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AS BASES DA INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA

O CAFÉ E A PRODUÇÃO INDUSTRIAL

Durante o século XIX e início do século XX, a produção de café constituiu-se como principal
atividade econômica no território brasileiro, contribuindo assim para notórias transformações da
sociedade e do espaço geográfico. Uma das mudanças tem relação com a mão de obra utilizada,
em especial a partir da segunda metade do século XIX. Diante de pressões internas e externas leis
abolicionistas são aprovadas, como exemplo, a Lei Eusébio de Queiroz que em 1850 proíbe o
tráfico de escravos, limitando o acesso dos fazendeiros à mão de obra utilizada à época. Deste fato
deriva uma pressão dos latifundiários sobre o Império que acaba estimulando a imigração
europeia para o Brasil com objetivos de substituir a mão de obra escravizada e promover o
embranquecimento da população e do território.

Apesar de serem mão de obra livre, os imigrantes, em sua grande maioria, não eram
trabalhadores assalariados, trabalhavam sob regime conhecido como barracão, que consistia em
trabalho em troca de participação na produção de café. Durante o período sem remuneração os
imigrantes consumiam alimentos, roupas, bebidas entre outros numa mercearia instalada pelos
donos dos cafezais na própria fazenda, o barracão. Como não tinham como pagar, o dono da
fazenda vendia fiado e descontava dos ganhos sobre produção de café a que teriam direito
os trabalhadores que muitas vezes acabavam em dívida com o fazendeiro. Esta forma de
organização com a qual os gastos do trabalho tendiam a zero permitiu aos barões do café desfrutar
de grandes lucros.

A intensa atividade econômica que encontra seu auge no oeste paulista produz uma série
de transformações no espaço geográfico. O porto de Santos passa por uma modernização,
tornando-se um dos mais modernos e movimentados do mundo e para conectar este centro de
escoamento do café para o mercado externo às zonas produtoras são construídas ferrovias que

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terá a cidade de São Paulo como principal nó, confluência de fluxos e onde se acumulavam os
capitais comerciais advindos da produção cafeeira.

OS SURTOS INDUSTRIAIS

Com a chegada da família real portuguesa e a pressão estabelecida pela Inglaterra vão ao
chão o Pacto Colonial e a proibição para a instalação de industriais no território nacional. Além
disso, a Tarifa Alves Branco (1844) taxa em 44% os produtos importados, protegendo a economia
nacional da concorrência. Estes fatos somados à atividade cafeeira produziram um primeiro
impulso à industrialização.

O entorno das estações ferroviárias constituíram-se como centros urbanos onde algumas
indústrias se instalam com objetivo de abastecer com produtos manufaturados e industrializados
os barracões das fazendas cafeeiras promovendo crescimento urbano no interior paulista. Na
primeira metade do século XIX algumas poucas indústrias têxteis e alimentícias aqui se instalaram
e a partir de 1850 há uma maior diversificação de ramos industriais e a partir de 1880 observamos
maiores investimentos de capital no processo de industrialização que se intensifica com a
instalação de maquinaria de grande porte e a utilização de numerosa mão de obra. A I Guerra
Mundial auxilia o processo de industrialização brasileiro que se intensifica, mas ainda não é a
principal atividade econômica no território.

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A CRISE DO CAFÉ

Nas primeiras décadas do século XX a produção cafeeira enfrenta dificuldades por conta da
superprodução mundial, do surgimento de países rivais na produção de café como a Colômbia que
invade o mercado norte americano e europeu por conta de sua posição geográfica privilegiada.

Com a crise da atividade cafeeira os barões do café se vêem obrigados a disponibilizar seus
capitais para investimentos distintos da produção de café e a atividade industrial é a escolhida.
Com este movimento, em especial a partir da década de 1920, São Paulo que até então acumulava
os capitais do comércio cafeeiro, consolida-se como o polo mais dinâmico da industrialização
nacional, posição mantida até os dias de hoje.

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A não industrialização

Durante séculos ficou proibida a instalação de manufaturas e de fábricas no território


brasileiro. A lei que bloqueava a industrialização no Brasil era o Pacto Colonial que foi derrubado
com a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808 e a partir de pressões inglesas que
visavam abrir o mercado consumidor brasileiro para seus negócios.

Mesmo com o fim da proibição, a industrialização no Brasil se manteve tímida durante do


século XIX e início do XX, ocorrendo como surtos, mas não como um processo mais consistente.
Algumas das causas para a não industrialização brasileira no período são:

a) Elites econômicas e políticas reacionárias, ligadas ao latifúndio e refratárias ao


processo de industrialização em um primeiro momento;
b) Indisponibilidade de capitais, pois estes eram controlados pelas elites agrárias e
financeiras que apostavam no café;
c) Infraestrutura precária, em especial do sistema de transportes;
d) Mercado consumidor restrito, por conta da escravidão.

Grande parte destas questões se resolve a partir do ciclo do café que proporciona a
instalação de ferrovias, da modernização do porto de Santos, melhorando a infraestrutura; há
substituição progressiva de mão de obra escravizada por mão de obra livre, em parte, assalariada,
formando um mercado consumidor mais potente que demanda produtos industrializados; com a
crise do café, há uma transferência dos capitais para o processo de industrialização, em especial
no início do século XX.

Porém, o controle político ainda estava com as antigas elites agrícolas, a República do Café
com Leite, impossibilitando maior ação do Estado brasileiro em favor da industrialização. Esta
situação se transforma com o golpe de Estado liderado por Getúlio Vargas que instalando seu
governo ditatorial, aposta na industrialização do país.

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O período Vargas (1930 – 1945 e 1951 – 1954)

Com Vargas no poder, a industrialização passa a ser uma prioridade do Estado brasileiro
que adota a política de substituição de importações como modelo a ser seguido. Esta política
consistia em um esforço para produzir dentro do território nacional tudo que antes era trazido de
fora. E para facilitar o desenvolvimento da indústria nacional, Vargas implementou uma série de
medidas protecionistas, diminuindo assim a competitividade de produtos importados.

Além disso, Vargas aposta na criação de indústrias de base que alavancariam outros setores
industriais, os de bens de consumo. São criadas a Companhia Siderúrgica Nacional em Volta
Redonda (1940), a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Fábrica Nacional de Motores (1943),
Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945) e já no segundo mandato, o democrático, a Petrobras 1
(1953). A industrialização brasileira além de ser tardia em relação aos outros países também foi
dependente do ponto de vista tecnológico e econômico.

Durante esse período, também se destacou a política trabalhista, destacando-se a criação


do salário-mínimo (1940) e Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943. Os sindicatos
passaram para o controle do Estado. Por conta destas medidas era conhecido como o “pai dos
pobres”, mas estas medidas visavam consolidar as relações capitalistas de trabalho com objetivo
de consolidar uma massa de consumidores que estimulassem por sua vez a produção industrial
nacional e por isto também foi chamado de a “mãe dos ricos”.

O evento para a promulgação da CLT se deu no Estádio de São Januário

Do ponto de vista geográfico a industrialização brasileira é extremamente concentrada no


triângulo formado por SP – Rio – BH. São Paulo polo mais dinâmico da industrialização por conta
dos capitais e infraestrutura advindos do café, Belo Horizonte se industrializa devido à proximidade
com as minas de ferro e manganês e o Rio por ser a capital, recebe investimentos industriais diante
da pressão da classe política ali estabelecida. Esta concentração industrial sudestina leva esta
região a capturar as outras regiões que produziam matérias prima e forneciam mão de obra,
subordinando as ao processo de industrialização que se desenvolvia. Neste momento São Paulo e
Rio de Janeiro se tornam metrópoles nacionais, atraindo migrantes de todo país, em especial do
nordeste. Aqui há uma mudança territorial do padrão dos arquipélagos econômicos para o padrão
da integração nacional.

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Campanha o Petróleo é Nosso
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A substituição de importações
Entende-se por substituição de importações o início da produção nacional de um produto
antes importado. Implica a mudança qualitativa no comércio exterior do país, uma vez que aumenta
também a importação de máquinas e equipamentos para a produção fabril. Segundo a Cepal
(Comissão Econômica para a América Latina), o relacionamento dos países exportadores de
matérias-primas com os países desenvolvidos era, até meados do século XX, caracterizado pela
“deterioração das relações de troca”, ou seja, os preços dos produtos primários se depreciavam em
relação aos dos produtos industrializados. Logo, a saída seria adotar um modelo de industrialização
por substituição de importações, com o objetivo de atender ao mercado interno, construindo um
processo de desenvolvimento “voltado pra dentro”. Até 1930, a precária produção industrial
nacional possuía uma enorme dependência de matérias-primas e máquinas compradas no exterior.
Desta forma, a Grande Depressão de 1929 foi o momento de ruptura da economia brasileira com
o modelo primário-exportador. Ou seja, ainda que a expressão substituição de importações possa
ser usada desde que a primeira unidade fabril se instalou no Brasil, foi apenas no governo de
Getúlio Vargas que teve início uma política industrial baseada em medidas fiscais e cambiais que
visavam a substituição de produtos importados por bens fabricados em território brasileiro.

O saldo desse processo foi a rápida ascensão da indústria, que passa a ser o principal fator
dinâmico da economia brasileira. Era, contudo, um processo de industrialização ainda incompleto,
na medida em que os setores produtores de bens de capital e bens intermediários ainda eram
pouco desenvolvidos no país. Até os anos 1930, as indústrias em território brasileiro eram, com
poucas exceções, do setor de bens de consumo não duráveis, tendo o capital privado nacional
como a maior fonte dos seus recursos.

Já durante o governo Vargas, foi a vez do capital estatal se tornar financiador das indústrias.
Cabe destacar que, até a crise de 1929, as ideias liberais eram predominantes no mundo capitalista,
e acreditava-se que o livre comércio e as forças do mercado seriam capazes por si só de promover
maior crescimento da economia e desenvolvimento. Contudo, a depressão americana deu início a
uma época em que os governos passaram a intervir intensamente na economia, seguindo um
conjunto de práticas recomendadas pelo keynesianismo. Portanto, durante os diferentes períodos
em que esteve no poder (1930-1945 e 1951- 1954), Vargas levou à frente uma política de
intervencionismo estatal na qual o dinheiro público permitiu a criação de estatais, que visavam
suprir o país com bens de produção e bens de capital, incluindo matéria-prima, minérios,
combustíveis, eletricidade, veículos, máquinas, motores e siderurgia. Dentre as estatais criadas no
período, destacam-se as seguintes empresas: Companhia Vale do Rio Doce (CRVD); Companhia
Hidrelétrica do São Francisco (Chesf); Fábrica Nacional de Motores (FNM); Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN); Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); e Petrobras.

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