a divisão de terras pelas capitanias hereditárias, e o Brasil
de uma enorme massa de indivíduos que foram sendo empurrados para a margem de um
sistema de concentração de recursos e riquezas, em que obviamente não poderiam fazer
parte, já que a concentração exige uma menor proporção de indivíduos na partilha
dessas riquezas construídas à custa do suor, e não poucas vezes, do sangue daqueles que
não poderiam fazer parte da camada favorecida da sociedade que então se formava.
Neste cenário, o encarceramento se torna um dos mais eficientes meios de
dominação, haja vista que os presídios em um país que concentra a terceira maior
população carcerária do mundo, como o Brasil, que se posiciona atrás somente da China
e dos Estados Unidos da América, e que a maior parte dessa população carcerária se
caracteriza por afrodescendentes, e/ou mamelucos oriundos da mestiçagem entre
branco e índio, mulatos advindos de europeus e negros, e cafuzos que nascem da
mistura entre o negro e o índio.
Portanto, a partir da Constituição Federal de 1988 pretende-se analisar com
vistas à segurança jurídica, o que vem a representar em dignidade da pessoa humana o
cumprimento de pena a partir de condenação em segunda instância.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
contribuir para que tornasse melhor para todos, e não para delinquir como na maioria
das vezes acontece.
Outro agravante, em toda essa situação que por si só já é delicada e prejudicial
à toda a sociedade, é o cumprimento antecipado da pena, ou cumprimento antes do
trânsito em julgado. Sendo a prisão o último recurso a ser efetivado, deveria ser aplicada
apenas em condenados considerados de alta periculosidade, que efetivamente poderiam
constituir grave ameaça à paz social e ao bem-estar dos cidadãos de tal modo que
justificaria o recolhimento à cárceres tão desumanizantes como os do Brasil. Assim
sendo, faz-se necessário observar a previsão das prisões precautelares e cautelares, que
resultam da necessidade de garantia das ordens pública e/ou econômica, como também
pela conveniência da instrução criminal ou ainda com o fim de assegurar a aplicação da
lei penal.
Isso se houver prova da existência do crime concomitante ao indício de autoria,
de acordo com o artigo 312 do Código de Processo Penal. Ou seja, após o
reconhecimento de todas essas premissas, ainda há de se considerar se houve realmente
o crime e se os indícios de autoria são robustos e inequívocos, para que seja dado início
ao rito procedimental para apuração dos fatos e posterior prolação de sentença, sempre
respeitando o devido processo legal.
Desse modo, cumprir pena antecipadamente constitui uma violência
extremada, podendo se constituir em uma medida irreparável caso o acusado seja
inocentado ao fim do processo, porque ao ser preso o acusado é afastado da família,
perde o emprego, deixa de estudar e ao ter seu direito fundamental à liberdade suspenso,
perde junto a dignidade ao ser recolhido em cela superlotada, passando a conviver com
presos de alta periculosidade, que muitas vezes são membros de organizações
criminosas que não perdem tempo e captá-los para suas facções.
Quando no final do processo esse acusado é inocentado por haver cometido um
delito leve, o que fazer com o tempo em que esteve preso cumprindo antecipadamente
uma pena mais grave do que o crime cometido? Um crime em que a pena foi revertida
em prestação de serviços comunitários ou multa? Há casos em que a pena poderá ser
mais leve ainda e por meio de acordo feito como judiciário, como o tratamento da
dependência química por exemplo, o acusado tem sua liberdade restituída? Qual seria a
reparação dos danos físicos e psicológicos causados pelo confinamento em condições
sub-humanas? De que forma o Estado responde a essa imperiosa necessidade de
reparação? E a sociedade como recebe de volta o cidadão que recebeu uma pena mais
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
Em artigo publicado no site Empório do Direito Rosa (et al, 2019) trazem o
seguinte entendimento sobre o endurecimento do Direito Penal:
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
vez mais pessoas são levadas ao encarceramento com a finalidade de coibir as ações
delituosas, mas parece que quanto mais se endurece o sistema penal, mais infrações,
delitos e crimes são praticados, o que deveria levantar questionamentos tanto entre os
que criam as leis, quanto os que as executam.
Tais práticas utilizadas pelo estado para encarceramento não promove a
condição de um ser humano melhor, desde a Idade Média, período em que os crimes
eram punidos por meio de castigos contra o próprio corpo de quem os praticasse, em
espetáculo público e de uma crueldade inigualável, que os seres humanos vêm
cometendo os mais diversos crimes, e tais ―espetáculos‖ para nada serviram, a não ser
para formar uma sociedade aterrorizada e embrutecida.
O que a história tem demonstrado é que ao contrário desse punitivismo
descabido, a criação de políticas públicas de efetivação de direitos fundamentais, como
alimentação adequada, moradia, saúde e educação de qualidade, é altamente eficaz na
diminuição de crimes, basicamente, porque atuam como preventivos, ou seja, inibe o
surgimento ao invés de punir os indivíduos, proporcionando a eles condições de
viverem com dignidade e mais ainda, de desenvolverem seu potencial desde a infância.
As recessões de direitos fundamentais, além de causarem insegurança jurídica,
contribuem para o aumento de conflitos, pois como já dito anteriormente, abarrota um
sistema prisional inchado, permeado de problemas que são considerados básicos como
espaço adequado e alimentação saudável, além da oferta de atividade laboral que se bem
implementados, contribuiriam para a remição de penas e ressocialização dos presos,
mas ao contrário do que seria lógico, ou seja devolver o cidadão à sociedade em
condições de participar ativa e positivamente para seu crescimento e evolução, o que se
vê são estabelecimentos prisionais com um número de detentos e presos absurdamente
acima de suas capacidades, e o mais grave é que as estatísticas comprovam a teoria da
seletividade defendida por muitos pensadores do sistema jurídico brasileiro, como
Leonardo Schmitt de Bem e João Paulo Martinelli (2020, p. 55) ―na realidade social,
porém, esse sistema, não obstante comum, não opera de forma uniforme, pois o
destinatário das leis penais ou as pessoas submetidas ao sistema penal – os condenados,
em linguagem simples – pertencem aos níveis sociais de menores recursos‖.
A teoria da seletividade defende que o Estado por meio do sistema judiciário
criminal seleciona quem será punido com mais rigor, aqueles que serão condenados a
penas restritivas de liberdade, quais sejam, os pobres e negros e com baixo nível de
educação formal, que são maioria no sistema carcerário brasileiro.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
[...] não se pode ignorar que ainda ocorre uma atuação seletiva em vários
níveis, pois as diversas formas de criminalidade não são perseguidas de modo
similar. As raras prisões de pessoas com projeção social elevada,
especialmente derivadas de colaborações premiadas, não alteram a realidade
de ser o pobre o hóspede do cárcere e nele se encontrar, em diversas
situações, confinado provisoriamente pela prática de condutas insignificantes.
O Estado ao não dar conta das demandas sociais que são inúmeras devido ao
não atendimento das necessidades de enorme parcela da população, justamente
desassistida por conta dessa política de exclusão onde impera o vício dos favores e dos
acordos com o fim de promover o benefício de alguns, em detrimento de muitos
outros, reforça o modus operandi de encarcerar e assim os problemas sociais se agravam
de maneira insustentável, e seguindo essa lógica cruel e racista entende-se que ao
encarcerar, tem-se o problema solucionado, já que o que não está visível, incomoda
menos.
Contudo, não é o que as estatísticas demonstram, pelo contrário o índice de
violência e criminalidade é elevado nos parecendo que quanto mais injustiças são
cometidas contra os cidadãos, mais problemas ―brotam‖ dessa mesma sociedade, e os
oriundos desse sistema perverso criminal voltam ao convívio social ―graduados‖ no
crime, mais revoltados e embrutecidos, tudo isso fruto dessa seletividade injusta, cruel e
desumana.
Salo de Carvalho (2015, p. 624) afirma que:
Rosa Del Olmo, em sua obra A América Latina e sua Criminologia (2004, p.
175), demonstra que os índios e negros foram os primeiros criminosos em terras
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
[...] embora o racismo seja uma ideologia das elites brasileiras, porque é
funcional à dominação que exercem, ao rearticular e redimensionar inúmeros
processos culturais e materiais, expande-se para os demais grupos sociais e se
materializa em um número ilimitado de relações de dominação.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARTINELLI, João Paulo Orsini. Direito penal parte geral: lições fundamentais /
João Paulo Orsini Martinelli, Leonardo Schmitti de Bem. - 5. ed. – Belo Horizonte, São
Paulo: D‘Plácido, 2020. 1354 p.
ONU. (DUDH) Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Organização das
Nações Unidas promulgada em 10 de dezembro de 1948:
Fonte: Agência Senado. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2018/12. Acesso: 05 de mar. 2021.
ROSA, Marcela Araújo; Stephannye de Pinho Arcanjo. O endurecimento de pena e
sua inefetividade: o caminho inverso e ineficiente do pacote anticrime.
Revista Consultor Jurídico, 17 de maio de 2020, 7h02. Disponível
em: https://www.flickr.com/photos/pamwood707/5646757752.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
CAPÍTULO 5
Resumo: O presente trabalho trata-se de uma análise crítica à luz da Lei Maria da
Penha e sua abordagem punitivista no sistema judicial criminal, ainda discute as
possíveis causas que levam a violência doméstica e a contribuição que a Lei Maria da
Penha acarretou no cenário jurídico brasileiro. Desse modo tem-se como problemática
de pesquisa o seguinte questionamento: A aplicabilidade da Lei Maria da Penha tem
sido satisfatória para sanar os casos de violência no Brasil? O objetivo dessa pesquisa é
dialogar teoricamente sobre as possíveis causas da violência doméstica no ambiente
familiar e as implicações da Lei Maria da Penha no cenário brasileiro. Entende-se que a
violência doméstica é considerada nos dias atuais um fenômeno social que cruzam
problemas da esfera política, social, cultural, da economia, da moral, do direito, da
psicologia, das relações humanas e institucionais, e do plano individual. Verifica-se que
a violência doméstica é um problema cuja prevenção tem que atuar, em primeiro lugar
na sensibilização e no avanço da consciência social.
Abstract: The present work is a critical analysis in light of the Maria da Penha Law and
its punitive approach in the criminal justice system, it also discusses the possible causes
that lead to domestic violence and the contribution that the Maria da Penha Law brought
to the Brazilian legal scene. Thus, the following question is the research problem: Has
the applicability of the Maria da Penha Law been satisfactory to remedy cases of
violence in Brazil? The objective of this research is to theoretically dialogue about the
possible causes of domestic violence in the family environment and the implications of
the Maria da Penha Law in the Brazilian scenario. It is understood that domestic
violence is currently considered a social phenomenon that crosses problems in the
political, social, cultural, economic, moral, law, psychology, human and institutional
relations, and individual spheres. It appears that domestic violence is a problem whose
prevention has to act, in the first place, in raising awareness and in advancing social
awareness.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
INTRODUÇÃO
Considerando que a violência doméstica tem sido uma parte trágica na história
da humanidade, a qual faz parte da vida de muitos indivíduos e inserida no seio familiar,
discutir essa temática no ambiente da academia é uma possibilidade de inquietação com
todos esses atos de violência que cercam as famílias brasileiras. No Brasil, foi
promulgada a Lei 11.340/2006, a qual trata da violência doméstica, e é a partir dela que
discutimos os direitos adquiridos às mulheres.
Ao visualizar o cenário da violência doméstica através dos noticiários
televisivos em nível nacional, das conversas informais com a comunidade de Vila Rica-
MT, esses elementos me permitiram ter consciência da urgência que se faz em trazer
esse debate para o seio acadêmico. As indagações que nortearam o desenvolvimento do
trabalho foram: Como poderemos contribuir, com a reflexão sobre essa problemática
social? Quem são os sujeitos inseridos nesse fenômeno social? Quais são as causas que
desencadeiam esse processo violento? Onde a hipótese era a de que: É cogente e
imperioso que as autoridades públicas saiam da inércia e busquem alternativas para
sanar essa ―úlcera‖ que se estende em todo o sistema familiar brasileiro.
A desigualdade de gênero como um problema macro abrange a violência
doméstica, a qual é tida como um dos principais obstáculos para a garantia dos direitos
humanos e as liberdades fundamentais das mulheres. Uma nítida relação desigual de
gênero que perpetuaram à naturalização dessas violências, e consequentemente a
impunidade de seus agressores, e ainda como esse tema era silenciado com a falta de
discussão pública do fenômeno.
A estruturação desta pesquisa se configura em duas etapas: Na primeira
apresenta-se o resultado de uma pesquisa bibliográfica que teve como objetivo
compreender o aspecto conceitual, o processo histórico de estigmatização feminina e a
importância dos direitos fundamentais, das ações afirmativas e dos Tratados
Internacionais na luta de igualdade de direitos preconizados na Constituição Federal que
reza: ―Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações‖. Já a segunda etapa traz
uma abordagem da Lei Maria da Penha e quais foram às implicações no sistema
judiciário brasileiro, nos seus aspectos gerais e práticos e quais as inovações que essa lei
foi adquirindo nos últimos tempos.
A presente pesquisa é de cunho descritivo, uma vez que objetiva de forma
primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em
direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; (BRASIL, 1988, Art. 5,
I).
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
À luz da concepção de Perin é possível afirmar que é nessa essa dualidade que se
configura o reconhecimento dos direitos sociais, os quais passam a serem notados e a
história do pesar da mulher vem aos poucos ganhando outras nuances, sendo essas de
esperança de tempos melhores, os quais podem definitivamente exigir novos
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
60
Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
preso em setembro de 2002, e posto em regime aberto, retornando para o Estado do Rio
Grande do Norte.
É de suma importância frisar que à época que foi perpetrado o crime, no ano de
1983, ainda não entrará em vigor a Lei 8.930/1994, a qual classifica o homicídio
qualificado como crime hediondo, sendo o fator de permissão a progressão do regime
aberto ao apenado.
Maria da Penha expôs a sua história a toda sociedade, como forma de
contribuir com transformações pelos direitos das mulheres a uma vida sem violação dos
seus direitos fundamentais, seu caso se tornou litígio emblemático internacional para o
acesso à Justiça e para a luta contra a impunidade em relação à violência doméstica
contra as mulheres no Brasil e no mundo. O caso em tela chegou ao conhecimento da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da organização dos Estados
Unidos em 20 de agosto do ano de 1998 denunciado pela própria Maria da Penha. Essa
provocação resultou na confecção de um Relatório 54/2001, o qual foi publicado em 16
de abril de 2001 e abriu espaço devido à repercussão internacional aos debates sobre o
tema e após cinco anos com o advento da Lei Maria da Penha.
Vale ressaltar para fechamento do caso que na época do relatório a situação
jurídica relativa ao processo ainda não estava definida, eis que o autor somente foi preso
em setembro de 2002 e pela inércia da justiça brasileira o teor do relatório se tornou
público e ficou preso apenas dois anos e hoje cumpre a pena em liberdade.
Dentre as deliberações tomadas pela Comissão Internacional dos Direitos
Humanos, teve-se o pagamento de uma indenização de 20 mil dólares em favor da
Maria da Penha, em decorrência do dano sofrido. Após 25 anos de espera ela recebe do
estado do Ceará uma indenização no valor de 60 mil reais.
Maria da Penha se tornou uma militante na defesa dos direitos das mulheres
coordenando em 2006 a Associação dos Parentes e Amigos da Violência Doméstica
(APAVV) em Fortaleza/CE, e ainda relata em um discurso cedido ao G1 que é
impossível calcular o prejuízo causado pelo tiro disparado pelo ex-marido.
A Lei Maria da Penha 11.340/2006 incorpora ao ordenamento jurídico e cria
mecanismos de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Nesse caso a
ofendida passa a contar com esse precioso estatuto de caráter repressivo, mas, sobretudo
preventivo e assistencial.
Com base na jurisprudência para configurar violência doméstica não há a
necessidade que as partes sejam marido e mulher, nem que estejam ou tenham sido
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
casados, uma vez que a união estável se encontra sob o manto protetivo da lei. A
violência doméstica é definida como:
Admite se ainda que o sujeito ativo seja tanto homem quanto mulher, bastando
a existência da relação familiar ou afetividade, nesse caso o gênero do agressor não tem
importância. Já o sujeito passivo abarcado pela lei, exige uma qualidade especial: ser
mulher, seja as lésbicas, os transgêneros, as transexuais, as travestis desde que tenham
identidade com o sexo feminino.
No pólo passivo não são apenas as esposas, companheiras, namoradas ou
amantes que estão no âmbito de abrangência do delito de violência doméstica destaca-se
as filhas, netas do agressor, bem como, a mãe, sogra, avó ou qualquer outra parente que
mantém vínculo familiar e podem integrar o pólo passivo da ação delituosa. (TJM, HC
1.0000.09.513119-9/000, j.24.02.2010, rel. Júlio Cezar Gutierrez). A lei ainda prevê
uma majorante ao crime de lesão corporal em sede de violência doméstica conforme
cita (CP, art.129, § 11): ―se o crime for cometido contra pessoa portadora de
deficiência‖, seja qual for o sexo do deficiente físico, a pena de seu agressor é dilatada.
Segundo Rogério Sanches e Ronaldo Batista (2008), a constitucionalidade da
lei foi questionada ―num primeiro momento por parecer discriminatório e tratar a
mulher como ―eterno‖ sexo frágil, deixando o homem desprotegido, presumidamente
impotente‖, porém a tese da inconstitucionalidade não foi aceita nos Tribunais, mesmo
antes da decisão da paradigmática decisão do Supremo Tribunal Federal art.41, item 6
onde analisa-se a decisão do STF a respeito da constitucionalidade de vários
dispositivos legais da Lei Maria da Penha. Essa jurisprudência relata sobre a
constitucionalidade da lei12.
Compreende-se que a lei nasce de uma desvantagem da condição de ser
mulher, condição física e ao mesmo tempo de livrá-las de uma cultura patriarcal e
machista arraigada há séculos na cultura do povo brasileiro. Assim como seu teor não é
perfeito, assim como as outras leis, porém apresenta uma estrutura adequada a fim de
12 TJSP. Conflito de jurisdição 150.521-0/8. Rel. Maria Olívia Alves, j. 08.10.2007. Disponível em:
<http://www.tj.sp.gov.br/>. Acesso em: 20 abr. 2010.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
À luz do §3º no que diz respeito à violência sexual a vítima dessa situação tem
direito a assistência e acesso aos benefícios e procedimentos médicos necessários para
prevenção da vida. Ainda temos como avanços garantidos na Lei, a obrigatoriedade de:
§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou
psicológica e dano moral ou patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir
todos os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS),
de acordo com a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde prestados
para o total tratamento das vítimas em situação de violência doméstica e
familiar, recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do ente
federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem os serviços.(Vide
Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência)
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NETTO, José Paulo. Crise do socialismo e ofensiva neoliberal. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 1995.
PENHA, Maria da. Antes de tudo, uma forte. Entrevista concedida à revista Leis e
Letras, n. 6, ano II, p. 20-24, Fortaleza, 2007.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
CAPÍTULO 6
Abstract: Faced with the Covid-19 pandemic scenario, the world entered a totally
peculiar context. Added to the fear and insecurity of contagion with the new virus, we
are faced with an alarming situation. Circulation restriction measures adopted by
countries around the world have further aggravated the situation of domestic violence
against women. In Brazil, the number of deaths of women has increased dramatically,
but the decrease in reports of violence has caused a false sense of legal normality. In
13 Graduada em Direito pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), e-mail:
cavalcantebatistaa@gmail.com.
14 Doutorando Doutorando em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista CAPES
(2022), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES durante o período do mestrado (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal
(2017-2018), Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (2012-2016) -
Unidade de Naviraí/MS, pesquisador de Direito Penal, Processo Penal, Criminologia e Direito da Criança
e Adolescente. Associado ao Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), foi Coordenador do
Grupo de Pesquisa Novas Perspectivas do Direito Penal (2019-2021), e-mail:
amorimdireito.sete@hotmail.com.
15 Doutoranda em Saúde Coletiva no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade
de Brasília. Mestra em Bioética pelo Programa de Pós-Graduação em Bioética da Universidade de
Brasília (2020), e-mail: meiriany.lima@unemat.br.
16 Servidora na Universidade do Estado de Mato Grosso, Unidade de Vila Rica/MT.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
view of this, the Brazilian government, despite the scarcity of coping measures, created
a law to guarantee the care of victims of domestic violence during the Covid-19
pandemic, with the objective of minimizing the impacts of social isolation in the lives of
women victims of domestic violence. Important data sources, such as the Brazilian
Public Security Forum, through its Public Security Yearbook, provided data and, more
than that, alerted to the serious situation found in the context of domestic violence
against women in the country. This research seeks to analyze the coping measures
during the Covid-19 pandemic in relation to domestic violence against women in Brazil.
INTRODUÇÃO
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
Brasil atuarem nos postos de saúde por meio do Programa Mais Médicos. Em 13 de
março é regulamentado critérios de isolamento e quarentena aplicados em pacientes
com suspeita ou confirmação da doença. Nessa data também houve a cura do primeiro
paciente diagnosticado com coronavírus no Brasil.
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Pandemia é uma palavra de origem grega, formada pelo prefixo neutro pan e
demos, que significa povo, e foi usada pela primeira vez por Platão num sentido
genérico, referindo-se a qualquer acontecimento capaz de alcançar toda a população.
Galena também usou o termo pra se referir a doenças epidêmicas de grande difusão.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pandemia é a
―disseminação mundial de uma nova doença e o termo passa a ser usado quando
uma epidemia, surto que afeta uma região, se espalha por diferentes continentes
com transmissão sustentada de pessoa para pessoa‖18.
De acordo com esse conceito, pandemia pode ter como característica principal
a sua abrangência extensa, ou seja, que está presente na maioria dos países do mundo,
senão todos. Nesse sentido, a violência doméstica contra mulheres tem sido chamada de
―Pandemia das Sombras‖, isso porque no contexto do Covid-19, o aumento do número
de feminicídios em contra partida da diminuição do número de denúncias, faz com que
a vítima tenha enfrentado dificuldades ao buscar ajuda. Vemos então uma pandemia
crescente nas sombras da Covid-19, a da violência contra as mulheres. Além disso, essa
violência se tornou ainda mais silenciosa do que já era, progredindo sem ser
identificada.
É sabido que, antes do surgimento do Covid-19, a violência doméstica já era
uma das principais preocupações de violação de direitos humanos. Conforme dados da
ONU, ―nos 12 meses anteriores ao surgimento da COVID-19, aproximadamente 243
milhões de mulheres e meninas (de 15 a 49 anos) em todo o mundo foram submetidas à
violência sexual ou física por um parceiro íntimo‖ (ONU, 2020).
A pandemia do Covid-19 trouxe uma realidade nova a todos os países do
mundo, as medidas de quarentena e isolamento social foram adotadas com o objetivo de
diminuir a propagação da doença. Por outro lado, a situação das mulheres vítimas de
violência doméstica piorou diante desse cenário de confinamento, ao serem obrigadas a
permanecer dentro de suas residências juntamente com o agressor. Nesse aspecto, se
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
torna muito mais difícil acionar o sistema de proteção quando a vítima está o tempo
todo na presença do agressor. Somada a essa dificuldade está o fato de que ao sair de
casa, a vítima romperá com o isolamento, ficando vulnerável à doença, e também a
indisponibilidade dos serviços públicos causados pelo lockdown – medida adotada por
diversas cidades do país.
Outro ponto importante é que a violência doméstica não atinge somente suas
vítimas, mas também se configura como um problema de toda a sociedade em diversos
aspectos.
As agressões domésticas as mulheres atingem também os direitos de crianças e
adolescente, que convivem com essa situação dentro de seus lares. Não obstante,
também se trata de um impasse econômico, ao corresponder a um custo global de
aproximadamente 1,5 trilhão de dólares. Isso significa que essa violência não atinge
somente a vítima, apesar da mesma ser a principal preocupação, com todo sentido, para
todos que enfrentam a extinção da violência doméstica. Esse problema vai além,
traumatiza milhares de crianças, adolescentes e se torna um gasto desproporcional aos
cofres públicos. A tendência desse número é aumentar agora e continuar após a
pandemia. Assim, reduzir a violência doméstica contra as mulheres também é um
investimento em estabilidade econômica.
Nesse sentido, Gisele Meneses do Vale e Júlia Sousa (2020, p. 3), em seu artigo
―A pandemia das sombras: como o período de quarentena pode intensificar a violência
doméstica?‖, destacam:
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O histórico das dificuldades com que as mulheres lidam nos remonta desde a
centenas de anos atrás. Desde a origem das sociedades o papel de inferioridade das
mulheres predomina diante de um mundo praticamente machista. As mulheres sempre
foram destinadas as tarefas domésticas e cuidado com os filhos e, desde o início, o que
predominava na civilização é o patriarcado, onde o homem desempenha o papel de
chefe da família e sujeito de direitos na sociedade.
No Brasil, desde seu descobrimento, não foi diferente. O Brasil Colônia,
passando para o Império e chegando na República, as mulheres não tinham direitos
diante da sociedade. Além de estarem restritas as tarefas domésticas, sofriam abusos e
violências, mas não possuíam o direito de justiça diante da situação. Além disso, o
pouco que se tinha na época de regulamentação de direitos, como a Ordenação das
Filipinas, dispunha da mulher como sujeito incapaz de raciocinar, desprovida de
discernimento. Nesse contexto, as mulheres eram vistas como objeto do seu marido, e
era permitido até seu assassinato em alguns casos.
Conforme os anos foram passando, já no século XIX, após muitas lutas e
movimentos feministas, as mulheres alcançaram alguns direitos, como o direito ao
estudo, a escrita e posteriormente, ao voto. O sufrágio, embora inicialmente tímido, fez
com que as mulheres alcançassem a igualdade de votar, de ser considerada igual aos
homens nesse sentido, apesar de que a possibilidade de ser votada se fez muitos anos
depois.
Após a Constituição de 1988, que garantiu a igualdade de direitos as mulheres,
somente em 2006 foi criada uma lei específica para tratar dos casos de violência
doméstica contra as mulheres, é a Lei nº 11.340/2006, mais conhecida como ―Lei Maria
da Penha‖.
A preocupação com o combate à violência contra a mulher e, sobretudo, sua
criminalização e o suporte jurídico-estatal às vítimas são fenômenos recentes
(WAISELFISZ, 2015).
A Lei Maria da Penha trouxe mais efetividade ao processo nos crimes de
violência doméstica contra mulheres, mas além disso, dotou de mecanismos para
proteger a mulher e romper com o ciclo de violência. Embora muitos desafios tenham
sido enfrentados, tanto na aceitação quanto na aplicação da lei, suas medidas vem
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fernandes, Valéria Diez Scarance Lei Maria da Penha: o processo penal no caminho
da efetividade: abordagem jurídica e multidisciplinar (inclui Lei de Feminicídio) /
Valéria Diez Scarance Fernandes – São Paulo: Atlas, 2015
A violência doméstica e a cultura da paz / organização Maria Rita D‘Ângelo Seixas,
Maria Luiza Dias. - 1. ed. - São Paulo: Santos, 2013.
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CAPÍTULO 7
Abstract: This work proposes a dialogue about the law of abuse of authority,
considering the importance of the discussion in the field of law. The objective was to
analyze the elements of Law 13,869/2019, observing the possible conflicts between it
and the Federal Constitution. Understand the point of view presented by different jurists
about the LAA and analyze whether the legal provision violates constitutional
principles. For this, the research was based on the qualitative approach, that is, unlike
the quantitative approach, this one does not employ statistical data. This work was
based on the deductive method, transforming complex statements into particulars. An
exploratory research was carried out, allowing for a better deepening of the theme. For
this purpose, bibliographical research was used, whose data will be analyzed from the
19 Graduada em Direito pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT).
20 Graduado em Direito pela Universidade Estácio de Sá, Especialização em Ciências Criminais pela
PUC/MG e Mestrado em DIREITO pela Universidade Católica de Petrópolis (2017). Atua como
professor nas seguintes instituições: Faculdade de Miguel Pereira (FAMIPE), nas matérias de Crime e
Sociedade, Direito Penal e Direito Processual Penal e no Curso Preparatório às Escolas Militares -
CPREM - CONCURSOADM. Atuou na Universidade do Estado de Mato Grosso, nas matérias de Direito
Penal, Direito Constitucional e Direito Administrativo em Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino
- IESDE BRASIL S/A e foi conciliador no Fórum Regional de Bangu/RJ (2020/2021).
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exploratory research, that is, it will describe what the authors or specialists write about
the subject and, from there, establish a series of correlations for, at the end, express a
conclusive thought about the subject. At first, the historical context involving the
understandings about the law over the years will be exposed. Below, there will be
specific concepts and clarifications on the constitutionality of the LAA. Relevant
thinking of some jurists about the LAA and their position with the analysis of the
legislation will also be demonstrated. Ending the dissertation effort, the main points
discussed here were presented. It is noteworthy that the intention is not to exhaust the
matter referring to the subject discussed, but rather to stimulate debate and reflections so
that progress can be started in the social and legal spheres.
INTRODUÇÃO
A lei penal deve ser clara e precisa, de forma que o destinatário da lei possa
compreendê-la, sendo vedada, portanto, com base em tal princípio, a criação
de tipos que contenham conceitos vagos e imprecisos. A lei deve ser, por isso,
taxativa. Implica a máxima determinação e taxatividade dos tipos penais,
impondo-se ao Poder Legislativo, na elaboração das leis, que redija tipos
penais com a máxima precisão de seus elementos. Exemplos de tais conceitos
vagos ou imprecisos seriam encontrados naqueles tipos penais que
contivessem em seu preceito primário a seguinte redação: ―São proibidas
quaisquer condutas que atentem contra o interesse da pátria‖. O que isso
significa realmente? Quais são essas condutas que atentam contra o interesse
da pátria? O agente tem de saber exatamente qual a conduta que está proibido
de praticar, não devendo ficar, assim, nas mãos do intérprete, que dependendo
do momento político pode, ao seu talante, alargar a sua abrangência, de modo
a abarcar todas as condutas que sejam de seu exclusivo interesse (nullum
crimen nulla poena sine lege certa), como já aconteceu na história do Direito
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Já neste texto, o advogado criminalista Antônio Ruiz Filho afirma que a nova
legislação expressa nada menos que a "vontade popular", "não devendo, por isso
mesmo, ser objetada por veto presidencial embasado no mérito".
O risco em que incorre a nova lei é não ser suficiente para aplacar tantos
desmandos que cotidianamente vilipendiam o direito das pessoas pelo abuso
de agentes públicos displicentes ou imbuídos do exercício desmedido dos
poderes de que são investidos em nome do Estado para agir em prol da
sociedade, e nunca contra os cidadãos. (RUIZ, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo realizado por meio do presente trabalho teve como temática a análise
da nova Lei de Abuso de Autoridade, embasando-se em debates atuais a partir do viés
jurídico. A LAA entrou em vigor em janeiro de 2020, especificando ações consideradas
abuso de autoridade, prevendo punições para quem as violarem.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JUNIOR, Joaquim Leitão; OLIVEIRA, Marcel Gomes de. A Nova Lei de Abuso de
Autoridade. Rio de Janeiro, 2020. Editora Brasport.
LESSA, Marcelo de Lima. O dolo específico dos crimes da nova lei de abuso de
autoridade. Revista Jus Navigandi, 2019. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/76366/odolo-específico-dos-crimes-da-nova-lei-de-abuso-de-
autoridade. Acesso em: 29 fev. 2020.
LESSA, Marcelo de Lima; MORAES, Rafael Francisco Marcondes de. A nova lei de
abuso de autoridade entra em vigor e reforça devida investigação legal. Jus.com.br,
2020. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/78764/a-nova-lei-de-abuso-de-
autoridade-entra-emvigor-e-reforca-devida-investigacaolegal#:~:text=Breves
%20considera%C3%A7%C3%B5es%20sobre%20a%20entrada,atividad e%20persecut
%C3%B3ria%20da%20pol%C3%ADcia%20judici%C3%A1ria.&text=A%20n ova
%20Lei%20de%20Abuso%20revoga%20a%20Lei%204.898%2F65,%2C
%20%C2%A72 %C2%BA%20e%20350). Acesso em: 05 maio 2021.
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CAPÍTULO 8
Abstract: This article discusses the possibility that the investigation process of crimes
committed against sexual dignity needs to be modified, in view of the victim's
revictimization process in the course of investigations and also in criminal proceedings.
In modern society, where genders occupy fundamental spaces in social construction,
there is an abyss between social and cultural differences about the body, which makes
victims of crimes against sexual dignity, usually women, vulnerable in the procedure
investigative. Given the above, the question is, is it possible for crimes against sexual
dignity to have a humanized investigation process? The answer to this research problem
will be based on the hypothetical deductive, inductive method of bibliographic and
documentary research.
21 Graduado em Direito pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Agente de Polícia
Civil na Polícia Civil do Estado de Mato Grosso, e-mail: edenir@direitovr.com.br.
22 Doutorando Doutorando em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista CAPES
(2022), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES durante o período do mestrado (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal
(2017-2018), Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (2012-2016) -
Unidade de Naviraí/MS, pesquisador de Direito Penal, Processo Penal, Criminologia e Direito da Criança
e Adolescente. Associado ao Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), foi Coordenador do
Grupo de Pesquisa Novas Perspectivas do Direito Penal (2019-2021), e-mail:
amorimdireito.sete@hotmail.com.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
INTRODUÇÃO
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
nas agendas ligadas a defesa de minorias, não se admitindo mais qualquer tipo de
discriminação, seja por cor, raça, credo ou orientação sexual. As pessoas hoje são mais
livres para se expressar em sua plenitude sem que tenha sua liberdade tolhida pelo
preconceito que outrora dominava a nossa sociedade.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
A lei passou a considerar que qualquer sujeito pode ser vítima do crime, logo
podem figurar no polo passivo da ação. Há que se considerar que, as práticas sexuais
são variadas, ainda que a lei determine a penetração como centro fundamental para
ocorrência do crime tentado ou consumado.
O intuito de tolher a liberdade sexual da pessoa com o uso da força para violar
o corpo também é considerado, mesmo que não seja suficiente para caracterizar o
estupro, pode fazer incidir sobre a conduta outra modalidade delitiva. Dessa maneira, é
crime comum, podendo ser cometido contra qualquer pessoa, sendo dispensável
também qualquer condição para ser agente da conduta desde que o caráter central da
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
conduta seja suficiente para apresentar os demais elementos essenciais para configurar o
núcleo do tipo.
O momento histórico do Código Penal de 1940, deva-se ressaltar, vigente até o
momento, coincidiu com a elaboração do Código de Processo Penal, sendo pois, a
oportunidade em que se estruturava o sistema penal brasileiro com a composição do
direito material e processual positivados.
Instituído pelo Decreto-Lei 2.848, prevê à vulnerabilidade da vítima,
regulamentando da seguinte maneira, quando considerou no art. 224, a presunção de
violência quando a vítima não é maior de quatorze anos alienada ou débil mental, bem
como quando não oferece resistência. Diante disso, o legislador reduziu, para o efeito de
presunção de violência, o limite de idade da vítima para 14 anos, justificando a
precocidade no conhecimento dos fatos sexuais, como motivo bastante para a redução
(GOMES, 2017).
Insta considerar que, o fundamento da ficção legal de violência, seria
considerar a completa inocência em relação aos fatos sexuais dos adolescentes. De sorte
que, desconsidera-se seu consentimento, sendo este irrelevante para a responsabilidade
penal (GRECO, 2011). Nesse sentido, entende-se que ―ademais, a presunção de
violência foi estendida aos casos em que o sujeito passivo é alienado ou débil mental,
tendo por base o mesmo entendimento de que, nesses casos, há ausência de
consentimento válido‖ (GOMES. 2017, p. 1), nesse sentido, entende Greco (2011, p. 1):
Hoje, com louvor, visando acabar, de vez por todas, com essa discussão,
surge em nosso ordenamento jurídico penal, fruto da Lei nº 12.015, de 7 de
agosto de 2009, o delito que se convencionou denominar de estupro de
vulnerável, justamente para identificar a situação de vulnerabilidade em que
se encontra a vítima. Agora, não poderão os Tribunais entender de outra
forma quando a vítima do ato sexual for alguém menor de 14 (quatorze) anos
(pelo menos é o que se espera).
Notadamente que, o direito penal não pode abdicar de sua função ética, para
comportar os costumes, convalidando-os sem mensurar os efeitos diante da função que
tem o direito penal na sociedade, de controle e manutenção da paz social.
Para se chegar no atual entendimento pacificado da legislação que tutela as
garantias as liberdades sexuais foi percorrido um grande caminho, onde a definição de
vítima foi sofrendo alterações e da mesma forma essas alterações refletiam a sociedade
contemporânea a legislação.
Hoje não importa a experiência sexual anterior da vítima nos casos de menor
de 14 anos, e não importa se houve consentimento da vítima maior de 14 até
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
O que é vitimização?
Além dessa violência sofrida pela vítima descrita no parágrafo anterior, a qual
a doutrina vai classificar como vitimização primaria, em que a vítima sofre com a
ocorrência direta do fato criminoso, temos também a vitimização secundária, em que a
vítima após passar por uma violência precisa se submeter ao Estado e suas ações
evasivas relacionadas ao processo, e ainda a vitimização terciária que é aquela
provocada pela repercussão na sociedade da notícia da violência sofrida, no caso do
nosso tema estudo, via de regra a vítima passa por essas três fases, como podemos
observar até aqui, e passaremos a fazer algumas alguns apontamentos mais adiante.
Uma das grandes controvérsias desta nova a lei foi a alteração do art. 225 do
Código Penal que torna de ação pública incondicionada a representação criminal os
crimes previstos nos capítulos I e II daquele título.
Em linhas gerais, o prazo decadencial decorrido em 6 meses da não propositura
da queixa em juízo. Contando-se do momento em que se sabe a identidade o autor do
fato, não por vezes coincidentes a data do fato criminoso, uma vez que, nos delitos
sexuais é comum que sejam praticados por pessoas conhecidas.
Não se pode negligenciar em registrar que, o interesse deve ser da vítima,
sobretudo nos casos favoráveis à promoção da ação, pois essa tem o direito violado e
deve ser amparada pela lei penal.
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dos aspectos físicos e comportamentais do criminoso, que via de regra são contumazes
nessa prática. Mesmo sendo indispensáveis essas perguntas para os desdobramentos das
investigações e consequente ação penal, o cuidado com a vítima não deve ser deixado
de lado, devendo sempre que possível realizado essas inquirições por profissionais do
mesmo sexo da vítima, que na maioria das vezes são femininas, em local apropriado e
de preferência por uma profissional de psicologia.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
A pandemia da COVID-19 nos ensinou que para não parar nossas atividades
imperioso foi transpor as barreiras físicas que nos separam, e a internet foi
imprescindível nesta mudança de paradigma, vários foram os programas e ferramentas
que surgiram para atender as mais diversas necessidades na escola, no trabalho, na
família e em nosso entretenimento, fundamental que possamos continuar usando esses
recursos para atender as vítimas de violência sexual.
A construção de um novo procedimento de investigação humanizado nos
crimes contra a dignidade sexual nas delegacias, primeiramente deve passar por uma
transformação comportamental de seus servidores, embora seja importante as delegacias
especializadas no atendimento à mulher vítima de violência. Porém, não é o suficiente
se as equipes de atendimento não estiverem treinadas (FELBERG, 2009).
Tal mudança passa necessariamente por construir novos paradigmas que
rompem com a revitimização da mulher, bem como, a coloca como um elemento do
processo, esvaziando o conteúdo finalístico da lei de promover a paz social, que passa
inevitavelmente pela compreensão dos interesses da vítima, enquanto meio para
realização da justiça.
O que teremos neste caso são mulheres revitimizadas por um atendimento
impróprio em uma unidade policial própria. O que nos leva a compreensão de que todos
os esforços devem objetivar o treinamento multidisciplinar das equipes envolvidas no
atendimento a vítima de violência sexual, com esse tipo de perfil profissional será
possível realizar um atendimento humanizado em qualquer delegacia, mesmo que não
seja uma delegacia especializada, com uma estrutura física precária, o servidor do
atendimento será qualificado.
Superada essas questões estruturais, e apresentado a importância singular de
servidores capacitados e conhecedores das melhores práticas de acolhimento das vítimas
de violências sexuais, objetivando o início de um procedimento de investigação
humanizada, mister se faz, a realização de alguns apontamentos que compreendemos ser
imprescindíveis para obtermos êxito em investigações dessa natureza.
Paralelo a atenção especial dedicada a vítima, temos a ocorrência de um crime
repugnante, nefasto e nossa pesquisa nos aponta o quão prejudicial à ordem pública
seria caso o criminoso livre-se solto em razão de uma falha no procedimento
inquisitorial realizado na delegacia de polícia, após a realização de uma escuta ativa, da
coleta de todas as informações importantes para solução do caso e de posse do
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOMES, Fernanda Maria Alves. Ação penal nos crimes sexuais praticados contra
vulnerável. 2017. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-fev-04/fernanda-
gomes-acao-penal-crimes-sexuais-vulneravel> Acesso em 18 de julho de 2021.
MENDES, Soraia da Rosa. BELTRAME, Priscila Akemi. Não se nasce mulher, mas se
morre por ser mulher. 2016. III Colóquio de Estudos Feministas e de Gênero FINATEC
– UnB. Disponível em: https://www.ibccrim.org.br/boletim_artigo/5879-Nao-se-nasce-
mulher-mas-se-morre-por-ser-mulher> Acesso em 18 de julho de 2021.
NUCCI, Guilerme de Souza. Curso de Direito Penal – parte especial; Rio de Janeiro, Forense,
2019, p.648
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. 5. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2014.
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Criminologia crítica e Direito Penal : análise crítica do sistema de justiça criminal brasileiro
CAPÍTULO 9
Abstract: The present scientific exposition has as its object of study, the custody
hearing, inserted in the brazilian criminal justice system through the resolution n.213/15
of the National Council of Justice and, later, legally made official by the law 13,964/19.
It is the presentation of the arrested person before the judicial authority, within 24 hours
after arrest, in order to ensure their physical and moral safety against possible torture or
ill-treatment, in addition to being the opportune time for the magistrate assess the
necessity and legality of the act restricting freedom. Concomitantly, the current
coronavirus pandemic scenario and its impacts on orality under discussion will be
discussed, considering that the implications of the epidemiological crisis also had
repercussions in the context of custody hearings; highlighting, above all, the regulatory
provisions issued by the Judiciary. With this, the research intended to lead to a
deconstruction of the image of the Criminal Procedure as a repressive instrument,
towards a constitutional and more humanized vision of its institutes - as it should be -,
23 Bacharela em Direito pela Universidade Estadual do Mato Grosso, e-mail:
biacampossimao@gmail.com.
24 Mestre pela Universidade Católica de Petrópolis, RJ. Professor de Crime e Sociedade, Direito Penal e
Processual Penal da Faculdade de Miguel Pereira. Professor contrato temporário na UNEMT. E-mail:
profandersonrocharodrigues@gmail.com
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