Você está na página 1de 10

EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA VARA DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DO FORO

DA COMARCA DE CIDADE/ESTADO

Com Pedido de Tutela de Urgência

NOME COMPLETO DO PROPRIETÁRIO, brasileiro, estado civil, profissão, portador


da cédula de identidade número xxxxxxxxxxxxxx, inscrito no CPF (MF) sob o número
xxxxxxxxxxxxx, residente e domiciliado na Rua, Número, Complemento, Cidade/RS,
CEP xxxxxxx; e NOME COMPLETO DO CONDUTOR, brasileiro, estado civil,
profissão, portador da cédula de identidade número xxxxxxxxxxxxxx, inscrito no CPF
(MF) sob o número xxxxxxxxxxxxx, residente e domiciliado na Rua, Número,
Complemento, Cidade/RS, CEP xxxxxxx; vem respeitosamente, por intermédio de seu
advogados, com endereço profissional na Rua General Camara, 432, Sala 304 – Porto
Alegre/RS – CEP: 90010-230; à presença de Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO
ANULATÓRIA DE AUTOS DE INFRAÇÕES DE TRÂNSITO C/C PEDIDO DE
APRESENTAÇÃO DE CONDUTOR PELA VIA JUDICIAL, em face de
Departamento Estadual de Trânsito do Estado do ESTADO –
DETRAN/ESTADO, com sede na Rua, Número – CIDADE/ESTADO - CEP 90230-
010 [O POLO ATIVO SERÁ PREENCHIDO COM O NOME DO ORGÃO
AUTUADOR DA INFRAÇÃO QUE DESEJA VER ANULADA], pelos fatos e
fundamentos a seguir expostos:

Dos Fatos e Fundamentos de Direito

1. A parte autora, NOME DO PROPRIETÁRIO, é o proprietário do veículo VOLKSWAGEN/AMAROK V6,


placas JXXXXX, RENAVAM XXXXXXXXX e teve instaurado contra si o Processo Administrativo de Suspensão do
Direito de Dirigir (PSDD) por EXCESSO DE PONTOS nº xxxxxxxx, de acordo com a grade de infrações em anexo.

2. Ocorre que a infração de trânsito referente ao AIT nº xxxxxx/Txxxxxxx, entretanto, foi cometida pelo
também Autor NOME DO CONDUTOR, que era o condutor do veículo na data dos fatos.

3. A referida infração compõe a grade de pontuação que culminou na instauração do PSDD contra o
Autor NOME DO PROPRIETÁRIO.

4. Cumpre informar que não houve a indicação do autor, NOME DO CONDUTOR, como condutor
responsável pela infração de trânsito mencionada acima no prazo estabelecido pelo Art. 257, §7º do CTB.

5. Em razão de não ter sido apresentado o condutor como responsável pela infração, o DETRAN atribuiu ao
proprietário a responsabilidade pelo cometimento da infração.

Página 1 de 10
6. Assim, a parte autora, NOME DO PROPRIETÁRIO, está sendo injustamente penalizado por atos que jamais
praticou, somente pelo fato de não ter realizado a apresentação de condutor na via administrativa da infração de
trânsito vinculada a veículo de sua propriedade.

7. Por este motivo, vêm os Autores requererem a transferência da pontuação da infração de trânsito referente ao
AIT nº xxxxxx/Txxxxxxx, para o verdadeiro condutor responsável pela infração, NOME DO CONDUTOR.

8. É inviável que o autor NOME DO PROPRIETÁRIO venha a ser considerado responsável pelo cometimento
da infração de trânsito e ainda ser penalizado pelas sanções previstas no Art. 261, do CTB, através de uma presunção
ilegal de culpabilidade.

9. De acordo com o entendimento sedimentado pelo Egrégio STJ, é possível a apresentação, em juízo, do
condutor do veículo na ocasião da infração de trânsito, para fins de transferência da pontuação, com base no princípio
da inafastabilidade do controle jurisdicional e da independência das instâncias administrativa e judicial.

10. Há também, entendimento sedimentado de que o prazo previsto no Art. 257, §7º, do CTB preclui tão somente
na esfera administrativa, podendo ser revista a apresentação do condutor infrator no âmbito judicial, em respeito ao
princípio da inafastabilidade da jurisdição previsto no Art. 5º, Inc. XXXV, da Constituição Federal.

11. Nesse mesmo sentido, a orientação das Turmas Recursais Fazendárias:

Jurisprudência n 1:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRIMEIRA TURMA RECURSAL. DETRAN/RS.PRAZO


DO ART. 257, §7º, DO CTB. POSSIBILIDADE DE INDICAÇÃO DE CONDUTOR NA VIA JUDICIAL.
RESPONSABILIDADE DO REAL CONDUTOR.
DECLARAÇÃO COM FIRMA RECONHECIDA. Prevalece entendimento pelo E. STJ, com base no
princípio da inafastabilidade da jurisdição, de que mesmo decorrido o prazo previstono art. 257, §7º,
do CTB sem a indicação do condutor, poderá ser comprovado judicialmente que o infrator não é o
proprietário do automóvel, de modo que este nãodeve ser responsabilizado, mas sim a terceira
pessoa nacondução do veículo. No casoem comento, foi juntada declaração firmada pela
companheira do agravante dando conta de que era ela quem estava de posse
doveículo no momento da infração e assumindoresponsabilidade pelo fato. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 71008331357, Turma Recursal da Fazenda
Pública, Turmas Recursais, Relator: Keila Silene Tortelli, Julgado em: 30-05-2019).

Página 2 de 10
Jurisprudência n 2:

EMENTA: RECURSO INOMINADO. DETRAN/RS. MUNICÍPIO DE SANTA MARIA. APRESENTAÇÃO DE CONDUTOR.


PEDIDO NEGADO ADMINISTRATIVAMENTE POR FATA DE DOCUMENTAÇÃO. POSSIBILIDADE DE
COMPLEMENTAÇÃO.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA MANTIDA. 1. A demandante apresentou no âmbito administrativo e de forma
tempestiva a indicação do condutor, através do formulário adequado. Ausência de cópia do documento de
identificação do proprietário do veículo. Rejeição pela Autarquia recorrente. 2. A indicação do condutor, na
esteira da jurisprudência do STJ pode ser feita até mesmo judicialmente. Caso dos autos que era plausível que
se permitisse a complementação da documentação na seara administrativa, uma vez que apresentado o
condutor de forma tempestiva. 3. Sentença mantida nos termos do art. 46, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95.
RECURSO DESPROVIDO POR MAIORIA.(Recurso Cível, Nº 71008105751, Terceira Turma Recursal da Fazenda
Pública, Turmas Recursais, Relator: Alan Tadeu Soares DelabaryJunior, Julgado em: 23-05-2019).

Jurisprudência n 3:

EMENTA: RECURSO INOMINADO. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. APRESENTAÇÃO DE CONDUTOR NA ESFERA


JUDICIAL. SENTENÇA

DE PROCEDÊNCIA. Os autores ajuizaram a ação com o objetivo de transferir a responsabilidade (pontuação) da


infração para o real condutor do veículo. Para tanto, juntaram documentos comprovando a prática da infração
e declaração firmada por ambos em pleno consentimento quanto ao verdadeiro condutor do veículo. A parte
ré não impugnou a pessoa indicada, apenas negoua possibilidade desta indicação ocorrer em juízo. Consoante
entendimento sedimentado pela jurisprudência, uma vez derruída a presunção do ato administrativo, é
possível a sua correção em juízo. Assim, resta mantida a sentença por seus próprios fundamentos, nos termos
do art. 46 da Lei 9.099/95.SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.(Recurso Cível, Nº
71007988256, Segunda Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Rosane Ramos de
Oliveira Michels, Julgado em: 27-02- 2019).

Jurisprudência n 4:

Ementa: RECURSO INOMINADO. SEGUNDA TURMA RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. DAER/RS. APRESENTAÇAO
DE CONDUTOR INFRATOR. ART. 257 §7º DO CÓDIGO BRASILEIRO DE TRANSITO. PRAZO PRECLUSIVO NA ESFERA
ADMINISTRATIVA. APRESENTAÇÃO DE CONTUDOR INFRATOR NA ESFERA JUDICIAL POSSIBILIDADE.ORIENTAÇÃO
DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
A jurisprudência do E. STJ sedimentou entendimento de que o prazo previsto no art.
257 do CTB preclui tão somente na esfera administrativa, podendo ser revista a apresentação do condutor
infrator no âmbito judicial, em respeito ao princípio da inafastabilidade da jurisdição previsto no art. 5º, inciso
XXXV, da Constituição Federal. Sentença de procedência mantida. RECURSO INOMINADO DESPROVIDO. (Recurso
Cível Nº 71008016933, Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Thais Coutinho de
Oliveira, Julgado em 30/01/2019).

Página 3 de 10
Jurisprudência n 5:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRIMEIRA TURMA RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. DETRAN/RS.


APRESENTAÇÃO DE CONDUTOR INFRATOR. ART. 257 §7º DO CÓDIGO BRASILEIRO DE TRANSITO. PRAZO
PRECLUSIVO NA ESFERA ADMINISTRATIVA. APRESENTAÇÃO NA ESFERA JUDICIAL. POSSIBILIDADE. ORIENTAÇÃO
DOSUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. A
jurisprudência do E. STJ sedimentou entendimento de que o prazo previsto no art. 257 do CTB preclui tão
somente na esfera administrativa, podendo ser revista a apresentação do condutor infrator no âmbito judicial,
em respeito ao princípio da inafastabilidade da jurisdição previsto no art. 5º, inciso XXXV, da Constituição
Federal. A decisão que deferiu a antecipação de tutela merece confirmação. AGRAVO DE INSTRUMENTO
PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 71007947856, Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais,
Relator: Thais Coutinho de Oliveira, Julgado em 30/01/2019)

Jurisprudência n 6:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DETRAN. APRESENTAÇÃO DE CONDUTOR EM JUÍZO. PROBABILIDADE DO


DIREITO. AUTUAÇÃO POR PRESUNÇÃO. SUSPENSÃO. POSSIBILIDADE. REQUISITOS DO ART. 300 DO
CPC. DECISÃO REFORMADA. De acordo com a jurisprudência do STJ, é possível a apresentação, em juízo, do
condutor do veículo na ocasião da infração de trânsito, para fins de transferência dapontuação, com base no
Princípio da Inafastabilidade do controle jurisdicional e da independência das instâncias administrativa e
judicial. Conforme se verifica nos documentos acostados das fls. 42/45, verifica-se que o proprietáriodo veículo
estava participando de evento ocorrido na cidade de Brasiília, nos dias 13, 14 e 15 de dezembro de 2017. A
autuação, sem flagrante, ocorreu no dia 13/12/2017, às 21h45min. Aliado a esses fatos, acrescento que a
condutora indicada Luiza apresentou declaração, com firma reconhecida, imputando a si a autora da infração.
Assim, além do fato de haver a apresentação de condutor,em juízo, para se responsabilizar pela autuação
originária, verifica-se que a infração posterior, foi lavrada por mera presunção, com base no art. 4º, §2º, da
Resolução 404/2013 do CONTRAN, posteriormente replicada na Resolução 619/2016 no CONTRAN, o que é
manifestamente ilegal. AGRAVO DE PROVIDO, POR MAIORIA. (Agravo de Instrumento Nº 71007886997,
Segunda Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Mauro Caum Gonçalves, Julgado em
14/12/2018).

12. A apresentação do condutor na esfera judicial, no entanto, não prescinde da comprovação de, no mínimo,
alguns dos requisitos elencados no Art. 5º, da Resolução nº 619/2016 do CONTRAN, notadamente os dos incisos II e
IV, a saber: a) a correta identificação do condutor, com nome completo, RG, CPF e CNH, e, mais
importante, b) a assinatura do condutor, admitindo a autoria da infração que lhe é imputada.

13. Sendo assim, o condutor NOME DO CONDUTOR, responsável pelas infrações de trânsito em questão, está
figurando no polo ativo juntamente com o proprietário do veículo e junta aos autos declaração assinada e reconhecida
em cartório, onde assume a autoria das infrações e, requer, a transferência da pontuação para o seu nome.

14. Por isso, requerem os autores a transferência dos pontos da infração de trânsito referente ao AIT nº nº
xxxxxx/Txxxxxxx para NOME DO CONDUTOR, ora condutor (declaração de responsabilidade em anexo), bem
como a devida anulação do PSDD número XXXXXXX, já que o fato que o gerou foi desconstituído com a
transferência de pontos para o verdadeiro responsável

Página 4 de 10
Da ilegalidade do procedimento de autuação virtual/infrações de trânsito correlatas previstas na
Res. 619/16 do CONTRAN vigente à época dos fatos narrados

15. O Art. 257, §7°, do CTB, dispõe: “Não sendo imediata a identificação do infrator, o principal condutor
ou o proprietário do veículo terá quinze dias de prazo, após a notificação da autuação, para apresentá-lo,
na forma em que dispuser o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), ao fim do qual, não o fazendo,
será considerado responsável pela infração o principal condutor ou, em sua ausência, o proprietário do
veículo”.

16. O DETRAN não pode utilizar-se de mecanismos não previstos em lei para penalizar severamente os
proprietários de veículo, presumindo ilegalmente que eram os condutores nas infrações de trânsito vinculadas à veículo
de sua propriedade.

17. O Conselho Nacional de Trânsito não detém competência para criar tipos infracionais, porque não há
possibilidade do respetivo órgão em derrogar o princípio geral da legalidade, previsto no Art. 5°, Inc. II e XXXIX da
CF/88.

18. A restrição ao direito de dirigir do proprietário do veículo não pode exceder a autuação pelo veículo, pelo qual
é responsável pela pontuação em seu RENACH, quando decide não indicar condutor.

19. Notoriamente o método de punição criado pelo CONTRAN não está previsto no Código de Trânsito
Brasileiro, pois se assim estivesse, não seria necessário criá-lo administrativamente através de resolução.

20. É neste sentido que vem se posicionando as Turmas Recursais da Fazenda Pública do Estado do Rio Grande do
Sul, vejamos:

Página 5 de 10
Jurisprudência n 7:

EMENTA: RECURSO INOMINADO. DETRAN. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. MULTA VIRTUAL. VIOLAÇÃO AO


PRINCÍPIO DA LE GALIDADE E DA REGRA GERAL DA AUTUAÇÃO EM FLAGRANTE DA AÇÃO DA AUTORIDADE
DE TRÂNSITO.
RESOLUÇÃO QUE VIOLA OS LIMITES DA REGULAÇÃO. Trata-se de ação através da qual o autor pretende a
anulação de infração de transito sob a alegação de que não a cometeu, mas é resultante de presunção
administrativa, julgada procedente na origem. Princípio Da Legalidade - A Administração Pública é regida a luz
dos princípios constitucionais inscritos no caput do artigo 37 da Carta Magna, sendo que o princípio da
legalidade é a base de todos os demais princípios que instrui, limita e vincula as atividades
administrativas. Dessa feita, o administrador público está adstrito ao princípio constitucional da
legalidade e as normas de Direito Administrativo. Regra Geral e Especial - A regra geral segundo o
Código de Trânsito Brasileiro art. 280,
§3º,CTB para a lavratura e autuação por infração de trânsito é a autuação em flagrante e, somente
por exceção, em caso de impossibilidade de flagrante, é que o Agente de Trânsito lavrará o auto de
infração de trânsito que deve restar comprovada por declaração da autoridade ou do agente de
autoridade de trânsito, por aparelho eletrônico ou por equipamento audiovisual, reações químicas ou
qualquer outro meio tecnologicamente disponível (art.280,§2º,CTB). Logo, não tendo havido autuação
em flagrante art.280,§3º,CTB (regra geral) e não tendo havido ação positiva do Agente de Trânsito
art.280,§2º,CTB (regra especial) descabe a Autarquia Estadual DETRAN lavrar autuação de infração
de trânsito por presunção, pois a Lei Federal não permite ou disciplina essa punição de trânsito na
modalidade presuntiva, virtual ou correlata, como comumente tem se denominado. Resolução do
CONTRAN não é lei federal formal e, portanto, desserve de amparo legislativo para essa espécie de
lavratura de infração de trânsito por mera presunção administrativa, hipótese de manifesta
extrapolação do poder regulamentar. Assunção de responsabilidade - A única exceção prevista no
Sistema de Trânsito CTB está estampada no art.257,§7º (regra de exceção),incidente na hipótese em
que não sendo imediata a identificação do infrator, o proprietário do veículo terá quinze dias de prazo,
após a notificação da autuação, para apresentá-lo, ao fim do qual, não o fazendo, será considerado
responsável PELA INFRAÇÃO. Logo, se o proprietário usar dessa faculdade legal, poderá indicar o
condutor, nominando-o, que assumirá a responsabilidade pela infração. Todavia, se não exercer a
faculdade legal, por qualquer motivo, será considerado responsável pela infração ocorrida. Essa é a
única hipótese legal de presunção e assunção de responsabilidade. A Autarquia Estadual de Trânsito
do Estado DETRAN/RS não se reveste de agente ou Autoridade de Trânsito como disciplina o §4º do
art.280 do CTB, sempre à luz da ocorrência da infração de trânsito, como pressupõe o "caput" do
mesmo dispositivo legal. Portanto, além de ilegal a autuação virtual, carente de fundamento legal,
também se reveste de ilegitimidade absoluta, pois inexistente o flagrante (regra geral), ausente a
ação do Agente de Trânsito (regra especial) e não se trata da hipótese de assunção de
responsabilidade (regra de exceção)e retrata uma infração que não ocorreu de fato, mas
simplesmente dedutível e presumível pelo Órgão de Trânsito que não reúne legitimidade para
lavratura de auto de infração. Sentença reformada. RECURSO INOMINADO PROVIDO, POR
MAIORIA (Recurso Cível Nº 71007028145, Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais,
Relator: Thais Coutinho de Oliveira, Redator: Niwton Carpes da Silva, Julgado em 30/08/2017.

Página 6 de 10
Jurisprudência n 8

Ementa: RECURSO INOMINADO. DETRAN. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. MULTA


VIRTUAL. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE E DA REGRA GERAL DA
AUTUAÇÃO EM FLAGRANTE E DA AÇÃO DA AUTORIDADE DE TRÂNSITO.
RESOLUÇÃO QUE VIOLA OS LIMITES DA REGULAÇÃO. Trata-se de ação através da
qual o autor pretende a anulação de infração de transito sob a alegação de que não a cometeu,
mas é resultante de presunção administrativa, julgada procedente na origem. Princípio Da
Legalidade - A Administração Pública é regida a luz dos princípios constitucionais inscritos no
caput do artigo 37 da Carta Magna, sendo que o princípio da legalidade é a base de todos os
demais princípios que instrui, limita e vincula as atividades administrativas. Dessa feita, o
administrador público está adstrito ao princípio constitucional da legalidade e as normas de
Direito Administrativo. Regra Geral e Especial - A regra geral segundo o Código de
Trânsito Brasileiro art. 280,
§3º,CTB para a lavratura e autuação por infração de trânsito é a autuação em flagrante e,
somente por exceção, em caso de impossibilidade de flagrante, é que o Agente de Trânsito
lavrará o auto de infração de trânsito que deve restar comprovada por declaração da autoridade
ou do agente de autoridade de trânsito, por aparelho eletrônico ou por equipamento
audiovisual, reações químicas ou qualquer outro meio tecnologicamente disponível
(art.280,§2º,CTB). Logo, não tendo havido autuação em flagrante art.280, §3º,CTB (regra
geral) e não tendo havido ação positiva do Agente de Trânsito art.280, §2º,CTB (regra
especial) descabe a Autarquia Estadual DETRAN, lavrar autuação de infração de trânsito por
presunção, pois a Lei Federal não permite ou disciplina essa punição de trânsito na modalidade
presuntiva, virtual ou correlata, como comumente tem se denominado. Resolução do
CONTRAN não é lei federal formal e, portanto, desserve de amparo legislativo para essa
espécie de lavratura de infração de trânsito por mera presunção administrativa, hipótese de
manifesta extrapolação do poder regulamentar. Assunção de responsabilidade - A única exceção
prevista no Sistema de Trânsito CTB está estampada no art.257, §7º (regra de exceção),
incidente na hipótese em que não sendo imediata a identificação do infrator, o proprietário do
veículo terá quinze dias de prazo, após a notificação da autuação, para apresentá-lo, ao fim do
qual, não o fazendo, será considerado responsável PELA INFRAÇÃO. Logo, se o proprietário
usar dessa faculdade legal, poderá indicar o condutor, nominando-o, que assumirá a
responsabilidade pela infração. Todavia, se não exercer a faculdade legal, por qualquer motivo,
será considerado responsável pela infração ocorrida. Essa é a única hipótese legal de presunção
e assunção de responsabilidade. A Autarquia Estadual de Trânsito do Estado DETRAN/RS não
se reveste de agente ou autoridade de trânsito para fins de lavratura de infração de trânsito, ato
privativo do Agente ou Autoridade de Trânsito como disciplina o §4º do art.280 do CTB,
sempre à luz da ocorrência da infração de trânsito, como pressupõe o "caput" do mesmo
dispositivo legal. Portanto, além de ilegal a autuação virtual, carente de fundamento legal,
também se reveste de ilegitimidade absoluta, pois inexistente o flagrante (regra geral), ausente
a ação do Agente de Trânsito (regra especial) e não se trata da hipótese de assunção de
responsabilidade (regra de exceção) e retrata uma infração que não ocorreu de fato, mas
simplesmente dedutível e presumível pelo Órgão de Trânsito que não reúne legitimidade para
lavratura de auto de infração. Sentença mantida pelos próprios fundamentos, nos termos do art.
46, última parte, da Lei Federal 9.099/95. RECURSO INOMINADO DESPROVIDO, POR
MAIORIA (Recurso Cível Nº
71006783195, Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Thais
Coutinho de Oliveira, Redator: Niwton Carpes da Silva, Julgado em 30/08/2017).

Página 7 de 10
21. Ademais, a lei prevê que o agente de trânsito aplique as medidas administrativas cabíveis, a fim de
suspender/terminar com a condução do veículo praticada pelo infrator. Porém o flagrante é ato essencial a
caracterização da infração de trânsito em discussão.

22. A necessidade de flagrante também está evidenciada em outras hipóteses previstas no CTB, como por exemplo, a
situação elencada no Art. 263, Inc. I, do Código de Trânsito Brasileiro: “A Cassação da Carteira Nacional de
Habilitação é imposta nas seguintes situações: I - quando o motorista, estando com sua carteira suspensa,
estiver conduzindo veículo;

23. O CONTRAN, órgão responsável por regulamentar as normas previstas no CTB, disciplinou na Resolução N°
182/05, Art. 19, § 3°, que: "Sendo o infrator FLAGRADO conduzindo veículo, encerrado o prazo para a
entrega da CNH, será instaurado processo administrativo de cassação do direito de dirigir, nos termos do
Inc. I do Art. 263 do CTB. (grifo nosso)."

24. Ademais, as disposições da Resolução 723/18 do CONTRAN, que dispõe sobre a uniformização do procedimento
administrativo para imposição das penalidades de suspensão do direito de dirigir e de cassação do documento de
habilitação, previstas nos Arts. 261 e 263, Incs. I e II, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), bem como sobre o curso
preventivo de reciclagem:

Art. 19. Deverá ser instaurado processo administrativo de cassação do documento de habilitação, pela autoridade de trânsito do
órgão executivo de seu registro, observado no que couber as disposições dos Capítulos IV, V e VI, desta Resolução, quando:

IV - quando não houver abordagem, não será instaurado processo de cassação do documento de
habilitação:

A) ao proprietário do veículo, nas infrações originalmente de sua responsabilidade nas infrações de


estacionamento, quando não for possível precisar que o momento inicial da conduta se deu durante o cumprimento
da penalidade de suspensão do direito de dirigir.

25. Por tudo que foi arguido, requerem os autores a transferência dos pontos da infração de trânsito referente ao
AIT nº nº xxxxxx/Txxxxxxx para NOME DO CONDUTOR, ora condutor (declaração de responsabilidade em
anexo), bem como a devida anulação do PSDD número XXXXXXX, já que o fato que o gerou foi desconstituído com
a transferência de pontos para o verdadeiro responsável.

Da ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

26. Conforme previsão do Art. 3° da Lei. 12.153/09: "O juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes,
deferir quaisquer providências cautelares e antecipatórias no curso do processo, para evitar dano de difícil ou de
incerta reparação."

27. E, com o advento do novo Código de Processo Civil, a antecipação da tutela em razão da urgência deve
concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito postulado, bem como, o perigo de dano
ou risco ao resultado útil do processo. (Art. 300 do CPC).

28. O que se pretende é justamente assegurar o resultado útil do processo, dado que até o encerramento do debate em
juízo, com todo o trâmite processual, o Autor já terá adimplido a multa “virtual”, pois necessário para licenciar o
veículo, de modo que dessa forma será impedido de dar outro destino para esse dinheiro. E, havendo mecanismos de
proteção ao Direito de Ação do Autor previstos na legislação, se faz imperioso a antecipação dos efeitos da tutela.

Página 8 de 10
29. Ademais, segundo preconiza Daniel Mitidiero: “A finalidade da tutela sumária está em distribuir de forma
isonômica o ônus do tempo no processo de acordo...A Tutela sumária serve à prestação de tutela adequada e efetiva aos
direitos. Ela não se esgota no fenômeno da urgência. A técnica antecipatória serve para adequar o processo às
especificidades do direito material alegado em juízo (urgência e evidência) a fim de que o processo seja capaz de
promover a efetividade da tutela jurisdicional (satisfação ou asseguração dos direitos).” Grifo nosso.

30. Cumpre salientar que além do risco ao resultado útil do processo, à Autora assiste a probabilidade do direito
alegado em juízo, que é possível verificar mediante análise dos documentos juntados aos autos, bem como de todos os
dispositivos legais que regem a matéria, que demonstram de forma clara os fatos narrados. Ademais, o deferimento da
tutela antecipada não acarretará nenhum prejuízo a parte contrária, sendo a Autora a única prejudicada caso não
concedida a antecipação da tutela.

31. Por isso, se faz imprescindível que sejam suspensos os efeitos do AIT n° xxxxxx/Txxxxxxx, , enquanto sub
judice a presente demanda.

32. Por via de consequência, uma vez suspensos os efeitos do AIT n° xxxxxx/Txxxxxxx, ocorrerá
automaticamente a desconstituição do fato gerador que deu causa ao PSDD n° xxxxxx.

33. Deste modo, requer-se em ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, que Vossa Excelência se digne a deferir o
pedido dos autores para que seja suspenso o referido processo administrativo, restabelecendo o direito de
dirigir do autor NOME DO PROPRIETÁRIO.

Dos Pedidos e Requerimentos

34. ANTE O EXPOSTO, fulcro nos dispositivos legais supracitados, requer-se:

A) A concessão de antecipação de tutela, para que sejam suspensos os efeitos do


AIT n. xxxxxx/Txxxxxxx, enquanto sub judice o direito postulado.

B) A citação dos órgãos demandados, no endereço preambular, para querendo, conteste o presente feito, sob
pena de revelia e confissão ficta.

C) A procedência integral da ação, com a transferência da pontuação da infração de trânsito correspondente aos
AIT nº xxxxxx/Txxxxxxx, para o condutor do veículo e autor, NOME DO CONDUTOR.

D) E, por consequência jurídica lógica, bem como pelos demais argumentos apresentados, que seja restabelecido
o DIREITO DE DIRIGIR do autor NOME DO PROPRIETÁRIO.

E) A condenação da parte contrária em custas e honorários advocatícios, conforme Art. 85 e seguintes do


Código de Processo Civil;

F) Requer, também, o benefício da AJG por não terem as partes autoras condições de arcar com as custas
processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo de seu sustento e de sua família.

G) A produção de todo tipo de prova necessária ao fiel deslinde da presente ação, quanto às afirmações
da parte autora.

Atribui à causa o valor de alçada (R$ 11.157,50)

Nestes termos, pede e espera Procedência.

Porto Alegre, 05 de novembro de 2021.

Página 9 de 10
NOME DO ADVOGADO
OAB/ESTADO

Página 10 de 10

Você também pode gostar