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Termos e conceitos no debate

sobre relações raciais.


LEC - 2022
Introdução

• A discussão das relações raciais é permeada por uma diversidade de


termos e conceitos.

• O que vamos expor são os significados construídos pelo movimento negro,


numa dimensão política que significa o combate ao racismo.

• Primeiro um esclarecimento sobre o conceito de negro(a): IBGE e IPEA)


1- IDENTIDADE
• Um conceito complexo e de uso difuso.
• Ele está presente em todas as sociedades:
De acordo com o antropólogo Kabengele Munanga:

A identidade é uma realidade sempre presente em todas as sociedades


humanas. Qualquer grupo humano, através do seu sistema axiológico sempre
selecionou alguns aspectos pertinentes de sua cultura para definir-se em
contraposição ao alheio. A definição de si (autodefinição) e a definição dos
outros (identidade atribuída) têm funções conhecidas: a defesa da unidade do
grupo, a proteção do território contra inimigos externos, as manipulações
ideológicas por interesses econômicos, políticos, psicológicos, etc.
(MUNANGA, 1994: 177-178).
Outra autora (Silvia Novaes,1993), nos diz que a
identidade é muito usada no plano do discurso
para criação de um “nós” coletivo, criando um
sistema de representação.
Identidade não é algo inato, é fator de indicação
de relações sociais. Ela é invocada politicamente,
culturalmente, socialmente, religiosamente etc, e
quando existem relações de poder assimétricas.
Ex. Indígenas, negras, LGBT, jovens, Idosos etc.
Outra característica da identidade diz respeito a
demarcação das diferenças.

O “meu” cria o “seu”, a autodefinição cria a diferença


atribuída em relação ao outro.

Portanto, identidade pressupõe uma interação.

Nenhuma identidade é definida ou construída no


isolamento e ela é sempre negociada.

Somos sujeitos de muitas identidades.


2- Identidade negra
• É uma construção social, histórica e política

• No Brasil tem um histórico


escravidão – miscigenação – eugenia – movimento negro
• Para entender melhor esse conceito, precisamos ver outros como
RAÇA – ETNIA – RACISMO - ETNOCENTRISMO
3- Raça
• A primeira compreensão é a percepção de onde e quando se está
pronunciando sobre este termo.
• Europa – colonização – racialismo científico – imperialismo –
nazifascismo – projeto genoma
• De termo pejorativo, o movimento negro ressignifica a “raça”.
• Mesmo que a cor da pele, o cabelo ou o “biotipocorporal” não sejam
definidores de diferenças genéticas ou de
inferioridade/superioridade, o movimento negro ainda usa o termo
raça.
Raça, para o movimento negro tem o significado
político a partir da análise do tipo de racismo que
foi e é construído no Brasil.

“(...) na construção das sociedades, na forma como negros e brancos são vistos e
tratados no Brasil, a raça tem uma operacionalidade na cultura e na vida social. Se
ela não tivesse esse peso, as particularidades e características físicas não seriam
usadas por nós, para identificar quem é negro e quem é branco no Brasil. E mais,
não seriam usadas para discriminar e negar direitos e oportunidades aos negros
em nosso país”. (Gomes, 2008, p 48)
Assim, raça, é encarado como uma construção
social, cultural e política que identifica as práticas
de racismo para combate-las. Não é um dado da
natureza, é uma identificação de como as
diferenças físicas, no Brasil, são tratadas como
desigualdades.
4- Etnia
• etimologicamente, “etno” deriva do grego “ethnos” e se refere à etnia,
raça, povo, clã.
• No pós-guerra, ganham força os conceitos de “etnia” ou “etnicidade”, para
definir um conjunto de indivíduos ou grupos identificados pela língua,
mitos, religiosidade e instituições comuns. Posteriormente, inventa-se o
termo “fator étnico”, denominando aqueles grupos de imigrantes que se
encontram à margem das sociedades ou que são reservas econômicas de
trabalhadores fora da cadeia de produção dominante. Em tempos de
globalização, o termo etnicidade vem denominando também as
manifestações regionalistas como as de tibetanos, croatas, catalães etc.
• Ele ganha força em função das barbaridades cometidas pelos nazistas que,
em nome da raça branca e ariana considerada superior a todas as outras
raças.
Um grupo possuidor de algum grau de coerência e solidariedade,
composto por pessoas conscientes, pelo menos em forma latente,
de terem origens e interesses comuns. Um grupo étnico não é mero
agrupamento de pessoas ou de um setor da população, mas uma
agregação consciente de pessoas unidas ou proximamente
relacionadas por experiências compartilhadas (CASHMORE, 2000:
196).
Entretanto, o termo etnicidade surgiu na França no início do século
XX. Sua definição inicial refere-se a um tipo de solidariedade
particular, laços intelectuais de língua e cultura, diferente do termo
nação, atribuída à organização política, e o termo raça, atribuída às
semelhanças físicas. Este conceito – etnicidade – é resultado de
uma invenção dos países colonizadores, para melhor descrição dos
povos dominados. Muitas vezes, as diversas definições se
confundem com termos como raça, nação, sociedade e identidade.
5- Racismo
O racismo é, por um lado, um comportamento, uma ação resultante da
aversão, por vezes, do ódio, em relação a pessoas que possuem um
pertencimento racial observável por meio de sinais, tais como: cor da pele,
tipo de cabelo, etc. Ele é por outro lado um conjunto de idéias e imagens
referente aos grupos humanos que acreditam na existência de raças
superiores e inferiores. O racismo também resulta da vontade de se impor
uma verdade ou uma crença particular como única e verdadeira.
Teoricamente, o racismo é uma ideia ocidental (europeia) excludente,
porque versa sobre a universalização do conceito de humanidade.
Universalizar, segundo Muniz Sodré: (...) significa reduzir as diferenças a
um equivalente geral, um mesmo valor.

É a universalização racionalista do conceito de homem que inaugura, no


século XIX, o racismo doutrinário. Até então, as raças ou as etnias podem
ter sempre alimentado ódios ou desconfianças mútuas – que
frequentemente culminavam em massacres cruéis –, mas nunca sob
alegações científicas, sob o critério de uma razão universal.

(...) A palavra racismo é fruto do século XIX, consequência de um


conceito de cultura fundado na visão indiferenciada do humano. (SODRÉ,
2005, p. 27-28)
Duas formas de expressão do racismo:
individual e institucional.
• Individual – agressões físicas, verbais, apelidos, gestos, piadas, termos
pejorativos, olhares de reprovação dentre outros, cometidos contra
um sujeito não branco.

• Institucional – praticas discriminatórias sistemáticas fomentadas pelo


Estado ou com seu apoio indireto. São do tipo: isolamento de negros
em bairros, escolas, empregos. Invisibilidade em livros didáticos ou
com imagens estereotipadas e deturpadas. Silêncio dos gestores em
instituições sobre praticas de racismo cotidiano. Publicidade, Novelas,
mídia, etc.
6- Etnocentrismo
• termo criado em 1906 pelo sociólogo americano William Graham
Summer (1840-1910) –, portanto, é a base explicativa sociológica e
antropologicamente dos preconceitos, discriminações, racismos,
homofobia, sexismo e estereótipos sobre os mais variados grupos,
considerados diferentes em comparação a um determinado padrão.

• Assim, “etnocentrismo” significa considerar a sua etnia como o centro


ou o eixo de tudo, a base que serve de referência ou o ponto de vista
de onde se deve olhar e avaliar o mundo ao redor.
E os europeus fizeram isso muito bem: conseguiram pela
primeira vez na história mundial transformar o próprio
etnocentrismo em universalismo, afinal, até hoje a grande
maioria dos conteúdos que aprendemos nas escolas e nas
universidades nos apresenta uma visão eurocêntrica.
Diferenças entre os termos:

• Preconceito: conceito ou opinião formada antecipadamente, sem maior ponderação


ou conhecimento dos fatos; julgamento ou opinião formada sem levar em conta os
fatos que o contestem. Trata-se de um pré-julgamento, isto é, algo já previamente
julgado.

• Discriminação: separar; distinguir; estabelecer diferenças. A discriminação racial


corresponde ao ato de apartar, separar, segregar pessoas consideradas racialmente
diferentes, partindo do princípio de que há raças “superiores” e “inferiores” – o que
ficou definitivamente comprovado pela ciência que não existem. Nós, seres humanos,
fazemos parte de uma única espécie – o Homo sapiens.

• Racismo: teoria que sustenta a superioridade de certas “raças” em relação a outras,


preconizando ou não a segregação racial ou até mesmo a extinção de determinadas
minorias.
Afinal, o que acontece com o Brasil?

Qual é a cor da pele dos brasileiros? Muitos afirmam


que somos morenos ou de todas as cores, e que a
grande marca do brasileiro é a miscigenação, ou seja, a
mistura das “raças”. Para muitos, isso comprova que
não existe racismo no Brasil.
Referências para o estudo dos conceitos e das
relações raciais no Brasil

BENTES, Raimunda Nilma de Melo. Negritando. Belém: Graphitte,1993.


BERND, Zilá. Racismo e anti-racismo. São Paulo: Editora Moderna, 1997.
BORGES, Edson, MEDEIROS, Carlos Alberto e d´ADESKY, Jacques. Racismo, preconceito e intolerância. (Orgs.) São Paulo: Atual, 2002.
CASHMORE, Ellis. Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Selo Negro, 2000.
D’ADESKY, Jacques. Racismos e anti-racismos no Brasil. Pluralismo étnico e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Pallas, 2001.
GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Racismo e Anti-Racismo no Brasil. São Paulo: Editora 34, 1999.
JACCOUD, Luciana e BEGHIN, Nathalie. Desigualdades raciais no Brasil: um balanço da intervenção governamental. Brasília, Ipea, 2002.
MOURA, Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Ática, 1988.
MUNANGA, Kabengele e GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo:
Global; Ação Educativa, 2004.
SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro, Rio de Janeiro: Graal,1983.
TODOROV, Tzetan. Nós e os outros . a reflexão francesa sobre a diversidade humana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

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