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Gêneros digitais

FONTE: http://educacao.globo.com/portugues/assunto/estudo-do-texto/generos-
digitais.html

Por Anderson Ulisses S. Nascimento


Doutorando em Língua Portuguesa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)

INTRODUÇÃO
Desde os anos 90, o mundo tem assistido a uma revolução dos meios de comunicação
por meio do advento e popularização do computador e, especialmente, da internet, a
rede mundial de computadores. Tal transformação afeta a todos em toda parte, em maior
ou menor grau. Todo esse processo não deixa incólume o mundo da linguagem e, assim,
parâmetros novos têm surgido também no mundo textual.

Smartphone (Foto: Marcello Casal Jr/ABr)

Na verdade, esses parâmetros talvez não possam ser simplesmente considerados novos,
uma vez que dialogam com formas textuais já pré-existentes. Um bom exemplo disso é
o e-mail, “correio eletrônico”, que é uma adaptação da velha carta ao mundo
cibernético.
Do mesmo modo, os recados ou mensagens de comunidades de relacionamentos são
adaptações, em diferentes níveis de formalidade e mesmo de sigilo do recado, agora não
mais no papel, mas em novo suporte.

NOVOS GÊNEROS
Um fato interessante a registrar é que o mundo digital vem (re)criando um grande
acervo de gêneros textuais, numa profusão que, muitas vezes, não permite ainda
definições completas.
Contudo, alguns princípios universais aos textos podem ser destacados:
• os gêneros textuais, mesmo digitais, continuam a ser definidos a partir de certos
elementos fixos;
• em decorrência do exposto anteriormente, a questão do formato, ou seja, da silhueta do
texto é, comumente marca distintiva. Pensemos no exemplo do e-mail que mantém as
marcas de silhueta da carta tradicional da despedida e da identificação do remetente;
• é ilusório tomar o espaço virtual por informal. Como em todo o resto, há níveis
distintos de formalidade/informalidade em seu meio;
• muitos desses gêneros textuais virtuais apresentam hibridismo entre traços
característicos de fala e de escrita, o que se manifesta mais claramente me gêneros mais
informais desse meio.
Esse último apontamento não é, em verdade, privativo do mundo virtual. Segundo o
professor Luiz Antônio Marcuschi, uma das maiores autoridades nos temas texto e
textualidade, escrita e fala não são dois planos opostos, mas sim complementares,
formando entre si um contínuo que vai desde o polo mais oralizado até o mais grafado,
passando por vários pontos intermediários, bastante presentes em nosso cotidiano.
Logo, o ocorrido no espaço virtual é uma continuidade disso.
Como dissemos acima, alguns gêneros textuais digitais ainda estão em processo de
conformação; outros, no entanto, já estão bem estabelecidos, dentre os quais: e-mail,
salas de bate-papo, fóruns, chats, blogues, textos acadêmicos, etc.

REDES SOCIAIS
As comunidades de relacionamento, independente de seu formato, dão suporte a toda
uma diversidade de gêneros em seu interior, com maior destaque ao chamado post, de
extensão e nível de formalidade variado e que tem por marca a anexação de símbolos
visuais, como os chamados “emoticons”, compensadores frequentes da ausência de
entonação encontrada nesse suporte. Note-se que aí há um típico caso de hibridismo
entre fala e escrita. Por um lado se lida com a perspectiva de uma prontidão de resposta
quase tão instantânea quanto a da fala, mas em meio escrito. Ainda acerca desses
símbolos, “emoticons”, ao contrário do que se supõe, seu uso não é anárquico, havendo
mesmo uma espécie de sintaxe para esses símbolos, já que não podem ser utilizados,
por exemplo, ao bel prazer, em qualquer parte da frase.
Facebook (Foto: Reprodução/Colégio Qi)

Esse mesmo espaço das comunidades de relacionamento abriga amplamente textos


verbo-visuais. Muitas vezes, dá-se também a transposição a esse espaço de textos
escritos, visuais ou verbo-visuais, quadrinhos, pinturas, propagandas, em sua versão
original ou adaptada por meio de montagens várias, muitas vezes com fins críticos ou
humorísticos. Esse mesmo recurso tão rico e vasto abre, tantas vezes, brechas à
desinformação, ocorrendo comumente atribuição de falsos créditos a muitas citações.

(Foto: Reprodução/Colégio Qi)


(Foto: Reprodução/Colégio Qi)

É bastante comum, ainda nesses espaços de comunidades de relacionamento, em


microblogs, como twitter, em torpedos, uma escrita abreviada, tal qual nos antigos
telegramas: vc, tb, kz, vlw, abç, bj, etc. Aí também não há suposta anarquia. Preservam-
se as consoantes distintivas.

O conjunto das potencialidades do mundo virtual e de sua comunicação, com certeza,


ainda estão por ser descobertas em plenitude. Aguardemo-las enquanto navegamos e
descobrimos esse mundo.

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