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REAGENTE DE BIURETO COMO DETECTOR DE

PROTEÍNAS IN LOCO

Roberto Mattos Mendes Camargo (Estudante de Engenharia Química – UTFPR)


Lorene Pecci (Estudante de Engenharia Química – UTFPR)
Matheus Pereira Postigo (Professor do DAENQ – UTFPR)

robertommcamargo@gmail.com, lorene@utfpr.edu.br, matheuspostigo@utfpr.edu.br

Resumo - O reagente de biureto é conhecido há anos por sua capacidade de quantificar


proteínas através de uma mudança de coloração. Este trabalho propõe um novo uso do
mesmo na forma de spray, a fim de ser aplicado diretamente na cena do crime. Foram
realizados estudos do comportamento do reagente em diversas superfícies, sob diferentes
cores de luz e os subsequentes tratamentos de imagem necessários para incrementar a
resposta do mesmo.

Palavras-chave: Biureto, Ciência forense, Perícia criminal.

Abstract – The biuret reagent is known for years by its capability of quantifying proteins through
a color change. This work proposes a novel use for it in a spray form, in order to be applied
directly in a crime scene. Studies had been carried out for the behavior of the reagent in several
surfaces, under different light colors and the subsequent image treatments necessary for
improving its response.

Key-words: Biuret, Forensics, Criminal investigation.

INTRODUÇÃO
No campo da pericia criminal, reagentes químicos são utilizados como
testes presuntivos ou definitivos em evidências adquiridas em cenas do crime.
Entre os reagentes utilizados atualmente para identificação de fluídos
corporais, existe certa especificidade em relação ao fluído a ser reconhecido.
Na identificação de sangue o Luminol ® é o reagente com maior destaque
no mercado, utilizado para detecção de traços de sangue [1]. Para identificação
de saliva e sêmen são utilizados métodos mais simples, como o uso de
lâmpadas fluorescentes e/ou coloridas e análises de proteínas específicas [2].
Os primeiros possuem severas limitações, podendo frequentemente ser
inconclusivos, enquanto os últimos, altamente específicos, podem ser caros e
comumente são importados, tornando-se inacessíveis em larga escala.
O reagente de biureto foi amplamente utilizado nas indústrias alimentícia
e bioquímica por possuir a peculiar característica de reagir com proteínas,
alterando sua cor de azul para violeta, tornando possível sua quantificação [3].
Com o aparecimento de reagentes mais específicos e eficientes, como o
reagente de Bradford® [4], o biureto caiu em desuso. Este projeto propõe um
novo uso para o mesmo, como agente de revelação de fluidos corporais ricos
em proteínas (sêmen, saliva, sangue, etc), tomando vantagem de seu custo
acessível, estabilidade e facilidade de preparo.

METODOLOGIA
O princípio do reagente de biureto consiste na complexação dos íons Cu 2+
com grupos amino de proteínas, através do par eletrônico não-ligante do
nitrogênio. Para que a reação aconteça, é necessário o meio alcalino,
garantindo a disponibilidade destes pares, bem como a estabilização dos íons
cúpricos até o momento da complexaçao, feita pela adição de tartarato à
solução. Diversos protocolos são encontrados para o uso do reagente de
biureto, sendo que a referência para este trabalho inclui:
 Sulfato de Cobre II pentahidratado (CuSO4.5H2O) 6 mmol/L;
 Tartarato duplo de sódio e potássio 0,021 mol/L;
 Hidróxido de Sódio (NaOH) 0,75 mol/L [5]

A versão pretendida para borrifação foi preparada em concentração 10


vezes maior, exceto peloNaOH, cuja única função é manter o meio alcalino e
cuja concentração foi mantida a mesma do protocolo original. Com isso obteve-
se uma melhor resposta, pela maior concentração dos íons cobre. A fim de
simular uma matriz rica em proteínas, analogamente aos fluidos corporais,
várias substâncias foram usadas, como claras de ovo e gemas in natura, leite e
albumina de ovo desidratada (solução 25 g/L). As claras e a albumina em
solução produziram uma resposta bastante satisfatória, e sendo sua
composição similar à classe de proteínas daalbumina sérica, presente no
sangue e sêmen de mamíferos em geral [6], as mesmas foram escolhidas
como simulantes de fluidos corpóreos.
O método de revelação empregado consiste na produção de superfícies
controladamente marcadas com clara de ovo ou solução de albumina, como
plástico e tecido. Após a marcação, as mesmas são secas, borrifadas com
biureto e após cerca de 5 minutos, submetidas a fotografia com luz de
diferentes comprimentos de onda (cores) em câmara escura.
As fotos obtidas são tratadas em programas para edição de imagem e
em um algoritmo computacional que trata a imagem em seus canais RGB
(Vermelho, Verde e Azul), analisando todos os pixels da imagem e obtendo
vetores para cada pixel com o valor em bits de cada canal RGB. O valor dos
bits varia de 0 a 255, sendo 0 o valor mínimo (aproxima-se da ausência de cor
no canal), e 255 o valor máximo (aproxima-se da intensidade máxima do canal
selecionado). Quanto maior a intensidade de todos os canais, mais a cor final
se aproxima do branco, tornando possível uma aquisição mais segura mesmo
quando a análise visual não permite um contraste satisfatório a olho nu.

RESULTADOS
Uma análise visual das superfícies com a solução protéica reagida mostra
claramente o surgimento de manchas de cor violeta, como esperado pelo
comportamento do reagente em contato com proteínas, conforme mostrado na
Figura 1.
A B

Figura 2.Placa marcada com solução de albumina 25 g/L antes da borrifação


com biureto (A) e depois (B). Manchas violetas (padrão de respingos) são
visualizadas nas regiões marcadas (imagens sem tratamento de contraste).

Como o biureto apresenta uma alteração bastante característica e


definida, outras cores de luz foram usadas para iluminar os tecidos marcados,
visando fornecer somente os comprimentos de onda mais absorvidos pelo
reagente em complexo com proteínas, aumentando o contraste visual das
regiões de interesse. A Figura 3 mostra a mesma peça da Figura 2 iluminada
com diferentes cores de luz.

Branca Azul Vermelha

Turquesa Verde Amarela

Figura 3. Placa respingada com solução de albumina (Figura 2) fotografada


sob diferentes cores de luz. Enquanto algumas cores como azul e vermelho
não surtem efeito na imagem, outras cores podem realçar significativamente as
regiões reagidas.

Estas imagens, quando analisadas no algoritmo proposto, mostram uma


acentuada diferença nos canais de cores quando decompostos, como ilustra a
Tabela 1.

Tabela 1.Valores dos canais RGB das imagens obtidas para as diversas
regiões das superfícies estudadas.
Canal Reagente Tecido Placa Mancha protéica Mancha protéica
(azul) (branco) (branca) (violeta, tecido) (violeta, placa)
R 74 228 231 85 68
G 104 226 227 69 79
B 156 227 252 79 124

Este tipo de tratamento pode reforçar as análises meramente visuais,


elevando o nível de confiança do teste. Adicionalmente, espera-se que a
evolução deste algoritmo auxilie na aplicação do biureto em superfícies escuras
ou coloridas, onde as interferências visuais podem ser mais severas.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
A análise das superfícies após a aplicação do reagente mostra que a
aplicação do mesmoexpõe a presença de substâncias de origem biológica,
devido à presença de proteínas. Em uma situação na qual a análise visual não
seja segura, o algoritmo computacional pode indicar variações mínimas após
uma reação com o biureto.Considerando-se seu custo acessível, a facilidade
de sua aplicação e o uso de ferramentas simples para tratamento das imagens
geradas, espera-se que o reagente de biureto seja no futuro incluído como uma
ferramenta forense adicional no repertório dos peritos.

REFERÊNCIAS
[1] FERREIRA, E. C.; ROSSI, A. V.; A quimiluminescência como ferramenta
analítica: do mecanismo a aplicações da reação do luminol em métodos
cinéticos de análise. QUÍMICA NOVA, 25,2002.
[2] SANTUCCI, K. A.; NELSON D.G.; MCQUILLEN K.K.; DUFFY S.J.;
LINAKIS J.G.; Wood's lamp utility in the identification of semen. Pediatrics,
104(6):1342-4, 1999.
[3] WALES, T.W.; SCOTT, T.W.; WHITE, I.G.; Biuret reactive materials in
semen. AuftraL J. Exp. Biol., 39, pp. 455-462., 1961.
[4] ZAIA, D. A. M.; ZAIA, C. T. B. V.; LICHTIG, Jaim.; Determinação de
proteínas totais via espectrofotometria: vantagens e desvantagens dos
métodos existentes. QUÍMICA NOVA, 21(6), pp. 787-793., 1998.
[5] UNESP, Experimentos de Bioquímica. Disponível em:
<http://www.fcfar.unesp.br/alimentos/bioquimica/praticas_proteinas/reacoes_co
radasdois3.htm>. Acesso em 21 de maio de 2017.
[6] KATZ, D. F.; OWEN, D. H.; A Review of the Physical and Chemical
Properties of HumanSemen and the Formulation of a Semen Simulant. Journal
of Andrology, Vol. 26, No. 4, pp. 459-469., 2005.

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