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Imbatível – 1º edição

Copyright © 2022 Ray Pereira


Revisão: Sonia Carvalho
Leitura crítica: Danielle Barreto
Capa: Will Nascimento
Diagramação: Ray Pereira

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens ou situações não


correspondem à realidade.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada
e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, sem permissão
dos detentores dos direitos autorais.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido por através da lei
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Texto revisado de acordo com as regras do Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa.
Agradecimentos
Em geral, eu costumo deixar os agradecimentos para o final. Porém, desta
vez, senti que precisava fazer diferente.
Só Deus e minhas amigas sabem quantas vezes eu desisti de lançar esse livro.
Por milhares de motivos. E se você está com ele em suas mãos hoje, é apenas porque
elas não soltaram a minha mão (ameaçaram vir para Salvador puxar meus cabelos, e
como tinham o arquivo, subir por mim). Brincadeiras – ou não – a parte, eu tenho que
agradecer IMENSAMENTE a vocês: Ari Fonseca, Crys Carvalho, Danielle Barreto,
Fabi Dias, Taiane Maciel, Tati, Val. São meia noite e doze, e, como prometido, subi o
arquivo (dedos cruzados, por favor).
Sério. Se não fosse por vocês, essa história seria arquivada. E todos os sonhos
que nasceram com o Andrew e a Leighton. MUITO OBRIGADA por segurarem
minha mão, secarem minhas lágrimas e não me deixarem desistir. Vocês são
maravilhosas. Eu amo vocês!
Eu sempre achei que escrever fosse uma coisa solitária, mas vocês, minhas
amigas, têm me ensinado a cada dia que não. Que escrever é sinônimo de
companheirismo, parceria e ter com quem contar sempre.
Obrigada as meninas do Clav-BR por aturarem meus surtos diariamente. As
minhas leitoras lindas do grupo de whats Amores da Ray pela parceria, pelas risadas,
por tudo que compartilhamos (e desculpa por ter lançado tão de surpresa. Estava com
medo de desistir de lançar outra vez).
Um obrigada especial a minha família que atura meus silêncios no processo
de escrita, meus sumiços na finalização e os surtos quando estou perto de lançar.
Prometo que vou arrumar a casa todinha agora. A faxina vem!
Agradeço a todas as meninas que se disponibilizaram a me ajudar na
divulgação dessa história, a cada uma que me ouviu falar sobre a minha falta de
expectativas e que seguraram a minha mão. A equipe do Talitalendo. Obrigada por
todo apoio sempre.
Obrigada a você, leitor/leitora, que chegou até aqui.
Eu espero, de todo coração, que goste da história do Andrew e da Leighton.
Espero que, de alguma forma, eles toquem seu coração.
Ah, e se eu puder fazer um pedido, conta pra mim lá na DM o que achou!
Vou ficar ansiosa para saber.
Nota da autora
Primeiramente, eu preciso dizer:
ENFIM, ESSE LIVRO SAIU! Ufa!
Obrigada por me permitirem esse surto inicial. Agora, voltando a nossa
programação normal, preciso dizer que escrever Imbatível foi uma enorme aventura.
Existem gêneros que eu amo. Romance universitário está entre os meus cinco
preferidos. Mas, olha só, escrevendo o Andrew e a Leighton eu me dei conta que
gostar de ler e escrever um romance universitário são duas coisas absurdamente
distintas. Entre muitos desafios, apreciei a experiência e estou aqui de dedos cruzados,
subindo esse arquivo, esperando que vocês gostem também.
Preciso dizer que nesse livro, usando da minha liberdade criativa, também
criei uma universidade que faz parte da Ivy League. Então, não importa qual seja seu
esporte preferido, aqui você vai encontrar um personagem para chamar de seu.
Eles podem ser meio burrinhos em alguns momentos, eu sei. Também revirei
os olhos, quis bater, quis mudar coisas, mas essa é uma luta que nós, autores,
SEMPRE perdemos. Eles fazem o que querem e a gente que lute.
Enfim, acho que agora é meu nervosismo falando e impedindo vocês de
conhecerem esses dois, seus amigos e suas histórias.
Ah, se enquanto estiver lendo gostar de alguma cena e quiser compartilhar
comigo, vou amar. Só me marcar ou chamar na DM e vamos surtar muito juntas!
É isso, amore!
Beijos, e uma ótima leitura.
Fortes são aqueles que transformam em luz a sua escuridão.
Autor desconhecido
Agradecimentos
Nota da autora
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Epílogo – Leighton
Epílogo – Andrew
Nota Final
Epígrafe
Você faz meu coração parecer que é verão
Mesmo quando a chuva está caindo
Você faz o mundo inteiro parecer certo,
Mesmo quando ele está todo errado.
E é assim que você é a minha pessoa certa.

É fácil ter medo da vida


Com você eu estou preparado para
O que ainda está por vir
Porque nossos dois corações vão deixar isso mais fácil
Unindo os cacos
Juntos, tornando-se um só.

[...]

Quando nós estamos juntos


Você faz sentir como se minha mente
Estivesse livre e meus sonhos fossem alcançáveis.
Você sabe que eu nunca acreditei no amor
Ou que um dia ia encontrar você.
The One – Kodaline.
Prólogo

— Você não pode contar o que fizemos para ninguém, Boo[1] —


James, meu vizinho e melhor amigo falou, sério, um pouco antes de
chegarmos à porta da minha casa.
Meu coração ficou estranho como sempre ficava quando ele me
chamava daquela forma. Eu sabia que não queria dizer nada demais, afinal
ganhei esse apelido quando ainda era um bebê. O apelido queria dizer apenas
que eu era a boa e velha Boo de sempre.
— Nem pra mamãe? — perguntei, franzindo a testa e apertando um
pouco os olhos para conseguir vê-lo melhor por causa do sol forte.
— Muito menos para a sua mãe, Boo. — Ele parou de andar, fiz o
mesmo voltando meu corpo para o dele para que ficássemos de frente um
para o outro. — Você não lembra o que combinamos? Vamos surpreender a
todos quando você ganhar o papel principal na peça de inverno.
Dei risada com vergonha. Gostava da forma como ele falava. Gostava
quando ele mostrava que acreditava em mim. Gostava quando ele me
incentivava.
Eu realmente queria muito ganhar o papel principal. Sabia o que
queria ser quando crescesse: ser atriz e aparecer muito na televisão. Queria
que todo mundo visse que eu era muito boa naquilo, mas era difícil conseguir
ensaiar sozinha. Por isso eu fiquei tão feliz quando o James disse que tinha
conseguido uma câmera para me filmar enquanto eu ensaiava.
Ele me contou que viu num documentário que adaptar as câmeras era
importante para me deixar à vontade quando eu estivesse gravando novelas e
beijando atores adultos bonitos que nem o Leonardo de Caprio em Titanic.
James e eu assistimos escondidos uma vez.
Nós dois éramos amigos desde sempre. A minha mãe e a dele se
conheceram quando meus pais se casaram e vieram morar na nossa rua. Eu
ainda não tinha nascido, mamãe estava grávida na época, mas o James já
fazia parte do mundo em que vivíamos. Mamãe dizia que elas se deram bem
logo de cara e se tornaram inseparáveis. Assim como James e eu.
Mamãe trabalhava dando plantão no hospital e papai de segurança em
um shopping. Às vezes os dois tinham que dormir no trabalho e então a
senhora Linn cuidava de mim quando eu chegava da escola e muitas vezes eu
dormia em sua casa.
As meninas da minha sala diziam que ele era meu namorado, e que
por isso ele me chamava de Boo. Eu dizia que não, mas quando eu crescesse,
se o James não tivesse uma namorada, eu acho que gostaria de beijá-lo. E
depois, nós podíamos casar e ele estaria ao meu lado quando eu recebesse um
monte de prêmios por ser boa atriz, exatamente como ele fazia para me ajudar
a ensaiar os textos que o senhor Linn, seu pai, nos passava.
Ele dizia que nosso primeiro filme juntos seria um sucesso.
Eu acreditava nele.
— Promete pra mim? — pediu.
Pensei um pouco sobre aquilo.
Amigos precisam confiar uns nos outros, mas mamãe era minha
melhor amiga e eu tinha prometido que não guardaria segredo dela. Mas
também não queria magoar o James, ele e o senhor Linn estava trabalhando
duro para que nosso filme fosse um sucesso e para que eu tivesse uma boa
carreira quando crescesse. Talvez não fosse errado não contar nada agora.
Mamãe contava tudo para o papai, e um dia eu ia casar com o James, então
não teria problema guardar o nosso segredo até que tivéssemos finalizado as
gravações.
— Tudo bem. — Sorri para ele, vendo como seu corpo pareceu
relaxar com a minha confirmação. — Eu não vou contar.
Ele retribuiu o sorriso.
— Você é uma boa menina, Boo. — James deu um passo ficando
mais perto de mim, e brincando com um dos meus cachos que estavam soltos
no rabo de cavalo. — Amanhã nós vamos encenar Romeu e Julieta. Eles se
amavam, mas suas famílias se odiavam e não aceitavam o amor deles. — Sua
mão foi parar em meu ombro, em um sinal que eu tinha. Ele sempre brincava
com meu sinal quando estávamos bem pertinho em nossos ensaios. — Tenho
certeza de que você vai gostar.
Assenti.
Eu ia gostar, com certeza.
Gostava de tudo que eu sentia quando estava com ele.
Capítulo 1

“Por favor, me diz que você já entrou na sala.”


A mensagem de Ab, meu melhor amigo, despertou-me do meu torpor.
“Acho que é melhor não dizer nada, então.”
Mordisquei o lábio, ao mesmo tempo em que uma voz, próxima a
mim, pediu-me licença. Dei dois passos para o lado, abrindo espaço para que
a garota passasse. Ela sorriu, daquela forma que garotas sorriem para outras
quando querem deixar claro que compreendem o que estão sentindo.
“Leigh, você fez por merecer. Se esforçou. Devia estar orgulhosa,
não com medo.”
Soltei um suspiro alto demais. Ele estava certo. Eu sabia.
“Sei lá... e se quando eu entrar na sala, descobrir que foi um erro?
Que recebi o e-mail por engano e a pessoa correta era outra Leighton com
um sobrenome parecido com o meu?”
Eu podia vê-lo revirar os olhos para meu pessimismo.
Dessa vez, ao invés de digitar, ele gravou uma mensagem de voz.
Peguei os fones sem fio, pondo-os no ouvido e dando play logo que a
mensagem terminou de carregar.
“Leigh, por favor, não me faz gastar a grana que já não tenho,
comprando uma passagem de avião só para invadir a Walker e dar uns tapas
em sua cara, agora.”
Mordi os lábios, contendo uma risada.
“Seria bem vindo, acredite.” Devolvi.
“Esse sempre foi o seu sonho. Você está exatamente onde planejou a
vida inteira, Leigh. Viva suas conquistas. Entra nessa sala, agora!”
Senti meu coração se aquecer um pouco com as suas palavras.
Meu e-mail de confirmação havia chegado meses atrás e eu até estava
instalada no dormitório da universidade. Mas, por que razão eu ainda sentia
que, a qualquer momento, a professora me expulsaria da sala chamando-me
de impostora ou que eu acordaria e perceberia que tudo isso era um sonho e
que eu estava de volta aos meus pesadelos.
Era improvável, eu sabia. Mas improbabilidades são coisas que
costumam acontecer em minha vida. E realizar o sonho de estar em uma das
universidades mais importantes do país que integram a Ivy League, a Walker
University[2], era ainda mais improvável.
Não, impossível.
Pelo menos era o que todos me diziam. Eu não vim de família rica,
muito pelo contrário, meus pais ralaram muito para garantir que eu tivesse
mais oportunidades que eles na vida, então costumava ficar irritada quando as
pessoas riam de minha cara quando eu afirmava, imponente, que, um dia,
estaria aqui.
E, ainda que odiasse quando duvidavam de mim, eu não me
intimidava. Usava tudo aquilo como estímulo. Então, graças a todos que não
acreditaram em minha capacidade, eu consegui realizar meu sonho.
Bem... quase, já que eu continuava parada, na frente da porta onde
aconteceria a minha primeira aula.
Patético?
Sim, claro.
Mas era como se eu estivesse em um sonho bom demais para ser
verdade.
“Já entrou?”
A mensagem chegou apenas alguns segundos depois, junto com um
sticker de uma ameaça de surra.
Ri, bloqueando a minha tela e guardando o aparelho no bolso. Era
isso. Eu precisava entrar. Tinha chegado até aqui. Iria mais longe.
Soltei o ar com força, tentando convencer a mim mesma que eu estava
pronta para dar aquele passo.
— Posso entrar na sala, ou você vai continuar plantada atrapalhando
quem realmente sabe o que está fazendo aqui? — Quase dei um pulo,
percebendo o quão próximo o dono da voz estava de mim.
O timbre masculino era intenso e imponente a ponto de fazer com que
os pelos do meu corpo se eriçassem e meu coração quase parasse de bater por
conta do susto. Meus passos, já lentos, se tornaram mais confusos quando
notei as pessoas ao redor nos encarando. O cheiro que emanava de seu corpo
atingiu-me tão forte quanto as suas palavras, deixando-me desnorteada por
uma fração de segundos. Ele cheirava a tabaco, limão e madeira. Parecia
incomum, mas de um jeito estranho, tinha a sensação de que combinava
perfeitamente com o homem parado à minha frente.
Ele era alto. Muito alto. Devia chegar perto de um e noventa de altura.
Seus ombros eram largos. Com certeza fazia parte de algum dos times da
universidade. Não era exatamente corpulento, mas tinha músculos em todos
os lugares certos. Uma rápida olhada fez com que eu notasse tudo isso.
Vestia uma camisa cinza com uma imagem de um cara soltando
fumaça dos lábios com a inscrição “f*ck u” acima da imagem. A calça jeans
escura moldavam muito bem as panturrilhas grossas e tinha aquela postura de
que não estava nem aí para o que pensavam a seu respeito.
O cabelo era uma mistura entre castanho-claro quase loiro e estava
espalhado, não como alguém que acaba de sair da cama, mas como se tivesse
passado os dedos pelos fios deixando-os desgrenhados, o que garantia um ar
sexy ao rosto perfeito demais, típico dos filmes com bad boy.
Ele tinha ciência de que era um gostoso-mor e com certeza sabia usar
aquilo a seu favor. Conhecia bem o tipo.
— Desculpa. — Clareei a garganta ao notar que minha voz quase não
saiu. — Desculpa — murmurei, sem graça, dessa vez de maneira mais
audível, dando um passo para o lado, permitindo que ele fosse à frente. — É
meu primeiro dia, só estou nervosa.
O cara me olhou de corpo inteiro, como se me analisasse e me senti
ainda mais nervosa. Queria que o chão se abrisse e me tragasse com tantos
olhares direcionados a nós dois.
Ele soltou uma risada estranha pelo nariz, balançando a cabeça em
negativa como se me reprovasse.
— Ninguém quer saber se você é um cachorrinho assustado, só sai da
porra do caminho — parecia impaciente.
— Eu não estou... — senti minha voz morrer com o olhar intenso que
me lançou, como se quisesse dizer que não importava o que sairia da minha
boca, eu e ele sabíamos que ele estava certo.
E estava mesmo.
Ele não falou mais nada erguendo a sobrancelha, da mesma forma
como fazemos quando queremos recriminar uma criança.
Sem ter o que fazer, eu o assistir passar pela porta, fechando-a, mas
não sem antes dar uma olhada para trás, em minha direção. Os olhos
brilhavam como quem queria mostrar que era assim que se fazia. Apesar da
porta ter sido fechada, seu perfume ficou para trás, forte e intenso tal qual ele
parecia ser.
— Não liga para esse cara. — Uma garota falou, pegando do chão um
dos meus fones que nem havia notado que havia caído e entregando-me. —
Ele é um babaca.
Pisquei, sentindo-me meio tonta com sua presença. A garota que se
materializou repentinamente ao meu lado parecia o sol com os cabelos
reluzentes, olhos claros e pele bronzeada. Ela sorriu, entrelaçando seu braço
ao meu como se fôssemos melhores amigas a vida inteira e empurrando a
porta para que entrássemos.
— Você o conhece? — quis saber, mordiscando o lábio e fingindo
ignorar os olhares das pessoas que viraram em nossa direção para ver quem
entrava na sala.
Eu odiava que me encarassem daquela maneira.
A garota me olhou, daquela forma que só quem está doido para soltar
uma fofoca sabe fazer.
— Não exatamente, mas não é preciso muito para saber que ele e seus
amigos são o que existem de pior para o coração das garotas nesse campus.
— Deu de ombros, como se fosse uma explicação plausível. — Seu nome é
Andrew. Andrew Davis. Ele é o tipo de garoto sobre quem você vai querer
escrever em seu diário, mesmo tendo certeza de que não deve. O típico
estudante que não aguenta manter o pau dentro das calças transando com
qualquer coisa que tenha um buraco entre as pernas e ouvi dizer que ele adora
comer o de trás também, sabe? — Ergueu a sobrancelha, com uma careta
engraçada. — Posso apostar que vai morrer com alguma doença venérea.
Involuntariamente, olhei em sua direção. Tinha o rosto voltado para
algumas fileiras acima de onde estava sentado.
— Se você não o conhece exatamente, não tenho ideia do tipo de
coisa que você diria sobre quem conhece exatamente.
Ela riu, encarando o comentário como um elogio.
— Nos dias de hoje, uma garota tem que ser precavida, querida. —
Piscou em minha direção. — Essa é primeira lição importante que você vai
aprender comigo.
— Isso quer dizer que tem outras? — quis saber.
— Muitas delas — expirou com intensidade, exibindo uma expressão
de entusiasmo. — Sabe de uma, acho que seremos grandes amigas.
Apesar do sorriso enorme no rosto, tinha um ar de seriedade.
— Suponho que eu não terei opção de discordar.
— Não mesmo. Em breve você vai perceber que eu sou a melhor
coisa que aconteceu em sua vida. — Soltou um beijinho em minha direção,
fazendo-me rir. — Vem, vamos sentar.
Puxou-me para uma fileira parcialmente vazia. Havia, pelo menos,
quatro pessoas espalhadas entre as cadeiras. A garota escolheu nosso lugar e
eu pus a bolsa que carregava com meus materiais.
De onde estávamos sentadas, eu podia vê-lo.
Andrew Davis.
Ele havia escolhido um lugar bem no centro da sala e algo me dizia
que aquilo era proposital. Como se quisesse ser o centro das atenções. Coisa
que, aliás, não devia ser nada difícil. Ainda mantinha o rosto voltado para
trás, movendo os lábios de maneira silenciosa enquanto falava alguma coisa
incompreensível com um garoto algumas fileiras acima. Era um homem
preto, musculoso e tinha um daqueles sorrisos amigáveis. Pareciam se
provocar, de forma divertida.
Notei que ele, o cara com quem Andrew conversava, olhou em nossa
direção, parando o olhar na garota ao meu lado por alguns segundos e
franzindo o rosto como se estivesse surpreso em vê-la aqui, em seguida,
acenou para a garota ao meu lado. Ela devolveu o aceno com um sorriso sem
graça, depois olhou para mim e, percebendo minha curiosidade, já foi
explicando.
— Malcon. Nós estudamos na mesma escola, ele era uma turma à
frente da minha e fazia parte dos garotos mais populares também. Saiu com
uma amiga minha umas duas vezes. Claro que andaria junto com o Andrew.
— Rolou os olhos.
Movimentei a cabeça de forma afirmativa, olhando para eles outra
vez. Eu podia imaginá-los sendo como a garota ao meu lado havia descrito.
Os típicos caras que costumavam destruir o coração de meninas que ousavam
entregar muito mais do que aquilo que tínhamos entre as pernas.
— A propósito, Madison. Madison Mars. — A garota sorriu em
minha direção, do nada, estendendo a mão. — Bem, meu pai quem escolheu
esse nome, sabe? Pura falta de criatividade já que significa filha de Mateus, o
nome dele.
Deu de ombros. Eu ri pela sua indignação.
— Leighton Westerwood — respondi de volta. — Desculpa, mas não
posso te dizer o significado do meu nome, não sei.
— Uma pena. Você não sabe as informações importantes que
podemos descobrir sobre alguém apenas analisando significado, simbologia e
tudo mais.
Apesar de não ser da minha índole julgar alguém à primeira vista, se
tivesse que falar algo sobre Madison, diria que ela era o tipo de pessoa que
amava falar. Ser escutada, especialmente. Também diria que era rica. Bom,
isso não era exatamente um palpite. Chegar a essa conclusão foi fácil, era só
olhar a mistura de marcas em suas roupas. Bolsa Chanel, Vestido marrom
com LV em sua estampa deixando claro que pertencia a famosa marca Louis
Vuitton e os saltos Jimmy Choo.
Alguém como eu não devia reconhecer nenhuma dessas marcas que o
meu suado dinheirinho jamais conseguiria pagar, mas o Abrain sonhava,
desde sempre, em ser um grande estilista. Isso significava que eu passava
algum tempo o ajudando a montar inspirações em seu caderno recortando as
revistas que roubávamos de nossas mães.
— Aqui. — A garota enfiou o celular à minha frente. Encarei-a, com
o cenho franzido. — Só põe sua data e horário de nascimento. Vou fazer seu
mapa astral. Sinto que podemos ser grandes amigas, mas sabe como é,
preciso confirmar com os astros antes — falou mais baixo como se fosse um
segredo.
Ri, por alguns segundos, achando que era brincadeira, até que meus
olhos caíram para o iphone, mais nova geração, daqueles que só faltavam
falar e dançar, estendido à minha frente.
Antes que eu pudesse reagir, a senhora Hughes entrou na sala dando
bom dia. Sorri amarelo para Madison como se lamentasse a interrupção,
entretanto internamente estava dando pulinhos de alegria. Não era a mais
sociável das pessoas, o completo oposto da minha colega. Com sorte, ela
estaria errada e até o final da manhã nem mesmo se lembraria da minha
presença.
Ela até parecia legal, mas eu não queria isso. Eu nem ao menos
saberia se podia confiar nela, ou em alguém dentro dessa sala. Bem, em
ninguém dentro desse campus. Ou no mundo.
Amizades e garotos estavam fora de questão.
Eu sabia exatamente o que tinha que fazer: Procurar um emprego em
algum lugar, para não ser um peso para os meus pais e focar em ser a melhor
da turma.
Capítulo 2

Eu odiava muitas coisas no mundo.


A vida.
O universo.
O acaso.
O filho da puta do técnico do time de hóquei da Walker University.
Odiava ter tantos motivos para odiar tantas coisas.
Meu genitor.
Apesar de esse último ocupar o topo da minha lista de coisas que
odeio, hoje, e apenas hoje, ele ocupava a segunda posição.
Eu odiava o primeiro dia de aula.
Muitos calouros entravam na universidade acreditando que poderiam
mudar o mundo. Patricinhas, nerds e mauricinhos felizes, um bando de gente
rica e despreocupada que podia limpar a porra da bunda com o valor que eu
estava literalmente me fodendo para conseguir, como a garota parada na porta
da sala hoje, como se ela tivesse feito o mínimo esforço para estar aqui.
Com certeza, era só mais uma das filhinhas de papai que estavam
atrás de um diploma que jamais usariam depois de conquistar a carteira de
um dos ricos desse prédio. E não demoraria. Era fácil saber disso pela forma
como todas as cabeças masculinas pareciam estar hipnotizadas pela presença
da garota. Eu até os entendia. Ela era bonita. Mas, com certeza, do tipo que já
planejava casamento e filhos no primeiro beijo.
O pior tipo de garota que existia.
Mas, assim como eu odiava o primeiro dia de aula, costumava adorar
a primeira festa. Bebida e muita possibilidade de sexo.
Passei pela cozinha da casa fraternidade Alfa superlotada retornando
para a sala com um copo de cerveja em uma das mãos e o cigarro na outra.
As pessoas abriam espaço para mim cumprimentando-me com acenos.
As meninas podiam até desmaiar apenas por ter meus olhos voltados
em sua direção. Ser o garoto malvado fazia toda e qualquer garota abrir as
pernas para mim.
— Oi, gostoso. — Uma garota de cabelo azul com quem eu transei
algumas noites atrás, quando a maioria das pessoas do campus ainda não
havia voltado das férias, acenou, balançado os dedos em minha direção e
parando à minha frente. — Eu senti sua falta. Acho que podíamos repetir a
dose, não acha? — falou, pondo as mãos em meu peito e descendo-as até o
cós da calça jeans que eu usava.
Levei a mão até a boca dando uma tragada no cigarro e soltando a
fumaça aos poucos enquanto a analisava. Peitos pequenos, sabia rebolar bem,
mas nada excepcional. E ainda que fosse, ela tinha aquele brilho no olhar de
quem queria provar ao mundo que a boceta dela era boa o bastante para
prender o bad boy da Walker a um relacionamento.
Isso não aconteceria.
Nunca.
— Não estou interessado. — Dei de ombros, seguindo em frente
enquanto a ouvia me xingar, mas sua voz foi abafada pelo som alto.
Eu sabia que as pessoas ao nosso redor nos encaravam. Ergui um
pouco a lateral do lábio direito em um sorriso torto, dando mais uma tragada
no cigarro.
— Onde caralho você se enfiou, filho da puta? — Malcon, meu
melhor amigo e capitão do time de hóquei passou o braço por meu ombro
assim que pisei os pés na sala, guiando-me para onde ele queria.
— Desde quando eu preciso te dar satisfação da minha vida, filho da
puta? — retruquei, vendo-o rolar os olhos.
— Se você estava comendo uma boceta, acho bom saber que vai ter
que comer outra agora. Tem uma gostosa querendo abrir as pernas pra mim,
só que ela está com uma amiga a tiracolo. Preciso que você leve a garota pra
algum lugar. Sei lá, não está fazendo nada, come ela.
Os passos estavam um pouco trôpegos, o que indicava que a noite mal
havia começado e ele já havia bebido demais.
— Não preciso de sua ajuda pra comer uma boceta.
— Você vai me agradecer quando vir o corpo que a envolve. — Deu
um tapinha em meu ombro em tom de camaradagem, aproximando-nos de
duas garotas que estavam sentadas no sofá da sala.
As duas eram muito bonitas. Muito mesmo. Tinham peitões, usavam
saias minúsculas e, sem sombra de dúvidas, estavam interessadas em abrir as
pernas. Malcon me apresentou para as garotas, sentando, em seguida, ao lado
da que ele havia escolhido para si.
A outra garota, a que Malcon havia reservado para mim, passou a
língua pelos lábios, dando uma mordiscada na parte inferior em seguida.
— Eu já ouvi falar de você — comentou, analisando-me
cuidadosamente.
Soltei o ar pelo nariz.
— Já eu, nunca ouvi falar sobre você — Meu amigo me olhou com
uma expressão desolada, pedindo para por favor eu ajudá-lo.
Não podia julgá-lo. Malcon e a mãe tinha uma relação péssima, e
depois de ser forçado a passar as férias com ela, sem dúvida ele precisaria
transar como um cachorro no cio para relaxar.
Nas raras ocasiões em que eu era obrigado a falar com o homem que
ajudou a pôr a mim e meus irmãos no mundo, eu também me sentia assim.
Precisando foder muito para tirar todo aquele ódio do meu corpo. Além de
enfiar meu pau em qualquer garota que estivesse afim, só havia mais uma
coisa que me fazia relaxar. Infelizmente a opção não estava disponível. A
menos que algum dos babacas da faculdade quisesse arrumar uma briga hoje.
Eu não negaria isso a ninguém.
— Você não vai sentar? — A garota deu um tapinha no espaço vago
ao seu lado. — Tenho uma coisa aqui que, sem dúvida, você vai gostar.
Sentei-me, dando um generoso gole na cerveja, pondo o copo, em
seguida, na pequena mesa de centro que estava próxima ao sofá.
— Você acabou de me conhecer e acha mesmo que tem algo que me
interesse? — ergui uma sobrancelha sua direção.
Ela soltou o ar pelo nariz, dando uma risada em seguida. Rápido
demais, subiu em meu colo pondo uma perna de cada lado das minhas pernas
ao mesmo tempo em que segurava a minha mão, guiando-a até que estivesse
enfiada por baixo de sua blusa e meus dedos alcançassem a renda do sutiã.
Apertei o bico do seu peito, vendo-a arquear o corpo em minha
direção e arfar. Começou a esfregar-se em mim não me importando nem um
pouco com o fato de estarmos no meio da sala da primeira festa universitária
do ano.
— Isso aqui está bom, ou você precisa de mais estímulo? — falou,
enfiando a língua na minha boca em um beijo quente.
— É bom saber que eu não fodo com ninguém mais de uma vez —
elevei um pouco o tom para que minha voz se sobressaísse ao som da música.
— Não preciso que você me coma outra vez. Preciso que me faça
gozar, agora. — Sua forma de falar mostrava o quanto estava decidida.
Mas uma vez, ela mesma guiou minha mão que antes estava sobre os
seios, até estar espalmada em sua bunda, por baixo da saia pequena que
vestia.
— E eu estou disposta da dar tudo a você, hoje.
Meu pau, que já estava animado, ficou ainda maior dentro da calça.
Lentamente, levei a mão esquerda, a que eu usava para segurar o
cigarro entre os dedos, até minha boca, dando uma longa tragada e soltando,
aos poucos, a fumaça.
Enquanto aguardava meu veredicto, ela seguia esfregando-se
insandecidamente em mim. As pernas, uma de cada lado do meu corpo,
faziam com que, apesar da calça que eu usava não permitir um contato direto
entre nossos corpos, eu conseguisse sentir o quão estava encharcada e pronta
pra ser comida.
Se eu quisesse, era apenas movimentar um pouco a mão que seguia
espalmada em sua bunda, e conseguiria fazê-la gozar em dois segundos.
Ela não negaria.
Na verdade, ninguém na Walker seria capaz de me negar alguma
coisa. Os caras me respeitavam e as garotas me desejavam.
Todas elas.
Eu não precisava ser modesto quando a realidade era clara.
— Preciso pensar melhor na proposta — falei, provocando-a, e
descendo, lentamente, minha mão para sua coxa.
Ela arfou outra vez.
— Acho que nós dois sabemos como isso vai acabar — sussurrou em
meu ouvido, dando uma mordiscada em seguida. Com a mão, antes que eu
pudesse perceber, apertou meu pau por cima do tecido espesso, enquanto com
a outra passava a ponta das unhas em minha nuca. — Esse pau duro
maravilhoso não me deixa mentir. E ele está pronto para me comer até que
eu mal consiga ficar de pé.
— Quer um quarto? — Malcon disse, levantando-se com a garota que
levaria para a cama.
— Estou tentando convencê-lo — a garota em meu colo respondeu,
tentando não demonstrar impaciência.
Elas lutavam por mim, não eu por elas.
— Se você está precisando ser convencido a comer uma boceta, é
porque, certamente, existe algo muito errado com o mundo. Entretanto eu
sigo fazendo a minha parte para torná-lo um lugar melhor. Vou ali saciar
minha fome. — Piscou para mim, roubando o cigarro dos meus dedos e
levando-o à sua própria boca. Filho da puta.
Em seguida, aproveitou a distração da garota à sua frente para dar um
tapa em sua bunda.
— Tem certeza de que você quer pensar a respeito? — a garota beijou
meu pescoço movimentando-se com mais intensidade e soltando um gemido
frustrado por não ter meu pau dentro dela.
— Já pensei melhor — falei, por fim, passando a mão por sua boceta
e vendo-a morder os lábios com força. — Eu vou te dar o que você quer,
aqui, agora.
— Aqui? — arregalou os olhos por um segundo, mas pareceu ficar
ainda mais excitada com a ideia. Os dentes roçaram o lábio inferior,
demonstrando agrado.
Olhando-a nos olhos, passei minha mão que já estava embaixo de sua
saia, até que meus dedos alcançassem a calcinha encharcada. Usei o polegar
para afastar o ínfimo tecido que cobria a boceta lisinha, enfiando dois dedos
de vez em sua entrada, antes mesmo que ela pudesse compreender o que eu
quis dizer. A garota jogou a cabeça para trás, enquanto soltava um som de
surpresa misturado com um gemido.
Minha outra mão encontrou um caminho por baixo de sua blusa
apertando seu seio direito. Ela gemeu baixinho, como se tentasse não chamar
atenção. Puxei seu rosto até que meus lábios estivessem colados em seu
ouvido.
— Você não queria ser fodida por mim? Agora quero ouvir você
gemendo. Alto. E todo mundo aqui sabendo que eu estou te fodendo com
meus dedos na frente de todos eles — murmurei, sentindo sua respiração
acelerar enquanto me ouvia. — E que você está gostando.
Não foi um pedido.
Movimentei um pouco os dedos assim que as palavras saíram da
minha boca, e como toda boa garota, ela foi obediente gemendo alto o
suficiente para que a maior parte das pessoas que estavam próximas a nós
virassem o rosto em nossa direção.
Podia notar pelo olhar de todas as garotas que gostariam de ser ela a
estarem sentadas em meu colo rebolando contra meus dedos. Os caras, todos
eles, me achavam um filho da puta sortudo. Não era toda garota que abria as
pernas na frente de mais de cem pessoas para uma exibição gratuita. E esse,
com certeza, era o sonho de cem entre cem caras deste recinto.
— Isso — falei, movimentando mais um pouco os dedos. — Quanto
mais escândalo você fizer, mais você vai ter — murmurei, novamente,
ouvindo-a soltar um gemido ainda mais alto.
Meu pau estava animado demais e reclamando por atenção.
— Caralho, não para — pediu, apertando meu ombro, enquanto eu
pressionava o polegar contra seu clitóris.
Eu não parei.
Enfiava meus dedos nela com força, vendo-a arfar gemer, implorar
por mais. Vendo os olhares cobiçosos e desejosos.
Seu corpo subia e descia em movimentos nada sutis em busca de
mais. Sedenta. Como eu orientei, seus sons foram ficando cada vez mais alto,
o que levavam minhas estocadas a serem mais intensas. Mais rápidas.
Pela forma como sua boceta começou a se contrair, eu sabia que ela
estava perto. A garota abriu um pouco os lábios arfando, enquanto apertava
as unhas com força em meus braços.
— Puta que pariu — ofegou, erguendo a cabeça em direção ao teto.
Os olhos começaram a se revirar. — Isso é...
Com a mão livre, apertei seu seio por cima da blusa mesmo, ouvindo
um gritinho de satisfação.
— Geme agora, alto — falei, enfiando os dedos com força em sua
boceta. A garota apertou meu braço ainda mais, fincando as unhas em meu
braço enquanto estava cada vez mais prestes a chegar ao orgasmo. — Quero
todo mundo te ouvindo gozar.
E, mais uma vez, ela obedeceu.
O grito que soltou, saiu naquele exato instante em que a música está
mudando e tudo que podíamos ouvir eram os sussurros das conversas. Neste
caso, foi o som do seu prazer que soou mais alto que qualquer outra conversa.
Sorri, satisfeito, vendo-a tentar manter o corpo equilibrado.
— Uau, isso foi muito bom.
Tirei meus dedos de sua boceta, limpando-os em sua própria blusa,
sentindo meu pau reclamar pela falta de atenção dentro de minhas roupas.
— Agora eu posso te dar o que você quer desde o princípio. Meu pau
comendo esse rabo empinado. Me encontra no banheiro.
Tirei-a do meu colo, subindo as escadas em busca de cômodo onde a
comeria.
Era a única coisa que me interessava nas garotas que,
involuntariamente, cruzavam a meu caminho: fodê-las.
Sexo e nada além disso.
Nunca.
Capítulo 3

— Quero saber como foi tudo, filha. — Mamãe tentava soar animada,
mas era claro que estava contendo um bocejo.
— Mãe, podemos falar amanhã, a senhora acabou de chegar do
plantão e deve estar exausta.
Não era preciso muito para notar isso. As olheiras em seu rosto
denunciavam. Mamãe tinha os olhos pretos, o mesmo tom dos cabelos
cacheados e tão espessos quanto os meus.
— Nada no mundo é mais importante que saber como foi o dia da
minha filha. — Sorriu. — Seu pai me contou o que vocês conversaram, mas
tenho certeza de que deixou um monte de detalhes de fora. Você sabe como
ele é péssimo repassando informações.
— Ei, eu ouvi isso — meu pai gritou de algum lugar ao fundo.
Ri balançando a cabeça.
Eu os amava. Meus pais eram, sem dúvida, os melhores do mundo. E
fizeram muitos sacrifícios por mim. Para que eu pudesse realizar meus
sonhos. Iria recompensá-los. Era meu sonho.
— Foi... normal. Fui às aulas e depois procurar um lugar para
trabalhar.
— Leigh, você sabe que não precisa fazer isso. Seu pai e eu podemos
muito bem arcar com seus custos.
— Mãe, vocês precisam de um pouco de descanso também. Sei lá,
passar o final de semana em uma pousada romântica, fazer coisas de casal. —
Dei de ombros. — Trabalhar um pouco não vai me atrapalhar.
Meus pais tinham medo que eu acabasse me prejudicando nos estudos
por ter que me bancar meu alojamento, livros e alimentação.
— Promete que se for demais pra conciliar, você vai falar com a
gente? — pediu, com uma expressão preocupada no rosto.
— Prometo, mãe.
— Mas é bom saber que seu pai e eu ainda vamos mandar um
dinheiro para você todo mês. — Rolei os olhos. Não existia ninguém, no
universo inteiro, mais insistente que minha mãe. — Agora me conta, já fez
amigos? E os gatinhos?
Fiz uma careta para sua animação.
— Foi só o primeiro dia, mãe.
— O primeiro dia de um dos ciclos mais importantes em as vida,
querida. Você precisa fazer coisas de jovens. Fazer amigos, namorar, essas
coisas, sabe?
— Ei, eu tenho amigos! — Defendi-me.
— E eu amo que você e o Abi sejam tão unidos, mas agora que vocês
não moram mais na mesma cidade, você precisa de mais amigos, meu amor.
Uma rede de apoio — suspirou, cansada. — Às vezes me sinto culpada por
você ter se tornado uma pessoa tão fechada. Ter tirado você da cidade que
conhecia, de seus amigos, do James. Isso não te fez bem.
Trinquei os dentes tentando reprimir o tremor que se apoderou do
meu corpo.
— Eu conheci uma pessoa, tá? — falei, rapidamente, mudando o
assunto. Seria o melhor a se fazer.
— Um garoto? — seus olhos brilharam de animação.
— Não, mãe. Uma garota.
— Ai, meu Deus, você se apaixonou por ela?
Uma das coisas que eu mais amava em meus pais era o fato deles não
serem como os pais de muitas pessoas que eu conheço que tinham
preconceito com as coisas. Os pais do Ab demoraram muito para aceitarem
aquilo que de maneira alguma devia precisar de uma validação. Ab era uma
pessoa com direito de amar outra pessoa. Simples assim.
— Mãe! Uma amiga! — falei, rindo. — A Madison é legal, mas
parece muito com a Cher, sabe? De As patricinhas de Berverly Hills.
— Melhor ainda. Uma garota completamente diferente de você.
Tenho certeza de que será uma amizade promissora.
— Foi basicamente o que ela disse. — Sorri, ao lembrar-me da forma
como a garota me abordou. — Ela disse que seriamos melhores amigas. Que
sentia isso.
— Isso é ótimo, meu amor. — Mamãe estava mesmo feliz. Quando
nos mudamos, eu passei a sair cada vez menos de casa, e eu acho que ela
acreditava que ter que deixar o James para trás havia me tornado uma pessoa
menos sociável, quando, na verdade, ir embora foi a melhor coisa que ela
podia ter feito por mim. — E os garotos? Algum jogador gostosão chamou
sua atenção? Toda garota devia ter a chance de sair com um. Eles são uma
experiência incrível, sabe?
Pela expressão em seu rosto eu tinha certeza a que tipo de experiência
ela estava se referindo.
— Mãe? — brinquei, fingindo estar revoltada com o rumo daquela
conversa.
Minha mãe teve aquela conversa comigo quando eu tinha doze anos.
A cada palavra que saía de sua boca, era como se uma luz se acendesse em
minha mente. Foi assim que eu soube que tudo aquilo, toda aquela
brincadeira inocente, não era tão inocente assim.
Ouvi quando papai falou alguma coisa, e mamãe respondeu dizendo
que não tinha nada mesmo para reclamar sobre as experiências que eles
tinham juntos e que lhe provaria isso mais tarde.
Nada pior do que ouvir seus pais programando uma transa. Que nojo!
Minha mãe era minha melhor amiga. A pessoa em quem eu mais
confiava no mundo inteiro e ela sabia – quase tudo – a meu respeito. Ela
achava, inclusive, que eu não era mais virgem. Menti que havia perdido a
virgindade como a maioria das meninas da minha sala, no baile de formatura,
mas, na verdade, passei a noite inteira jogando vídeo game com o Ab em um
quarto de hotel.
— Ai, meu Deus, vou cortar meus pulsos — brinquei, vendo-a girar o
rosto em outra direção e soltar um beijo estalado, sem dúvida, para meu pai.
— Nenhum jogador mesmo? — sussurrou, depois de voltar sua
atenção para mim e garantir que papai não podia nos ouvir.
Pior que ouvir sobre a vida sexual dos dois, com certeza, deveria ser,
papai, me ouvir falar sobre a minha vida sexual.
— Não, mamãe. O único garoto que me dirigiu a palavra hoje, além
de um dos caras que pegou meu currículo em uma lanchonete aqui perto, e é
gay — completei antes que o brilho em seus olhos se tornassem palavras —
foi um escroto, sabe? Super grosso e desnecessário. Enfim, eu espero que não
nos falemos tão cedo.
— Bem, e eu espero que você encontre um jogador maravilhoso. Um
quarterback, talvez.
Sorri, balançando a cabeça em negativa.
— E sua colega de quarto? Gostou dela? — movi o aparelho celular
de forma que ela pudesse ver o lado completamente vazio do quarto.
— Ela ainda não chegou. Pode chegar mais tarde por algum problema
com o voo, ou sei lá.
— Estou torcendo para que ela não seja uma dessas garotas como
você que só pensam em estudar. Morar com uma garota que tenha a vida
social agitada vai te fazer bem.
Fiz uma careta. Discordava completamente.
Eu precisava de paz. Uma colega nerd que, como eu, não tivesse
nenhum traquejo social, seria o paraíso.

— O trabalho aqui é simples, você vai anotar os pedidos, pegá-los e


levá-los aos clientes. Depois, quando eles saírem da mesa, você as limpa e
começa tudo novamente.
Ontem, assim que desliguei a chamada com a minha mãe, Patrick, o
garoto que havia pegado meu currículo me mandou uma mensagem, pedindo
que eu viesse aqui hoje, no almoço.
O Women’s estava cheio, bem diferente de ontem que o fluxo de
pessoas estava bem menor. Bem menor MESMO!
— Entendido — anui.
— Então vamos ver se você dá conta do recado. — Sorriu para mim,
entregando-me um saquinho transparente com o uniforme, um bloquinho e
caneta onde devia anotar os pedidos. — Você pode se trocar no vestiário. Ao
sair da sala deve entrar na segunda porta à esquerda.
Assenti outra vez seguindo suas instruções. A camisa da farda era
rosa e atrás continha o nome do funcionário. O meu constava apenas o nome
da lanchonete, já que eu estava em período de teste. Abaixo do nome, um
número, seguindo o padrão de camisa esportiva. Uma legging e tênis branco
completavam o look. Enquanto estávamos atendendo usávamos um avental
preso em nossa cintura, com bolsos para pôr a caderneta e caneta.
Eu gostava da história do lugar. Patrick fez questão de me contar. O
estabelecimento foi criado por uma mulher que ousou sonhar em um período
onde ela deveria ser o que esperavam dela.
A senhora Vera Heen perdeu o marido para a pneumonia, e sem
nenhuma fonte de renda, tendo duas filhas pequenas para alimentar,
arregaçou as mangas, pegou uma velha bicicleta que sua vizinha mais querida
emprestou e começou a vender, na praça da cidade, pães, sanduiches e bolos
caseiros.
A princípio as pessoas estavam resistentes a dar-he uma chance,
porém, se apaixonaram pelas mãos de fada. Com o aumento da procura, ela
conseguiu comprar um lugar pequeno e dar inicio ao seu sonho. Aos poucos,
levantou, construiu, reformou, até que a Women’s estivesse do jeitinho que
ela sonhou.
Boa parte dos homens da cidade se negavam a entrar em um
estabelecimento gerenciado por uma mulher e queriam que ela se casasse
para que um homem pudesse assumir os negócios, entretanto, ela estava
decidida que não dependeria outra vez de nada ou de ninguém, muito menos
de homens que apenas se interessaram nela por seu sucesso eminente.
Peguei o celular que havia terminado de guardar no bolso do avental,
percebendo que ele havia vibrado. Sorri ao ver uma mensagem do Ab.
“Boa sorte no primeiro dia!”
“Obrigada!” devolvi, com vários emojis de carinha com coração,
sentindo-me feliz.
Eu estava começando uma nova fase em minha vida. Essa era a
primeira etapa.
Saí do vestiário, dirigindo-me até o salão. Ania, uma das funcionárias,
havia sido designada a me auxiliar nesse primeiro momento. A garota sorriu
para mim, dando-me dicas do que fazer.
Acompanhei-a durante uma parte do dia, assistindo como os atendia,
pegando algumas dicas e não demorou para que fosse a minha vez de tentar
voo solo.
— Fica tranquila. Você é bem observadora, pelo que pude perceber.
Vai dar certo. — Deu uma leve cotovelada em minha cintura, pondo o pedido
no balcão para que Patrick, o rapaz que estava atrás do caixa entregasse na
cozinha. — E qualquer dúvida, pode me chamar.
— Obrigada. — Soltei o ar com força, torcendo para que o próximo
cliente não passasse pela porta tão cedo e analisando o espaço.
O Women’s era muito bonito. As paredes de tijolinhos marrons
abrigavam símbolos dos esportes que garotos e garotas praticavam na
Walker. Uma bicicleta antiga, bolas de futebol americano, basquete, lacrosse,
baseball, vôlei, tacos de hóquei entre outros.
Os bancos mais próximos à parede eram de madeira clara, enquanto
os individuais eram pretos de metal com um toque industrial. Havia fotos e
algumas camisas de times emoldurados nas paredes de jogadores antigos,
algumas delas autografadas, que dividiam espaço com quadros conceituais ou
frases motivacionais.
Eu realmente tinha gostado muito do ambiente.
— Você estuda na Walker? — perguntou, encostando-se no balcão,
depois de se certificar que ninguém mais precisava de nada.
— Sim. Comecei ontem, pra ser sincera. Encontrar uma vaga aqui foi
um golpe de sorte — expliquei.
— Na verdade, foi sim. Você está assumindo o lugar da Amberly, ela
trabalhava aqui há muito tempo, desde antes de mim pra ser sincera, mas
acabou recebendo uma proposta, em cima da hora, para trabalhar em uma
peça em Londres, fez as malas sem nem pensar. Não julgo. — Deu uma
piscadela para mim. — Apesar do inferno que você viu aqui hoje, não é
assim todo dia. Acho que você vai acabar gostando.
— Tenho certeza de que sim — garanti. — Para ser sincera, além de
vender limonada no verão na frente de casa ou vender colares com nossos
nomes aos nossos colegas de sala, eu nunca havia trabalhado antes. Meus
pais queriam que eu me dedicasse aos estudos.
— Você tem sorte. Eu trabalho desde que aprendi a segurar um
secador. Minha tia é cabeleireira, e eu sempre a ajudava depois da escola —
explicou, pegando o celular e mexendo como se procurasse algo. — No
começo eu gostava, mas depois quando eu comecei a querer sair com as
garotas da minha idade para ir ao shopping, ou coisas do tipo, isso se tornou
motivo de muitas brigas.
Ania virou o aparelho celular em minha direção mostrando-me a foto
dela mesma em miniatura, em cima de uma pequena caixa enquanto lavava o
cabelo de alguma cliente. Sorri, vendo-a.
— Que fofa!
— Bem, sim. Mas aí eu cresci, e segundo minha tia, virei uma peste.
— Fez uma careta engraçada, mas, no instante seguinte, arregalou os olhos,
abrindo a boca em um O. — Ai. Meu. Deus, o seu primeiro cliente e vai ser
justo o Deus grego da Walker! Você é tão sortuda!
Virei o rosto na direção para onde ela olhava fixamente. Através do
vidro, antes mesmo de entrar no Women’s, eu o vi. Tinha um cigarro nos
lábios, jaqueta preta e cabelos bagunçados, exatamente como ontem. Eu o vi
hoje na universidade, mas não tivemos nenhuma aula juntos.
Ele andava com aquela pose de quem era o dono de tudo e as pessoas
ao redor pareciam concordar completamente, fossem as que abriam espaço
para que ele passasse, fossem apenas garotas que lançavam olhares desejosos
ou pelos caras que faziam questão de cumprimentá-lo, como se ele ele fosse
um tipo de deus.
A sineta da porta tocou quando ele a abriu. Com os passos decididos e
o cigarro entre os dedos, seguiu para o lugar.
Ouvi Ania suspirar ao meu lado.
— Posso trocar com você se quiser — avisei, erguendo a sobrancelha
em sua direção.
— Eu adoraria, mas se o Pat me vir babando em cima dele
novamente, acho que não vai ficar feliz. — Eu ri com a expressão desolada
em seu rosto.
— Bom, me deseje sorte, então — pedi, dando uma cotovelada rápida
em sua cintura.
— Vai precisar mesmo, quando ele olhar para você, garanto que não
vai nem ao menos lembrar o seu nome — suspirou. — Ah, e só mais uma
coisa, ele não pode fumar aqui dentro — disse, apontando para uma placa nos
fundos da Women’s e dando-me as costas, como se não quisesse assistir a
cena que se desenrolaria.
Prendi a respiração por um momento, caminhando até a mesa onde
ele estava e amaldiçoando os céus por ter tido a ideia de me presentear
justamente no dia de experiência com um cliente de péssimo humor.
— Boa tarde — falei, assim que estava na frente da sua mesa.
Ele não respondeu, apenas me encarou por alguns segundos.
— Vai ficar aqui parada apenas, ou precisa que eu te explique como
usar o bloquinho e a caneta? — ergueu a sobrancelha em minha direção.
Respirei fundo, pensando em como eu realmente havia gostado daqui.
— Ah, sim. Eu usarei o bloquinho, mas antes preciso que apague o
cigarro. Você não pode fumar aqui — anunciei, apontando para a mesma
plaquinha que Ania havia me mostrado.
Ele deu uma risada pelo nariz, soltando um pouco da fumaça.
— Vai anotar os pedidos agora?
Respirei fundo, tentando ignorar o fato de que ele era um idiota. Eu
precisava de independência financeira.
— Como eu disse, é proibido o uso de cigarro dentro do
estabelecimento.
— Você não me diz o que eu tenho que fazer.
— Na verdade, digo sim. É uma regra do estabelecimento —
expliquei. — Alias você devia me agradecer. Fumar faz mal à saúde.
— Que eu me lembre, não pedi sua opinião, só para anotar o pedido.
— Anotarei. Assim que apagar o cigarro. — Dei um sorriso falso.
— Algum problema? — a voz vinda por trás de mim me assustou um
pouco.
— Sim. Você precisa ter cuidado com as patricinhas que contrata. Sua
funcionária não quer me deixar terminar meu cigarro.
— Ela não é a Ania. Não vai se derreter por causa de um sorriso e
você sabe que não pode fumar aqui dentro, Andrew. — Apontou para o
cinzeiro no canto da mesa onde ele estava sentado. — Agora, para de querer
corromper as funcionárias da Women’s e faz logo o seu pedido.
Soltei o ar pelo nariz com um som divertido enquanto Patrick voltava
para o balcão, depois de garantir que o babaca havia apagado o cigarro.
— Então, vai trabalhar aqui? — perguntou, balançando a cabeça em
negativa. — A mesma garota que estava com dificuldade para abrir uma
porta? Não vejo como isso pode dar certo.
Mordi a língua, lembrando-me de que era um teste.
— Seu pedido?
Ele deu um sorriso de lado, sem falar nada por alguns segundos. Dei
graças a Deus quando, enfim, ele decidiu sobre o que queria.
— Esse cara é um babaca — reclamei para Ania, entregando o pedido
ao Patrick.
— Você só pode estar brincando. Ele é gostoso. Todas as garotas
sonham em sentar nele — suspirou outra vez.
— Então, esse é o problema, vocês elevam demais a autoestima desse
metido.
Ania rolou os olhos, como se já tivesse escutado essa conversa antes.
— Não dou três semanas pra você estar como a maioria das garotas,
na lista das que já foram comidas por ele ou por um dos seus irmãos, ou na
das que sonham com que o momento delas chegue. — Ergueu uma
sobrancelha para mim, como se realmente só houvesse essa opção.
Eu ri.
— É sério que o objetivo da maioria das garotas aqui é tão baixo? —
Balancei a cabeça em negativa. — Daqui a três semanas eu já serei a melhor
aluna da minha turma e seguirei me esforçando para manter o status até o
final do curso.
Ania formou uma linha com os lábios.
— Bem, vou contar os dias, então. Daqui a três semanas, nós veremos
em qual categoria você se encaixa.
Rolei os olhos para o sorrisinho que surgiu nos lábios da garota. Eu
não me apaixonaria, e ainda que essa tragédia viesse a acontecer, jamais seria
por um desses babacas por quem todas as garotas lambiam o chão em que
eles pisavam.
— Ei, garota nova — uma voz chamou, pondo o prato na bancada que
separava a cozinha do balcão. — Tudo ok.
Soltei o ar com força, pegando o prato e seguindo para a mesa do
idiota, repassando em minha mente de que aturá-lo era por um bom motivo.
Eu havia gostado da vibe do Women’s, das pessoas e principalmente do valor
que receberia fora as gorjetas. Queria manter-me naquele emprego, não seria
um cara arrogante que me faria dar pra trás.
Capítulo 4

— Quando vocês param para pensar sobre arquitetura, pensam em


lugares bonitos. Em harmonia. Identidade visual — o professor Screark
falou, caminhando pela sala. O homem era um senhor de idade, usava óculos
e tinha a cabeça completamente tomada por fios brancos. — Mas, o que é a
arquitetura? Como ela surgiu? Quem foi o primeiro arquiteto do mundo?
O homem apertou, mais uma vez, na tecla do computador mudando o
slide.
— Para responder a essas questões, será necessário que façamos uma
viagem no tempo. — A imagem de uma pirâmide do Egito apareceu na tela.
— Imhotep do Egito é considerado o primeiro sábio da humanidade. Foi um
homem considerado, desde os antigos gregos o primeiro grande polímata[3].
Ele é, também, o primeiro arquiteto com obras conhecidas e documentadas.
O professor seguiu explicando que Imhotep foi um dos principais
funcionários do faraó Djoser e que, para além, também foi o primeiro-
ministro, astrólogo, sumo sacerdote, matemático e o arquiteto responsável
pelo primeiro uso conhecido de colunas de pedra para suportar um edifício.
Antes de Djoser, faraós foram enterrados em túmulos chamados de mastabas.
Eu estava gostando dessa aula. Pelo menos estava distraindo-me. Era
uma luta constante em minha mente.
Lembrar.
Não lembrar.
Lembrar.
Não lembrar.
Às vezes eu ganhava. Às vezes, eu perdia.
Eu precisava ganhar agora.
Apertei os olhos com força, tentando voltar minha concentração para
o senhor à frente da sala cheia.
A luta continuou.
Soltei um grunhido, irritado.
Irritado comigo, frustrado com a pessoa que eu me havia tornado.
Com o que haviam feito de mim.
Eu não era um bom homem.
Quando era criança, costumava pensar que eu seria um menino bom
como havia sido ensinado, daqueles que se apaixona e casa com a namorada
do colegial. Que traria flores para ela todos os dias e que amaria com
intensidade.
Que seria feliz.
Mas tudo mudou.
Tudo.
No fim das contas, havia me transformado no cara que partia
corações.
Aquele que, certamente, o garotinho que fui não se orgulharia. O
homem de quem minha mãe teria vergonha. Mas não havia nada que eu
pudesse fazer em relação a isso.
Eu não era bom.
Nunca seria.
Mas fazia o que era necessário pelas pessoas que amava.
Meus irmãos sim, eram bons.
Era impossível para mim com todo aquele ódio que me corroía.
Era impossível para mim sabendo que eu jamais conseguiria perdoá-
lo.
O céu era para garotos bons.
Eu tinha certeza de que iria para o inferno. Então, já que minha
passagem estava garantida, porque não passar a vida aproveitando-a, não é?
Já tinham algumas semanas em que eu não podia simplesmente
libertar aquele ódio e eu tinha pena da primeira pessoa que aparecesse em
meu caminho. Ela terminaria destruída.
Senti o celular vibrando em meu bolso e o peguei abrindo as
mensagens. Uma foto no aviãozinho, um grupo com os caras da universidade
onde mandávamos fotos de garotas que víamos pelo campus e nos
interessávamos. Quem tivesse alguma aula com ela, trazia as informações
necessárias.
Rolei os olhos, mas mesmo assim resolvi abrir a imagem. Os caras
não se metiam quando alguém me interessava. Eles sabiam que iam poder
comer depois, de qualquer forma. Não me surpreendi nem um pouco ao ver a
pessoa retratada na imagem. Cabelos negros, olhar inocente, cachos. Ela
usava o uniforme da Women’s, o mesmo que vestia quando me atendeu. O
que me surpreendeu foi a forma como trinquei os dentes ao ver que George
Lair, o filho da professora Hughes e do treinador do time de futebol
americano, queria saber alguma coisa a respeito da garota.
“Essa garota não é pra você, Lair”. Digitei, mesmo sabendo que a
resposta para a pergunta que não precisou ser feita estava a caminho.
“Não vai me dizer que você já está de olho!” Enviou uma carinha de
olhos revirando em seguida.
“Pela cara dela dá pra saber que é do tipo que vai querer assumir
namoro. Você está numa fase boa, vai por mim, comer várias bocetas é muito
melhor do que se comprometer com uma só, especialmente com a temporada
começando.”
“Eu posso ter as duas coisas ao mesmo tempo. Você sabe que faz bem
pra nossa moral ter uma gata gritando nosso nome em um jogo.”
As pessoas podiam dizer que eu não tinha escrúpulos, que eu era um
filho da puta que não me importava com os sentimentos alheios, que eu
comia mais garotas do que eles podiam contabilizar.
Estavam certos em cada uma delas.
Mas eu me metia com garotas que queriam o mesmo que eu. Foder.
Ter prazer. Apenas. Jamais brincaria de verdade com os sentimentos de uma
menina que estivesse se apaixonando por mim. Jamais enganaria alguém.
Bloqueei a tela do celular, não esperando para ver o que diriam sobre
a garota. Não era da minha conta.
Se ela fosse esperta saberia que Lair era problema. Caso contrário,
descobriria da pior forma. Eu não precisava me importar.
E não iria.
A única coisa com a qual eu me importava realmente, era a minha
família.
Isso era a única coisa que jamais mudaria.

— Que caralho é esse? — falei, assim que entrei em casa, franzindo o


cenho com nojo dos sons de gemidos e da cabeceira da cama batendo com
força contra a parede do quarto.
Se soubesse, teria esperado mais um pouco na sala de musculação da
universidade. Era início da noite e, além do meu tempo malhando, eu já tinha
concluído algumas atividades na biblioteca.
Segui para a cozinha seguindo o cheiro de comida fresca enquanto
tentava com afinco ignorar os sons no andar superior. Jackson estava de
costas, parecendo concentrado na sua atividade. Usava um daqueles fones
enormes na cabeça, com certeza tentando abafar os gemidos que vinham do
andar superior.
Ano passado, quando Benjamin e eu fomos aprovados na Walker,
decidimos que seria mais econômico duas acomodações nos dormitórios,
seria alugar uma casa já contando que no próximo ano Jackson acabaria
morando conosco também e, em seguida, Olívia. O problema era que nossa
irmã, atualmente, sonhava em ser aprovada em Yale. Com certeza pensando
nos benefícios de se manter longe dos irmãos, o que me deixava maluco.
— Será que isso ainda vai demorar muito? — questionei Jackson
puxando um dos fones do seu ouvido. O som estava alto, o que só queria
dizer que eu estava certo, o som era utilizado como abafador de ruídos.
— Esse caralho está durando a tarde inteira. Não sei que merda esse
cara fez pra manter esse pau erguido, mas eu já saí de casa e voltei pelo
menos três vezes e eles continuam trepando como a porra de dois cachorros
no cio. — Pelo tom de voz, estava falando sério mesmo.
— Que bom que eu fiquei mais tempo por lá, então — falei,
caminhando até uma fruteira próxima à parede, pegando uma maçã e dando
uma mordida.
No instante seguinte, os gemidos ficaram mais fortes, Jackson soltou
um palavrão voltando a tapar o ouvido com o fone. Em seguida, houve o
silêncio típico de quem havia gozado.
— Acho que acabou. — Dei de ombros.
— Se você recomeçar essa porra, juro que vou ai em cima e torço seu
pau no meio, filho da puta — Jackson gritou alto o bastante para que todos os
vizinhos pudessem escutar.
Ouvimos um risinho vindo da área dos quartos. O recado havia
chegado onde devia.
— O que você está fazendo? — Dei alguns passos em direção à
bancada enquanto ele devolvia a assadeira ao forno. — Bolo de carne. A
receita da vovó — assenti, sentindo uma coisa estranha ao lembrar-me da
velhinha que fez o possível por todo tempo que pôde por nós.
Jackson gostava de cozinhar, em especial quando não estava bem.
Quando sua mente estava focada no passado.
E eu não podia deixá-lo lá.
— Como está indo nos treinos? Acha que a temporada será boa?
— Alguns veteranos estão tendo dificuldade em lidar com os calouros
— caminhou para a pia, pegando a bucha e ensaboando-a para lavar as
vasilhas que havia sujado na preparação do jantar —, mas o técnico já avisou
que se a briga continuar vai entrar em campo com o time reserva e que se
foda o placar.
Franzi o cenho para meu irmão.
Jackson era um cara muito tranquilo. E uma coisa que eu gostava nele
era que não sentia a necessidade de preencher silêncios. Era direto.
Em geral, o mais calado de todos nós, entretanto havia algo que todos
os Davis haviam herdado: competitividade. Não éramos o tipo de pessoa que
gostávamos de perder.
— Para alguém que gosta tanto de vencer, você não parece
preocupado com isso — comentei, sentando-me na cadeira de nossa mesa de
jantar.
Meu irmão riu pelo nariz.
— E não estou. Poderia jogar sozinho em campo e, ainda assim, não
perderia para a Brown.
— Não estaria jogando sozinho, Jackson. Seu ego enorme e você
conseguiriam dar conta do time adversário inteiro, não tenho dúvida.
Sons de passos vindos da escada fizeram-me jogar meu corpo para
trás tentando descobrir quem foi a garota com quem Benjamin estava. Holly
Andreas, do terceiro ano de filosofia. Meu irmão estava tentando convencer a
garota a ir para sua cama há uma semana e meia, logo, estava explicado o
entusiasmo.
Ouvimos o som da porta sendo aberta e, logo em seguida risinhos e
algumas palavras sussurradas.
— Tchau, gata — sons de beijo e porta sendo fechada.
Benjamin entrou na cozinha com um sorriso maior que o rosto inteiro.
— Saciado, pelo visto. — Ergui uma sobrancelha em sua direção.
— Porra, ela demorou a ceder, mas valeu a pena cada segundo de
espera. A garota é um furacão na cama. — Estava animado e, ao passar em
direção à geladeira, deu alguns murros de brincadeira nas costas largas do
Jack.
— Dá próxima vez que quiser foder com um furacão, arruma um
motel ou eu juro que vou invadir o quarto e acabar com sua alegria —
ameaçou, mas agora havia mais humor que resignação em sua voz.
— Até parece que você transa com uma mordaça na boca — Ben
rolou os olhos, enquanto enchia um copo com água.
— Não com uma mordaça, mas com respeito às pessoas na mesma
casa que eu, e ao nosso redor. Sabia que tem crianças que moram aqui?
— Tá falando de você, ou tem mais alguém?
Jackson mostrou o dedo do meio para Benjamin e eu abri um pequeno
sorriso.
Eu odiava muitas coisas, mas amava esses momentos. Amava meus
irmãos. Amava essa parte da família.
— Eu fico impressionado com a forma como vocês conseguem
demonstrar amor uns pelos outros.
Os dois, ao mesmo tempo, ergueram o dedo do meio para mim.
O celular do Jackson começou a tocar e uma foto enorme da nossa
caçula com o sorriso que sempre, desde que aprendeu a sorrir, nos convencia
a qualquer coisa. Oly nos faria congelar o inferno se ela quisesse.
— Ei, encrenca — Jack provocou, posicionando o aparelho de forma
que ela pudesse ver a todos nós. Uma forma clara para que ela soubesse que,
o que quer que tivesse a dizer, devia manter a língua na boca.
O sinal, claro, foi captado.
— Que milagre encontrar os três reunidos — semicerrou os olhos em
nossa direção. — O que estavam fazendo?
— Ouvindo o Benjamin comer uma universitária — Jackson acusou,
recebendo um olhar bravo do irmão.
— Graças a Deus eu não vou precisar morar com vocês e ter que
consolar essas pobres coitadas de coração partido como acontecia quando
moravam aqui. — Pôs as mãos em forma de agradecimento ao ser superior.
— O que não é milagre é saber que você liga para o queridinho,
sempre — Benjamin rolou os olhos, puxando uma cadeira e sentando-se
também aproveitando a deixa para mudar de assunto.
— Jackson e eu temos uma coisa chamada reciprocidade, se você me
ligasse mais, também receberia mais ligações minhas — sorriu sem humor.
— Autch — brinquei, olhando para o Ben que fazia uma cara de
ofendido.
— Não sei por que está fazendo piadinha, você e o Ben são
iguaizinhos.
Encarei a tela do celular cruzando os braços para ela. Olívia refletiu
meu gesto como um espelho, querendo deixar claro que eu não a intimidava.
— Acho que você vai passar a ação de graças aí, de castigo, Oly.
Ela fez uma careta, usando a mão para me imitar, tal qual uma criança
de três anos.
— Na verdade, foi bom você ter tocado no assunto. Era sobre isso
mesmo que eu queria falar — começou.
— Olívia — Jackson chamou sua atenção, como sempre costumava
fazer quando queria alertá-la de que não devia fazer algo.
Ela apenas o ignorou.
— É meu último ano aqui, e, no próximo, como vocês todos, serei
universitária. Seria importante para mim que vocês viessem para cá e...
— Não! — Respondi, interrompendo-a.
— Mas, Andrew...
— Faremos como no último ano, vou te mandar o dinheiro, você paga
a passagem e vem passar as festas conosco.
Sentia meu coração acelerado no peito só de pensar na possibilidade.
Eu sempre soube que no dia que pisasse os pés fora da nossa cidade, seria
para nunca mais voltar.
Por nada.
— Andrew, você pode pensar no que seria importante para mim, por
favor?
Minha respiração ficava cada vez mais rápida.
Imagens do passado pareciam querer retornar. Momentos felizes
misturavam-se aos tristes.
— Olívia, para! Eu já disse que não. — Fechei a mão ao lado do
corpo, tentando me conter.
— Mas eu estou dizendo que sim — retrucou, firme. — Ben,
Jackson? — chamou, como se buscasse apoio. Bufando ao notar que os
meninos não ficariam contra mim nessa. Olívia sempre nos tinha nas mãos
para tudo. Menos quando o assunto era esse. Ela já sabia que seria uma
batalha perdida. — Eu estou aqui, Andrew! É pedir demais
— Não, porra — gritei, batendo a mão com força na tampa de mesa
de madeira. — Eu já disse que não. Se o Benjamin e Jackson quiserem, eles
podem ir. Eu. Não. Vou.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Trinquei os dentes vendo a forma como os olhos de Olívia encheram-
se de lágrimas. Coisa que eu não via há anos.
— Quer saber, ainda bem que eu não vou para Walker. Não vou
permitir que você me controle, Andrew. E só para deixar claro, não precisam
me esperar. Vocês não vêm, eu não vou.
— Olívia — Jackson chamou, mas era tarde demais. Ela já havia
desaparecido da tela.
— Andrew — Benjamin com certeza diria o que eu já sabia, mas não
queria ouvir.
Apenas passei pela porta da cozinha caminhando para fora de casa em
seguida.
Não queria magoar Olívia, mas não podia dar a ela o que queria.
Apertei com mais força as mãos em punho.
Eu sabia do que precisava.
Apanhei o celular do meu bolso procurando o contato do Peter.
“Preciso de alguma coisa, qualquer coisa, agora.”
Enviei.
Eu sabia que ele conseguiria o que queria.
Havia grana envolvida, e nada melhor do que o Imbatível com raiva
para garantir uma considerável quantia em dólares. E uma coisa que eu havia
aprendido há tempos, é que tudo e todos têm um preço, só precisamos saber
qual.
Capítulo 5

— Eu odeio festas — argumentei, pela milésima vez, com Madison,


que estava na minha porta com um enorme sorriso pidão no rosto.
— Ninguém disse que você precisa gostar. — Passou por mim
entrando em meu quarto sem ao menos ser convidada. — Falei que você
precisa ir. Será a primeira festa oficial do campus e todo mundo que importa
estará lá.
Ela havia colocado na cabeça que nós íamos à festa da sua
fraternidade. Na casa onde ela morava, mas não queria ir sozinha. Como se
fosse possível não estar acompanhada em uma festa com mil pessoas.
Nossa primeira semana foi intensa. Achei que os professores iriam
facilitar, pelo menos, nos primeiros dias, mas não, já tínhamos alguns
trabalhos extensos para entregar na próxima semana. Além do mais, eu havia
conseguido o trabalho na Women’s e meu corpo implorava por algumas horas
a mais de sono.
Também ainda não havia decidido se podia confiar completamente
nela, mas a garota era divertida e estava levando a sério sua promessa de
tornar-me sua melhor amiga, ainda que eu tenha demonstrado uma enorme
falta de interesse em aprofundar assuntos.
— Eu não ligo pra socialização. — Dei de ombros, fechando a porta e
caminhando até a minha cama onde me deitei sobre minhas roupas que ainda
estavam na mala e eu havia decidido guardá-las hoje.
— Você não sabe do que está falando — fez um gesto com a mão,
indicando que não considerava minha fala, e foi impossível não me lembrar
da minha mãe me dizendo que eu preciso de alguém como a Mad em minha
vida.
— Não sei se deu pra perceber, mas estou terminando de organizar
minhas coisas.
Joguei uma calça jeans na garota que fez uma careta para a peça.
Madison estava linda em um tubinho branco sem alça, mas que
parecia não correr nenhum risco de escorregar e mostrar os seios e usava uma
sandália de salto dourada.
Chegava a ser engraçada a discrepância entre nós duas. Enquanto ela
andava completamente na moda, eu preferia algo básico e confortável.
— Ninguém passa sexta à noite organizando as coisas, Leigh —
suspirou, de forma dramática, olhando ao redor. — E a garota que vai dividir
o quarto com você? Será que ela desistiu?
— Ainda não apareceu — respondi, olhando para o lado vazio do
quarto. — A princípio, achei que ela fosse chegar mais tarde por conta do
voo ou algo assim, mas até agora nada.
— Bem, se ela desistir — Mad se aproximou da cama que ainda não
tinha dona, empurrando o colchão com a mão, como se quisesse testá-lo. —
Não me importaria de vir morar aqui, contanto que mamãe ache que eu estou
na fraternidade.
Rolei os olhos.
— Com certeza você não trocaria um quarto próprio e confortável em
uma fraternidade de luxo para dividir esses poucos metros quadrados comigo.
Mad fez uma careta engraçada antes de dar-se por vencida, soltando
um suspiro.
— Você está certa. Minhas roupas nem caberiam nisso que você
chama de armário e eu não poderia cuidar da minha dieta sem todos os
aparatos a que tenho acesso na fraternidade.
— Certamente o tipo de problema que eu não me incomodaria em ter.
Retruquei, vendo-a rir.
Brincávamos assim com frequência, como quando, na quarta, ela foi
tomar café da manhã no Women’s porque, segundo ela, queria passar um
tempo comigo, e não tínhamos troco para uma nota de cem dólares tão cedo.
Bem, todas as notas em sua carteira eram de cem.
Mas, mesmo parecendo ser o tipo de pessoa que tinha dinheiro saindo
pelos poros, ela não era uma pessoa ruim. Parecia meio deslocada da
realidade da vida da maior parte dos pobres mortais. Não tinha como julgá-la
quanto a isso. Quando você vive entre rios de dinheiro, os problemas alheios
não devem ser tão importantes assim.
— E se nós fizermos um acordo? — Quis saber, sentando-se próximo
a mim. — Você vai comigo, e eu prometo que amanhã venho te ajudar. Nós
passaremos o sábado todinho confinadas nesse quarto até que ele esteja
perfeito.
Mad deu uma encarada ao redor, com uma careta de desgosto com a
falta de decoração. Não havia levado muita coisa para arrumar como a maior
parte das estudantes costumavam fazer. As paredes permaneciam brancas.
Alguns dos meus livros preferidos estavam empilhados na prateleira, as
poucas roupas surradas jogadas na cama e a mala roxa com flores vermelhas
largada no chão ao lado da minha cama de forma displicente.
— Você não precisa fazer isso, Mad.
— Eu sei. É só que... — parou, abrindo a boca, mas sem falar nada.
— Eu só gosto de manter a mente ocupada. Por favoooor, você não pode
fazer isso comigo!
— Não posso não ir à festa com você? — ergui uma sobrancelha em
sua direção.
— Exatamente. Nós seremos melhores amigas para sempre, e uma
melhor amiga não deixa a outra ir para uma festa sozinha, você nunca leu o
manual das melhores amigas para sempre? — soltou um suspiro exasperado.
— Cadê a sororidade?
Tá, agora ela havia conseguido me surpreender.
Essa era uma palavra que não exatamente esperamos ouvir de garotas
como a Mad. E é exatamente por situações assim que eu detesto julgar as
pessoas, elas podem nos surpreender positivamente. É difícil saber, apenas
por aquilo que estamos vendo exteriormente, as experiências de vida daquela
pessoa, ou tudo aquilo de bom que podemos aprender com ela.
— Você sabe que sororidade não tem absolutamente nada a ver com
não ir a festas, não é? — Semicerrei os olhos em sua direção, tentando conter
um sorriso.
— Sororidade é a união entre mulheres. Logo, cadê a empatia
comigo? Vai me deixar chegar sozinha? Ficar lá jogada pelos cantos? — Mad
fez uma carinha de cachorro que havia acabado de cair da mudança.
— Tenho certeza de que você não vai mesmo ficar sozinha e jogada
aos cantos na casa onde você mora.
Rolou os olhos, contrariada.
— Nunca disse que morar em fraternidade é legal. Só que é uma coisa
de família, e minha mãe teria arrancado meu pescoço fora — fez uma pausa.
— Não, o meu cartão de crédito, o que é bem pior, se eu não aceitasse sua
intimação em fazer parte do legado da família.
— Ah, pobre menina rica — ironizei, rindo em seguida quando ela
jogou um travesseiro em minha direção.
— Eu prometo que se você for à festa hoje, amanhã te ajudo a
arrumar essa... — apontou com o indicador e uma cara de desgosto. —
bagunça que você tem aí.
— Madison, eu não acho que seja uma boa ideia. — Joguei o braço
sobre meus olhos tentando fugir da claridade proporcionada pela luz. — Eu
posso ficar aqui na minha cama confortável, assistindo um filme legal
enquanto arrumo tudo e adianto os trabalhos que os professores passaram.
— Ah, não. Isso é muito pra mim. — Não precisava ver para saber
que a garota havia levantado e caminhava em minha direção. — Você vem
comigo! Os anos que passaremos aqui serão, sem dúvida, os mais
importantes de nossas vidas e eu não vou deixar você desperdiçá-los sendo
uma antissocial com tendências suicidas. Sabia que muitos universitários
pensam e ou já pensaram em tirar a própria vida? O estresse faz isso! Pode
não perceber agora, mas estou te salvando. Um dia você vai me agradecer.
E, por mais que eu soubesse que não devia ir, foram exatamente essas
palavras que me incentivaram. Ab havia me enviado uma mensagem de voz
pouco antes da primeira aula pedindo que eu me lançasse em novos desafios
e aproveitasse essa fase que tinha de tudo para ser a melhor da minha vida.
Bufei.
— Vamos ficar uma hora no máximo — falei, sentando e encarando-a
seriamente. — Amanhã meu turno no Women’s é cedo. Não posso ser
demitida, gosto de lá.
— É tudo que precisamos. Vamos desfilar nossas belezas e iremos
embora no auge da festa deixando um ar de mistério sobre nós duas. —
Sorriu docemente para mim. — Prometo até tomar café da manhã lá todos os
dias e deixar altas gorjetas para a minha garçonete preferida.
— Em notas de cem e me deixando o troco de gorjeta? — perguntei,
fazendo-a revirar os olhos.
— Agora, vamos ver o que você tem ai que possamos fazer o melhor
look da sua vida.
Soltei um longo e pesado suspiro.
Seria uma longa noite.

Não podia estar mais certa sobre isso.


A casa era enorme, mas estava cheia. Cheia não, superlotada.
Madison havia me apresentado a algumas meninas da fraternidade e elas
foram até bem legais comigo, mas não me sentia confortável nesse tipo de
ambiente. A cada minuto apertava o botão lateral do celular na esperança de
que milagrosamente os ponteiros do relógio tivessem passado mais
rapidamente e que os minutos já houvessem se multiplicado.
Suspirei, dando-me conta de que estava tudo igual há três segundos,
quando eu havia repetido o gesto. Exatamente como vinha fazendo nos
últimos vinte minutos. O que significava que ainda restavam quarenta.
Será que se eu fosse embora agora, Madison notaria minha ausência?
Antes que eu pudesse colocar meu plano em ação, ela apareceu com
um copo de cerveja, entregando-me.
— O pessoal costuma esconder as melhores, mas como eu moro aqui,
tenho direito a regalias. — Piscou, batendo nossos copos em um brinde
descoordenado. — A nós duas. Que sejam anos incríveis.
— E que você se preocupe mais com notas e menos com festas. —
Mad mostrou a língua antes de dar uma golada na cerveja e fiz o mesmo,
apreciando o gosto amargo em minha língua. Bem melhor do que a cerveja
que haviam nos dado quando chegamos, mais cedo.
— Então, algum gatinho chamou sua atenção? — perguntou, dando
uma olhada ao redor, como se esperasse que eu escolhesse alguém em
específico.
Não era cega, muito menos idiota. Sabia apreciar caras bonitos, e na
Walker era como se eles se proliferassem. Mas não assumiria isso para Mad,
portanto, apenas rolei os olhos.
— Já te disse que não tenho a menor intenção em me envolver dessa
forma com ninguém. Meu negócio é concluir os estudos e trabalhar em um
lugar bacana até conseguir abrir minha própria ONG.
— Olha só, eu gosto de você e dos seus planos ambiciosos, garota.
Mas, por favor, vamos viver um pouquinho também? Você está no começo
da vida. Transar um pouco não vai fazer mal. Muito pelo contrário, transar
faz bem para a pele. — Dei de ombros.
Não respondi, sentindo alguém tombar o corpo com o meu.
— Desculpa, eu não... — o cara parou a frase assim que os olhos
pousaram na Mad que pareceu perder um pouco a cor do rosto. — Mad,
tentei te encontrar por aí esses dias, mas parecia que você estava fugindo de
mim.
Ela sorriu, sem graça.
— Estamos na faculdade, Malcon. Eu não conseguiria fugir de você,
levando em conta que, com certeza, você deve ser líder de alguma
fraternidade.
Ele soltou uma risada pelo nariz.
— Capitão atual do time de hóquei. Líder da fraternidade no próximo
ano, com certeza.
— Exibido como sempre. — Mad rolou os olhos, mas com um sorriso
divertido nos lábios.
— Quanto tempo — falou, olhando-a de cima a baixo.
— Sim. Muito tempo mesmo. — Pela expressão em seu rosto, ela não
parecia confortável com o rumo da conversa.
— Não te vejo desde que você...
— Fiz intercâmbio — interrompeu com um sorriso vacilante no rosto.
Exatamente a postura que adotávamos quando queríamos mentir para
alguém.
— Sim — o garoto concordou, mas como se dissesse “eu sei o que
você fez no verão passado.” — Inglaterra, não foi?
— Isso — a resposta veio rápida demais. — Ei, Leighton, esse é o
Malcon, nós estudamos na mesma escola.
— Prazer. — Sorri, cumprimentando-o.
— O prazer é todo meu. — O garoto me puxou e deu dois beijos em
minha bochecha, antes que eu pudesse ter qualquer reação.
Madison monopolizou a conversa por um tempo, como se quisesse
garantir que o capitão do time de hóquei não contaria nada que ela não queria
que eu soubesse.
E o garoto, obedientemente, não o fez.
Eu já o havia achado bonito antes, quando estávamos na aula, no
começo da semana. Mas, agora, olhando de perto, Uau! Lindo era pouco!
E, como se não fosse humanamente impossível não olhá-lo, ele
parecia querer garantir um pouco mais de atenção quando coçava a cabeça
com o claro intuito de salientar os músculos. Lembrava um pouco o Tristan
Thompson, o marido da Khloé Kardashian. Ele pode até não valer muita
coisa, mas é um gato. Isso é inegável.
Apesar de nunca ter transado com ninguém, não era idiota. Também
não fazia o tipo que fingia não ver as coisas lindas que haviam sido criadas
para serem apreciadas por nossos olhos.
— Você não mudou nada, Malcon — Mad falou.
Não parecia um flerte, mas também não deixei de notar que ela pôs a
mão no ombro do jogador, depois a escorregou, como se não fosse nada
demais, por todo seu braço.
Ri, achando graça do descaramento da garota. Talvez aquela ideia de
desfilar as belezas e ir embora deixando um ar de mistério tivesse ido com
Deus fazia tempos.
— Querem uma bebida, meninas? — perguntou, olhando em volta
como se procurasse alguma coisa.
— Uma cerveja pra mim. — Madison me encarou aguardando a
resposta.
— Balancei um pouco meu copo, que ainda estava cheio. — Sorri
para Malcon sem precisar de palavras para explicar. Ele sumiu logo em
seguida atravessando o mar de pessoas que estavam na Kappa Alpha, a
irmandade onde a Madison morava.
— Você já sabe que se queria fazer mistério sobre você, falhou
miseravelmente, não é?
— Eu sei — gritou de volta. — Meu sonho era ser essa mulher
misteriosa, tipo você, mas, infelizmente, isso não serve para mim.
Não podia negar que, se grilos falassem, ela teria engolido uma
nuvem inteira.
— Eu sou misteriosa? — franzi o cenho em sua direção.
— Claro! Olha só pra você, não sei quase nada a seu respeito, e passei
quase toda a semana em sua cola.
Formei uma linha com os lábios. Não era uma questão de ser
misteriosa, era só que não havia nada de interessante em minha vida que
merecesse ser mencionado.
— Você sabe de todas as coisas importantes. Amo meus pais, sempre
quis estudar aqui, e é isso. — Dei de ombros.
— Não tenho problemas em ouvir coisas desinteressantes também.
— Se eu pudesse apostar, diria que você tem problemas em ouvir no
geral. Essa sua boca não para de falar por um segundo, garota.
Madison rolou os olhos, com um sorriso nos lábios.
— Esse é só um mero detalhe. — Fez um gesto de desdém com a
mão.
A sala, logo em seguida, pareceu congelar por alguns segundos.
Todos se viraram em uma mesma direção e senti quando meu queixo foi ao
chão.
Três garotos entravam na casa como se fossem os donos do lugar.
— Aquilo é o clã Cullen? — questionei à minha provável amiga que
riu.
Mad deu um suspiro audível, apesar da música alta.
— Não é o clã Cullen, mas é quase isso. Clã Davis. Além do babaca
que está na nossa turma, você já deve ter visto os outros andando por aí.
Jackson Davis, futebol americano — segui seu olhar até o garoto de cabelo
castanho-escuro para quem minha amiga apontava o queixo.
A expressão fechada no rosto dava a impressão de que o garoto era
um cara estilo poucos amigos. Tinha os olhos e cabelos mais escuros, e
muitos músculos.
— Benjamin Davis, time de basquete. O melhor jogador da equipe,
diga-se de passagem. Todo mundo sabe que ele será o próximo Michael
Jordan — falou, mudando a direção do olhar. Fiz o mesmo.
Diferente do irmão, ele era sorridente, tinha os dentes muito brancos,
inclusive. Era bem alto. O tom do cabelo era mais puxado para o loiro, talvez
um pouco mais claro que o do outro irmão. Cumprimentava a todos por quem
passava sempre com um sorriso muito caloroso no rosto. Era o tipo de pessoa
de quem gostávamos ainda que não conhecêssemos.
— E o último, você já teve o prazer de conhecer. Andrew Davis. Não
é nada oficial, claro. E se você contar pra alguém que eu te disse, vou negar
até a morte, mas ouvi dizer por aí essa semana que ele participa de... —
chegou um pouco mais perto para sussurrar — coisas ilegais.
— Tipo, venda de drogas? — quis saber, sussurrando também,
enquanto analisava o homem à minha frente.
— Eu não sei — sussurrou de volta, endireitando a postura.
Claramente Andrew era o mais velho. O mais bonito também. Os
olhos pareciam ser um misto de verde e azul. Usava uma camiseta preta que
destacava claramente seus músculos. A forma como caminhava, seguro de si,
como se soubesse exatamente quem era e o que queria ser. Como se soubesse
que o ar ficava mais pesado com a sua aparição.
Ele tinha certeza sobre ele. E, talvez, por isso, as pessoas costumavam
querer andar com ele. Possivelmente, queriam ser mais seguros de si.
Como se houvesse sido chamado, ele ergueu o olhar em minha
direção e me senti hipnotizada, tal qual uma cobra e sua presa.
Meu corpo aqueceu por alguns segundos, como se meu sangue tivesse
se transformado em lava vulcânica. Ele desviou o olhar, mas não consegui
deixar de analisá-lo.
Andrew possuía muitos músculos para ser classificado como algum
viciado em drogas ou algo assim. A expressão em seu rosto era fechada,
entretanto não deixava de cumprimentar todas as pessoas que o paravam
enquanto seguia em frente, nem que fosse com um breve aceno de cabeça.
A sensação era de que a chegada dos irmãos Davis costumava ser o
ponto alto da noite. Como se dali em diante a festa fosse realmente começar,
e por mais loucura que pudesse parecer, todos concordavam com isso.
Andrew parecia especialmente bravo. Um dos seus irmãos, o
Benjamin, deu um tapa em seu peito, falando algo em seu ouvido. Ele não
riu, apenas olhou ao redor como se precisasse de algo especifico.
Mais uma vez, me flagrou o encarando.
Entretanto, para meu desespero, caminhava em nossa direção.
— Por que ele está vindo para cá? — Madison questionou, dando um
leve beliscão em meu braço, parecendo preocupada.
Meu coração batia ansioso no peito, como se soubesse que ele me
confrontaria querendo saber o motivo dos meus olhos, volta e meia, recaírem
sobre ele.
O ar ficou denso.
A cada passo, sentia que meu corpo estava preso, hipnotizado, por
aquele cara.
De alguma forma, seu rosto estava estranho. O lado direito parecia um
pouco inchado, e a maçã do rosto não estava tão alinhada como da última vez
que o vi. Não era como se alguma parte do seu rosto estivesse roxa, ou algo
assim. Curiosa, escrutinei seu corpo que se aproximava a passos firmes e
decididos, parando o olhar em seus dedos. Os nós estavam machucados,
como se ele tivesse brigado com alguém. Involuntariamente, encarei seu
rosto outra vez e tudo fez sentido.
Ele havia brigado com alguém.
Será que havia ficado com a namorada de outro cara?
— Ei, irmão!
A voz animada de Malcon, atrás de nós duas, nos fez perceber que
não, ele não caminhava em nossa direção. Mas, sim na do seu amigo que
retornava da cozinha com a bebida dele e de Madison.
Soltei o ar que nem havia notado estar preso.
— Fala — respondeu, com um breve aceno de cabeça e ignorando
completamente a nossa presença.
Malcon lhe deu o copo, que agradeceu. Andrew o arrastou para alguns
passos mais distantes de onde estávamos.
— Ele é tão sexy — minha amiga comentou, mordiscando a boca do
copo.
— Você mesma disse que ele é o tipo de quem nos arrependemos de
pôr o nome em nossos diários — argumentei, ainda sentindo meu corpo
anestesiado pela intensidade do seu olhar.
— Não precisamos necessariamente escrever o nome dele. Dizem que
são os melhores para, você sabe... — ergueu uma sobrancelha deixando
explicito o que queria dizer.
— Estudar que é bom ninguém quer — reclamei, dando um gole na
cerveja.
— Estamos na primeira semana, não é errado querer alguns orgasmos
grátis antes da loucura começar, não é? — ergueu a sobrancelha em minha
direção esperando que eu concordasse, mas revirei os olhos, apenas.
— Como você conhece essas pessoas? — quis saber, lembrando-me
de detalhes que ela havia me contado sobre algumas das pessoas que estavam
aqui, ou que passavam por nós pelo campus.
Mad deu de ombros.
— No meu mundo, as pessoas conhecem pessoas que conhecem
pessoas. Tudo é uma rede de informações, Leigh, e você tem que estar
preparada para qualquer coisa, sempre.
Não podia dizer que ela estava errada. Estar preparado para tudo era
importante, especialmente quando o tudo é algo que você não espera, de
pessoas por quem você colocaria a mão no fogo.
Malcon voltou, pouco depois, convidando-nos para o tradicional jogo
de pingue pongue de mesa onde o principal objetivo era deixar os
participantes bêbados. Dois participantes deviam ficar um em cada
extremidade da mesa, jogando bolas de pingue-pongue nos copos dispostos
na outra extremidade. Quem errasse bebia um copo cheio da bebida duvidosa
que chamavam de cerveja.
Observei um pouco as partidas. Malcon torcia fervorosamente por
Madison que jogava contra uma das garotas da fraternidade. Ella, se não me
engano.
Minha presença não era exatamente notada com tanta concentração ao
redor dos copos. Avisei a Mad que ia dar uma volta pela fraternidade. A casa
era enorme e toda de blocos amarronzados. Havia muitas fotos nas paredes de
mulheres que haviam sido Kappa Alpha, uma delas, com certeza, a mãe da
Mad.
Por onde quer que andasse, havia pessoas bêbadas, dançando, se
agarrando nos corredores, nas escadas, na cozinha – na frente de todo mundo.
Se as cidades de Sodoma e Gomorra existiram de fato, acredito piamente que
era exatamente como uma festa de fraternidade.
— Ei, gostosa. — Um cara alto e aparentemente bêbado começou a se
aproximar. Encolhi-me um pouco, o que só piorou quando ele chegou perto
com fedor de bebida. — Tá a fim de conhecer um dos quartos lá em cima? —
sorriu. Ou melhor, tentou dar um sorriso sedutor, mas acabou parecendo
muito mais uma careta de quem estava com diarreia.
— Ah, não. Obrigada — respondi, traçando uma rota mental de como
podia sair dali sem arrumar nenhuma encrenca.
— Acho que posso te fazer mudar de ideia. — Aproximou-se ainda
mais, me fazendo recuar um passo. — Vamos lá, não seja tímida.
Deu um passo em minha direção e, em seguida, ergeu o indicador
como se fosse passar em meu rosto. Arregalei os olhos, assustada, tentando
encontrar alguma vulnerabilidade em seu corpo enorme, que permitisse que
eu passasse por ele sem nenhuma dificuldade.
— Ela disse que não. — Uma voz soou tão forte quanto um trovão
vindo de trás de mim.
Não fazia a menor ideia onde aquele ser humano podia estar
escondido, e sinceramente, não me importava. Fosse quem fosse, acabava de
ganhar um pedaço do meu coração.
— Mas eu sei que na verdade, ela queria dizer sim, não é, princesa?
— olhou para o homem por cima de minha cabeça.
— Se ela quisesse dizer sim, as palavras que teriam saído de sua boca
teriam sido exatamente essas, não acha?
O homem à minha frente semicerrou os olhos para a figura que, pela
direção do seu olhar, também era alta, atrás de mim.
Ele ergueu as mãos em um gesto de quem estava rendido.
— Vai passar dessa vez — retrucou com a voz arrastada. — Podemos
resolver isso em outro lugar.
Sem falar mais nada, deu as costas e saiu.
Sentindo o coração quase sair pela boca, virei o corpo para agradecer
o salvador da noite.
Andrew.
Os olhos intensos varreram meu rosto por alguns segundos, como se
estivessem à procura de algo.
Eu sabia que devia agradecê-lo, mas acho que, por causa do susto,
minha voz estava travada.
— Se não sabe se defender sozinha, não devia andar em lugares como
esses, Afrodite — falou, por fim. Sua voz parecia irritada.
Antes mesmo que eu pudesse dizer que esse não era meu nome, ele
também deu as costas seguindo para a porta que eu não havia visto antes.
— Ei, aí está você. — Madison apareceu, sorridente, em seguida. —
Aconteceu alguma coisa? — Quis saber, olhando meu rosto, assustada.
Neguei, balançando a cabeça. — Bom, já podemos ir — falou, com um
enorme sorriso no rosto e passando o braço pelo meu. — Já fizemos
exatamente o que viemos fazer aqui.
Eu queria perguntar onde ela pretendia dormir já que a fraternidade
era a sua casa, mas deixei pra lá. Eu só queria, realmente, sair daquele lugar o
mais rápido possível.
Capítulo 6

O primeiro final de semana universitário foi exatamente aquilo que eu


esperava. Muitas festas. Gente se drogando, gente enchendo a cara, gente
fodendo. Era nessa última categoria que eu me encontrava.
Passei os dias seguidos à briga com Olívia me sentindo um pouco mal
pela forma como havia falado com ela. Não havia tentado entrar em contato,
assim como ela também não me procurou. A verdade era que Olívia nem
mesmo devia ter cogitado a possibilidade de voltar à cidade. Mais do que
isso, ela devia entender os nossos motivos.
Isso não aconteceria.
Eu não costumava beber muito para não acabar da mesma forma que
ele, entretanto, durante o final de semana, eu bebi mais do que meu corpo
aguentava e transei até que meu pau decidisse que havia álcool demais no
meu corpo para que ele continuasse a subir.
Acordar na segunda-feira tinha sido um inferno.
A senhora Hughes tinha acabado de recolher uma atividade que havia
passado assim que entramos na aula. Numa segunda-feira. Se ela fosse uma
pessoa com Deus no coração, só passaria algum slide chato e fingiria que não
estava percebendo os cochilos. Especialmente por saber que seu filho
também havia exagerado no final de semana.
— Então, a Constituição do nosso país foi finalizada e aprovada em
17 de setembro de 1787, tendo como principais objetivos o equilíbrio entre as
tendências autonomistas, que buscavam maior independência para cada
estado e federalistas, que queriam o poder central. — A professora se sentou
no tampo da mesa. Hoje usava um vestido vermelho com decote que deixava
a vista aqueles peitos que faziam qualquer aluno babar. — Em 7 de janeiro de
1789, houve o primeiro pleito presidencial. George Washington era disparado
o favorito. Porém, além dele, mais onze pessoas candidataram-se.
Washington teve o voto de 69 delegados. John Adams, que ficou em segundo
lugar, teve 34. A posse do primeiro presidente dos EUA ocorreu no dia 30 de
abril de 1789.
Soltei um suspiro audível.
— Estou te aborrecendo, Davis? — a sobrancelha erguida em minha
direção e o olhar por cima dos pequenos óculos quadrados que usava
— De forma alguma. A imersão histórica que a senhora nos
proporciona é simplesmente fantástica.
A senhora Hughes maneou a cabeça em negativa, olhando para o
relógio em seu pulso.
— Por essa semana é só. Em breve começaremos a organizar os
trabalhos de final de semestre onde, em dupla, vocês irão organizar debates
com argumentos válidos contra e a favor de movimentos importantes para a
humanidade que aconteceram nos Estados Unidos, como, por exemplo, o
movimento dos direitos civis.
A turma assentiu, animada, pegando os materiais e se levantando.
Com certeza a animação era por conta do final de semana.
— Davis — a professora chamou, fazendo-me olhar em sua direção.
— Quero você em minha sala em quinze minutos.
— Como a senhora quiser — respondi, desanimado.
— Pronto para ter o rabo comido? — Miles se aproximou, passando o
braço por meu pescoço. — Depois de demonstrar seu claro desânimo com a
matéria, tenho certeza de que ela quer te colocar contra a parede pensando
sobre o seu futuro nessa universidade.
Não respondi, mostrando o dedo do meio para ele e dando um passo a
frente. Parei no instante exato em que ia trombar com Madison e Afrodite
que, diferente da semana passada, não usavam roupas tão leves por conta do
tempo que esfriava. Vestiam cardigans coloridos e calças jeans.
A confusão em seu rosto ao ser chamada por um nome
completamente diferente de Leighton foi divertida. Escolhi o apelido levando
em conta o fato de que a garota tinha a mesma facilidade para conquistar as
pessoas que a deusa do amor. Impossível não notar a quantidade de pescoços
que viravam em sua direção quando ela passava pelo campus, ou a
quantidade de mensagens no aviãozinho que se referiam a ela e a amiga.
Entretanto ela, Afrodite, sempre parecia inalcançável demais para
todo e qualquer mortal que quisesse um pouco de sua atenção.
O caminho até a sala da senhora Hughes era relativamente curto e a
porta da sala estava entreaberta.
— Senhora Lites. — Sorri para a amável senhora na casa dos setenta
anos que trabalhava como secretária da professora — tenho certeza de que a
senhora sentiu minha falta durante as férias.
— De um diabo como você, tudo que eu senti foi gratidão pela
distância. — Gostaria de pensar que ela estava brincando, mas com ela era
sempre difícil saber.
— A senhora Hughes pediu que eu viesse à sua sala após a aula.
Aparentemente ficar entediado enquanto se estuda política virou um tipo de
crime passível a horas trancafiado na sala das torturas com essa mulher que
quer enfiar um pouco de conhecimento nessa cabeça de estudante vazia.
— Bom saber que, ao menos, você presta atenção em algo do que eu
falo, Andrew Davis. — A professora apareceu na porta com os braços
cruzados abaixo dos peitos. Respirei fundo contando até quinze de trás para a
frente para evitar uma ereção. Ela podia ser minha professora, mas era
gostosa até não poder mais.
— Eu sempre presto atenção na senhora. — Ergui minha sobrancelha
em sua direção.
— É isso que veremos. — Sorriu, maliciosa. — Senhora Lites,
poderia, por favor, imprimir, agora, os arquivos que acabei de enviar por e-
mail para o reitor? Preciso que ele assine todas as páginas também. É sobre
um trabalho que pretendo realizar com a turma e necessito da autorização
dele.
— Sim, senhora — a mulher respondeu deixando claro, pelo tom de
voz, que não havia gostado nem um pouco do pedido. — Senhor Davis. Pode
entrar, por favor.
Chegou para o lado dando espaço para que eu adentrasse a sala
fechando a porta em seguida, bem a tempo de ver a senhora Lite saindo de
sua pequena mesa para a sala do reitor.
Caminhei até a cadeira de madeira escura destinada às visitas em sua
mesa, pondo minha mochila, mas apoiando o peso do meu corpo na mesa.
— Estou aqui — falei, abrindo os braços.
— Ah, eu estou vendo. — Mordiscou o lábio, dando uma olhada em
meu corpo de cima a baixo.
— Então, hoje eu serei punido por não prestar atenção na aula? — dei
um sorriso sedutor em sua direção.
— Hoje você será punido por ser um filho da puta gostoso e por eu
não poder arrancar suas roupas no meio da aula e sentar nesse seu pau
gostoso como eu queria fazer desde que o vi na semana passada — falou,
com a voz rouca e sexy, aproximando-se de mim, enquanto tocava meus
músculos. — Ai, como eu senti saudade de tudo isso...
No instante seguinte nossos lábios estavam colados e sua língua
enfiada em minha boca. O corpo quente e cheio de curvas pressionado contra
o meu. Minhas mãos nunca cansariam de explorar aquela pele macia. Eu
adorava os sons que ela fazia quando a tocava.
Saudosa, minha mão apertou sua bunda, fazendo com que ela arfasse,
aproximando mais seu corpo do meu e esfregando-se contra meu pau já duro
feito pedra.
Eu só pensava em uma coisa: comer ela, de quatro, na mesa.
Lentamente, minha mão direita abandonou a bunda redonda e farta,
buscando refúgio em outro lugar. Aos poucos, meus dedos moviam-se para
dentro de seu vestido.
Ela afastou nossos lábios por uma fração de segundos olhando-me
com expectativa, enquanto, lentamente minha mão subia das coxas até o
centro de seu corpo. Deixou a cabeça tombar para trás, quando passei o dedo
indicador por sua calcinha já encharcada sem que houvesse a necessidade do
mínimo esforço da minha parte.
Para provocá-la, tirei o dedo, vendo-a soltar o ar com força, frustrada.
— Você já está prontinha para mim.
— Eu sempre, sempre estou pronta para você. Agora, para de me
torturar e me fode com força — pediu em um murmúrio.
— Ainda nem comecei a tortura — sussurrei em seu ouvido, girando
nossos corpos, de forma que ela ficasse com as costas grudadas no tampo da
mesa já vazia, como ela sempre fazia antes que eu chegasse.
Da primeira vez que transamos, impaciente, joguei tudo no chão, e a
senhora Lites queria saber se havia algo errado por conta de todo o barulho.
Tateando suas costas, encontrei o zíper do vestido que usava. Ela
arqueou as costas, facilitando meu acesso. Enquanto abria sua roupa,
propositalmente a ponta do meu dedo polegar escorregava pelo centro de suas
costas, fazendo com que ela se arrepiasse.
Os olhos ardiam em brasas. Podia ver as chamas que emanavam
deles. O desejo. O tesão.
A ideia do proibido, a professora que gostava de ser fodida com força
pelo aluno novinho a deixava ainda mais excitada. Ela gostava do perigo. Eu
gostava de fodê-la.
Desci a alça do lado esquerdo do vestido revelando um seio com o
bico completamente entumecido. As auréolas rosadas e convidativas eram
um prato cheio, fazendo minha boca salivar. Eu gostaria de torturá-la mais,
entretanto, seria torturar a mim mesmo. E eu não era do tipo que aguardava.
Se eu queria, pegava.
Abocanhei seu seio, sentindo os dedos esguios se fecharem em minha
nuca em uma tentativa de conter a excitação que sentia. Enquanto brincava
com a ponta da língua no bico do seu seio, apalpava o outro, ainda coberto
pelo tecido vermelho do vestido que havia escolhido para hoje.
Vermelho como a luxúria.
Como o pecado.
Eu amava como o vermelho caía bem em seu corpo.
Querendo aumentar o contato entre nossas peles, desci a alça do lado
direito apertando o seio entre a mão.
— Você gosta disso? — perguntei, em um sussurro, enquanto deixava
um seio para brincar com o outro.
— Continua — pediu, falando alguma coisa impossível de se entender
em seguida.
Chupava. Lambia. Apalpava. Apertava.
Ela gostava. Gemia alto, pedia mais.
Seus braços percorriam minhas costas, por baixo do tecido grosso do
casaco verde que havia escolhido para hoje. Estava frio quando saí da cama
pela manhã. Estava mais quente que o inferno nesse momento.
Prensei seu corpo contra o meu quando ela apertou, com força,
minhas costas, cravando a unha, quando, com a mão livre, voltei a subir suas
pernas.
— Eu quero foder você com meus dedos, com a minha boca, e quero
ouvir você gritando meu nome quando gozar em meu pau, professora.
Antes que eu pudesse enfiar meu dedo em sua boceta, ela gemeu.
Adorava quando eu a chama de professora enquanto estávamos fazendo sexo.
Tornava ainda mais proibido. Ainda mais gostoso.
Seu corpo se contorcia contra o meu enquanto dois dedos faziam
pressão dentro dela. Entrando e saindo, levando-a quase ao clímax, apenas
para fazê-la esperar.
— Tá sentindo isso? — perguntei, apertando meu corpo contra o seu
mais forte. — Vai ser aqui que você vai gozar. Quando eu me enfiar com
força em você, quando eu disser que você pode gozar. — Enfiei os dedos
mais forte, fazendo com que ela choramingasse.
Suas mãos, ansiosas, desceram para o cinto da minha calça. Sentia
que ela queria isso. Que eu a fizesse gozar. Ela queria meu pau em sua
boceta. Eu queria prolongar o momento.
Deixei que ela abrisse a calça e enfiasse a mão em minha cueca. Soltei
um gemido forte quando ela segurou meu pau entre os dedos apertando-o
com a pressão perfeita.
— Me fode — pediu. — Me come, forte.
Sem me mover nenhum centímetro, não facilitei enquanto ela tentava
enfiar meu pau em sua entrada. A professora gemeu, frustrada.
— Não faz isso — pediu. — Por favor.
— Por favor, o quê? — quis saber, mordiscando o lábio inferior.
— Por favor, me faz gozar — falou, por fim, trazendo meu rosto para
junto do seu e iniciando um beijo lascivo.
A senhora Hughes circundou meu corpo com as pernas para facilitar a
penetração, mas dessa vez não. Ergui seu corpo dando a volta na mesa,
depois, com cuidado, a deitei, de costas para mim. Os seios apoiados contra o
tampo frio de madeira. Abri a pequena gaveta na mesa onde ela costumava
guardar as camisinhas, rasgando o plástico rapidamente e vestindo-a em meu
pau que estava ansioso para entrar em ação.
Dei um tapa em sua bunda exposta para mim, ela arfou.
Abaixei um pouco até que meus lábios estivessem colados ao seu
ouvido.
— Não é isso que você quer? — brinquei com a cabeça do meu pau
em sua entrada. Seu corpo, involuntariamente começou a rebolar, em um
pedido para acabar com aquela tortura.
Sem aviso prévio, entrei com força.
Ela gemeu. Eu também.
Alto.
Nenhum dos dois preocupados em sermos pegos.
O tesão falando mais alto.
Meus movimentos mais rápidos e mais fortes. A forma como ela
segurava a mesa. Minha mão a apoiando com força, prendendo-a a mesa. As
unhas cravadas em suas costas.
Nossos ritmos. O quadril rebolando contra meu corpo fazendo com
que eu sentisse que estava cada vez mais próximo.
Outro tapa em sua bunda.
Mais gemidos.
Palavras desconexas.
Um par de olhos nos encarando, assustados, pela pequena fresta na
porta.
Aquele olhar era impossível de não reconhecer.
Afrodite.
Uma pequena mecha de cachos caiu por sua testa.
Ela não se moveu, petrificada nos assistindo.
Sorri.
Enfiei com mais força, e mais força.
Segurei seu cabelo trazendo sua cabeça para trás. Outro tapa.
Nossos olhos não se desgrudavam. A garota que vestia um cardigan
colorido e que tinha apelido da deusa do amor.
Enfiei com mais força, mais força.
Até que senti seu corpo relaxar e tremer. Ela ainda estava lá,
assistindo. Os lábios levemente abertos.
Mais uma, mais uma e mais uma.
Minha bunda se contraiu enquanto eu me derramava em um gozo
como numa havia tido, dentro da minha professora com ela lá, na porta, nos
assistindo.
Pisquei por um segundo, quando abri os olhos novamente ela já não
estava.
Capítulo 7

Ai. Meu. Deus


Eu só queria pedir algumas dicas à professora sobre ONG’S que
pudessem aceitar estagiários do primeiro ano e tentar sair um pouco à frente
dos meus futuros concorrentes por vagas de emprego. Não esperava, de
forma alguma, ver a cena que eles protagonizaram na sala da professora, onde
qualquer um podia flagrá-los.
Eu não consegui simplesmente ir embora. Ou piscar. E agora, no
domingo, dois dias depois do flagra, não conseguia tirar a cena da minha
mente.
Andrew, puxando os cabelos da professora de forma que a bunda
ficasse mais exposta e enfiando o seu... aquela coisa, enorme e
completamente ereta, com força.
Eu nunca tinha visto ninguém fazendo aquilo. Já tinha ouvido garotas
contando suas experiências antes. Achava, inclusive, que esse negócio de
bater não era legal, era impossível negar que senti uma enorme coceira em
lugares onde, decididamente, não devia, vendo aquela cena. E a ideia de que
aquilo era desconfortável ruiu como um castelo de areia quando vi a
expressão em seu rosto. Era como comer um pedaço de chocolate depois de
meses de dieta intensa.
Entretanto, não foi o pior. A maneira como ele, enquanto penetrava a
mulher deitada sobre a mesa, me olhava nos olhos, como se me desafiasse.
Intenso.
Quente.
A expressão em seu rosto.
Desejo.
Tesão.
A expressão em seu rosto.
Satisfação.
A expressão em seu rosto.
Os gemidos quando gozaram.
Aquilo era um looping infernal em minhas lembranças.
Meu corpo não cansava de responder àqueles pensamentos e eu me
sentia a pior pessoa do mundo por, de alguma forma, sentir meu corpo
aquecer por um homem que estava dormindo – não no sentido literal da
palavra – com outra mulher.
Eu era melhor que aquilo, tinha certeza. E todas aquelas coisas em
meu corpo precisavam parar. Felizmente, ainda não o tinha encontrado, pra
ser sincera, temia a reação do meu corpo traidor que se aquecia apenas com
aquelas lembranças. Não havíamos nos visto desde então. E durante o final
de semana, quando ele aparecia, misteriosamente eu tinha uma dor de barriga
ou qualquer coisa que me mantivesse longe dele pelo tempo suficiente de sua
saída. Se tudo saísse de acordo com os meus planos, eu também não o veria
hoje. Nem nunca mais, se eu desse muita, muita sorte.
— Acho que a mesa já está limpa por dez anos, Leigh — Ania
brincou, fazendo-me parar o movimento sobre a mesa.
— Desculpe. Me distraí. — Mordisquei o lábio tentando conter a
sensação de quentura no centro de minhas pernas.
Como eu disse, um inferno aquela cena não sair da minha mente,
independente do lugar onde eu estivesse.
O sino soou, indicando que alguém tinha acabado de passar pela porta
em busca de almoço. Felizmente uma distração. Minha mente poderia focar
em algo além da cena pornô que eu havia assistido sem querer.
O almoço não era o horário mais cheio e por isso havia se tornado,
desde que fui contratada alguns dias atrás, meu turno preferido, por me
permitir estudar nos intervalos. Uma das coisas mais legais sobre o Women’s
era a preocupação com nosso bom desempenho universitário. No turno da
noite, em contrapartida, com todos os estudantes querendo beber e arrumar
pessoas para transarem, o Women’s se transformava em uma espécie de
pandemônio.
Sorri, simpática, para o pequeno grupo barulhento chegando. Não
precisei de esforço algum para identificá-los. O fato de muitos deles
precisarem abaixar a cabeça para passarem pela porta deixava claro a qual clã
pertenciam.
Nunca tinha falado com nenhum dos jogadores do time de basquete,
mas não era raro encontrá-los em grupos pelo campus desfilando toda aquela
beleza.
Era incrível como gente bonita atraía gente bonita. Mais incrível ainda
como todos os times da universidade eram compostos por toda a população
estonteantemente bela do campus.
Não tinha certeza se a maioria das garotas iam pelos jogos ou só pra
vê-los em ação e tentar a sorte na cama deles após as partidas.
— Ei, te vi na festa da Kappa.
Um dos jogadores falou, passando por mim e sentando-se à mesa que
eu havia acabado de limpar. Era preto, alto, tinha os cabelos black power.
— Sim, estava lá com uma amiga. — Sorri de volta, enquanto os
demais garotos se ajeitavam na mesa, o que não era a mais fácil das tarefas,
levando em conta o tamanho das pernas e dos músculos de todos.
— Se divertiu? — Outro quis saber. Ele tinha os olhos puxados. Com
certeza tinha descendência chinesa. Mas, diferente do primeiro, olhou
descaradamente por todo meu corpo.
— Não sou muito chegada a festas. — Franzi o cenho como se
quisesse me desculpar por minha falta de desejo em relação à socialização.
— Espero que possa mudar de ideia nos próximos anos. Vai ser um
enorme prazer encontrá-la. Quem sabe não tropeçamos por aí e sua língua
acabe dentro da minha boca. — Piscou em resposta, mas não parecia
necessariamente um flerte.
Sorri, sem graça, entregando o menu e, enquanto os aguardava
decidirem os pedidos, analisava um a um. Como estávamos ainda iniciando o
ano, tinha certeza de que alguns deles deviam ser das áreas mais ensolaradas,
como Carolina do Sul, onde o sol reinava, deixando-os com o ar bronzeado.
Outros, em compensação, tinham o ar mais Nova Yorquino tirados de áreas
como o Empire State e, pela falta de bronze, apostaria que alguns deles eram
de áreas de frio, como Nevada.
Os meninos falavam alto, rindo e fazendo piadinhas bobas uns com os
outros, parecendo estarem se entrosando, o que era importante por causa do
time. Quando pediram, os pratos variavam entre Hambúrguer, steak com purê
e peru marinado ao molho cranberry. Não tinha certeza se o treinador do time
ficaria feliz com a quantidade de calorias que os garotos iam ingerir.
— Adoro quando a casa fica cheia de jogadores — Ania sussurrou. —
Eles costumam ser bem generosos com seus estômagos. Nada melhor que
encher os bolsos e ainda agradar os olhos.
— Ania! — Fingi-me de chocada com a declaração, mas ri.
— O quê? Não podemos negar a verdade tão óbvia em nossa cara.
Patrick riu. Eu não sabia se por concordar, ou por achar engraçado
sabendo que namorava um dos caras mais gatos da universidade.
Damian, do polo, era devastadoramente lindo. Tinha os olhos escuros
e bastante expressivos. A pele do mesmo tom dos índios, assim como o
cabelo liso cortado bem baixo. Ele me mostrou um vídeo, alguns dias atrás,
de quando, no final do ano passado, tinham assumido publicamente o
compromisso.
Damien temia que assumir uma relação homossexual afetasse a forma
como os colegas, e a própria torcida, o veriam nos jogos. Mas, quando
Patrick decidiu que não queria manter um namoro escondido por medo do
que outras pessoas diriam, e decidiu terminar, ele, assim que marcou um
ponto, correu para a arquibancada dando um beijo na boca do, agora,
namorado.
A torcida gritou ensandecidamente e era nítida a felicidade de ambos
em poderem compartilhar com o mundo o amor que sentiam um pelo outro.
— Cala a boca, Patrick — Ania respondeu, como se tivesse
compartilhado aquele pensamento comigo.
— Ei, olha só quem vem ali — um deles gritou, apontando pela
janela.
De relance, consegui ver o jogador que faltava.
Benjamin Milles Davis.
Ele era o melhor jogador do time, não que eu já tivesse tido a chance
de vê-lo jogar, mas pela forma como todo mundo falava sobre a temporada
do ano passado, Benjamin era citado como o universitário a ser disputado por
grandes times da liga profissional assim que terminasse a faculdade. Devia
ser emocionante saber que tem esse tipo de atenção. Um futuro certo.
Alguém da cozinha me gritou avisando que alguns pratos já estavam
prontos. Fui buscá-los e não percebi, até que já estivesse na mesa, que além
de Benjamin outras duas pessoas haviam se juntado ao time.
Meu coração deu um solavanco dentro do peito. Evitei esse momento
pelo tempo que pude. Eu o havia visto transando com a professora. Ele sabia
que eu o tinha visto.
Não sabia como reagir a isso.
— Aqui temos dois hambúrgueres — falei, tentando esconder meu
nervosismo e não encarar o garoto sentado à minha frente vestindo uma
jaqueta verde com mangas cinzas.
O emblema da universidade do lado esquerdo do peito. Tinha um
cigarro entre os lábios, mas dessa vez não estava aceso.
Trinquei os dentes tentando impedir meus pensamentos de seguirem
para onde eles tinham total intenção de ir.
Posicionei os pratos, evitando olhá-lo, mas, ao mesmo tempo, havia
certa curiosidade para saber o que ele achava de mim.
Será que acreditava que eu era uma pervertida? Será que tinha
contado o que aconteceu para mais alguém?
Não. Isso eu duvidava. Seria motivo para expulsão um aluno e uma
professora estarem desenvolvendo uma relação física, pelo menos dentro da
instituição de ensino.
Soltei o ar, satisfeita comigo mesma por não ter derrubado nada nos
garotos, mesmo sentindo o olhar do Andrew pesando sobre mim. Assim que
deixei o último prato já pronto na mesa.
— Assim que os demais pratos ficarem prontos, vou trazendo-os —
falei, começando a dar as costas.
— Ainda não fiz meu pedido, Afrodite. — A voz que habitava meus
pensamentos pervertidos soou atrás de mim, fazendo-me virar em direção aos
garotos novamente.
— Afrodite? — Um dos jogadores questionou, olhando a plaquinha
com meu nome presa à farda amarelo vômito horrível que tínhamos que usar.
— Leighton — respondi, simpática com ele, mas encarando de forma
severa o meu colega de classe. — Meu nome é Leighton.
Ele riu, como se soubesse de algum tipo de piada interna.
— Gosto mais de Afrodite. Combina com você.
O ignorei, não por ficar em dúvida quanto ao que responder, mas por
aquele timbre sexy conseguir me lembrar das coisas obscenas que ele
sussurrava na sala da professora.
— O que gostariam de pedir? — Cocei a garganta, perguntando.
Peguei o bloquinho de anotações estilo garçonete dos anos sessenta,
voltando minha atenção ao astro do basquete.
— Aprendeu rápido, pelo visto. — Andrew deu um daqueles sorrisos
de lado de quem queria provocar a outra pessoa.
— Você também. Quer uma medalha por não estar com o cigarro
aceso? — ergui a sobrancelha, ouvindo seus amigos rindo de sua cara.
— Depende, você vai colocar com as suas mãos onde eu quiser?
— Nojento — sussurrei, irritada.
Por fim ele fez seu pedido, enquanto os outros dois discutiam o que
queriam comer optando por um hambúrguer em seguida.
Retornei à cozinha entregando os pedidos e avisando que não estava
me sentindo bem. Precisava de uma pausa para respirar.
Saí, pela porta dos fundos que dava em um beco que não era
exatamente o lugar mais limpo do mundo, mas ao menos me manteria longe
dos meus pensamentos pecaminosos com o garoto sentado na mesa onde eu
deveria estar servindo. Sentei-me em um caixote de madeira sentindo minhas
costas relaxarem.
Peguei o aparelho celular do bolso para checar as mensagens
encontrando uma que me fez sorrir.
"Ei, como estão as coisas??? Você sumiu!"
As três interrogações eram um sinal de que ele estava impaciente por
respostas.
"Desculpa, estava trabalhando. Só consegui ver sua mensagem agora.
Mas já estou no dormitório. Minha colega de quarto ainda não apareceu para
as aulas, então estou com o quarto só pra mim."
"Sorte sua. Aqui na Columbia meu colega de quarto é um idiota e eu
já cogitei jogá-lo pela janela quando ele está dormindo."
Sorri, enviando como resposta várias carinhas sorrindo.
— Fugindo de mim? — Eu queria não ter reconhecido a voz, mas
reconheci. Dos meus sonhos mais perturbadores, inclusive.
Com o susto, dei um pequeno pulo para trás.
O garoto que habitava em minhas lembranças segurava um cigarro
entre os dedos, aceso dessa vez. O braço caído ao lado do corpo, e soltava,
aos poucos, a fumaça branca, fazendo pequenas nuvens formarem-se ao redor
de seu rosto.
O cigarro, diferente da maioria, não fedia.
Tinha um cheiro agradável de... menta.
— Não que eu te deva alguma satisfação, mas tenho direito ao horário
de descanso. Está nas regras trabalhistas — retruquei, tentando manter a
respiração regular enquanto fingia indiferença.
Sabia o motivo que o havia levado a me procurar.
O mesmo que o levou a perguntar sobre mim a Malcon, que
perguntou a Madison, fazendo com que minha – aparente – nova amiga
acreditasse que havia um interesse ali. Os dois, aparentemente, estavam
retomando um contato que foi interrompido quando ela foi para o
intercâmbio do qual nunca falava, o que era engraçado porque os dois eram
bem ricos, mas Malcon, ao contrário da Mad, não aparentava isso.
Não tinha contado o que vi nem a Mad, e não considerava que meu
silêncio merecesse destaque de honra ou coisa do tipo. Só sabia que não era
uma coisa minha para que eu saísse contando por ai.
Ele riu pelo nariz, como se não acreditasse que era esse o motivo pelo
qual eu não havia retornado à mesa com os demais pedidos.
— Precisamos conversar — anunciou.
— Não imagino o que poderíamos ter para falar um ao outro. Nem
mesmo nos conhecemos — dei de ombros, levantando-me na intenção de
entrar novamente para a cozinha.
— Você sabe que temos, sim — deu mais um trago, soltando a
fumaça em seguida. — A julgar pela sua carinha de menina recatada, não
diria que você tem fetiche por assistir pessoas fodendo.
As palavras me deixaram atônita. Ele não parecia constrangido com o
flagra, muito pelo contrário, era como se gostasse de ser visto. Mas não foi
exatamente o que me incomodou, mas a ideia de que eu gostava de assistir
pessoas fazendo aquelas coisas.
— Não tenho fetiche com isso. Mas o aconselho a da próxima vez que
quiser fazer amor com alguém, escolha um lugar reservado — falei,
levantando-me pronta para finalizar aquela conversa estranha e voltar para o
Women’s. Servir a mesa dele era melhor do que ficar aqui com ele, sozinha.
— Primeira lição sobre mim, Afrodite. Eu não faço amor, eu fodo.
Gostoso. Lento. Rápido. Forte. Da maneira que quiserem ser comidas,
fazendo-as gozar como nunca. Mas eu não faço amor. Nunca.
Engoli em seco, sentindo uma necessidade urgente de apertar as
pernas.
— Isso é meio cínico da sua parte — constatei, fingindo que suas
palavras não haviam me acertado em cheio fazendo com que aquela coceira
lá embaixo ficasse mais intensa.
— Não. — Deu uma risada de canto de boca com a afirmação. —
Cada mulher que eu como... todas elas sabem exatamente o que querem. Ser
bem comidas. Gozar gostoso. — Deu um passo em minha direção, e o ar
pareceu não existir mais, passando o polegar pelo meu queixo fazendo com
que eu estremecesse um pouco. — Quanto a isso, ninguém jamais teve
motivos para reclamar.
Bom, levando em consideração o que eu havia flagrado, não podia
duvidar.
— Obrigada por esclarecer, então. — Afastei sua mão do meu rosto.
— Agora preciso voltar ao trabalho.
Dei um passo em direção à porta, mas ele foi ágil, jogando o cigarro
no chão e segurando meu braço. Não exercia a força necessária para me
machucar, mas era o suficiente para capturar toda a minha atenção.
Meu coração retumbava forte no peito.
Era um misto de medo com alguma coisa nova, que nunca havia
sentindo até então.
— Me solta! — Tentei soar o mais bruta possível
— Como eu disse, temos que conversar — insistiu.
— E como EU disse, não temos nada para falar. Somos meros
desconhecidos. Se puder me soltar agora...
— Você não pareceu me considerar tão desconhecido enquanto
assistia meu pau entrar na boceta de outra mulher — sussurrou em meu
ouvido.
Por qual motivo meu corpo estava reagindo daquela forma àquelas
palavras... eu nem sabia qual termo utilizar para defini-las.
— Você contou a alguém o que viu? — foi direto. — Contou a
alguém que me viu comendo a professora?
— Não.
Passou o indicador do meu ombro, até metade do meu braço.
— E vai pedir que eu coma você também para ficar quietinha e não
conte nada a ninguém?
Meu queixo quase caiu com a pergunta.
— Eu não... — ofeguei, dando um passo para o lado e empurrando
seu dedo do meu corpo. — Não vou falar nada porque não é da minha conta o
que você, a senhora Hughes ou qualquer outra pessoa façam em seu tempo
livre.
Ele ergueu um pouco o lado esquerdo do lábio formando um meio
sorriso bem bonito.
— Então você não vai contar nada? — Pela expressão em seu rosto,
com certeza, não acreditava em mim.
— Não. — respondi, enfática.
— E não quer nada em troca? — olhou-me dos pés a cabeça. — Sou
bom em favores, especialmente os sexuais. Mas tenho certeza de que já sabe
disso.
Queria vomitar. Ele era um idiota mesmo! Mad estava certa.
— Não. Não vou falar, e só. Não preciso que você compre o meu
silêncio. Como disse, nada disso é da minha conta.
Andrew pareceu ponderar sobre minhas palavras, como se realmente
custasse a acreditar em mim.
— Não acredito em gentileza gratuita dessa magnitude — respondeu,
depois de um tempo, como se tivesse chegado à conclusão de que eu estava
falando a verdade. — Então —, deu um passo para mais perto de mim,
fazendo com que o hálito de menta do seu cigarro e o cheiro cítrico do
perfume que usava ficassem mais fortes. — Quando precisar de qualquer
coisa, Afrodite. É só me dizer. — Pôs uma mecha do meu cabelo atrás da
orelha. — Te devo um favor.
— Não preciso de seu favor por fazer o certo. — Balancei a cabeça,
afastando-me dele e abrindo a porta dos fundos. — Só vamos esquecer que
aquilo aconteceu. Pra mim, é como se eu nunca tivesse visto nada.
Não esperei para ver o que ele diria. Só fui embora, com o corpo
formigando e odiando aquela sensação.
Capítulo 8

Os livros estavam espalhados pela mesa do refeitório enquanto


tentava fazer os últimos ajustes no trabalho sobre história e teoria da
arquitetura.
Passei as mãos pelo rosto, cansado.
De tudo.
Acabei ficando até tarde revendo o sétimo filme da franquia Velozes e
Furiosos. Se fosse mais inteligente, teria simplesmente levantado para
finalizar a droga do trabalho, mas nem me concentrar no maldito filme eu
conseguia.
Parte de mim se perguntava o motivo da garota não ter contado a
ninguém o que havia visto. O fato de também deixar claro que não tinha
interesse em nenhum favor, de tipo algum, era estranho.
Leighton não era popular. Ela podia querer que eu desse um
empurrãozinho. Ou que falasse dela para algum cara de qualquer time. Ela
não pediu nada além de distância.
Seu corpo, claro, mostrava outra coisa.
Como todas as garotas, ela me queria. Talvez só estivesse fingindo.
Era possível que tenha dito aquilo apenas para que eu pensasse nela.
Não duvidaria.
O pior, era que se de fato tivesse feito isso, estava funcionando. Eu
pensava nela. Em seu corpo. Em como pareceu, ao mesmo tempo,
desconfortável e com tesão quando falei sobre ela me assistir fodendo, como
os bicos dos seus seios se entumeceram e como tentou ser discreta ao apertar
as pernas. Principalmente em como ficou visivelmente desconfortável com as
palavras diretas.
Entretanto, nesse jogo, com certeza, ela perderia. Não pensaria mais
naquela garota, ou na forma como seus olhos se acenderam quando a ponta
do meu dedo percorreu seu braço. Ou no gosto que seus lábios que pareciam
macios demais deviam ter. Nem no cheiro doce. Muito menos na forma como
meu pau respondeu, rápido demais, à nossa proximidade.
Ela se daria mal, porque eu não pensaria mais nela.
Ela não era o meu tipo. Com certeza não era experiente. Ou tinha sido
uma dessas garotas que namorou por todo o colegial e só teve uma
experiência sexual e insípida com o babaca, ou nunca havia transado.
O que, em qualquer uma das circunstâncias, é um desperdício. Aquele
corpo, a forma como ela deveria ser quente na cama. Muito quente.
Segurar aquele cabelo, enquanto a fodia com intensidade, por trás,
devia ser uma extensão do paraíso.
Trinquei os dentes, tentando remover o pensamento da minha cabeça.
Aquilo não era da minha conta.
Se ela mantivesse a língua dentro daquela boca convidativa, nós não
teríamos problema e, como ela queria, manteríamos distância.
O celular vibrou fazendo barulho na mesa de madeira onde minhas
coisas estavam arrumadas. Devia ser Malcon querendo confirmar o treino
hoje, mais tarde. Às vezes, costumávamos treinar juntos algumas jogadas de
hóquei. Era bom pra eu manter pelo menos um pouco de contato com o
esporte que eu tanto amava, assim como era proveitoso para ele.
“Hoje”
Apenas isso estava escrito na mensagem que não era dele, mas sim de
Peter. Uma palavra que eu costumava esperar sempre.
Soltei um suspiro de alívio.
Algo me dizia que era exatamente o que eu precisava.
“Onde?”
“No casarão abandonado, às 23h.”
Bloqueei a tela.
Ele não esperava um retorno, sabia que eu ia. Eu sempre ia.
Outra coisa que ele sabia era que eu ganharia.

— Pela direita, filho da puta — gritei com o número 69 do time,


batendo com o taco de hóquei no gelo. — Se vai me fazer gastar tempo, avisa
que vou embora, porra! — reclamei, fincando a ponta do patins no gelo e
forçando uma parada.
Ele soltou o ar dos pulmões.
— Desculpa, cara — deu uma volta pela pista parando na minha
frente.
Bufei.
— Não quero desculpas, quero concentração! O filho da puta do seu
técnico não quer saber do que acontece fora daqui, que se foda sua vida,
Malcon. Tudo que ele quer é que o disco passe pelo goleiro e que você, o
capitão do time, marque pontos. — Fechou os olhos girando o pescoço. —
Agora esquece o mundo e vem aqui roubar esse disco, capitão.
Joguei o disco preto no chão passando o taco por ele logo em seguida
e pegando impulso. Meus pés ainda eram ágeis apesar de não disputar uma só
partida há anos, desde que havia desistido do meu sonho.
Dizer não a Harvard foi uma das coisas mais difíceis que já fiz em
toda a minha vida e, ao ser aceito na Walker depois, fazer parte do time de
hóquei tornou-se um sonho impossível já que o técnico atual deles é o meu
técnico de infância, o mesmo que me odiava por ter deixado o time da escola
na mão. Ele destruiu todas as chances de que eu conseguisse uma bolsa aqui
da mesma forma que negou meu pedido para integrar o time universitário.
Eu sentia falta disso. De deslizar no gelo. Conseguia esquecer o
mundo enquanto direcionava o taco pela pista. Enquanto jogava hóquei, eu
calava os gritos em minha mente e focava na única coisa que realmente
importava, driblar meus adversários para fazer pontos levando minha equipe
à vitória. Era isso que eu fazia e a única coisa que me deixava feliz.
Senti quando Malcon aproximou-se pela direita, movi de forma quase
imperceptível o pescoço, movendo um pouco o taco, quando notei que ele
lançaria seu taco, corri na direção oposta fazendo um zigue-zague com o
corpo enquanto movimentava o disco com ele esforçando-se para se
aproximar de mim. Parei por um segundo jogando o taco para trás e, com
força, batendo contra o disco vendo-o balançar a rede.
Ponto para mim.
Podia ouvir os gritos ensandecidos da plateia inexistente chamando
meu nome. Ergui meu braço em um gesto de comemoração, virando-me na
direção de Malcon que rolava os olhos ignorando-me e deslizando em direção
à trave para buscar o disco.
— Vem pegar, Imbatível. — Jogou o disco em uma provocação,
fazendo-me flexionar os joelhos e deslizar os patins para alcançar a
velocidade que eu precisava até que chegasse ao capitão do time.
Com os olhos fixos no disco, o assisti correr, mantendo-o preso no
lado direito do taco. Sabendo exatamente o que ele faria ao me aproximar,
afastei-me, dando a volta pela pista e apoiando o meu próprio taco no gelo
seguindo rapidamente em linha reta na sua direção. Assim que meu amigo
mudou o lado do disco, passando-o para a esquerda, interceptei o movimento,
resgatando-o mirando a trave, pronto para acertar o ponto.
— O que esse garoto está fazendo na minha pista? — A voz irritada
do treinador ecoou pelo ambiente.
Ignorando-o, dei uma forte tacada, mandando o disco para dentro da
trave.
— Saia da porra da minha pista agora, Davis! — gritou, novamente.
Dessa vez estava mais perto, podia ver suas mãos agarrando com
força a divisória da pista com o restante do ambiente.
— Calma, treinador — Malcon se aproximou de mim, falando. — Eu
que pedi para que ele viesse aqui. Precisava de uma ajuda com o treino e o
Andrew é o melhor cara que conheço.
— Eu sou a porra do treinador, Malcon! Se quer ajuda, peça a mim ou
a qualquer outro dos seus colegas de time, eu não permito que esse moleque
egoísta passe pela porta da minha arena.
Soltei o ar pelo nariz fazendo um som engraçado de deboche, tirando
o capacete.
— Eu sou o moleque egoísta? — gritei de volta. — Estou aqui
ajudando um amigo. Apesar de você. Estou fazendo isso por alguém com
quem me importo.
— Você não se importa com ninguém além de você, seu mal-
agradecido — cuspiu as palavras. O rosto assumindo um tom de vermelho-
escarlate.
— Mal-agradecido? — retruquei, deslizando para mais perto dele.
Malcon se pôs em minha frente de forma a impedir-me de caminhar até o
homem que gritava em minha direção. — Se você estivesse fazendo bem a
porra do seu trabalho, o seu precioso time não teria tantos problemas técnicos
e não precisariam recorrer a mim.
— Como se pudessem esperar algo de bom vindo de você — riu pelo
nariz. — Você acha mesmo que pode ensinar algo de útil aos meus garotos?
— gritou. — A única coisa que você sabe fazer, é desistir. Deixar as pessoas
na mão.
— Eu desisti da porra de uma partida e você me tirou da equipe. Me
tirou de tudo que eu mais amava — gritei de volta. — Não me importa o
quão puto você tenha ficado, fiz isso pela minha família e teria feito
novamente.
— E na equipe? Pensou na equipe quando nos deixou na mão? Tenho
certeza de que não. Pensou em todo o tempo e energia que gastei com você?
Apostando e aprimorando você por acreditar que seria a grande revelação da
nossa temporada. — Balançou a cabeça em negativa. — Você é uma
decepção, garoto. A maior decepção que tive. E se quer saber, nunca será
ninguém. Exatamente como o seu pai, um merda que só pensa no próprio
rabo dele.
Tentei me mover e deslizar até aquele desgraçado. Eu ia quebrar a
cara dele. Malcon continuava a minha frente mandando que eu não reagisse
àquelas provocações.
Eu aceitava tudo. Menos ser comparado a ele.
Não importava o quanto eu empurrava Malcon, ele não se movia,
fazendo com que eu também permanecesse no mesmo lugar.
— Tira esse moleque da minha pista agora, Malcon.
Falou, por último, dando as costas, nos deixando sós naquela pista.
Fechei as mãos em punhos.
— Eu odeio esse cara — falei, apertando as mãos com força, sentindo
o sangue tão quente pelas minhas veias que era como se ele fervesse a graus
inimagináveis. — Eu ainda odeio esse cara.
— Eu sei. — Malcon não parecia disposto a me soltar ainda, como se
soubesse que eu seria capaz de ir até o inferno correndo com os patins de
lâmina, para destruir aquela cara arrogante. — Desculpa por ter te metido
nessa confusão, cara.
— Você não fez nada além de ser um bom capitão e se importar com
a porra do resultado da equipe — respondi, ainda sentindo meus olhos
arderem de raiva.
— Vem, vamos sair daqui — Malcon deu um leve puxão em minha
camisa, como se quisesse me alertar de que eu devia começar a deslizar no
gelo. — Vou te ajudar a se preparar para hoje à noite.
Eu o segui.
Agora eu já não tinha a paz de quem amava jogar hóquei, só restava o
ódio de quem precisava destruir.
E era o que eu faria.
Capítulo 9

— Oi. — Assustei-me ao ouvir uma voz desconhecida no meu quarto.


Uma garota enrolada em uma toalha azul-royal estava parada no meio do
quarto com um sorriso sem graça nos lábios. — Desculpa, mas você não
estava aqui quando cheguei.
Olhei ao redor, observando as malas sobre a cama e caixas espalhadas
pelo lado do cômodo que, até então, seguia desabrigado no quarto.
Enfim, minha colega de quarto havia chegado. Com algumas semanas
de atraso, era verdade.
— Sem problemas — dei um sorriso amarelo.
Eu sabia que a garota podia chegar a qualquer momento. Já tinha ido
até o departamento responsável algumas vezes, mas sempre me diziam que
ela precisou adiar a ida por problemas de saúde, entretanto assim que
estivesse recuperada estaria na universidade.
— Sou Chiara. Chiara Roosevelt. — Ergueu a mão em minha direção
e eu a apertei. — Aposto que pensou que ficaria com o quarto só para você.
— Na verdade, não. Já tinham me dito que você viria, mas é
importante saber que minha amiga se aproveitou da sua ausência algumas
vezes. — Apontei com o queixo na direção da cama.
— Ah, sem problemas! — Gesticulou com a mão, indicando que não
era nada demais.
— Leighton Westerwood.
— É um prazer conhecê-la Leighton — falou, parecendo um pouco
sem graça, apertando a toalha ao redor do corpo com mais força. — Eu vou
só... — Apontou para as malas abertas sobre a cama.
— Claro. — Sorri, dando espaço para que ela se sentisse à vontade.
Enquanto me afastava seguindo para a minha cama, peguei o celular
para checar as mensagens. O turno no Women’s foi extremamente cansativo.
Os caras de fora da cidade estavam voltando de algum jogo, completamente
bêbados. Deram um trabalhão.
Idiotas.
Analisei melhor a garota, enquanto ela se virava parecendo procurar
alguma coisa para vestir. Era magra. Bem magra. Tinha porte de modelo. Os
cabelos eram pretos, mas os olhos tinham um tom mais claro, tinha um pouco
de olheiras também. Talvez gostasse de estudar durante a noite. Torcia para
que não, porque eu era uma dessas pessoas que tinha necessidade de pelo
menos nove horas de sono para ser feliz.
Porém, alguma coisa me intrigava em sua expressão. Ela não parecia
estar... feliz. Como se estivesse aqui obrigada, ou talvez só tivesse se dado
conta da quantidade de atividades que teria que pôr em dia.
Meu celular apitou em minha mão, anunciando que havia recebido
uma mensagem. Revirei os olhos assim que, em letras garrafais, Mad
anunciava que precisava de mim e que já estava passando aqui para me
buscar.
“Sério, Mad?” respondi.
Antes mesmo que eu pudesse sair da conversa a resposta chegou. Mad
era ligeira demais com os dedos, o que sempre me colocava em desvantagem
em relação às mensagens.
“Claro! Vai ter uma festa hoje e você, como minha melhor amiga,
tem que ir comigo.”
“Se eu disser que vamos estudar, como minha – supostamente –
melhor amiga, você ficaria em casa comigo?”
Eu podia vê-la rindo, o que me levou a rir também.
“Leigh, eu sou uma mulher responsável. Minhas atividades estão em
dia, as suas também. Um pouco de diversão não vai te matar. É isso que
melhores amigas fazem, afinal. Apoiam as outras em momentos de
necessidade. Você precisa de mim na sua vida.”
Soltei um suspiro audível.
“Onde falo com a central de atendimento das melhores amigas?
Gostaria de mudar a minha. Inclusive, a Chiara, minha colega de quarto,
chegou hoje. Acho que vou trocar por ela.”
O status mudou de online para digitando em questão de segundos.
“Ficaria ofendida de não soubesse que você não saberia mais viver
sem mim, coisa linda. Passo para te buscar às 22h. O Malcon disse que vai
nos levar a um lugar divertido, e eu estou ansiosa.”
Sorri, rolando os olhos, bloqueando o aparelho em seguida e olhando
na direção da minha colega de quarto que já estava completamente vestida.
Uma calça jeans e blusa de tricot que cobria cada centímetro do seu corpo.
— Você está com frio? — franzi o cenho olhando suas roupas.
— Ah, não. — Mordiscou o lábio, passando a mão direita no braço
esquerdo, nervosa. — Só me sinto confortável assim.
A garota se sentou na cama agarrando algumas das roupas e enfiando-
as em cabides para estendê-las no pequeno closet que íamos dividir. As
demais roupas ficariam guardadas nos armários perto das nossas camas.
— Olha, eu gostaria de ficar aqui pra te conhecer melhor, mas minha
amiga acabou de me informar que temos uma programação. — Acenei com a
cabeça em incentivo.
A garota franziu o cenho por alguns segundos.
— Fica tranquila, perdi muita coisa. Preciso colocar tudo em ordem, e
muitos trabalhos para serem feitos também. — Mordeu o lábio, mas soltou
rapidamente como se lembrasse de que o gesto não era bem-vindo.
— Bom, eu te entendo — falei, dando de ombros. — Também
gostaria de ficar, mas a Mad... — deixei a frase no ar por alguns segundos
com uma expressão de divertimento no rosto. — Na verdade, quando ela
aparecer você vai entender como é difícil negar alguma coisa àquela garota.
— Sua amiga não gosta de ouvir não como resposta? — Um sorriso
de canto surgiu em seu rosto. Eu neguei, balançando a cabeça. — Então nós
duas gostamos de um desafio, porque eu já disse muito sim na vida.
Eu gostei dela.
Com certeza, Madison e ela poderiam causar um tornado em algum
ponto completamente inimaginável do planeta.

— Eu odeio você — sussurrei, assim que passamos pela porta da casa


de Deus sabe quem, em uma festa em Deus sabe onde.
— Ah, querida, mentir não combina com você. Eu sei que no fundo,
você me ama — Mad respondeu, me fazendo revirar os olhos.
— Eu devia estar no meu quarto estudando, Madison — reclamei,
olhando para os lados. — A Chiara é quem fez certo batendo o pé e dizendo
que não viria.
A maioria dos convidados já estavam bêbados e eu não conseguia
entender o conceito de se embriagar para se divertir. Parecia apenas mais do
mesmo. A música alta. Os garotos do time de lacrosse estavam ao redor da
mesa de pingue-pongue e, claramente, alcoolizados demais pra acertar a bola
na raquete. Eles riam, como se fosse a coisa mais divertida do mundo.
— Você estuda no quarto, no trabalho, na faculdade. Por favor, eu
também sou uma ótima aluna, e sigo tendo uma boa vida social. E nem
adianta rolar os olhos pra mim, você sabe que eu estou certa.
Ri.
Passamos pela sala e pelo corredor principal em direção à cozinha.
Havia muitos garotos amontoados rindo. Meu coração, por algum motivo,
bateu mais forte no peito e meu corpo entrou em expectativa.
Meus olhos passaram por todos eles. Consegui identificar alguns do
time de hóquei, outros do time de basquete e uns garotos do lacrosse também.
Alguns sentados sobre a bancada da cozinha, outros de pé. Formavam uma
roda de tamanho considerável. O capitão do time de hóquei não estava lá.
Nem o Benjamin. Muito menos ele.
Os meninos acenaram em nossa direção e me ofereceram bebidas.
Madison aceitou, já eu só queria sair dali o mais rápido possível.
— Ei, gata. — A voz de Malcon veio de trás, na direção da porta da
cozinha. Nós nos viramos ao mesmo tempo. — Vocês estão maravilhosas.
Malcon acenou em minha direção, entretanto o brilho no olhar
mostrava que, na verdade, o elogio em sua quase totalidade era para minha
amiga. Seus cabelos estavam presos em uma trança folgada lateral, um
vestido justo vermelho, mas, dessa vez, ao invés de salto, usava uma sandália
rasteira de pedrinhas que mais pareciam diamantes.
— Obrigada. Você também não está nada mal — minha amiga
respondeu com um sorriso no rosto. — Mas acho que chegamos meio tarde,
ou começaram a beber cedo demais.
Mad franziu o rosto.
— Começaram cedo demais.
Malcon deu de ombros e nos levou para a rodinha de garotos. Eles
conversavam sobre os jogos que se iniciariam em breve. Estavam ansiosos e
a maioria certos de que trariam muitos troféus para a universidade.
Felizmente não demorou para que Mad soltasse um suspiro audível.
— Se quiser dizer que eu estava certa, que a festa está um saco e que
seria melhor termos ficado em casa vendo um filme entre amigas, essa é a
hora — bati, de leve, o cotovelo em seu braço.
Minha amiga deu uma risada contida.
— Tá, não estamos na melhor festa. Vou ao banheiro e podemos ir
embora — falou, fazendo uma careta em minha direção.
— Quer que eu vá com você? — perguntei, quando começou a virar o
corpo.
— Não, vou ser rápida. Prometo.
Antes mesmo que eu pudesse discordar, ela já se esquivava pelos
corpos saindo da cozinha. Aproveitei para dar uma olhada nas minhas
mensagens. Mamãe havia mandado uma mensagem pedindo o relatório do
dia, tirei uma self mostrando que estava em uma festa apenas para deixá-la
feliz. Não queria que ela se preocupasse tanto com a minha falta de vontade
de me socializar. Ab também mandou uma mensagem contando uma fofoca
sobre uma de nossas colegas de escola, a garota havia descoberto que estava
grávida e os pais queriam expulsá-la de casa.
Século XXI, e as pessoas ainda queriam agir como se uma mulher
grávida não pudesse realizar seus sonhos, fazer faculdade ou, sei lá, fazer o
que quisesse de sua vida. Sem contar que o corpo e a decisão de seguir ou
não com a gestação era escolha dela.
Como existem pessoas idiotas no mundo.
— Você viu a Mad? — Malcon quis saber, pouco depois que minha
amiga nos havia deixado.
— Ah, ela foi ao banheiro. — Dei de ombros.
Pela expressão em seu rosto, não ficou muito satisfeito. Será que ele
era desses caras controladores que a garota não podia nem ao menos respirar
sem permissão? E olha que eles não saíam e nem nada do tipo.
— Tá. — Pegou o celular no bolso, parecendo bem interessado no
que viu. — Vou ver se encontro com ela por ai.
Assim como Mad, ele simplesmente deu as costas. Não demorou para
que Madison voltasse, mas dessa vez parecia animada demais.
Tinha certeza de que o plano de ir para casa tinha ficado para trás.
— Sabe, Leigh, você tem uma ótima amiga que te salvou de ficar em
casa estudando e agora vai te salvar de voltar para lá com uma programação
péssima. — Sorriu para mim.
— Você prometeu que íamos para casa — reclamei com uma
expressão de tristeza.
Mad passou o braço sobre o meu, entrelaçando-os e me arrastando
junto com ela.
Deu de ombros, como se fosse uma coisa boba.
— Mudança de planos. Só relaxa, vai dar tudo certo.
Relaxar, sem sombra de dúvida, era a última coisa que eu podia fazer.
Capítulo 10

Quando o assunto era Madison eu estava certa. Era isso.


Não podia dizer que fiquei surpresa ao sair de casa e dar com o
Malcon nos esperando em frente ao seu carro, mas, sim estava preocupada
com o fato de estarmos em seu carro há quase uma hora, em uma estrada
escura e deserta. Acredito que até a Mad ficou tensa, já que pela primeira vez
desde que chegou ela não falou uma só palavra por bastante tempo.
Malcon nos tranquilizou garantindo que já havia estado lá vezes
suficientes para ter certeza de que não corríamos nenhum perigo ou não
arriscaria nossa segurança daquela forma. Isso pareceu tranquilizar minha
amiga que, depois de soltar o ar com força, voltou a tagarelar normalmente.
Enfim, Malcon fez uma curva nos direcionando até uma estrada de
terra batida e, no final da rua, havia uma casa enorme, como uma mansão.
Era antiga, tipo as casas assombradas dos filmes.
Assustadora.
A iluminação era parca, e por conta disso só consegui reparar que
havia outros carros lá quando Malcon estacionou com cuidado ao lado de um
carro enorme. Uma Land Rover, ou algo assim.
Assim que descemos, Malcon parou, protetoramente, ao nosso lado
segurando a mão de Madison, enquanto a outra mão estava apoiada em minha
cintura.
As pessoas ao nosso redor, ainda do lado de fora, bebiam, fumavam e
conversavam alegremente, como se tudo aquilo fosse uma coisa normal.
Corriqueira. Havia pessoas de todos os tipos. Mulheres de cabelos azuis, com
tatuagens espalhadas pelo corpo, homens com cara de mal-encarados e com
uma expressão um tanto quanto assustadora.
Nossos sapatos fizeram barulho quando alcançamos o chão de
madeira da casa. O cheiro do cigarro me fez tossir. As pessoas nos encaravam
como se dissessem que nós não pertencíamos àquele lugar, e bem, era
verdade. A Barbie ao meu lado que o diga.
— O que vocês fazem aqui? — Madison sussurrou. Os olhos
passavam por todos os cantos, curiosa.
Mas antes mesmo que Malcon pudesse responder, o som de algo se
partindo e, em seguida, gritos ensandecidos, chamaram nossa atenção.
Havia, no centro do que devia ter sido um dia uma sala de jantar, uma
roda de pessoas vibrando com o que quer que tenha acontecido. Um homem
alto ergueu a mão do outro, que era o provável vencedor.
— Luta clandestina — sussurrei, observando a cena que se
desdobrava à minha frente.
— Sim — o capitão do time de hóquei pareceu orgulhoso em revelar,
enfim, onde estávamos. — Andrew e eu aparecemos aqui algumas vezes.
— Você luta com aqueles brutamontes? — Minha amiga arregalou os
olhos ao perceber os homens enormes de quem nos aproximávamos.
Malcon riu.
— Nessa carinha bonita que mamãe pôs no mundo, ninguém toca,
gata.
Nós duas rimos.
— Então nós viemos assistir? — Fui eu quem perguntou dessa vez.
— Sim. Só assistir. Se quiserem podem apostar também. É uma boa
forma de ganhar dinheiro, inclusive.
— Sabe, que milagre você estar sozinho. Só anda com aquele
brutamonte ao seu lado. Ele não vem?
Malcon apenas riu.
— Acho que vamos encontrar com ele andando por ai em algum
momento.
Sorriu, um daqueles sorrisos de quem esconde algo.
Mad perguntou alguma coisa, mas eu não conseguia mais me
concentrar. Olhando ao redor, percebi que reconheci alguns rostos da
universidade.
Malcon nos explicou um pouco sobre o funcionamento da coisa e pela
forma como falava, aquilo realmente gerava uma grana alta.
Enquanto a área era preparada, pessoas faziam suas apostas e, assim
que a próxima briga foi anunciada, as pessoas se amontoaram para assistir.
Sem que eu me desse conta do que estava fazendo, minhas pernas
caminharam junto com o amontoado de pessoas. Eu ouvia Malcon me
chamando, mas meu corpo não respondia.
Os dois caras no centro da roda eram enormes. Um deles tinha os
olhos puxados e os cabelos lisos presos no alto da cabeça, como o General
Shang de Mulan. Os braços enormes continham tatuagens com desenhos que
eu não fazia a menor ideia do que significavam. Será que ele era de alguma
gangue? O outro, meu Deus, era tipo o dobro do primeiro que já era enorme.
Eles se encaravam concentrados. Para eles a diferença de tamanho, de
peso, não era nada. O primeiro, a imitação do general Shang, começou
jogando o punho cerrado para a frente. O segundo desviou habilmente,
aproveitando o movimento para com o braço esquerdo acertar o maxilar do
oponente.
Sério? O general vai perder?
Os movimentos dos dois, logo em seguida, tornaram-se precisos e
mais ágeis. Como se os primeiros golpes tivessem sido dados apenas para que
pudessem conhecer o oponente.
A cada novo movimento meu coração dava um solavanco no peito. O
general estava prestes a dar um golpe com força no outro quando senti uma
mão gelada segurando meu braço. Antes que eu pudesse protestar, meu corpo
estava sendo puxado na direção contrária à luta.
— Ei — reclamei, puxando o braço com força e tentando livrar-me do
aperto.
— Que porra você tem na cabeça para trazer essas patricinhas aqui?
— gritou com o amigo, soltando-me assim que chegamos onde Mad e
Malcon estavam.
A respiração estava pesada e entrecortada. As narinas infladas.
— Eu não sou patricinha — Madison tentou se defender.
A forma como Andrew olhou para minha amiga dos pés à cabeça,
com suas roupas de marca e carinha de Barbie, mostravam que a sua opinião
era contrária. Malcon a pôs atrás de seu corpo, como se quisesse defendê-la.
Minha amiga estendeu a mão para mim, puxando-me para mais perto dela.
— Você não tem nada na porra da sua cabeça? — Andrew reclamou,
ficando mais próximo do amigo.
— Eu tô com as meninas. Enquanto você luta, elas vão ficar do meu
lado o tempo inteiro — defendeu-se.
— Ah, e é por isso que ela estava lá sendo comida com os olhos por
todos os caras da roda? — o tom de voz se alterou ainda mais atraindo alguns
olhares em nossa direção.
— Você já reparou que as meninas são gostosas. — Olhou-nos
rapidamente — Sem ofensa, meninas. Mas, é óbvio que os caras vão babar
em cima delas. Relaxa, eles viram que as garotas chegaram comigo, sabem
que eu estou com você, logo elas estão conosco. Ninguém vai mexer com as
garotas.
— Eu sei me cuidar muito bem sozinha, não preciso de vocês achando
que podem cuidar de mim melhor que eu mesma.
Ouvi quando os dentes do estudante trincaram. Ele caminhou em
minha direção. Passos firmes, brutos, irritados. Os olhos nos meus, gélidos.
Dei um passo para trás quando ele se aproximou. Mad fez menção de se
colocar entre nós dois, mas Malcon pôs o braço em sua frente impedindo-a.
Ele riu. O ar quente que saiu das narinas fez cócegas em meu rosto.
— Se você recua com alguns passos meus, não imagino como vá se
defender desse bando de babacas. — Olhou ao redor. — Alguns deles já
foram presos, outros serão. A maioria não tem o menor problema em te
colocar no ombro e te levar para algum cantinho escuro. Lamento em te
dizer, Afrodite, você não é páreo para mim nem para nenhum deles.
Não respondi.
O justo seria dizer que nem ao menos consegui respirar. Os olhos
ainda seguiam cravados em meu rosto analisando a minha expressão.
Ele deu um passo para trás, ainda encarando-me. Depois mais um e,
enfim, encarou o amigo.
— Relaxa. Tá tudo sob controle. — Malcon garantiu como se a
explosão do amigo fosse uma coisa normal, pondo a mão no ombro do
amigo.
Andrew passou as mãos pelo rosto, como se não estivesse gostando
da ideia. Depois, soltou o ar com força.
— Só fica longe de confusão. — A voz estava áspera, mas ao mesmo
tempo parecia cansada. — Porque hoje, eu estou caçando uma, e não sei se
serei capaz de recusar uma boa briga.
Sorriu de lado para o amigo, mas antes de virar as costas e seguir em
direção ao amontoado de pessoas, olhou-me fazendo meu corpo inteiro gelar
por alguns segundos.
— Você tá bem? — Mad perguntou, aproximando-se de mim.
Meu coração estava batendo tão forte dentro do peito, que eu podia
jurar que, mesmo com toda a gritaria do ambiente, as pessoas poderiam ouvi-
lo enquanto me lembrava do que Mad havia contado dias atrás sobre ele estar
envolvido em atividades ilegais.
Ignorei a pergunta, voltando-me para Malcon.
— Ele vai lutar? — Apesar de ser uma pergunta, soou muito mais
como uma acusação.
— Sim. O Andrew luta. Ele é, simplesmente, o melhor.
O ar saiu dos meus pulmões com força. Andrew era um cara alto e
forte, não havia dúvidas quanto a isso, mas encarar aqueles homens que eram
tipo três vezes o seu tamanho seria suicídio.
— Vamos. A diversão vai começar — Malcon passou o braço pelo
meu ombro e da minha amiga nos levando para mais perto da multidão.
A luta anterior já havia acabado. Paramos em uma mesa encostada na
parede que ainda não tinha notado. Ele entregou duas notas de cem dólares,
fazendo com que eu arregalasse os olhos.
— Você vai apostar tanto dinheiro assim? — Olhei em sua direção,
vendo quando um sorriso começou a iluminar seu rosto bonito.
— Geralmente aposto muito mais, mas o movimento hoje está fraco
— deu de ombros.
Fraco?
Deviam ter, pelo menos, umas trezentas pessoas aqui nesse lugar.
À medida que nos aproximávamos da roda, mais pessoas foram se
amontoando como se o Andrew fosse a grande luta da noite. A atração.
Malcon conseguiu nos colocar na primeira fileira da, agora, grande roda que
se formou.
Andrew estava de um lado e o general Shang da luta anterior do
outro. Sério que ele havia ganhado do troglodita com quem lutou? Bem,
Andrew devia estar em péssimos lençóis então. Ele, era alto, tinha músculos
bem-definidos e tal, mas, definitivamente, não era tão corpulento quanto o
adversário.
Um cara falava alguma coisa no ouvido dele que ouviu concentrado,
depois assentiu, sério. O homem tinha uma cara dessas de quem era um
pilantra, pouco mais velho que a gente. Algo em torno dos vinte e oito. Os
olhos eram claros e cabelos claros bem lisos. Depois deu um tapinha no
ombro dele e se afastou.
Andrew sorriu para o adversário. Não um sorriso amigável, mas um
que dizia “vou acabar com você, espero que esteja preparado.” O outro
tinha uma expressão resignada no rosto. Como se topasse qualquer coisa
menos perder para ele e, pela primeira vez, tive medo do que podia
acontecer. Madison apertou minha mão.
Os dois garotos começaram a, em posição de luta, se aproximarem.
Shang foi o primeiro a dar um golpe. E errou. A plateia foi à loucura.
— O Maddox tenta vencer do Imbatível desde que ele começou a
lutar aqui na universidade. — Havia uma empolgação única em sua voz.
— Ele começou a lutar quando chegou à universidade? — minha
amiga perguntou. Apesar de interessada na história também, não conseguia
desviar o olhar dos dois homens à minha frente.
— Não. Quando chegou aqui Andrew já era conhecido dessa forma
— respondeu, mas, como eu, parecia mais interessado em acompanhar a luta.
— Ele não fala muito sobre quando começou nem nada, mas ele é um puta
lutador.
Shang, que na verdade, se chamava Maddox, acertou um soco no
queijo de Andrew que cambaleou, mas firmou as penas em seguida. Deu um
passo para trás e cuspiu no chão.
Era sangue.
Mordisquei o lábio, preocupada com ele. Será que quando isso
acabasse ele estaria muito machucado?
Shang acertou outro soco no rosto, e, dessa vez, fechei os olhos
instintivamente.
— Para de brincar, caralho — Malcon gritou para o amigo. Abri os
olhos no exato momento em que se virou em nossa direção com um brilho
estranho no olhar.
Então, depois disso, foi como se alguma coisa acontecesse dentro
dele. Com o punho direito, acertou três socos seguidos no rosto do
adversário, mas antes que ele pudesse se recuperar, o punho direito aceitou
mais duas vezes seu maxilar.
Shang cambaleou.
Andrew afastou o braço direito, preparado para o soco. O outro
desviou. Então ele sorriu. Era o que planejava desde o princípio. O punho
esquerdo acertou em cheio o Shang, levando-o ao chão.
Os gritos foram intensos. Andrew ergueu o braço levando a plateia ao
delírio. Eu não sabia explicar o motivo, mas gostei de vê-lo rodeado de
pessoas comemorando a sua vitória.
Apesar de ser meio assustador, era também incrível.
Nós ficamos ali nas três lutas seguintes, e em todas elas ele ganhou de
formas diferentes. Aos poucos percebi que ele tinha um padrão. Não ganhava
as lutas de cara, embora parecesse ser capaz disso. Andrew também
apanhava, mas parecia intencional. Como se ele precisasse ser acertado tanto
quanto precisava derrubá-lo no chão.
— Pra onde ele vai? — quis saber, quando Andrew derrubou mais um
oponente, mas dessa vez virou as costas e Malcon começou a nos direcionar
para a mesa onde havia feito as apostas a cada nova luta.
— Andar de cima. Banheiro. Em geral, ele gosta de tomar banho
antes de ir embora.
Assenti, seguindo-o.
— Uau, isso foi...
— Intenso — concluí a frase de Mad sabendo exatamente o que ela
queria dizer.
— Muito. E ele é tão... tão...
Gostoso? Forte? Incrível?
— A forma como ele falou com você, eu quis quebrar a cabeça dele.
Sorri, comovida por saber que ela verdadeiramente queria me
defender. Não tinha tido muita sorte com esse tipo de gente na vida.
— Obrigada. Mas fico feliz em ter sido apenas uma intenção, já
sabemos bem o que ele pode fazer.
Minha amiga deu uma risadinha.
— Ele estava certo quando disse que você não seria páreo para ele —
brincou.
Malcon a chamou para mostrar alguma coisa na mesa. Os dois tinham
resolvido apostar na próxima luta e Madison estava ouvindo concentrada, as
informações sobre o adversário. Senti minha bexiga apertada implorando
para ir ao banheiro.
Resolvi que seria desnecessário atrapalhá-los. Caminhei em direção
aos degraus e, pedindo licença às pessoas que se amontoavam, fosse para se
agarrarem, para fumar ou sei lá mais o quê que estivessem fazendo, fui
subindo.
Caminhei lentamente pelo corredor procurando o banheiro. Era difícil
saber, levando em conta a quantidade de pessoas aqui.
Enquanto caminhava, olhava para dentro das portas que estavam
abertas. Alguns poucos quartos estavam vazios. Na maioria deles havia
pessoas se pegando. Franzi o cenho. Eles realmente queriam ser vistos ou
fariam as coisas de portas fechadas.
Passei por mais uma porta aberta, mas não consegui dar o passo
seguinte que me levaria mais adiante. Eu o havia visto. Andrew. Ele estava de
costas, mas nos últimos minutos havia passado tempo demais analisando seu
corpo para que restassem dúvidas, era ele. Usava uma calça de moletom, o
dorso nu, mas como estava de costas, conseguia ver, em especial os ombros
largos. Havia uma toalha jogada em seu pescoço e os cabelos molhados
indicavam que havia realmente acabado de sair do banho.
Como se soubesse que estava sendo observado, virou o corpo em
minha direção.
Engoli em seco, abrindo a boca porém sem conseguir falar nada.
— O que está fazendo aqui? — quis saber, passando com a mão
direita a toalha nos cabelos, mas o olhar intenso seguia por meu corpo como
se eu tivesse feito alguma coisa errada.
— Estou procurando um banheiro — consegui cuspir as palavras.
Ele me olhou com intensidade.
— Você está bem? — quis saber. Por alguma razão idiota meus pés
caminharam para dentro do quarto mesmo com a minha mente alertando o
tempo inteiro que era uma péssima ideia. Os olhos intensos de Andrew
seguiam fixos em meus olhos como um desafio, ou como se quisessem me
hipnotizar. Parei quando a distância entre nós era mínima. — Sua boca, ela
estava... — Minhas mãos também pareciam ter adquirido vida própria,
porque encostaram-se em seu rosto. Sua respiração ficou mais alta. Meu
polegar encontrou seus lábios passando cuidadosamente onde havia um corte
— sangrando — murmurei, ouvindo-o arfar.
Andrew não respondeu, mas deu um passo em minha direção fazendo
com que meus olhos se arregalassem um pouco.
A respiração brincava em meu rosto por conta da nossa diferença de
tamanho. Ele não parecia ter nenhuma dificuldade para me encarar e eu não
conseguia desviar o olhar.
Sem que houvesse tempo para que eu processasse o que estava
acontecendo, sua mão foi parar em minha cintura trazendo meu corpo para
mais perto do seu. Sua mão livre passou por meu rosto, tirando a mecha de
cabelo que havia grudado em minha pele com o movimento brusco e
repentino proporcionado por ele.
Engoli em seco, sentindo meus olhos se abrirem um pouco mais.
— O que você vai fazer? — perguntei em um sussurro.
Ele aproximou o rosto do meu, aos poucos. Os fios de barba que
começavam a nascer pinicaram contra meu maxilar quando encontrou a pele
aparentemente sensível.
— Te dar exatamente o que você está querendo — sussurrou em meu
ouvido.
Meu corpo ficou quente, como se fosse um vulcão prestes a soltar
lavas.
No instante seguinte sua boca estava sobre a minha. Sua língua
brincava entre meus lábios até que conseguiu abri-los penetrando a minha
boca. Andrew tem um gosto forte de hortelã, mas eu não tenho tempo para
pensar sobre isso porque meu coração dá uma cambalhota tão alta no peito,
como se fosse uma líder de torcida tentando impressionar os olheiros de uma
universidade. E eu não me importei, porque gostava da sensação.
Gostava da sensação em meu coração assim como do que estava
sentindo quando sua língua se movia em minha boca de forma ritmada, como
se estivesse tão sedento por aquilo quanto eu. Nossos lábios pareciam se
encaixar perfeitamente. Seus lábios eram habilidosos. Ele sabia exatamente o
que fazer, como fazer.
Sua língua explorava a minha boca e eu deixava. Registrando cada
movimento, cada sensação. Quando minha língua interrompe a sua boca ele
solta o ar com força em um murmúrio de prazer. Eu gostei da sensação em
meu peito por saber que também o estava agradando. Que estava fazendo a
coisa certa.
Suspirei em algum momento, e ele pareceu gostar daquilo. Minha
mão, de alguma maneira, estava acariciando seu rosto e, ao mesmo tempo,
tentando desesperadamente não deixá-lo ir.
Eu queria aquilo.
Queria mais dele.
Eu nem sabia que podia sentir todas aquelas coisas em meu corpo só
com um beijo.
Desesperada, enfio os dedos em seu cabelo e ele faz o mesmo. A boca
ávida por mais de mim da mesma forma que eu pareço querer mais dele.
Movo a cabeça por alguns milímetros e, meu Deus, a sensação foi
absurdamente incrível. E não só pra mim. Sabia disso porque ele tinha
soltado um gemido.
Nossos corpos estavam mais próximos e eu nem sabia como aquilo
tinha acontecido. Eu devia querer nos afastar, mas não queria. Só queria
beijá-lo mais e mais.
Era mais que bom.
Andrew mordiscou meu lábio e eu arfei. Por Deus, alguém já morreu
de prazer só com um beijo? Seria um feito histórico que eu conquistaria, sem
dúvida. O chato era que ele ficaria com todo o crédito. Havia me feito morrer
só com um beijo.
Um beijo perfeito.
Minhas pernas bambearam um pouco, parecendo tão moles quanto
gelatina e ele pareceu notar, já que aproximou nossos corpos ainda mais
soltando um gemido em seguida.
Eu senti aquela coisa dele completamente excitada cutucando minha
barriga, arfei pondo as mãos em seu ombro e empurrando-o com o máximo
de força que eu conseguia.
Ficamos nos encarando por alguns segundos antes que ele desse um
sorriso de canto de lábios. Um daqueles sorrisos presunçosos.
— Eu sabia que era exatamente isso que você queria — falou.
Meus olhos se arregalaram.
— Foi você quem me beijou — acusei, sentindo meu corpo esquentar
novamente, mas dessa vez de raiva.
Ele riu.
— Você veio a esse quarto, você queria o beijo. — Deu de ombros. —
Queria tanto que devolveu com o mesmo fervor e estava adorando se esfregar
em meu pau. O favor foi devolvido, a não ser que queira mais. Tem uma
cama logo ali, e eu estou mesmo cheio de energia.
Senti como se meu coração tivesse sido acertado em cheio por um
daqueles golpes que haviam derrubado tantos caras no andar debaixo.
Andrew não feria apenas com os punhos, mas com as palavras também.
Mas eu não o deixaria perceber que havia ficado abalada com suas
palavras. Passei a mão pelos lábios, limpando-os.
— Foi idiotice minha ter me preocupado com você. — Minha voz
estava trêmula e parte de mim queria chorar, mas eu não faria isso. Não na
frente dele. — Você não sabe o que eu quero. Mas eu vou deixar bem claro e
espero que esteja prestando muita atenção: de você a única coisa que eu
quero é distância. Babaca.
Virei às costas para ele, caminhando em direção à porta.
— Próximo corredor à esquerda — falou, pouco antes que eu saísse.
Virei-me, olhando-o confusa.
— O banheiro, caso queira manter seu teatrinho.
Trinquei os dentes com raiva passando pela porta e batendo-a com
força. Eu o odiava. E eu odiava, mais que tudo, que o melhor beijo da minha
vida tenha sido com o mais escroto dos caras.
E me odiava mais ainda por saber que no fundo, eu tinha gostado
daquele maldito beijo.
Capítulo 11

— Você está bem? — Benjamin perguntou, sentando-se na calçada,


ao meu lado. Ontem, enquanto voltava do casarão, ouvi um som estranho
saindo do escape. Usando a lanterna no celular não deu pra achar muita coisa,
mas hoje, quando acordei, percebi que a porra do escapamento estava fodida.
Tinha certeza de que o Maddox, insatisfeito por não conseguir ganhar
de mim mais uma vez, precisou arrumar uma nova forma de me foder.
Filho da puta.
Apenas assenti, tirando o cigarro dos lábios e soltando a fumaça.
— Tá calado. Você sempre fica assim quando está mais chateado que
o normal. Consegue ficar ainda pior que o Jackson irritado.
Benjamin se sentou, tirando o cigarro dos meus lábios e dando uma
tragada.
— Passa a chave inglesa — pedi, estendendo a mão.
Meu irmão fez o que pedi.
Eu precisava consertar a moto, mas queria mesmo manter a minha
mente focada em alguma coisa. Qualquer coisa que não fosse aquela maldita
garota. Aquele maldito beijo. O beijo que não saía da minha cabeça.
Sabia que, como todas as outras, ela estava doida para isso. Para me
beijar. E, sem dúvida, foi exatamente para isso que foi ao quarto. Eu estava
certo o tempo inteiro, aquela conversa de não precisar de nada para guardar
meu segredo era conversa, ela queria cair na minha cama, só se faria de
difícil. E se ela achava que essa era a forma de me conquistar, provava que
não me conhecia.
E a expressão em seu rosto quando me viu sair do casarão com uma
garota em minha garupa. Era um misto de irritação e mágoa. Típico de
alguém que acreditava ter conquistado o meu interesse.
As garotas disputavam a minha atenção e eu não negava isso a elas.
Mais o beijo... O beijo foi intenso.
Bom.
Para ser sincero, eu não queria ter parado. Tinha uma cama ali e nós
dois podíamos ter aproveitado muito juntos. Qualquer outra garota teria
aceitado. Teria, por vontade própria, me empurrado contra a cama e ela
mesma teria tomado a iniciativa.
Balancei a cabeça em negativa afastando aquelas ideias da minha
cabeça. Eu havia jurado que não pensaria nela. Que não me deixaria envolver
com ela. Que nem mesmo a beijaria – essa última parte, claramente, não deu
certo.
Mas era só isso.
A Leighton não era o tipo de garota que com quem eu transava. Ponto
final. E por mais que meu pau ficasse animadinho ao encontrá-la, ele ia
entender essa porra em algum momento.
— Já falou com a Olívia? — Benjamin perguntou, assistindo-me
desenroscar um parafuso no escapamento.
Balancei a cabeça em negativa.
— Não vai mesmo? — perguntou.
— Você vai? — devolvi a pergunta, parando o movimento de
desenroscar por um momento.
Benjamin também não me respondeu.
— Ela está crescendo rápido demais, não é?
Dei um pequeno sorriso.
— Parece que ainda ontem Olívia nos atazanava o juízo para
fazermos as vontades dela — movi a cabeça em negativa, lembrando-me da
pequena garota usando uma trancinha malfeita de cada lado da cabeça , com
os braços cruzados, emburrada por não atendermos alguma de suas vontades.
— Ela sempre conseguia tudo — Ben deu de ombros.
— Não dessa vez — falei, trincando os dentes. — Não posso fazer
isso, Benjamin.
Ele assentiu.
— Ela não virá.
— Virá. Vai se fazer de difícil, mas acabará cedendo. Nós sabemos
que ela não gosta de ficar sozinha, especialmente em épocas comemorativas.
Ben não falou nada por um momento. Isso significava que ele iria
discordar de mim.
— Ela está certa, sabe? A mamãe ia querer que nós fôssemos todos
juntos, uma última vez, nos despedir dela. — Benjamin pegou uma das
chaves batendo no sapato, como se quisesse desviar a atenção.
— Depois que Olívia for embora, sabemos que nenhum de nós vai
voltar àquele lugar. Eu não iria lá nem mesmo para enterrá-lo. E odeio que
Olívia esteja certa.
— Eu iria ao enterro dele. — Olhei-o, sem acreditar.
Eu não queria vê-lo nem mesmo morto.
— Uma vez eu vi num filme, a filha não foi ao enterro do pai ou algo
assim e depois disso viveu assombrada com seus próprios pensamentos até
que conseguiu ir se despedir dele em seu túmulo. Eu já tenho muitos
fantasmas, Drew. Não quero carregar mais um.
Eu o entendia.
De todos nós, talvez o Benjamin seja o mais fodido. Para ele, perder
mamãe, da forma como aconteceu, foi pior. Só falamos sobre aquele dia uma
única vez, ele estava dopado demais e acho que nem ao menos lembra-se das
coisas que me disse.
Do medo que sentiu.
Nunca consegui esquecer a imagem dele, com os olhos desfocados,
sujo de sangue. De como, atônito, não respondia ou falava. Ou de quando
acordava no meio da noite aos gritos, como se ainda estivesse lá, com ela,
naquele carro.
Finjo que não sei, acho que ele se sente melhor dessa forma.
— Eu quero que ele se foda. Me importo com ele da mesma forma
com que ele demonstra se importar conosco, Ben. — as palavras saíram frias
e cortantes.
Eu não me incomodava com a minha sinceridade, é exatamente assim
que eu me sinto. Benjamin abriu a boca para falar, mas a fechou em seguida.
Não havia nada que ele falasse para fazer mudar o que eu sentia.
Eu odiava o nosso genitor.
Eu odiava a vida que precisamos levar para chegar até aqui.
Eu odiava odiar todo mundo.
Eu odiava a porra daquela garota ficar nos meus pensamentos o
tempo todo.
Eu odiava tê-la beijado ontem.
Eu odiava querer beijá-la novamente.
Eu odiava não conseguir parar de pensar nisso.
Nem mesmo agora.
Nem mesmo quando eu pensava no ódio que sentia do mundo.
Eu precisava tirar aquele beijo da porra da minha cabeça.
Capítulo 12

— Você está estranha — Mad anunciou enquanto eu deixava o prato


com o café da manhã em sua mesa.
Peguei o horário mais cedo hoje e voltaria depois da aula. Patrick
havia liberado dividir a jornada de trabalho, pois eu tinha que me concentrar
para um relatório que precisava entregar.
— Não estou — afirmei, rápido demais.
Porém quando o sino da porta tocou anunciando a chegada de alguém,
meu corpo ficou tenso e meu rosto imediatamente virou-se tentando ver quem
entrava.
Não era ele. Meu corpo relaxou.
— Ela está estranha desde que voltou para o quarto na noite da festa
— Chiara entregou.
Fofoqueira.
Madison semicerrou os olhos em minha direção.
Não sei como as duas ficaram amigas. Aliás, eu sabia bem. Madison
era o tipo de pessoa que fazia com que todas as outras gostassem dela, para o
meu desespero, nesse momento.
— Você sumiu e voltou bem estranha mesmo. — Cruzou os braços,
séria. — Aconteceu alguma coisa? Alguém mexeu com você? Se quiser,
posso falar com o Malcon e ele fala com o Andrew e...
— Não precisa falar com ninguém. Não aconteceu nada, eu juro.
Interrompi, sentindo meu corpo reagir apenas com a menção ao nome
daquele babaca.
— Palavra de escoteira? — Madison perguntou.
— Eu nunca fui escoteira, Mad. — Ri. — Nem você.
— Poderíamos ter sido. — Deu de ombros como se fosse uma
resposta óbvia.
Eu gostava dela. Realmente. Conversar com Mad era fácil. Ela
acreditava no que falávamos e não complicava nada. Era bom ter alguém que,
diferente de mim, não via um problema a cada situação.
Chiara soltou um suspiro encarando a atividade de Química Orgânica.
— Eu sabia, quando escolhi medicina, que não seria uma coisa fácil,
mas as aulas mal começaram e já estão exaustivas — reclamou, deitando o
rosto sobre o livro.
— Quando eu me sinto exausta, vou às compras, ou atrás de alguém
para fins de sexo. — Um sorriso de lado surgiu em seu rosto, o que me
lembrou do Andrew. Trinquei os dentes com força tentando parar de associá-
lo a qualquer coisa. — Sempre renova meu ânimo.
— Meus pais mal conseguem pagar minhas despesas na universidade,
imagina só se eu saio para estourar o cartão de crédito que ganhei para
emergência — Chiara comentou com a voz abafada pelo livro onde ainda
mantinha o rosto. Mad soltou um suspiro.
— É tão estranho ouvir vocês falando sobre limite em cartão. — Faz
uma careta, mas não como se fosse esnobe. Na vida perfeita e luxuosa de
Madison, dinheiro nunca foi ou será um problema.
— É bom saber que a faculdade te trouxe para o mundo das pessoas
normais, amiga — brinquei, pondo as mãos em seu ombro.
— Mas é sério, meninas. Eu preciso mesmo fazer compras. Podíamos
ir juntas, mamãe não vai se importar se usarmos o meu cartão. Pra ser bem
sincera, eu podia comprar um jatinho e um prédio inteiro à vista e ainda
assim nem faria cosquinhas em nossa conta bancária.
— As tristezas da pobre menina rica — Chiara implicou, ganhando
um beliscão da Mad. — Tô brincando! Se você quer gastar sem dinheiro
comprando um Loius Vuitton pra mim, não estou aqui para reclamar.
Ri, analisando a conversa das duas.
Por muitos anos, foi isso que eu sempre quis. Amigas. Pessoas com
quem falar sobre bobagens, garotos, ou só, sei lá, recamar da vida como a
Mad reclamava da falta de roupa ou do brilho que seu cabelo estava perdendo
por causa de todo o estresse com a faculdade.
Eu estava feliz que havia encontrado pessoas que pareciam ser legais
e que confiavam em mim mesmo que eu não confiasse todas as parte da
minha vida a elas.
— Ei, esse sorrisinho no rosto é porque vai ganhar um Coco Chanel?
— Chiara perguntou, olhando-me de forma engraçada.
— Claro, a gata borralheira tem várias festas de gala onde poderá
utilizar as roupas caras que a Barbie usa.
Madison rolou os olhos.
— Eu não sou uma Barbie, nem patricinha — dessa vez tentou
disfarçar o tom magoado em sua voz. — Eu só gosto de andar bem vestida,
não é um crime. Não estou matando ninguém e também não uso nenhuma
peça que seja feita de pele de animal. Isso é crueldade.
— Claro, Mad. Responsabilidade social é tudo. — Semicerrei os
olhos em sua direção. — Escuta, eu sei que você não é uma garota fútil e não
foi isso que eu quis dizer, só que seus problemas são decididamente diferente
dos nossos, e isso não é um problema. Quer dizer, um dia, quando for rica,
vou usar tudo que você me ensinar sobre moda para comprar minhas roupas.
Ela rolou os olhos, mas tinha um sorriso no rosto indicando que a
mágoa de antes já tinha passado.
— Agora me conta, você e o Malcon? — Chiara perguntou com os
olhos brilhantes de quem queria uma fofoca, fazendo com que Madison me
encarasse com os olhos arregalados de medo que eu tivesse contado sobre a
luta. — O quê? Eu posso não ter ido à festa, mas uma das garotas da minha
turma disse que vocês saíram com o capitão do time de hóquei. Pra ser
sincera dez entre dez garotas da minha sala queriam estar no seu lugar.
Madison fez uma careta engraçada.
— Não, nós não temos nada. Nem teremos. Malcon é só um velho
conhecido. — Deu de ombros.
— E velhos conhecidos não podem se apaixonar? — Semicerrei os
olhos para ela.
— Primeiramente, não estou aqui para me apaixonar, mas sim para
transar. E em segundo lugar, não. Não nós dois. Malcon sabe mais do que
devia sobre mim, e eu jamais ia querer ter a sua mãe como sogra. Acreditem
em mim, a mulher é uma peste. Sabem o filme A sogra, com a JLo? —
Aproximou-se um pouco como se fosse compartilhar um segredo. — A mãe
dele é ainda pior.
— Mas ele tem amigos bem gostosos — Chiara brincou, bem
sugestiva. — Você podia namorar algum deles.
— A maioria desses caras só iam querer namorar comigo por causa
do meu sobrenome. É horrível saber que as pessoas querem namorar você por
causa dele. Por isso eu evito relações sérias. Aprendi, na escola, o que a
vontade de sair com uma garota rica pode levar babacas a fazerem. — Parecia
ressentida ao falar sobre o assunto. Havia uma história ali, assim como eu
tinha a minha. Talvez amigas não compartilhem exatamente tudo, afinal.
— Mas eu tenho certeza de que você vai encontrar um cara legal que
não vai se importar se você é uma das Kardashian ou, sei lá, uma mendiga.
Ele vai gostar de você porque é a patricinha mais legal que existe.
Madison rolou os olhos, mas sorriu levando na brincadeira.
— Sabe, garotas, eu estou feliz por ter conhecido vocês — Mad pôs a
mão com a palma aberta para cima, e nós pusemos as nossas mãos sobre a
dela também.
— Eu também — Chiara tinha os olhos cheios de lágrimas,
emocionada de fato.
Eu sorri grata também.
Eu tinha agora pessoas em quem podia confiar. E mesmo sabendo
disso, me senti meio mal por não compartilhar com elas o que tinha
acontecido com o Andrew na festa. Uma boa amiga contaria às amigas, mas
fiquei com tanta raiva do que aconteceu depois do beijo, que não conseguiria
falar sem começar a chorar e eu não sou o tipo de garota que chora por
homem, nem nunca serei.
Depois, já tinha passado tanto tempo que imaginei que a Mad fosse se
ressentir por não ter dito na hora, enfim, como não foi nada importante,
resolvi que o melhor a se fazer era fingir que não aconteceu nada.
Com ele, pelo visto, era sempre assim.
Fingir que nada aconteceu, e estava tudo bem.
— Eu vou lá no vestiário tirar o avental e pegar minhas coisas para
irmos pra aula — falei, levantando-me da mesa.
Se ele podia fingir que nada havia acontecido, eu também podia e
faria isso muito bem. Afinal, não significamos nada um para o outro.
Foi só um beijo.
Assim como ele daria em milhares de outras garotas.
Só um beijo comum.

A aula de Saúde Mental ministrada pelo senhor Rogers era uma das
minhas preferidas, não havia dúvidas quanto a isso. Começar a manhã com a
aula dele era uma das melhores coisas do meu dia.
Além de ser um tema que eu gostava bastante, muito do que ele
falava, eu conseguia aplicar em minha própria vida. Então, era exatamente
por isso que eu quase nem piscava enquanto ele explicava sobre qualquer
assunto, por mais bobo que pudesse parecer.
Hoje, ele falava sobre a Saúde Mental dos adolescentes.
— A adolescência é um período importante para o desenvolvimento e
manutenção de hábitos sociais e emocionais importantes para o bem-estar
mental. Alguém pode me dizer elementos importantes para que isso ocorra?
— Perguntou para a classe.
Ergui a mão, juntamente com metade da classe. Tínhamos lido, ainda
ontem, um artigo sobre o tema e tudo estava fresco em minha mente. O
professor apontou para alguém atrás de mim e virei o corpo para ver quem
era.
— Ter a quantidade necessária de horas de sono, realizar atividades
físicas regularmente, esforços cognitivos para lidar com situações de dano,
resolução de problemas e habilidades interpessoais, administração de
emoções. E, além de tudo isso, é fundamental também que o adolescente
entre em um ambiente de apoio familiar, escolar e na comunidade em geral.
Basicamente, os cuidados que não tiveram comigo.
— Muito bem, senhorita... — o professor olhou o nome da garota do
papel — Haidy.
Ela era uma das alunas mais aplicadas no curso e eu tinha certeza de
que trabalharia com algo relacionado ao cuidado com a mente.
— Vários são os fatores que podem ser decisivos na saúde mental dos
adolescentes — continuou. — Quanto mais expostos aos fatores de risco,
maior impacto isso causará na saúde mental dos adolescentes. Entre alguns
desses fatores que contribuem para o estresse durante esse momento da vida,
estão o desejo de uma maior autonomia, pressão para se conformar com
pares, exploração da identidade sexual e maior acesso e uso de tecnologias
e...
O professor parou, erguendo o olhar em direção à porta.
— Desculpe, senhor Rogers, mas me perdi enquanto tentava encontrar
a sua sala — uma voz masculina falou vinda de trás de todos nós.
Virei o rosto para encarar a figura que atrapalhava a aula. No instante
em que meus olhos focaram em seu rosto, o sangue parou de circular pelo
meu corpo. Meu coração parou de bater. Eu senti que podia morrer ali
mesmo.
As lembranças vieram com força em minha mente.
Uma câmera.
Um sorriso quase idêntico ao que ele exibia enquanto os olhos
brilhavam em direção ao professor.
O cheiro de naftalina.
Um porão.
Eu, assustada, enquanto o homem dava ordens à criança que
caminhava em minha direção.
Meu estômago embrulhou.
Tudo escureceu ao meu redor.
Eu não conseguia respirar.
Precisava sair dali.
— Você não vai vomitar, não é? — uma voz perguntou perto de mim.
Voltei os olhos marejados em sua direção. O garoto ao meu lado tinha
uma expressão de preocupação, puxando as penas para o mais distante
possível de mim.
Sentindo o ar diminuir, a respiração falhar, catei minhas coisas da
cadeira jogando-as de qualquer forma dentro da minha bolsa, levantando-me
apressadamente em direção á saída sem ao menos pensar em mais nada.
— Senhorita Westerwood?
Meu corpo estremeceu.
Eu não conseguia respirar.
— Senhorita Westerwood? — a voz do professor voltou a soar em
meus ouvidos, mas dessa vez não como repreensão, como se estivesse
preocupado. — A senhorita está bem? — perguntou, quando virei-me em sua
direção.
Medo.
Raiva.
Frustração.
Coração acelerado.
Mãos suando.
Corpo gelado.
— Eu preciso... eu preciso...
Não conseguia pensar, ou falar mais nada.
Minha mente não obedecia.
As sensações vinham todas juntas em minha mente e eu me sentia em
um furacão de sentimentos.
— Tudo bem, pode ir — falou em seguida.
Ainda que ele não tivesse liberado. Mesmo que me houvesse proibido
de sair daquela sala, eu não aguentaria nem mais um segundo.
Eu preferia morrer a isso.
Passei pela porta sentindo o ar fresco bater em meu rosto suado.
Talvez não tenha sido ele.
Talvez tenha sido alguém parecido.
Muito parecido.
Por favor, Deus, que não seja ele.
Por favor, Deus, que não seja ele.
Por favor, Deus, que não seja ele.
Minha mente não parava de repetir o mantra, como se a cada vez que
o pedido se repetisse ele se tornasse mais perto de ser concedido.
Minhas pernas travaram por alguns segundos enquanto minha cabeça
processava uma informação. Ele havia dito que se perdeu procurando a sala.
Tinha uma mochila nas costas e usava uma das jaquetas de nossa
universidade.
Meu coração bateu ainda mais rápido no peito.
Não podia ser verdade.
Não podia ser ele.
Ele veio para ficar?
Ele estudaria aqui?
Eu seria obrigada a vê-lo em todas as aulas?
Senti como se pudesse desmaiar a qualquer momento.
Há anos eu não me sentia daquela forma.
Pequena.
Confusa.
Aterrorizada.
Não. Aquilo tinha que ser um pesadelo.
Eu precisava acordar.
Capítulo 13

— Ei, olha isso — Malcon correu até mim, apontando a tela do


aparelho celular. Segurei-o, enquanto analisava o vídeo.
— São os novos jogadores? — perguntei, vendo o time da Columbia
no que parecia ser um treino.
— Sim. Olha só pra esse cara. — Apontou para o número 87. — Ele é
um monstro e, pelo que andam dizendo por aí, é incentivado a bater ao invés
de jogar.
Analisei as jogadas do time mais alguns minutos.
— Eles são bons — comentei, entregando-lhe o aparelho. — Tem
estratégia, agilidade, técnica.
Malcon deu um suspiro de quem já decretava a derrota. Virei-me em
sua direção, batendo com a mão em seu braço.
— Presta atenção que eu sou vou falar isso uma vez. O time deles é
bom. Muito bom. Mas vocês também são, Malcon.
— Se o técnico nos ajudasse ao invés de atrapalhar, não duvidaria. E
agora que o filho da puta nos pegou treinando, vai ficar mais difícil ainda
usar o rinque.
— Você não acha que sua mãe resolveria esse problema? Sei que ela
tem influência.
— Ela conseguiria fazer a Walker demitir o desgraçado e arrumar o
melhor técnico do planeta só para me deixar feliz. — Ele apertou a ponte do
nariz. — Mas ela vai jogar isso na minha cara. Da última vez que estivemos
juntos eu deixei bem claro que já era grande o bastante para resolver meus
problemas sozinho, não vou pedir ajuda a ela. E você, já recebeu a grana da
última luta?
Assenti.
— Consegui pagar a hipoteca da casa deste mês e também o aluguel.
— Já decidiu o que fará quando a Olívia sair de casa? — perguntou,
olhando rapidamente em minha direção. — Quer dizer, seu pai ainda vai
precisar de um lugar para morar.
— Ainda não decidi. Por mim, jogaríamos todas as coisas dele janela
abaixo e deixaria que levassem a casa.
— Sua irmã nunca permitiria que fizesse isso.
— Às vezes, ter irmãos é uma tragédia. — Esfreguei as mãos na
frente do rosto.
— Eu ainda acho muito injusto você não ter conseguido a bolsa. Seria
o melhor capitão para a nossa equipe e te ajudaria demais nas despesas.
Assenti abrindo a boca para responder, entretanto algo chamou minha
atenção. A garota, Afrodite, saiu de um dos prédios de aula correndo. Parecia
assustada, olhando para trás, como se estivesse fugindo de alguma coisa.
De alguém.
— Será que aconteceu alguma coisa? — Malcon perguntou, seguindo
a direção do meu olhar.
— Deve ter tido dificuldade para abrir a porta novamente. — Dei de
ombros, mesmo sentindo que havia alguma coisa errada.
— Acha que o Lair vai conseguir conquistar a garota? — semicerrei
os olhos fazendo uma careta.
— Duvido. Apesar de conquistar a atenção de praticamente todos os
caras daqui, ela anda sempre com esse nariz em pé, como se fosse boa demais
para qualquer um deles.
— Isso vai fazer com que ele a tome como um desafio particular,
então. Uma pena. — A declaração me pegou desprevenido.
Desde quando Malcon estava de olho na Afrodite?
Alguma coisa dentro de mim não gostou da possibilidade dele estar
interessado nela. Não sabia explicar o motivo. Mas não gostava nada daquilo.
— Está de olho nela? Pensei que estava interessado na patricinha
loira.
— Não. Não. — Balançou a cabeça em negativa. — A Mad e eu
estudamos juntos por um tempo, mas ela teve um problema na escola e
acabou precisando se afastar. A família conta pra todo mundo que ela foi
fazer um intercâmbio. Eles nunca admitiriam a verdade mesmo.
— E onde ela estava? — quis saber, franzi o cenho em sua direção.
Ele negou a informação.
— O que realmente importa é que a Madison conseguiu aqui a mesma
oportunidade que eu. Ficar longe da família. Ela tem a chance de recomeçar
sem julgamento de ninguém. — Deu de ombros. — Só quero ficar perto o
bastante nessas primeiras semanas para garantir que ela está bem e que não
terá nenhuma recaída.
— Nobre da sua parte.
E era mesmo.
Eu esperava que se a Oly realmente fosse para longe, ela encontrasse
alguém como o Malcon. Que se preocupasse com ela.
Acabei voltando a olhar na direção de onde a Afrodite havia saído
correndo. Havia um homem lá, parado, como se estivesse procurando-a.
Apertei os olhos procurando-a.
Nada.
Nenhum vestígio da garota.
Mas dentro de mim eu tinha a sensação de que algo estava errado.
Capítulo 14

— Ei, Leigh, você não vai para aula hoje? — Chiara perguntou,
sentando-se ao meu lado e acariciando minha perna.
Desde que cheguei, ontem, permaneci trancada no quarto do
dormitório, com medo de sair daqui e perceber que era real.
Que ele estava mesmo ali.
Balancei a cabeça em negativa. Não que ela conseguisse ver meu
rosto. Estava completamente coberta, dos pés a cabeça. Não queria que
ninguém me visse. Não queria ver ninguém.
Não podia acreditar nisso.
Ele. Estava. Aqui.
Ele estava aqui.
Chiara havia esquecido um livro no quarto e retornou para buscá-lo
no exato momento em que eu chegava com os olhos inchados de tanto chorar.
Ela ficou preocupadíssima, mas eu a fiz prometer que não contaria nada a
ninguém. Nem a Mad. Não queria conversa. Não podia contar o que
aconteceu.
Para me ajudar, ela havia enviado uma mensagem para Ania avisando
que eu estava doente e não poderia ir trabalhar. Ontem, depois que retornou
da aula, ao perceber que eu não havia melhorado, chamou a Mad que largou
tudo que tinha para fazer e ficou aqui, deitada na cama comigo, consolando
meu choro silencioso e até dormiu conosco, espremida entre mim e a parede.
Havia saído há pouco tempo para buscar café.
— Tem certeza de que não quer me contar o que aconteceu? — A voz
carregava preocupação. Balancei a cabeça em negativa outra vez. — Estou
preocupada, Leigh. Ignorou sua mãe ontem e, coitada, se demorar mais um
pouco, ela virá aqui mesmo se certificar de que está tudo bem.
Não respondi.
Chiara suspirou audivelmente e, em seguida, alguém bateu à porta e
Chiara levantou-se para abri-la. Mad havia retornado falante e animada, como
se quisesse que aquela animação reverberasse em mim. As duas sussurraram
por alguns instantes ainda distantes de mim, em seguida os saltos de Madison
açoitaram o chão do quarto fazendo um som abafado até que ela estivesse
sentada onde instantes antes Chiara se encontrava.
Ela não falou nada, o que eu imaginava ser um enorme esforço.
Sabia também que as meninas queriam me ouvir, me ajudar, mas eu
não podia falar sobre aquilo. Para ninguém.
— Eu já sei que você não quer conversar agora, mas olha só, você
sabe que pode contar conosco, para o que precisar. Chiara e eu estamos aqui,
ao seu lado, para qualquer circunstância, tudo bem?
Meus olhos se encheram de lágrimas com suas palavras e meu
coração aqueceu-se. Era bom saber que eu tinha pessoas que se preocupavam
comigo mesmo. Que elas estariam ao meu lado se eu precisasse.
Eu queria contar.
Mas será que alguém acreditaria em mim?
Em minha inocência?
Ainda conseguia ver aquela câmera apontada em minha direção.
Ainda podia vê-lo caminhando em minha direção. Seus passos firmes. A
forma como o Romeu se declarava apaixonado pela Julietta com um brilho
nos olhos. O ponto vermelho da câmera, no sorriso do nosso cinegrafista.
Ainda podia sentir as sensações.
Os cheiros.
Os sorrisos.
O que chamavam de ensaios.
Tudo que eu só queria esquecer.
As palavras chegaram à ponta da minha língua e eu quis cuspi-las,
mas não conseguia. Tinha medo. Vergonha.
Horror.
— Você não é do tipo que falta aula, tem certeza de que não quer se
arrumar? Ainda consegue pegar o primeiro tempo. — Balancei a cabeça em
negativa. Não queria nada além de ficar aqui. Protegida. Longe dele. — Tudo
bem, então. Vou dizer que você está doente. Mas quando eu voltar, é bom
que esteja disposta a, pelo menos, tomar um banho. Não quero ser insensível,
mas você está meio fedendo.
Um leve sorriso brotou em meus lábios enquanto ela dava um aperto
em minha panturrilha.
Mad ficou mais algum tempo em silêncio.
A sensação de que eu estava caindo em um poço sem fundo era
horrível. Meu coração doía.
— Eu comprei algumas coisinhas para você comer, tudo bem? Vou
deixar aqui em cima de sua mesinha. Você não come nada desde ontem,
então, por favor, tenta beliscar nem que seja um pouquinho, tá? — A forma
carinhosa e protetora com a qual falava, fez meus olhos se encherem de
lágrimas mais uma vez. — Volto assim que as aulas acabarem, e quero esse
prato vazio. Mas se você precisar de qualquer coisa é só mandar mensagem,
tudo bem?
Balancei a cabeça em afirmativa.
Minha amiga suspirou, levantando-se. Mas, ai invés de se afastar,
chegou mais perto da minha cabeça plantando um beijo sobre o lençol.
— Ei. — Chamei quando estavam prestes a sair. — Obrigada, às
duas.
— É pra isso que servem as amigas. Para os bons e maus momentos
— falou. — Mesmo que você esteja cheirando a queijo podre nesses
momentos ruins.
Ri, ouvindo a porta ser fechada.
Eu devia ser uma péssima amiga por não compartilhar as coisas que
aconteciam comigo. Mas, ainda assim, tinha as amigas mais compreensivas
do mundo.
Sem ânimo, descobri o rosto sentando-me na cama e dobrando as
pernas. O cheiro de café fez minha barriga roncar. Ergui a mão pegando o
copo com a logo do Starbucks. Sorri quando li a inscrição no copo “Você não
está sozinha”, dei um gole no líquido amargo soltando um gemido de
satisfação. Equilibrei o copo entre minhas pernas e peguei a pequena caixa
fechada que também estava sobre a mesinha. Madison era exagerada e havia
uma infinidade de coisas. Donuts, brownies, algumas fatias de bolo e cookies
de chocolate.
Podia parecer bobagem ficar emocionada com o gesto, mas eu havia
permitido apenas o Ab em minha vida, não estava acostumada a ter pessoas
assim com quem contar, aquilo era um alento para o coração.
Dei uma mordida no donuts, pegando meu aparelho celular e
procurando em seguida o número da única pessoa com quem eu podia falar
sobre o assunto. A única pessoa em quem eu confiei.
“Ele apareceu aqui na faculdade. Na minha sala.”
Enviei. Minhas mãos tremiam de nervoso. O aparelho vibrou em
seguida, e com certeza era a resposta dele.
“Ele? O James?”
Minha garganta ardeu ao ler o nome em minha tela. Fechei os olhos
respirando fundo alguns instantes e sentindo meu coração bater mais forte.
“Sim.”
“Como você está?” perguntou, logo em seguida.
“Eu não sei... quer dizer, com medo, assustada. Com raiva! O que ele
veio fazer aqui? Tudo estava indo tão bem.”
Fui sincera pela primeira vez. Eu precisava que alguém soubesse, de
verdade, tudo que se passava em minha cabeça. Estava com medo do que
podia acontecer. Eu odiava me sentir dessa forma, perdida. Confusa. Como
anos atrás.
“Ele sabe que é você?”
“Acho que sim.” respondi.
“Você acha que ele sabia que você estuda aí?” Quis saber.
“Eu não sei. Assim que eu o vi, surtei. Não conseguia respirar,
pensar. Não conseguia nada. Só peguei minhas coisas e saí correndo.”
Ele levou alguns segundos digitando.
“Calma. Ele pode não a ter reconhecido. Talvez, ele nem mesmo se
lembre de você.”
Balancei a cabeça em negativa. Não sabia se era bom. Se eu ficasse e
descobrisse que ele se lembrava de mim? Se eu ficasse e ele quisesse se
vingar?
“Eu não quero mais ficar aqui.”
Enviei a mensagem antes que eu perdesse a coragem.
“Não se atreva. Nem pense nisso, Leighton. Você lutou a vida inteira
para conquistar esse sonho e não será por causa desse idiota que vai botar
tudo a perder. Você vai continuar ai, onde é o seu lugar. Vai fazer todas as
coisas com as quais sonhou.”
Meus olhos se encheram de lágrimas.
“Não sei se consigo. Estou com medo.” Confessei.
“Você tem pessoas aí, Leigh. Gente que se importa com você. Você
pode se abrir com elas, falar a verdade. Elas iriam te ajudar, tenho certeza.
Você também pode contar aos seus pais, Leigh.”
Balancei a cabeça em negativa, mesmo sabendo que ele não podia me
ver.
“Não. Não quero envolver mais ninguém nisso. Não quero que as
pessoas saibam. Eu só quero que ele vá embora. Que mantenha distância de
mim, como tem sido ao longo de todos esses anos. E eu não quero que meus
pais descubram. Eu tenho tanta vergonha.”
“Eu não sei o que fazer”
Enviei em seguida.
“Você já evoluiu tanto desde que tudo aconteceu, não vale a pena
deixá-lo dominar seu presente e seu futuro. Fica calma, nós vamos pensar
em alguma coisa juntos. Eu tenho certeza.”
Bloqueei a tela do meu celular, passando a mão pelo rosto exasperada.
Como as coisas foram de tudo perfeito para eu prefiro cortar os pulsos a
continuar nesse lugar?
Joguei meu corpo na cama novamente. Ergui o braço, cheirando-o e
sentindo o fedor do cê-cê. Precisava de um banho urgentemente.
Escolhi uma roupa confortável, agarrei uma toalha e encarei meu
reflexo abatido no espelho por alguns instantes.
Ab estava certo, eu havia lutado tanto para realizar esse sonho. Para
estar aqui. Não era justo que eu abrisse mão de tudo pelo que lutei por causa
de alguém que só fazia mal aos outros. Ele que não devia estar aqui. Ele que
devia se envergonhar e ter medo que eu, mais uma vez, conte a verdade sobre
a sua família.
Ele!
Mas, então, porque eu sentia como se tivesse que fugir? Como se
tivesse que recomeçar a vida em outro lugar?
Como se fosse eu quem estivesse errada.
Soltei o ar com força, tirando a roupa e entrando no chuveiro. Deixei
que a água entrasse por meus cabelos como uma massagem gostosa na
cabeça. Deixei que a água fizesse com que meu corpo relaxasse por alguns
instantes.
Demorou um pouco para que eu voltasse ao quarto enrolada na toalha
e com o cabelo preso em um coque alto. Dei uma nova mordida no donut,
enquanto procurava o celular na cama.
Mad havia mandado mensagem em um grupo que criou para
conversar comigo e Chiara, perguntando como eu estava me sentindo e se já
tinha comido alguma coisa. Agradeci pela preocupação e enviei uma foto do
que havia comido.
Em seguida, percebi que Ab havia me mandado uma nova mensagem
também.
“Tive uma ideia. Acho que pode te ajudar a mantê-lo longe de você.”
Um pingo de esperança nasceu em meu coração. Eu queria manter os
pés no chão.
“Qual?” Quis saber, tentando conter a animação.
“E se você arrumasse um namorado? Alguém que pudesse assustá-
lo.”
Simplesmente não conseguia acreditar no que estava lendo. Ab estava
ficando mesmo maluco se achava que essa ideia maluca daria certo.
“Ah, claro. Vou ali procurar nos classificados um namorado de dois
metros, que goste minimamente de mim e que não tenha interesse em
transar.”
Recebi um emoji de riso e dedo do meio em resposta.
“Não precisa ser um namorado de verdade, você pode pagar alguém
para fingir que está saindo com você, as pessoas fazem isso. Ou sei lá, você é
inteligente. Algum atleta pode precisar de aulas extras e você pode trocar
pelo corpinho sarado sendo exibido como o amor da sua vida.”
“Você deve ter batido a cabeça em algum lugar, Ab. É claro que isso
não ia dar certo, mesmo que eu estivesse disposta a tentar.”
Enviei a mensagem irritada.
Sabia que não devia manter nenhum tipo de esperança.
O mais inteligente a ser feito seria mesmo tentar uma transferência ou
algo assim. Eu tinha boas notas, Yale, Brown e Harvard haviam me aceitado
também. Talvez eu conseguisse alguma forma de contornar essa situação.
“É sério. Você está aí já tem algumas semanas, com certeza deve ter
algum cara disposto a te ajudar. Sei lá. É uma ideia só para que você não se
sinta exposta nesse primeiro momento. Pode ser que ele te ignore. Mas, pelo
menos, você teria um apoio, pense nele como um guarda-costas ou algo
assim. É isso, ou você abrir mão do seu sonho. O que não é justo.”
Ele estava certo.
Soltei o ar com força, jogando o corpo na cama mais uma vez.
Eu realmente não queria abrir mão da minha vida. Eu fui aceita aqui,
na universidade dos meus sonhos. Eu tinha amigas. Eu tinha um sonho. Não
queria voltar à estaca zero. Não queria recomeçar. Seria injusto.
E se a ideia do Ab funcionasse mesmo?
O problema era que, ainda que isso fizesse sentido, não tinha ninguém
que poderia topar essa ideia maluca.
Eu havia feito amigas, não amigos.

O ar frio pinicava em meu rosto enquanto eu caminhava por entre os


enormes prédios do campus. Joguei o cabelo pelas laterais do rosto cobrindo
a cabeça com um boné para evitar ser vista.
Eu precisava vê-lo novamente. Precisava ter certeza de que minha
mente não havia inventado nada daquilo.
Respirei fundo.
Medo.
Tensão.
Nervosismo.
Lembranças que se confundiam em minha mente.
Brincadeiras inocentes.
Brincadeiras que não eram tão inocentes assim.
A cada passo em frente era como se eu voltasse anos no tempo.
O ambiente parecia não ter mudado. Os jogadores de basquete
amontoados e rindo em um grupo. Pessoas estudando em outro. Um cara
tocando violão debaixo de uma árvore com uma garota. Estudantes indo e
vindo.
A cada pessoa que passava por mim, meu coração parava por alguns
instantes até se dar conta de que não era ele.
Não era e nenhum deles seria.
Eu tinha visto errado.
Tinha.
Precisava.
— Boo. — A voz veio de algum lugar próximo. Eu podia ver os
passos se aproximando enquanto meus pés pareciam estancados no chão.
Meu coração parou. Senti quando minha respiração falhou, assim como
quando meu coração afundou no peito. — Como você cresceu.
De repente, ele estava próximo demais.
Eu me sentia enjoada.
— Olha, eu sempre soube que você ficaria deslumbrante quando
crescesse. Mas, sinceramente não esperava tanto.
Senti os olhos escaneando meu corpo. Era como se pudesse ver
através das minhas roupas. Era nojento.
— O que você está fazendo aqui? — consegui fazer com que as
palavras saíssem em um sussurro.
Deu de ombros.
— Harvard não era tão boa quanto parecia. Muito careta. — Deu de
ombros. — Meus pais me conseguiram uma vaga aqui, nesse lixo de lugar.
Trinquei os dentes. Meus pais.
Aquela frase me incomodou mais que tudo.
— Eu estava odiando tudo. Tudo mesmo, Boo. — Ele deu um passo
em minha direção me fazendo recuar. — Mas quando ouvi seu sobrenome,
quando a vi levantar daquele jeito tão teatral, tão único. A minha Julietta tão
perto, na frente. Ali eu soube que o destino havia me trazido de volta para
você para terminarmos o que começamos tantas vezes. — Mais um passo em
minha direção. Meus olhos se encheram de lágrimas. — Agora seremos
Romeu e Julietta outra vez, Boo.
Estremeci, me sentindo uma idiota por não conseguir controlar meus
próprios impulsos e por mais que eu quisesse falar, que tentasse dizer a ele
que não. Que queria distância dele, minha voz não correspondia ao meu
comando. Meu corpo parecia paralisado.
Seus olhos ficaram opacos, distantes. Meu corpo gelou ao lembrar-
me.
Câmeras.
Seus dedos me tocando.
Seus lábios se aproximando dos meus.
Meu peito subia e descia rapidamente. Sentia que o mundo estava
começando a girar.
— Eu corri atrás de você — falou. — Assim que saiu da sala. Eu fui
atrás de você tentar te encontrar. Mas você já tinha desaparecido.
Ele deu mais um passo.
— Eu quero que você fique longe de mim — falei, reunindo toda a
força que existia dentro de mim, mesmo com medo, ergui o rosto para
encará-lo. — Você vai fingir que não me conhece.
Ele sorriu.
Não um sorriso verdadeiro. Um de zombaria.
Ele ergueu a mão direita, pegando uma mecha do meu cabelo e
brincando com ela entre os dedos.
— Não fale assim, Boo. Ainda temos muito o que fazer juntos. — Ele
soltou a mecha tentando encostar o dedo em meu rosto. Dei um passo para
trás. — Nos vemos por ai.
Sorriu, dando-me as costas e fazendo com que um frio percorresse a
minha espinha.
Não tinha jeito. Eu teria que ir embora.
Doía meu peito saber que deixaria uma vida que estava começando a
construir para trás, mas era necessário.
Era isso.
Eu voltaria para o meu quarto, faria as malas e iria embora sem me
despedir. Não aguentaria ter que dizer adeus para as pessoas que estava
aprendendo a amar.
Vi quando Madison e Chiara passaram juntas, braços entrelaçadas,
juntas. Eu sentiria falta delas.
Eram as melhores amigas que eu já havia tido.
Meu coração doeu. Muito. Como se alguém tivesse enfiado a mão no
meu peito e o apertado com força me deixando sem ar.
Meus olhos se encheram de lágrimas e assim que me virei para seguir
em direção ao dormitório eu o vi. Vindo em minha direção, distraído. Pegava
o cigarro da boca com os dedos soltando a fumaça em seguida.
Aquele babaca arrogante. Metido.
Andava com aquele ar de quem sabia que era o centro das atenções.
De quem tinha certeza que as garotas da universidade o desejavam.
Mas então, as palavras de Ab surgiram em minha mente.
“E se você arrumasse um namorado?”
“Não precisa ser um namorado de verdade, você pode pagar alguém
para fingir que está saindo com você, às pessoas fazem isso.”
Talvez ele fosse uma chance das coisas não mudarem. Já o tinha visto
usando os punhos, já tinha sido alvo de suas palavras.
Andrew era bom em machucar pessoas.
Ele era grande e forte o bastante para talvez assustar o James. Ab
também estava certo sobre outra coisa, caras como ele não tinham respeito
algum pelas mulheres, mas sabiam como manter as mãos longe da namorada
de um cara que eles consideravam perigoso.
Andrew era perigoso.
Cada passo que dava, cada vez que respirava, cada meio sorriso que
dava exalava isso.
Perigo.
Talvez, com ele ao meu lado, fingindo ser meu namorando, James não
se aproximasse. Podia não ser a melhor das ideias, eu podia, ainda assim, ter
que abandonar tudo depois, se não desse certo, mas valia a pena tentar.
Eu tinha que fazer isso, por mim.
Afinal, ele me devia um favor. Andrew podia ser um babaca, mas ele
tinha que cumprir a sua palavra.
Capítulo 15

— Ei, você — Afrodite parou em minha frente. Tinha uma expressão


assustada no rosto parcialmente escondido por um boné com as cores e a
insígnia da universidade. — Temos que conversar — comunicou.
Ergui o lado esquerdo do lábio em um sorriso de canto que eu sabia
que costumava deixar as mulheres de calcinha molhada.
— Nós não temos nada para falar. Somos desconhecidos, lembra? —
ergui a sobrancelha em sua direção.
Ela fez um som engraçado de frustração.
É, gata, o feitiço virando contra a feiticeira.
— Não tão desconhecidos, já que você fez questão de enfiar sua
língua em minha garganta. — Engoliu em seco, como se fosse um enorme
esforço usar aquelas palavras.
Eu gostava de como ela se sentia desconfortável com isso. Sorri.
— Então é isso? Quer sentir minha língua em sua boca novamente,
Afrodite? — quis saber, cruzando os braços em frente ao corpo, mas sentindo
meu pau se animar com a ideia.
Sentir seu gosto novamente era algo que, querendo admitir ou não, eu
esperava que acontecesse. Ela não parecia ser a mais experiente das garotas
com quem trepava, mas tinha uma intensidade, como se quisesse aproveitar
cada momento. E eu aproveitei. Muito. Pena que acabou cedo demais.
— A única coisa que eu queria, seu cretino, era... — parou, fechando
os olhos e soltando o ar que estava preso nos pulmões. — Eu preciso que
cumpra sua palavra.
Franzi o cenho em sua direção.
— Cumprir a minha palavra? — questionei, divertido.
— Sim. Você me disse que me devia um favor por... você sabe, não
contar a ninguém o que você e a senhora Hughes fizeram na sala dela —
explicou, como se eu fosse um idiota.
— E eu já paguei o favor, Afrodite. Minha língua na sua garganta,
lembra?
Dei mais um passo em sua direção estudando a expressão de seu
rosto. Ela parecia... consternada? Irritada?
Sorri. A garota já era gostosa naturalmente, mas, porra, quando ficava
puta, tornava-se muito, muito mais.
— Aquilo não foi um favor. Foi a sua vontade de enfiar essa língua
nojenta em minha boca e eu devia tê-la mordido e arrancado um pedaço.
Soltei um riso pelo nariz.
— Devia. Podia. Mas estava ocupada enfiando a sua língua em minha
garganta também. — Dei de ombros. — Logo, você querendo ou não,
Afrodite, minha parte em nosso favor já foi cumprido.
Eu teria rido da expressão de raiva em seu rosto se seus olhos não
parecessem de verdade tão aflitos.
— Poderia ter concordado se o beijo, que eu não pedi, diga-se de
passagem, pelo menos tivesse sido bom. Mas foi mediano, apenas.
Dessa vez eu sorri. Um sorriso que poderia ter partido meu rosto em
dois. Ela queria negar para si mesma aquela química que existia entre nós.
O beijo tinha sido bom.
Bom não, maravilhoso. Incrível. Foda.
E, caralho, eu não me cansava de querer mais.
— Você é uma péssima mentirosa, Afrodite — acusei, vendo-a soltar
um suspiro. — Me beijar foi, provavelmente, a coisa mais excitante que você
já fez em sua vida.
Sorri, dando mais um passo em sua direção.
— Quero que você finja que é meu namorado. — foi direta. O rosto
estava sério.
Esperei por um minuto sua expressão mostrar que era brincadeira.
Nada. Continuava com o rosto impassível.
Eu ri soltando o ar pelo nariz, apertando os olhos em sua direção.
— Ainda ontem você estava gritando aos quatro ventos que queria
distância de mim e hoje quer que eu diga ao mundo que sou seu namorado?
— peguei o maço de cigarros em meu bolso, escolhendo um.
— Continuo querendo distância de você — falou, enquanto eu
acendia o cigarro, soltando a fumaça em seguida.
— Você não anda fazendo sentido, Afrodite. — Dei um passo em sua
direção diminuindo ainda mais a distância entre nós. — O quê? Tá querendo
impressionar um cara e para isso quer usar meu status?
— Se eu quisesse impressionar alguém, fingir que estou na sua cama
seria a última coisa que eu ia querer, tendo em vista que a possibilidade de
acharem que eu tenho, sei lá, sífilis, é enorme. — O tom intrépido em sua voz
e a expressão de nojo em seu rosto, me fez rir.
— Na verdade, faria com que os caras prestassem ainda mais atenção
em você, Afrodite.
Ela fez uma careta com a menção do ainda. A garota, com certeza,
não sabia como os caras costumavam olhar para aquela bunda perfeitamente
abraçada por suas calças jeans, tão pouco devia ter noção do quão sexy ficava
quando jogava o cabelo para o lado, ou brincava com os cachos enquanto
prestava atenção nas aulas, ou como fazia meu pau crescer e se comprimir
contra o zíper de minhas roupas quando mordia os lábios.
— Não me importo com isso. Com pessoas prestando atenção em
mim só para me terem na cama por uma noite.
Parecia sincera. Se ela não queria ser vista, por qual motivo gostaria
que eu fingisse ser seu namorado.
— Com o quê você se importa, então?
Quis saber, dessa vez fui eu quem cruzou os braços na frente do meu
corpo.
— Isso não te interessa. — Soltou o ar com força. — Eu preciso que
você finja que é meu namorado por um tempo. Pouco tempo, eu acho. Só...
— apertou os dentes como se tentasse não chorar. — Só preciso disso.
Apesar do pedido, não parecia feliz com aquilo. Como se fingir ser
minha namorada fosse algo que ela não queria, mas se sentia obrigada, por
algum motivo, a engolir.
Mordi a parede interna da boca analisando-a.
Quais motivos essa garota poderia ter para pedir a um cara que ela,
supostamente nem gostava, para ser seu namorado de mentira.
A não ser que fosse exatamente isso que ela queria. Que eu
acreditasse que ela me detestava, apenas para esperar que eu me apaixonasse
por ela.
— Se isso for algum jogo onde você acha que vai ser a mocinha dócil
que vai domar meu coração...
Ela ergueu a mão, cortando-me.
— Apesar do seu ego enorme fazer com que pense o contrário, nem
tudo é sobre você, Andrew.
— Discordo de você, gata. Tudo é sobre mim, sempre.
Leighton bufou. Seu rosto tinha uma expressão chateada. Se não era
sobre mim, se não era sobre status, sobre o quê seria?
— Eu estou vendo que você acredita que pode me dizer não, mas
deixa eu te contar uma coisa: Sei uma coisa sobre você. Sei duas, na verdade.
Você disse deliberadamente que eu te devia um favor. Não pedi nada. Você
disse. Se não fizer o que estou pedindo, todo mundo aqui, começando pelo
reitor, irão saber que você e a professora fazem a...
Parou, como se lembrasse do que eu lhe havia dito.
Eu não faço amor.
— Que eu fodo a professora em sua mesa? — ergui a sobrancelha em
sua direção.
— Isso mesmo. — Ergueu o queixo, querendo parecer altiva.
— Você sabe que não contaria nada, Afrodite — ri. — Mal consegue
ouvir alguém dizer que fode outra.
— Em outras circunstâncias, não contaria. É verdade. Mas, às vezes,
somos obrigados a fazer coisas que não gostamos, para ficarmos longe de
pessoas de quem queremos distância.
Ela parecia sincera novamente. Era isso. Ela não queria status, queria
algo como... proteção?
Então ela não queria fingir que namorava o Andrew. Queria namorar
o Imbatível.
Alguém devia avisá-la que ficar perto de mim significava o extremo
oposto disso. Afrodite apertou os dentes com tanta força, que eu tive a
impressão de que poderia quebrar o maxilar inteiro.
— E então, posso contar com sua ajuda, ou vou ter que ir até a sala do
reitor? — perguntou, atrevida.
— Vá! À vontade. — Dei de ombros, abrindo caminho para ela. —
Não tenho medo de você ou de suas ameaças.
E não tinha mesmo. Não me importava com o que podia acontecer.
Tinha certeza de que assim como eu, vários outros alunos acabavam
comendo as professoras.
Ela sorriu.
Passei por ela, fazendo com que nossos ombros se esbarassem.
— Você acha que eu estou blefando? Acha que não faria isso? —
falou, assim que havia passado seu corpo por completo.
Soltei o ar pelo nariz, virando-me de forma que estivéssemos de
frente um para o outro.
— O que pode acontecer comigo? Ser conhecido como um aluno que
estava fodendo com a professora? — Olhei-a de baixo a cima. — A única
coisa que poderia acontecer, é a popularidade da minha cama aumentar ainda
mais.
— Como eu disse, nem sempre é sobre você. Já imaginou o que iria
acontecer com a senhora Hughes? — Leighton ergueu o rosto diminuindo
ainda mais a diferença de nossa altura. — Ela sairia daqui e não encontraria
trabalho em nenhum outro lugar de respeito. Você sabe que é verdade. Seria
reduzida a uma professora sem importância. — Soltou um suspiro, quase
teatral. — Você faria isso com ela? O filho dela seria motivo de chacota por
aí. Faria isso com ele?
A resposta era não.
Eu sabia disso. Ela soube também. Percebi isso quando ergueu a
sobrancelha em minha direção.
Conhecia casos de professoras universitárias que perderam não
apenas o emprego, mas a carreira, por ser provado que dormiam com os
alunos. Nenhuma universidade de respeito a contrataria.
Nós dois sabíamos disso.
E eu não me importava. Não devia me importar. Devia dar as costas e
ir embora. Mas algo dentro de mim não permitia que eu o fizesse.
Especialmente por saber que isso também seria péssimo para o George. O
cara podia ser um filho da puta, mas ninguém merecia ser alvo das piadinhas
que eu sabia que rolariam sobre o meu pau e a boceta de sua mãe.
— Então isso é mesmo uma ameaça?
— Eu vou me agarrar ao bote no meio da tempestade, Andrew —
falou, imponente. — Não vou afundar.
— E se afundar — interrompi a frase.
— Você vai junto — completou.
O rosto estava impassível.
Decidida.
Eu gostava dessa versão atrevida dela.
A garota era atraente apenas por respirar, mas quando erguia o rosto
em minha direção, atrevida, era como se fosse outra pessoa. Alguém
completamente diferente da garota confusa que vi no primeiro dia de aula.
Havia uma considerável diferença em nossos tamanhos. Os olhos escuros
tinham alguns pontinhos quase dourados nas íris que se misturavam ao
castanho, tornando-a levemente mais atraente.
Levemente, porque, caralho, ela já era a mulher mais atraente que eu
tinha visto e, porra, desde aquele beijo e tentava obrigar a mim mesmo a não
olhar em sua direção, em não pensar nela, mas agora, com ela tão perto, com
o seu cheiro doce marcando minhas narinas eu podia quase sentir seu gosto
novamente.
Eu tinha que beijá-la outra vez.
Precisava sentir seu gosto.
— O que você vai fazer? — perguntou, baixinho.
Passei o indicador por sua bochecha até o queixo. Um gesto que já
havia feito antes, dias atrás, e que adorei repetir.
— Você não faz questão se ser a minha namorada? — sussurrei. —
Estou tornando seu sonho real.
Ela teria protestado se eu tivesse dado tempo. Coisa que não fiz.
Meus lábios foram parar sobre os seus.
O ar pareceu sair dos meus pulmões quando minha língua encontrou
sua boca. Uma sensação de reconhecimento. Ela também havia sentido, com
certeza, por isso o arquejo.
Seus lábios eram mesmo macios, não tinha sido fruto da minha
imaginação. O beijo começou delicado, dando espaço para que ela se solte.
Queria aquela mesma garota que beijei no quarto do casarão. A sem reservas.
A que queria aproveitar e pegar tudo que sabia ter direito.
Soltei um gemido absorvendo o gosto doce dos seus lábios. Contendo
a vontade de enfiar minha língua na sua boca, a puxei um pouco para mais
perto. Leighton arquejou, fazendo com que todo o meu corpo recebesse a
descarga do gesto.
Sua mão, timidamente, passeava por minhas costas fazendo com que
eu me arrepiasse. De repente, não queria mais esperar. Não queria mais um
beijo doce e decente. Precisava de um beijo quente como a porra do inferno.
Quente como o sangue que corria pelas minhas veias.
Aprofundei o beijo explorando sua boca com minha língua soltando
um gemido audível quando ela faz o mesmo. Aquela língua afiada não era
boa apenas em me enlouquecer com respostas ácidas, mas ela sabia como
passá-la de forma sensual e instigante por minha boca.
Minha cabeça bateu no boné que usava, fazendo-o cair no chão.
Enfiei a mão com força por entre seus fios, querendo mais do que nunca que
ela repetisse o gesto comigo.
Instintivamente, colei seu corpo ainda mais com o meu, como se não
quisesse que ela pudesse escapar. Afrodite passou os dedos por minha nuca
brincando com os poucos fios de cabelo ali e, porra, essa mulher vai me
matar por causa do caralho de um beijo. Meu pau já estava completamente
duro.
Um beijo que eu não quero que acabe.
E foi só o pensamento passar por minha mente que alguém clareou a
garganta próximo a nós.
— Quer transar? Posso alugar meu quarto. — Um babaca qualquer
gritou. Ergui o dedo do meio para ele.
— Você não pode fazer isso — Leighton murmurou, com os olhos
arregalados.
— Não posso fazer o quê? — Peguei uma mecha de seu cabelo,
brincando com ele entre os dedos ainda sentindo o gosto dos seus lábios nos
meus.
— Me beijar. Você não pode me beijar. — Parecia atônita. — Você
não pode fazer isso nunca mais.
Eu ri.
— Você quer namorar comigo, e não quer que eu te beije? — ergui a
sobrancelha em sua direção.
— Isso. Exatamente isso.
— Bom, Afrodite. — Brinquei com a ponta do indicador, passando de
sua orelha por seu pescoço até o fim do ombro. Gostei ao vê-la se arrepiar. —
Se você realmente quer que eu namore você, eu vou te beijar. Muito. E você
não vai poder reclamar, porque acredite em mim, nenhum idiota dessa
universidade vai acreditar minimamente sobre nós se minha língua não
estiver enfiada em sua garganta. — Dei um sorriso sarcástico. — Muitas e
muitas vezes.
Sua respiração falhou e ela pareceu pensar por alguns segundos.
— Isso não... Não, isso... — não conseguia concluir o pensamento.
Eu ri.
— Nervosa, Afrodite? — dei um passo em sua direção. — Gostou,
não é? É o que eu costumo fazer com as garotas. Deixá-las sem ação. — Dei
um passo para mais perto. — Daqui a algum tempo, você estará implorando
por mais beijos. — Dei outro passo em sua direção. — É exatamente isso que
você quer com essa história de namoro de mentira, não é? Me beijar mais.
Dei mais um passo em sua direção.
— Não. — Balançou a cabeça, frenética. — Não é isso que eu quero.
E nós vamos estabelecer algumas regras pra isso funcionar.
Falou, como se fosse óbvio, abaixando-se e pegando o boné do chão.
Ri, vendo-a dar as costas para mim, parecendo atordoada.
Ela queria namorar comigo, e eu faria com que essa fosse a pior
decisão de sua vida.
Capítulo 16

Eu estava me sentindo péssima.


Chantagear alguém não era algo que eu normalmente faria. Também
jamais contaria a verdade para alguém, só precisava que ele acreditasse que
eu faria. O mundo já é injusto demais com as mulheres para que eu
deliberadamente decidisse destruir a vida de uma de nós.
Saber que ele acreditava nisso me matava.
Nunca fui o tipo de pessoa que gostava que pensassem mal de mim.
Talvez, por isso, eu nunca tenha falado a verdade sobre o que aconteceu.
Além da vergonha, o medo do desprezo, dos olhares, dos
julgamentos.
Respirei fundo tentando acreditar que a única coisa que importava era
que eu mesma sabia quem eu era em tinha a convicção de que jamais
magoaria alguém.
Jamais faria com alguém o que fizeram comigo.
— Você só pode estar de sacanagem com a minha cara, Leigh!
A voz de Madison ecoou no quarto quando ela entrou – sem bater. O
salto ricocheteando com força no chão fazendo parecer que uma manada de
elefantes havia entrado no quarto ao invés de uma loira furiosa. Certamente a
manada seria mais fácil de lidar. Mad apontava a tela do seu celular em
minha direção e eu não precisei de muito esforço para reconhecer a imagem.
Merda!
— Quem filmou? — perguntei, desviando dos seus olhos
semicerrados em minha direção.
— Essa, definitivamente, não é a questão! — Onde estava a manada
quando se precisava dela? Mad cruzou os braços erguendo uma sobrancelha
para mim. — Quando e como isso começou? Estão dizendo no campus que
você é a namorada dele. NAMORADA!
— De onde exatamente vieram esses comentários? — Minha voz
subiu um pouco e minha amiga pareceu satisfeita com o meu desespero.
— Não importa, Leighton! Você não percebe o quanto isso é errado?
Quer dizer, essa calúnia pode te trazer inúmeros problemas. Precisa
desmentir o mais rápido possível. — Mad parecia ultrajada. — Você sabe o
que toda essa fofoca vai fazer com você?
Apertei os olhos em sua direção.
— O que essa fofoca vai fazer comigo?
Só perguntei por saber que era o que ela queria. Seria mais divertido e
mais rápido se eu fizesse o jogo dela. Dei uma conferida no material que
estava sobre minha cama antes de guardá-los em minha bolsa junto com meu
computador da idade das pedras.
— Não é um insulto, não me entenda mal, mas se os caras bons
acharem que ele está saindo com você, vai fazer com que não receba nenhum
convite válido. Então, precisa resolver isso antes que os caras legais fiquem
com medo de te chamar para sair porque aquela habitação de músculos está
inventando coisas a seu respeito.
— Não é mentira — confessei, mordiscando o lábio inferior enquanto
assistia a expressão embasbacada da minha amiga. — Nós estamos
namorando e ele está vindo me buscar para a aula daqui a pouco.
Mad piscou alguns instantes depois, pousando a mão no peito, tateou
o nada, como se procurasse um lugar para se apoiar, até chegar à minha
cama. A saia justa e preta subiu um pouco revelando bastante das coxas
enquanto a blusa de mangas comprida e vermelha lutava para continuar no
lugar.
— Espera — ergueu a mão para a frente, com os olhos arregalados
em choque —, você está mesmo, mesmo, mesmo namorando o lutador? —
Assenti, vendo sua expressão mudar de choque para algo “como senta aqui e
me conta tudo, garota!” — Uau!
— É! Uau mesmo! — Peguei as apostilas que havia imprimido na
tarde de ontem, logo depois de conseguir lembrar meu nome. Culpa daquele
beijo.
Andrew podia ser um babaca, cretino, arrogante e egocêntrico.
Mas, caramba! Ele sabia como fazer com que o corpo de uma pessoa se
acendesse. Eu mesmo não me reconhecia depois de beijá-lo.
Duas vezes, para ser mais exata.
— Quando eu disse que você não devia escrever o nome dele em seu
diário, não era um desafio, sabe? Era mais como manter o sentido de
autopreservação, não se apaixonar pelo bad boy que come tudo que se move
e tal... — inspirou, por conta da quantidade de palavras ditas em tempo
recorde. — Me conta tudo. Tudo mesmo! Como isso aconteceu?
Continuei andando pelo quarto pegando vários itens para aula,
tentando ignorar as perguntas da minha amiga.
O que eu deveria contar? Que estava obrigando o cara a fingir que é
meu namorado? Que ele começou a me perseguir para que desse uma chance
ao nosso amor que estava escrito nas estrelas?
Enganar as pessoas não era uma coisa que sabia fazer bem, então
tinha certeza de que ela veria a verdade estampada em minha testa.
MENTIROSA em letras douradas.
— Leighton! — alterou o tom de voz em um grave que não fazia a
menor ideia de que a doce Mad fosse capaz de conseguir. — Senta aqui,
agora! Me conta tudo ou... ou... — apertou os olhos em minha direção. — Ou
quando ele chegar vou ouvir a versão dele. — Cruzou os braços em
demonstração de quem ia mesmo fazer isso. — E você sabe, né? Os homens
sempre aumentam as coisas.
— Eu odeio você — brinquei, jogando meu travesseiro em seu rosto.
— Meu cabelo, sua bruxa! — Devolveu o objeto, jogando-o em
minha direção, mas sorrindo enquanto arrumava os fios.
Sentei-me na cama, dando-me por vencida. Eu conseguia visualizar o
Andrew entrando aqui todo se sentindo o dono do pedaço e dizendo que eu
fiquei no pé dele até que ele aceitasse ser meu namorado.
— Nós nos beijamos no casarão — confessei, sentindo o sangue
passar mais quente por meu corpo. — Depois, ontem nos encontramos no
meio do campus e aí...
— Vocês quase transaram em público? — Baixei o rosto, meio
mortificada por saber que não duvidava que isso realmente tivesse
acontecido.
Como eu disse, Ele era intenso.
Mad apertou os olhos em minha direção.
— Foi por causa dele que você estava jogada nessa cama como a Kate
Winslet em Razão e Sensibilidade ao descobrir que o príncipe encantado era,
na verdade, um sapo, né?
— Não — respondi rapidamente. — Eu juro. É sério! Foi... uma coisa
na aula, eu fiquei mortificada de vergonha e não queria ter que voltar para lá
nunca mais. Foi bobagem.
Madison me encarou como se não acreditasse nadinha em minha
mentira.
— As amigas até tentam, mas no fim é o beijo do príncipe, ou sapo,
ainda não sabemos, que pode te fazer sair da cama. — Rolou os olhos. —
Quase um cosplay da Branca de Neve.
— Ai, como você é ridícula, Madison! — brinquei.
— Eu vou dar uma chance ao Andrew. Mas se eu souber que ele te
magoou, quero que ele saiba que já assisti a muitos filmes de tortura. Sei bem
como machucar um cara. Como esconder um corpo também. Assisti a How to
get away with murder
O tom de altivez me fez rir. Eu gostava daquela garota.
Com certeza, enganar todo mundo para continuar tendo-a em minha
vida, mesmo que acabasse sendo por algumas semanas a mais, valeria a pena.
— Fico feliz em saber. Se ele fizer alguma coisa que não deve, você
será a primeira pessoa para quem vou contar.
— Assim como fui a primeira que soube sobre o seu namoro? — Fez
um biquinho magoado.
— Ah, não fica assim — joguei-me sobre ela, enchendo sua bochecha
de beijos, enquanto Madison dava gritinhos dizendo para eu parar. —
Desculpa não ter te contado antes. Eu ainda estou aprendendo esse lance de
ser amiga, sabe? Não estou acostumada a confiar.
— Pra ser sincera — Segurou minha mão entre as dela —, eu também
não. Mas quando vim para a universidade, decidi que queria tentar esquecer o
passado e dar uma chance às novas pessoas que conheceria. Talvez você
possa fazer o mesmo. Podíamos ter um ciclo de confiança, tipo regras da
amizade: Não esconder, não mentir, não trair a confiança... essas coisas.
— Parece um ótimo plano. — Sorri. — Você é uma amiga
maravilhosa, Mad. Quero que saiba disso.
Ela assentiu.
— Ei, cadê a Chiara? Ela devia estar aqui expressando a indignação
comigo. — Levantou-se para olhar o lado do quarto de nossa amiga apenas
para encontrar o seu quarto perfeitamente arrumado. — A não ser que você já
tenha contado para ela e eu seja a última pessoa da face da terra a saber sobre
essa fofoca quentíssima. Nesse caso, eu realmente vou precisar de amigas
novas.
— Ela saiu cedo. Disse que tinha grupo de estudos. E não, ela não
sabe. Eu queria contar para as duas juntas, mas ontem eu estava cansada e
dormi antes de vê-la retornar para o quarto. — Mad me encarava tentando
decidir se acreditava em mim. — Sem mentiras, lembra?
Usei suas próprias palavras contra ela mesma. A garota relaxou os
ombros, voltando para a cama ao meu lado.
— Vocês já transaram? — tinha um sorriso sacana nos lábios.
— Mad, não! — quase gritei, constrangida com sua pergunta. — Nós
só começamos isso ontem, essas coisas levam tempo para acontecer.
Olhei para baixo, tentando desviar dos olhos inquisidores da minha
amiga.
— Você é virgem! — afirmou, abrindo a boca em choque. — Meu
Deus, coitada de você. — Deu uma risada divertida após o comentário.
— Porque coitada de mim? — assim que as palavras saíram da minha
boca, percebi que foi um erro perguntar.
— Bom, nós já vimos aquele cara lutando, ele tem muita, muita,
muita energia. Imagina toda essa energia canalizada para o sexo? Amiga,
quando ele te pegar — fingiu que estava se abanando com as mãos. — Acho
que você vai passar uma semana sem conseguir andar direito. Se a gente for
levar em conta aquele beijo que vocês deram, a química, física e biologia
parecem estar em alta com o casal...
Engoli em seco, soltando um sorriso sem graça.
Acho que eu precisava mesmo deixar algumas coisas bem claras para
o meu falso namorado.

— Você está muito atrasado — reclamei assim que ele, por fim,
apareceu em frente ao dormitório.
Tínhamos combinado – e com isso quero dizer que ele foi meio que
coagido – que iríamos juntos hoje. Era uma forma de tentar fazer com que as
pessoas, e eu mesma nesse caso, conseguíssemos acreditar nessa mentira.
A ideia, claro, foi do Ab. Ele havia se autointitulado como tutor de
relacionamentos de mentira.
— Não pode ter tudo. Já tem o namorado, pontualidade é pedir
demais. — O tom entediado não me passou despercebido.
Bufei.
Deus, eu fui uma boa menina a vida inteira, por qual motivo eu não
merecia um bom namorado de mentira?
— Nós não vamos transar — as palavras escapuliram da minha boca e
eu nunca quis tanto morder a língua.
Ele bem que podia ficar momentaneamente surdo. A culpa disso,
claro, era da Mad que encheu minha cabeça de bobagens e nem mesmo
depois que eu havia implorado para que ela fosse comigo e Andrew para a
universidade ela cedeu, decidindo que eu devia passar por esse momento
sozinha, ao lado do cara que roubou meu coração, tipo a Bella Swan quando
entrou com o Edward Cullen pela primeira vez na escola. Se ela soubesse que
nós dois estamos muito mais para Lara Jean e Peter Kavinsky...
— Em geral, eu dou bom dia antes de pedir um boquete ou sugerir
que a gente comece a tirar as roupas, sabe? — pela primeira vez a expressão
dura quase vacilou por alguns segundos em seu rosto. Ele fazia uma quase
careta engraçada.
— Eu estou falando sério, Andrew. Não vou transar com você — fui
categórica.
— Não que eu queira transar com você, mas de acordo com as suas
regras, é proibido beijar, não pode transar... Namorar você é como namorar
uma freira. Daqui a pouco vai me pedir pra rezar um terço também. — Ele
rolou os olhos de forma dramática.
— Levando em conta a quantidade de pecados que deve ter nas suas
costas, não seria uma má ideia.
— Pode não parecer, mas sou um cara de fé, sabe? Adoro me ajoelhar
quando estou com uma garota. — A forma como suas sobrancelhas se
ergueram deixaram claro exatamente o que ele queria dizer.
Bufei. Só ele mesmo para conseguir achar algum teor sexual em um
assunto que envolvia coisas sagradas.
— Você não tem o menor respeito por nada?
— Claro que tenho. Sexo é uma coisa sagrada. O próprio Deus
mandou que povoassem a Terra. Ou seja, ele queria que a gente fizesse sexo.
— Deu de ombros.
— Desisto de você.
Vi quando seus lábios se ergueram um pouco formando um quase
sorriso. O que me fez quase rir também.
— Só pra constar, você não pode transar com mais ninguém também
— falei. Ele, imediatamente, parou de andar.
— Nem fodendo que você vai me castrar. Não vou ficar sem comer
ninguém por causa de um namoro falso. — Soltou o ar pelo nariz em uma
risada irritada.
— Olha só, um pouco de abstinência vai fazer bem para você. Usa
esse tempo para se concentrar nos estudos, ou algo assim.
— Não. Vai. Rolar. Você quer se comportar como uma freira? Sem
problema. — Deu de ombros como se não ligasse, e isso me incomodou um
pouco. O que era estranho já que eu não queria transar com ele. — Mas eu
não vou mesmo parar de transar só porque estou sendo obrigado a fingir que
estou namorado uma puritana.
Rolei os olhos. Idiota.
— Você sabia que de acordo com estudos, se alguém abre mão da
vida sexual, ainda assim, pode permanecer completamente saudável —
respondi, sorrindo indiferentemente.
Andrew murmurou alguma coisa incompreensível.
— E você descobriu isso lendo o manual das mulheres que fizeram
voto de castidade? — Senti meu corpo inteiro esquentar de vergonha. — Eu
não vou ficar sem transar. Esquece isso! — afirmou.
— Ótimo, faz sexo com a sua mão, então. Não vou ficar com fama de
corna pela faculdade, tá? — Era verdade. Eu já tinha beijado. Mas ainda era
virgem e nunca tinha tido um namorado oficial. Conhecia muitas garotas que
ficaram com trauma depois de uma traição e, ainda que fosse um namorado
falso, não queria isso pra mim. As pessoas achariam que eu não tinha sido
suficiente para ele. — Você é meu primeiro namorado, ainda que falso. Não
quero esse trauma na minha vida.
Ao meu lado, ainda parado, ele fez uma expressão pensativa.
— Você nunca namorou antes? — apertou um pouco os olhos em
minha direção.
Eu e minha boca enorme.
— Meu foco sempre foi estudar e ser alguém na vida. Garotos não
eram e continuam não sendo prioridade.
Eu tinha certeza de que ele iria rir de mim.
— Então você é virgem? — Os nervos do corpo pareceram se contrair
e os ombros ficaram tensos. — A garotinha do papai viveu protegida demais?
Já sei! Eu sou então a realização de suas fantasias que não pode viver no
colegial?
— Sou virgem porque eu escolhi. E quando terminarmos essa farsa,
ainda serei virgem. — Fui o mais clara possível. — Eu sei que isso pode
afetar o seu ego, já que você acha que todo mundo quer abrir as... você sabe,
pernas pra você, mas eu não tenho o menor interesse.
Notei quando um pequeno sorriso surgiu em seu rosto, como se
achasse graça que eu tivesse dito a frase em voz alta.
Quero que minha primeira vez seja especial.
Senti-me uma boba confessando isso em voz alta.
— Acredite, Afrodite. Eu não vou deflorar você. Vou deixar esse
trabalho chato para o cara com quem você planeja casar e ter filhos. Eu gosto
de mulheres que sabem o que fazer para dar prazer na cama. Não curto as
inexperientes. — Franzi o cenho com o termo que ele havia escolhido.
Deflorar, sério? — Mas, se o problema é as pessoas acharem que você está
sendo traída, lá no casarão tem um monte de garotas que venderiam um rim
pra transar comigo, e não teria como isso chegar aos ouvidos de ninguém da
universidade. Dá pra transar e ainda fingir ser o cara que você está me
chantageando a ser.
Bufei.
Eu não estava me guardando para o casamento. Só precisava confiar
no cara com quem transaria. Queria ter certeza de que no dia seguinte não
encontraria vídeos de sexo rolando por aí. Eu morreria de vergonha. Meus
pais morreriam de vergonha de mim. Também não queria um príncipe
encantado. Só alguém com quem eu quisesse lembrar-me de ter
compartilhando esse momento.
Cruzei os braços na frente do corpo e ele olhou por alguns bons
instantes para meus peitos. Como se tivesse ideias a respeito do que fazer
com eles. Constrangida, descruzei.
— Tá — concordei, mesmo sentindo uma pontada no peito. — Você
pode transar com garotas de fora da universidade, desde que isso não chegue
aos ouvidos de ninguém.
Ele pareceu bem aliviado.
Babaca.
— Não que eu precisasse do seu aval, mas meu amigo agradece —
ergueu os lábios em forma de um sorriso falso voltando a caminhar.
— Espero que você transe tanto que ele caia. — Olhei para sua calça,
engolindo em seco em seguida.
Havia uma protuberância considerável em sua roupa. Acho que falar
sobre sexo o fez imaginar coisas...
— Eu não preciso só do pau pra fazer uma garota gozar, sabe? Ainda
poderia satisfazê-las muito bem usando minha língua por exemplo.
Meu corpo ficou tenso e, mesmo contra minha vontade, precisei
friccionar um pouco minhas pernas com a imagem dele usando a língua em
minhas pernas abertas sobre uma mesa.
— Pelo menos alguém que não fosse você se beneficiaria disso. —
Ergui o rosto caminhando um pouco mais rápido. Para meu azar, o idiota
tinha pernas compridas e me alcançou menos de três segundos depois.
Ficamos em silêncio por alguns instantes. Eu, irritada. Eu devia ter
seguido minha intuição de que isso daria errado. Ele, parecendo achar graça
de tudo isso.
— E então, como faremos isso? — pegou um maço de cigarros no
bolso tirando um e enfiando na boca.
— Pode esquecer isso — retirei o cigarro dos seus lábios.
Ele revirou os olhos.
— Você não deve ser virgem por escolha própria. Sem dúvida os
caras da sua cidade devem ter desistido de você quando perceberam a porra
da garota chata que você é!
— Então, se um cara decide que não quer transar, tudo bem. Mas uma
garota, ela só não é boa o bastante para os caras?
— Se um homem não quer transar, ele é um otário. Todo homem quer
transar, sempre. Logo, o problema não estava neles. Acredite em mim.
Trinquei os dentes, irritada.
Machista, idiota, irritante, metido. Eu podia aumentar a lista, mas não
era a hora. Eu precisava disso.
— Você pode pensar no meu gesto como alguém que cuida da sua
saúde. — Coloquei o cigarro no bolso da minha jaqueta.
— Não preciso que ninguém cuide de mim.
O tom gélido outra vez. Ele devia ser um daqueles babacas machões
que acreditam não precisar de ninguém. Não reclamei novamente quando ele
pegou outro cigarro pondo-o nos lábios, acendendo-o.
Andrew não falou nada, eu preferi me manter em silêncio também.
Caminhamos, lado a lado, por alguns minutos assim, sem trocarmos uma
única palavra.
— Olha só, se não é o casal do ano. — Malcon, o amigo do Andrew
foi se aproximando.
Eu poderia dizer que a quantidade de pessoas olhando em nossa
direção agora tinha sido por sem querer ele ter feito um alarde ao nos ver,
mas o sorriso enorme em seu rosto mostrava que ele realmente queria atrair a
maior quantidade de olhares para nós.
— E aqui está a deusa que conseguiu essa inacreditável façanha. —
Antes que eu pudesse reagir, ele segurou minha mão, fazendo-me girar. —
Posso ver porque escolheu a gata, meu amigo. Com todo respeito, Leigthon,
você é uma gostosa.
Encolhi-me levemente com vergonha. Embora ele não tenha feito isso
de uma forma escrota, não gostava de atrair atenção.
— Obrigada, eu acho? — dei um sorriso tímido em sua direção.
— Agora me conta um segredo. — Passou a mão por meu ombro,
fazendo-me andar ao seu lado, deixando Andrew para trás. — O que você fez
para enfeitiçar o bonitão ai? Te garanto que acreditava, até ontem, que era
mais fácil as estrelas caírem do céu do que ouvir Andrew e namorada em uma
mesma frase.
Eu sorri para ele.
— A Madison me ensinou uma coisa importante: — ganhei a atenção
dele com a menção à minha amiga. — Uma garota nunca conta seus
segredos.
Especialmente quando o segredo inclui uma chantagem.
— Gosto dela. — Olhou por cima do meu ombro e falando
diretamente com o amigo.
Ele murmurou algo como pode ficar para você, me fazendo trincar os
dentes com raiva em sua direção.
Andrew precisava colaborar mesmo para que isso desse certo.
Mais uma vez, ele fez aquela expressão de pouco caso para mim.
Eu o detestava.
— Quando você cansar do coração de gelo, aposto que podíamos nos
dar bem. — Malcon piscou para mim em uma forma de camaradagem.
Andrew murmurou alguma coisa incompreensível, mas se aproximou
um pouco roçando nossos dedos levemente. O amigo parecia prestar bem
atenção na forma como reagíamos um ao outro. E, pelo esforço do Andrew,
eu tinha certeza de que nem uma criança de três anos acreditaria que
estávamos juntos.
Soltei o ar com força. Ele não estava se esforçando.
As pessoas olhavam para nós parecendo querer entender o motivo de
estarmos juntos. Se eu nos visse andando pelo campus agora, podia
facilmente dizer que eu namorava o Malcon, não o idiota ao meu lado.
Uma garota que caminhava em nossa direção acenou para Andrew
que retribuiu o gesto. Semicerrei os olhos em sua direção.
— O quê? Ela falou comigo, você quer que eu a ignore? — ergueu a
mão como se tentasse se defender.
— Briguinhas por ciúmes... Que sexy! Mas acho que tem alguma
coisa mais interessante para mim ali. — Malcon olhou fixamente para a
bunda de uma das garotas que estava em pé em uma rodinha com as amigas.
— Vocês têm uma noite divertida garantida e eu preciso guerrear para
conquistar a minha. — Piscou em minha direção. — Espero que almoce
conosco, Leighton, vamos adorar te conhecer melhor.
— Foi bom te ver, Malcon — respondi, com um sorriso, vendo-o ir
embora. — O que foi isso? — questionei, cruzando os braços, irritada e
voltando-me para o idiota do meu namorado de mentira.
— O quê? — franziu o cenho.
— Isso tudo! Você está agindo como o babaca que é! — reclamei. —
Eu preciso que você finja ser meu namorado. Tem que fazer isso direito. —
Minha voz soou exasperada.
— Você disse que queria um namorado, não um com empenho. Tinha
que ler melhor as letrinhas pequenas do contrato, gata. — Sorriu, irritante.
Expirei, tentando manter a calma. As pessoas seguiam olhando para
nós com muito interesse, como se duvidassem que essa história iria para a
frente. Sinceramente, estava começando a pensar o mesmo.
— Se você não queria fazer parte disso, não devia ter aceitado minha
oferta — cuspi as palavras encarando-o nos olhos e sentindo meu coração
bater forte de raiva.
— Oferta? — riu. — Você me chantageou. E levando em conta isso
estou sendo o melhor e mais compreensivo namorado falso do mundo —
falou, irritado, chegando mais perto de mim.
— Não me importo se ser obrigado a me namorar fere seu ego, sua
masculinidade ou tira toda a diversão que seu amigo aí de baixo devia ter,
mas faça as coisas direito, Andrew. Eu tenho o seu segredo, lembra? As
pessoas precisam acreditar nessa porcaria de namoro. E se você quer saber,
eu também não estou feliz. Se isso fosse de verdade, você seria o último cara
com quem eu pensaria em namorar.
— Você quer que eu faça as coisas direito? — perguntou, dando um
passo em minha direção com uma expressão austera.
— Sim, ou eu...
Antes que tivesse condições de entender o que estava acontecendo,
seus lábios estavam contra os meus em um beijo furioso e intenso.
A língua não esperou para encontrar morada em minha boca. A
minha, em contrapartida, parecia saber o caminho correto até a sua boca.
Não havia gentileza naquele beijo. Era algo mais exigente. Duro. Cru.
Meu corpo formigou por completo e eu pensei que ficaria sem ar.
Seu braço me rodeou com força, prendendo-me contra seu corpo. O
que foi bom. Eu tinha certeza que cairia no chão.
O beijo foi se tornando mais intenso a cada segundo que passava. A
cada movimento que ele fazia com a cabeça.
Eu devia tê-lo empurrado.
Mas, no fundo, eu estava entorpecida e queria aproveitar o momento
também.
E, tão rápido como havia começado, o beijo acabou.
Andrew se afastou com um olhar presunçoso no rosto.
Olhei ao redor para as pessoas que soltavam pequenos risos, como se
esperassem que o espetáculo se tornasse maior.
— Pronto. Se você quer que eu faça as coisas direito, vai ser do meu
jeito, Afrodite. Vai precisar quebrar as suas preciosas regras, e ainda vai pedir
mais. — sorriu, falando baixinho. — Preciso ir pra minha sala. Estou
atrasado. Você pode ser minha namorada de mentira, mas eu tenho um futuro
de verdade para construir — falou dando-me as costas.
Sentia meu corpo tremer de raiva enquanto por dentro, torcia para que
aquele filho da mãe tropeçasse e caísse de cara do chão. Já tinha aberto mão
de muitas coisas em minha vida. Não abriria mão das minhas regras por
causa de um idiota como ele.
Por mais que ele beijasse bem e fizesse com que meu corpo
respondesse de uma forma intensa. O que tornava tudo ainda pior.
Madison estava certa, Andrew era um babaca que só pensava em
transar com todas as garotas que encontrava. Por mais que precisasse dele,
não seria mais uma em sua lista. Eu tinha minhas regras, e iria cumpri-las.
Capítulo 17

Eu gosto de pessoas previsíveis.


De não ser pego de surpresa.
Especialmente quando estou lutando. Gosto de prever a forma como
meus adversários irão se comportar. Qual braço erguerão para o golpe, em
qual lado do meu rosto vão deferi-lo.
Para a minha felicidade meus adversários são previsíveis.
Sempre.
Meus irmãos costumam dizer que eu sou controlador. Embora usem
isso como uma forma de me ofender, eu me orgulho deste traço.
Analisar riscos e possibilidades era algo importante, em especial
quando você tem tantas responsabilidades sobre seus ombros. Imprevistos,
em geral, são como um soco no estômago.
E esses golpes, eles doíam.
Muito.
Há anos eu não estava mais disposto a sentir dor.
Nunca mais.
Por ninguém.
Já havia perdido muito, não admitia perder mais nada.
E, exatamente o fato de tantas mudanças repentinas terem acontecido
de forma tão imediata em minha vida eu estava tão puto. Aquela garota, sem
dúvida, havia nascido com a missão de fazer da minha vida um inferno.
Com tantas pessoas que poderiam ter me flagrado com a senhora
Hughes, ter sido justamente essa chantagista se tornou o pior dos meus
pesadelos.
Embora eu odiasse ter que caminhar ao seu lado enquanto a via sorrir
fingindo estar apaixonada por mim, alguma coisa acontecia ao meu corpo
nesses momentos.
Ela era virgem e eu havia jurado a mim mesmo, anos atrás, que nunca
mais treparia com uma garota inexperiente. Porém... ela fazia algo com meu
sangue. Podia ver-me quebrando essa regra. Conseguia me imaginar tirando
aquele ar de superioridade de seu rosto ao mesmo tempo em que arrancaria as
calças jeans que ela costumava usar, Leighton me olharia com intensidade
enquanto eu a foderia. Com força.
Minha mente pregava peças me fazendo ouvir sua voz gritando meu
nome ao chegar ao primeiro êxtase da sua vida. Queria, de alguma forma,
marcá-la. Queria que ela nunca me esquecesse. Que apenas a menção do meu
nome, qualquer mísero pensamento voltado a mim a fizesse ficar com as
pernas bambas. Queria estar impregnado em sua mente da mesma maneira
como ela estava me obrigando a não esquecê-la pelo resto da vida.
A primeira namorada.
De mentira.
Jamais me deixariam esquecer disso.
Em minha mente estaria para sempre o registro da forma como aquela
garota me desafiou, chantageou e me tornou algo que eu não tinha mais a
intenção de ser.
Alguém que minha mãe sonhou.
Um homem que eu jamais poderia me tornar.
Não mais.
Então eu a odiava.
Detestava passar tempo com ela. Não suportava a forma como
conseguia sentir o cheiro de morango em seu xampu, ou a maneira como me
encarava com raiva, o maxilar trincado e o olhar pegando fogo, quando ia
buscá-la na porta do seu dormitório atrasado propositalmente, ou em como
meu pau respondia ao seu corpo curvilíneo.
Eu a odiava.
Odiava imprevisibilidade.
Ela era imprevisível.
O que queria dizer que eu não lidava bem com ela.
Isso me fazia, enfim, ter algum sentimento por aquele vampiro
brilhante. Minha irmã, como todas as garotas, teve aquela fase insuportável
em que ficou viciada no sugador herbívoro, e, mesmo detestando os filmes,
nós assistíamos com ela, claro. Fui uma das pessoas que mais criticou o tal
vampiro para minha irmã tentando demovê-la da ideia de perder horas de sua
vida suspirando por uma espécie brilhante inexistente e garantindo-lhe que,
depois, se sentiria envergonhada por isso – o que nunca aconteceu. Porém,
agora conseguia entender a frustração do protagonista por não saber o que se
passava na mente da Isabela.
Não saber exatamente qual o objetivo de Leighton me tirava do sério,
o que me fazia pensar nela mais do que devia. Eu quebrava minha cabeça
tentando entender o que ela queria com aquela mentira. Aquela carinha de
menina inocente não me enganava.
E quanto mais eu a observava, mais me convencia disso.
Leighton acreditava que eu era um idiota que pensava apenas em mim
mesmo, o cara que mais transava com garotas e destruía corações, então por
qual motivo se prestaria ao papel de desfilar por aí fingindo estar comigo?
Talvez ela só fosse como tantas outras meninas que queriam provar seu valor
para as garotas da universidade. Talvez ela tenha sido uma nerd na escola e
queria que as coisas fossem diferentes agora.
Quanto mais eu pensava, menos perto de uma conclusão eu chegava.
Não fazia sentido.
Ela não fazia sentido.
Repentinamente, como se soubesse que eu estava pensando nela, a
garota apareceu em meu campo de visão ao lado de Madison. A garota loira
sorria, contando alguma coisa enquanto gesticulava exageradamente com as
mãos. Leighton exibia um sorriso fraco, daqueles que costumamos dar
quando não estamos exatamente prestando atenção, mas não queríamos ser
indelicados.
A forma como trincava seu maxilar enquanto olhava para os lados era
suspeita. Será que a garota estava me usando para fazer ciúmes no cara de
quem realmente gostava?
Seria típico de garotas como ela, que estavam acostumadas a ter tudo
na vida chamarem atenção de um cara usando outro. Eu não faria parte desse
joguinho. Não mesmo.
— Então é verdade — George Lair, o filho da professora Hughes e do
treinador Lair, deu um tapa em meu ombro, sentando-se ao meu lado. —
Você está mesmo apaixonado pela novata.
Não foi uma pergunta.
— O dia em que você me vir apaixonado, pode ter certeza de que o
inferno congelou — respondi friamente.
— Então não entendo o propósito do seu namoro. — Semicerrou os
olhos em minha direção. Dei de ombros. — Ela é do tipo que só dá depois de
um compromisso e você também está cheio de tesão pela novata? Se for só
isso, faz logo seu serviço que eu não me importo em ficar com seus restos.
Ele ergueu o lado esquerdo do lábio em um pequeno sorriso de quem
tinha muito a dizer sem usar as palavras.
George era exatamente como as pessoas de quem eu gostava.
Previsível. Ele via uma garota bonita, queria. Não era o tipo que admitia
derrota. Não o culpava. Nenhum atleta jogava para perder, fosse qual fosse o
jogo.
Eu não gostava dele. Ser o filho de uma das professoras – a que eu
costumava transar, inclusive – e do técnico do time em que jogava, o fazia
acreditar algumas vezes que era intocável. Como se tudo que quisesse
estivesse ao seu alcance. Para a minha infelicidade, o mundo meio que
funcionava assim.
Não simpatizava com esse tipo de pessoa.
Porém o irmão fazia parte do time e eu sabia que ter uma pessoa
como Lair ocupando o posto de desavença pessoal era perigoso para Jackson
e por isso eu o tolerava. Ele achava que era importante demais para ter
alguém que mantinha os pés atrás com ele.
— Ela já tem um namorado — falei, encarando-o com um olhar
severo. Por mais que não quisesse uma namorada, ele não podia
simplesmente achar que poderia falar da garota assim comigo. — E não tenho
culpa se ela prefere os melhores. — Dei de ombros apenas para irritá-lo.
— Ou os mais fáceis.
— Você fala como se tivesse a fama de um poço de virtude e tivesse
intenções cavalheirescas com a garota.
— E você fala como se não estivesse nem aí para o fato de estar
saindo com a novata mais gata do semestre. Eu sou capitão do time. Tenho
que manter essa fama de pegador. É uma coisa quase obrigatória. Foi assim
com meu pai, e eu tenho que manter o legado da família, você sabe.
Eu não sabia.
— Ao menos, comigo, a satisfação é garantida — George trincou os
dentes irritado. Ano passado uma garota começou um boato de que ele havia
broxado. Lair, claro, disse que nunca tinha visto a garota, mas eu tinha
minhas dúvidas. Ele, ou nenhum cara, admitiria uma coisa dessas. — Como
andam os preparativos para a temporada?
Perguntei, mudando de assunto. Precisava de um tópico seguro.
— O time é bom. Os novatos têm garra, querem vencer e provar que
merecem estar no time titular, o que é bom, mas ao mesmo tempo uma
merda. Eles não conseguem se entender e as brigas têm sido constantes —
passou a mão pelo cabelo, abrindo a mochila e tirando o aparelho celular. —
Seu irmão vai ser uma estrela, sem dúvida. Ele é um excelente Running
Back[4]. Se continuar focado, conseguirá um contrato na liga profissional
antes mesmo de se formar.
Assenti.
Jackson queria jogar na liga e eu faria o possível para que meus
irmãos tivessem o que eu não tive: a chance de terem seus sonhos se tornando
reais.
Meu irmão era o tipo de jogador inesquecível. Ele faria tanto sucesso
quanto Tom Bradley, que, ainda aos quarenta e quatro anos seguia
encabeçando a lista dos melhores do mundo.
Por mim ele teria entrado na Walker como Quarterback[5]. É para
onde todos os olhares costumam voltar-se, em geral. E, apesar de saber o
quão capaz ele seria se jogasse na posição mais importante, ficava grato pela
sua bolsa.
— Ele comentou sobre uma ameaça do seu pai.
— Uma ameaça que ele levará a sério se os garotos não tomarem
jeito. Meu pai botou na cabeça que esse ano o título é nosso e eu não costumo
duvidar dele.
Assenti, contente em escutá-lo.
Jackson era uma estrela no futebol americano, Benjamin no basquete.
Eles seriam descobertos e brilhariam.

— Pegou tudo o que precisava? — quis saber, enquanto a moça do


caixa passava o último item.
Benjamin assentiu enquanto aguardávamos a caixa passar os itens que
faltavam.
— Jackson, tem certeza de que não quer comprar nada?
— Tenho — falou, ainda que estivesse olhando algumas meias
flaneladas.
Dei um pequeno chute em Benjamin apontando com o queixo para
Jackson em um pedido mudo para que ele pegasse alguns pares. Eu também
precisava de meias novas e esse não era o tipo de coisa que você
simplesmente decide sair para comprar.
Aproveitamos que Benjamin precisava de alguns itens novos para a
temporada e resolver tudo que precisávamos comprar por um tempo era uma
ideia, sem dúvida, muito boa.
Senti o celular vibrando no bolso, pegando-o apenas para ver uma
foto que alguém enviou no aviãozinho. Retornei às mensagens ignorando
mais uma vez a última mensagem que Leighton havia me enviado
reclamando sobre a expressão em meu rosto quando estávamos juntos, como
se eu não quisesse tê-la lá.
Muito perspicaz.
Decidi que não responder mensagens era uma das coisas irritantes que
um namorado não devia fazer se quisesse manter o relacionamento. Bem, eu
não queria. Leighton não estava exatamente feliz com o que ela chamava de
falta de comprometimento da minha parte. Estava disposto a qualquer coisa
para que aquela garota me deixasse em paz. Talvez eu tivesse que beijá-la
para acelerar o processo. Ela já havia deixado claro que não queria ser
beijada. Eu também não tinha interesse em seus lábios convidativos. Nem na
forma intensa como ela retribuía aos meus beijos.
— Mais esses, por favor — Benjamin entregou os pacotes novos à
caixa com um daqueles sorrisos de quem estava flertando e que sabia muito
bem o efeito que causaria na pobre moça.
Depois de pagar, não demorou para que estivéssemos do lado de fora
da loja. Rindo, entreguei a nota das compras ao Ben.
— Acho que isso é para você — meu irmão sorriu, puxando o papel
de minha mão como se estivesse oferecendo um pote de ouro.
— Fico feliz que finalmente tenha conseguido uma namorada. —
Franzi o cenho encarando-o. — Se não fosse isso, teria ficado com o número
para você.
Sorri.
Teria mesmo.
— Andrew apaixonado. Quem diria. — Jackson riu, maneando a
cabeça.
— Não entreguei pela Afrodite, mas porque a garota claramente
estava dando em cima de você.
Parei, ao notar que passávamos em frente a uma loja de joias. Era uma
pequena tradição nossa, que todos os anos, junto com o presente de Natal eu
desse a Olívia um berloque para que ela pusesse na pulseira que lhe dei
quando fez quinze anos. Na época, todas as suas amigas estavam ganhando
uma e eu sabia que ela jamais pediria, ainda que quisesse muito ter uma
também.
Em geral, eram as mães que presenteavam as filhas. Olívia não tinha
mãe, mas enquanto eu estivesse vivo, sabia que faria de tudo para que minha
irmã tivesse tudo o que desejasse. Não importava o quanto isso me custasse.
— Tão apaixonado que já pensa em oficializar a relação com uma
joia? — Benjamin quis saber.
— Olívia. Ano que vem ela vai para a universidade e eu quero dar um
pingente significativo.
— Você não acha que está sendo muito duro? Olívia só quer que
estejamos juntos uma última vez onde tudo começou — Benjamin
argumentou, parando ao nosso lado, e fazendo com que eu olhasse em sua
direção.
— Onde tudo acabou, você quer dizer.
Ele não respondeu. Por um tempo, ninguém falou nada.
— Ei, aquela ali não é a sua namorada? — Benjamin falou animado
demais com a possibilidade de conhecê-la, já agitando os braços e soltando
uma espécie de assobio.
Trinquei os dentes.
Sabia que em algum momento, meus irmãos iam acabar conhecendo a
garota fora da lanchonete, mas eu tinha esperanças de conseguir fazê-la me
odiar e terminar comigo antes disso. Virei-me, ao mesmo tempo em que,
atraídas pelo som de assobio que Benjamin fazia para chamar a atenção delas,
as garotas olharam para ele. Madison sorriu largamente, dando um cutucão na
amiga, enquanto a outra das meninas que eu não conseguia lembrar o nome
sussurrou alguma coisa.
— É ela mesma. — Jackson apertou os olhos em minha direção,
como se quisesse analisar minha reação. — Não vai chamar sua garota para
nos conhecer?
As meninas pareciam discutir se vinham falar conosco. Leighton,
assim como eu, estava disposta a evitar o momento. Carregavam enormes
sacolas de roupa de grife. Típico de meninas mimadas.
— Onde você vai? — perguntei, ao ver Benjamin caminhar em
direção a elas.
— Se meu irmão não é educado o bastante para nos apresentar sua
namorada, preciso mostrar a ela que nós somos melhores que você. — Deu
de ombros, movendo a cabeça de forma que deixava claro que aquele era um
convite para Jackson também.
Soltei um palavrão, rolando os olhos enquanto os seguia. Refletindo
meus próprios movimentos, Leighton vinha atrás, como se estivesse a
caminho da forca, enquanto as amigas davam passos animados pouco mais à
frente.
O silêncio, quando os dois grupos se encontraram foi um pouco
constrangedor. Quatro pares de olhos pareciam ansiosos nos analisando.
— Ei, namorado — Leighton engoliu em seco, como se pronunciar a
palavra tivesse sido um insulto grande demais.
— Afrodite — respondi, claramente contrariado.
— Espero que não se importe por eu ter roubado sua namorada essa
tarde — Madison interrompeu, dando um leve aperto no braço da amiga, e
movimentando o braço de forma a destacar as sacolas. — Mas eu precisava
de ajuda para umas compras e arrastei as meninas comigo. Aposto que você
vai gostar de algumas coisinhas que compramos para ela.
Leighton ficou sem graça com o comentário sugestivo.
— Se meu irmão não faz as honras, não me importo — Benjamin
sorriu para as garotas. — Benjamin, mas podem me chamar de Ben, e
Jackson. Irmãos do cara mal-humorado aqui. Você é a cunhada. Preciso dizer
que foi uma enorme surpresa descobrir sobre o namoro, em especial porque
só ficamos sabendo junto com toda a universidade, através de um vídeo e
boatos por aí.
— Madison e Chiara — A loira falou e a outra garota acenou
timidamente. — Tenho que dizer que, como melhores amigas, temos a
mesma reclamação. Pelo visto esses dois têm problemas de comunicação.
— Eles devem ser gratos por nós então, porque aparentemente não
temos. O que acham de aproveitarmos esse feliz encontro e irmos comer
alguma coisa?
Antes que Leighton e eu pudéssemos protestar, estávamos sendo
arrastados por entre os corredores até a praça de alimentação, desta vez nós
dois, lado a lado, ficamos para trás.
Seus braços estavam cruzados à frente do corpo. Usava um cardigã
puxado pro rosa, uma calça jeans e coturno preto. Estava absurdamente
atraente. Soltei o ar com força, movendo a cabeça para o outro lado.
— Você podia ao menos parecer feliz ao me ver — falou, irritada.
— Da mesma forma como você está dando pulinhos de alegria? —
rolei os olhos.
— Você é irritante.
— Resolver isso é simples. Só você parar com essa ideia idiota de que
quer ser minha namorada. Patricinhas como você podem comprar o que
quiserem, Leighton, você não precisa de mim para fingir que é interessante.
— Eu não sou uma patricinha — resmungou, como se estivesse
ofendida. Olhei para as sacolas de grife que segurava. — Olha só, você não
precisa gostar de mim, pode pensar o que quiser a meu respeito. Eu não ligo.
Só tem que cumprir o seu papel, Andrew. Preciso de um namorado e você vai
agir como um perfeito apaixonado.
Exigiu, no exato momento em que chegamos à mesa que meus irmãos
e suas amigas escolheram. Deixaram-nos nas cadeiras mais próximas.
Sentamos sob os olhares curiosos e logo após fazermos os pedidos, Benjamin
e Jackson tinham milhares de perguntas para a Leighton. Para meu desespero,
eles pareceram gostar muito da companhia das garotas, especialmente dela. O
que era péssimo. Fato que, claro, só me fez gostar menos daquela garota
enxerida.
Meu humor não mudou. Nem o da Leighton, ao menos quando o
assunto era eu.
— Afinal, como meu irmão não nos conta nada, queria saber como foi
que esse namoro começou — Benjamin falou, pousando o braço sobre a mesa
e virando o corpo na direção da Leighton, mesmo que eu tenha semicerrado
os olhos em sua direção deixando claro que ele não devia tocar no assunto.
Jackson soltou uma risada pelo nariz vendo o quanto Benjamin estava
disposto a cutucar a onça com vara curta.
— Eu dei um beijo nela, e ela se apaixonou — falei, antes que
Leighton pudesse sequer ter a chance de responder.
— Não colocaria as coisas dessa forma. — Ela pousou os cotovelos
apoiados na mesa encarando-me. — Ele me beijou, sim. Um beijo roubado,
preciso informar.
— Do meu ponto de vista, não pareceu nem um pouco roubado você
estava entusiasmada demais com a língua em minha boca. — Ergui uma
sobrancelha em sua direção.
— Enfim, ele me beijou, depois queria mais. — Madison e Chiara
deram um risinho significativo, o que fez com que Leighton ficassem sem
graça. — Beijos. Mais beijos, só para deixar claro.
— E assim ela me forçou a namorá-la. — Dei um sorrisinho de lado.
Isso ela não poderia desmentir.
— Ele prefere chamar dessa forma, já eu diria que é uma troca justa.
— Gostaria de saber onde está a justiça nisso.
— Você tem uma boa namorada. — Ela rolou os olhos como se fosse
uma coisa óbvia.
— E o que você ganha com isso?
Ela sorriu. Foi um daqueles sorrisos em que você sabe que é mentira,
porque os olhos brilharam um pouco.
Para quem nos assistia, era uma garota apaixonada. Mas ela estava me
desafiando.
— Você.
Deu de ombros.
— Desculpa interromper o clima do casal, mas olha isso. — Jackson
interrompeu, virando a tela do celular em minha direção. — Tem uma pista
de patinação aqui. Podíamos ir lá. Faz tempo que não patinamos.
— Você patina? — Leighton perguntou ao mesmo tempo em que eu
negava o convite do meu irmão.
— Se ele patina? — Benjamin riu balançando a cabeça. — Eu achava
que o propósito do namoro era conhecer o outro. Você não conta nada à sua
namorada?
— Acho que ele passa o tempo com ela muito ocupado... algo com
línguas, talvez. — Madison deu de ombros, fazendo com que a amiga ficasse
sem graça.
— Bom, ele não só patina, como poderia fazer isso carregando todos
nós nas costas sem dificuldade alguma.
Ela me olhou com um sorriso leve nos lábios, como se estivesse
impressionada.
— Então que quero ver isso.
— Não. Já está ficando tarde, é melhor irmos para casa. Eu tenho um
compromisso mais tarde.
— Vai sair com sua namorada? — ele ergueu a sobrancelha de forma
sugestiva.
— Vou sair sozinho. O fato de ter uma namorada não quer dizer que
eu só posso sair acompanhado.
Jackson fez um barulho com a boca, como se eu tivesse falado algo
que não devia.
— Ele não tem tato com essas coisas, sabe? Não fala por mal, mas
nunca teve um coração batendo no peito, leva tempo até aprender a
demonstrar os sentimentos — falou, piscando para Leighton. — Ele vai sair
com o namorado oficial. O Malcon. Porém, se ele não quer se divertir, não
podemos fazer nada. Nós que não temos compromisso mais tarde, podemos
aproveitar bem o momento. O que acha?
Meu irmão levantou erguendo a mão para Leighton.
— Ela tem mais o que fazer, Benjamin. Como roubar a vaga de
trabalho de quem realmente precisa. — Olhei para as sacolas ao meu lado no
chão e a encarei em seguida, deixando claro que ela não devia aceitar. —
Vocês tiveram o que queriam, conheceram a Leighton, agora é hora de irmos.
Se ela queria que eu lhe garantisse o status de namorado, eu o faria.
Mas não envolveria meus irmãos nisso mais do que o necessário.
— Eu achava que seus irmãos podiam decidir por eles mesmos. —
Ela sorriu, desafiadora, olhando para meus irmãos. — Se vocês não tiverem
que seguir ordens, eu topo sim. Faz tempo que eu não patino.
— Eles não vão — respondi, irritado.
Quem essa garota pensava que era para achar que podia simplesmente
chegar e me desafiar assim?
Sentados á mesa todos estavam completamente imóveis esperando a
reação dela que apenas sorriu para mim erguendo o olhar para Benjamin em
seguida e levantou-se.
— Como eu disse, aceito o convite.
Trinquei os dentes, assistindo todos ao redor levantaram-se e
seguirem ela e Benjamin que iam à frente como se liderassem o grupo.
— Gosto dela — Jackson falou ao passar por mim dando um tapa em
meu ombro. — Você escolheu bem.
Soltei um suspiro irritado. Ele não podia estar mais distante da
realidade.

— Ah, eu não vou — Chiara, a amiga da Leighton falou quando meu


irmão perguntou o tamanho do seu pé para alugarmos os patins.
— Não gosta? — Benjamin perguntou, franzindo o cenho.
— Não sei patinar. — A garota pareceu envergonhada.
— Claro que ela vai patinar — Madison interrompeu respondendo à
numeração. Antes mesmo que a garota pudesse abrir a boca em recusa, ela
continuou. — Pra você aprender alguma coisa se supõe que você precisa não
saber tal coisa, né?
— Ela tem um bom argumento — Benjamin respondeu, soltando uma
piscada para a loira que rolou os olhos.
— Eu sempre tenho um bom argumento.
Jackson riu, pegando os patins e sentando-se na área anexa à pista
para que pudéssemos trocar os sapatos. Soltei o ar com força, sentando-me ao
seu lado.
— Vocês são uns filhos da puta — reclamei.
— E você não parece nada feliz com esse namoro.
Dei de ombros encarando um pouco os patins. Minhas mãos coçavam
para tê-los sobre meus pés. Para deslizar na pista. A diferença era que não
faria aquilo que mais amava.
O que, de certa forma, me aproximava da minha mãe. Minha maior
incentivadora.
— É injusto que você não tenha conseguido sua bolsa. Sem dúvida
você teria sido a estrela do time e chegaria à liga principal.
— Acontece — falei, enfiando os pés com a habilidade de quem fez
isso muitas vezes desde que praticamente aprendeu a andar. — Vamos logo?
Dei um tapa em seu joelho, levantando-me e seguindo para a pista.
Leighton esperava pronta próxima à entrada enquanto Benjamin e Madison
ajudavam Chiara a caminhar com firmeza até o inicio do gelo.
Assim que pisei no solo gelado senti meus ombros relaxarem como se
um peso houvesse sido tirado de cima deles. Deslizei, sentindo-me outra vez
como o garoto que havia sido um dia e que sabia que era exatamente isso que
queria fazer para sempre.
E, como todo bom Davis, eu era competitivo demais para não ser o
melhor.
Diminuí a velocidade ao passar pelo trio. Madison e Benjamin
estavam virados de frente para Chiada que mantinha os braços erguidos à
frente do corpo como uma criança aprendendo a andar faria. Jackson estava
com Leighton, patinavam com destreza. Ela ria, como se meu irmão tivesse
contado a história mais engraçada do mundo.
Fechei os olhos mais uma vez, distante de todos. Imaginando que
minha vida tinha sido diferente, que eu havia conseguido, que as pessoas me
aplaudiam e gritavam meu nome.
Mas isso era ilusão.
E a ilusão não levava ninguém a nada.
Comecei a diminuir até chegar às laterais da pista. Encostei-me,
observando as pessoas do lado de fora que caminhavam pelo shopping,
sentindo uma enorme vontade de fumar. Ouvi quando o som das lâminas se
chocando contra o gelo se aproximaram.
— Não sabia que você patinava. — A voz de Leighton me alcançou.
Não respondi.
Ela soltou o ar com força parando ao meu lado.
— Isso não precisa ser assim, tá? Nós não precisamos nos odiar
enquanto você está fingindo que sai comigo.
Ri pelo nariz.
Mais silêncio.
— Não teria te pedido isso se não precisasse mesmo, eu juro. — Pelo
canto dos olhos, vi a forma como apoiou os braços na grade suspirando em
seguida. — Eu espero que isso acabe logo tanto quanto você. Mas isso não
quer dizer que precisamos nos odiar, ou ficar brigando até porque isso afeta a
imagem que precisamos passar.
— Me conta — falei, movendo meu corpo em sua direção.
Leighton franziu o cenho, confusa.
— O quê? — quis saber.
— Me conta o motivo. Quero saber o porquê você está me obrigando
a isso. Quero saber se foi uma aposta de garotas que acham que você vai
conseguir me domar.
Ela riu.
— Eu jamais faria isso por uma aposta.
— Mas existe um motivo para que faça.
Vi quando seu pescoço se moveu, mostrando que ela engolia em seco.
— Sim. Existe.
— E qual é? — perguntei outra vez.
Leighton ficou em silêncio por um tempo. Abriu a boca algumas
vezes, fechando-a em seguida. Acreditei que ela não daria resposta alguma
quando a garota soltou um suspiro.
— Não posso contar. Não posso.
— Então não me peça para entrar de cabeça em uma coisa por alguém
que eu nem conheço.
Leighton ficou paralisada por algum tempo. O corpo ficou tenso,
como se tivesse sido temporariamente hipnotizada.
— Me beija — pediu, baixo. Tão baixo que eu achei ter ouvido
coisas.
— O quê?
— Me beija — ela repetiu, mas dessa vez olhando em minha direção.
Ri.
— Você com certeza tem algum problema. Uma hora está falando
comigo sobre as suas regras e então...
Fui obrigado a me calar quando senti seus braços circundarem meu
pescoço, meu rosto ser puxado para baixo e sua boca se colar à minha.
Leighton apenas manteve nossos lábios colados em um beijo
desajeitado. Os dedos, aos poucos, começaram a brincar com os fios da
minha nuca. A respiração resvalou em meu rosto fazendo com que meu corpo
inteiro se arrepiasse.
Antes mesmo que o beijo começasse, ela se afastou por alguns
centímetros e eu permiti apenas para olhar em seus olhos.
— Você pediu um beijo — falei, encarando os lábios convidativos. —
Isso não foi um beijo — sussurrei, fazendo com que a ponta dos nossos
narizes se tocassem.
Dessa vez, segurei seu rosto entre minhas mãos. Seus olhos
demonstravam a expectativa. O olhar preso em meus lábios, desejando o
mesmo que eu.
Puxei-a contra mim, milímetro a milímetro fazendo com que nossos
rostos se aproximassem. Quando estávamos perto o bastante para um beijo,
mordisquei seu lábio inferior a ouvindo arfar e soltar um suspiro. Rocei
nossos lábios de leve. Leighton ergueu o rosto para colar nossas bocas, mas
movimentei o rosto de forma que ela não conseguisse o que queria.
Ela queria me beijar, mas eu queria mais. Queria que Leighton
desejasse esse beijo mais do que qualquer outra coisa.
Aproximei nossos lábios outra vez repetindo o movimento de roçar.
Seu hálito me invadiu. Ela tinha cheiro de chocolate. Irresistível. Ela tentou
aproximar-se outra vez, e, novamente me afastei.
Sorri quando ela murmurou alguma coisa.
— Me beija logo — falou.
— Não sigo suas ordens — retruquei, outra vez com o lábio sobre o
dela. Mas nós dois sabíamos que eu faria aquilo.
Não aguentando mais a expectativa, minhas mãos envolveram sua
nuca deixando seu rosto no ângulo certo para o beijo perfeito.
Começamos com tímidos roçar de lábios, até que os meus, mais
firmes, passaram a mover-se sobre os dela. Leighton arfou e eu aproveitei o
momento para explorar com minha língua a sua boca.
A sua língua quente explorava minha boca assim como eu fazia com a
dela. Ouvia seus gemidos quando fazia algo que ela gostava e tentava repetir
o gesto. Involuntariamente, puxei seu corpo para mais perto do meu. Ela
prendeu meus cabelos entre os dedos como se precisasse disso para manter o
equilíbrio. Seus lábios eram firmes e ávidos.
Ela queria aquele beijo.
Tanto quanto eu.
Beijá-la era diferente de beijar outras bocas. Por um conjunto de
coisas das quais eu não fazia ideia. Acho que havia também uma satisfação
em saber que ainda há pouco estávamos brigando, ela o estava provocando e
agora estava entregue aos meus beijos.
Querendo mais.
Girei nossos corpos de forma que ela estivesse contra a grade
enquanto meu corpo cobria o dela. Apertei sua cintura, ouvindo o som de
aprovação dos seus lábios. Puxei-a mais contra mim.
De alguma forma, eu sabia que precisava de mais daquele beijo.
Precisava aproveitar tudo que ela estava disposta a dar enquanto ainda
queria. Leighton não parecia ter pressa para que nossos lábios se afastassem.
O que me deixou feliz.
Meu corpo precisava de mais.
Mais dela.
Por alguns ínfimos momentos desejei que não estivéssemos em um
local público. Que ela não fosse virgem. Que pudéssemos transar e acabar
logo com esse desejo.
Minhas mãos começaram a fazer uma trilha por seu corpo. Eu a
queria mais perto. Eu queria desesperadamente tê-la. Apalpei sua bunda
ouvindo-a arfar.
Cedo demais ela começou a afastar o corpo e eu soube que aquele
momento havia se perdido para sempre. Ainda me sentindo incapaz de
manter minhas mãos longe de suas curvas, mordisquei seu lábio inferior.
Leighton ficou algum tempo imóvel em meus braços tentando ajustar a
respiração.
Ela não falou nada.
Eu também não.
Meu coração batia estranhamente rápido.
O dela também.
Quando pareceu por fim ser capaz de produzir algum pensamento, ela
olhou através de mim fixamente por alguns segundos exatamente como havia
feito antes de me beijar.
Segui a direção do seu olhar até um garoto de feições que eu
conhecia. Já o tinha visto no campus alguns dias atrás. Os garotos estavam
falando algo sobre ele ter vindo transferido de Harvard.
Por mais distante que ele estivesse, não era possível ignorar os olhos
em chamas. O rosto fechado. Como se não acreditasse no que estava vendo.
Como se tivesse algum tipo de posse sobre ela.
Soltei o ar pelo nariz ao dar-me conta do que havia acontecido. A
garota me havia beijado para provocá-lo, e pela maneira como ele olhava
para nós, ela havia conseguido.
Uma parte de mim ficou enfurecida por ser apenas uma peça, um
brinquedo no jogo de outra pessoa.
— Você pode me ter como seu brinquedo, Leighton. Afinal, garotas
como você pensam que podem comprar o mundo — falei, aproximando meu
rosto do seu. Ela parecia tensa. Parei quando cheguei perto o bastante para o
meu próprio bem. Meu corpo ainda estava cheio de tesão e parte de mim
queria beijá-la de vez. Outra parte queria que aquela garota me esquecesse
para sempre. — Mas não envolva meus irmãos. Você não sabe as coisas que
eu já fiz e as que eu seria capaz de fazer por eles.
Ela piscou, parecendo não compreender minha atitude.
— Mas eu...
— Fique. Longe. Deles. — Passei por ela em seguida.
Eu não permitiria que mais ninguém os magoasse.
Capítulo 18

O passeio de ontem foi um desastre, afinal.


Madison e Chiara não precisavam me conhecer há muito tempo para
saber que aquele namoro era o pior namoro que já haviam visto. Nenhum dos
dois parecia realmente gostar da companhia do outro. Na verdade, segundo
elas, parecíamos mais dispostos a dizimar o outro da faca do planeta Terra.
Minhas amigas não podiam estar mais perto da verdade.
E apesar de não deixaram de destacar o que elas chamaram de
química explosiva entre nós quando nossas bocas estavam entretidas demais
uma na outra, confessaram que achavam que isso não passaria de duas
semanas.
E era sobre isso que eu estava me queixando com Abi.
“Namorar com ele é como namorar com uma porta” respondi a
mensagem que Ab me havia enviado ontem à noite, mas, estava mentalmente
exausta demais para qualquer coisa e acabei apagando.
O dia já havia começado completamente errado.
Acordei mais tarde do que o de costume. Chiara havia saído mais
cedo para um grupo de estudos e apesar de termos conversado um pouco,
voltei a dormir assim que ela passou pela porta e aqui estou eu, atrasada,
caminhando rápido pelo gramado, tentando chegar no horário.
“A porta mais bonita que eu já tive o prazer de ver em minha vida.”
Rolei os olhos.
Enviei uma foto dele para o Ab que virou team Andrew.
Ele vivia dizendo que quem está na chuva é para se molhar, e que não
seria nada impossível aquele homem maravilhoso me deixar molhada no
sentido mais pervertido da palavra.
Andrew e eu estávamos namorando há alguns dias e eu ainda não o
entendia. Sentia que ele não era aquele garoto mal-humorado que aparentava.
Eu o observei com os irmãos. Apesar de querer mandar neles, havia um
grande senso de proteção e responsabilidade. E também havia o Andrew que
patinava. Era como se ele se transformasse em outro. Completamente
diferente do Imbatível.
Apesar da insatisfação, ele ia todas as manhãs, atrasado, até o meu
dormitório e, em seguida, sorria da forma mais fria que conseguia. Eu
entregava meus livros para ele e caminhávamos lado a lado até a porta da
minha primeira aula do dia. Seu atraso nos fazia chegar bem em cima da
hora, algumas vezes até um pouco depois do professor.
Algumas vezes, quando me deixava na sala, ele encostava nossos
lábios em um beijo frio e distante. Na frente de tantas pessoas eu não podia
recusar.
Seria estranho.
Parte de mim, algumas vezes, ficava ansiosa para que ele me beijasse.
Eu jamais admitiria isso. Mas gostava da sensação em meu corpo quando
seus lábios se encostavam nos meus. Algumas vezes o beijo era rápido e leve,
como se fosse apenas uma obrigação a se cumprir. Outras, era como se ele
estivesse com fome. Como se caso não me beijasse, o mundo fosse acabar.
Eu gostava especialmente desses dias.
Fingia estar brava com ele, mas gostava. Tentava me convencer que
isso era para manter as aparências.
Em meio a tudo isso, eu costumava ficar de olho no James. Sempre
que ele estava por perto, agia de forma mais descontraída, fazia questão de
segurar a mão do Andrew, sorria mais. Era óbvio que ele percebia a
mudança, então ele costumava olhar ao nosso redor até que o encontrasse.
Eu me esforçava para continuar tranquila, para manter a respiração
contínua. Ele era esperto, se notasse algo diferente podia descobrir que era
por ele que havia inventado esse namoro. E, embora estivesse parcialmente
cumprindo seu papel, hoje ele não apareceu. Não respondeu nenhuma
mensagem que eu havia enviado também. Depois de sua saída repentina
ontem da pista.
Sem dúvida estava na cama de alguém, o que me fazia ter ainda mais
raiva de mim por gostar da forma como ele me beijava.
Senti o aparelho vibrar em minha mão rolando os olhos para a tela ao
ver que Ab havia enviado uma imagem de alguém lambendo uma tela, em
referência à sua repentina paixão pelo cara que eu obrigava a sair comigo.
“Ele pode ser bonito por fora, mas está fazendo de tudo para me
afastar.”
“Bom, se você está chantageando o cara, é óbvio que ele não vai te
querer por perto.”
“Preciso te lembrar que isso foi ideia única e exclusiva sua?”
Perguntei.
“O que eu quero dizer é que você precisa dar a ele um motivo para
querer fazer isso por você. Ser simpática não vai te matar. Só vai fazer com
que as coisas aconteçam de uma forma mais leve.”
“Eu fui simpática com ele. Até o beijei ontem. E olha só, ele sumiu
hoje! Não preciso ser legal. Preciso que ele cumpra a parte dele e pronto.”
“Vamos voltar aqui para aquela parte em que você diz que o beijou!
Disso eu não fiquei sabendo.”
Eu e minha boca enormeeeee!
Eu estava fazendo um trabalho mediano ao não pensar sobre aquele
beijo. Mediano mesmo. O maldito beijo e as sensações que passaram por meu
corpo permaneceram em minha mente enquanto voltávamos para casa,
enquanto eu me arrumava para dormir, em meus sonhos e foi a primeira coisa
na qual pensei quando acordei.
Eu já o tinha beijado antes. Já tinha gostado dos seus beijos antes.
Não fazia o menor sentido que meu coração parecesse bater mais rápido
quando pensava nesse beijo em específico.
Apesar de ter sido um beijo apenas para que o James visse, também
foi mais intenso.
“Ontem eu e as garotas nos encontramos por acaso com ele e seus
irmãos. Acabamos no shopping, fomos patinar e eu vi o James. Ai eu o
beijei.”
“E gostou.”
“Claro que não, foi só um beijo!”
“Se tivesse sido só um beijo, você teria me contado ontem mesmo.
Teria se gabado sobre como você conseguiu enganar o James beijando seu
namorado de mentira.”
Rolei os olhos ignorando a pontadinha em meu peito que começava a
pensar que talvez ele não estivesse tão errado assim.
“Cheguei na sala. Falo com você depois.”
Guardei o aparelho sem ao menos esperar por sua resposta.
Expirei fundo, abrindo a porta da sala quase vazia. Seria capaz de
apostar que o clima frio era o responsável pela maioria dos meus colegas de
classe estarem quase atrasados. Em dias como os de hoje, nada melhor do que
a nossa cama.
Eu estava especialmente preocupada com a aula de hoje. Era a matéria
que James e eu compartilhávamos. Meu namoro não era a melhor coisa do
mundo e eu tinha certeza de que se eu pretendia que James acreditasse
mesmo em mim, nós precisávamos ser mais convincentes. Andrew, claro,
não colaborava.
Escolhi, estrategicamente, o lugar mais próximo à mesa do professor.
Sabia que James nunca se sentaria de boa vontade aqui. Pelo que eu
conseguia me lembrar da nossa infância, ele sempre reclamava quando os
professores o colocavam bem na linha de frente, como se tivessem culpa pelo
garoto ser uma peste desde que aprendeu a falar.
Retirei meu material da bolsa. O notebook jurássico já estava
começando a ligar, meu caderno onde gostava de fazer as anotações também
aberto na página onde eu havia abandonado a última aula e o coração trêmulo
de quem esperava não ter nenhuma surpresa negativa hoje.
O senhor Rogers entrou na sala nos cumprimentando, o que me
assustou fazendo com que derrubasse uma caneta.
— Droga — murmurei, começando a me abaixar, mas antes que
pudesse fazer isso, uma mão agarrou-a estendendo-a para mim.
— Pode deixar, Boo. — Piscou para mim.
Senti meu corpo tensionar. Ele ergueu a caneta para mim, notando
que não faria a menor menção em pegá-la, apenas a pôs em minha cadeira
sentando-se na cadeira ao meu lado. Comecei a pegar as coisas para levantar-
me.
— Não — falou, prendendo meu pulso com sua mão. — Você não vai
fugir de mim para sempre.
Engoli em seco. Não sabia se pela proximidade, ou por ele ter tanta
certeza de que eu não conseguiria escapar do meu passado vergonhoso.
— Aliás, meus pais mandaram um beijo. Mamãe ficou tão feliz por
saber que você estava bem. Sabe, ela sentiu mesmo a sua falta quando vocês
se mudaram. Você era como uma filha para ela, Boo. Claro que eu e papai
sentimos ainda mais, afinal você era a nossa estrela, e sem nossa atriz
principal, não tinha como dar continuidade aos nossos planos. — Senti a
ponta do seu dedo escorregando pelo meu braço. — Demorou até acharmos
uma garotinha bonita como você, mas ela não era talentosa. Não tinha os seus
cachos, o seu olhar, a sua vontade de ser especial. O que me levanta uma
dúvida: pensei que estaria estudando arte, Leighton. Seu sonho não era ser
uma atriz de sucesso? Trabalhar com crianças? Ouvindo os problemas bobos
que elas inventam? Isso nunca foi a sua cara.
Continuei em silêncio.
— Qual é, Boo, você sabe bem a diferença entre diálogo e monólogo.
— Soltou o ar com força. — Isso tem que ser um diálogo. Ou talvez, você
sabe, todo mundo aqui queira saber sobre as nossas brincadeiras.
Senti meu estômago embrulhar.
— Tenho certeza de que o Andrew não vai ficar feliz se souber que
ando sendo ameaçada. Em especial por uma coisa que eu nem sabia o que
estava fazendo — ameacei, mas minha voz falou.
— Seu namorado? — ele riu dando ênfase a palavra. — Você acha
mesmo que eu acredito nessa história de vocês, Leighton? Sinceramente,
esperava mais empenho em sua atuação. Ter se afastado de nós te fez perder
todo aquele talento, aquele empenho que você tinha.
Meu coração parou de bater por alguns segundos.
Ele sabia que eu estava mentindo. Sabia que meu namoro com o
Andrew não era de verdade. Tentei manter a postura do meu rosto fria,
impassível, mas tinha certeza de que ele podia ler meus pensamentos apenas
por olhar-me.
— Você está errado. Eu estou apaixonada por ele — falei, sentindo o
desespero em minha voz.
— Não se preocupe, Leighton. Vou deixar você brincar mais um
pouco com aquele cara. E não vou me importar que esteja dando para ele. Na
hora que eu disser ação, você vai entrar, novamente, no personagem que nós
criamos. Num mundo só nosso, e então vamos fazer com que você receba o
Oscar que sempre falamos.
— Algum problema, senhor Peter? — o professor Rogers encarou
James ao meu lado seriamente. Olhou rapidamente para a mão dele em meu
pulso, o que o fez me soltar. — Alguma coisa que você queira compartilhar
com a turma?
— Não, senhor — falou com um sorriso encantador, como costumava
convencer sempre as pessoas a fazerem o que era da sua vontade. — Só
estava ajudando a Leighton aqui com o material que havia caído no chão. O
senhor se importa se eu mudar de lugar? Gosto de ter uma visão mais ampla
das coisas — falou, em seguida, tentando mudar o foco da conversa.
Eu sabia o que ele queria. James estava me dizendo que ficaria de
olho em mim. O professor fez um gesto com a cabeça indicando que ele
podia procurar outro lugar. Embora não tivesse mais ao meu lado, eu
conseguia sentir seu olhar pesando em mim. Só notei que havia prendido a
respiração quando meu corpo enviou alertas. Soltei o ar, puxando-o
novamente em seguida.
Sentir o ar entrando nos meus pulmões não me deixou mais relaxada.
Muito pelo contrário. Enquanto James estivesse por perto, eu não poderia
respirar.

— Senhorita Westerwood, pode vir aqui por um minuto?


O professor Rogers chamou, logo depois de ter liberado a turma. A
maior parte dos alunos já havia deixado a sala e eu segui guardando o meu
material lentamente, com medo de olhar para trás e ver James sentado,
encarando-me, como se ele fosse o dono desse lugar.
Assenti para o professor, com medo do que ele podia querer.
Segurando a bolsa já fechada com força, segui para a sua mesa. O homem de
óculos não era nenhum desses professores como os filmes nos fazem querer
acreditar que existem dando sopa por ai, bonitões como aquele assistente em
Legalmente Loira. Só um homem comum, de estatura média e que parecia
cuidar bem da sua saúde, levando em conta que não tinha barriga como
alguns dos outros professores.
— Professor Rogers — falei, ao aproximar-me da mesa.
O homem ergueu o olhar, não para mim, mas para as cadeiras
posicionadas em forma de círculo como se procurasse alguma coisa.
— Você poderia me ajudar com meu material, por favor? — deu um
sorriso como quem se desculpava por me dar esse trabalho.
— Claro!
Comecei a pegar suas coisas na mesa, mas ao invés de sairmos pela
porta principal, a que os alunos costumam entrar, ele me direcionou para a
porta por onde os professores entravam, na lateral da área de onde dão aula.
— Eu queria te perguntar uma coisa, mas precisa ser sincera comigo
— pediu, abrindo a porta para que eu passasse.
Meu coração parou de bater por alguns segundos.
— Na semana passada, notei que assim que o senhor Peter entrou na
aula, a senhorita repentinamente sentiu-se mal — falava devagar, como se
quisesse que eu absorvesse cada palavra do que dizia. Meu corpo gelou
automaticamente. — Eu diria que teve uma crise de ansiedade. Hoje, não me
pareceu confortável ao tê-lo sentado ao seu lado.
Trinquei os dentes ao mesmo tempo em que minhas mãos apertaram
com mais força o material dele que eu trazia em meus braços.
— Não me entenda mal, senhorita Westerwood, mas no meu tempo
de faculdade, foi um inferno conviver com alguns dos meus colegas. Para um
homem como eu, que gosta de outros homens, só Deus sabe o que passei para
conseguir levar meu curso até o fim enquanto as demais pessoas fingiam não
ver o que estava acontecendo — parou de falar por alguns segundos, como se
quisesse se certificar que nós dois estávamos na mesma página. — Eu jurei a
mim mesmo que nenhum valentão se criaria em minhas classes. James veio
transferido de Harvard, conseguiu entrar aqui através de alguns favores que
seus pais prestam à comunidade. Mas eu não confio nele e não gostei do seu
pai quando o vi. Se houver algo, qualquer coisa, que eu possa fazer para
ajudá-la, senhorita Westerwood, quero que saiba que pode contar comigo.
Entendeu?
Assenti, sem palavras.
— Eu sei que, muitas vezes, é difícil contar coisas que nossa mente
pode nos fazer acreditar serem vergonhosas para nós, mas, acredite em mim,
nunca é. — As palavras tranquilas dele pareciam certeiras demais, como se
fosse algo que o próprio pudesse ter vivido.
— Eu agradeço, senhor Rogers — falei, com um sorriso nervoso no
rosto.
— A qualquer momento do dia ou da noite, Westerwood. Se aquele
garoto a incomodar, não hesite em me procurar.
Mais uma vez assenti, engolindo em seco.
— Obrigada, senhor Rogers.
E, naquele momento, podia sentir meu coração se encher de...
gratidão? Felicidade? Ele não me conhecia, não sabia quem eu era, mas
acreditou em mim mesmo sem que eu tenha tido a necessidade de falar nada.
O senhor Rogers, com aquelas poucas palavras, fez por mim muito mais do
que a maioria das pessoas que eu conhecia.
E gratidão era uma das coisas pelas quais eu sempre prezava. Sabia
que aquele gesto ficaria marcado em mim para sempre.
Capítulo 19

— Você não pode fumar aqui — Leighton falou assim que chegou à
mesa onde eu havia sentado. Estava com o bloquinho na mão e a expressão
de quem não estava com a menor paciência.
Para a sorte dela, eu também estava sem disposição para ela.
— Claro que você viria com suas regras.
— As regras não são minhas. São do estabelecimento.
Declarou, erguendo a sobrancelha e mantendo o olhar reprovador
sobre o cigarro. Bufei, soltando a fumaça em sua direção e pondo os pés na
cadeira vazia à minha frente, encarando-a como forma de desafio.
— Eu tenho certeza de que se você transasse não estaria tão mal-
humorada. — Dei um sorriso frio em sua direção.
— Olha só, você transa e não me parece estar com o humor melhor
que o meu. — Devolveu o sorriso. Ela era decididamente a pessoa mais
irritante que eu conhecia. Mais irritante que a Oly, e, até pouco tempo atrás
eu podia garantir que achar alguém pior que minha irmã era uma tarefa
impossível. — Você não apareceu hoje. — Cruzou os braços à frente do
corpo como se cobrasse uma satisfação minha.
Meus olhos imediatamente recaíram sobre seu corpo.
Eu odiava quando ela fazia isso destacando ainda mais os peitos. Eles
davam a impressão de que saltariam pela blusa. E pior, pareciam acenar para
mim, pedindo para que tivessem a atenção que mereciam.
Trinquei os dentes, mudando a direção do meu olhar.
— Achei que tivesse deixado claro que você não me faria de
brinquedo.
Leighton se abaixou um pouco sobre o tampo da mesa.
— Nós temos um combinado.
— Você tem um trunfo — apontei. — Uma porção de fritas e chá
gelado.
Leighton fechou os olhos soltando o ar demoradamente como se
quisesse se acalmar.
— Apaga o cigarro, Andrew — pediu.
— Me obrigue. — Ergui a sobrancelha em sua direção.
Ela abriu a boca para falar algo, mas parou me encarando. Dessa vez
não como se estivesse brava ou algo do tipo, como se realmente prestasse
atenção em meu rosto.
— Você lutou ontem? — perguntou baixo, como se manter o meu
segredo também fosse importante para ela.
Para ela. A garota que estava me chantageando.
— Isso não é da sua conta — retruquei, movimentando meu corpo
completamente incomodado com a sua pergunta.
— Andrew, você está... — parou, franzindo o cenho, como se não
soubesse o que queria saber — bem?
— Como eu disse, isso não é da sua conta.
— Você pode não acreditar, mas eu...
— Você está certa. Eu não acredito — falei, levantando-me. — Sabe
de uma coisa, cuida da sua vida.
Ela olhou em volta notando que as pessoas ao nosso redor prestavam
atenção na cena. Os olhos assumindo um brilho de quem estava prestes a
chorar.
— Por favor, fala baixo — pediu, com a voz falha, movimentando um
pouco a mão como se pedisse para que eu baixasse o tom e dando um passo
em minha direção.
— Não preciso de ninguém perguntando nada sobre mim ou achando
que pode me controlar, Leighton. — Aumentei ainda mais o tom. Seus olhos
se encheram de lágrimas, como se estivesse de fato decepcionada com minha
atitude. — Continua aí com essa sua cara de boa moça, fingindo que precisa
desse trabalho só para torrar em roupas de grife. O quê? A mamãe cortou seu
cartão porque não passou em Harvard? Tem gente no mundo com problemas
maiores que o seu.
Ela piscou, confusa. Eu passei por ela e nossos ombros se esbarraram.
Senti quando seu corpo cambaleou, mas não me importei.
Caminhei em passos firmes até a porta.
Sabia que os olhares de todos estavam em minha direção. Não olhei
para trás. Não olhei para ela. Saí, tendo a certeza de que agora, sem dúvida,
ela não ia mais querer saber de mim. E não me restavam dúvidas de que
Leighton não contaria sobre a nossa professora para ninguém.
Eu precisava bater em algo.
A noite ontem foi insana. O casarão nunca estava tão cheio e a grana
que eu ganhei daria para pagar minha mensalidade e os custos extras por,
pelo menos, três meses.
Costumava gostar que Malcon me acompanhasse. Mas não ontem.
Não depois daquele beijo. Depois de perceber que aquela garota maldita tinha
mesmo um plano. De sentir alguma coisa me incomodando por saber que
aquele beijo foi apenas um teatro para outro cara. Que eu estava sendo usado.
Fechei as mãos em punho, nervoso.
Eu já havia sido usado antes. As garotas caiam aos montes em minha
cama e disputavam a minha atenção para se tornarem, de alguma forma,
conhecidas. Para poder dizer que eram boas o bastante para serem escolhidas
por mim. Nós dois tínhamos benefícios, nesses casos. Mas eu não aceitaria
ser usado por ela. Não aceitaria que ela fizesse com que eu acabasse sendo o
cara passado para trás.
Isso não.
Uma chuva de assobios e palmas começou quando passei pela porta
da sala de musculação da universidade pegando-me desprevenido.
Era aqui que todos os jogadores, de todos os times, malhavam.
Exatamente por isso os atletas da universidade eram muito unidos. Apesar
das brigas que rolavam ocasionalmente, eles faziam as atividades físicas
juntos, o que também nos dava um tempo para fazer o que sabíamos melhor,
falar de bundas e peitos.
A sala foi liberada para uso apenas ontem. Algumas mudanças
estavam sendo feitas a pedido dos treinadores que queriam modernizar alguns
aparelhos.
Embora eu não fosse atleta universitário, uma das primeiras coisas
que Benjamin pediu ao seu treinador, foi que eu tivesse livre acesso, como os
demais jogadores, pois havia sido uma espécie de técnico para ele por toda
vida.
— É assim que vocês querem vencer os jogos? — perguntei, com a
expressão séria, vendo meus colegas que, ao invés de malhar, estavam
agrupados fofocando.
— Isso nós faremos com facilidade, mas não é todo dia que vemos o
novo bom garoto da Walker. — Benjamin devolveu, levantando-se. — Soube
que muitos corações foram partidos com esse inesperado compromisso.
Ben estava na área de treino de pernas. Estava suado pra caralho, o
que significava que contrariando meu argumento, ele estava mesmo treinando
há algum tempo.
— Vai se foder, Ben. — Rolei os olhos para o drama.
— Vocês não ficaram sabendo mesmo que ele estava saindo com a
garota? — George Lair encarou para meu irmão aguardando uma resposta.
— Soubemos no aviãozinho, junto com a universidade inteira —
reclamou, como se fosse um gesto grave de traição. — E não a teríamos
conhecido se não fosse um acaso do destino que fez com que a garota
estivesse no lugar certo e na hora certa. Ele é o pior irmão.
Hora errada e lugar errado, quis dizer.
Eu odiava mentir para meus irmãos. Nós tínhamos nossos segredos e
fantasmas. Eu sabia disso. Mas enganá-los deliberadamente, não. Não me
sentia bem fingindo com eles. Nós passamos por tanto. É difícil enganar as
pessoas com as quais você viveu os piores momentos da sua vida.
Benjamin não havia superado o fato de não ter mencionado que havia
começado a namorar. Assim como também não superava o fato de que eu
deixei claro que ele devia manter distância da garota logo depois que
chegamos em casa ontem. Benjamin sempre foi a pessoa em quem eu mais
confiava, e manter essa parte de minha vida distante dele devia soar como
uma espécie de traição.
Meus irmãos não estavam convencidos sobre o meu relacionamento, e
não podia culpá-los. Leighton e eu não nos dávamos bem. Não havia a menor
possibilidade de alguém acreditar naquela merda.
— Não fui eu quem furei sua bola de basquete — retruquei,
lembrando-o de uma briga que teve com Jackson, certa vez, e, para vingar-se,
nosso irmão rasgou sua bola preferida.
Ele deu de ombros.
— Jackson ficou dois meses sem mesada e eu ganhei uma bola bem
melhor com a grana dele.
— E não fui eu quem escondeu uma namorada — gritou Jackson, ao
longe. Apertei os olhos na direção de onde vinha a sua voz, já que nem o
havia visto.
Ele estava fazendo flexões, próximo à parede mais escondida da área.
— Tá, mas fala, o que essa garota tem que conseguiu fazer você olhar
para ela e pensar “é isso, quero foder só essa boceta.” — um dos caras do
time de lacrosse perguntou, enquanto escolhia que sessão faria.
— Sua resposta está implícita. Ela tem uma boceta de ouro, sem
dúvida — George gritou novamente.
Se eles soubessem que esse é um namoro de mentira sem nenhuma
diversão, estariam me levando ao manicômio.
E, embora ela não fosse absolutamente nada para mim, pareceu errado
falarem sobre a garota. Ela teria enlouquecido se soubesse que, como ela
mesma diria, as suas partes, estavam sendo citadas no meio de todos esses
imbecis.
— Não quero ouvir nenhum dos babacas falando sobre a boceta da
Afrodite. — Usei o tom mais alto que consegui para que o aviso chegasse a
todos.
— Isso só prova que o chá foi bom — Kevin, do Lacrosse, falou.
— Pra ser sincero, eu acho que esse namoro não dura nem até o final
do dia — George interrompeu. Ele estava correndo na esteira. Tirou a toalha
já meio molhada do ombro passando-a no rosto.
— Eu concordo. — Outro garoto de quem eu não lembrava o nome
concordou, enquanto usava o aparelho de pernas. — Ouvi dizer que os dois
fizeram uma ceninha agora lá no Women’s.
Meio que sorri vendo que meu objetivo estava funcionando. Com esse
boato circulando, eu tinha certeza de que ela enfim me deixaria em paz.
— Não sei de onde surgiu a ideia de que o Andrew era um bom tipo
para namorar. — Fleen, do basquete, me olhou com uma expressão divertida.
— A garota, coitada, nem imagina que na primeira oportunidade vai ganhar o
maior par de chifres já visto na história da Walker.
— Se o plano dela era entrar para a história, vai conseguir. — O cara
de quem não lembrava o nome concordou.
— Eu acho que eles nem devem mais estar juntos — Fleen ficou de
pé com os olhos fixos na tela do celular. — Lá no aviãozinho estão dizendo
que o Andrew gritou com a garota e que ela precisou sair de lá e se esconder
em algum canto. Segundo as fontes, ela estava chorando.
Senti uma coisa estranha no peito. Não era o bem feito que eu estava
esperando. Os garotos emitiram um som de descontentamento quando Fleen
contou da briga.
— Vão cuidar da porra da vida de vocês! — falei, firme, com o
maxilar trincado. Benjamin me encarava como se eu fosse um idiota por ter
magoado a Leighton, e, naquele momento, sob o olhar julgador do meu
irmão, me senti um. Balancei a cabeça em negativa, com o maxilar trincado.
— Nós dois só precisamos nos adaptar.
— Ou outro alguém vai se adaptar antes. Ouvi dizer, de fontes
seguras, que um cara que faz a aula de saúde mental com ela parece estar
marcando território só esperando o bonitão aí pisar na bola. — Jhonan Clark,
também do hóquei, apontou.
— Que cara? — O tom gélido assustou até a mim mesmo.
Será que era o mesmo do shopping?
— O garoto de Harvard. — Deu de ombros.
Soltei o ar com força dos pulmões.
Era ele.
— Tá preocupado, Andrew? Não gosta de concorrência?
Kevin brincou, fazendo com que minha raiva apenas aumentasse. Eu
precisava mesmo quebrar a cara de alguém, porque não a dele?
— Nem adianta se estressar, cara. Você é o tipo que manda bem com
uma mulher na cama, Andrew. Fora dela, fala sério. Precisa reconhecer suas
limitações. — Outro cara, um dos amigos do Benjamin, também concordou.
— Não é à toa que a Lorrana vive para fazer propaganda negativa sua por
onde quer que eu vá.
— A Lorrana queria um namorado, não uma transa — defendi-me.
— E, pelo visto, a sua garota acha que pode ter um namorado
também. — George riu, ficando com uma expressão séria em seguida. —
Espera, cara. Ela tá grávida? Vocês transaram, e a boceta dela era tão boa que
você esqueceu a regra de ouro? É por isso que está metido nessa palhaçada?
Expressões de puta que pariu, merda, aí é foda e outras variações
começaram a ser ditas. Mas a maioria dos caras apenas começou a olhar em
minha direção esperando a resposta.
Podia sentir, em especial, os olhares preocupados dos meus irmãos.
Melhor que ninguém eles sabiam que eu jamais fugiria da responsabilidade
de criar alguém. De dar o meu melhor por esse alguém.
— Ela não está grávida. — Precisei morder a língua para não contar
que ainda não transamos.
— Melhor assim. Mas, como eu disse, isso não dura até hoje à noite.
Apostei duzentos dólares nisso e agora sabendo que tem concorrência e que
você foi estúpido com a garota em público é ainda mais fácil perceber que o
gostosão aí vai ser trocado pelo bom moço misterioso. — Um dos caras
piscou para mim antes de voltar a se concentrar em sua sessão.
Abri a boca para dizer que eu não seria trocado por ninguém, mas
pisquei, prestando mais atenção em suas palavras.
— Como é? — quis saber, quando enfim compreendi o que quis
dizer. — Você apostou na porra do meu relacionamento?
— Nós todos, cara. — Fleen assentiu orgulhoso. — Tá rolando uma
aposta pela universidade inteira. Calouros, veteranos, todos os caras da
Walker University que conhecem a sua fama de malvadão destruidor de
corações.
Isso me deixou puto.
Muito puto.
Tinha certeza de que conseguiria quebrar a cara de todos eles.
De vez.
— Vocês não têm nada mais interessante para fazer, tipo transar ou
ganhar as porras das partidas de vocês? Precisam mesmo cuidar da minha
vida sexual? — perguntei, irritado.
— Cara, nós até temos coisas para fazer, mas nada tão interessante
quanto saber o tempo em que você vai levar pra foder com a cabeça dessa
garota. Especialmente depois de ter dito que ela é o tipo que quer casar. —
George parecia animado demais — Eu, particularmente, apostei que você não
aguentaria ficar sem enfiar o pau em outra garota até o sábado, na festa da
fraternidade Ukey. Por favor, apostei trezentinhos, então não me decepcione.
— Vocês todos são homens de pouca fé — Malcon falou. Finalmente
alguém em minha defesa. — Eu acho que ele vai aguentar três meses.
Estatísticas afirmam que três meses é o tempo que se leva para uma paixão
acabar. Eles vão transar feito coelhos por três meses, o Davis ali vai perceber
que não está apaixonado de verdade e que toda a novidade do sexo está
acabando, logo depois vão terminar e não vai ser traumático porque os dois
estarão muito satisfeitos para brigarem um com o outro.
— Pensei que você fosse meu amigo, filho da puta! — Encarei
Malcon com os braços cruzados.
— Se eu fosse você não ia querer saber o tempo que seus irmãos
apostaram, então. — Minha cabeça virou na direção de Benjamim que deu de
ombros.
— Três semanas — confessou, com uma expressão culpada no rosto.
Encarei Jackson pelo espelho em frente ao local onde fazia suas
flexões.
— Eu não apostei em porra nenhuma. Seu namoro, você quem sabe
— suspirei aliviado. Pelo menos alguém se salvava. — Mas se tivesse que
apostar, diria que algo em torno de duas semanas. Você devia entender isso
como um elogio. Se tivesse que apostar no Benjamin, diria que ele não
aguentaria nem mesmo um dia.
— Ei — meu irmão gritou de algum canto.
— Então, todos vocês, filhos da puta, acreditam que eu não sou capaz
de manter um namoro e estão apostando dinheiro nisso? — questionei,
irritado.
— Desculpa cara, são só negócios. Eu tenho muitas despesas
universitárias, qualquer ajuda financeira é uma alegria enorme. — Fleen deu
de ombros como se precisasse de ajuda e o outro cara, o que eu não lembrava
o nome, concordou acenando.
— Sabe de uma? Eu é que vou ganhar o caralho dessa aposta. Vou
provar a todos vocês que eu e a Afrodite temos futuro — retruquei.
— Desculpa, mas o nome da sua gata não é Leighton? — Alguém
quis saber e não consegui identificar a voz.
Os caras riram como hienas com dor de barriga.
Filhos da puta.
— Afrodite é o apelido que eu dei a ela. — Rosnei. — Mas vocês não
entendem isso porque não têm a porra de uma namorada.
— E... tem até apelido. — George implicou e os caras assobiaram, me
fazendo rolar os olhos. — Pena que vai usar por pouco tempo.
— Eu vou provar a vocês que posso namorar sério e fazer uma garota
feliz.
— Essa eu pago pra ver — Michel Drudol do tênis ergueu uma nota
de cem dólares.
— Vocês estão com inveja porque vão ter que implorar pra foder
garotas bêbadas enquanto eu tenho uma pessoa que gosta de mim. — Dei de
ombros. — Vocês ainda têm muito o que aprender, filhos da puta.
— É, gente, em uma coisa ele está certo... Ninguém aqui tem uma
namorada, e alguém precisa ser um bom exemplo, porque se tivermos que
aprender com o Davis como tratar uma mulher, estamos fodidos. — George
riu, me tentando a contar que devia perguntar à mãe dele se ela tinha algo a
reclamar, porque quando eu a fodia, eram só pedidos para que eu não parasse.
Mas seria cretino na minha parte fazer uma coisa dessas.
— Vocês são todos uns fodidos mesmo. — Mostrei o dedo do meio.
— Eu vou fazer algo mais produtivo, porque isso aqui está fedendo a suor e a
gente filha da puta. — Semicerrei os olhos para eles por um instante,
deixando a sala em seguida.
Então era isso que os caras pensavam de mim?
Eles achavam mesmo que eu não era capaz de manter uma relação
séria por algum tempo?
Pois eu ia mostrar a eles que estavam errados.
Já que eu estava preso nessa porra de relação mesmo sem querer, eu
faria com que aqueles filhos da puta engolissem cada uma de suas palavras.
Eu seria o namorado mais perfeito que a Ivy League já viu. E o primeiro
passo era procurar no Google o que um bom namorado faz para pedir
desculpas à garota que, com certeza, não quer vê-lo nunca mais.
Capítulo 20

— Transferência? — A mulher sentada na cadeira à minha frente


questionou.
— Sim, senhora — assenti enquanto falava, querendo que ela
compreendesse que eu estava falando sério.
— Você quer pedir transferência para uma universidade menor e que
não integra a Ivy League?
— Eu sei que parece loucura, mas...
— Bom, ainda bem que você sabe que parece loucura. — Ela cruzou
os braços, apertando um pouco os olhos em minha direção.
— Eu sei que os primeiros meses são mais difíceis com a adaptação,
uma vida nova e muitas decisões que precisam ser tomadas, mas posso lhe
garantir que todas essas inseguranças serão esquecidas em breve.
Eu sorri.
— Não estou insegura, ou com saudade de casa nem nada do tipo.
Só... Eu descobri que sonhei por anos que esse seria o meu lugar e que aqui
eu realizaria meus sonhos e, no fundo, não é bem isso.
— Criança. — A mulher, Cindy, de acordo com seu crachá, tirou os
óculos me encarando com ternura. — Se você ainda quiser tentar a
transferência em quarenta e oito horas nós duas podemos sentar e resolver
isso. Mas você tem que entender que isso deixará uma marca enorme no seu
currículo acadêmico. E eu estou te avisando, porque o seu futuro vai
depender disso também.
Assenti apenas para ser educada. Eu sabia que em quarenta e oito
horas nada ia mudar.
Não fazia mais propósito continuar fingindo com o Andrew.
Especialmente porque o destino gostava de rir da minha cara e colocar as
pessoas erradas nos lugares mais errados ainda. Então, claro que James estava
lá, parado no balcão observando a forma como Andrew surtou no meio da
lanchonete.
Eu devia matar o Ab por ter tido essa ideia estapafúrdia.
Teria sido melhor ir embora assim que ele apareceu por aqui. Eu teria
sofrido, mas com certeza seria menos do que agora. Eu havia mesmo
acreditado que isso poderia dar certo, mas a vida não é um desses filmes
românticos onde dá tudo certo no final e os personagens dançam felizes.
Eu perderia pessoas que eu amava, perderia meus sonhos. Sentia-me
devastada por dentro e sem forças para tentar mais nada.
No fim das contas, não adiantava nada ficar sofrendo. Tinha que
aproveitar meus últimos momentos com minhas amigas.
Eu realmente confiei que essa coisa com o lutador fosse dar certo,
mas só tornou tudo ainda pior.
Eu esperava não vê-lo nunca mais em minha vida.

— Leighton, espera. — Ouvi, ao longe, uma voz conhecida. Mas não


dei atenção. Sem dúvida era uma coisa da minha cabeça.
Tinha acabado de sair do setor estudantil e caminhava observando o
espaço ao meu redor. As paredes, as árvores, as pessoas caminhando
despreocupadas, a alegria de ter começado a realizar esse sonho. Tudo isso
contrastava com o imenso vazio dentro do meu peito ao saber que eu estaria
deixando tudo para trás em breve.
Mas a voz continuou chamando-me. De novo e mais uma vez até que,
por fim, me alcançou.
— Leighton — Andrew falou, segurando meu braço com firmeza. —
Temos que conversar.
Eu ri pelo nariz.
— Não. Não temos mais absolutamente nada para conversar —
respondi, puxando meu braço.
Não adiantou nada, ele segurou um pouco mais forte.
— Eu sou seu namorado, esqueceu?
Fechei os punhos, apertando o maxilar com força ao mesmo tempo
em que sentia meu corpo começar a tremer de raiva.
— Você só pode estar brincando com a minha cara — foi a única
coisa que consegui responder. — Se você acredita que eu ainda penso em
continuar essa mentira, deve ser sinal de que essas lutas estão te fazendo mal.
Sua cabeça está ficando confusa. Eu quero que você vá para o inferno,
Andrew. Você conseguiu o que tanto queria.
Puxei o braço com mais força até que estivesse livre e virei-me.
— Me desculpa. — As palavras saíram da boca dele tão rápido que eu
não tive certeza de que havia ouvido certo. Não dei atenção seguindo em
frente, mas ele me parou, segurando meus ombros. — Eu dei a minha palavra
de que faria as coisas certas e tenho sido um babaca com você.
— Não me diga! — rolei os olhos. — Você só percebeu isso agora?
— Eu quero fazer as coisas certas dessa vez. Quero cumprir a minha
parte no acordo.
— Da chantagem, você quer dizer.
Ergui a sobrancelha em sua direção.
— Não importa como isso começou... — ele suspirou como se
estivesse derrotado. — Olha só, eu não sei quais são os seus motivos para
fazer isso, você não precisa me contar se não quiser, mas eu estou disposto a
tentar fazer dar certo dessa vez.
Soltei o ar pelo nariz em uma risada sem graça.
— Você precisa ir ao médico. Com certeza te bateram muito forte
ontem.
— Eu estou falando sério. Juro.
Bufei, passando as mãos pelo rosto.
— Não preciso mais de você, Andrew. Vou solicitar minha
transferência. Acabei de sair do departamento e daqui a dois dias darei
entrada no processo. Vai ser melhor assim.
Por alguns instantes ele não falou nada, apenas me encarou parecendo
tentar compreender porque alguém deixaria a Walker. Depois ele trincou o
maxilar com o olhar mais duro.
— Você não vai sair daqui — falou, determinado. — E nós não
vamos terminar.
Dessa vez não era uma sugestão, um pedido ou algo assim. Ele estava
determinando algo. Eu queria essa determinação antes. Antes de um milhão
de alunos verem como ele é um babaca e que essa porcaria de mentira não
tinha dado em nada. Agora não precisava mais dele.
— Nós já terminamos. Como eu disse, não preciso mais de você.
Pode voltar a ser feliz não fazendo amor com todas as garotas que quiserem.
Sorri, dando as costas.
— Eu posso fazer isso — falou, me alcançando. — Posso fazer com
que as pessoas acreditem que eu sou completamente apaixonado por você e...
— Não adianta mais. Eu não quero mais. Ninguém vai acreditar nisso.
Especialmente depois de você ter sido um babaca hoje. Às vezes, o melhor
que podemos fazer por nós mesmos é desistir. — Dei de ombros, triste.
Eu não queria desistir. Queria ficar. Queria mais do que tudo ficar.
Tentei passar por ele, mas Andrew ainda me manteve presa.
— Se eu conseguir? — a voz dele estava estranha. Tinha algo como
expectativa.
Eu não podia me dar ao luxo de sonhar que daria certo outra vez,
ainda que meu coração tivesse balançado com a possibilidade.
— Você não vai — falei.
— Eu sou um Davis, Afrodite. — Ele deu um passo em minha direção
ficando um pouco mais perto. — E se existe uma coisa que você precisa
saber é que não desistimos mesmo quando todas as probabilidades estão
contra nós. Você tem dois dias. Me deixa, nessas quarenta e oito horas
mostrar ao mundo que Andrew Davis está completamente apaixonado. Juro
que até você vai acreditar em mim.
Mordisquei o lábio.
James já sabia que eu estava mentindo, não havia nenhum motivo
para não acabar logo com isso e aceitar de uma vez por todas que o melhor
era manter distância dele.
Abri a boca para negar.
Não consegui.
E se ele realmente conseguisse? E se ele fosse capaz de fingir para as
pessoas que gostava de mim? Se eu não precisasse ter que sair correndo? Eu
poderia conseguir concluir meu curso, poderia continuar em um lugar onde
sempre sonhei e com pessoas que eu amo.
Mordi com força meu lábio inferior.
— Porque você repentinamente quer fazer isso? — perguntei. —
Você devia estar dando pulinhos de alegria depois de conseguir exatamente o
que planejava desde o princípio.
Andrew ficou algum tempo em silêncio, como se estivesse
encontrando algo que justificasse essa mudança.
— Eu só percebi que não estava sendo justo com você. — A
expressão em seu rosto era de tranquilidade, como se estivesse falando sério.
— E agora você se preocupa com a justiça no mundo? Vai me dizer
que acredita em Papai Noel também? — Soltei o ar pelo nariz, finalmente
entendendo tudo. — Não precisa se preocupar, não vou contar ao mundo os
seus segredos. Nunca faria isso mesmo que você tenha se comportado como
um completo babaca.
— Eu sei que não vai — a forma como falou foi tão segura, que não
sabia dizer se era uma ameaça, ou se apenas acreditava em mim. Andrew
apertou os dentes com força antes de continuar. — Você parece ser o tipo de
pessoa que cumpre sua palavra. Não sei o motivo para que você tenha pedido
um estranho em namoro, mas eu estou disposto a ajudar.
— Se você quer fazer isso, preciso que seja sincero. O que te fez
mudar de ideia? — perguntei, cruzando os braços na frente do corpo e
mantendo uma postura determinada.
Andrew levou um tempo para pensar antes de finalmente responder.
— Se nós não estivéssemos sendo sinceros um com o outro, eu diria
que é porque não gosto de dever favores a ninguém.
Assenti.
— Mas como estamos... — deixei a frase morrer, esperando que ele
completasse.
— Se fosse minha irmã no seu lugar, eu gostaria que independente
dos motivos dela, tivesse encontrado alguém menos babaca que eu.
— Você tem uma irmã? — meus olhos se abriram e um sorriso
começou a se formar em meu rosto.
— Olívia. Oly. — Foi quase imperceptível, mas os cantos dos lábios
se moveram de forma automática em um curto sorriso. — Ela é a nossa
caçula e nunca conseguimos dizer não a ela. Oly quer ir para Yale ano que
vem, e pensar nela sem a nossa proteção me incomoda. Talvez exista alguma
lei do retorno no mundo. Talvez se eu fizer uma coisa legal por você, alguém
possa fazer algo por ela também, caso ela precise. — Ele deu de ombros e eu
quase sorri.
Mordi a parede interna da boca analisando-o.
— Isso foi fofo — falei, por fim, vendo como aquela muralha pareceu
sem graça com o elogio.
— Esse é o momento em que você retira o que disse. Eu não sou fofo
— falou incomodado.
— Claro que não. O cara que não faz amor, não pode ser fofo.
— Isso. — Deu um pequeno passo em minha direção e o ar ficou
estranhamente mais pesado. Havia uma intensidade nele. — Eu fodo, não sou
fofo. — Cruzou os braços com uma expressão engraçada no rosto.
Fiquei um pouco sem graça, como sempre, com a sua escolha de
palavras, mas esbocei um pequeno sorriso, gostando da provocação.
Continuei mordendo a boca, enquanto o encarava. Talvez, se nos
próximos dois dias ele conseguisse surpreendentemente convencer as pessoas
que gostava de mim e com isso afastasse James, eu teria mais tempo para
pensar no que fazer sem precisar ir embora.
— E então, podemos continuar namorando? — Parecia saber
exatamente o que eu estava pensando ao soltar as palavras.
— Acho que vale a pena fazermos mais um teste. Mas cabe a você
fazer com que as pessoas acreditem nisso.
— Posso fazer qualquer um acreditar no que eu quiser. — Piscou para
mim.
— Você realmente acredita que tem um potencial muito grande, não
é?
Vi quando seu lábio se curvou em um meio sorriso, daqueles que os
caras dão quando pensam em sacanagens.
— Tem outra coisa muito grande que podia fazer com que você
relaxasse um pouco, Afrodite.
— Você sempre leva todas as conversas para o lado sexual? —
perguntei, olhando as pessoas e tentando me garantir que ninguém nos havia
ouvido.
— Sim. E se você vai ser minha namorada, acho bom se acostumar
com isso. Afinal, não existe nada melhor que...
— Ai, por favor, não completa essa frase. — Gesticulei com a mão,
em um pedido de pare.
Andrew sorriu.
Eu sorri.
É, talvez, se nós dois baixarmos as nossas armas, isso pudesse mesmo
dar certo.
— Então, agora eu preciso que confie em mim e siga em frente, como
se estivesse irritada.
— Não é exatamente o contrário disso que queremos? Que as pessoas
pensem que estamos bem? — perguntei, confusa.
— Vai por mim, se você quer que acreditem, eu sei como fazer
funcionar.
Ergui o rosto como se estivesse chateada e virei-me em seguida. Parte
de mim ainda não acreditava nele. Em que ele realmente cumpriria sua
palavra. Ele esperou alguns segundos antes de gritar meu nome. Ignorei-o.
— Leighton, por favor, espera — gritou outra vez, atraindo olhares
em nossa direção. Parei, sentindo meu coração retumbar no peito. As pessoas
estavam olhando. Ele estava mesmo fazendo aquilo para que acreditassem na
história e eu ainda não conseguia entender o motivo pelo qual ele havia
decidido voltar atrás. — Me perdoa! — Falou alto, caminhando
apressadamente até mim. Ainda não havia virado em sua direção. Senti
quando seus dedos tocaram a pele do meu braço, ele me virou-me de forma
desesperada e gentil ao mesmo tempo. — Eu fiquei com ciúmes e por isso fui
um babaca hoje pela manhã.
Andrew segurou meu rosto entre suas mãos frias e cheias de calos.
Olhava com intensidade nos meus olhos e, merda, ele estava falando sério
quando disse que qualquer pessoa acreditaria nele. Eu podia acreditar nele.
Ele moveu a cabeça de forma quase imperceptível, como se quisesse
que eu embarcasse naquela atuação.
— Você não pode agir como um babaca sempre — falei, também
usando um tom mais alto do que o necessário já que ele estava perto o
bastante.
Minhas pernas tremiam. Estava nervosa com a quantidade de pessoas
que haviam se aglomerado para assistir a cena que protagonizávamos.
— Eu sei — ele falou usando um tom mais suave, porém alto o
bastante para que as pessoas continuassem nos ouvindo. — Mas eu não sei
como agir com você. Não sei como agir com você porque eu nunca me
apaixonei antes, Leighton.
Engoli em seco.
Coração batendo forte.
Era mentira, minha mente gritava. Só encenação.
Mas meu coração ainda assim batia descompassado.
Talvez tivesse a ver com a forma intensa com a qual ele me olhava.
Com a maneira como seus olhos caiam sobre meus lábios.
Sobre como ele umedeceu os próprios lábios antes de fixar o olhar em
meus olhos outra vez.
Eu era uma idiota mesmo.
— Não vou permitir que você me trate dessa forma, Andrew — falei,
resoluta, ainda sentindo um turbilhão de coisas dentro de mim.
— Eu sei. Você não deve mesmo permitir isso. Me desculpa,
Afrodite. Eu prometo que nunca, jamais vou me comportar assim outra vez.
As pessoas ao nosso redor começaram a gritar. Pedidos para que eu o
perdoasse. Eu queria olhar ao redor, mas Andrew moveu um pouco o polegar
fazendo um carinho em minha bochecha capturando a minha atenção de
volta. Como podia dois minutos atrás eu estar decidida a nunca mais vê-lo e
agora meu corpo conseguir reconhecer seu toque com tamanha familiaridade.
Como meu corpo podia querer que ele me beijasse?
Minha cabeça era a única coisa que funcionava bem em mim, porque
meu corpo, esse traidor, estava completamente entregue e a espera do beijo
que selaria essa farsa.
Pisquei, lembrando-me de que eu precisava atuar.
Dei um pequeno sorriso, passando minhas mãos por seus braços e
sentindo os músculos de se contraírem um pouco, tornando-se mais firmes,
até que estivessem enlaçando seu pescoço.
— Você não precisa ter ciúmes de ninguém, Andrew. Eu também
estou apaixonada por você. Então, vamos precisar aprender a lidar com isso
juntos.
Andrew colou nossas testas fazendo com que nossas respirações se
misturassem. O hálito de menta também resvalava em meu rosto. Eu ri,
sentindo cócegas. Andrew nos manteve nessa posição por alguns segundos,
depois afastou nossos rostos e seu olhar caiu em meus lábios. Suas pupilas se
dilataram um pouco. O polegar seguia fazendo carinho em meu rosto e meus
dedos brincavam com os fios em sua nuca.
Fechei os olhos sabendo o que iria acontecer. Sabendo que era
necessário. Mas, principalmente, sabendo que uma pequena parte de mim
queria aquilo.
No instante seguinte seus lábios estavam sobre os meus.
Não houve gentileza.
Era um beijo de desespero. Como um casal que não se via há anos e
agora precisava matar a saudade ao perceber que estavam afastados por
bobagem e que perderam uma infinidade de tempo juntos.
Uma de minhas mãos deixou sua nuca firmando-se em seu ombro ao
mesmo tempo que o senti me envolver pela cintura puxando meu corpo com
desespero para mais perto do seu.
Gemi com o contato intenso de nossos corpos. Gemi ao sentir o
volume que se formava e intensificava ainda mais. Gemi quando seu lábio
abandonou minha boca beijando minha clavícula.
Meu corpo pareceu amolecer e cada segundo daquela proximidade ele
parecia mais entregue.
Andrew podia ter seus defeitos, mas em uma coisa ele estava certo.
Ele parecia ser o tipo de cara que sabia como ninguém satisfazer uma
mulher. E, naquele exato instante eu me peguei pensando em como seria estar
com ele em uma cama.
O pensamento me assustou e acho que ele percebeu, pois nos afastou
um pouco olhando mais uma vez em meus olhos.
Ele piscou dando um sorriso de lado e colando nossos lábios mais
uma vez, mas apenas por alguns segundos antes de encostar os lábios em
minha orelha.
— Eu tenho certeza de que se conseguimos isso em dez minutos, em
quarenta e oito horas estarão dizendo que seremos como os casais que
terminam seus cursos e ficam juntos para sempre.
Ele beijou minha bochecha e se afastou.
As pessoas agora aplaudiam, e ele parecia contente com a atenção
como se estivesse orgulhoso do feito. Nossos espectadores foram à loucura.
Em seguida, ele estendeu a mão em minha direção e eu a aceitei.
As pessoas estavam animadas e acreditaram em nós. Não restavam
dúvidas. Para ser sincera, mais um pouco e até eu mesma teria acreditado.
Nós merecíamos um prêmio de atuação com certeza.
Caminhei ao seu lado sem ao menos questionar para onde Andrew
estava me levando.

— Você quer fazer o favor de ficar quieta? — Madison pediu,


puxando meu queixo e mantendo-o na posição que precisava para fazer um
delineado, como ela mesma disse, perfeito.
— Mad, eu sei me maquiar, sabe? — reclamei, apenas para levar
outro puxão.
— Eu sei que você sabe, é só que isso vai manter a minha mente
ocupada, e se tem uma coisa que eu preciso é focar em alguma coisa. Pensa
que você está me fazendo um favor.
— Quer conversar? — Chiara perguntou.
Eu não podia ver porque estava de olhos fechados, mas tinha certeza
de que ela estava espojando-se na cama da Mad. Não podia julgá-la. Nunca
havia sentado a minha bunda em um lugar tão macio e gostoso.
— Não. — Soltou um suspiro. — Só quero, na verdade, não pensar.
— Ótimo, então enquanto você não pensa, eu resolvi ficar aqui
analisando de que maneira eu poderia passar com essa cama nas costas sem
que suas irmãs de fraternidade percebessem — Chiara suspirou e ouvi um
farfalhar. — Meu Deus, isso não é uma cama, é um pedaço do céu. Eu podia
gozar só de ficar aqui deitada.
Isso fez Mad rir.
Senti o celular vibrar em minha mão anunciando uma mensagem
nova.
— Acho que ele chegou — falei, começando a afastar o rosto do
pincel que ela usava, para abrir os olhos.
— Não. — Mad deu um tapinha em minha mão. — Fica quieta, ele
tem que esperar um pouco. E outra, eu vou adorar quando as meninas abrirem
a porta para ele e você descer toda linda e gostosa para encontrar um dos
caras mais cobiçados de toda a universidade. Mesmo que eu não entenda o
motivo de continuar com ele depois da cena no Women’s. Ainda estão
falando sobre isso.
Suspirei.
— Ele pediu desculpas. — Lembrei.
— Sim. E só porque ele foi um fofo assumindo que nunca tinha
gostado de ninguém antes é que vou fazer vista grossa.
— Que nunca havia se apaixonado — Chiara fez questão de reforçar.
— Que seja. Gostar, estar apaixonado... no final, não faz tanta
diferença.
— Claro que faz — Chi parecia ofendidíssima. — Eu gosto de
chocolate, mas certamente sou apaixonada pelo Michel B Jordan. Casava
facinho.
— Você é tão emocionada...
Ri, feliz por estar em um ambiente em que me sentia segura.
Eu queria mesmo poder contar a verdade para as meninas, mas
precisava que elas acreditassem. Se as pessoas próximas a nós tivessem
dúvidas, com toda certeza não enganaríamos ninguém.
Mad disse que eu podia abrir os olhos, e o fiz, encarando-me no
enorme espelho que tomava toda a parede do seu quarto onde a porta estava.
U. A. U
— Tem certeza de que essa sou eu? — levantei-me, caminhando em
direção ao espelho.
Madison havia escolhido uma roupa para mim, como se fosse uma
boneca. O vestido preto, justo e quase inexistente que eu usava não cobria
nem metade do meu corpo. Ela havia feito uma trança lateral meio
desconstruída com uma boa parte da trança valorizando meus cachos.
A maquiagem em tons claros nos olhos contrastava com os lábios
vermelhos escarlates.
Eu não sou feia. Nunca me achei feia. Mas, caramba, hoje eu estava
completamente, inacreditavelmente, linda.
— Pode me agradecer depois — Mad falou, aproximando-se o
máximo possível do espelho e fechando o olho direito para fazer o delineado
nela mesma. — Chiara, já está pronta?
— Eu não vou. — A voz saiu estranha porque o rosto estava
completamente enfiado no travesseiro.
— Chiara, por favor. Vai ser a primeira vez que eu vou entrar em uma
festa de mãos dadas com meu namorado, eu estou literalmente surtando e não
sou o tipo de garota que surta. Apoio seria muito bem-vindo nesse momento.
— Voltei meu corpo em sua direção. — Por favor.
Bati os olhos rapidamente de uma forma que devia ser sedutora, mas
ela riu rolando os olhos.
Chi olhou para cima por alguns instantes como se estivesse pensando
em alguma coisa importante, antes de finalmente falar.
— Posso ir rápido, ficar trinta minutos e voltar para o quarto. Tenho
que entregar a resenha de um artigo sobre a importância da neurociência para
as nossas vidas, e pra ser sincera, falta mais da metade do artigo para ler.
— Isso que é viver perigosamente — Madison brincou. — Tá, pega
uma roupa no closet e senta aqui pra gente dar um jeito nessa cara pálida.
Minha amiga parecia feliz com a possibilidade de bancar a
profissional da moda, escolhendo peças de roupa e nos maquiando.
Chiara já voltou arrumada. Havia escolhido uma calça jeans que ficou
um pouco folgada, passando um cadarço branco para ajustar na cintura e uma
blusa vermelha de tricô que ficava um pouco mais justa em seu corpo.
O celular vibrou em minha mão novamente e dessa vez eu abri as
mensagens antes que Madison dissesse novamente que um cara que não está
disposto a aguardar que uma mensagem seja respondida não merece a nossa
atenção.
Não sabia de onde ela havia tirado aquela sabedoria barata, mas
garantia que prenderia a atenção de qualquer homem. Segundo ela, quanto
mais indisponível e desinteressada, mais eles queriam.
“Cheguei” era o que dizia a primeira mensagem.
“Afrodite, você vai querer mesmo que eu entre nessa casa cheia de
mulheres que vão me tentar como a serpente tentou a Eva?”
“Leighton, não me diga que você desistiu de ir à festa?
O status dele havia sido alterado para digitando e, antes que ele
acabasse se irritando, resolvi parar a tortura.
“Estamos descendo. Prometo.”
Enviei e, de repente, de digitando, o status alterou para online. E
depois para digitando novamente.
“Se puder agilizar, eu agradeço. A qualquer momento as garotas
aqui embaixo podem começar a me lamber.”
“Devia ter esperado no carro.”
Apesar da resposta, parte de mim estava preocupada realmente. A
Madison morava, realmente, em uma mansão universitária com garotas que
mais pareciam ser modelos da vogue.
Eu não julgaria as meninas por quererem passar a língua por todos
aqueles músculos e tal, mas uma parte de mim também não tinha gostado
daquilo. Ele estava comigo mesmo que de mentira. As pessoas deviam
simplesmente respeitar e não ficar babando em cima do namorado alheio.
— Prontinho. — Mad se afastou um pouco encarando o rosto de
Chiara que se levantou passando as mãos no cabelo e fazendo um coque no
alto da cabeça. — Nãaaaaaao, você não vai destruir a minha obra prima
fazendo esse penteado jogado, Chi. Vocês não entendem nada mesmo. —
Rolou os olhos, como se estivesse ofendida.
Mad se olhou no espelho conferindo se estava bonita, como se
houvesse alguma possibilidade disso não acontecer.
— Vamos, meninas. A Leigh tem um coraçãozinho ansioso para vê-la
e eu quero estar a postos para assistir quando o bonitão deixar o queixo cair
no chão ao pôr os olhos nela. — Piscou em minha direção.
Chiara deu uma olhada rápida em si mesma no espelho e seguiu em
direção à porta que Mad havia acabado de abrir.
Sentindo uma coisa estranha no estômago, saí do cômodo seguindo
pelo corredor com paredes brancas até a enorme escada típica de gente rica
que nos levava até o andar inferior. Antes mesmo de descer as escadas eu
pude vê-lo. Poderia reconhecê-lo, pelas costas largas e musculosas em meio a
qualquer multidão ainda que estivesse vestido pronto para enfrentar uma
nevasca.
Os cabelos loiros estavam brilhando, como se houvesse passado gel
para garantir que os fios continuassem perfeitamente no lugar. Conversava
com uma garota que usava uma roupa de dormir rosa de bolinhas e curta,
deixando os seios quase soltando para fora da blusa fina e com a borda
rendada. Andrew riu de algo que ela falou, erguendo o braço e deslizando a
mão pelo cabelo.
E era assim que ele queria que nossa mentira funcionasse.
Apertei os olhos na direção dele, descendo as escadas em silêncio em
uma tentativa de ouvir a conversa e, quem sabe, enfiar o salto do sapato de
Mad na sua cabeça.
— Lamento decepcioná-la, gata. Mas estou namorando e apaixonado
pela minha Afrodite. — Deu de ombros, respondendo a garota que tinha o
rosto avermelhado.
— Huuum, que bom pra ela, então. — Fez um bico, erguendo o olhar
em minha direção que estava já próxima o bastante deles, mas não o
suficiente para que ele pudesse me ver. Ela abriu um sorriso para mim em
seguida. — Você deu sorte, gata. Dizem que os piores garotos são os
melhores namorados.
Pôs a mão em meu ombro assim que eu estava perto o bastante e o
apertou de leve, como um gesto de “é isso ai, garota”. Passou por mim e
pelas garotas logo depois.
Andrew começou a virar-se em nossa direção.
— Isso é algum teste de... — parou a frase em seguida, olhando-me
de cima a baixo e soltando um silvo. — Porra, hoje eu vou precisar quebrar
mais caras do que se estivesse no casarão — comentou, segurando minha
mão e se aproximando para deixar um beijo em minha bochecha.
— Como assim?
— Sem dúvida todos os olhos esta noite estarão voltados para a garota
mais gata e que, por ventura, é minha namorada. — Ergueu uma sobrancelha.
Os olhos estavam acesos, como se uma chama tivesse os iluminassem
quando me olhou com atenção, analisando as roupas que eu vestia. Parte de
mim estava sem graça, a outra parte de mim queria dar gritinhos com o fato
dele ter ficado satisfeito comigo.
Eu ri e abri a boca para falar antes de ser interrompida por Mad.
— Você passou no teste da fraternidade. — Mad sorriu, parecendo
realmente admirada por isso.
— Então vocês dão em cima do namorado de suas amigas para testar
a fidelidade dele? — meu namorado falso pareceu admirado com isso.
— Claro. — Deu de ombros. — A vida é curta demais para
perdermos tempo com babacas traidores. A fraternidade pode ser um saco
algumas vezes, mas uma coisa que levamos muito a sério, é que cuidamos
das nossas irmãs — explicou. — Sororidade. Lema principal.
Eu ri, lembrando-me de quando a conheci. Nunca imaginaria que a
garota que anda coberta de roupas de grife podia ser tão legal. É, às vezes os
filmes mentem sobre as Barbies.
— Podem me testar à vontade, sou imbatível. — Piscou para Mad e,
tão rápido que eu mal pude prever, encostou nossos lábios fazendo com que
todo o meu corpo formigasse.
— Adoro saber que está babando por minha amiga, valentão, mas eu
realmente queria ir logo se não se importa, sabe? Um pouquinho de álcool no
sangue e umas bocas para beijar não seria nada mal — falou, dando um tapa
no ombro do Andrew ao passar por ele abrindo a porta.
— Eu só queria mesmo a minha cama — Chiara resmungou, mas nos
seguindo.
Formei uma linha com os lábios evitando a risada.
— Obrigada por vir comigo — sussurrei, dando um leve aperto em
seu braço.
Andrew entrelaçou nossas mãos, fazendo com que meu corpo
reagisse, assim como meu coração começasse a ter uma reação idiota e
estranha.
Eu precisava que James realmente percebesse que estávamos
apaixonados. Eu queria concluir meu curso em paz, sem precisar me
preocupar que ele pudesse me perturbar nunca mais. E uma das coisas que eu
mais julgava importante no momento: Eu e Andrew precisávamos terminar
logo, ou eu mesma poderia ser convencida por sua atuação.
Capítulo 21

A fraternidade estava completamente cheia quando chegamos.


Mesmo sendo a maior do campus, era difícil encontrar um lugar vazio. O som
estava alto e um mar de corpos se movimentava de um lado para outro no
ritmo da música. O cheiro de álcool misturado com cigarro era forte, mas
ninguém parecia ligar a mínima para isso.
Por mais que eu quisesse que caminhássemos lado a lado, por conta
da quantidade de pessoas, isso se tornou impossível. Ela estava logo atrás de
mim, nossas mãos entrelaçadas e pela maneira como sua mão suava, tinha
certeza de que estava nervosa.
Era estranho estar assim.
Andar de mãos dadas não era uma coisa que eu fazia com as garotas
que eu fodia. Eu estava acostumado a beijos. Podia beijar Leighton sem
problema, mas andar de mãos dadas era uma coisa mais íntima. Não era ruim,
mas não estava preparado para isso. Entretanto, era isso que os casais nos
campus faziam, então, se eu queria ser um bom namorado, devia agir assim
também.
Fomos passando pelas pessoas que me cumprimentavam e, em
seguida, reparavam na garota atrás de mim. Era estranhamente reconfortante
saber que eu estava com a garota mais gostosa da festa. Se havia uma coisa
sobre a qual eu nunca neguei era sobre como Leighton era bonita, mas hoje
ela estava simplesmente espetacular.
Eu seria o filho da puta mais invejado desta noite. Olhei para trás
apenas para me certificar de que ela estava bem. Leighton sorriu tentando
parecer relaxada, a expressão de tensão em seu rosto não deixava negar o
quanto estava nervosa.
Involuntariamente, seu sorriso me fez pensar em beijo. No beijo que
demos quando eu fingi me desculpar com ela. Mais involuntariamente ainda,
meu pau ficou duro.
Eu queria beijá-la outra vez.
Não, eu tinha que beijá-la.
Depois de vencer a aposta e esfregar na cara de todos os filhos da puta
que eles teriam que ralar muito para serem namorados mais fodas que eu, a
melhor parte de namorar Leighton e fazer isso da forma correta, seria ter que
continuar a beijá-la.
Provocá-la.
Provar aqueles lábios que tanto me pediam por mais.
Gostava da sua intensidade quando nossos lábios se encontravam.
Quando minha língua a tomava, ela se entregava de verdade. Queria o beijo
tanto quanto eu, ainda que negasse.
Apertei os dentes tentando pensar em outra coisa. Qualquer coisa.
Meu pau já estava pulsando e seria difícil esconder. Desde que pus os olhos
nela na casa da Mad, puta que pariu, precisei me controlar para não
pressioná-la contra alguma parede qualquer e me enfiar dentro dela. Passei a
maior parte do caminho até aqui pensando nos jogos da liga de hóquei, ou
qualquer coisa que tirasse o foco do sangue que estava correndo diretamente
para meu pau e, ainda aqui, quando nossas mãos se encontraram, a luta ficou
ainda pior.
Somente quando passamos pela sala principal e chegamos a uma sala
maior conseguimos respirar um pouco mais aliviados. Puxei Leighton para o
meu lado, passando o braço por seu ombro. Coisa que eu também percebi que
casais faziam muito. Não demorou que eu entendesse o motivo, o calor do
corpo dela apenas por estar parcialmente encostado ao meu também era
angustiantemente sensual.
— Tudo bem? — quis saber, falando baixo próximo ao seu ouvido
sentindo o cheiro do perfume adocicado em seu pescoço. Leighton apenas
assentiu com um sorriso forçado. — Fica tranquila, vai ficar tudo bem. Ao
final da noite, você verá como nenhuma alma nessa universidade duvidará do
nosso namoro.
Dei um beijo rápido em seus lábios fazendo exatamente o que queria
há tempos e, de uma maneira estranha, ela pareceu relaxar.
— Ei, eu e Chiara vamos andar um pouco por aí. Segurar vela é a pior
coisa a se fazer em uma festa — Madison gritou, aproximando-se e
apontando para a casa de uma forma geral.
A expressão de pânico pareceu tomar o rosto de Leighton e eu não
sabia se estava nervosa por ficar sozinha comigo ou por estar na festa sem a
presença das pessoas em quem realmente confiava.
— Tem certeza de que não quer ficar com a gente? Isso aqui está
cheio.
Madison rolou os olhos.
— Amiga, eu fui criada no meio de lobos. Isso aqui não faz nem
cosquinha. — Piscou para a amiga puxando a mão de Chiara sumindo de
nossas vistas logo em seguida.
— Não precisa se preocupar. Elas estão seguras aqui — garanti,
tentando acreditar que a preocupação dela era só por isso.
— Na última festa que vim, encontrei um babaca bêbado por ai.
Eu ri sentindo meus ombros relaxarem um pouco.
— Ele não vem, Já cuidei disso. — Dei de ombros.
Leighton afastou nossos corpos alguns centímetros, me encarando
com os olhos arregalados.
— O que você fez?
— Nada demais. — Puxei-a um pouco mais para perto determinado a
continuar sentindo o calor do seu corpo.
— Ele ainda vai andar? Conseguir enxergar? — parecia preocupada
de verdade. — Eu preciso ter medo da polícia bater nessa festa te
procurando?
Foi a minha vez de rir.
— Juro que não precisa se preocupar com isso. E que ele ainda tem
todos os membros no lugar. — Ela não parecia exatamente convencida. —
Vem, tenho uma namorada gata para exibir e uma plateia para convencer.
Leighton mordiscou o lábio inferior como se estivessem em dúvida,
mas entrelacei nossos dedos outra vez e segui conduzindo-a por entre as
pessoas.
Depois de levar mais tempo que necessário atravessando a
fraternidade pensando em qualquer coisa menos na garota de mãos dadas
comigo e no quanto meu pau parecia empenhado em me mostrar o quanto a
queria, conseguimos chegar à cozinha em um estado mais ou menos
apresentável.
Assim que passei pela porta avistei alguns dos meninos do time de
hóquei. Estavam enchendo alguns copos, o que já resolveria uma parte do
meu problema. Seguimos em direção a eles que nos viram e acenaram para
mim.
— Ei, cara! — Cherokees falou, parecendo feliz em me ver assim que
nos aproximamos. Sioux, seu fiel escudeiro estava ao seu lado segurando dois
copos já cheios. — Que bom que você veio. — A voz estava um pouco
arrastada. Mais alguns copos e com certeza ele mal se lembraria de quem era.
Cherokees e Sioux eram opostos e iguais ao mesmo tempo. O
primeiro fazia parte de uma reserva indígena. Era neto do líder de sua tribo e
devia estar sendo preparado para assumir suas funções, mas decidiu que não
era o que queria. Conseguiu uma bolsa de estudos pegou suas coisas e foi
embora mesmo sabendo que sua família possivelmente não o perdoaria
nunca.
Já Sioux fazia parte de uma comunidade Amish. Sua família o estava
preparando para casar e, assim como Cherokees, fugiu de casa depois de uma
tragédia que aconteceu em sua comunidade. Ele ficou um tempo morando de
favor na casa de um senhor que o havia encontrado na rua passando fome. No
ano seguinte, havia conquistado uma bolsa também. Não falava com os pais
desde que foi embora. E não falava sobre os pais desde que o conhecemos.
Sorri, trazendo Leighton para mais perto de mim e a abraçando pela
cintura.
— Sioux e Cherokees já conhecem a Leighton, minha namorada? —
perguntei aos meninos, olhando para a garota ao meu lado por alguns
instantes.
— Ainda não. — Sioux sorriu, estendendo a mão para cumprimentá-
la, assim como Cherokees, em seguida. — É um prazer conhecê-la. Nenhum
de nós acreditou que esse momento chegaria, mas gostaria de te agradecer,
Leighton. Agora, sim, as mulheres darão atenção para nós.
Leighton deu uma gargalhada que me fez rir também.
— O prazer é meu. E sim, podem ficar com todas as garotas. — Ela
segurou meu queixo entre o polegar e o indicador —, esse aqui já tem dona.
— Gosto dela. — Cherokees falou piscando para mim.
— Aceitam? — Sioux ergueu os copos de cerveja que estavam em
sua mão.
Balancei a cabeça em negativa.
— Estou dirigindo. — Jamais colocaria a vida de alguém em perigo.
De nenhuma forma, na verdade, mas se tratando de trânsito, eu era ainda
mais cuidadoso que o normal.
Leighton me encarou como se não acreditasse que fosse o tipo de cara
que não bebesse nada por causa da direção, mas aceitou um copo bebericando
aos poucos.
Começamos, nós quatro, a conversar sobre as aulas, o semestre e,
claro, como nossa história começou. Contei exatamente a mesma coisa que
disse aos garotos. Leighton apenas rolou os olhos dizendo que não havia sido
bem assim, mas os garotos gostaram da minha versão e preferiam acreditar
em mim. Depois de longos minutos, os garotos voltaram para sala.
— Você acha que eles acreditaram na gente? — perguntou, depois de
alguns segundos de silêncio.
— Com certeza. — Sorriu. — Ninguém aqui vai duvidar.
Especialmente depois da forma como você me beijou quando eu pedi
desculpas.
Leighton rolou os olhos.
— Vão acreditar que você gosta de enfiar essa língua na minha boca
— falou, como se achasse nojento. Eu ri.
— Você fala como se não gostasse de ter a minha língua na sua boca,
ou de explorar a minha boca com a sua língua. Não precisa fingir pra mim,
Afrodite. — Aproximei meus lábios de seu ouvido sussurrando, enquanto
brincava com o indicador por seu braço cruzando entre nossos corpos. — Eu
sei que você gosta.
Leighton pôs a mão em meu peito me empurrando de leve até que
pudesse ver meu rosto.
— Você é convencido demais, Andrew. Só para você saber, você não
foi o melhor beijo da minha vida. — Rolou os olhos como se quisesse dar
mais ênfase à afirmação.
Dei de ombros.
— Tecnicamente, você é minha namorada agora, teremos bastante
tempo para praticar. Tenho certeza de que você vai mudar de opinião. —
Pisquei.
Leighton riu, balançando a cabeça em negativa. A mão ainda no meu
peito. De uma forma estranha meu coração batia mais forte. Eu não conseguia
tirar os olhos dos seus lábios.
Sabia que ela estava mentindo quanto ao beijo. Tinha certeza de que
ela gostava de me beijar tanto quanto eu gostava de beijá-la, o que era
estranho já que eu não sou essencialmente um cara fixado em lábios e beijos,
mas sim em sexo quente em qualquer lugar onde possa consegui-lo.
E aqui estava eu, mais uma vez, cogitando provar seus lábios
novamente. E não estava gostando disso. Dessa vontade desenfreada de colar
minha boca à dela. Parecendo desconfortável, Leighton ergueu o copo dando
mais um gole em sua cerveja.
— Você realmente não bebe nada quando dirige? — perguntou,
apertando um pouco os olhos em minha direção como se fosse julgar a
resposta.
— Não. — A resposta pulou da minha boca assustando-a pelo tom
bruto que não consegui conter. Era uma pergunta simples, mas minha reação
nunca era das melhores quando se tratava desses assuntos, não era culpa dela.
Soltei o ar com força. — Não, eu não bebo quando vou dirigir. Não gosto de
brincar com a minha vida ou de outras pessoas.
Leighton me encarou por alguns segundos como se pudesse me ler, o
que me deixou estranhamente desconfortável.
— Isso é muito responsável da sua parte. — Arqueou uma
sobrancelha como se estivesse surpresa mesmo.
— Você não acredita que eu possa ser responsável?
— Não é exatamente o tipo de imagem que você passa — falou,
convicta. — O que me leva a uma dúvida sobre você. Eu sei que você pode
ser um babaca quando quer. Já o vi sendo um algumas vezes e já fui sua
vítima também. Mas quem é o Andrew de verdade? O cara legal que quer que
pensem que é um idiota, ou o idiota que agora quer fingir ser um cara legal.
Franzi o cenho para ela.
— Achei a formulação da dúvida um pouco confusa, mas assinalo a
segunda. A que eu não sou mesmo um cara legal.
Ela rolou os olhos de forma divertida.
— Vem, vamos voltar para a sala. Está na hora de nos misturarmos
um pouco.
Dessa vez, enquanto andávamos entre as pessoas, fiz questão de
mantê-la ao meu lado, não me importando nem um pouco com quem passasse
e eu tivesse que levar um esbarrão para que pudéssemos andar juntos.
Algumas pessoas até estavam dispostas a soltar uma ofensa em nossa direção,
mas engoliam as palavras ao me ver.
Outra coisa da qual eu tive certeza assim que a vi nesta noite se
mostrou real. Leighton atraía olhares de todas as pessoas. Tinha certeza de
que a maioria dos caras queriam estar no meu lugar e estavam se perguntando
o motivo de nunca terem reparado nela antes.
Quando nós terminássemos o cara que ela namorasse de verdade, teria
muito problema com concorrência. E, por algum motivo, aquele pensamento
me incomodou um pouco.
— Ei, finalmente você apareceu — George falou, levantando-se do
sofá onde estava sentado com mais alguns dos caras, ao nos ver. Seu olhar
estava quase que inteiramente focado em Leighton que apertou minha mão
com um pouco mais de força. — E veio com a namorada. Então, é verdade,
você está mesmo disposta a aturar esse mala?
Leighton deu de ombros.
— Fazer o quê? A gente não escolhe de quem vai gostar.
George riu, gostando da resposta.
— George Lair, quarterback do time de futebol americano — falei,
olhando para Leighton. — Lair, minha namorada, Leighton.
Ele sorriu para mim, percebendo que frisei o pronome possessivo.
— Leighton, é um enorme prazer conhecê-la, enfim — Lair estendeu
a mão para Leighton que a aceitou, mas ao invés de um aperto, ele a beijou.
— Igualmente — ela respondeu, parecendo sem jeito.
Lair olhou exatamente para mim quando soltou a mão de Leighton e
eu sorri, abraçando-a pela cintura. Não foram preciso palavras.
— Viu meus irmãos por ai?
Franzi o cenho dando uma olhada ao redor.
— Jackson não apareceu ainda e Benjamin estava agarrado com uma
garota em algum lugar.
Balancei a cabeça. Típico do Ben.
Eu sabia que ele estava sempre com uma garota diferente não por
necessariamente gostar, mas era a forma que havia encontrado de esconder
seus fantasmas. Assim como sabia que uma hora ele teria que lidar com as
coisas de frente, e isso me preocupava. Benjamin não era bom com isso. Em
encarar a dor.
Apresentei Leighton aos demais garotos. Alguns ela já conhecia por
causa do seu trabalho na lanchonete e parecia se dar bem com a maioria
deles.
Os garotos abriram espaço para que nós dois sentássemos. Passei a
mão por seu ombro enquanto via a maneira como ela conseguia interagir com
os garotos que estavam animados por conhecê-la.
— E então, queremos saber os segredos mais sombrios do Andrew
aqui — Fleen pôs os pés confortavelmente sobre a mesinha de centro que
ficava próxima ao sofá. — Se existe alguém capaz de ser o pior namorado do
mundo, com certeza é o Davis aqui. — Piscou, em um gesto de
camaradagem.
— Ele está se esforçando. Já é mais do que a maioria faz — falou
dando de ombros.
— A garota defende o namorado com unhas e dentes. — Fleen
brincou.
— Eu disse que era o melhor namorado do mundo. — Ergui uma
sobrancelha em direção a George.
— Não colocaria nesses termos. — Sorriu, olhando-me divertida
enquanto os caras riam de mim. — Mas ele está caminhando para ser o
melhor — apertou um pouco mais nossas mãos. — E eu sei ser paciente.
— Como eu disse, estamos bem. Vocês deviam arrumar alguém para
trepar.
George rolou os olhos para mim, pegando um cigarro do bolso e
acendendo-o, prestando atenção nas pessoas a nossa volta, como se quisesse
escolher com qual garota ele sairia da festa.
As coisas foram fluindo de forma satisfatória.
Leighton, aos poucos, começou a demonstrar estar mais à vontade
com os meninos. Suas amigas apareceram pouco depois e sentaram conosco,
sem dúvida os caras gostaram muito delas também. Em especial o fato de
serem solteiras.
Aproveitei que ela estava acompanhada para buscar alguns copos de
cerveja para ela e suas amigas, quando voltei Leighton estava sentada com
um cara que eu ainda não conhecia ao seu lado, sem ninguém mais do nosso
grupo à sua volta.
Trinquei os dentes, não gostando nada da forma como ele curvava o
corpo em sua direção e tocava o joelho dela ao falar.
— Algum problema, Afrodite? — perguntei, encarando o cara e
erguendo a mão para que Leighton pudesse pegar sua bebida.
— Não. Na verdade, eu estava tentando explicar ao nosso colega aqui
que eu estou acompanhada. — Sorriu friamente na direção do cara que
franziu o rosto.
— Então, colega, vou traduzir o que a minha namorada está dizendo:
Ela não está interessada em você.
Minha expressão séria deve tê-lo assustado.
— Foi mal, cara. Pensei só que ela queria dar uma de difícil. — Foi
impossível ignorar a expressão de desgosto no rosto de Leighton.
— Não é pra mim que você tem que se desculpar. — Apontei com o
rosto na direção da minha namorada que pareceu surpresa.
— Claro, claro. — O cara parecia nervoso, mas incomodado por ter
que estender as desculpas à minha namorada. — Foi mal, Afrodite por...
— Leighton, pra você. Só o Andrew pode me chamar assim — ela
interrompeu, me fazendo prender o riso.
Gostei de ouvir aquilo.
— Leighton. Foi mal te incomodar, sabe?
Ela apenas assentiu e o cara, sem graça, foi embora.
— Então quer dizer que eu te deixo sozinha por três minutos e olha
só, tenho que sair espantando pretendentes? — brinquei, sentando-me ao seu
lado e assistindo-a colocar o copo sobre a mesinha sem ao menos
experimentar a bebida.
— Alguns dias atrás, quando eu precisava de um, tenho certeza de que
ele não se habilitaria — murmurou. Eu poderia dizer que ela estava louca,
qualquer cara teria aceitado sua proposta de bom grado, mas preferi guardar a
informação para mim. — Obrigada por fazê-lo pedir desculpas pra mim. É
ultrajante que eu leve a cantada escrota, e seja necessário que o cara se
desculpe com o outro cara.
Dei de ombros.
— Eu sei. Minha irmã sempre diz isso.
Afrodite sorriu, e, caralho, eu amava aquele sorriso.
— Às vezes você é um fofo.
— Pessoas fofas fazem amor, eu não. Eu fodo. — Pisquei, vendo-a
ficar sem graça.
Como se tentasse disfarçar, pegou o copo que havia deixado na
mesinha dando um gole e fazendo uma careta em seguida.
— Cadê suas amigas? — perguntei, olhando ao redor.
— Mad estava doida para dançar e acabou arrastando Chiara. —
Leighton ergueu o pescoço procurando as garotas que não estavam em nosso
campo de visão. — Seus amigos disseram que iam procurar alguém para...
você sabe.
— Foder? — ergui uma sobrancelha para ela.
— É incrível como vocês só pensam nisso — reclamou, cruzando os
braços.
— Não é que nós só pensamos nisso, mas é a faculdade. Tipo, nossos
últimos momentos de liberdade. Daqui a pouco nós vamos começar a nos
preocupar com trabalho e construir um futuro, então essa é a hora de fazer
todo o sexo que pudermos. — Pisquei para ela.
— E então, como você acha que estamos? — Mordeu o lábio
parecendo nervosa.
— Quase perfeitos. — Sorri, notando algumas pessoas nos olhando e
sussurrando ao redor.
— Quase? — pela sua forma de falar, parecia assustada.
— Sim. Falta só uma coisa para que nos tornemos o casal de quem as
pessoas irão afirmar amanhã, ser o casal mais perfeito do campus —
murmurei, aproximando-me ainda mais dela.
— O quê? — quis saber, abrindo mais os olhos à medida que meu
corpo aproximava-se do dela.
Dei um sorriso de lado, passando meu braço por baixo do seu corpo e
a trazendo para meu colo. Leighton deu um gritinho assustado.
— O que você está fazendo? — questionou, olhando as pessoas ao
nosso redor, que cochichavam sobre nós.
— Nos tornando perfeitos — falei baixo, passando meu polegar por
seu rosto e colando nossos lábios.
Ela não questionou, não tentou se esquivar, não resistiu.
O beijo foi suave. Leve. Quase como se estivéssemos nos
reconectando. Mordisquei seu lábio, passeando o polegar contra seu rosto em
um carinho leve.
Sentia também meu pau animando-se contra seu corpo e ele pareceu
gostar ainda mais quando Leighton soltou um suspiro. Pressionei ainda mais
meu braço em sua cintura como se pudesse trazê-la ainda mais para perto.
Com nossos corpos colados, sentia cada pedaço do seu e, inferno, eu podia
gozar só de sentir o seu gosto.
Brinquei com a língua em sua boca, até que ela a abrisse o suficiente
para recebê-la. Soltei um gemido de prazer ainda maior ao sentir como seu
gosto era doce. Eu não conseguia mais pensar, nem levar em conta que havia
outras pessoas conosco.
Leighton se moveu em meu colo me fazendo soltar um gemido, mas
dessa vez de frustração por saber que não passaríamos disso. Um beijo – de
mentira – em uma mulher que eu já queria, desesperadamente, ter em minha
cama.
Virgem, virgem, virgem.
Repeti as palavras em minha mente em uma tentativa de não me
deixar levar e jogar essa garota em meu ombro até chegarmos a algum quarto
para que eu pudesse me enfiar ela. Porque, se ela me deixava assim com um
beijo, na cama, por Deus, não queria nem imaginar.
Minhas mãos passaram a percorrer seu corpo mais devagar, tentando
aproveitar aquele momento para memorizar as coisas que ela gostava e onde
queria ser tocada. Pela forma como reagia, pela respiração forte, as batidas
cada vez mais intensas em seu coração e por, assim como eu, não parecer
estar disposta a se afastar, eu sabia que ela estava excitada.
E sabia que seria eu, por mais que quisesse continuar, a fazer com que
isso terminasse.
Soltando um suspiro resignado, afastei um pouco nossos rostos. Colei
minha testa na dela sentindo a respiração quente contra meu rosto. Ainda sem
a menor vontade de me afastar, colei nossos lábios por alguns segundos
sentindo-me atordoado.
— Acha que agora acreditaram? — perguntou, mordiscando o lábio
inchado e avermelhado.
— Tenho certeza de que sim — afirmei.
Por alguns segundos até eu havia acreditado que aquele beijo era
muito mais que um entretenimento para o nosso público.
Se até eu acreditei, mesmo que por alguns segundos, podia afirmar
que todas as pessoas naquela sala haviam caído na farsa.
Leighton tentou sair do meu colo para sentar-se ao meu lado no sofá,
mas a segurei firmemente, impedindo-a de sair.
— O quê? — perguntou, tentando soar o mais fofa possível.
— Não acho uma boa ideia você levantar agora. — Passei o braço por
sua cintura, formando um arco garantindo não sairia dali.
— E eu posso pelo menos saber o motivo?
Soltei um riso pelo nariz.
— Meu pau está duro, muito duro, se você sair daqui vai ser um show
para todo mundo mesmo. E como a culpa é sua, precisa me ajudar.
— A culpa é minha? — Ela se mexeu fazendo com que a fricção entre
nossos corpos me fizesse gemer.
— Sim. Se você não me beijasse dessa forma e não fosse tão gostosa
isso não teria acontecido.
Leighton mordeu o lábio sem saber o que fazer.
— A gente não pode transar — sussurrou, depois de um tempo.
— Acredite, você não podia deixar isso mais claro. E eu não transo
com virgens. Caso contrário eu já teria carregado você até a primeira porta
aberta e te fodido exatamente da forma como você merece ser fodida.
Ela arfou com a resposta inesperada.
— O que você vai fazer então? — quis saber.
— Só fica sentada. — Ela pareceu disposta a obedecer. Parecendo
nervosa, balançou o corpo no ritmo da música, fazendo-me soltar um gemido,
dessa vez mais alto. — Não faz isso, porra, ou eu vou gozar aqui mesmo.
— Não fazer o quê? Você me pediu para ficar sentada.
— Quieta. Não se mexe ou eu não vou conseguir me controlar. — Ela
prendeu o riso, como se achasse toda a situação engraçada.
— Tá, vou ficar quieta — falou, virando o rosto para a frente.
Mesmo tendo cumprido sua palavra e permanecido quase imóvel, a
consciência do seu corpo em cima do meu era o bastante para que meu pau
continuasse a implorar para que eu desse essa alegria a ele, e para que minha
mente ficasse pensando o tempo inteiro em como devia ser entrar nela. No
quão apertada Leighton seria. Ou como seriam os seus gemidos e ela me
chamando quando estivesse gozando.
Apertei os olhos com mais força pensando em qualquer coisa, menos
na bunda quente e convidativa sentada em meu colo.
Eu tinha achado que esse lance de namorar de mentira não seria tão
difícil, mas se eu continuasse a desejar essa garota todo o tempo, com certeza
seria a pior de todas as missões da minha vida.
Capítulo 22

— Não acredito! É por isso que você está com essa cara de quem
dormiu mal à noite?
Mamãe falou empolgada demais. Soltei um suspiro longo. Sentia-me
um pouco culpada por contar uma mentira ela, mas mamãe ficaria feliz por
mim, e nada melhor do que deixar minha mãe feliz.
— Na verdade, fui a uma festa ontem.
A imagem de minha mãe ficou parada por alguns segundos, os olhos
fixos na câmera frontal do aparelho celular, e eu pensei que a internet havia
caído.
— Eu devo estar sonhando! — Um enorme sorriso cortou seu rosto.
— Uma festa e um namorado na mesma semana? Isso é muita alegria para
uma mãe só!
Rolei os olhos, rindo de sua animação.
— Posso terminar com ele, já que a senhora não consegue lidar com
tanta informação nova. — Dei de ombros como se não me importasse.
O sorriso sumiu do seu rosto no mesmo instante.
— Nem pense nisso! — falou, brava. — Ai, filha, você nem é capaz
de imaginar o quanto eu pedi a Deus que você conseguisse fazer amigos e ter
um namorado legal.
Franzi o cenho na parte do legal.
Andrew estava se esforçando, eu não podia negar. Era sempre cordial
comigo, e havia debaixo de toda aquela armadura e roupas escuras um cara
que tinha um bom senso de humor e era muito inteligente. Eu gostava desse
Andrew, mesmo sabendo que tudo era uma farsa e que ele voltaria a ser um
cretino que transava com tudo que se movia em breve.
O plano estava dando certo. Desde que Andrew começou a ser mais
legal comigo, James deu uma desaparecida. Minha preocupação era a
próxima aula de saúde mental.
— Eu te disse que não precisava se preocupar comigo, mãe. Consegui
tudo que a senhora queria, viu?
A expressão de contentamento em seu rosto desapareceu
instantaneamente dando lugar à preocupação.
— Não é tudo que eu queria, querida — falou, firme, me encarando,
como se eu ainda tivesse cinco anos. — Não quero que se sinta pressionada
por mim a namorar esse garoto ou a conhecer pessoas novas, é só que você,
que sempre foi sociável, ficou mais introspectiva depois que nos mudamos, e
não quero que se sinta só agora que também está longe de nós e do Ab.
Soltei um suspiro.
Eu odiava quando mamãe se culpava pela minha falta de interesse
pelo convívio social. Ela achava que foi a nossa mudança que destruiu a
minha vontade de fazer amigos, quando na verdade, ela me salvou.
Mamãe tinha que ser grata, não se sentir culpada.
— Não foi o que eu quis dizer, mãe — respondi, sentindo-me um
pouco culpada. — Não estou fazendo isso pela senhora. O Andrew é um cara
legal. Eu gosto dele. E a Madison e Chiara, eu tenho certeza de que não
aguentaria essa loucura que é estudar aqui sem elas. A senhora estava certa,
sobre tudo. Eu realmente precisava estar disposta a novas experiências.
— É bom ouvir isso, querida — podia ouvir o alívio em sua voz. Sem
conseguir se conter, deu um sorriso daqueles que já indicava o tipo de
pergunta que viria a seguir. — Me conta, ele é atleta?
— Mãe? — falei alto, fingindo estar chateada com a pergunta.
— O quê? Só estou tentando saber mais do meu genro querido. —
Fez uma expressão de inocência.
— Nem o conhece e já está caidinha por ele. — Balancei a cabeça em
negativa. — Você é como todas as meninas dessa universidade.
— Uau, seu namorado é popular? — chegou o corpo para mais perto
do telefone, como se eu fosse compartilhar uma grande fofoca.
— Ele é uma galinha. — Mamãe arregalou os olhos e eu me arrependi
completamente de ter falado isso. — Era. Ele tem se comportado muito bem
desde que começamos a namorar, mas as garotas daqui têm um fraco por ele.
— Isso quer dizer que ele é capitão do time de futebol americano? —
apertou os olhos em minha direção.
— Não, mãe. Ele não é atleta. — Menti. Não podia simplesmente
dizer que ele ficava por aí arrumando briga. — Mas tem dois irmãos que
estudam aqui também. Um é jogador de futebol americano, outro de
basquete. A outra, Olívia, está no último ano da escola.
— Bem, ser atleta não é o que importa de verdade. — Mamãe deu de
ombros. — Ele tem que te fazer feliz. A garota mais feliz do mundo. Você
não merece menos que isso, meu amor.
Assenti, feliz por minha mãe estar feliz também.
— Eu estou feliz, juro. — Não sabia dizer se feliz expressava bem. Eu
estava aliviada. Era reconfortante saber que James estava mais afastado. Eu
precisava que as coisas continuassem assim.
— Que bom, meu amor. E quando vou conhecê-lo? Você podia fazer
uma chamada de vídeo quando estiver com ele.
Minha vontade foi de gargalhar.
Com certeza Andrew jamais aceitaria conversar com a minha mãe.
Fingir que namora comigo na frente de toda uma universidade é uma coisa,
envolver pais, especialmente mães doidas para terem um genro, não era algo
que fosse a cara dele.
— Vamos marcar isso, prometo. — Menti, para não decepcioná-la.
— E está precisando de dinheiro para alguma coisa? — mamãe quis
saber.
— Mãe, eu trabalho. — Rolei os olhos. — Não precisa se preocupar
tanto comigo.
— Eu sei, meu amor. Mas especialmente agora que você tem um
namorado, sei que vai precisar de mais dinheiro para sair com ele.
— Fica tranquila, mãe. Está tudo certo por aqui. Se eu precisar de
algo, juro que vou pedir.
— Promete? — perguntou, erguendo a sobrancelha.
— Palavra de escoteira — brinquei.
— Você nunca foi escoteira, garota. — Ela apenas rolou os olhos
rindo. — E outra coisa, Leighton. Estou muito feliz por você estar aberta a
novas experiências, mas use camisinha. Você tem uma vida inteira pela
frente, e nem sempre as pessoas são receptivas a mulheres que têm filhos
cedo. Isso sem falar que se ele tem realmente uma vida sexual muito ativa,
você vai estar protegida.
— Mãaaae — coloquei as mãos na frente do rosto com vergonha por
estarmos falando sobre fazer sexo, e a vida sexual antes ativa do meu atual
namorado de mentira.
— São apenas conselhos de quem já viveu mais que você, meu amor.
— Ela sorriu. — Agora eu tenho que ir. Vou buscar seu pai no trabalho e
depois vamos comer alguma coisa na rua.
Ela contou que os dois estão mesmo aproveitando para fazer mais
coisas juntos, como casal e que tem sido um momento importante para eles.
Que tem fortalecido muito a relação.
Nada podia me deixar mais feliz do que saber que meus pais estavam
bem.

“Cheguei”
Enviei a mensagem para Madison assim que parei na porta de sua
fraternidade. Madison havia me chamado para estudar com ela, mas eu tinha
certeza de que ela queria mesmo era saber fofocas sobre Andrew e eu.
Ela não respondeu, mas a porta foi aberta logo em seguida por uma
garota que eu só havia visto em festas. Ela era negra e usava tranças box
braids. Era linda e, segundo Andrew me contou era líder de torcida e,
namorava com o capitão do time de basquete.
— Olá! A Mad está me esperando — falei, sorrindo simpática para a
garota.
Ela me olhou de forma engraçada e sorriu.
— A famosa namorada do Andrew — não falou de uma forma ruim,
mas também não pareceu uma coisa boa.
Abriu a porta um pouco mais, dando-me espaço suficiente para entrar.
— Não diria famosa, mas sim, namorada dele.
— Famosa é pouco. Lendária. — Fechou a porta começando a
caminhar e deixando claro que eu devia segui-la. — Se você soubesse
quantas garotas já tentaram de todas as formas fazer com que o coração de
gelo assumisse um compromisso...
Se ela soubesse como eu consegui isso.
Dei de ombros como se não fosse nada demais, parando em seguida.
Ela parou também.
— Por favor, me diz que você não é uma delas e que não vai me levar
a uma sala vazia e me deixar careca.
Ela riu me olhando como se eu fosse engraçada mesmo. Voltando a
caminhar. Segui-a outra vez.
— Gosto de você, garota. Mas não, o meu namorado e eu estamos
juntos desde o jardim de infância. Ele foi a primeira pessoa por quem me
apaixonei. Nunca tive olhos para o Andrew, mas você não vai poder dizer o
mesmo da metade das garotas do campus.
Fiz uma careta.
— Elas me odeiam, né?
— Não necessariamente, mas, assim como eu, estão curiosas para
saber o que você tem de tão especial.
Um trunfo?
— Bom, essa é uma coisa que só ele pode responder. — Dei de
ombros. — Na verdade, acho que as pessoas queriam estar com ele pelo
status que ele representa. Como se estar com ele, fosse levá-las a um patamar
de conquistei o inconquistável. Eu não me importo com isso. Só gostei dele.
Da pessoa que ele mostrava ser quando ninguém estava olhando.
Um ogro, se eu fosse justa.
— E quem ele é quando ninguém está olhando?
— Diferente de quem as pessoas pensam.
— Sabe, se ele realmente gosta de você, espero que vocês deem certo.
Todo mundo merece encontrar alguém que o faça feliz.
— Obrigada! — Sorri um pouco sem jeito.
Na verdade, ele não gosta de mim, eu não gosto dele, então nós nunca
daríamos certo.
— Bem, a Mad pediu para que você esperasse aqui. — Ela apontou
para um dos cômodos da casa, abrindo a porta. O ambiente estava claro por
conta da iluminação natural, mas também das paredes brancas. Haviam
poucos móveis. Um sofá, uma pequena mesa de centro e uma televisão sobre
uma bancada de madeira.
Caminhei pelo espaço parando perto da enorme janela de vidro,
observando a paisagem do outro lado. A rua estava praticamente vazia. Eu
sempre quis saber como funcionava a vida em uma fraternidade, mas nunca
cogitei viver em uma já que o custo é muito maior.
Com certeza eu teria problemas em morar com tantas pessoas.
Algumas fraternidades chegam a abrigar cerca de cinquenta meninas.
Imagina o tanto de mulher dentro de uma casa? Deve ser um inferno quando
estão todas de no período menstrual, juntas.
— O que você está vendo de tão engraçado? — Madison perguntou
entrando na sala e quase me matando de susto no processo.
Carregava alguns livros e os jogou na mesinha correndo para o meu
lado, doida para ver a fofoca que estava perdendo.
— Não é nada. Só estava pensando em como deve ser estranho morar
com tantas garotas quando estão de TPM ao mesmo tempo.
Mad rolou os olhos.
— Um verdadeiro inferno. Talvez pensando por esse lado você deva
conseguir entender o motivo para que eu passe tanto tempo em seu quarto. —
Deu de ombros. — Isso sem contar que algumas garotas aqui me odeiam
porque minha mãe fez questão de manter a tradição da família e me manter
em um quarto enorme e sozinha enquanto a maior parte delas dividem
espaço.
Suspirei de forma audível.
— Ser odiada por ser uma menina rica. Isso é tão triste, Mad. —
Coloquei a mão no coração fingindo uma cara de dó para ela.
— Você é uma péssima amiga, Leighton. — Balançou a cabeça em
negativa. — Agora, para balancear isso, você precisa me contar como vão as
coisas com o Andrew. Eu confesso que no dia em que nos encontramos no
shopping eu cheguei a pensar que vocês fossem terminar ali mesmo. Ai,
depois teve aquela grosseria que ele fez com você e, do nada, ele se torna o
último romântico da Terra. — Mad apertou os olhos para mim.
Dei de ombros.
— Nós só precisávamos nos adaptar um pouco. O Andrew nunca teve
uma namorada, ele só dormia com todo mundo sem compromisso. Eu
também nunca tive um compromisso sério antes e, sendo justa com ele, meu
comportamento não era dos melhores — declarei, mordendo a língua para
não deixar escapar a verdade. — Acho que agora que estamos conseguindo
superar nossas diferenças e nos conhecendo melhor as coisas estão fluindo.
— E você está feliz com isso? — quis saber.
— Eu gosto da companhia dele e também das coisas que ele me faz
sentir — contei, com um pouco de vergonha.
Em parte, aquilo era verdade. Gostava das sensações quando ele me
beijava. Gostei quando ele ficou excitado por mim na festa. Gostava de
conseguir, enfim, estarmos conseguindo nos dar bem.
— E você acha que vocês estão prontos para avançar o sinal? —
Madison perguntou, me encarando com os olhos brilhando em expectativa.
— Não estou preocupada com isso agora — menti.
Sabia que nós dois nunca chegaríamos a tanto.
— Mas ele, com certeza, deve estar muito preocupado com isso. Eu vi
a forma como vocês estavam na festa e posso dizer que a maneira como
Andrew te olhava gritava sexo, por favor.
Ri.
— Você está doida.
— Quando vocês transarem, você vai me contar os detalhes, né?
Franzi o cenho para ela com uma expressão de ultraje.
— Claro que não. Essas coisas são particulares.
— Fala sério. — Madison rolou os olhos. — Você é mesmo uma
péssima amiga. A Chiara devia estar aqui, ela com certeza ia me ajudar a
colocar juízo em sua cabeça.
Balancei a cabeça em negativa.
— Mas, se você está feliz, eu também estou. Eu teria esperado que
você namorasse um cara tipo nerd, mas... — Deu de ombros. — O que
importa é se você está feliz. E eu estou torcendo muito para que vocês
continuem bem juntos.
Sorri para Mad me sentindo uma péssima amiga por fazê-la acreditar
em uma mentira.
— Vamos lá? — perguntou, me entregando uma folha e pedindo que
eu acompanhasse a apresentação, apontando seus erros até que estivesse
perfeita.
Ela era muito boa com oratória e argumentos. Durante a apresentação
a interrompi algumas vezes para fazer perguntas. O tipo de coisa que eu sabia
que alunos podiam fazer para desestabilizar o outro, assim como
questionamentos que podiam ser feitos pelo próprio professor. Ela foi
simplesmente impecável. Sabia responder tudo com graça, sem gaguejar
quando pega desprevenida.
— Ei, Mad. — A garota que havia aberto a porta para mim mais cedo
apareceu com uma cara de quem pede desculpas —, você já acabou? Vamos
precisar da sala. A tv da outra sala não está querendo ligar e não dá pra levar
todas as garotas pro quarto. Preciso ver um vídeo com elas antes de
começarmos os treinos.
— Já acabamos aqui. Só vamos organizar as coisas — Mad falou
dando um sorriso. A outra garota assentiu, animada, abrindo a porta de vez e
convidando as demais meninas a entrarem.
Um enorme grupo começou a passar pela porta enquanto nós
pegávamos os livros. Ouvi um burburinho e me assustei quando ergui a
cabeça, encontrado as garotas me encarando com curiosidade.
— Você é a namorada do Andrew? — uma delas perguntou.
Assustada, olhei para Mad que apenas sorriu dando de ombros.
— Sim. Sou eu.
— Ai, meu Deus, você precisa nos dar umas dicas, sabe? Tipo, eu
queria muito que o Malcon namorasse comigo, mas ele me disse que com ele
o lance era ir pra cama só uma vez. — Ela fez uma careta de desgosto. — E
ele cumpriu a palavra. Como você fez para conseguir namorar o Andrew?
Quer dizer, ele querer namorar você.
Abri a boca sem saber exatamente o que responder.
— Huuum, as coisas só foram acontecendo — garanti, dando de
ombros. — Não existe uma fórmula certa.
— Claro que tem! — Outra garota falou. — Meu Deus, eu queria
tanto ser você. Ter aquele cara em minha cama todos os dias deve ser... — ela
deixou a frase no ar soltando um suspiro sonhador.
É sério que ela está falando das habilidades sexuais do meu namorado
na minha frente?
Por mais que fosse a coisa mais idiota do mundo, já que nós não
namoramos, eu não gostei daquele comentário. Senti uma coisa estranha
queimando em meu peito.
De repente, uma garota entrou na sala e o clima ficou tenso. Eu me
lembrava dela. Fazia aula comigo, Madison e Andrew. Ela o odiava,
inclusive. Lorrana Nasser. Ela me olhou, não daquela forma de quem quer
medir a outra por despeito, mas com um interesse genuíno. As outras garotas
ficaram em silêncio aguardando o que ela diria.
— Você parece uma pessoa legal, então eu vou te dar um conselho
que ninguém me deu, caloura. Transe com ele o quanto quiser, mas não se
apaixone. Caras como ele não sabem nada sobre amar, mas são ótimos para
destruir corações.
— Lorrana. — A líder de torcida chamou, e ela apenas ergueu as
mãos, como se se rendesse.
— Só estou fazendo com uma garota o que eu queria que tivessem
feito comigo. Um dos lemas das nossas fraternidades é a sororidade, não é?
— Ela estava olhando para a garota. Então, virou-se para mim. — É sério,
não desejo que passe pelo mesmo que eu. E saiba que se precisar conversar
quando ele partir seu coração, estou à disposição.
Ela me pareceu sincera. Genuinamente preocupada. Eu queria dizer
que isso não seria necessário. Andrew não partiria meu coração porque nós
não éramos um casal de verdade, mas apenas assenti.
Ao menos, uma coisa legal eu podia dizer sobre as fraternidades, suas
garotas cuidam mesmo umas das outras.
Capítulo 23

— Já acabou? — perguntei, dando uma leve puxada no cacho de


Leighton e levando outro tapa na mão.
— Shiiiii — alguém reclamou perto de nós, fazendo com que ela me
encarasse de maneira divertida.
— Quer parar? Daqui a pouco vamos ser expulsos daqui.
— Porque você está olhando os mesmo livros há exatos quarenta e
três minutos, Afrodite.
Ela rolou os olhos pegando outro livro e me entregando. Já carregava
uma pilha.
— Se eu soubesse que namorar era só levar tapas e ficar de serviçal,
teria terminado com você — reclamei.
— Você teve sua chance, bonitão. — Leighton passou por mim, indo
para o outro lado da prateleira para avaliar mais cem livros. Só íamos sair
daqui no ano seguinte, pelo andar da carruagem.
— Você me acha bonitão? — perguntei, parando ao seu lado e
escorando meu cotovelo em um dos armários de livros.
— Para com isso — pediu, sem graça.
— Com o quê? — ergui uma sobrancelha, observando-a fingir que me
ignorava. — Vai, não custa nada dizer que você me acha bonitão.
— Não importa o que eu acho. As garotas do campus acreditam que
você é tipo a primeira maravilha do mundo. — Leighton bufou, como se
aquilo fosse um insulto. — Queria entender os motivos delas.
— Você saberia se a questão da virgindade não fosse tão importante
para você. — Dei um sorriso de lado.
— Segundo o que me disse, você não transa com virgens — sussurrou
para que as pessoas não ouvissem que nós não transamos.
— Para toda regra existe uma exceção, Afrodite. — Alarguei um
sorriso. — Não vai mesmo me dizer o que as meninas falaram a meu
respeito?
— Madison é a pessoa mais fofoqueira que eu conheço na vida.
— Eu a considero uma aliada. Se um bando de garotas quer colocar a
sua namorada contra você, você não pode permitir isso.
— Ainda está lembrado que não namoramos de verdade, não é?
— Acredite, eu sei bem disso — fiz uma careta. Meu pau, por
exemplo, vivia me implorando o tempo todo para que nós dois pudéssemos
nos divertir como sempre fizemos com as outras garotas.
Banho frio nunca esteve tão em alta.
— O que aconteceu entre você e a Lorrana? — perguntou, de repente.
Bufei. Claro que ela estaria metida nisso.
— O que exatamente ela disse? — quis saber.
Leighton deu de ombros.
— Quero saber o que aconteceu, não que você copie as respostas dela.
— Justo — respondi, soltando o ar com força. — Eu nunca prometo
nada a ninguém. Sou sincero com todas as garotas com quem transo. É só
sexo. Sempre foi. Não foi diferente com ela, desde o princípio havia dito
exatamente como seria, mas ela achou que as coisas pudessem evoluir.
Quando viu que isso não aconteceria, ficou chateada. Eu jamais enganaria
uma garota fingindo querer algo só para conseguir alguma coisa em troca.
— Algum motivo especial para isso?
— Minha irmã. — Dei de ombros. — Como eu disse, eu era o
exemplo que a Oly tinha. Podia não ser o melhor, mas ensinei a ela que devia
ser sempre sincera com as pessoas. Eu precisava dar o exemplo. E, bem, não
ia querer que nenhum filho da puta se aproveitasse da minha irmã, então é
meio que uma regra minha não me aproveitar de nenhuma garota.
Leighton tinha um sorriso fraco no rosto quando terminei de falar.
— O quê? — franzi o cenho para ela.
— Nada. Gosto de ver você falando sobre sua irmã.
Rolei os olhos, como se aquela fosse uma conversa desnecessária.
Leighton baixou o olhar decidindo me ignorar e voltou a prestar atenção nos
livros.
Ela franzia o rosto fazendo um biquinho engraçado parecendo
procurar em sua mente referências a respeito dos livros. Eu ficava aqui,
parado, ao seu lado, segurando todo o peso para ela, porque, de acordo com
uma matéria que eu li, era isso que um namorado universitário devia fazer.
Leighton suspirou, olhando para a prateleira mais alta na estante de
madeira maciça da sessão onde estávamos e ficou na ponta dos pés tentando
alcançar o volume do qual os olhos não desviavam. Ela não era baixa, mas
também não alta o bastante para ter êxito em sua missão. Os dedos estavam
quase conseguindo se encaixar de forma que conseguiria arrancá-lo de lá,
mas os pés pareceram cansar de suportar o peso do corpo.
— Droga! — murmurou baixo.
— Precisa de um pouco mais de altura e braços fortes? — sorri,
vendo-a revirar os olhos.
Segurei o exemplar pelas laterais sem a menor dificuldade, puxando-o
e pondo-o na pilha que eu já carregava.
— Obrigada, lindão. — Piscou para mim e eu ouvi alguém perto de
nós dois suspirando. Leighton segurou o riso. — Você não acha engraçado
que as pessoas realmente acreditem que você gosta de mim? — perguntou em
um sussurro.
— Ficaria frustrado se as pessoas não acreditassem nisso. Imagina
todo o meu talento e esforço sendo jogado fora? Pelo menos sei que caso
nada dê certo em minha vida, posso tentar carreira de ator.
— Bem, um bocado de fãs pelo menos você já tem.
— E você? — perguntei, vendo-a começar a procurar outro título.
— O que tenho eu? — Pegou um livro de capa escura, abrindo-o e
olhando o sumário.
— Seria minha fã também?
Leighton me olhou de forma engraçada.
— Eu iria dar várias entrevistas, falando sobre como você foi um
péssimo namorado brigando comigo na frente de todas aquelas pessoas na
lanchonete. Que não me dava a menor atenção e não valia tanto assim na
cama. — Me encarou formando uma linha com os lábios tentando não sorrir.
Bati a mão no peito me fazendo de ofendido.
— Você mentiria para afastar as garotas da minha cama e me ter mais
para você?
Leighton rolou os olhos, ignorando-me em seguida.
Comecei a assobiar uma música antiga já começando a sentir meus
braços formigarem.
— Para com isso — pediu.
— Com o quê?
— De assobiar. Por favor, não faz isso.
Ignorei, assobiando um pouco mais alto. Eu gostava de como ficava a
sua expressão quando estava irritada comigo. Era até um pouco sexy, mesmo
que ela não tivesse a menor intenção disso.
Diferente de como fazia quando eu queria irritá-la e ela sabia,
Leighton não deixou de me olhar se concentrando em outra coisa. Ela
simplesmente travou, me encarando com os olhos nublados.
— Estou falando sério, Andrew. Só, por favor, para.
— Você está bem? — dei um passo para mais perto dela. Leighton
trincou um pouco os dentes erguendo a mão em um gesto de pare e
respirando fundo algumas vezes. — Leighton?
A urgência em minha voz deve ter feito com que ela piscasse algumas
vezes voltando a me encarar.
— Eu tô bem. — Mentiu. Sabia disso porque eu também mentia. Um
bom mentiroso sabe quando não estão contando a verdade.
— Tem certeza? — Analisei seu rosto com cuidado enquanto ela
tentava se recompor.
Leighton estava um pouco pálida, parecia, não sei... assustada. Como
se estivesse, por algum tempo, em algum outro lugar. Era a mesma expressão
que Benjamin tinha quando se lembrava do acidente. Havia alguma história
bem ruim ali, e assobios deviam acionar um gatilho.
— Acho que minha pressão caiu um pouco. — Mentiu outra vez.
— Logo, eu estava certo o tempo inteiro e nós devíamos ir comer. —
Pisquei para ela, fingindo acreditar no que dizia.
Leighton rolou os olhos com um pequeno sorriso.
Ela fazia muito aquilo, e eu achava que a sua expressão ficava fofa
quando fazia isso.
— Só mais um e vamos embora. — Pegou o celular desbloqueando a
tela e abrindo a lista de livros que havia anotado como importantes e
seguimos para a prateleira mais do canto.
Depois de encontrar o último livro e me dar para carregar, seguimos
para a mesa da bibliotecária.
Ela estava concentrada ao meu lado digitando uma mensagem para
Chiara. As meninas tinham combinado de almoçarem juntas na lanchonete, já
que o turno dela começaria um pouco depois.
Seguimos entre as estantes e mesas, desviando de tudo. De repente,
seu corpo ficou tenso enquanto olhava para frente. Para um cara especifico.
Ele era alto, tinha cabelos escuros e olhos castanhos. Caminhava em nossa
direção com os olhos fixos nela.
Era o mesmo homem do dia em que nos beijamos na pista de gelo. O
homem que eu pensei que ela queria provocar me beijando. O cara de
Harvard. Pela maneira como caminhava, ele trombaria com ela e de maneira
proposital. Tentando ser rápido o suficiente, coloquei minha mão na base de
sua coluna ajudando-a a voltar a caminhar e me posicionei em seu lado
direito quando ele estava perto o bastante para tocá-la com seu corpo.
Estava mais do que claro que ela não queria esse encontro.
Senti quando suas mãos apertaram firmemente meus bíceps, não sabia
se para me alertar ou para tentar sentir-se segura.
O cara estranho não mudou de direção. Eu também não. Nossos
ombros se chocaram com força e eu segui em frente com o rosto impassível.
Ouvi, atrás de nós, um riso divertido. Leighton ia olhar em sua direção.
— Não faz isso — falei, firme. — Não olha para trás. A primeira
regra quando você quer ignorar alguém, é realmente aparentar que esse
alguém não te atinge. Virar-se só mostra mais que ele ainda tem poder sobre
você.
Ela engoliu em seco.
— Não sei do que você está falando — respondeu, quando pareceu
encontrar a sua voz.
Balancei a cabeça em negativa.
— Você não é muito boa em esconder coisas, Afrodite.
— Não estou escondendo nada. — O rosto em pânico dizia o
contrário.
— Quem é ele, então? — quis saber.
— Um garoto novo da minha turma Saúde Mental. Parece que veio
transferido — respondeu de forma tão casual que, se não tivesse visto a sua
reação, teria acreditado que realmente não se conheciam.
— E de onde vocês se conheciam antes disso? — pressionei.
Ela não respondeu, mas chegamos até a bibliotecária. Ela levaria certo
tempo para conseguir passar no sistema todos os livros que Leighton havia
escolhido.
Cumprimentei a senhora Hans colocando os livros sobre o balcão
quase que ao mesmo tempo em que Leighton iniciava sobre alguma coisa da
qual minha mente não conseguiu se conectar. O olhar frio daquele cara, como
se ele não estivesse nada contente com o que via ao nos observar caminhando
lado a lado como um casal não me saía da cabeça.
— Ei, lembrei que preciso de um livro para meu projeto de construção
— falei, virando-me em sua direção. — Já volto, Afrodite.
Ela segurou meu braço com um pouco mais de força.
— O que você vai fazer? — perguntou, nervosa.
— Só pegar um livro. — Sorri, erguendo um pouco seu rosto e
encostando nossos lábios. E, em seguida olhando a senhora Hans que tinha
um sorriso divertido no rosto. — Sou um namorado tão bom, que ela gosta
que eu fique ao seu lado sempre.
— Então é verdade que você finalmente encontrou uma garota para
assumir? — tinha o olhar divertido.
— E quem não ia querer namorar essa gata? — devolvi a pergunta,
piscando para a senhora que, segundo as más línguas, estava ali desde a
fundação da Walker University.
— Andrew. — a voz de Leighton mais parecia um alerta.
— Relaxa, Afrodite. É só um livro — garanti, dando-lhe as costas e
começando a seguir exatamente para onde ele havia ido.
Escolhi uma prateleira antes da que ele estava, peguei o celular,
posicionei próximo ao rosto e comecei a fingir gravar um áudio enquanto
movimentava o aparelho encontrando uma boa posição para tirar uma foto do
filho da puta.
— Não, porra. Vou com ela lá para a minha casa, tenta prender meus
irmãos aí pelo máximo de tempo que você conseguir. — Vi que ele havia
parado para prestar atenção na conversa, exatamente como eu queria.
Consegui pegar a foto. — Isso, cara. Minha namorada merece. Obrigado.
Esperei por algum tempo, olhando os títulos como se procurasse algo.
Sentia que ele estava esperando para saber o que eu faria. Dei a volta, ainda
olhando os títulos dos livros. O cara me olhou dos pés à cabeça e ergueu a
mão, em seguida, para pegar um exemplar. Repeti seu gesto, pegando-o
primeiro.
— Foi mal, cara, você queria esse também? — perguntei, contendo
um sorriso zombeteiro.
— Não. Pode ficar. — Deu de ombros.
— Valeu, mas eu teria ficado de qualquer forma. Afinal, quem pega
primeiro, leva.
— Tecnicamente, quem vê primeiro leva. — Esboçou um meio
sorriso. — Mas eu não vou entrar nesse mérito, não quero arrumar confusão
aqui, estou chegando agora e tudo que eu quero, é paz.
Estava claro, para nós dois, que não falávamos sobre o livro. Apesar
das palavras e da voz mansa, seu olhar e sua postura mostravam outra coisa.
Ele queria briga, e eu era o Imbatível. Não fugiria de uma, nunca.
— É bom saber disso. Arrumar inimigos nunca é uma boa ideia —
afirmei. Olhando para a capa do livro, e balançando-o em sua direção. — É
isso. A gente se bate por ai.
Ele anuiu.
Leighton parecia nervosa quando retornei, suspirou aliviada ao ver-
me chegar.
— Você demorou — acusou, com os olhos escuros assustados.
Dei de ombros, pondo o livro sobre a o balcão.
— Estava procurando o livro. — Passei o braço ao redor de seu
ombro. Sentia que aquele cara, quem quer que fosse, estava nos observando.
Enquanto aguardávamos a senhora Hans colocar o livro como
emprestado em meu nome, peguei o aparelho mais uma vez enviando a foto
para o Malcon.
“Preciso saber quem é esse cara. Quero tudo que puder descobrir
sobre ele.”
A resposta não demorou a chegar com um sinal afirmativo.
Guardei o aparelho pegando todos os livros e saindo com Leighton,
exatamente como um casal, pela porta da biblioteca.
— Leighton — falei, segurando seu braço quando quis passar por
mim apressada.
— Você está com fome, temos que ir. — Tentou se soltar para fugir
da conversa.
Tinha certeza de que faria isso.
Eu me havia enganado. Pensei que Leighton queria deixar aquele cara
com ciúme, mas, na verdade, ela estava assustada e com o corpo um pouco
trêmulo ainda.
— Espera, por favor — pedi, me posicionando em sua frente,
bloqueando a passagem. Ergui seu rosto até que nossos olhares se
encontrassem. — Você tem todo direito de não querer que eu saiba sobre
alguma coisa da sua vida. Mas quero que tenha em mente que pode contar
comigo, certo?
Ela assentiu, voltando a olhar para baixo. Passei meu braço livre por
seu ombro, enquanto com o outro segurava os livros.
Eu não sabia explicar, mas tinha uma sensação péssima quanto àquele
cara. E então eu senti algo que nunca havia sentido na vida: vontade de
proteger alguém que não fazia parte da minha família.
Não sabia quem ele era, mas ia descobrir. Leighton estava comigo
agora. Podia ser de mentira, mas eu jamais deixaria que alguém machucasse
uma pessoa que estivesse sob a minha proteção.
Capítulo 24

O tempo estava esfriando. O céu acinzentado indicava que teríamos


uma noite chuvosa. Felizmente, ainda levaria um tempo até que o próprio
dilúvio começasse a desabar.
— Porque você escolheu ser assistente social? — Andrew perguntou,
movendo um pouco o rosto em minha direção para analisar as minhas
expressões.
Ele fazia muito isso, não só comigo, mas com as seres humanos em
geral. Acho que ele tinha uma extrema necessidade em analisar se as pessoas
estavam ou não sendo sinceras com ele. Já eu, odiava isso. Significava que
ele estava sempre olhando para mim, e nada me deixava mais nervosa do que
a certeza de que eu estava sendo analisada.
Meu turno tinha acabado e, como vinha acontecendo nos últimos dias,
Andrew estava me esperando, do lado de fora. Os braços cruzados acima do
peito, um sorriso que fazia alguma coisa dentro de mim corresponder da
forma mais irracional possível.
Desde o dia na biblioteca Andrew havia mudado ainda mais a postura
dele: cão de guarda disfarçado de namorado. Eu não contei sobre James, mas
isso não o impediu de sentir que algo estava errado.
Andrew me encarava à espera da resposta. Eu não sabia o que dizer.
Não podia contar a verdade e não podia mentir.
Nós estávamos praticando a sinceridade, mas nem sempre era fácil se
mostrar de verdade a alguém. No fim, ele sempre me lembrava de que era
assim que uma amizade funcionava, sendo verdadeiros.
Meu namorado de mentira estava empenhado mesmo nisso. Contava
sobre sua relação com os irmãos, sobre o curso que havia escolhido, sobre
seus amigos e algumas lembranças preferidas da infância. Ainda não havia
visto o clã Davis interagindo juntos desde o dia do shopping, mas adorava a
forma como ele falava sobre a família. Bem, sobre os irmãos.
Dei de ombros sem querer contar a verdade.
— Eu acho que crianças precisam ser ouvidas. Às vezes as pessoas
costumam banalizar o que sentem, ou não perceber os seus silêncios como
uma forma de pedir socorro. Eu só queria estar disponível para ajudá-las
quando precisarem.
O polegar se moveu um pouco por minha mão em um gesto de
carinho ao notar meu nervoso com a conversa, fazendo com que meu coração
desse uma leve batucada no peito.
Ele assentiu como se conseguisse compreender exatamente o que eu
dizia.
— E como foi a sua infância? — quis saber.
Os olhos curiosos me olhavam com atenção.
— Normal — falei, dando de ombros. — Quer dizer, eu não sou uma
dessas patricinhas que passava o dia torrando dinheiro no shopping, mas
também não tenho uma dessas histórias comoventes que fazem as pessoas
chorarem. Meus pais foram os melhores que eu podia ter e eu morro de
saudade deles.
— E de onde você é?
— Nasci numa cidade pequena em Nebraska, mas nos mudamos para
Wisconsin e ficamos por lá até que eu estivesse aqui.
— Na Walker — Andrew falou. — E como foi a mudança? Você
queria, ou foi uma adolescente rebelde que começou a se vestir toda de preto
odiando o Universo?
Eu ri, dando uma olhada em suas próprias roupas.
Andrew usava sempre tons escuros. Preto, marrom, às vezes cinza.
— Você foi um desses revoltados, então? — ergui a sobrancelha em
sua direção.
Deu de ombros como se a resposta fosse óbvia.
— Na verdade — falei, continuando a história. — Quando meus pais
me contaram sobre a mudança eu pensei que ia odiar tudo. Já tinha uma
escola, amigos, uma vida. Não queria deixar tudo para trás.
Ele assentiu.
— Em geral, nunca estamos prontos para mudanças.
— Sim — concordei.
— E porque se mudaram? — perguntou, como se cada detalhe da
minha vida fosse importante.
— Oportunidades melhores de trabalho. — Dei de ombros. — Meus
pais trabalhavam muito e não tinham tempo para mim. Quando fomos
embora, eles começaram a trabalhar um pouco menos e ganhar um pouco
melhor também.
— E você gostava mais de onde morava ou para onde se mudou?
— Achei que gostava mais de onde morava. Porém a melhor coisa
que meus pais fizeram por mim, foi me tirar de lá. — confessei.
Andrew concordou com um balanço de cabeça.
— Você não é a pessoa que eu acreditei que fosse — Andrew falou.
— Uma patricinha que torra todo o dinheiro possível em lojas de
grife? — arqueei uma sobrancelha em sua direção.
Ele soltou o ar pelo nariz.
— Eu fico olhando para as pessoas aqui nesses prédios, vejo tanta
gente que só pensa em dinheiro, status — bufou, irritado. — Gente que não
se importa em usar as outras para chegarem onde querem... Quando a vi, no
primeiro dia de aula, olhando para a porta, a primeira coisa que pensei foi que
não adiantava aquela cara de admiração se você era só mais uma das que
tinha um pai para assinar um cheque gordo e comprar uma vaga para você.
— Se serve de consolo, meu pai nunca conseguiria dar um cheque
gordo. Foram muitos anos de dedicação para estar aqui — falei.
Não estava ressentida. Ele não estava de todo errado.
Sabia que existiam pessoas aqui que conseguiam vagas através de
favores financeiros. Pessoas que nem ao menos se importavam com os
diplomas, pois já tinham um futuro garantido. Mas eu não era uma delas.
— Bem, hoje eu sei disso. Você também é uma lutadora, Leighton. —
Ele piscou para mim, fazendo-me rir. — Teve que correr atrás do que queria.
— Ainda bem que luto com a cabeça. Sem dúvida quebraria meu
braço inteiro se tentasse dar um soco na cara de alguém.
— Você não precisa se preocupar com isso, Afrodite. Meus punhos
estão aqui à sua disposição.
Sorri para ele sentindo meu coração bombear o sangue mais rápido
pelo meu corpo.
— Bom saber. Talvez eles possam ser úteis em algum momento. —
Brinquei.
Ficamos em silêncio mais algum tempo.
— A Walker sempre foi o meu sonho, sabe? Desde pequena eu
estudei para estar exatamente aqui — confessei. — Não podia estar mais feliz
por ver onde cheguei.
— Eu não entendo. Se você queria tanto estar aqui porque pediu
transferência?
Meu coração parou de bater por alguns instantes.
Pisquei, engolindo em seco.
— Algumas vezes temos que abrir mão daquilo que mais queremos. É
a vida.
Andrew ainda me encarava deixando-me desconfortável.
— Você vai me contar a verdade? — Eu não precisava de maiores
explicações para saber do que ele estava falando.
Meu corpo automaticamente ficou tenso.
Olhei para a frente em completo silêncio.
Ficamos assim por algum tempo, apenas caminhando lado a lado. Ele
segurava minha mão brincando com o polegar sobre ela.
— Já falei muito hoje. — Fiz uma careta em sua direção. — Você
nunca fala dos seus pais. Como eles são?
Foi quase imperceptível, mas senti quando sua mão apertou um pouco
mais a minha. Como um ato falho. Em seguida, ele já tentava não demonstrar
incômodo com a pergunta.
— Minha mãe era uma das pessoas mais especiais que eu conheci. —
Olhei para ele enquanto falava. A expressão de paz e emoção em seu rosto
era muito bonita. Como se ele tivesse se transportado para um lugar cheio de
boas lembranças. — Ela morreu quando ainda éramos crianças. Eu tinha doze
na época.
— Nossa... eu sinto muito. — Andrew moveu o rosto em minha
direção. Seus olhos encontraram os meus, da mesma forma como havia feito
pouco antes de colar os lábios aos meus na festa. Engoli em seco quando seu
olhar caiu para minha boca. Uma parte de mim reagiu àquele olhar com
desejo de que ele me beijasse outra vez. Eu não devia querer isso. — E seu
pai?
A pergunta escapou dos meus lábios antes que eu pudesse detê-las,
tentando evitar que aquele beijo acontecesse novamente. Encará-lo nos olhos
era como o canto da sereia. Como ser hipnotizada e estar disposta a fazer
qualquer coisa que ele quisesse movida pela intensidade do seu olhar.
Entretanto, pela sua reação, percebi que foi a pergunta errada.
Seu queixo tencionou e seu olhar se tornou frio.
— Minha família não é da sua conta, Leighton.
O tom de voz era duro, e desde que combinamos de nos dar bem,
Andrew não falava daquela forma comigo.
— Esquece — murmurei, sentindo meu coração afundar um pouco no
peito.
Caminhamos em silêncio por alguns segundos. Eu, incomodada pela
forma como ele me havia me tratado. Ele parecia tenso demais. Nervoso.
— Desculpa. — Alguns segundos se passaram no mais completo
silêncio antes que ele continuasse. Eu não falei nada. Ele balançou a cabeça
em negativa, parecendo arrependido. — Leighton...
Andrew soltou o ar com força, e eu entendi. Havia partes de nós que
sempre seriam mais difíceis de permitir que os outros conhecessem.
— Tudo bem — interrompi, notando que era realmente difícil para ele
falar sobre o pai. — Todo mundo tem alguma coisa sobre a qual não quer
falar.
Ele assentiu e eu dei um pequeno sorriso em sua direção, sentindo
minha mente fervilhar de teorias sobre o que podia ter acontecido.
Caminhamos todo o resto do caminho em silêncio. Não um daqueles
de duas pessoas bravas, mas de quem queria pensar e estava aproveitando
aquele momento. Pela forma como seu queixo permanecia trincado, eu sabia
que ele ainda estava irritado, e me senti um pouco mal por ter levantado a
questão, mas ele mesmo havia dito que devíamos falar sobre tudo.
Bem, pelo menos o pai eu já sabia que era um tópico que deveria ser
riscado da lista de conversas seguras para evitar um beijo que mexeria com
todo meu corpo e confundiria meus pensamentos.
Desde que havíamos nos beijado de mentira na festa. Minha mente
não parava de repassar a cena. A forma como meu coração bateu. A maneira
que meu corpo correspondeu aos seus toques. A maneira como eu quis tocá-
lo. Andrew era como uma fagulha capaz de causar um incêndio em mim. Só
de lembrar sentia minha respiração ficar ofegante novamente. E, bem, teve
aquele momento depois quando ele pediu que eu não saísse de seu colo.
Era absurdamente vergonhoso admitir que, no final das contas, eu
gostei de saber que aquela ereção enorme tinha se formado por minha causa –
duas vezes, diga-se de passagem. Não podia duvidar disso já que, instantes
antes, eu era quem estava sentada no colo dele, com a língua enfiada em sua
boca.
Soltei um suspiro de... vontade de repetir?
Meu celular vibrou em meu bolso, assustando-me. Soltando nossas
mãos, o peguei para conferir.
— Ai, droga — murmurei, apenas lendo pela barra de notificação a
mensagem de Chiara.
— O que foi? — Andrew esticou o pescoço um pouco na direção do
celular à minha frente.
— Parece que aconteceu algum problema no dormitório e estamos
sem energia. — Soltei um grunhido. — Eu tenho alguns trabalhos pra
terminar e com certeza a bateria do meu computador não vai aguentar dois
segundos depois que eu ligar.
— Você pode estudar lá em casa. — Deu de ombros. — Eu tenho um
projeto para começar, meus irmãos devem ficar fora até tarde e depois eu te
deixo no dormitório. Ou, se precisar, pode dormir por lá. — Apertei os olhos
em sua direção. — O quê? Não estou te chamando pra transar. Posso dormir
no quarto de um dos meus irmãos ou na sala.
— E todo mundo ia saber que estamos mentindo — apontei.
Ele deu de ombros.
— Posso dizer que brigamos e você ganhou o direito de ficar com a
cama. Sei lá.
Ponderei um pouco. Não era o pior dos cenários. O notebook estava
na minha mochila que havia levado na esperança de que conseguisse estudar
na folga, porém hoje foi um dia daqueles em que mal tive dois segundos de
paz. Eu podia ficar lá um pouco, tomar um banho quente, estudar... Era um
plano.
— Se eu for, você realmente me leva para casa? — perguntei,
desconfiada, mas animada com a ideia do banho quente. Banho quente era
simplesmente a melhor coisa da vida.
— Se você ainda quiser, prometo que sim. Mas aposto que vai gostar
tanto da minha companhia que vai implorar para morar na minha casa pra
sempre.
Eu ri.
— Tá bom, mas estou indo pelo banho quente. Sem energia é igual a
água fria — falei com firmeza, apontando o indicador em sua direção.
— Se você quer me chamar para tomar banho com você, não precisa
ser tão direta assim, mas só pra constar, eu topo.
Rolei os olhos com uma expressão divertida.
— Sozinha, Andrew. Vou tomar banho quente, sozinha.
— Eu posso ensaboar suas costas. — Apertei os olhos em sua direção.
— Só estou oferecendo. Sendo gentil. Não é isso que os namorados fazem?
— Agradeço a gentileza, mas eu passo.
— Quem perde é você. Sei ensaboar costas como ninguém. — Ergueu
uma sobrancelha para mim.
Os olhos tinham um toque de diversão e eu estava gostando desse
clima bom com ele.
— Eu também não sou nada mal. — Dei de ombros.
— Só acredito experimentando, e como você está oferecendo, eu
aceito.
— Vai sonhando! — Brinquei, dando uma cotovelada nele.
— Que egoísmo... Destruindo a água do planeta só para que eu não a
veja pelada. Quando egoísmo.
— Cala a boca, Andrew. — Ri, me sentindo um pouco
desconfortável, mas também achando graça de como ele conseguia brincar
com leveza sobre assuntos dos quais eu morria de vergonha. — Vou pelo
banho quente, e vou tomar banho sozinha. Ponto.
— Claro que sim — confirma com um sorriso zombeteiro. — Longe
de mim pensar algo diferente disso.
Andrew passou o braço por meus ombros fazendo com que nossos
corpos ficassem muito mais próximos começando a nos guiar na direção
contrária a qual estávamos indo.
Eu estava indo para o apartamento do meu namorado de mentira.
O problema era que meu corpo pareceu não entender os motivos pelos
quais nós estávamos mudando de endereço e se animou um pouco com a
repentina proximidade entre nós.
Era só pelo banho.
Repassei em minha mente.

Meus olhos estavam quase fechando.


Os cotovelos seguiam apoiados na mesinha de centro no meio da sala
enquanto eu passava os olhos em um artigo impresso e, vez ou outra, digitava
algo importante no computador. Minha mente estava cansada e meus
pensamentos pareciam bem incoerentes para alguém que precisava escrever
um texto com o mínimo de decência. Uma piscada poderia converter-se
facilmente em meu corpo jogado no meio da sala de Andrew em um sono
profundo.
Andrew estava jogado no chão, rodeado de palitos de picolé e, muito
concentrado, encaixava-os com firmeza e precisão. Ele havia me mostrado o
desenho do seu projeto. A ponte de Washington.
Contive um bocejo, passando os olhos pela sala para me distrair. O
apartamento era bem mais organizado do que eu esperava encontrar. Tinha
um cheiro agradável de desinfetante de limão. As paredes de tijolinhos
davam um ar meio rústico ao ambiente. Na parede principal uma enorme TV,
um pouco mais abaixo uma estante com Playstation e uma enorme fileira de
jogos, algumas fotos dele com seus irmãos.
Os garotos, eu já conhecia e tinha gostado bastante deles. Em especial
do Benjamin. Ele era espontâneo e divertido. Era fácil conversar com ele.
Jackson parecia mais fechado, mas depois que se conectava com a pessoa
também era alguém legal de se ter em sua vida.
Eles eram lindos e bem parecidos. Todos com os cabelos em tons
mais claros, abraçados, com sorrisos abertos, o que não era tão comum para o
Jackson, segundo observei, e os olhares voltados para a garota. Olívia parecia
ser um enorme elo entre eles. Não parecia em nada com a garota decidida que
o irmão havia dito, os olhos claros brilhavam. Os cabelos caíam pelo rosto
enquanto um chapéu de aniversário infantil estava no topo de sua cabeça. Um
enorme sorriso cortava seu rosto. Pareciam felizes.
Eu queria saber de quem eles herdaram os traços, mas já tinha
compreendido que aquele seria um assunto proibido entre nós e eu não queria
forçar nada. O clima leve estava bom, divertido. Eu gostava daquele Andrew.
Continuei escrutinando o ambiente até onde meus olhos conseguiam
chegar. Através do reflexo da Tv desligada, eu podia ver o sofá azul com
algumas almofadas em tons pastéis sobre ele. No andar de baixo, havia
também uma cozinha muito bem organizada e um banheiro. Lá em cima, os
quartos. Tinha, mais cedo, ido aproveitar o chuveiro quente e, novamente,
fiquei surpresa com o que havia visto. O quarto era simples. Uma cama de
casal, uma Tv na parede que ficava em frente à cama, mesa de estudos,
guarda-roupa, porém, tudo muito bem-arrumado.
— Ei — falou, me fazendo dar um pequeno pulo no chão quando
estalou os dedos em minha frente.
— Você quer me matar? — pus a mão no coração sentindo-o bater
mais rápido no peito.
— Tô tentando te ajudar. Você está quase dormindo. — Ele se
aproximou do outro lado da mesa.
— Eu sei, acho que vou pra casa dormir. Meu turno é à noite amanhã
e posso acordar mais cedo para estudar. De toda forma, falta pouco, preciso
acabar logo.
— Ugh. — Tremeu o corpo inteiro como se estivesse tendo um
calafrio. — Uma pessoa capaz de acordar cedo para estudar é capaz de
cometer atrocidades ainda maiores. Se um dia precisar de alguém para
esconder um corpo, sei que você dá conta do recado.
Eu ri, balançando a cabeça em negativa, mas bocejando em seguida.
Movimentei o pescoço movendo-o de um lado para o outro sentindo alguns
estalos.
— Vamos? — perguntei, fechando a tela do meu computador.
— Acho que você não precisa ir agora, mas, sim de um pouco de
diversão para distrair essa mente. — Andrew levantou-se, caminhando
despreocupadamente até a estante pegando o controle da Tv. — Vem.
Ele estendeu a mão para mim esperando que eu a aceitasse.
— É sério, eu preciso dormir.
— Relaxa. Quinze minutos de um filme e nós paramos, você estuda
mais um pouco e te deixo em casa. Assim você não vai mais precisar acordar
tão cedo.
Mordi a parede interna da boca tentando pensar em algo que o fizesse
desistir, mas talvez eu realmente precisasse desse pequeno momento de
distração.
— Vem logo, vou pedir alguma coisa pra gente comer. — Deu uma
batidinha no espaço ao seu lado no sofá e foi o que bastou para que eu fosse
convencida.
— O que vamos ver? — quis saber, pondo meus pés para cima.
Eu vestia um par de meias que ele havia me emprestado garantindo
que eram novas. O short curto e que mais parecia uma roupa de malhar,
segundo ele, era uma roupa esquecida pela irmã e não de uma das muitas
garotas que deviam passar por aqui. A blusa gigante que me engolia tinha um
desenho do emblema da universidade e o seu cheiro, que fez com que meus
pelos se arrepiassem.
Assisti enquanto ele analisava os filmes pelo menu. Seu corpo parecia
relaxado. Seus olhos pareceram acender-se quando encontrou algo que
chamou atenção.
— A melhor franquia do mundo. — Um pequeno sorriso surgiu em
seu rosto.
— Qual? — franzi o cenho, olhando a tela.
— Se você não responde a isso com Velozes e Furiosos, claro, eu
posso garantir que existe um enorme problema com você.
Olhei a tela com a imagem do gostoso do Paul Walker bem mais
novo.
— Nunca assisti nenhum filme da franquia, acredita? — falei, o
encarando ao final da confissão.
— Você está falando sério? — parecia não acreditar em mim. —
Nenhum ser humano existente nunca não assistiu essa maravilha.
— Bom, então, você vai precisar achar uma nova forma de me
chamar, já que aparentemente não me enquadro nos requisitos para ser uma
humana.
— Na verdade, nós vamos corrigir esse erro. — Piscou para mim
saindo do canal e abrindo a página de um dos streamings disponíveis,
localizando o filme com uma rapidez impressionante, dando play e pausando
em seguida. — Que tal uma pizza?
Assenti. No instante seguinte ele já estava com o aparelho grudado no
ouvido, perguntando qual o sabor que eu queria. Todo o processo levou
menos de cinco minutos até que ele estivesse confortável ao meu lado,
iniciando o que ele havia me garantido ser a experiência cinematográfica
mais importante da minha vida.
Minha mente parecia dividida entre prestar atenção nos homens lindos
à minha frente e não conseguir desligar que, ao meu lado, havia também um
cara incrivelmente lindo e com um sorriso digno de derreter corações.
O filme retrata a história de Brian, um policial que se infiltra no
mundo dos rachas ilegais. Para isso ele precisa conquistar a confiança de
Dom e não ser desmascarado. O tipo de filme que nem precisamos assistir
para sabermos o final. E, por mais que nunca tivesse assistido, eu conhecia
bem o roteiro. Ele ia se apaixonar pela irmã do cara que estava enganando e
também passar a apreciá-lo.
— Quantas vezes você já assistiu? — perguntei, ainda nas primeiras
cenas.
— Shiii, presta atenção. — Deu uma cotovelada de leve em meu
braço, mas falava sério. Ele queria mesmo que eu prestasse atenção.
Soltei um suspiro, rendendo-me e prestando atenção no cara loiro
interpretado por Paul Walker sendo empurrado no carro por um idiota que
devia ser o namorado de Mia e dando inicio a uma briga.
Não sabia bem como, mas o enredo, embora previsível, acabou me
prendendo. Talvez tenha sido por causa da adrenalina. As corridas falsas e
cheias de efeitos faziam meu coração bater mais rápido e, por isso, tomei um
enorme susto quando o interfone tocou. O que pareceu divertir Andrew. Ele
pausou o filme que já estava quase em trinta minutos.
— Deve ser a pizza. Já volto — falou, levantando-se e indo em
direção à porta.
Andrew falou com alguém pelo interfone e desapareceu por alguns
segundos. Eu me espreguicei, mas estava ansiosa para que retornasse.
— Umas vinte, ou trinta. Talvez cem — falou, assim que passou pela
porta, fechando-a com o pé. Nas mãos, duas caixas de pizza e duas garrafas
de refrigerante. O cheiro estava tão bom, que fez minha barriga roncar ao
mesmo tempo em que minha boca de encheu de água.
Ele riu.
— Vinte, trinta ou cem, o quê? — Franzi o cenho como se ele fosse
maluco.
— A quantidade de vezes que já vi esse filme.
Abri a boca em um O.
— Sério? — Ele assentiu, voltando para perto. O ajudei, tirando meu
computador da mesa de centro, onde ele colocou as caixas. — E eu posso
saber o que esses filmes têm de especial?
— Se você não descobrir até o final deles, você não é quem eu penso,
Afrodite. — Ele sorriu para mim.
— E eu posso saber o que você pensa a meu respeito? — ergui a
sobrancelha para ele com uma expressão divertida no rosto.
— Talvez, se você conseguir pegar a essência dos filmes, eu te conte.
— Assisti enquanto o homem à minha frente puxava a mesa de centro para
ficar mais próxima de nós e facilitar o acesso à comida. — Nosso jantar.
Quer prato?
Neguei, balançando a cabeça, ouvindo minha barriga me fazer passar
vergonha novamente, enquanto agarrava uma enorme fatia da pizza de
pepperoni bem suculenta. Soltei um gemido assim que a mordi.
— Meu Deus, acho que nunca comi nada tão gostoso assim. — Olhei
para ele rapidamente dando um sorriso. — Sério, isso está bom demais. O
quê? — Quis saber ao ver a forma como ele me encarava. Como se eu
estivesse torturando-o de alguma forma.
— Talvez você não saiba, mas nós, homens, somos naturalmente
programados para pensar em sexo a todo momento. Todo momento, mesmo.
E quando você geme assim, pra um pedaço de pizza, você não pode querer
que meu pau não pense automaticamente nos sons que você faria se estivesse
embaixo de mim.
Arfei, sem saber o que ele esperava que eu dissesse depois disso,
sentindo a intensidade do seu olhar sobre mim e meu coração bater
descompassado dentro do peito.
— Eu não... — tossi, tentando disfarçar meu constrangimento. —
Desculpe, acho que é melhor eu ir embora. — Ia começar a levantar, mas sua
mão prendeu meu pulso.
— Não quero que você vá — declarou com intensidade. O indicador
tocando a ponta de um dos meus cachos e prendendo o cabelo nele como se
prendesse o dedo em uma mola. — Não vou te atacar. Só, por favor, não faz
a porra desse som novamente.
Assenti, constrangida demais para falar qualquer coisa.
Andrew não esperou mais nada. Soltou meu cabelo parecendo
relutante, deu o play e pegou uma das almofadas próximas a ele pondo-a em
seu colo.
Eu o havia deixado naquele estado mais uma vez. E, por mais que eu
quisesse me socar por estar gostando da sensação, não podia fingir que estava
indiferente ao fato de que um dos caras mais desejados da universidade ter
ficado excitado novamente, por mim.
Não fazia a menor ideia do motivo, mas eu gostava de saber que tinha
aquele poder sobre ele, assim como ele me fazia sentir coisas que eu não
devia.
Balancei a cabeça em negativa. Era só sexo. Seu corpo era
programado para pensar em sexo. Não havia nada de especial comigo.
Provavelmente se ele beijasse um cacto ficaria excitado também.
Eu não tinha absolutamente nada com aquelas reações.
O filme realmente era muito bom.
Foi a primeira conclusão a que cheguei assim que surgiram os
créditos e eu estava tão tensa que soltei o ar com força dos pulmões.
— E então? — Andrew quis saber.
— Melhor do que eu havia imaginado. Muito bom mesmo, apesar de
saber que a franquia tem, sei lá, quinhentos filmes, cheguei a achar que o
Dom ia morrer no final. — confessei, animada.
— Eu sabia que você ia gostar. — Sorriu. Um daqueles sorrisos que
faziam meu coração dar uma leve e estúpida balançada.
— Isso quer dizer que eu sou quem você imagina? — questionei,
ansiosa para saber o que ele pensava a meu respeito.
— Vamos descobrir isso logo que você finalizar a franquia.
— Você é um idiota — brinquei, revirando os olhos.
— Mais um? — Apontou para a tela à nossa frente.
Franzi o cenho, procurando meu aparelho celular jogado no sofá onde
estávamos. Apertei o botão lateral vendo a tela se acender. Não era tão tarde,
21h. Dava tempo de começar e levar até pelo menos a metade do filme.
Mordisquei o lábio pronta a dar a resposta, porém o aparelho vibrou
em minha mão com uma mensagem da Chi avisando que tinha ido dormir
com a Mad, pois a energia não tinha voltado, o que fazia com que o
aquecedor não funcionasse. Ela sugeriu que eu dormisse no quarto do meu
namorado e aproveitasse a noite da melhor forma possível. Nem precisava ter
mandado o emoji de chamas para deixar claro o que queria dizer.
— O quê? — perguntou se aproximando um pouco mais.
— A Chi mandou mensagem avisando que a energia não voltou e que
eu devia aproveitar para ficar aqui.
— Isso nos garante pelo menos mais um filme. — Ergueu a
sobrancelha. — Ainda temos quase uma caixa de pizza inteira.
Não sabia se era uma boa ideia. Pelo menos não depois do que havia
acontecido antes. Dormir no mesmo quarto que o Andrew talvez não fosse
uma ideia inteligente.
— Não sei... — suspirei. — Acho melhor dormir com as meninas na
Mad.
— Pense nisso como uma festa do pijama. Nós vamos conversar até
tarde e ver filmes. Podemos falar dos caras que você acha gostosos na
universidade se você quiser também.
Coloquei a mão no peito, com uma expressão de admiração.
— Vamos pintar as unhas e fazer maquiagens? — semicerrei os olhos
mordiscando o lábio.
— Não exagera. — Rolou os olhos. — Sério. A gente vê mais um ou
dois filmes, comemos mais um pouco e amanhã cedo te levo pra buscar suas
coisas no dormitório.
Ponderei por alguns segundos. Eu podia mesmo ver o filme dois e,
quem sabe, ainda finalizar meu trabalho.
— Tá bem, podemos ver mais um.
Ele sorriu, parecendo animado demais.
— Vou ver se tem alguma coisa pra gente beber — avisou, indo até a
cozinha e voltando com mais algumas garrafas de refrigerante.
— Pensei que você era mais do tipo cerveja — comentei, pegando a
lata que ele estendia em minha direção.
— E sou. Mas não hoje. Não com você aqui. — Formei uma linha
com os lábios. Eu nunca sabia o que falar quando ele começava com essas
coisas. — Posso soltar?
Assenti, pegando um pedaço da pizza e lembrando-me de não soltar
nenhum gemido. Seguimos vendo o filme por algum tempo.
— Ei — Andrew chamou, me fazendo virar em sua direção, ele tinha
um sorriso engraçado nos lábios. — Tá sujo aqui — falou, aproximando-se e,
com o polegar limpando o canto do meu lábio e fazendo com que uma
corrente elétrica perpassasse por todo meu corpo.
Os olhos focados nos meus. Intensos. Cheios de desejo. O olhar caiu
para meus lábios e mesmo antes que eu pudesse notar, os lambi.
Ele ergueu, preguiçosamente, o canto esquerdo dos lábios em um
sorriso.
— Eu queria ser capaz de dizer que sinto muito, mas seria a maior
mentira de todas — sussurrou, aproximando ainda mais o rosto do meu.
Fechei os olhos quando ele se aproximou mais em expectativa.
Seus lábios encontraram a têmpora, deixando um rastro de beijos até
o queixo. Suas mãos foram parar em minha cintura com um aperto gostoso
que me fez arfar. Ele murmurava alguma coisa contra minha pele fazendo-me
arrepiar. Segurei, com força, o tecido da camisa que cobria seus ombros
enquanto um misto de sensações estranhas tomavam meu corpo.
Expectativa. Ansiedade. Desejo.
Eu não devia querer aquilo. O correto seria afastá-lo. Porém, o correto
não era nada do que eu prezava nesse momento. A única coisa em que
pensava era nos seus lábios sobre os meus mais uma vez.
Tentava fingir que não, mas eu gostava quando ele me beijava. E
muito.
Como se pudesse ler meus pensamentos, Andrew mordiscou meu
lábio inferior fazendo com que meu corpo inteiro estremecesse. Antes que eu
pudesse sequer registrar, ele começou o beijo. A língua brincando com meus
lábios até que se abrisse permitindo que ela explorasse minha boca com
afinco.
Seus dedos foram parar em minha nuca movendo meu rosto de
maneira a deixar meu pescoço à sua disposição. Os lábios foram para lá.
Entre beijos, mordiscadas e pequenas lambidas. Movi um pouco mais a
cabeça para trás dando mais espaço para ele.
Eu queria mais.
Meu corpo foi erguido e eu acabei sentada sobre ele. Uma perna de
cada lado do enorme homem embaixo de mim. Ele gemeu quando empurrei
meu quadril alguns centímetros para a frente friccionando nossos corpos e me
fazendo sentir uma sensação gostosa. Repeti o movimento, ouvindo-o gemer
mais alto. Ele estava duro, e por mais que a sensação de gostar daquilo me
assustasse, eu gostava. Cada vez mais.
Minhas mãos apertaram os cabelos curtos em sua nuca e ele soltou
um rosnado gutural, voltando os lábios com voracidade para os meus.
Como era bom.
Andrew aprofundou ainda mais o beijo. Eu estava perdida. Perdida
em pensamentos. Perdida em sensações. Perdida nele.
— Que tal irem transar no quarto? — Uma voz soou alta de algum
lugar, me fazendo dar um salto.
Podia ter ido parar na Inglaterra a nado, apenas para evitar o
constrangimento de ter dois pares de olhos nos encarando com diversão.
Eu podia simplesmente morrer de vergonha nesse exato momento.
— Você é sempre inconveniente, Benjamin — Andrew falou,
impedindo que eu descesse de seu colo e depositando um beijo em minha
bochecha.
— A culpa não é nossa se você não é cavalheiro suficiente para levar
a garota pro seu quarto. Pensei que a regra de não levar garotas lá pra cima,
não valesse para namoradas — falou. Franzi o cenho. — Se fosse a minha
gata...
— Mas não é. É a minha namorada — interrompeu, frisando bem o
pronome possessivo. — Ei, Leigh — falou comigo dessa vez, mas antes de
continuar colou nossos lábios rapidamente, como se quisesse me dizer que
estava tudo bem, sobre controle. — Você já conhece meus irmãos.
Sorri para os dois.
— Oi. — Acenei, constrangida, recebendo saudações animadas de
longe.
Dessa vez consegui mudar de lugar e sentei-me no espaço vazio do
sofá. Ia começar a afastar-me dele, quando passou o braço por meu ombro
trazendo-me para mais perto do seu corpo.
— O que estão fazendo além de protagonizar as preliminares de um
pornô no meu sofá? — Benjamin quis saber, já se aproximando e foi
impossível não sentir meu corpo esquentar de vergonha. — Claro que ele ia
fazer você assistir esse filme. — Rolou os olhos. Talvez ele realmente tenha
batido o recorde mundial em assistir a franquia Velozes e Furiosos mesmo.
— Vou assistir com vocês e impedir que minha cunhada seja o tempo inteiro
importunada por essas mãos inquietas.
Ele se aproximou com um enorme sorriso no rosto, apontando um
espaço ao seu lado para Jackson que acabava de voltar da cozinha com uma
garrafa de cerveja na mão. Ele era sério demais. Bonito, também, é claro.
Mas diferente dos irmãos que pareciam ter um sol ao redor deles. Era como
se ele fosse a lua. Taciturna e fria.
— Tem pizza. Vai negar? — parecia divertido ao falar com o mais
novo dos garotos.
— Você sabe que eu nunca digo não a pizza — retrucou, caminhando
em nossa direção também, mas como se estivesse a contragosto.
Andrew não se incomodou, apenas sorriu colando os lábios em minha
têmpora mais uma vez.
Eu não tinha muitas certezas sobre a vida, mas aquele beijo, sem
dúvidas, não foi um beijo de mentira. Não podia permitir que coisas como
aquelas continuassem acontecendo, eu tinha um objetivo, e esse namoro era
apenas para garantir que meu plano desse certo.
Se continuasse gostando dos beijos dele, aquilo podia dar errado.
Para mim.
Capítulo 25

— Você sabe que a cama não vai te morder, né? — perguntei,


achando graça da forma como Leighton encarava o móvel à sua frente.
Ela permanecia a alguns passos da enorme cama, como se fosse uma
armadilha da qual precisava manter distância. Suas roupas, as que havia
trazido do trabalho, estavam perfeitamente dobradas sobre o baú de madeira
maciça que Olívia havia escolhido para que eu guardasse os lençóis limpos.
— Sei... — não. Ela não sabia. A insegurança na voz deixava bem
claro. — A cama pode até não morder, mas o problema é o dono do quarto.
— Olhou-me de soslaio, como se estivesse preocupada com a resposta.
— Ah, eu mordo sim, e as garotas costumam gostar. — Pisquei para
ela, que fez uma careta exagerada.
— Acho que é mais seguro você dormir na sala. — O comentário saiu
rápido, como uma confissão. E, por mais que eu esperasse, levando em conta
o seu desconforto, que em algum momento essa sugestão surgiria, não foi
exatamente agradável de ouvir.
— Afrodite, a cama é grande o bastante para que possamos dormir
confortavelmente sem que encostemos um no outro, já que você tem tanto
medo de não resistir ao meu charme e me atacar durante a noite.
A maneira como ela virou o rosto repentinamente para me encarar fez
com que eu sentisse vontade de dar uma gargalhada, mas reprimi. Pelo seu
olhar, ela podia me atirar facilmente pela janela.
— Foi você quem me atacou — acusou, como uma criança de seis
anos pondo a culpa de seu erro no colega.
Dei de ombros, cruzando os braços na frente do meu corpo.
— A culpa é sua de ter uma boca irresistível. — Inevitavelmente, meu
olhar desceu para os lábios entreabertos e convidativos.
A garota virou o rosto um pouco constrangida.
— Não gosto quando você fala essas coisas — confessou, nervosa.
— Por quê? É verdade. — Joguei-me na cama para que ficasse de
frente para ela encarando o seu corpo curvilíneo.
Virgem, virgem, virgem.
— E é exatamente por isso que devemos dormir o mais distante
possível. Nós combinamos que não íamos nos beijar e olha só, já até perdi as
contas da quantidade de vezes que você não conseguiu deixar essa boca que
beija todo mundo longe de mim.
Foi a minha vez de rolar os olhos, não deixando de notar que a ideia
de que eu beijasse pessoas por aí a incomodava.
— Afrodite, se você quer que acreditem que estamos namorando eu
preciso beijar você. Tá certo que não é nenhum sacrifício, mas ninguém
acreditaria que eu resolvi me tornar um monge com a minha namorada.
Estranhamente, assim que as palavras interromperam meus lábios eu
senti como um soco no estômago. Aquele beijo foi tudo, menos um beijo de
mentira. Havia apenas uma verdade em tudo aquilo: Eu sentia uma enorme
necessidade de beijá-la. E pela forma como meu corpo reagia eu sabia que
neste momento a necessidade de sentir seus lábios e o corpo quente contra o
meu estava tornando-se urgente outra vez.
— Não tinha ninguém na sala lá embaixo. — Ergueu a sobrancelha
como se quisesse provar um ponto.
— A culpa foi sua que deixou molho no canto dos lábios de propósito
para me seduzir — brinquei, erguendo a sobrancelha para ela. — Pense pelo
lado positivo, agora nem mesmo meus irmãos vão poder duvidar da gente
depois daquela demonstração nível cinco estrelas.
— Justamente por isso...
— Olha só — interrompi-a —, foi um beijo. Nós estamos melhorando
nossa relação e nos dando bem na amizade. Amigos se beijam às vezes e isso
pode não dizer nada, inclusive. Não precisa surtar. Posso dormir no chão se
você se sente mais confortável assim, mas só queria deixar claro que não
pretendo te atacar durante a noite nem nada.
Ela arregalou os olhos assustada.
— Eu sei. — Apressou-se em explicar. — Não estou dizendo isso, é
só que, depois do que aconteceu lá embaixo, acho que a gente devia evitar. —
Mordiscou o lábio, nervosa.
— Sem problema — garanti, levantando-me e caminhando até o
armário em busca de algumas cobertas.
Podia sentir seu olhar queimando sobre minhas costas enquanto
segurava os cobertores mais confortáveis para improvisar um espaço para
dormir aos pés da minha cama.
— Eu posso dormir no chão e você fica com a cama. É justo já que
sou eu que estou te expulsando.
— Larga de bobagem — soltei um suspiro alto, enquanto jogava os
lençóis sobre a cama para começar a organizar meu espaço. — Fica tranquila.
Eu não deixaria você dormir no chão frio. — Notei quando Leighton se
encolheu um pouco, como se as palavras a tivessem ofendido. Ela abriu a
boca para falar, mas eu a interrompi. — Relaxa, tá tudo bem.
O silêncio permaneceu reinando no quarto enquanto eu dobrava os
lençóis e os posicionava, um sobre o outro, no chão.
— Andrew...
— Tá tudo bem, eu juro. — Encarei-a, sorrindo. — Mas se você
quiser mudar de ideia, dormir de conchinha não me parece uma coisa tão
ruim.
Brinquei, vendo-a sorrir um pouco.
— Estamos prontos para dormir, então? — cruzou os braços em
frente ao corpo com uma expressão inocente no rosto.
— Sim — respondi, me jogando nos lençóis e movendo o corpo de
forma que estivesse de frente para ela. — Não mereço um beijinho de boa
noite?
Ergui a sobrancelha em sua direção.
— Você é impossível, Andrew. — Ela riu. Mais à vontade dessa vez.
— Boa noite.
Fechei os olhos quando ouvi o farfalhar dos lençóis enquanto ela se
movia na cama. Tentei me concentrar em qualquer coisa, menos na garota
deitada poucos metros de mim. Uma coisa inédita. Além da Olívia, nenhuma
outra garota tinha permissão para dormir aqui. E cá estava eu, deitado no
chão, enquanto uma garota – a única, inclusive – que vivia reclamando por eu
beijá-la, ficava confortável em minha cama.
Podia ouvir sua respiração inquieta, como se estranhasse o ambiente
novo. Ninguém falava nada. Mas a fricção do seu corpo contra os lençóis,
assim como sua movimentação, não escondiam o nervosismo.
Bocejei, sentindo meu corpo começar a entrar em torpor, fechei os
olhos concentrando-me no som irregular de sua respiração.
E, enfim, tudo escureceu.

Uma das melhores coisas sobre o meu quarto é que eu realmente não
conseguia ouvir nenhum tipo de barulho que vinha do lado de fora. Algumas
vezes, os vizinhos resolviam ouvir música até mais tarde e eu só ficava
sabendo na manhã seguinte quando Jackson e Benjamin reclamavam.
Foi exatamente por esse motivo que minha mente começou a
despertar estranhando os sonhos que ouvia.
Abri os olhos encarando a escuridão com a mente ainda confusa e
sem entender o motivo de estar com um frio que não é costumeiro. Pisquei
algumas vezes até me dar conta de que eu estava dormindo no chão. E estava
dormindo no chão porque Leighton estava em minha cama.
Pisquei mais algumas vezes, movimentando-me entre os lençóis.
Ergui a cabeça para ver se ela estava bem, entretanto o som da respiração
entrecortada me chamou atenção assim como a visão de sua silhueta sentada.
A mão sobre o peito como se assim pudesse controlar o desconforto dentro
do peito.
Levantei-me rapidamente.
— Ei, Leighton, você está bem? — perguntei, aproximando-me.
Acendi o abajur na mesa de cabeceira e a cena que vi fez com que
meu coração se apertasse um pouco.
O sentimento de impotência me assolando outra vez. Apertei os olhos
por um segundo. Eu precisava me concentrar e focar nela.
Leighton estava pálida e trêmula. Os olhos assustados tinham um tom
de vermelho e algumas gotas de lágrimas escorriam por suas bochechas.
Sentindo como se estivesse voltando no tempo, sentei-me na ponta da
cama de forma que estivesse em sua frente. Peguei sua mão livre entre a
minha. A mão estava gelada e molhada de suor.
Eu sabia bem o que era aquilo. Já tinha visto Benjamin naquele estado
algumas vezes.
— Respira fundo — pedi. — Estou aqui com você.
Apertei de leve sua mão como se quisesse mostrar-lhe que ela poderia
contar comigo. Ela me encarou, mas era como se não me visse. Os olhos
estavam desfocados e havia uma névoa pairando neles.
— Respira — pedi outra vez. — Vai ficar tudo bem, eu prometo. Vou
colocar sua mão em meu peito e nós vamos respirar juntos, tudo bem?
Leighton assentiu.
Fiz conforme havia dito. Pressionei a mão gelada contra meu peito
quente por conta dos cobertores.
— Fica calma. Eu estou aqui com você e não vou deixar que nada de
ruim te aconteça, eu prometo — Leighton assentiu, a forma como
movimentou o rosto fez com que eu conseguisse ver sua expressão assustada
e os olhos que estavam cheios de lágrimas. — Respira comigo. Um. —
Contei, inspirando.
Ela imitou meu gesto, inspirando também.
— Dois. — Expirei, vendo-a fazer o mesmo. — Três. — Inspirei. —
Quatro. — Expirei. Continuei nesse ritmo até chegar ao número dez.
— Você está indo muito bem, Afrodite. — Afaguei sua mão que
continuava sobre meu peito dando um sorriso encorajador para ela. — Mais
uma vez?
Ela assentiu.
Dessa vez, parecendo mais relaxada, fechou os olhos concentrando-se
em minha voz e nas nossas respirações. Continuamos assim mais algum
tempo. Sempre dividia em sessões de dez elogiando-a nos intervalos. Aos
poucos, sua respiração se normalizou e a cor foi retornando ao rosto.
— Está melhor? — perguntei, passando o indicador da mão livre por
seu rosto pondo um pouco de seus cachos atrás da orelha.
Leighton assentiu.
— Sim. — A voz estava fraca, mas aposto que ela queria testar para
saber se de fato estava bem.
— Você acha que pode ficar um pouco sozinha? Vai te fazer bem
beber um copo de água.
Ela pareceu insegura por alguns instantes, então assentiu. Não me
levantei de imediato. Nossas mãos permaneciam unidas e eu estava gostando
da sensação. Sair do quarto significava que eu teria que soltá-la. E eu tinha
certeza de que não estava disposto a isso.
Bufei, sabendo que ela precisava disso.
Eu garanti que voltaria em um minuto dando um aperto leve em sua
mão. Acostumado com o ambiente e fazendo o mesmo percurso há dois anos,
pelo menos, não tive dificuldade para chegar à cozinha no escuro, pegar a
água para ela e depois retornar ao quarto em tempo recorde. Estendi o copo
em sua direção. Seus dedos tocaram os meus ao pegá-lo e senti uma estranha
quentura se apossar do meu corpo.
Assisti quieto enquanto Leighton dava pequenos goles na água.
— Desculpa — ela falou depois de baixar o copo e pousá-lo próximo
às pernas. O polegar subia e descia pela superfície lisa mostrando o quanto
estava nervosa.
— Não precisa se desculpar — garanti, sentando-me ao seu lado outra
vez.
Leighton balançou a cabeça em negativa.
— Já tem um tempo que eu não me sinto assim. — Baixou a cabeça
como se estivesse envergonhada demais para me encarar.
— Você não precisa se explicar, Afrodite. — Usei um tom gentil,
apertando um pouco o seu braço com gentileza.
Permanecemos em silêncio por algum tempo.
Ela engoliu em seco, pousando o copo que ainda segurava sobre a
mesa de cabeceira ao lado do abajur que nos iluminava.
— Como você... Como você aprendeu a fazer isso?
— Meu irmão. Benjamin passou por uma fase muito ruim quando
perdemos nossa mãe.
— Eu sinto muito. — Mordiscou o lábio.
Assenti.
Ficamos em silêncio outra vez. Leighton bocejou.
— Quer tentar dormir?
Ela abriu a boca para responder, mas não falou nada. Movimentou a
cabeça em um gesto afirmativo.
Dei-lhe um sorriso encorajador puxando o lençol da cama para que
ela pudesse deitar antes de cobri-la. Ainda parecia desconfortável mesmo
depois que havia passado o edredom por seu corpo. Leighton mordia o lábio
inferior mexendo a mão de forma quase compulsória.
— Quer que eu deixe o abajur aceso?
Assentiu, outra vez.
Sorri para ela sem nenhuma vontade de retornar ao meu amontoado
de lençóis no chão. Não tinha certeza se ela estava se sentindo melhor o
bastante para ficar sozinha outra vez.
— Andrew — Leighton chamou quando, relutante, dei as costas
voltando para o espaço no chão onde eu havia arrumado a minha cama. Virei-
me outra vez em sua direção. Os dentes estavam pressionados nos lábios
inferiores — Acho que você pode dormir aqui. Você tem razão, sua cama é
enorme, tem espaço para nós dois — falou com um sorriso nervoso.
— Tem certeza? — ergui um pouco o lado esquerdo dos meus lábios.
— Você pode acabar não resistindo ao meu charme e me atacar durante a
noite.
Ela sorriu. De verdade dessa vez.
— Você não é tão irresistível quanto pensa. — Leighton puxou o
lençol do lado vazio da cama indicando que eu devia deitar. Não me movi por
algum tempo encarando o espaço vazio. — Prefere o chão, então? — ergueu
uma sobrancelha em minha direção jogando o lençol sobre o espaço outra
vez.
Não preferia o chão, mas seria um transtorno para meu pau dormir ao
lado dela sem poder tocá-la.
— Vou correr o risco de vê-la não resistir a mim.
Leighton sorriu ao me ver deitar ao seu lado.
Ficamos em silêncio outra vez.
— Andrew — chamou, baixinho. — Como ela morreu? — perguntou
depois de um tempo. — A sua mãe.
Senti meu corpo gelar por alguns instantes.
Não falava sobre isso. Sobre ela. Sobre aquele dia.
— Você não precisa responder se não quiser — concluiu, percebendo
que eu havia ficado em silêncio tempo demais. Sinal de que não iria falar
sobre o assunto.
Já pensei sobre isso. Milhares de vezes.
Em falar com alguém.
Mas já naquela época, eu sabia que precisava ser forte. Que tinha que
ser forte. Leighton estava deitava de frente para mim. O braço esquerdo e a
cintura prensados contra a cama. Ela me encarava com curiosidade. Não
como se esperasse que eu fosse falar alguma coisa, mas como se de alguma
forma quisesse me decifrar.
Os olhos escuros eram ao mesmo tempo intensos e inocentes. Eu
tinha feito algumas ideias erradas a seu respeito e agora já não sabia quem ela
era. Mas tinha certeza de que Leighton não era absolutamente nada
semelhante à garota que eu havia cogitado e desprezado inicialmente.
E se eu queria que ela confiasse em mim, sabia que precisava confiar
nela de igual forma. Eu tinha que saber qual segredo ela escondia.
— Foi um acidente. Um acidente de carro — falei por fim. A voz tão
baixa quanto um sussurro. Leighton pareceu paralisada por um momento,
como se o fato de que eu decidi falar tivesse sido uma enorme surpresa. —
Benjamin estava em uma fase que amava ir às aulas, mas não estava muito
bem e nossa mãe não o mandou para a escola. Jackson se envolveu em uma
briga e ela foi buscá-lo mais cedo. Ben quis ir junto e ela teve algum
problema com o carro, parou no acostamento quando um cara bêbado bateu
em seu carro.
Eu me lembrava perfeitamente daquele dia.
Foi um dia quente. Um daqueles dias que as professoras às vezes nos
levavam para uma aula ao ar livre, debaixo de alguma árvore. Nossa
professora de literatura tinha dito que nos levaria e nós estávamos animados.
Lembrava que a diretora, a senhora Core havia ido à porta da minha
sala e pedido licença para falar com a nossa professora. Lembrava que a
senhora Koubat retornou para sala com uma expressão pesarosa. Eu cheguei
a pensar que não havíamos tido aval para a aula lá fora. Depois de respirar
fundo algumas vezes, ela deu um sorriso sem graça e disse que eu deveria
acompanhar a senhora Core.
Caminhamos lado a lado até sua sala. A diretora conversava
amenidades no caminho. Queria saber sobre Olívia, sobre meus planos para o
futuro, sobre o time de hóquei ao qual eu já me dedicava muito na época.
Depois que entramos em sua sala, a porta foi fechada.
Eu senti um frio estranho. Não por causa do ar gelado, mas aquele frio
que antecede uma coisa ruim. Eu não era um mau aluno. Muito pelo
contrário. Mamãe sempre me lembrava de que eu era um exemplo para meus
irmãos. Como um espelho daquilo que eles seriam. Ela costumava dizer que
os irmãos mais velhos têm mais influência sobre os mais novos que os
próprios pais. Eu queria que meus irmãos fossem boas pessoas, então me
esforçava para ser o melhor possível. Logo, não fazia a menor ideia do
motivo pelo qual ela pediu para me ver.
A senhora Core puxou o ar com força antes de sentar-se na cadeira
vazia ao lado da minha. Notei que havia lágrimas em seus olhos quando me
encarou e ergueu a mão para que eu a segurasse. Meu coração galopou dentro
do peito. Então ela me contou sobre o acidente.
Foi o pior momento da minha vida.
O chão havia desaparecido debaixo dos meus pés.
O universo havia parado de girar.
Senti meus olhos arderem. Sabia que as lágrimas estavam ali prestes a
rolarem.
Eu queria gritar. Dizer que ela estava mentindo.
Queria saber o motivo de ela estar sendo tão má comigo. Mas as
lágrimas que escorreram dos seus olhos enquanto me encarava aguardando
que eu tivesse alguma reação me garantia que não, ela não estava mentindo.
Apertei meus dentes com força.
Eu não podia chorar. Eu tinha que manter o controle.
Eu era o irmão mais velho.
Precisava manter controle por eles. Pelo menos até que o papai
tomasse as rédeas da situação.
Perguntei pelo Jackson e ela me informou que meu irmão estava em
outra sala. Eu quis saber se já tinham contado para ele, e ela disse que
conversaria com ele logo em seguida. Pedi para vê-lo. Queria eu mesmo dar a
notícia. A senhora Core perguntou se eu estava bem mesmo. Ela esperou que
eu tivesse alguma reação normal para um garoto da minha idade.
Eu assenti.
Mesmo com o coração partido.
Ainda que com medo.
Pedindo a Deus com todas as minhas forças para que mamãe e meu
irmão ficassem bem.
Mas eu tinha que ser forte.
Ele era meu irmão. Ninguém melhor que eu para entender o que ele
precisava ouvir.
Eu tinha que aguentar.
Pelo menos até que estivéssemos seguros com o nosso pai.
Isso nunca aconteceu.
— Por isso você não bebe quando dirige — afirmou com a voz fraca.
Assenti.
— Eu... — a voz parecia embargada. — Desculpe. Não devia ter
perguntado nada.
Balancei a cabeça em negativa.
— Já tem tempo.
Sim. Já haviam se passado muitos anos. Mas o que ninguém nos conta
é que isso não faz a menor diferença. Eu ainda sinto a sua falta como se ela
tivesse estado comigo ontem. A única diferença, é que aprendemos a lidar
com a dor. Um dia após o outro. Encontramos pequenos motivos para seguir
em frente. Meus irmãos foram os meus motivos.
— Foi muito difícil para vocês? — Os olhos atentos sondavam
minhas expressões com seriedade.
— O Benjamin ele... foi péssimo para ele. O acidente foi grave e meu
irmão ficou horas no carro com a mamãe. Ele a viu se afogar em seu próprio
sangue enquanto estava sentado no banco de trás sem poder fazer nada —
suspirei, lembrando-me de como foi horrível. Benjamin era, além de meu
irmão, meu melhor amigo. O estado catatônico em que ele ficou foi um golpe
enorme para mim. — Ben ficou em estado de choque por meses. Olívia
sentava no sofá da sala, arrumada, dizendo que estava esperando a mamãe.
Que tinha certeza de que ela apareceria em casa. Jackson se trancou em um
mundo à parte.
Engoli em seco.
— Não perdi só a minha mãe naquele acidente, mas minha família
inteira. E se eu não tivesse mantido a cabeça no lugar, não sei onde nós
estaríamos hoje.
Leighton ficou em silêncio por um tempo absorvendo as informações.
Com certeza se perguntando sobre nosso genitor. Era ele quem devia estar
fazendo tudo que eu fiz, mas ele estava ocupado demais se preocupando com
ele mesmo.
Estava me preparando para a pergunta. Convencendo a minha mente
de que ela não tinha culpa do ódio que sentia por ele.
— Como ela era? — perguntou, surpreendendo-me. — Sua mãe. O
que vocês gostavam de fazer juntos?
Imediatamente senti alguma coisa no peito. Uma coisa boa.
As pessoas não costumavam perguntar sobre ela, mas sobre o que
aconteceu depois. Por mais doloroso que fosse, gostei de ter a chance e a
oportunidade de conversar a respeito da mulher que mais amei na vida.
— Ela era... intensa. Feliz. — Soltei o ar pelo nariz em um riso leve.
— Imagina viver em uma casa com quatro crianças? Ela fazia parecer a coisa
mais fácil do mundo. Ela brincava conosco. Fazia pinturas, nós todos a
ajudávamos a fazer o jantar, ela nos ensinava a respeitar uns aos outros, o
nosso espaço, nossas diferenças. Assim como a nos amarmos, independente
das brigas que pudéssemos ter.
Leighton sorriu. Os olhos brilhando ao me ouvir falar.
— Sua mãe deve ter sido incrível — falou, se mexendo um pouco e
colocando o braço debaixo do travesseiro.
— Ela era sim. — Dei um pequeno sorriso nostálgico.
Contei algumas histórias de nossa infância. Leighton ria achando
nossas aventuras incríveis. Aos poucos, começamos a bocejar. Leighton
dormiu poucos segundos antes de mim. Mas a última coisa em que pensei
naquela noite foi que era a primeira vez que eu dormia com alguém e
genuinamente me divertia.
No fim das contas, acho que Leighton e eu seriamos bons amigos
quando essa farsa acabasse.
Capítulo 26

A cama embaixo de mim se movia em um ritmo lento e coordenado.


Soltei um bocejo, tateando a cama com a mão e sentindo meu coração gelar
logo em seguida.
Não havia um colchão confortável ou um lençol. Mas um corpo
quente e consideravelmente macio sob o meu. Ainda de olhos fechados,
forcei minha mente a repassar o que havia acontecido na noite anterior.
Falta de energia.
Casa do Andrew.
Beijos intensos.
Filme.
Andrew.
Fiz uma reclamação mental sobre isso, sem jeito, tentando tirar a mão
de forma imperceptível do seu peito.
— Sabia que você não resistiria e acabaria me atacando.
— Mas que... — parei a frase quando, com o susto, me movi muito
rápido e minha mão acabou caindo sem querer em sua virilha.
Havia algo muito, muito, muito duro ali.
— Ai, meu Deus, você está excitado? — sentei, rapidamente, com os
olhos arregalados.
— Você não devia estar surpresa já que foi me agarrar à noite. — Ele
deu de ombros. — Te disse que não resistiria.
— Andrew! — reclamei me afastando dele.
Ele apenas riu.
— É só ereção matinal, Leighton. Eu sei que você é virgem, mas deve
saber como essas coisas funcionam. Posso te achar gostosa, mas dessa vez
você não tem nada com isso. — Olhou na direção da virilha e,
involuntariamente, meus olhos seguiram a mesma direção.
Nunca tinha visto um homem pelado antes. Nunca sequer tinha, de
boa vontade, sentido o pênis de um cara. E, apesar de não conseguir
necessariamente vê-lo, a impressão que passava era que devia ser grande,
firme e com uma circunferência boa.
Mordi o lábio inferior com força tentando tirar a imagem do pênis
dele da minha cabeça. E todas as imagens que, consequentemente, se
formaram em minha mente, eram sobre tudo que ele podia fazer com aquela
coisa, por exemplo.
— Você consegue ver melhor se eu tirar as roupas. — Apesar do tom
descontraído, eu sabia que ele estava falando sério.
Rolei os olhos.
— Você não faria isso.
— Quer apostar? — Andrew levou os dedos em forma de gancho até
as laterais da calça moletom que vestia.
— Andrew — reclamei, outra vez, tapando os olhos com as mãos. —
Eu vou... — interrompi a frase voltando o olhar para seu rosto. Estava
ficando quente aqui de repente. — Tomar banho.
Completei, apontando para a porta do banheiro e correndo para lá.
Podia ouvir a risada dele ecoando no quarto.
Soltei um suspiro observando meu reflexo no espelho do armário.
Estava com a expressão cansada. Não tive a melhor das noites. Sonhei com
James. Com seu pai. E quando acordei já não conseguia respirar. Meus
pensamentos todos estavam em parafuso.
Sentia medo. Raiva. Solidão.
Meu corpo tremia e eu não conseguia respirar.
Eu odiava me sentir assim. Fora de controle. Não estar no controle do
meu próprio corpo.
Andrew foi ótimo.
Mais que ótimo. Maravilhoso.
Ele me havia conseguido acalmar e inacreditavelmente, eu também
me senti segura e protegida enquanto estava com ele. Como se realmente
nada de ruim fosse acontecer. E há muito tempo eu não sentia que aquilo
fosse possível.
Não esperava que ele me contasse tanto sobre sua família. Sobre sua
mãe. Ele pareceu sincero em cada palavra e eu tenho certeza de que teria
adorado conhecê-la.
Nossa conversa só me fez acreditar mais nele. Alguma coisa, não
sabia o quê, mas algo havia mudado. Andrew queria que aquilo funcionasse
tanto quanto eu. Eu acho que ele queria que eu confiasse nele, que contasse o
motivo desse namoro.
Talvez eu contasse um dia.
Mas não ainda.

— Vocês dormiram juntos? — Mad perguntou com tanta expectativa


que mais parecia que eu tinha sido pedida em casamento por um príncipe de
um reino desconhecido que fingiu ser um cara normal e agora me tornaria
uma princesa.
— Dormimos — respondi baixo.
— VOCÊS...
— Shiii, Madison! — pedi, ao mesmo tempo em que Chiara deu um
beliscão em seu braço olhando ao redor.
Estávamos no Women’s tomando café da manhã. O lugar estava
superlotado. O problema com a eletricidade ainda não tinha sido resolvido e
por esse motivo a maioria das aulas haviam sido canceladas.
— Ai, desculpa. Me empolguei. — Ela passou a mão pelo braço ao
mesmo tempo em que murmurava as desculpas com uma voz quase infantil.
— Tá, mas conta: vocês chegaram lá? — foi a vez de Chiara
perguntar, mas diferente da Mad, ela se aproximou da mesa falando o mais
baixo possível.
— Não. Nós só ficamos conversando. Nos conhecendo melhor.
Madison grunhiu.
— É só um hímen! Qual o seu problema? Não estamos mais no século
XIX, você sabe, não é? Tem ideia das coisas que aquele cara deve fazer na
cama? — Minha amiga soltou um suspiro. — Por favor, transa com ele.
— Não escuta ela — Chiara falou rindo e dando uma cotovelada em
Mad. — Não deixa ninguém te pressionar. Seja ele, ou suas amigas.
Mad deu língua a Chiara.
— Ele não está me pressionando. — Dei de ombros.
Madison achava que a questão da virgindade tinha que ser resolvida
logo. Não era maldade, mas praticidade. Ela queria que eu aproveitasse todas
as experiências possíveis aqui e defendia que eu não tinha que agir como no
século passado quando as pessoas tinham que casar virgens. Afinal, se os
garotos podiam transar com todo mundo, por qual motivo as mulheres não
podiam ter os mesmos direitos?
Eu concordava com ela.
Sabia que ia acontecer na hora certa.
Engoli em seco lembrando-me dessa manhã. De como Andrew estava
animado lá embaixo. De como meu corpo reagiu a isso, aquecendo-se.
Andrew era um cara bonito. Muito mesmo.
E, bom, ele tinha porte de atleta, o que também lhe dava um ar ainda
melhor. Eu tinha noção de que dez entre dez garotas queriam estar na cama
dele. Mas, em contrapartida, não queria ser mais uma garota de quem ele nem
ao menos se lembraria.
Não estava me guardando para o casamento, mas queria que a minha
primeira vez fosse especial.
E mesmo que eu quisesse que fosse com ele, Andrew já havia dito
que não transava com garotas virgens. Logo, essa seria uma preocupação
minha depois que tudo isso passasse.
Depois que eu tivesse me livrado de James.
Isso sim era uma preocupação.
Ele estava muito calado, e James era como uma criança. Quanto mais
quieta, maior o perigo.
Senti o celular vibrando em minha mão e sorri involuntariamente
quando vi que era uma mensagem do Andrew.
“Aposto que está com saudade de mim.”
Sorri, mesmo que ele não pudesse ver.
“Você quem está me mandando mensagem. O que significa que não
para de pensar em mim.” Devolvi.
“Como você é convencida...”
“Aprendi com você” enviei um emoticon piscando também.
“Na verdade, só vim mesmo te fazer um convite. Na semana que vem
começam os jogos e no final de semana vamos ter o primeiro pré-jogo, como
um teste antes dos jogos pra valer. O Jackson vai jogar e eu acho que você
devia ir comigo.” Antes que eu pudesse responder, apareceu que ele estava
digitando novamente. “As namoradas costumam comparecer.”
Concluiu.
“Se eu não soubesse que você não é esse tipo de cara, diria que está
me chamando para um encontro.” Respondi, mordiscando o lábio e
imaginando a expressão em seu rosto ao ler a mensagem.
“Como você sabe que eu não sou esse tipo de cara, é bom que saiba
que não é um encontro. Um encontro terminaria com você pelada em minha
cama chamando meu nome enquanto eu a fodia com força.”
Apertei as pernas com força, soltando o ar e sentindo o sangue correr
em meu corpo.
Era estranho.
E uma parte de mim começou a imaginar como seria estar pelada em
sua cama chamando seu nome enquanto ele entrava e saía de mim.
Eu estava com tesão.
Com tesão por ele.
E verdade seja dita, não era necessariamente de agora.
Não podia negar que nós dois tínhamos química. Também não podia
negar que Andrew não era exatamente o babaca que eu imaginava. Talvez,
dormir com ele não fosse ser tão ruim. Depois de acordar em seus braços, eu
meio que me senti confortável. Mesmo que não tivéssemos feito nada.
Qual seria a sensação de recostar a cabeça em seu peito depois de...
Bem, depois de chamar o seu nome pelada na cama.
“Acho que você está mesmo muito empenhado em me levar para
cama.” sorri, mordendo o lábio. — “Já disse que não!”
“Pra quem não conseguia me ouvir falar sobre foder sem parecer que
ia ter um colapso, estamos evoluindo muito bem, Afrodite.”
Rolei os olhos, sorrindo.
“Você venceu, eu aceito.” — devolvi, provocando-o.
O digitando apareceu por mais vezes que eu imaginava ser possível.
O que significava que ele estava escrevendo e apagando.
“Desculpa, Leighton, mas já te falei que não transo com virgens. Não
adianta insistir.”
“Aceito ir ao jogo, não transar com você.”
Devolvi.
Uma parte de mim ficou aliviada por ele manter a palavra mesmo
quando fazia brincadeiras sexuais constantes, mas outra parte, aquela que era
responsável pela minha autoestima, ficou um pouco ferida.
“Isso. Ir ao jogo. Você vai gostar.” Respondeu, por fim.
— Se você está com esse sorriso bobo no rosto só por uma troca de
mensagens, imagina o sorriso que ele vai deixar depois de uma noite intensa
de sexo. — Mad brincou.
Rolei os olhos, ignorando-a.
Mas não podia ignorar que em minha mente ficava rodando sem parar
uma pergunta nada simples.
“E se...?”
Capítulo 27

— É só isso que sabemos do filho da puta? — joguei os papéis que


Malcon havia me entregado sobre a mesa do refeitório.
— Eu sei. — Soltou o ar com força. — Tentei conseguir mais
informações, mas pelo visto minha mãe tem razão quando diz que sou um
inútil.
Dei um soco em seu braço me sentindo mal por ele.
— Para com isso, cara. Você está me ajudando pra caralho. Eu que
sou um filho da puta mal-agradecido. — Peguei os papéis olhando outra vez.
— Ele foi transferido de Harvard! Porra, eu amo a Walker, mas se tivesse a
chance de ir para a Harvard? Eu nem pensaria duas vezes.
— Eu sei, também estou achando isso estranho — Malcon ergueu a
mão pegando a garrafa de cerveja na mesa e dando uma golada substancial.
— Acha que isso tem alguma coisa a ver com a sua namorada?
Não contei muita coisa ao Malcon, mas disse que sempre que ela o
via agia diferente. Como se estivesse assustada. Mas, se ele chegou à
faculdade agora, significava que era uma história antiga. E eu precisava
descobrir o que havia acontecido entre eles.
Malcon e eu tínhamos passado a maior parte do dia na sala de
musculação aproveitando que as aulas foram suspensas e eu mal havia
chegado em casa quando ele me mandou mensagem dizendo que queria me
encontrar. Soube, imediatamente, que ele teria alguma novidade para me
contar, mas isso não era o suficiente.
Balancei a cabeça em negativa.
— Não sei — esfreguei as mãos no rosto, cansado.
— Nós vamos descobrir, eu prometo. — Malcon pousou a mão em
meu ombro dando um tapinha amigável.
Soltei um suspiro.
Eu não devia estar tão preocupado com ela, mas não conseguia não
estar. Importava-me de verdade com aquela garota.
— Na próxima semana começam os jogos. Nosso capitão está
animado? — perguntei tentando fazer com que a minha mente esquecesse,
nem que fosse por alguns segundos, dela.
Malcon rolou os olhos.
— Fica tranquilo, vai dar tudo certo. — Sorriu.
— Daria tudo certo se você estivesse no comando do time — balancei
a cabeça em negativa.
— Você precisa acreditar em você, cara. O time te respeita, você é um
puta jogador. Não tem ninguém melhor para estar no comando desse time.
Malcon suspirou, como se não acreditasse naquilo.
— Que tal uma disputa nas pistas. — Dei uma cotovelada nele. —
Podemos praticar lá no shopping. Tenho certeza de que se você disser que é
para ajudar o time da Walker, vão liberar rapidinho. Sem contar que uma
demonstração pública de como vocês irão vencer a Brown não será nada mal.
Isso pareceu animá-lo.
— Você sabe que se existe algo que eu nunca nego, é ganhar de você.
Vamos lá?
Eu ri, levantando-me e erguendo a mão para que ele a segurasse.
— Você pode ser tão bom quanto eu, mas para ganhar de mim, com
certeza ainda precisa tomar muito leite, criança.
Malcon rolou os olhos.
— Isso é um convite pra eu te chupar? Porque só pra constar, agora
que você tem namorada, esse é um papel dela. Não importa o quanto você
implore.
Foi impossível conter a imagem que se formava em minha mente.
Leighton, de joelhos, abrindo a porra da minha calça e colocando meu pau
naqueles lábios macios e saborosos.
Soltei um suspiro, apertando os olhos com força.
— O que foi? Tá sonhando acordado com a boca da namorada? —
Malcon implicou.
— Cala a boca, caralho.
Empurrei seu ombro e ele riu.
Eu precisava foder com alguém. Rápido. Muito rápido.
Desde que havíamos começado a namorar de mentira a única coisa
com a qual eu me aliviava era com a minha mão. Isso porque por mais idiota
que eu gostasse de parecer ser, não conseguia me imaginar correndo pelas
paredes dessa universidade boatos de que a virgem Leighton estava sendo
chifrada por aí. Não quando eu era seu primeiro namorado. Já tive a minha
cota de corações partidos, alguma coisa me impedia de fazer aquilo.
Mas eu não conseguiria me segurar mais.
Precisava foder. Com urgência.
Precisava foder com ela. Mesmo sabendo que seria impossível. Que
eu jamais transaria com outra virgem.

— É importante vocês saberem que eu não faço a menor ideia de


como se joga isso — Leighton falou, assim que sentamos em nossos lugares.
A arquibancada estava superlotada.
As cores da Walker University e Columbia, contra quem seria o pré-
jogo, estavam em todas as partes.
Ela carregava um balde de pipoca em uma das mãos, enquanto havia
uma luva enorme daquelas clássicas com o indicador levantado e tudo.
Chiara e Madison decidiram vir junto com a gente. Chiara não parecia
exatamente confortável. Usava um daqueles casacos universitários grandes
demais para seu tamanho esguio. Madison, como sempre, se vestiu como
uma atriz de Hollywood. Entretanto, era de Leighton que meus olhos não
desgrudavam.
Ela usava uma blusa preta justa que marcava bem os seios, uma calça
jeans que delineava as coxas e um cardigã verde de tricô sobre a roupa.
Estava absurdamente gostosa.
— Fala sério! Você não pode entrar para uma família de jogadores
sem conhecer o princípio básico dos jogos. Diz que, pelo menos, você sabe
como alguém ganha no basquete. — Benjamin quis saber virando o corpo em
sua direção.
— A bola tem que entrar na cesta, não é? — Leighton mordeu o lábio,
vendo a expressão de decepção no rosto do meu irmão.
— Eu realmente gostava muito dela, até esse momento — falou,
olhando através dela, para mim que estava ao seu lado.
— Bem, algum defeito ela precisava ter. — Passei o braço por seus
ombros beijando a bochecha da minha namorada de mentira, sendo inundado
pelo cheiro de morango dos seus cabelos.
— Não tem mistério, amiga. Basicamente o objetivo é conquistar o
território do inimigo. — Chiara falou, como se fosse a coisa mais óbvia do
mundo. — Tá vendo aquela área lá? — apontou, no campo, para as duas
zonas de end game — Quem conseguir chegar a maior quantidade de vezes
na endzone adversária mais pontos ele tem.
Leighton mordeu o lábio.
Era um gesto bobo, não devia ter nada de sedutor, mas tinha. Foi
extremamente sexy. E meu pau, respondeu na hora.
— Você entende do jogo? — Benjamin perguntou a Chiara, que
assentiu.
— Meu pai gostava e eu sempre assistia com ele.
— Se você disser que entende de basquete, com certeza você ganha
meu coração — Benjamin falou, fazendo com que a garota corasse um
pouco.
— Gosto. Na verdade, gosto de esportes em geral.
Ben pôs a mão no coração soltando um suspiro fingido.
— Acho que me apaixonei — brincou.
— Não acredita nele — Mad, que até então estava conversando
animada com Malcon, se intrometeu. — Ele é do tipo que diz isso para todas.
Benjamin fez uma careta, o que só confirmou a verdade.
— Bem, já temos uma entendida do assunto aqui, vamos mudar a sua
ignorância quanto aos esportes. — Ben rolou os olhos chamando a atenção de
Leighton —, vou te mostrar.
Benjamin se sentou, ficando de frente para seu corpo e pegando
algumas pipocas de seu balde. A expressão de confusão no rosto de Leighton
foi se desfazendo até perceber que ele montava a posição de jogadores em um
campo de futebol, exatamente como eu havia feito com ele antes mesmo que
soubesse ler. Fiz a mesma coisa com Jackson e depois com Olívia.
Foi há muitos anos, em uma vida completamente diferente. Nossa
mãe costumava estar perto me assistindo e rindo orgulhosa das minhas
demonstrações e a forma como eu respondia paciente a cada uma das
perguntas deles. Então, não podia ignorar a sensação de orgulho em meu
peito. Era como se eu pudesse ter ensinado, mesmo com tantos erros, algo
bom a meus irmãos.
Enquanto observava a interação de Benjamin e Leighton, não podia
deixar de pensar que eu nunca havia pensado em namorar. Sabia, é claro, que
algum dia, num futuro longínquo, havia a possibilidade de encontrar alguém.
Mas não hoje. Não agora.
Porém, ver como Leighton parecia se divertir conosco, me fazia
pensar que se fosse para estar com alguém, era isso que eu queria. Que a
minha família, que os meus irmãos também se importassem, que a
acolhessem, como tem feito com a Leigh.
Fiquei apenas os observando por um tempo. A interação. A forma
como ela seguia concentrada escutando todas as explicações do meu irmão
movimentando as pipocas para ter certeza de que estava entendendo.
Ela olhou para trás por alguns segundos, os olhos encontraram os
meus. Brilhantes, cheios de vida. Felizes.
Era bom vê-la assim.
— Sabe, eu retiro o que disse — Malcon falou, com um sorriso idiota
nos lábios. Franzi o cenho em sua direção. — Que esse relacionamento
acabaria em breve. Você gosta dela.
— Não sei do que você está falando — respondi, desviando o olhar
para o campo. Os jogadores começavam a entrar em campo e a torcida
levantava-se, aplaudindo, animados.
— Você pode até ser esse valentão por aí, mas todo cara acaba
encontrando seu calcanhar de Aquiles. E ela, irmão, é o seu.
Ignorei o que ele dizia, mantendo o olhar fixo no campo.
Ela não era e nem jamais seria meu calcanhar de Aquiles.

Toda a torcida da Walker levantou-se em um impulso, ao ver um dos


nossos jogadores correndo pela lateral do campo prestes a fazer o touchdown,
mas foi interrompido pelo running back da Columbia.
— Puta que pariu! Não acredito que não marcaram a porra de
touchdown! — Malcon reclamou do ponto perdido, dando um tapa forte na
perna.
— Ainda tem muito jogo pela frente, cara. E nós estamos na
vantagem! O jogo é da Walker, tenho certeza.
— Eu concordo com o Andrew — Leighton falou olhando para mim.
As pupilas estavam dilatadas e brilhantes acompanhadas de um sorriso
animado nos lábios. — O Jackson está fazendo o que ele tem que fazer muito
bem. Aposto na Walker.
— E o que o Jackson tem que fazer mesmo, Leighton? — Malcon
quis saber, formando uma linha com os lábios.
— Pontos. — Deu de ombros.
Eu ri.
Queria puxar seu corpo para perto do meu e enfiar minha língua em
sua boca. Queria muitas coisas com ela.
Mas não podia.
Leighton ainda me olhava, parecia esperar que eu fizesse exatamente
aquilo. Que a beijasse.
— Tá tudo bem? — ela perguntou franzindo a testa.
— Sim. Tudo. — Menti.
Estava tudo errado.
Tudo péssimo.
Eu queria, mais do que precisava respirar, transar com aquela garota.
Leighton ficou na ponta dos pés colando os lábios aos meus. As mãos
foram parar em minha nuca, mas eu não fiz o que ela esperava. Não
aprofundei o beijo.
Esperei alguns segundos antes de afastá-la.
— Andrew?
Olhei por cima de sua cabeça. Nossos amigos nos encaravam como se
fôssemos um casal perfeito.
— Está tudo bem, eu juro. Só estou nervoso por causa do jogo.
Leighton assentiu, pondo os pés no chão e voltando a prestar atenção
no campo onde o time recomeçava uma jogada.
Engoli em seco, pensando em qualquer coisa que não na sensação de
seus lábios contra o meus.
Eu estava fodido.
E foi assim, no meio de um jogo de futebol americano que eu me dei
conta do quanto eu estava completamente fodido.
Capítulo 28

Andrew estava estranho.


Em geral, não teria sido eu a beijá-lo. E eu nem sabia o porquê havia
feito aquilo.
Mentira, sabia sim.
Eu quis.
Eu queria beijá-lo.
Queria que ele quisesse me beijar.
E também não estava gostando da maneira como as garotas olhavam
para Andrew. Como se a qualquer momento pudessem atacá-lo. Eu sabia que
ele costumava sair pegando todo mundo e que provavelmente quando eu não
estava olhando dormia com todas as mulheres que conseguisse, mas elas
podiam pelo menos respeitar o momento em que estava comigo, a namorada
– mesmo que de mentira – ao seu lado.
E, mesmo agora, depois da vitória do time, ele parecia distante.
Estávamos do lado de fora, no estacionamento do estádio. O carro de
Andrew não estava tão distante do ônibus do time e ele queria falar com o
irmão antes de irmos embora.
Andrew estava fumando, de pé, caminhando de um lado para outro, a
alguns passos de nós, que estávamos encostados no capô do carro de Malcon.
Ele contava uma história divertida sobre uma noite que haviam saído juntos.
Benjamin engatou uma conversa sobre basquete com Chiara e eu estava
sentada com Madison fingindo prestar atenção no que Malcon falava.
Mas não conseguia.
A consciência do corpo de Andrew tão perto e ao mesmo tempo tão
distante me deixava confusa. Ele devia estar feliz, mas desde o jogo estava
calado e taciturno. Alguma coisa o estava chateando.
Levantei-me, caminhando até estar ao seu lado.
— Oi — falei, me aproximando.
Andrew respirou fundo, soltando a fumaça do cigarro na direção
contrária a que eu estava.
— Oi. — Deu um sorriso frio.
— Pensei que você fosse ficar mais feliz. O placar foi animador. —
Ergui uma sobrancelha para ele tentando pegar sua mão esquerda. — Suas
mãos estão geladas — falei, aproximando-me e encostando a cabeça em seu
ombro.
— É o frio. — Andrew pôs o cigarro na boca dando mais uma tragada
e soltando a fumaça aos poucos pelo nariz.
— Sabe o que eu acho? — perguntei, segurando sua mão antes que
levasse o cigarro à boca outra vez. Ele não respondeu, apenas me encarou por
alguns segundos, como se esperasse a minha resposta. — Acho que você
estava nervoso com o jogo, tanto quanto seu irmão.
Andrew trincou os dentes como se estivesse se proibindo de falar,
mas soltou o ar com força pelo nariz em seguida.
— Nem mesmo na minha primeira luta eu me senti assim —
confessou.
Sorri, virando um pouco o rosto em sua direção.
— Acho que você está meio como um pai orgulhoso. — Aproximei-
me rodeando seu corpo com o meu braço. Andrew ficou tenso, como se não
quisesse que eu me aproximasse dele. Mordi o lábio tentando ignorar a
sensação de que ele estava outra vez sendo um babaca que faria uma cena em
público. Eu queria poder ignorar a sensação, mas não conseguia. — Vamos
voltar àquele modo, não é?
— Que modo? — perguntou com calma.
— O modo em que você me ignora e me trata como uma namorada
indesejada.
— Ei. — Ele afastou um pouco nossos corpos para que pudesse me
olhar. — Eu dei a minha palavra a você, Leighton. E eu sempre cumpro a
minha palavra. Entendeu?
Eu não respondi, ou transpareci qualquer coisa.
— Leighton, você entendeu? — perguntou, segurando meu rosto entre
suas mãos.
Movi a cabeça para baixo e para cima assentindo. Meus olhos se
encheram de lágrimas, aliviada por saber que ele estava falando sério.
Eu confiava nele.
Estranhamente, eu confiava em Andrew.
Eu o abracei. Meu ouvido ficava exatamente na altura do seu coração
e eu conseguia ouvir suas batidas aceleradas.
— Então porque você está agindo assim comigo? — quis saber.
Andrew soltou o ar com força. Eu estava ansiosa por uma resposta,
mas ele não falou nada, voltando ao distanciamento outra vez.
— Ai, que casal mais lindo. — A voz de Madison parecia próxima.
Abri os olhos, e consegui vê-la, com as mãos unidas e piscando os olhos de
forma pateticamente romântica.
— Acho que você está precisando de um namorado para nos deixar
em paz. — Rolei os olhos, respondendo.
— Não quero um namorado, mas adoraria um pau amigo. Inveja eu
tenho é disso, não dessa melação toda. — Apontou, com o indicador, para
nós dois unidos.
— Madison — ralhei, constrangida.
— O que, gata? Não quer que suas amigas saibam que temos o pacote
completo? — Andrew beliscou minha bunda, levando um tapa no bíceps.
— Isso doeu — reclamou, afastando-me um pouco dela para olhar em
meu rosto.
— Se não fosse pra doer, não teria beliscado. — Apertou os olhos em
minha direção.
Ele sorriu para mim, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto e
colando nossos lábios. Meu coração bateu aliviado no peito, como se ele
estivesse refirmando seu compromisso comigo.
Foi bom. Um beijo rápido, mas confortável.
Era uma coisa natural já.
— A propósito, você está linda — ele sussurrou em meu ouvido,
plantando um beijo em meu lóbulo.
— Obrigada. Você também não está nada mal.
— Sem querer atrapalhar o casalzinho aí, mas os jogadores vão
começar a descer — Malcon falou, fazendo com que Andrew deixasse de
olhar para mim e encarasse os garotos que vinham animados cantando um
grito de guerra.
— Vou falar com ele — anunciou.
— Vou com você.
— Não. Preciso de um momento com ele.
Assenti, observando-o. Andrew andava de forma firme e determinada.
Uma das mãos no bolso, a outra levando o cigarro aos lábios soltando a
fumaça em seguida.
Ele esperou próximo ao ônibus, os braços cruzados, um pé na frente
do outro. O típico bad boy.
O típico cara que se importava com a família e queria o bem deles.
O típico cara com quem eu gostaria de acordar depois da minha
primeira vez.
Meu coração parou de bater por um instante.
Por dois, e três e quatro e...
Era isso, eu queria transar com ele porque havia atração entre nós,
mas eu queria acordar com ele, porque Andrew não era como os badboys
deviam ser. Ele era especial.
Assisti enquanto os jogadores se aproximavam, assisti enquanto
Andrew pousava a mão no ombro do irmão, assisti enquanto trocavam
algumas palavras e depois quando se abraçaram.
Assisti quando Jackson lhe falou algo e quando Andrew se afastou.
Assisti enquanto ele caminhava em minha direção. Andrew falou alguma
coisa passando o braço por meu ombro, mas eu não o ouvi.
Eu só conseguia pensar que, dentre todas as possibilidades, eu havia
escolhido o cara com quem eu teria minha primeira vez, e apesar de ser
exatamente o que eu procurava, ele não era o tipo de cara que eu esperava.

Uma festa.
Foi isso que eu não ouvi.
Andrew havia dito que para comemorar o time estava indo para uma
boate. Era exatamente onde estávamos agora.
Numa boate. Eu mal conseguia organizar meus pensamentos. A fila
do banheiro estava enorme e eu precisava urgentemente do Ab. Se ele me
meteu nessa confusão, precisava dar um jeito de me tirar. Sei lá, dar um tapa
virtual na minha cara e me mandar deixar de ser louca, segurar a periquita e
esquecer essa ideia estapafúrdia.
Bufei, vendo que ainda havia duas pessoas em minha frente. Pelo
amor de Deus, quem cria uma enorme boate e coloca apenas duas cabines de
banheiro?
O calor fazia com que uma gota de suor escorresse da minha nuca por
dentro da roupa que vestia me causando um calafrio.
Soltei um suspiro, batendo os pés com força no chão.
Eu estava ficando louca. Era a única coisa que eu podia pensar.
Agarrei o aparelho com força em minha mão procurando o nome de
Abi e chamando. Dane-se, quem precisa de privacidade?
— Oi, querida. Pensei que você estaria comemorando com seu
namorado bonitão uma hora dessas — falou, assim que atendeu.
O som alto não me permitia ouvir tão bem. Tapei meu ouvido
esquerdo enquanto pressionava mais o aparelho em meu ouvido direito.
— Ab, estou em uma emergência e preciso de você!
— O que aconteceu, Leigh? — O tom de sua voz mudou de animado
demais para se aquele babaca mexeu com você, eu vou matá-lo.
— Eu estou surtando! Eu acho que... acho que... — engoli em seco,
sem saber como falar. — Acho que estou pronta para transar.
A garota que estava atrás de mim na fila deu uma risadinha, o que me
deixou ainda mais constrangida.
— Leigh, onde você está? O som está alto demais e não consigo te
ouvir — Ab gritou e eu bufei.
Graças a Deus uma garota saiu meio trôpega do banheiro. Quase a
empurrei na pressa de entrar.
— Oi — falei um pouco alto ainda, para garantir que me ouvisse.
— Aconteceu alguma coisa? O James fez algo com você? — podia
ouvir a aflição em sua voz.
— Não. Ele está quieto — suspirei. — O problema é com o Andrew.
— Ele te machucou? Ele foi babaca com você na frente das pessoas
outra vez?
— Não, Ab. Eu acho que quero transar com ele — falei de vez, em
parte para não ser interrompida, em parte porque não queria perder a coragem
de falar.
Abi deu um sibilo divertido.
— Isso não é motivo de piadas, Ab — respondi, arrumando minha
postura e encarando meu reflexo no espelho.
— Eu sei. Pra ser bem sincero, fico feliz com isso. Você quer dar? Vá
em frente. — Com certeza ele estava dando de ombros.
— Ab!
— Você queria um conselho de amigo, e eu dei. — Soltei um suspiro.
— Leigh, não tem absolutamente nada de errado você querer transar com seu
namorado.
— Ele é meu namorado de mentira! — falei, irritada.
— O namoro pode ser de mentira, mas as garotas por aí não vivem
dizendo que ele é maravilhoso na cama? Pelo menos sua primeira vez vai te
levar ao céu mesmo!
— Ab, pelo amor de Deus, alguns dias atrás eu queria distância dele.
— Sentimentos mudam, Leigh — abri a boca para responder, mas ele
continuou. — Não estou dizendo que você está apaixonada e querendo viver
um romance com ele. Só que vocês estão convivendo mais e é claro que se o
cara fosse uma pessoa legal, a má impressão ia passar.
Virei-me de costas para o espelho, encostando o corpo na pia de
mármore gelada.
— Leigh, se vocês têm química, é natural que isso aconteça. O cara é
lindo, até eu daria pra ele se ele quisesse.
— Ab!
— Com todo respeito, eu sei que ele é seu namorado e tal, mas
quando vocês terminarem, se ele me quiser, não me importo nem um pouco.
— Dei risada do descaramento do meu amigo. — Você não pode deixar de
viver por medo, Leigh.
— Mas e se alguma coisa der errado?
— Meu amor, se der errado a gente conserta. A vida é isso, Leigh.
Nós estamos na idade de fazer merda, de errar e aprender com os erros, de
fazer as coisas certas e sentir orgulho, de transar só porque deu vontade, de
encontrar com aquele cara no tinder. De correr riscos e aproveitar a vida. O
que importa é que você se sinta bem com as suas escolhas, com as suas
decisões. Se você não queria ontem e quer hoje, foda-se. Hoje você quer, faz.
Mordi o lábio, ponderando sobre suas palavras.
— Ele disse que cumpre a palavra dele, sempre.
— Isso é bom. Mostra que ele tem decência. Você detesta quando as
pessoas não cumprem com o que prometem.
— Sim — gemi, fazendo uma careta. — E Andrew não transa com
garotas virgens.
— Geralmente os badboys não se gabam por terem conquistado a flor
pura das mocinhas?
— Aparentemente esse badboy é diferente.
— Você é uma filha da puta sortuda mesmo. — Sorri. — Até pra
encontrar um bad boy, achou um com princípios?
— O principio dele é um empecilho pra mim. — Balancei a cabeça
em negativa. — Na verdade, acho até que isso é um bom sinal. Isso é um
sinal divino que essa coisa toda é loucura da minha cabeça. São meus
hormônios em erupção. Vontade é uma coisa que dá e passa.
Ele fez um barulho, como um riso contido.
— Sabia que você faria isso.
— Faria o quê? — perguntei, franzindo a testa.
— Arrumaria um jeito para desistir daquilo que quer.
Fiquei parada por alguns segundos.
— Eu não faço isso — retruquei.
— Faz. Em especial com os garotos. Sempre que você encontra
alguém que te agrada minimamente, você faz com que pareça uma ideia
idiota. — Mordi o lábio, não podendo negar. — Você gosta dele, não é?
— Não sei se gosto. Só, sei lá, eu sinto aquela coisa quando estou
com ele. Na verdade, me sinto atraída por ele.
— E você acha que é recíproco?
Encarei meu reflexo por mais alguns segundos.
— Ele se sente atraído por mim, com certeza.
Ab quis saber como eu tinha certeza e contei sobre a festa. Sobre
como ele não me deixou sair do seu colo para evitar uma situação
constrangedora.
— Leigh — falou depois de me ouvir. — Você sabe que eu jamais ia
te dar um conselho para o seu mal, não é? — Assenti, mesmo que ele não
pudesse ver. — Se você sente algo por ele, não deixa o medo te dominar. Faz
alguma coisa por você. Não permita que a vida passe apenas fazendo planos
para o futuro. Você pode tropeçar em uma pedra hoje à noite, bater a cabeça e
morrer. O que você terá feito da vida? Aproveite o agora, querida.
Ab estava mesmo meio certo, passei a vida inteira planejando o futuro
sem nunca ter de fato aproveitado o presente.
Balancei a cabeça em negativa.
— Ainda que eu decida sair desse banheiro e ficar pelada na frente
dele, Andrew não transa com virgens. E ele cumpre o que promete.
— Nenhum homem resistiria a uma mulher pelada, Leigh. — Ele riu.
— E, sinceramente, se existe alguém capaz de ser criativa e fazê-lo mudar de
ideia, esse alguém é você.
Assustei-me com batidas fortes na porta.
— Isso aqui não é banheiro particular não, merda. — Alguém gritou
do lado de fora.
— Merda, tenho que ir Ab — falei, dando uma última olhada no
espelho e arrumando meu cabelo.
— Ei, Leigh — ele chamou antes que eu desligasse.
— Oi.
— Você merece ser feliz.
Eu sorri.
— Obrigada.
Desliguei, respirando fundo.
Ab estava certo. Não podia viver sempre planejando o futuro. O
presente era tão importante quanto. E só havia uma coisa sobre o presente
que eu pensava em fazer nesse momento.
Capítulo 29

Batia com o dedo indicador, impaciente, na mesa que havíamos


escolhido, enquanto olhava ao redor em busca do cardigã verde.
Nada.
Leighton havia saído da mesa há mais de dez minutos e ainda não
tinha visto nenhum sinal dela.
— Será que aconteceu alguma coisa com ela? — quis saber, dando
um gole na cerveja do meu copo.
— Ai, que meigo ele todo preocupadinho com a namorada —
Benjamin implicou, aproximando-se para puxar minha bochecha. Com a mão
livre, dei um tapa em sua mão, fazendo-o rir.
— Deixa ele, se não estivesse tão ocupado com a Leighton estaria de
olho em você. Agora o caminho pra sair e encontrar alguém pra foder está
finalmente livre.
— Ai, vocês são tão nojentos. — Madison fez uma careta.
— Quem foi que estava em busca de um pau amigo minutos atrás? —
Devolvi.
— Está afim de um pau amigo, Mad? Olha só, sou muito amigo —
Malcon ergueu uma sobrancelha em sua direção.
— Ai, Malcon, teriam que ser dois de você para dar conta de mim,
querido. Melhor mantermos na amizade mesmo — Piscou, fazendo com que
Benjamin desse uma audível gargalhada.
— Eu vou atrás dela. — Levantei-me, depois de olhar para a pista
outra vez sem conseguir nenhum vislumbre de Leighton.
— Decididamente você não sabe como as filas de banheiros
femininos funcionam. — Madison fez um gesto de desdém com as mãos. —
Ou está enorme, ou ela vai sair de lá com quinhentas amigas.
Soltei o ar com força, voltando a olhar para o amontoado de pessoas
no andar inferior da boate. Jackson estava lá com o time. A postura era a
mesma, enquanto os demais bebiam e festejavam, ele demostrava alegria de
uma forma peculiar. Contida.
— Vamos pegar alguma coisa para beber — Madison falou, puxando
a amiga consigo.
Nós as observamos enquanto se afastavam e no instante seguinte já a
procurava novamente entre a multidão abaixo de nós.
— Como ele está um namorado zeloso, desse jeito vai ganhar a aposta
sem nenhum problema, não é Malcon?
Encarei meu irmão confuso.
— Que aposta?
Benjamin sorriu.
— A aposta em que você nos garantiu que seria o melhor namorado
que essa universidade já viu. — Ben semicerrou os olhos em minha direção.
— Vai dizer que está tão apaixonado que esqueceu a grana que vai faturar?
Justo você, esquecer uma grana alta?
— Vai pro inferno, Benjamin — retruquei, ouvindo a gargalhada de
Malcon.
— É, acho que o coração do seu irmão foi conquistado, enfim.
— Quer saber, vão os dois pro inferno. — Virei o líquido do copo de
vez na boca. Assim que bati com o copo na mesa, mostrei os dois dedos do
meio para os filhos da puta.
Eu sequer lembrava-me de aposta. Nem ligo para aquele bando de
desgraçados. Só queria garantir que Leighton estivesse bem. E eu precisava
saber o que havia acontecido em seu passado. Precisava saber o motivo para
que ela tivesse medo daquele babaca.
Tinha que garantir que ela estivesse bem, por algum motivo.
Levantei, me esquivando dos corpos bêbados, das garotas que
queriam atenção e dos caras a fim de flertarem. Eu tinha um único objetivo:
Leighton.
Desci as escadas apertando os olhos em busca de alguém que se
parecesse com ela. Mas não havia ninguém.
Será que algum filho da puta estava tentando alguma coisa com ela?
Trinquei os dentes, abrindo e fechando os punhos com força.
Segui me desviando dos corpos procurando a porra do banheiro
feminino. Procurando por ela.
Eu a vi ainda distante. Estava concentrada, olhando para baixo, tensa.
Apertava o celular com força nas mãos e mordia os lábios daquela forma que
a deixava absurdamente sexy como se pensasse sobre algo extremamente
importante.
— Ei — falei quando nossos corpos se encontraram. Pus minhas
mãos em seus ombros. — Você está bem?
— Estou. — Sorriu, mas o sorriso não chegou aos olhos. — Veio
dançar?
Balancei a cabeça em negativa.
— Estava te procurando, você demorou um pouco.
Ela balançou o celular.
— Estava conversando com um amigo.
Apertei os punhos com um pouco mais de força. Que amigo?
Assenti.
Porque eu me importava com isso? Com quem ela falava?
— Está tudo bem, então? — perguntei outra vez.
— Sim.
— Quer beber alguma coisa? — Leigh balançou a mão em minha
direção mostrando o carimbo indicando que, apesar de já ter dezoito, ainda
não tinha idade legal para beber em bares. E esse levava as regras bem a
sério.
— Por sorte você tem um namorado que... — Não falei mais nada
balançando a mão e mostrando que eu era livre para beber.
Leighton mostrou a língua e eu passei o braço por meu ombro.
— Andrew, tem uma coisa que eu queria te falar — Leigh falou,
parecendo nervosa.
Eu a encarei, ainda caminhando agarrado a ela.
— Quer voltar pra casa? — perguntei aumentando o tom para que ela
pudesse me ouvir. O refrão de uma versão remixada da música Cool for the
Summer começava a tocar e aparentemente o Dj era fã da música pois o
volume aumentou consideravelmente.
— Isso vai depender da sua resposta. — Assim como eu, precisou
falar mais alto para que pudesse ouvi-la.
Confuso, franzi o cenho em sua direção.
— O que você quer?
Surpreendendo-me, Leighton ficou na ponta dos pés. Minhas mãos
automaticamente foram para o meio de suas costas tentando garantir que ela
não fosse cair. Apesar do cardigã entre nós, eu podia sentir o calor de seu
corpo, mas a proximidade, seus lábios quase encostando em meu ouvido, o
cheiro de morango que emanava dela, toda aquela situação era capaz de me
deixar ainda mais louco.
Mas eu não faria nada.
Não sabia o que Leighton queria.
Ela me surpreendeu, segurando meu rosto entre suas mãos e virando-
me em sua direção. Ela me olhou nos olhos, decidida. Cheia de desejo.
Meu olhar caiu para seus lábios apetitosos por alguns segundos.
Leighton se esforçou para erguer mais o corpo como se quisesse diminuir
ainda mais a distância entre nós. Continuei sustentando o peso de seu corpo
mantendo minha mão espalmada em suas costas. Parecendo tímida e com a
respiração pesada, ela passou o indicador por meus lábios.
Foi como se ela estivesse me marcando em brasas.
Meu coração batia acelerado. Tão rápido que era como se ele tivesse
mudado de lugar e batesse direto da garganta. Tão intensamente que ele podia
sair do meu corpo a qualquer instante.
Leighton parecia incerta do que fazer a seguir. Deixei que ela
decidisse. Ela podia parar aqui. Ela podia continuar. Queria que ela
continuasse, mas porque ela queria, não por eu não consegui me conter.
Foi difícil me conter. Manter-me imóvel enquanto ela me escrutinava.
Enquanto Leighton me encarava com os olhos famintos. Mas eu não me
movi.
Leighton subiu uma das mãos para minha nuca enganchando os dedos
nos fios curtos e puxando minha cabeça para mais perto. Ela encostou nossos
narizes e meu corpo retesou sentindo sua respiração quente pinicando em
minha pele.
Um arrepio gostoso perpassou por todo meu corpo.
Puxei-a para mais perto do meu corpo e eu podia sentir meu peito
prensado contra o seu. Meu coração batendo tão forte quanto o dela.
Ela encostou nossos lábios por um mísero segundo, abri os lábios,
sedento, mas ela se afastou. Ouvi quando sorriu, estava tentando prolongar
aquela sensação. Meu estômago apertou como nunca havia acontecido. A
forma como ela reagia às próprias provocações. Como me puxava para mais
perto, como se isso fosse possível.
Leighton se moveu alguns centímetros para trás passando a brincar
com a ponta do meu nariz por meu maxilar. Era uma sensação boa. Muito
boa.
Arfei, movendo-me um pouco para lhe dar mais espaço para explorar
meu rosto. Com a outra mão, timidamente Leighton o acariciou.
Incapaz de suportar a demora, enfiei a mão por seus cabelos até
encontrar sua nuca. Movi sua cabeça posicionando-a de forma que seus
lábios estivessem à minha mercê.
Ela sorriu ao sentir minha urgência, como se tivesse alcançado seu
objetivo. Mas ela não podia me enganar, estava tão sedenta quanto eu.
Quando enfim, nossos lábios se encontraram. Não houve delicadeza.
Era um beijo duro. Firme.
Leighton arfou contra minha boca quando dei um leve puxão em seu
cabelo e pedi passagem para minha a língua. Ela apertou ainda mais os dedos
nos fios de minha nuca. Meu peito subia e descia rapidamente.
O peito dela descia e subia rapidamente.
Nossas línguas se moviam ávidas. Sincronizadas.
Famintos um pelo outro.
Meu pau inchava ainda mais contra a calça jeans que usava me
causando um desconforto que eu sabia que só conseguiria minimizar usando
o banheiro. Mas que eu queria fazer aquilo com ela. Queria poder encostar
Leighton em algum lugar, qualquer lugar, e enfiar meu pau nela com força
para enchê-la completamente com o meu gozo.
Eu queria torná-la minha.
Leighton gemeu em minha boca, ainda brincando com os fios de
cabelo em minha nuca. Ela passou a unha com força em meu pescoço me
fazendo arfar outra vez.
Eu já sabia que estava viciado em beijá-la. Não queria parar. A forma
como Leighton reagia aos meus toques, como sua língua parecia conhecer os
lugares certos da minha boca, e como a nossa conexão era mais forte do que
qualquer outra coisa que eu já senti na vida.
Porra, eu não queria parar de beijá-la nunca.
Foi ela quem começou a desfazer o beijo tornando-o mais lento até
que selou nossos lábios com um selinho. Ela colou nossas testas outra vez. A
respiração estava tão rápida quanto a minha. Leigh puxava o ar com força e
eu gostava de saber que foi por um beijo meu que ela ficou assim.
— Andrew — falou com a respiração entrecortada. — Eu quero que
você transe comigo.
Meu corpo inteiro retesou.
Eu não conseguia pensar.
Em. Nada.
Meu pau ficou ainda mais duro, e eu achava que era impossível.
— Leighton. — Engoli em seco afastando-a de mim por alguns
centímetros. — Acho que eu entendi errado.
Ela balançou a cabeça em negativa.
— Não — falou baixinho, passando a mão pela minha nuca. — Você
ouviu bem. Eu quero que você transe comigo.
Minha mente ainda estava confusa tanto pelo beijo quanto pela
proposta tanto inusitada quanto inesperada.
— Tenho certeza de que você não quer isso — falei, contrariando a
minha vontade, dando um beijo em sua testa e começando a afastar meu
corpo do dela.
Minha mente podia ter compreendido que eu não podia tirar a
virgindade dela, mas meu pau pareceu se animar ainda mais com a ideia.
— Andrew. — Leighton puxou minha camisa me impedindo de
afastar-me dela. — Eu sei o que eu quero, quero que você transe comigo.
Ponto.
Semicerrei os olhos em sua direção.
— O quanto você bebeu? — perguntei, vendo-a revirar os olhos.
— Eu não bebi nada e quero transar com você.
Soltei o ar pelo nariz com uma risada engasgada.
— Leighton...
— Eu sei que você também quer. — Leighton deu um passo em
minha direção fazendo com que nossos corpos estivessem mais próximos
outra vez. — Eu sei que você também se sente atraído por mim.
— Você é virgem — falei, fechando os olhos com força enquanto ela
brincava com meu tronco.
— E eu quero deixar de ser. Quero deixar de ser com você. — O tom
estava firme. Como se não fosse uma decisão de fato causada por um
impulso. Como se ela tivesse pensado sobre isso em algum momento
anterior.
Eu queria.
Queria mais do que tudo fazer isso.
Transar com ela.
Mas eu não podia.
Eu havia jurado não transar com nenhuma outra virgem.
E eu gostava dela o bastante para querer que conseguisse aquilo que
queria, e Leighton queria que a primeira vez dela fosse com alguém especial.
Alguém com quem quisesse acordar no dia seguinte e se lembrar para
sempre.
E por mais que eu fantasiasse com aquela mulher me chamando
enquanto gozava em meu pau, não queria de forma alguma que ela tivesse
menos do que merecia.
Engoli em seco, respirando fundo em seguida.
— Você sabe que eu não transo com virgens, Leighton — falei,
olhando em seus olhos.
Ela pareceu tomar um golpe inesperado, mas recuperou a expressão
do seu rosto em seguida.
— Nem se a virgem for eu?
Balancei a cabeça em negativa, brincando com os fios soltos que
emolduravam seu rosto deixando-a mais bonita.
— Especialmente se for você, Afrodite. — Dei um passo me
aproximando dela. Passei o polegar por sua bochecha, por seus lábios.
Leighton fechou os olhos esperando outro beijo. — Você merece tudo. —
Colei nossas testas, brincando com a ponta dos nossos narizes. Eu desejava
mais que tudo beijá-la. Prová-la. Sentir seu gosto. Dar a ela o prazer que ela
merecia. Mas não podia. — E eu não posso dar o que você merece, Afrodite.
Não sou bom pra isso. Não vou ser bom pra você.
Afastei-me rápido demais.
Eu tinha que ir para longe dela, ou não seria capaz de resistir mais.
Balancei a cabeça em negativa pensando que nunca cogitei que eu negaria
uma boceta por princípios. Mas não era uma garota qualquer. Era a Leigh.
Ela merecia ter aquilo que desejava. Nem que para isso eu tivesse que negar
os meus próprios desejos.
Olhei para trás quando estava longe o bastante para ter certeza de que
não voltaria. Leighton parecia ao mesmo tempo decepcionada, mas resoluta.
Eu já tinha visto aquele olhar antes, a última vez que ela esteve tão decidida
foi quando decidiu que eu a namoraria. Ela sabia o que queria, e algo me
dizia que ela lutaria com todas as forças para conseguir. Eu tinha que manter
a atenção redobrada e garantir que ela não fizesse nenhuma besteira.
Capítulo 30

Não deixar a vida passar.


Foi isso que o Ab me disse para não fazer e era exatamente isso que
eu não faria.
Ver Andrew me dando às costas e indo embora em parte foi
reconfortante. Ele estava cumprindo a sua palavra.
Ele disse que não transava com virgens, quando ofereci minha
virgindade ele fugiu. Por outro lado, ele simplesmente se recusou a dormir
comigo. O que queria dizer que ele podia muito bem, de fato, não estar a fim
de transar comigo.
Ab também me havia dito que eu devia ser criativa, e eu precisava
pensar em algo que o atraísse até aqui. Algo que o fizesse perceber que eu
realmente queria estar com ele.
Mordi o lábio olhando para cima. Em sua direção. Andrew me
encarava, sério. Eu sorri para ele.
Ele não reagiu.
— Ei, gata, quer dançar? — Uma voz nada familiar me fez virar o
corpo em sua direção. Ele estava atrás de mim.
O cara era alto, quase do tamanho do Andrew. Tinha cabelos pretos,
olhos escuros e um sorriso muito bonito.
— Ah, desculpa, eu... — olhei para cima outra vez. Dessa vez
Andrew não apenas me encarava. Ele apertava os dentes com força. Eu podia
ver seu maxilar travado. Ele estava com raiva, e talvez eu pudesse usar isso a
meu favor. — Eu sou uma péssima dançarina.
Sorri em sua direção.
Era errado fazer isso com ele, mas eu sabia o que queria. Queria o
Andrew. Sabia que ele não cederia fácil. Eu teria que apelar.
— É seu dia de sorte então, porque eu sou um ótimo dançarino.
— Então acho que vou ter que pagar para ver.
O desconhecido se aproximou e pôs as mãos em minha cintura,
tentando me ajudar a me mexer no ritmo da música. Meu corpo tremeu um
pouco com o desconforto por ter alguém que eu não fazia a menor ideia de
quem era assim, tão perto.
— Onde você estuda? — perguntei, tentando acabar com o
desconforto, num tom alto o bastante para que me escutasse.
— Na Columbia — devolveu no mesmo tom. — E você?
— Na Walker. Nós ganhamos de vocês essa noite! — sorri, animada,
vendo-o erguer as mãos dando-se por vencido.
— É. Eu estava lá, no campo. — Fez uma careta divertida.
— E você, não está em casa chorando? Algum motivo para
comemorar? — quis saber erguendo a sobrancelha para ele.
— Se não tinha, agora com certeza vou ter.
— Se você não tirar a porra das suas patas imundas da minha
namorada, eu juro que você não vai ter nenhum motivo mesmo para acordar
amanhã. — A voz fria de Andrew fez com que eu me arrepiasse.
O desconhecido tirou as mãos imediatamente de mim e Andrew
passou à minha frente, ficando absolutamente perto do cara. Nenhum
milímetro de distância entre eles.
Benjamin me passou para trás dele também e, quando dei por mim,
Jackson e Malcon estavam na minha frente, como se quisessem garantir que
nada de ruim fosse acontecer comigo.
— Foi mal, cara. Eu não sabia — o desconhecido respondeu com a
voz um pouco trêmula.
— Sai da minha frente, e não chega perto dela outra vez — Andrew
falou.
O desconhecido assentiu assustado, vendo os quatro brutamontes que
teria que enfrentar caso não fizesse exatamente o que Andrew queria. Sem
pensar duas vezes, deu meia-volta e se perdeu no meio dos corpos.
Andrew não se virou em minha direção de imediato. Os ombros
estavam tensos. Arqueados. E eu conseguia ver pela maneira que se mexia
que sua respiração estava pesada.
Quando, por fim, voltou o corpo em minha direção os olhos se
cravaram nos meus.
Ele deu passos firmes até que estivéssemos frente a frente.
— Que. Porra. Você. Está. Fazendo?
Separou as sílabas de forma ameaçadora.
— Andrew — Malcon falou, pondo a mão em seu ombro.
— Vai pra porra, Malcon. Isso é assunto meu e dela.
— Andrew. — Foi a vez de Benjamin tentar interceder a meu favor.
— Saiam daqui, caralho.
Sorri para Benjamin, voltando a encarar o cara irritado à minha frente.
Os garotos passaram por nós e apenas depois disso Andrew deu outro passo
na minha direção.
— Você disse que não transa com virgens. — Dei de ombros. — Se
eu resolver essa questão, acho que não teremos mais nenhum empecilho.
As expressões no rosto de Andrew mudaram tão rápido que mal deu
para acompanhar.
Incredulidade, raiva, descrença, fúria.
Outro passo em minha direção.
— Que porra você disse? — eu já tinha visto Andrew irritado. Já
tinha ouvido sua voz em diversos tons de puto. Mas assim, nunca.
— Eu disse que decidi resolver a questão da virgindade. — Sorri.
A respiração de Andrew ficou pesada outra vez como se eu tivesse
dado um soco em seu estômago.
— Você está... — Andrew parou, passando as mãos pelo cabelo,
irritado. — Você tem que estar brincando com a minha cara, Leighton.
— Você disse com todas as letras que não transa com virgens. — Dei
de ombros. — Só estou facilitando.
Andrew olhou ao redor como se procurasse alguma coisa, depois
segurou meu braço com força.
— Andrew — falei, um pouco assustada. — Andrew, pra onde nós
estamos indo?
Ele não respondeu. Seguia desviando nossos corpos das pessoas que
se amontoavam pelo espaço até chegarmos ao banheiro. Ignorando as pessoas
na fila, ele simplesmente abriu a porta e entrou comigo.
— Que porra você quer? — Gritou, colando meu corpo à porta. As
mãos, uma de cada lado do meu corpo, e ignorando as pessoas que batiam
desenfreadamente. Andrew balançou a cabeça em negativa.
Eu ouvi o click do trinco.
Em seguida, sua boca estava sobre a minha.
Urgente.
Se o beijo de mais cedo tinha sido repleto de desejo, esse era mais.
Muito mais. Havia uma intensidade que eu nunca havia experimentado.
Desejo cru.
Andrew me levantou. As mãos espalmadas em minha bunda. Mesmo
com a calça jeans eu conseguia sentir a sua ereção. O que me fez arfar.
Os lábios de Andrew correram por meu pescoço, mordiscando,
chupando, e deixando minha pele em erupção por onde quer que tocasse.
Ainda comigo erguida em seus braços, ele caminhou alguns passos
até que eu estivesse sentada na pia de mármore onde, instantes antes, havia
me encostado para falar com Ab.
— Você me perguntou por qual motivo eu estava estranho hoje —
falou, puxando meu cabelo para deixar meu pescoço exposto enquanto me
torturava com beijos, chupões e lambidas. — Eu estava estranho, porque não
conseguia pensar em outra coisa que não foder você, Afrodite. — Arfei,
segurando em seus ombros com força. — Então você está dificultando pra
caralho pra mim, Leighton. — Andrew pegou minha mão, pondo em cima de
sua calça jeans. A ereção era clara e ele apertou nossas mãos sobre ela.
Andrew gemeu. — É assim que você me deixa, Leighton. Sempre. Então,
porra, você está dificultando tudo.
Balancei a cabeça em negativa.
— Você quem está em dificultando — falei com dificuldade. — Eu já
disse, quero que você transe comigo. É você quem está dizendo não.
Ele riu contra minha pele, mordendo o vão entre o ombro e o pescoço.
— Uma virgem, você é a porra de uma virgem, Leighton. Eu posso
ser um filho da puta, mas eu sou um filho da puta com princípios.
— Não quero princípios — falei, passando a mão por sua roupa até
chegar a barra de sua camisa. — Não quero princípio nenhum agora.
Eu já não sonhava em perder a virgindade em uma cama repleta de
rosas ou com coisas românticas, mas também não imaginava que minha
primeira vez seria no banheiro de uma boate. Bem, eu também não podia
imaginar que o cara que tiraria minha virgindade seria um bad boy e que eu
lhe pediria isso.
A vida era estranha, mas o que importava era não deixá-la passar. E
eu não deixaria.
Sem mais nenhuma palavra as suas mãos encontraram o caminho para
dentro da minha blusa. Os dedos roçaram minha barriga com cuidado e
destreza. Não demorou até que estivesse brincando com a barra do meu sutiã.
Merda, que tipo de tecido as garotas que transam com ele
costumavam usar? Arqueei o corpo tentando fazer com que meu seio
estivesse mais à sua disposição. Andrew o apertou e, meu Deus do céu, como
eu nunca tinha me deixado fazer aquilo antes?
Ele riu.
— Você gosta disso? — perguntou, apertando ainda mais as mãos em
meu seio.
Meus bicos estavam completamente entumecidos.
Não respondi. Não conseguia.
— Responde, Afrodite — sussurrou em meu ouvido, passando a
língua em minha orelha e mordendo o lóbulo.
Puxei seu corpo contra o meu murmurando alguma coisa
incompreensível.
— Se você não falar, nós não vamos continuar — falou.
— Sim. Sim. Sim — murmurei, desesperava por mais.
Andrew riu novamente. O ar quente que saía de suas narinas
brincando com meu pescoço enquanto deixava pequenos beijos. Andrew
mudou a mão de lugar, dando atenção também ao outro seio. Fazendo-me
arquear ainda mais o corpo em busca de mais contato.
Ele puxou meu cabelo outra vez. Trouxe a boca para mais perto da
minha apenas resvalando os lábios sobre os meus em uma maldita
provocação. Aproximei meu rosto, mas ele afastou um pouco, segurando meu
queixo.
— É isso que você quer? — perguntou. — É isso que você mesmo
que você quer, Leighton?
— Sim — falei, afoita.
Ele me beijou outra vez.
Dessa vez havia um misto de sensações em meu corpo. Sua língua
que explorava a minha minuciosamente. Suas mãos que incendiavam o meu
corpo por onde quer que tocassem. Crescia dentro de mim o desejo de mais.
De ser preenchida.
De ser preenchida por ele.
Andrew ergueu a blusa que eu usava arrancando-a do meu corpo,
seguindo a trilha lateral do meu sutiã, até que encontrou o fecho, abrindo-o e
deixando meus seios a mostra.
Mordi os lábios, com vergonha.
— Eu sei que talvez eles sejam menores do que os que você está
acostumado, mas...
— Você tem simplesmente os melhores peitos que eu já vi, Leighton.
Eu juro — falou, desviando os olhos do meu peito, e encarando meus olhos
com intensidade.
— Sim — concordei.
Eu concordaria com qualquer coisa que ele quisesse só para continuar
sentindo aquelas coisas. Ele segurou meu rosto entre as mãos outra vez.
— Você é perfeita — falou, e pareceu sincero. — Eu imaginei
milhares de vezes como eles seriam. — A intensidade e o desejo em sua voz
eram quase palpáveis. Agora ele já não desviava os olhos dos meus seios a
mostra — Eu imaginava como seria segurá-los. Apertá-los. Chupá-los,
Leighton.
Andrew começou a passar as mãos por meus seios fazendo com que
aquela sensação gostosa retornasse. Ele deixou um beijo em meu ombro
repetindo o mesmo gesto no outro lado.
— Eu juro por Deus que eu podia gozar só de ver você assim. —
Andrew beijou meu queixo, minha clavícula, mordiscou meu lóbulo. Deixou
um caminho de beijos até chegar ao meu seio.
A ponta de sua língua tocou a auréola, contornando-o.
Soltei um gemido constrangedoramente alto, quase desmaiando de
prazer.
— Isso é só o começo, Afrodite. — Andrew chupou meu peito e o
atrito da língua quente com meu corpo foi, uau... eu podia morrer a qualquer
momento. — Só o começo.
E ele estava falando sério.
Enquanto chupava com destreza um peito, apalpava o outro,
invertendo as posições em seguida.
— Você está gostando? — perguntou, brincando, dessa vez com os
dedos, com o bico esquerdo.
— Não para, por favor.
— Ainda estamos bem longe de parar, Afrodite — garantiu.
Andrew se afastou um pouco, mantendo os olhos fixos nos meus.
Apertou meus peitos com força uma última vez, descendo as mãos, por meu
corpo. As pontas dos dedos faziam meu corpo eclodir.
Os dedos pararam no botão da minha calça. A maneira como me
encarava era como se aguardasse uma confirmação. Soltando o ar cada vez
mais forte, assenti. Depois de tirar o botão da calça e abrir o zíper, Andrew
passou a mão por minha cintura, erguendo meu corpo e puxando a calça até
que estivesse na altura da coxa, depois pousou meu corpo outra vez sobre a
bancada fria.
Andrew passou a calça por minhas pernas, até que estivessem presas
em minhas canelas. Subiu, despretensiosamente as mãos por minhas pernas,
até chegar à parte interna das coxas.
Arfei.
Cada vez que ele chegava mais perto, minha respiração se acelerava.
Mordi os lábios com força.
— Vamos ver o quanto você está pronta para mim — sussurrou
brincando com o elástico da minha calcinha. Ele chegou o tecido para o lado
passando o indicador e o dedo médio por minha entrada. Apertei minhas
pernas contra os dedos que estavam fazendo uma pressão gostosa dentro de
mim. — Você está molhadinha, Afrodite. Pronta pra mim.
Falou. Os olhos ainda presos nos meus.
Os dedos, os mesmos dedos que instantes antes estavam dentro da
minha calcinha, ele levou a boca. Fechou os olhos saboreando meu gosto.
— Tão gostosa — falou em um sussurro baixo. — Não vejo a hora de
você gozar na minha boca, Afrodite. De sentir o seu gosto todinho. De provar
você.
Apertei as minhas pernas outra vez.
Andrew riu.
— Você não vai gozar ainda, querida. Só vai gozar quando eu deixar.
E apenas na minha boca.
Apertei as pernas outra vez, vendo-o rir.
Ele me olhou outra vez, nos olhos. Arqueou o corpo para a frente,
pousando as mãos na beirada da pia e colando os lábios nos meus. Aos
poucos, ele foi descendo o corpo, distribuindo beijos por cada milímetro onde
pudesse encontrar, até estar de joelhos na minha frente. Andrew abriu minhas
pernas e, sem a menor cerimônia, rasgou minha calcinha.
— Agora eu vou chupar sua boceta, Afrodite. E eu tenho certeza de
que vou gostar, porque você é a porra da melhor coisa que existe nesse
planeta. A coisa mais tentadora na qual eu já coloquei os olhos. — Precisei
pressionar minhas pernas mais um pouco sentindo a respiração falhar e
erguendo minha cabeça para encarar o teto, sentindo uma coisa crescer dentro
de mim outra vez. — Eu vou enfiar a minha língua em você, Afrodite e te
foder com ela até que você não aguente mais e goze com força em minha
boca, exatamente como eu venho sonhando há tempos.
Andrew me puxou pelo quadril um pouco mais para a frente,
permitindo-se um acesso melhor ao meu corpo. Eu estava em expectativa.
Mal podia esperar para que ele fizesse tudo aquilo que havia prometido. Senti
a ponta do seu nariz brincando com os pelos que começavam a crescer lá
embaixo. Andrew inspirou fundo sentindo o meu cheiro como se ele estivesse
em um campo florido e aquele fosse o melhor cheiro do mundo.
Eu já não duvidava de nada.
Tinha certeza de que ia gostar daquilo. De qualquer coisa que ele
fizesse comigo.
Andrew mordiscou meu clitóris. Apertei com mais força o mármore.
Ele ainda nem havia usado a língua e eu já me sentia completamente perdida
nele.
— Olha pra mim, Afrodite — pediu. — Eu quero que você aprecie
quando eu estiver experimentando cada pedacinho seu. Quero ver cada uma
de suas reações, e ter certeza de que vai gostar disso tanto quanto eu, porque,
caralho, Leighton, eu sonho com isso desde que eu a vi pela primeira vez.
E então, olhando para mim de uma forma extremamente sexy, ele
passou a língua por toda a minha extensão. A sensação era de que eu estava
queimando, como se todo o meu corpo fosse uma porção de fogos de artifício
prontos para explodir.
Eu sentia minha carne pulsando, implorando por mais. Fechei os
olhos com força em expectativa, não aguentando mais aquela tensão.
Andrew mordiscou outra vez a ponta do meu clitóris me fazendo
arfar.
— Não fecha os olhos, Leighton. Olha pra mim — pediu. Não,
ordenou. Meu coração batia tão forte no peito que eu achava que podia
morrer a qualquer instante. Abri os olhos preguiçosamente. Tinha medo que
qualquer movimento brusco me levasse a acordar, ou perder o fôlego. Eu não
podia desmaiar ou voltar à realidade antes que aquilo chegasse ao final. Não
aguentaria viver sem saber como terminaria tudo aquilo. — Boa garota —
falou, dando um beijo em minha coxa, enquanto usava o indicador para fazer
um movimento de vai e vem com a ponta do dedo em minha perna. — Agora
eu quero que você peça.
Pisquei, sem saber exatamente o que ele queria.
— Pedir... pedir o quê?
— O que você quer, Leighton?
— Eu quero... — foi a única coisa que minha mente idiota conseguiu
produzir.
— O que você quer? — Andrew perguntou, provocador.
O polegar circundava minha entrada e eu podia chorar de prazer a
qualquer instante.
— O que eu quero... — novamente, como uma idiota repeti, incapaz
de compreender o que Andrew queria.
— Peça para que eu coloque a minha língua onde você tanto quer. —
Andrew tinha um brilho no olhar de quem estava se divertindo. — Peça para
que eu coloque a minha língua na sua boceta e te faça gozar, Afrodite. Toda
vez que você se referir a ela, comigo, vai ser assim que vai falar, boceta. Essa
boceta gostosa. — Passou a língua pela ponta do clitóris. — Essa boceta que
vai me deixar maluco, Afrodite.
— Andrew. — Balancei a cabeça em negativa como se não fosse
capaz de falar uma frase tão elaborada. As coisas estavam se confundindo em
minha mente, e olha que eu sempre me considerei uma garota acima da média
quando o assunto era inteligência. Agora eu entendia porque as pessoas
faziam coisas idiotas por sexo. — Andrew, por favor, por favor, enfia a
língua em minha boceta. — Ele enfiou os dedos com força em minhas coxas,
como se o pedido tivesse sido demais para ele. Sorri satisfeita. — Eu quero
que você me foda, como sempre disse que você faz.
Ele grunhiu.
Grunhiu.
Eu o tinha feito grunhir.
Depois ele passou a língua nos lábios olhando para o meio de minhas
pernas. Os olhos brilhavam soltando fogo.
— Eu vou te dar exatamente o que você quer, Leighton. E muito
mais.
Sorri, sabendo que ele cumpre promessas. Nunca apreciei tanto essa
qualidade em um homem.
Sem aviso prévio, com vontade. Como se meu corpo fosse o prato
principal, de um enorme menu de restaurante caro, Andrew passou a língua
por toda a extensão dos meus pequenos lábios e eu pensei que fosse morrer
naquele momento.
Não sabia quanto de prazer um corpo conseguiria aguentar, mas se ele
continuasse fazendo aquelas coisas, eu descobriria em breve.
Andrew voltou a língua para meu clitóris, brincando com o nervo que
já estava inchado. Agarrei seu cabelo com força em uma tentativa de mantê-
lo ali para sempre. Vergonhosamente, esfreguei seu rosto contra a minha
boceta, eu precisava de mais.
De muito mais.
Ao mesmo tempo que me sentia perto de alguma coisa. De alcançar o
céu.
Estremeci com o contato da língua molhada com a minha boceta,
arfando ruidosamente e jogando o quadril para a frente, querendo que ele
tivesse ainda mais acesso ao meu corpo.
Andrew segurou minhas pernas puxando para mais perto do seu rosto
como se ele já não estivesse próximo o bastante. Ele ergueu minhas pernas
passando-as por seus ombros e enfiando a cara com vontade em minha
boceta. A cada lambida. A cada estocada. A cada vez que ele mordiscava
alguma parte de mim, eu me sentia sem ar. Com o corpo prestes a pegar fogo.
Como um vulcão em erupção.
Com uma mão, apertei a pia com força sentindo sua língua brincando
dentro de mim, com a outra, ainda o segurava mantendo-o entre as minhas
pernas. Não havia a menor necessidade. A postura dele deixava claro que não
pretendia sair dali. Para a minha felicidade.
Uma das suas mãos começou a brincar com meu clitóris, levando-me
a arquear algumas vezes o corpo em sua direção. Gemia cada vez mais alto
incapaz de me controlar.
Ele me invadiu outra vez com sua língua e eu choraminguei alguma
coisa ininteligível. Joguei a cabeça para trás com força chegando a batê-la
contra o espelho. Não me importei. Não havia nada para me concentrar além
da língua, dos dedos e de toda atenção que eu estava recebendo.
Andrew brincou com a ponta do polegar em minha entrada. A
sensação foi tão boa que eu pensei estar flutuando. Ele não enfiou o dedo
como pensei que faria. Só brincou ali me estimulando. Provocando. Sem
conseguir me controlar rebolei contra seu rosto enquanto puxava seus cabelos
e sentia tantas coisas ao mesmo tempo que, meu Deus...
Andrew fez uma massagem em meu clitóris. Eu já estava tão entregue
que não havia mais nada que eu pudesse fazer para tentar manter aquela
sensação. Só implorar para que Deus não me levasse.
— Continua — pedi, incapaz de pensar em qualquer outra coisa. —
Não para, por favor.
Soltei seus cabelos, pressionando as duas mãos contra a pia de
mármore e erguendo mais o corpo. A língua deixou minha boceta, mas os
dedos ainda brincaram ali. Choraminguei resmungando, até que sua língua
chegou a um lugar onde jamais havia cogitado.
Meu ânus.
Estava excitada demais para reclamar.
A sensação era tão boa, e se ele não se importava, não seria eu a pedir
que parasse. Ele rodeou com a língua toda a circunferência e eu nunca
imaginei que pudesse sentir tanto prazer naquele ponto. Ele me beijou lá
embaixo antes de voltar sua atenção à minha boceta completamente
encharcada.
Ergui o quadril outra vez dando ainda mais acesso a Andrew. Ele
começou a fazer movimentos circulares em meu monte inchado. Em alguns
momentos eu sentia como se ele quisesse explorar meu corpo, como se
quisesse saber quais reações seus toques produziriam em mim.
O desejo dentro de mim crescia cada vez mais, e eu sentia uma
vontade intensa de gritar. Eu queria alguma coisa. Estava perto de conseguir,
muito perto.
Comecei a me esfregar mais rápido contra seu rosto ainda enfiado no
meio de minhas pernas. Andrew envolveu outra vez meu clitóris em sua boca
chupando com força como se soubesse exatamente o quanto de pressão fazer.
— Andrew — falei com a respiração entrecortada, sentindo a
sensação crescer. — Andrew...
— Você pode gozar agora, Leighton — falou, me encarando. Os
olhos repletos de luxúria. — Você pode gozar em minha boca, porque tudo
que eu mais quero é sentir seu gosto.
Ele arremeteu a língua outra vez, e eu fechei os olhos.
— Olha pra mim, Leighton. Eu quero ver. Quero ver você gozando
pra mim, me encarando. Quero gravar cada expressão do seu rosto quando eu
te dou prazer.
Eu fiz o que ele pediu com muita dificuldade. Manter os olhos abertos
exigia agora um esforço hercúleo.
— Andrew, eu vou...
Não consegui concluir.
Não sei se movida pela maneira como sua língua se moveu dentro de
mim ou pelas palavras firmes.
Mas gozei no instante seguinte.
Eu explodi em um milhão de pedacinhos.
Alcancei o céu.
Vi todas as cores do arco-íris.
E foi maravilhoso.
Esplêndido.
Foi tudo.
Mais que tudo.
Andrew continuou lá, com o rosto entre minhas pernas, sugando tudo
que eu tinha a oferecer como se fosse o mais delicioso néctar que ele havia
experimentado na vida.
Quando afastou seu rosto, passou a língua pelos lábios saboreando.
— Decididamente você tem o melhor gosto que eu já experimentei —
falou.
Meu coração retumbou no peito.
De alegria.
Eu tinha gozado.
Ele achava que o meu gosto era bom.
Eu estava nas nuvens.
Mordisquei o lábio, puxando seu cabelo até que seu rosto estivesse
próximo ao meu. Puxei os cabelos curtos de sua nuca.
— Agora eu sei por que aquelas garotas estavam te olhando no jogo.
Eu entendo elas me odiarem por estar tirando tudo isso delas.
Ele riu.
— Tudo isso?
— Foi a melhor coisa que eu já senti em minha vida. — Mordi o
lábio, descendo o olhar por seu corpo até recair no volume em sua calça. — E
nós nem chegamos ao fim.
Sem saber exatamente como fazer, o apertei sobre o tecido.
Andrew gemeu.
E eu amei aquele som.
— Nós vamos terminar isso aqui mesmo? — perguntei, animada,
aproximando o lábio de seu ouvido.
Se ele me estava fazendo sentir tudo aquilo só com a boca, quando
estivesse dando tudo dele, eu morreria de prazer.
Andrew segurou meu queixo me olhando com intensidade antes de
me beijar. Duro. Bruto. A língua me invadiu com vontade.
Esse beijo teve um gosto diferente.
Era um pouco salgado.
O misto do meu gosto com a sua boca.
Eu o apertei contra mim, passando meus braços por seu pescoço.
Rápido demais Andrew afastou nossas bocas colando nossas testas.
— Eu não vou transar com você, Leighton — afirmou.
Senti um enorme balde de água fria sendo jogado em minha cabeça.
— Andrew, eu pensei que...
Ele balançou a cabeça em negativa.
— Não posso fazer isso. Não com você. — Eu ri, soltando o ar pelo
nariz, sentindo a rejeição me bater. Ele não havia gostado? Porque pra mim
foi como estar no céu. Foi humilhante, mas senti meus olhos se enchendo de
lágrimas. — Se for o que você quiser, eu posso te fazer gozar de milhares de
formas criativas. Mas eu não posso fazer isso com você. Não é certo tirar de
você algo que sempre esperou, Leighton.
Abri a boca para responder, mas ele não permitiu.
Beijou-me.
É bonitinho ser respeitada, mas péssimo quando isso se torna uma
rejeição. Especialmente depois de ter vivido o melhor momento da minha
vida.
Balancei a cabeça em negativa.
— Você não vai tirar algo que eu mereço, Andrew. É o oposto. Você
vai garantir que eu tenha exatamente aquilo que eu sempre sonhei — falei,
resoluta, começando a descer da pia.
Minhas pernas bambearam e eu não consegui me manter de pé. Foi
preciso que os braços de Andrew me amparassem, impedindo-me de cair.
Ele riu, como se estivesse orgulhoso do seu feito.
— Você está bem? — perguntou.
Eu apenas assenti tentando puxar minhas roupas de qualquer jeito.
Andrew segurou minhas mãos, me forçando a olhar para ele.
— Leighton, você está bem? Isso foi... foi bom pra você? Quer dizer,
tanto quanto foi pra mim?
Eu sorri achando a preocupação dele extremamente fofa.
— Tenho certeza de que foi ainda melhor para mim — garanti,
passando a mão em seu rosto. Ele fechou os olhos por alguns segundos como
se quisesse absorver as palavras e o carinho recebido. Quando abriu os olhos,
parecia genuinamente feliz.
— Eu vou te ajudar — falou, abaixando-se outra vez em minha frente.
— Segura em meus ombros — pediu, percebendo que eu ainda não havia
recuperado a firmeza nas pernas. Andrew subiu a minha calça aos poucos,
sorrindo ao ver minha virilha exposta.
Não fazia ideia de quando ou como, mas a calcinha estava na pia. Ele
sorriu de uma forma safada antes de fechar minha calça, pegando o pedaço de
tecido sobre a pia e cheirando-o antes de guardar no bolso da frente da calça.
— Andrew, isso é meu!
— Agora é meu. Pra eu sentir seu cheiro sempre que quiser. E eu vou
querer sempre, Afrodite.
Uma carga de eletricidade passou pelo meu corpo com aquelas
palavras e o coração bateu acelerado outra vez no peito. Aquilo soou como
uma promessa, e eu já sabia como ele funcionava em relação a promessas.
Andrew baixou o rosto até o centro dos meus peitos plantando um
beijo ali. Minha respiração se alterou outra vez, e involuntariamente, minhas
mãos foram parar em sua cabeça, acariciando os fios claros de seu cabelo.
Aos poucos, ele me cobriu com o tecido do sutiã me olhou uma
última vez antes de fazer com que a blusa cobrisse por meu corpo outra vez.
— Leighton — chamou, depois de alguns segundos. — Eu quero que
você saiba que, sem dúvida, você seria a única virgem com quem eu
transaria, e dizer não é muito mais difícil pra mim do que pra você.
Eu sorri.
— Porque você tem princípios — afirmei. Andrew assentiu. — Não
tem problema. Eu também tenho os meus. Você acha que não é digno de tirar
minha virgindade, e eu vou mostrar a você que se existe alguém que não é
cem por cento digno de algo nessa história, não é você.
— Do que você está falando? — perguntou, franzindo a testa para
mim.
Dei de ombros.
— Só estou dizendo que você não é o que você pensa e eu não sou
quem você acha. Pelo menos, não mais. Todo mundo tem uma parte que não
quer que os outros vejam, Andrew. Algo do que se envergonhar, e isso não te
torna menos digno. Você é bom, criou seus irmãos que são pessoas boas.
Você é melhor que eu.
Ele riu incrédulo.
— Você vai sair assim? — perguntei, apontando para o volume em
sua calça.
— Como eu já disse, a culpa é sua por ser a garota mais gostosa que
eu conheço. — Mordisquei o lábio tentando reprimir um sorriso.
— E ainda assim, sou a única com quem você não quer fazer sexo.
Ele balançou a cabeça em negativa.
— Muito pelo contrário, Leighton. Você é a única com quem quero
transar. A única que quero cavalgando em meu pau. — Ele se aproximou
passando a ponta do indicador por meu rosto. — A única que quero encher
com o meu gozo, Afrodite. E justamente por isso, por querer tanto você é que
eu não posso.
— Eu sei o que eu quero, você quer o mesmo. Não é difícil saber
como isso vai terminar.
Capítulo 31

— Esqueceu como joga, caralho? — Malcon perguntou em tom de


deboche a Jackson enquanto girava o controle para a direita, como se isso
fosse fazer com que o carro seguisse a direção para onde guiava o braço.
— Não está indo essa porra! Que merda! — Os polegares de meu
irmão se moviam na alavanca do controle, empurrando com força para a
direita. — Caralho!
Reclamou quando bateu contra outro carro, indo para fora da pista e,
em seguida, batendo na contenção.
Benjamin riu, satisfeito, já que estava esperando a sua vez. Jackson
jogou o controle para ela que o segurou com habilidade ainda no ar.
Eu joguei a cabeça para trás, encarando o teto branco.
Eu sei o que eu quero, você quer o mesmo. Não é difícil saber como
isso vai terminar.
A maldita frase de Leighton não parava de repassar em minha mente.
Eu queria insanamente transar com ela. Se aquela garota conseguisse apenas
imaginar o esforço filho da puta que eu estava fazendo para não arrancar
aquelas roupas sempre que eu a via. Sempre que eu sentia o seu perfume e
acordava duro porque ela invadia meus sonhos, com certeza ela tomaria mais
cuidado. Ela não me provocaria tanto.
Eu me sentia errado. Um canalha.
Um filho da puta pelo que havia acontecido.
Pela forma como havia acontecido.
Embora Leighton tenha me dito que não havia bebido, eu não estava
com ela todo o tempo, então não tinha como ter certeza. Mas não consegui
me controlar. Também não tive coragem de perguntar a ela hoje, quando fui
levá-la para aula, se estava tudo bem. Não tocamos no assunto.
Talvez ela tivesse se dado conta da besteira que havia feito, e me
culpasse pelo ocorrido.
Ela não estava errada. O experiente era eu.
Não devia tê-la levado para o banheiro. Sabia, desde o instante em
que pus minhas mãos enormes em seu braço esguio o que aconteceria. Tinha
certeza.
— Sua vez, Andrew. — Benjamin jogou o controle em minha direção
interrompendo os pensamentos.
— Não acredito que ficou agourando o Jackson para perder em menos
de dois minutos.
— Sou um Deus nas quadras de basquete, não tem como ser bom em
tudo — falou, rolando os olhos.
Ri, pegando o controle e segurando as alavancas direita e esquerda
enquanto a contagem regressiva aparecia na tela.
— Espero que fique contente com o segundo lugar — Malcon falou
no exato momento em que o número um apareceu na tela.
Apertei os olhos na direção da tela aumentando a velocidade nas
retas, mas diminuindo pouco antes das curvas. Era tudo matemática. A
maneira como as curvas eram feitas, abertas ou fechadas. Sempre números.
Malcon parou de rir depois de um tempo, percebendo que me vencer
não seria uma tarefa fácil. Ele se concentrou. Eu ainda mais. Minha mente
escolheu me sacanear e imaginar que Leighton estaria me esperando na
chegada. Nua. Completamente nua. E doida para que eu transasse com ela. E
se a vida não fosse uma tremenda filha da puta, eu seria um cara decente e
pronto para ela.
Mas a vida não era.
E essa era a maior ironia. Se eu contasse, ninguém acreditaria que eu
praticamente corri da minha namorada de mentira negando algo que ela
queria voluntariamente me dar.
Malcon soltou um palavrão quando outro carro passou por ele e eu
aproveitei o momento para aumentar ainda mais a distância entre nós. Corri,
como nunca. Pelo menos, em minha imaginação, eu podia alcançá-la.
Apertei os dentes focando na pista reta seguida por uma curva fechada
seguida por uma aberta. Pouco depois estaria a minha vitória. Foquei como se
realmente ela fosse estar lá.
— Desgraçado — Malcon resmungou quando passei pela linha de
chegada.
Sorri.
As imagens em minha mente começando a se formar. Leighton
ficando na ponta dos pés, rodeando meu pescoço com seus braços, colando os
lábios aos meus.
Inclinei a cabeça para trás, passando o braço sobre os olhos, contando
mentalmente até dez. Ri pelo nariz. Até quinhentos não seria o suficiente.
Depois da noite de ontem, de ver a forma como Leighton reagia a mim. Aos
meus toques. A maneira como me pediu para tirar dela a única coisa que ela
havia garantido para mim que era especial.
Leighton não era a garota boba e inocente que as meninas virgens em
geral gostavam de fazer parecer, mas também não era a pessoa monstruosa
que eu havia acreditado a princípio. Ela sabia o que queria e não tinha medo
de correr atrás. Eu a admirava por isso.
Eu esperava que se um dia fosse capaz de me apaixonar por alguém,
fosse por alguém exatamente como ela. Leve, divertida, batalhadora, e que
provavelmente seria completamente desinibida na cama.
Não devia pensar nessas coisas.
Já me sentia um babaca completo por me aproveitar de um momento
de devaneio, de completa loucura da garota.
Mas, porra, eu não consegui resistir.
Quando ela falou que estava disposta a transar com aquele babaca que
encostou as patas sujas nela, com qualquer pessoa na verdade. Eu não
consegui conter aquela fúria dentro de mim. Não conseguia imaginar
ninguém encostando um dedo sequer nela.
Leighton podia não ser minha namorada de verdade, mas de certa
forma era minha. E eu não conseguia conceber a ideia dela por aí com outro
cara. Especialmente depois de ontem.
Soltei um gemido de frustração ao lembrar-me do banheiro, o
momento que estava me esforçando inutilmente para esquecer.
— Outa partida? — Benjamin falou.
— Não. — Ergui meu controle que foi puxado da minha mão
imediatamente.
— E eu pensando que você ficaria se gabando por ter vencido por
horas. — Senti o assento ao meu lado afundando e a voz de Malcon mais
próxima.
— Não preciso ficar afirmando que sou melhor que vocês. Acabei de
provar. — Dei de ombros, ainda mantendo os olhos fechando e me
concentrando em qualquer coisa que não fosse em minha namorada de
mentira na noite de ontem.
— Pensei que depois de todo tempo que passou com a Leighton no
banheiro, você fosse estar mais disposto, mas a cara fechada o resto da noite
indica que as coisas não saíram como costumam ser pra você. — Deu uma
batida em meu braço.
— Não vou falar sobre o que aconteceu no banheiro com a minha
namorada com você, Malcon.
— O que não aconteceu, você quer dizer. — Riu, jogando o corpo
com força contra o encosto do sofá.
— Cala a boca, filho da puta — reclamei.
— Você nunca teve problemas em compartilhar o que fazia com as
garotas que pegava, Andrew. — Malcon bateu o cotovelo em meu braço.
— Elas não eram a Leighton. — Devolvi, sério.
Malcon ficou em silêncio por algum tempo. Tanto tempo que eu tirei
o braço do rosto para olhar em sua direção. O filho da mãe me encarava com
um sorriso torto na cara.
— O quê? — perguntei, devolvendo a encarada que ele me dava.
— Você está mesmo gostando dela, não é? — falou mais baixo,
olhando para meus irmãos que prestavam atenção em sua disputa.
Bufei, soltando o ar pelo nariz e voltando a cabeça para a posição que
estava antes, tapando os olhos com o braço outra vez.
— Assumir que gosta dela não vai te matar — continuou, batendo
com o cotovelo em meu braço outra vez. — Vai, me conta, prometo manter
segredo.
Senti que seu corpo se aproximou um pouco do meu como se eu fosse
cair na sua lábia de fofoqueiro.
— Você não devia ir pra casa?
— A conversa aqui está bem interessante. — Eu podia ouvir o sorriso
divertido no tom de sua voz.
Malcon começou a assobiar uma música.
Eu a conhecia, mas não conseguia lembrar-me de onde. A medida que
a melodia foi tomando forma consegui identificar que era You and I dos
Scorpions. Olívia gostava da música. Algumas vezes ela me fazia dançar com
ela no meio da sala interrompendo o que quer que estivéssemos fazendo.
Não importava o quanto a vida estivesse fodida. Não importava o
quão quebrado eu estivesse, sempre tentei oferecer-lhe uma vida o mais
normal possível.
Soltei um suspiro profundo.
Já tinha vários dias que Olívia não me procurava. Eu também não
havia estendido uma bandeira branca. Mas eu estava com saudade de suas
respostas mal-humoradas.
Sorri, pensando no que ela diria se soubesse que eu estava
namorando. Sem dúvidas diria que a garota ela louca, e bem, essa era uma
coisa que eu não podia negar.
Abri os olhos pegando meu celular e abrindo o aplicativo da minha
conta. Graças às últimas lutas, ainda tinha um valor considerável e todas as
contas já haviam sido pagas. Transferi um valor substancial para que ela
tivesse o bastante para se manter nos próximos dias, assim como a grana
necessária para comprar uma passagem para a ação de graças que seria daqui
a alguns dias e eu mal havia me dado conta.
E seria aqui.
Onde comemoramos desde que saí de lá.
Abri sua conversa no aplicativo de mensagem.
— Vai falar com a minha namorada? — Malcon se aproximou do
aparelho ao ver a foto de minha irmã, fazendo-me fechar a cara no mesmo
instante.
— Malcon, eu gosto de você, te acho um cara legal, mas se pensar em
respirar, por um segundo sequer, perto da minha irmã, eu juro que vou
arrancar seu pau. Vou cortá-lo ainda grudado em seu corpo, rodela por rodela
e depois vou fazer você comer.
Trinquei os dentes, encarando-o com seriedade.
A única coisa boa de Olívia ir estudar em Yale era justamente que ela
ficaria longe dos filhos da puta desse campus. Não suportaria ver minha irmã
agarrada com nenhum deles. Em compensação, ela estaria perto dos filhos da
puta de Yale. E eu estarei longe o bastante para não poder protegê-la.
Eu amava a Oly, mas a mamãe podia ter tido outro filho, ao invés de
uma garota.
— Cara, eu tenho pena do futuro namorado da sua irmã. — Malcon
deu um tapa em minhas costas.
— Olívia não vai namorar — Jackson falou, com os olhos ainda
focados na TV. — Ela vai morar comigo. Vai ser virgem, pra sempre.
— Com você — Benjamin retrucou. — Olívia vai morar comigo.
— Claro. Ela vai adorar te ouvir trepando como uma cadela no cio.
Ignorei meus irmãos e Malcon que começaram um papo sobre com
quem Oly moraria e garantindo que ela não perderia a virgindade nunca.
Preferia não ouvir esse tipo de conversa. Já basta ter sido eu a explicar como
o sexo funciona entre duas pessoas.
Enviei o comprovante do depósito para minha irmã e uma mensagem
reafirmando que parte do valor deveria ser utilizado com a compra de sua
passagem. Eu sabia que se eu não fosse, meus irmãos não iriam.
Oly não teria escolha. Ela viria até nós.
— Ela vem? — Malcon perguntou, já ciente de nossa briga.
— Ela não vai conseguir ficar lá sozinha.
Ele abriu a boca para responder, mas parou levantando um pouco o
corpo e pegando o celular que estava no bolso traseiro da calça que vestia. O
aparelho piscava em sua mão e não era de nenhum número já salvo.
Malcon atendeu, a expressão em seu rosto mudou. Parecia tenso.
Depois se levantou indo para a cozinha. Estranhando, o segui.
Balancei a cabeça, curioso. Ele ergueu a mão para mim, pedindo-me
um tempo. Desligou depois de murmurar uma afirmativa.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei me aproximando.
Malcon já abria o aplicativo de mensagens em seu aparelho celular.
— É uma pessoa que eu consegui para nos arrumar aquelas
informações — falou baixo. — Ele disse que descobriu uma coisa.
Assim que a tela do seu celular foi tomada por um arquivo em pdf, eu
o puxei, sem acreditar no que lia enquanto meus olhos passavam pelas linhas
escritas.
— Tem alguma coisa de muito errado nisso — Malcon murmurou,
lendo tão concentrado quanto eu.
Eu assenti, ainda tentando compreender as palavras acima.
— E nós vamos descobrir o que aquele filho da puta fez.

Leighton estava bonita hoje.


Eu caminhava ao seu lado.
Ela tinha saído do expediente e eu, como de costume nos últimos dias,
estava levando-a para seu alojamento.
Os cabelos estavam presos em uma trança lateral, mas alguns cachos
permaneciam soltos balançando contra o vento em seu rosto. Momentos da
noite anterior passavam em minha mente. Ela estava de saia, o que facilitava
muito para a minha imaginação.
Eu queria passar as mãos por suas pernas até chegar em sua boceta.
Não me importava com onde. Só o quando: agora.
Queria sentir seu gosto.
Não menti quando disse ontem a ela que nunca havia sentido um
gosto como o dela. Minha boca salivava só de pensar em Leighton gozando
outra vez. De me imaginar bebendo cada gota do seu gozo.
De imaginar como seria fodendo seu corpo contra uma parede, com
força. Dentro de um carro, com suas pernas em meus ombros. Em meter
meus dedos por baixo de sua saia no meio da aula e observar suas expressões
enquanto fingia que prestava atenção em qualquer merda que o professor
falasse.
Eu queria experimentar coisas novas com Leighton. Queria que ela
experimentasse coisas novas comigo. Queria ensiná-la tudo que eu sabia.
Queria, mais do que tudo, estar dentro dela.
Vê-la como gemendo murmurando palavras incompreensíveis. Saber
que eu havia gozado dentro dela. Que eu fui o primeiro.
Leighton, decididamente era a porra de um vício.
E eu, como bom viciado, só pensava em dar ao meu corpo o que ele
mais queria. A sua droga preferida: Ela.
— Você está calado — Leighton falou, depois de algum tempo
caminhando ao meu lado.
Soltei um suspiro forte.
Sim. Eu estava calado.
Havia muita coisa em minha mente. Todas as maneiras em que eu
poderia comê-la. Essa era sem dúvida a parte que mais ocupava meus
pensamentos. Mas havia outra questão: o novato.
Segundo as informações que Malcon havia conseguido, James seria
expulso de Harvard, mas, pelo visto, voltaram atrás. No mesmo dia da sua
misteriosa transferência, uma aluna de sua turma recebeu uma quantia
obscena de dinheiro e decidiu que precisava de um tempo em uma clinica de
repouso, pois estava com estafa por conta dos estudos.
Alguma coisa dentro de mim tinha certeza de que independente do
que tenha acontecido, pode ter se passado com Leighton também. E eu
descobriria.
— Só cansado — falei, passando a mão pelo rosto.
— Tem certeza? — pressionou.
Não conseguia olhar para ela. Não me sentindo como um filho da puta
sujo.
Assenti.
— Você lutou ontem? — quis saber.
A forma casual como ela perguntava sobre o que eu fazia era uma das
coisas que eu mais gostava em Leighton. A maioria das pessoas ficaria
lembrando-me o tempo inteiro o quanto aquilo era perigoso. Ou teria receio
de tocar no assunto comigo.
Não ela.
Leighton fazia com que isso parecesse algo normal.
— Não. — Balancei a cabeça negando também. — Depois que
deixamos vocês em casa, eu fui dormir.
Menti.
Fiquei muito tempo no banheiro me sentindo a porra de um
adolescente me masturbando enquanto pensava nos lábios dela em volta do
meu pau.
— Você também não pareceu muito normal ontem depois do que
aconteceu no banheiro. — Leighton parecia reticente ao tocar no assunto. O
que só fez com que a sensação de que eu havia sido um filho da puta
aumentasse.
Dei de ombros.
— Não tinha muito o que falar.
Leighton soltou o ar pelo nariz.
— Você podia ter sido mais educado. Não levamos mais de cinco
minutos na mesa e você começou a agir como se o mundo estivesse acabando
e precisássemos correr — reclamou.
— Quando nos conhecemos, Leighton, você não pareceu se importar
com a minha falta de educação — respondi, irritado.
Ela ficou em silêncio outra vez enquanto eu sentia uma coisa
estranha. Como se meu coração afundasse no peito. A ideia de que havia feito
algo terrível com ela me corroía por dentro.
— Andrew — chamou, parando e soltando o ar com força. Parei de
andar também, mas não me virei em sua direção. Alguns passos nos
distanciavam. — Se você está assim por causa de ontem...
— Como você queria que eu estivesse, Leighton? — o tom baixo e
controlado me surpreendeu. Dei alguns passos firmes em sua direção e não
parei até que estivéssemos frente a frente. — O que eu fiz ontem com você
foi...
— Menos do que eu pedi, com certeza — soou como uma
reclamação. Leighton mantinha o olhar firme fixo ao meu.
Balancei a cabeça em negativa.
— Você não entende, não é? — passei a mão pelos cabelos, chateado.
Irritado. Nervoso. Comigo, com ela. Com o mundo. — Você não estava bem.
Com certeza tinha alguma coisa acontecendo e eu me aproveitei de você.
— Você não se aproveitou de mim, pelo amor de Deus, Andrew —
falou, decidida, segurando meus braços. — Eu sei muito bem quando alguém
se aproveita de uma pessoa. Você não fez isso. Você não faria isso —
afirmou, como se me conhecesse a vida toda.
Ela não sabia do que eu era capaz. Não imaginava tudo que eu já tinha
feito ou como eu já havia ferido alguém como ela.
— Não tem como você saber disso.
— Eu estava lá. Eu pedi. Praticamente implorei, aliás. Eu queria. —
Sua mão subiu um pouco até chegar aos meus ombros. — Eu ainda quero
você, Andrew.
Encarei-a com desconfiança.
A sensação de ardência em meu peito não me abandonava, mas
pareceu ceder um pouco. Apertei os olhos em sua direção.
— Sem dúvida você ainda está sob o efeito do que tomou ontem. —
Ela rolou os olhos. Leighton ficou na ponta dos pés roçando o nariz ao meu.
Involuntariamente, minhas mãos foram até sua cintura apertando-as.
— Você não fez nada de errado comigo. — Ela deu um sorriso
encorajador. — Eu juro.
Soltei um suspiro forte.
— Leighton — comecei.
Ela pousou o indicador em meus lábios.
— Eu gostei. De tudo. De tudo que você fez comigo — Leighton
sussurrou. — Você disse ontem que não tiraria minha virgindade — falou. Eu
assenti preso aos seus olhos. — Eu respeito isso. Não concordo, mas respeito.
Mas você também disse que podia me fazer sentir daquela forma outra vez.
Que podia me fazer gozar sem tirar minha virgindade, não é?
Semicerrei os olhos em sua direção. Leighton ergueu um pouco o
canto esquerdo da boca em um sorriso torto.
— Eu pensei muito durante a noite — continuou. — E tive uma ideia.
Nós podemos continuar fazendo... coisas. — Franziu um pouco o rosto como
se não soubesse o que exatamente nós podíamos fazer. — E se eu não
conseguir te convencer a transar comigo, não vou te pressionar.
Apertei os dentes, tentando não pensar em meu pau entrando nela.
Tentando não pensar em como seria bom estar dentro dela e fazer todas as
coisas obscenas que queria.
— Que tipo de coisas? — perguntei, tentado com a ideia.
Meu pau animado com a possibilidade de poder vê-la nua outra vez.
Minhas mãos poderiam percorrer de verdade seu corpo. Eu poderia dar prazer
a Leighton de forma decente.
— De acordo com as suas regras, tudo. — Abri a boca para refutar. —
Tudo que me mantenha virgem, porque o bad boy resolveu que teria uma
crise de consciência.
Balancei a cabeça em negativa, aproximando nossos rostos e
mordendo seu lábio inferior instigado com aquela proposta. Com a Leighton
que pareceu ascender depois da noite de ontem.
— O bad boy resolveu manter os princípios, apesar de você —
sussurrei.
Leighton enfiou a mão em meus cabelos, puxando os fios da nuca. Ela
gostava de fazer aquilo, e eu gostava que ela fizesse. As unhas brincavam
com minha pele de uma forma sexy e provocadora.
— Eu quero isso, Andrew. De forma consciente. Eu quero você —
afirmou, como se percebesse que eu precisava saber daquilo. Assenti,
erguendo um pouco o canto do lábio em um sorriso. — Então podemos
começar agora? — Leighton ergueu uma sobrancelha para mim, fazendo-me
dar uma gargalhada. — O quê?
— Eu sei que sou um deus na cama, mas não esperava tanta pressa.
Leighton deu de ombros fazendo uma trilha com os dedos por meus
fios.
— Não sei. Nunca provei você em uma cama. — Ela ficou ainda mais
na ponta dos dedos, brincando com a ponta do nariz no meu. — E eu tenho
dezenove anos de sensações novas para descobrir.
A imagem de Leighton em uma cama de pernas abertas para mim foi
demais para minha mente.
— Tá, você venceu pequena depravada — falei, aproximando nossos
lábios e os afastando quando Leighton abriu os dela para me receber. —
Vamos arrumar uma cama, agora.
Ela sorriu, feliz, encostando os lábios nos meus rapidamente.
Meu coração bateu forte.
Aquela garota que parecia tão inocente ia foder comigo, e eu tinha
certeza de que no final, eu gostaria.
Capítulo 32

Eu sabia o que queria, mas não sabia como fazer para ter o que queria.
Uma pena só ter me dado conta disso depois de ter chegado ao quarto
do Andrew. Depois que ele fechou o trinco da porta. Depois que ele me olhou
com os olhos em brasas como se não pudesse ver a hora de me despir.
— Quer desistir? — perguntou com uma expressão divertida.
— NÃO! — pus a mão na boca envergonhada.
Sério? Eu tinha mesmo gritado?
Ele riu.
— Desculpa — falei, soltando o ar. — Acho que estou nervosa. Não
sei o que fazer.
Fiz uma careta, encarando o chão.
O quarto ficou silencioso, me deixando ainda mais nervosa. Eu sentia
o olhar pesado de Andrew em mim e eu tinha certeza de que ele ia desistir.
Eu era uma idiota.
Minha respiração ficou mais pesada quando ele me alcançou. Pensei
que Andrew me beijaria daquela forma única que ele fazia, mas não. Andrew
brincou com o cacho solto próximo à minha orelha enrolando-o no indicador,
e usando a ponta do dedo para resvalar delicadamente contra minha pele,
fazendo com que eu soltasse o ar pela boca e me arrepiasse.
— Você gosta disso? — perguntou, usando a mão livre para segurar
com delicadeza, meu rosto.
— Gosto. — Minha voz saiu baixa e eu engoli absolutamente nada.
Minha garganta estava completamente seca.
Andrew deu a volta por meu corpo parado atrás de mim. Não
conseguia ver o que ele estava fazendo, mas sentia sua respiração pesada
contra o topo de minha cabeça. Meu corpo estava tenso, e ele continuou
imóvel, como se quisesse que eu me acostumasse à sua presença.
Senti quando seu braço começou a se mover lentamente. Abri um
pouco os lábios deixando a respiração sair pesada em expectativa. Andrew
passou os dedos por meu pescoço, a trança lateral havia deixado uma parte
completamente à mostra.
À sua mercê.
Os lábios dele encontraram um ponto sensível deixando um beijo.
Seus dentes roçaram em minha pele me fazendo estremecer. Arfei com o
contato.
— E disso? — perguntou outra vez.
— Também. Eu gosto também. — A respiração saiu pesada outra vez.
Ele riu. Os lábios ainda colados em minha pele.
— Você pode fazer o que você quiser — sussurrou. A respiração
quente pinicando em mim. Fechei os olhos, absorta nas sensações que ele me
causava sem nem triscar direito em meu corpo. — Qualquer coisa que queira.
— colou os lábios em meu ouvido. — Estou aqui para te dar prazer, Afrodite.
Apertei minhas pernas sentindo minha carne tremer por dentro.
Andrew passou o nariz por toda a linha do meu ombro sentindo meu
cheiro como se quisesse gravá-lo em sua memória. Suas mãos se firmaram
em meus quadris e subiram aos poucos até que estivessem grudadas
firmemente em minha cintura. Ele apertou as mãos ao mesmo tempo em que
beijou minha nuca. Meu corpo tremeu.
Havia trocado de roupa no trabalho imaginando que vestir uma saia
facilitaria o acesso dele ao meu corpo, mas quando Andrew me tocava
daquela forma me sentia nua, porque o calor do seu corpo conseguia
transpassar o tecido.
Outro beijo no pescoço, e eu já não estava no comando das minhas
inúteis pernas gelatinosas. Meu corpo parecia perder o controle sobre ele
mesmo quando suas mãos firmes, grossas e gentis na medida certa me
tocavam.
— Olha pra mim, Afrodite — pediu, mordiscando minha orelha,
passando a língua e depois mordiscando outra vez o lóbulo.
Fechei os olhos, sentindo-me como uma manteiga derretendo ao
menor sinal de calor.
— Olha pra mim — pediu outra vez em um sussurro.
Andrew pôs mais força no aperto em minha cintura, não me dando
tempo para fazer o que pedia, ele mesmo virou meu corpo, aos poucos. Abri
os olhos tentando acompanhar o que fazia.
Ele encarava meus olhos.
Eu encarava seus olhos.
Meu peito subia e descia rapidamente, assim como as batidas do meu
coração. Sem dizer uma só palavra, sua mão direita subiu aos poucos por
minha cintura, ele brincou com o contorno do meu sutiã. Pela maneira como
me olhava, tinha certeza de que queria fazer muitas coisas ali, fechei os olhos
sentindo minha respiração começar a falhar, como se o pulmão não
suportasse toda a pressão que respirar estava me causando.
Ao contrário do que eu esperava, suas mãos continuaram a subir até
meus ombros, depois desceram por meus braços até encontrar a minha mão e
segurá-la sob a sua. Sem desviar dos meus olhos por um segundo sequer, ele
levou minha mão até seu peito.
Seu coração também batia forte e eu me senti aliviada por não ser a
única pessoa cujo peito parecia ter sido dominado pela batida mais intensa de
todas.
— Me toque da maneira como desejar, Afrodite.
Assenti, ainda presa e inebriada pela maneira intensa como me
encarava.
Ele olhou para minha mão sobre o tecido fino da camiseta branca que
usava. Todos os músculos do seu peitoral estavam evidentes sob a roupa.
Com cuidado, movi um pouco os dedos, sentindo a sua pele quente, sentindo
a forma como ele encavara meus dedos com expectativa, como se ele
quisesse, tanto quanto eu, descobrir o que eu queria.
Continuei, aos poucos, milímetro por milímetro, descendo a minha
mão. Meus dedos. Parei ao chegar ao seu abdômen usando um pouco mais de
força para sentir as divisões que eu sabia que tinham ali.
Andrew soltou o sibilo, como se gostasse da sensação, fechando os
olhos em seguida, ele apertou um pouco mais a mão que permanecia em
minha cintura trazendo-me para mais perto de seu corpo.
Eu podia sentir a ereção cutucando meu corpo. Engoli em seco
sentindo a carne pulsante dele contra minha barriga. Andrew mantinha os
olhos fechados, eu podia ver o pomo de Adão subindo e descendo. Continuei
movimentando a mão, até chegar à barra da sua camisa. Foi a respiração de
Andrew que ficou pesada dessa vez, como se esperasse ansioso pelo que eu
faria a seguir.
Pus a mão por baixo de sua camiseta, sentindo, dessa vez, a quentura
de sua pele. Andrew arfou, pressionando ainda mais os dedos em minha
cintura como se gostasse da sensação.
Eu nunca tinha sentido aquilo antes.
A sensação que ele queria, ansiava pelo meu toque.
Arfei, sentindo os gominhos em sua barriga diretamente. Sem nenhum
tecido entre sua pele e meu toque. Segui movimentando os dedos pouco a
pouco sentindo o subir e descer do seu corpo.
— Tira a camisa — pedi, ainda mantendo meus dedos passeando por
seu tórax.
Ele não protestou. Com uma habilidade ímpar, segurou a barra da
roupa, puxando-a e atirando a peça em algum lugar. Tudo isso em segundos.
Poucos segundos.
Fiquei na ponta dos pés, tocando a ponta do seu nariz com o meu.
Andrew abriu os lábios como se esperasse um beijo, e eu ri. Meus lábios
tocaram sua bochecha. Seu queixo. A linha do seu maxilar. A base do seu
pescoço.
Andrew moveu o rosto por alguns centímetros, encostando a sua
bochecha à minha, como se precisasse que aquela agonia acabasse. Eu sentia
o mesmo. A mesma agonia. A mesma necessidade que acabasse.
Beijei outra vez seu pescoço.
Sua mão foi parar no meio das minhas costas, subindo aos poucos.
Eu passei os dentes em seu pescoço, arranhando-o.
Andrew gemeu no mesmo momento em que sua mão foi parar em
minha nuca. Ele apertou com firmeza meu pescoço, afastando meu rosto do
seu. Seus olhos brilhavam e as pupilas estavam completamente dilatadas.
Aproximei o rosto para beijá-lo. Estávamos tão perto que podia sentir
sua respiração, nossos lábios tão perto, mas ele afastou. Riu quando
murmurei. Tentei outra vez que nossos lábios se encontrassem. Grunhi
quando ele fugiu outra vez.
— Você disse que eu posso fazer o que quiser, Andrew — falei. Meu
nariz roçou seus lábios. Sua bochecha. — Eu quero te beijar, até que acabe o
nosso ar.
Andrew sorriu antes de segurar meu lábio inferior entre os seus.
— Se é isso que você quer, não precisa pedir duas vezes — sussurrou,
capturando meus lábios em seguida.
O beijo começou lento.
Exploratório.
Como peças de um quebra-cabeça que tentavam se ajustar
perfeitamente. Os braços de Andrew me circundaram com força. Eu podia
sentir os braços musculosos me trazendo para mais perto.
Eu podia sentir, ainda que distante, o gosto de menta em seus lábios.
Andrew reivindicou minha boca pedindo passagem para sua língua e cedi
imediatamente. O beijo se tornou intenso. Firme. Grosseiro.
Porém, incrível.
Andrew sugou meu lábio inferior, passando o polegar por meu rosto
em um carinho delicioso. Apertei meus dedos em seu tórax ouvindo seu
gemido que me fez tremular.
Eu gostava disso.
Da maneira como meu sangue sempre parecia estar em brasas por
causa do Andrew. Sua mão corre até minha nuca, puxando uma faixa de
cabelo. Suspirei e ele aproveitou o momento para tornar um beijo duro, em
algo ainda mais voraz.
A ereção entre nós parecia ficar ainda mais dura, e eu queria muito
segurá-lo entre meus dedos, mas tinha medo de fazer alguma coisa errada e
parecer tão boba como quando eu cheguei.
Nós estávamos ficando sem ar quando ele desceu os lábios para meu
pescoço deixando mordidas deliciosas.
— Andrew — gemi.
— Eu sei — murmurou, deixando um beijo na curva do meu pescoço
com minha orelha.
Sua mão pousou em minha coxa.
— O que você quer agora? — perguntou com a voz repleta de tesão.
Mordi o lábio com força, colocando uma de minhas mãos sobre a sua
que tocava minha coxa. Movimentei-a, subindo aos poucos, até que sua mão
estivesse onde eu realmente a queria.
— Eu quero que você me faça gozar outra vez — falei.
Fechei os olhos ao sentir que ele movimentava os dedos chegando ao
centro da minha roupa.
Nós ainda estávamos de roupa.
— Fala onde você quer a minha mão, Afrodite. — Arfei, quando ele a
apertou. — Fala, Afrodite.
— Na minha boceta. — A voz saiu entrecortada e imediatamente
Andrew pôs a mão sobre minha boceta outra vez dando outro aperto e me
fazendo soltar um gemido forte.
— Boa garota — ele sussurrou em meu ouvido. — Se você continuar
assim, vamos nos divertir muito, Afrodite. — Ele mordiscou meu maxilar. —
Ontem você gozou em minha boca. E eu menti. Eu disse que precisava
dormir, mas sabe o que eu fiz quando cheguei em casa?
Balancei a cabeça em negativa.
— Responde. Eu quero ouvir a sua voz.
— Não — falei, sentindo seus dedos brincarem com meu clitóris
ainda com todo o tecido entre nós. — Não sei.
— Eu fiquei no meu banheiro, debaixo do chuveiro, me masturbando
— sussurrou em meu ouvido. — Fiquei pensando em você. Em comer você.
Em sua bunda empinada pra mim. Em sua boceta escorrendo com o meu
gozo.
— Andrew. — Movimentei o quadril tentando intensificar o contato
da sua mão em mim.
— Hoje eu vou foder você com os meus dedos, Afrodite. E depois,
quando você gozar, eu vou chupar tudo. Vou me embebedar de você,
Afrodite.
Pousei minha cabeça em seu ombro, sentindo a pressão e os
movimentos circulares que seus dedos faziam em meu corpo. Em minha
boceta.
Era tão gostoso.
Tão intenso.
— Você está pronta para isso? — a voz sedutora estava perto demais
do meu ouvido, mas era apenas um murmúrio.
— Estou — falei, apertando os olhos com força quando a pressão que
ele exerceu tornou-se maior.
— Mas dessa vez, Afrodite, quero vê-la sem roupa. Nua. Para mim,
em minha cama. Eu quero admirar cada parte do seu corpo, Afrodite. Quero
memorizar cada sinal que tenha, cada pedacinho de você.
Assenti, começando a soltá-lo e levando minhas mãos até a barra de
minha blusa. Andrew as segurou e imediatamente eu senti falta da atenção
que ele dava ao centro das minhas pernas.
— Eu faço isso — declarou, pousando as mãos sobre as minhas.
Soltei o ar com força ao sentir o toque dos seus dedos sobre minha pele.
Engoli em seco, afastando um pouco minha cabeça do seu corpo e
erguendo-a para que pudéssemos nos ver. Os olhos verdes estavam ainda
mais intensos.
Seus dedos passavam preguiçosamente por minha silhueta. Junto com
a mão, o tecido ia erguendo-se e revelando minha barriga, meu sutiã, meu
busto. Ergui as mãos para facilitar a remoção da blusa. Andrew não a tirou de
vez. Manteve meus olhos do lado de fora, encarando-me por alguns segundos
como se quisesse prolongar o momento.
Ele sorriu, enfim arrancando a peça e jogando-a em qualquer lugar.
Os olhos cheios de desejos foram parar em meus seios. Como se não pudesse
mais resistir, ele baixou um pouco o rosto, deixando uma mordida em meu
pescoço e apertando meu seio por cima do sutiã mesmo.
— Não vejo a hora de colocá-los em minha boca outra vez e vê-la se
contorcer toda enquanto eu chupo seus peitos, Leighton — murmurou.
Beijando meu colo e descendo ainda mais o corpo até estar de joelhos
à minha frente. Ele prendeu os dedos nas laterais de minha saia deslizando-a
por minhas pernas. Eu o ajudei, até estar apenas com a calcinha e sutiã.
Andrew ainda estava abaixado e a forma como ele olhava para a calcinha que
eu usava seria o bastante para me fazer ter um orgasmo.
Ele olhou para mim por um segundo, antes de beijar a parte interna da
coxa. Alguns fios de sua barba começavam a nascer e a forma como ele
passou o rosto por minha pele, fez com que eu me arrepiasse. Ainda sobre a
calcinha, ele deu outro beijo diretamente em minha boceta.
Eu ri, pensando que meses atrás eu jamais cogitaria usar essa palavra.
Ele usou dois dedos para afastar o elástico da peça, tocando minha
entrada e gemendo em seguida.
— Caralho, eu adoro a forma como você sempre fica molhadinha pra
mim, Afrodite — falou, pondo o dedo na boca e sentindo meu gosto outra
vez.
A expressão em seu rosto não deixava dúvidas do quanto ele desejava
aquilo. E a forma como precisei friccionar minhas pernas só deixava ainda
mais evidente o quanto eu adorava quando ele dizia que gostava do meu
gosto.
Antes que eu pudesse perceber, Andrew me carregou em seus braços
como se eu pesasse o mesmo que uma pluma. Soltei um gritinho com o
movimento inesperado. No instante seguinte, ele me colocou delicadamente
sobre a cama. Andrew se posicionou em seguida ao meu lado e, como se não
pudesse mais esperar um segundo, puxou minha calcinha.
— Ah, Afrodite — falou, inspirando fundo enquanto abria com
cuidado minhas pernas, deixando-me completamente exposta para ele. —
Tem tantas coisas que eu quero fazer com você.
— E o que você está esperando? — perguntei.
Seus olhos subiram até os meus. Tinha um olhar divertido, como se
não esperasse que eu fosse capaz de falar algo daquele tipo. Até alguns dias
atrás eu não faria, com certeza. Mas Andrew parecia fazer coisas estranhas
comigo.
Ele não respondeu, apenas baixou, pouco a pouco, o corpo. A língua
foi a primeira coisa que senti, arqueando o corpo de forma que minhas costas
não tocassem mais o colchão. Foi impossível conter o gemido que saiu alto
demais da minha garganta, que se intensificou quando ele deu um tapa em
minha bunda.
Nunca pensei que levar um tapa pudesse ser uma coisa tão prazerosa.
— Você gosta disso, não é? — perguntou, dando outro me fazendo
arfar. — Gosta quando eu te bato.
— Sim — falei, urgente, surpreendendo até a mim mesma.
— Isso é bom. — A voz estava carregada de desejo. — Você tem um
gosto bom, Afrodite. E uma bunda boa de bater.
Ele dá outro tapa, depositando um beijo em seguida.
O indicador começou a brincar com a minha entrada. Sentindo que eu
perderia o controle sobre o meu corpo, segurei seu cabelo com força.
Precisava me apoiar em algo, com urgência.
Andrew ergueu o olhar em minha direção. Os olhos brilhavam com
intensidade, excitado. Ele parecia querer me levar à loucura antes de me dar o
que meu corpo tanto queria.
Com um sorriso safado, o dos pensamentos obscenos, ele usou o
indicador para brincar com a minha entrada.
Arqueei o corpo outra vez, puxando seu cabelo com força.
— Andrew — murmurei.
— Olha pra mim — ordenou.
Quando nossos olhares se encontraram, ele começou a enfiar o dedo
em mim. Aos poucos. Observando cada reação.
Joguei a cabeça para trás incapaz de manter nossos olhares fixos. Meu
Deus, eu ia morrer. Era isso. Meu corpo começou a se mover sozinho de
encontro à sua mão.
A sensação de tê-lo. De ter uma parte dele em mim. De ser provocada
por ele. Isso era demais.
— Tá sentindo isso? Está gostando disso? — Ele acrescentou outro
dedo, fazendo com que a sensação que já era boa se ampliasse.
— Sim — murmurei.
— Eu vou te foder com os meus dedos, Leighton. Mas você vai
imaginar que é o meu pau que está em você. Que é o meu pau que essa
boceta gostosa está engolindo com vontade. — Andrew moveu um pouco os
dedos me fazendo sentir uma coisa boa demais. Gemi. — O meu pau que está
aqui, duro, por você, Afrodite. Morrendo de vontade de comer você com
força. Até suas pernas não aguentarem mais te manterem de pé. Até você
esquecer seu próprio nome. Entendeu?
Assenti.
Ele enfiou os dedos com mais força.
Uma e outra vez.
Ele parava às vezes movimentando-os, rodando-os dentro de mim.
Levando-me quase ao limite.
Falando coisas sacanas em meu ouvindo.
Andrew ainda enfiava os dedos com força em minha boceta, mas
ergueu o corpo pousando a boca exigente, contra os meus lábios que se
abriram para ele permitindo que ele tivesse total acesso à minha boca.
A língua me provocava, fazia com que eu o desejasse ainda mais. Ele
sabia disso. Sabia exatamente o que fazer para que eu não quisesse que aquilo
acabasse. Para que eu quisesse prolongar o momento.
Sentia a ereção cutucando-me.
Com certeza era enorme. E se Andrew havia me feito gozar em sua
boca, e estava me fazendo perder o total controle do meu corpo, eu sabia que
se usasse o pau eu literalmente conheceria o céu.
Meu corpo estava suado.
Completamente suado.
Ele enfiava os dedos em mim ora com a força de um furacão que leva
tudo por onde passa com uma força devastadora, como se quisesse me levar
ao limite, ora com calma, como uma brisa suave.
Com a outra mão, Andrew começou a brincar com os meus mamilos.
Passou o indicador de forma provocativa, depois beliscou com uma precisão
incrível. Fechei os olhos com força jogando a cabeça para trás.
— Geme para mim, Afrodite — ele nem precisava pedir. Os gemidos
estavam vindo, completamente fora do controle.
Andrew sabia como me tocar. Era como se eu fosse um violino, e ele
sabia exatamente em quais cordas para que os sons fizessem sentido. Quando
ele me tocava era como se soubesse exatamente o que fazer para que meu
corpo reagisse da melhor maneira possível.
Abri a boca tentando facilitar a respiração.
Meus pulmões precisavam de ar, mas meu nariz não parecia ser capaz
de levar a quantidade necessária de oxigênio para meu corpo.
Minha mão foi parar sobre a dele, como um pedido mudo para que
continuasse. Para que fosse mais forte. Andrew parecia ser completamente
capaz de ler minha mente, porque fez exatamente aquilo que eu queria.
Ele colou nossas testas. Minha respiração se confundia com a dele. Eu
soltei um grito quando ele colocou um terceiro dedo em mim. Um grito de
prazer. Ele riu, capturando minha boca outra vez e massageando meu clitóris
com o polegar.
Eu fui ao céu.
Sentia que dentro de mim, tudo se contraia. O som dos seus dedos
contra meu corpo eram a única coisa que eu podia ouvir além dos meus
gemidos. Apertei com força o lençol, sentindo que estava muito, muito perto.
Andrew beliscou meu clitóris e eu quis chorar. Era muito bom.
— Você está perto, Afrodite — afirmou. Eu balancei a cabeça
fazendo que sim. — Goza em minha mão, vai. Estou doido pra sentir o gosto
da sua boceta outra vez.
Ele estocou os dedos em mim outra vez e eu gozei.
Arqueei meu corpo com a intensidade. Minhas costas saíram da cama
e um som alto saiu da minha garganta.
Ele tirou os dedos de minha boceta, descendo a cabeça aos poucos até
encontrar o espaço entre minhas pernas e fazer exatamente o que havia
prometido. Ele chupou tudo que eu tinha para oferecer, soltando um gemido
de quem havia comido o melhor chocolate do mundo. Abri os olhos
flagrando-o ainda com a cabeça entre minhas pernas e aquela era a coisa mais
sexy que eu já tinha visto. A expressão de prazer era incrivelmente excitante.
Andrew riu, erguendo o corpo outra vez até conseguir encaixar o
rosto na curva do meu pescoço e deixando um beijo ali. Suspirei ao sentir a
ereção evidente, coberta pelo tecido de sua calça em contato direto tocando
em minha pele. Tentando parecer saber exatamente o que estava fazendo,
desci minhas mãos por seu abdômen até encontrar o elástico de sua calça.
— Não — ele falou, segurando minha mão com ímpeto, assustando-
me um pouco.
— Andrew, você precisa...
Ele balançou a cabeça ainda prendendo meu pulso com a sua mão.
— Isso é sobre você, Afrodite. É sobre te dar o que você precisa —
sussurrou em meu ouvido, dando uma mordida no lóbulo de minha orelha.
— Eu posso fazer isso — respondi, tentando mexer a mão outra vez.
Ele negou com um aceno, fazendo com que eu me sentisse mal com a
negativa. Andrew ergueu meus braços acima da minha cabeça, prendendo
meu pulso usando apenas uma das mãos.
— Não disse que não pode, mas estou mais preocupado com o que eu
posso e vou fazer com você, Afrodite. E eu vou te fazer gozar de todas as
formas existentes. — Andrew apertou o corpo contra o meu e eu gemi
sentindo sua ereção me cutucar outra vez.
Ele me beijou de leve.
— Sabe de uma coisa? — Encarou-me com intensidade. —
Decididamente, eu posso me viciar no seu gosto, Afrodite. Em todos eles —
afirmou, erguendo uma sobrancelha na minha direção e deixando outro beijo
rápido em meus lábios.
— Acho que estou à disposição para suprir seu vício.
Ele podia se viciar em meu gosto.
E eu na forma como meu corpo reagia a ele.
Andrew se levantou piscando para mim e, logo em seguida, sumindo
pela porta do banheiro. Eu sabia o que ele faria ali dentro, e saber que ele
precisaria se aliviar por minha causa me deixou um pouco excitada.
Queria aquela experiência também.
Queria aprender a dar prazer ao Andrew da mesma forma que ele
fazia comigo.
Capítulo 33

Soltei um suspiro assim que entrei no banheiro.


Puta que pariu.
Se a Leighton insistisse em tocar no meu pau, eu não conseguiria me
controlar. Eu faria a única coisa que garanti não lhe fazer.
Tê-la ali, pelada em minha cama, depois de sentir seus dedos macios e
curiosos perpassando meu corpo, depois de tê-la feito gozar. De analisar cada
uma das expressões do seu rosto em busca de reconhecimento, tentando
descobrir o que lhe dava mais prazer... Não poder meter fundo naquela garota
estava me deixando louco.
Quase gozei apenas com a menção de que ela queria me tocar.
Sentindo um desespero antes desconhecido por mim, tirei minha
roupa ligando o chuveiro. O pau estava ereto e pulsava tanto que certamente
aquela seria a masturbação mais rápida da história.
Dois segundos depois e eu estaria me liberando.
Entrei debaixo do chuveiro sentindo a água quente começar a relaxar
os músculos tensos dos meus ombros.
Fechei os olhos, pressionando a mão esquerda no azulejo branco
segurando meu pau com firmeza pela base. Soltei um gemido apenas com os
meus próprios dedos me circundando.
Eu estava duro feito pedra.
A imagem dela surgiu em minha mente de imediato. Ela, deitada em
minha cama. Pelada. Chamando meu nome.
Escorreguei minha mão até a ponta, grunhindo em seguida. Os
movimentos de vai e vem se tornaram contínuos e ritmados. Eu podia ouvir a
porra do meu coração socando meu peito em expectativa.
Meu corpo se arrepiou com a sensação.
Minha mente insistia em trazer imagens dela. Da maneira como se
contorcia quando eu apertava seus peitos, ou como esfregava a minha cara
naquela porra de boceta cheirosa e viciante, da forma como me provocava
quando queria, e como era capaz de me deixar duro apenas com a droga de
um sorriso. A maneira como eu conhecia seu corpo, cada detalhe, cada ponto
de excitação.
Soltei o ar com força ao pensar nela.
Ao imaginar aquela bunda arrebitada empinada em minha direção.
Em seus lábios circundando meu pau. Nela engolindo toda a minha porra.
Em Leighton sendo minha.
Minha respiração ficou mais forte. Mais pesada.
Eu estava perto.
Senti quando minhas coxas tensionaram indicando que eu gozaria a
qualquer momento.
Intensifiquei os movimentos, ouvindo os meus próprios gemidos,
desejando ouvir os dela enquanto eu a foderia ali, contra a parede fria. Com
força.
O som que saiu da minha garganta em seguida foi algo que nunca
tinha ouvido. Assim como o jato espesso de porra que saiu de mim.
Encostei a testa contra o azulejo tentando controlar a minha respiração
e não pensar na garota linda e fascinante que me esperava na cama.
A garota que eu não cansava de desejar.
A porra da garota que com certeza seria minha perdição.

— Está dormindo? — Leighton perguntou, passando o indicador por


meu pescoço.
— Se estivesse, você teria me acordado agora — respondi.
Teria sido impossível relaxar e dormir com o corpo quente de
Leighton sobre o meu. Não importava que eu houvesse me aliviado instantes
antes, mas meu corpo acendeu completamente assim que coloquei os olhos
nela outra vez e eu fiquei ainda mais duro quando ela se aproximou de mim,
pousando a cabeça em meu peito e começou a fazer uma caricia gostosa em
meu braço.
— Eu sabia que você estava acordado — defendeu-se.
— Posso saber como?
— Sua respiração. Estava leve demais. Quando seu corpo desliga,
parece que todo o cansaço do dia se concentra em sua maneira de respirar —
explicou.
— Você anda prestando muita atenção em mim, Afrodite — brinquei,
ganhando um beliscão no abdômen.
— Quero te perguntar uma coisa — falou, por fim.
Soltei o ar com força.
— Você está muito curiosa ultimamente, Afrodite.
— Foi você quem disse que nós tínhamos que ser amigos — as unhas
de Leighton arranharam, brincavam com a pele do meu braço fazendo com
que os pelos do meu corpo se ouriçassem.
— Acho que não li direito as linhas pequenas. — Fiz uma careta
mesmo que ela não pudesse ver e acabei ganhando outro beliscão. —
Agressão consta no contrato?
— Para. — Ela riu, dando um tapa de leve em meu braço.
— Tá, pode perguntar. — Passei meu braço por sua cintura, tentando
trazê-la para mais perto de mim.
— Como você começou a lutar? — Leighton ergueu a cabeça que
instantes antes estava acomodada em meu peito, como se quisesse analisar a
minha expressão.
A maior parte das pessoas não pergunta, já deduzem por qual motivo
comecei, não o como. Em geral, as pessoas diziam que eu devia lutar para pôr
toda a minha agressividade para fora. As garotas falavam isso como se fosse
algo sexy. Como se o fato de que eu quebrava pessoas me tornasse ainda
mais desejável, como um prêmio.
Ninguém queria saber a história de ninguém, só o prazer que era
proporcionado. E era por isso que transar com essas garotas era bom. Por
alguns minutos, eu me esquecia de toda aquela merda. De todas as
preocupações.
Leighton era diferente. Ela queria saber a história por trás das minhas
escolhas. Não me perguntou se havia começado por dinheiro ou só porque
gostava de ser uma espécie de Detona Ralp.
Ela queria me ouvir, não me julgar.
Além de Malcon, acho que ninguém me perguntou isso. O como. O
que me levou até aquele lugar, anos atrás.
— Faz muito tempo — falei, mexendo um pouco os ombros como se
isso não importasse.
— Gostaria de saber, se não tiver problema para você. — Ela formou
uma linha com os lábios, como se estivesse nervosa.
Ponderei sobre o assunto.
Se fosse qualquer outra garota, eu teria duas opções: dar um beijo
iniciando uma nova maratona de sexo ou diria que tinha gostado de tudo, mas
que estava na hora de irmos para nossas casas.
Mas não eram essas garotas, era Leighton. A garota que estava
literalmente virando minha vida ao avesso. E a forma como ela me olhava
parecia um desejo genuíno de poder me entender melhor. E, por algum
motivo, eu quis, pela primeira vez, falar sobre aquele momento.
— Não é nenhuma história emocionante — falei, tentando diminuir
suas expectativas.
— Bem, isso cabe a mim julgar. — Leighton saiu de cima do meu
peito, pondo os cotovelos na cama e apoiando o peso do corpo sobre eles.
Os seios estavam um pouco à mostra, fazendo com que minha
imaginação fervilhasse. Ela pareceu perceber, rolando os olhos e puxando o
cobertor, mantendo os seios protegidos de mim.
— Você acabou de se divertir bastante com eles, Andrew — brincou,
balançando a cabeça em negativa, como se não acreditasse que eu já estava
pensando no que poderia fazer com ela outra vez.
— Se você prefere ouvir uma história chata ao invés de gozar outra
vez. — Dei de ombros, como se para mim fosse uma escolha idiota.
Ela não respondeu, ficou em silêncio aguardando que eu começasse a
falar. Por mais que eu tentasse esconder, a verdade era que eu estava nervoso
para caralho em trazer esse assunto à tona.
— Quando minha mãe morreu, ele simplesmente desistiu da vida —
Leighton não perguntou quem era ele, mas pela expressão em seu rosto
compreendeu bem. Soltei um suspiro, como se pudesse ver um filme da
minha própria vida passando por meus olhos. — Não foi de vez, sabe? Eu
conseguia entender que quando alguém vive um amor como um deles, o
momento do luto também é intenso. Assim como a felicidade que eles
tinham.
Apertei os dentes lembrando-me de como fui paciente mesmo em
meio ao caos. Nossos vizinhos nos ajudaram muito no começo. Uma vez
nosso vizinho, um senhor muito amável faleceu. Mamãe levou para a esposa
dele, a senhora Suzan, comida por muitos dias, e eu nunca entendi o motivo
daquilo, mas sempre a acompanhava.
Foi só naquele momento, quando ela havia nos deixado, que eu
consegui compreender que quando você perde alguém que ama, a única coisa
que lhe resta fazer é existir. Você perde a vontade de tudo. De viver. É difícil
lembrar que você tem fome, ou que precisa tomar banho quando seu coração
parece morto por dentro.
Ele batia ainda, mas não levava vida necessária ao resto do corpo.
Eu me sentia assim, mas não podia ceder. Mamãe não ia gostar se eu
me entregasse.
Foi essa mesma senhora que devolveu o gesto. E eu entendi minha
mãe. E a amei ainda mais.
— Ele ainda ia para o trabalho. Mas era como se fosse um zumbi.
Fazia as coisas como se estivesse em piloto automático. Depois, chegava em
casa, se trancava em seu escritório e bebia. — Senti aquela sensação de
coração apertado, exatamente como me sentia ao chegar à sua porta e vê-la
fechada. Impotente. Novo demais. Assustado demais. Sem saber o que fazer.
— Havia se transformado em uma rotina que antes de ir para a escola, eu o
encontrasse dormindo sobre o próprio vômito.
Eu me lembrava de como, por diversas vezes, antes de ir para a
escola, eu precisava tirar seu rosto de alguma poça de vômito, limpar algum
cômodo da casa. Lembrar-lhe que precisava trabalhar. Seus olhos estavam
quase sempre sem foco, muitas das vezes em que fui acordá-lo, ele me
chamava pelo nome da mamãe, seus olhos acendiam por alguns instantes,
mas quando via que era eu quem estava à sua frente, eles perdiam o foco
outra vez, como se lembrasse da realidade. De que ela não estava mais entre
nós.
Eu sentia que meu mundo estava desabando. De alguma forma, sabia
que Olívia sentia o mesmo. Ela sempre foi a princesinha do papai. Até para
ela a porta do escritório estava sempre fechada.
Olívia tentava inicialmente chamar sua atenção. Chamá-lo para
brincar, ver um filme com ela, carregá-la, como fazia anteriormente. Era
como se ela não estivesse ali. Quando ele a olhava, era como se pudesse ver
através dela. Como se Olívia fosse um maldito fantasma.
Benjamin ficou em estado catatônico. Não reagia a nada. Jackson, que
sempre tinha sido um menino falante, o maior parceiro de travessuras de
Olívia, simplesmente não queria conversar. Vivia trancado no quarto.
Eu tinha que ser forte por eles. Pela minha sanidade. Por nossas vidas.
— Eu não sei quando as coisas saíram de controle de vez, mas um dia
ele não foi trabalhar. Quando perguntei o motivo. — Ri sem humor algum,
lembrando-me do momento. — Ele disse que eu era um filho da puta mal-
agradecido. Que eu devia ser grato por ele colocar comida na nossa mesa por
tanto tempo e não ficar incomodando-o com perguntas idiotas. Como um
sanguessuga sempre querendo arrancar seu dinheiro. — Balancei a cabeça
em negativa. — A forma como falou. A raiva em seus olhos. A garrafa de
uísque em suas últimas gotas. Eu soube ali que se as coisas já estavam ruins,
iam piorar, e muito. Eu tinha doze anos, e nenhuma ideia do que fazer.
Parei, engolindo em seco.
Lembrando-me da sensação de desespero misturada com medo. Era
como se eu conseguisse reviver aquele turbilhão em meu peito. Como se
estivesse acontecendo agora.
Senti quando um calor estranho irradiou minha pele. Leighton pôs a
sua mão sobre a minha fazendo um carinho confortável e todo meu corpo
pareceu relaxar naquele instante.
Ela deu um pequeno sorriso para mim, como se quisesse me
incentivar a continuar. Soltei um suspiro longo enquanto organizava os
pensamentos.
— Um dia em casa se tornaram dois, depois uma semana, um mês e
eu percebi que além de beber, ele não pretendia mudar isso. A dona Suzan,
nossa vizinha, tentava conversar com ele. Lembrar que haviam quatro
crianças em casa que precisavam que ele reagisse. Mas ele não estava nem aí.
Para nada. — Olhei para Leighton que estava concentrada na história, me
ouvindo com atenção. Os dedos ainda brincavam, com os meus como se
quisesse que eu soubesse que ainda estava ali, comigo. — Mas ela nos ajudou
o tanto quanto pode. Foi com a ajuda dela que Benjamin voltou a ter uma
vida quase normal. Que Jackson voltou a se sentar à mesa para comer
conosco. Que ele voltou a ser o melhor amigo de Olívia e ela pôde voltar a
sorrir. Que meus irmãos voltaram aos esportes que tanto amavam. Mas ele só
nos ignorava. Como se não existíssemos. Parei de esperar por alguma atitude
dele e percebi que eu teria que fazer alguma coisa.
— Procurei por nossos vizinhos, por outros bairros também, algumas
pessoas que nos permitissem fazer atividades em troca de qualquer coisa —
continuei. — Então, eu cortava gramados, depois comecei a entregar jornais e
no ano seguinte o dono de um mercadinho a alguns bairros de distância me
deixou ajudá-lo. Eu dizia a todos que ele havia conseguido um trabalho novo
e que trabalhava de casa mesmo, mas a verdade era que ele ainda não tinha
melhorado em nada. Seguia bebendo todos os dias. Quando estava sóbrio, o
que quase nunca acontecia, queria silêncio, casa limpa, comida feita.
Apertei os dentes me sentindo dominar pela raiva. A raiva que eu
nunca deixei de sentir por ele.
— Àquela altura três anos haviam se passado e eu já tinha feito
quinze. Os filhos de dona Suzan a levaram para um asilo e eu também perdi o
apoio dela. Eu tinha medo que as pessoas soubessem que ele continuava um
inútil. Que levassem meus irmãos. Que nos separassem. Por isso continuei a
trabalhar dia após dia, por eles. Um dia, quando eu cheguei em casa, Oly
estava me esperando animada com as compras que eu devia ter feito, já que o
filho da puta havia pegado o resto do dinheiro que eu tinha guardado para
beber. Foi um dia fodido. Devia ter recebido meu pagamento, mas a esposa
do meu chefe, o do mercadinho, sofreu um acidente e ele saiu correndo me
pedindo para fechar. Não podia pegar um dinheiro que não era meu. Eu
nunca tinha roubado nada na vida. — Soltei um suspiro forte me lembrando
da sensação de impotência. De raiva. De ver tantas pessoas felizes enquanto
nós estávamos nos fodendo. — Então, quando Oly me viu chegar naquele dia
sem nada para comer, foi chorar escondida, com fome, enquanto ele roubava
nossas coisas.
Os olhos de Leighton seguiam fixos em mim, atenta a cada palavra
que eu dizia, como se realmente se importasse com a minha vida. Ela
mordiscou um pouco o lábio e percebi que tentava reprimir as lágrimas que
se acumulavam nos olhos.
Soltei um suspiro profundo antes de continuar.
— Naquela época, já tinha começado a botar corpo e eu sabia que se
me envolvesse com as pessoas certas e fizesse coisas erradas, eu conseguiria
pelo menos alimentar meus irmãos.
Leighton prendeu a respiração como se não conseguisse conceber a
ideia de que eu havia pensado algo desse tipo. Mas eu pensei. Não devia ser
tão difícil passar alguns pacotes de drogas. Eu sabia também que pessoas que
viviam daquela forma, morriam mais cedo. Se eu fosse esperto, se eu não
usasse, apenas vendesse, eu podia nos tirar daquela vida. Era só nisso que eu
pensava.
— Eu estava decidido a procurar alguém que me desse algum pacote,
que confiasse que eu podia repassar bem os produtos. — Engoli em seco. —
Lembro bem daquela noite. Já era tarde e o choro da Oly não saía da minha
cabeça, então eu saí de casa para procurar as pessoas que não me negariam
ajuda. Estava escuro e eu já estava próximo de um dos bairros mais perigosos
de nossa cidade. Perto o bastante de onde eu sabia que havia uma boca. Ouvi
passos e olhei para trás. Percebi alguns garotos não muito distantes. Eles
estavam me olhando como se eu fosse uma presa fácil.
Leighton arregalou os olhos, ansiosa, preocupada, nervosa. Ela
apertou um pouco a minha mão e eu sorri ao vê-la daquela forma por minha
causa. Era uma coisa boa perceber que havia alguém, uma pessoa que parecia
se preocupar comigo. Com minha vida, meu passado. Ela não estava curiosa.
Estava interessada. Nunca tinha encontrado uma garota que se interessasse
antes.
— Não sei o que aconteceu — continuei —, mas quando me pararam
pedindo para que eu passasse tudo, que naquela época era nada, eu estava
com tanta raiva do mundo. Da minha mãe por ter nos deixado. Dele, por ter
permitido que chegássemos àquele ponto. De Deus que não se importava
conosco. Eu só consigo lembrar-me de minha mão fechada em punho
acertando qualquer lugar que eu pudesse encontrar neles. Eu bati neles com
força. Por mais tempo do que o necessário. Parei apenas quando ouvi o som
de algo se quebrando em um deles. Eram dois. Sozinho, aos quinze, eu
consegui derrubá-los. Eu despejei três anos de raiva contida neles.
Olhei para ela tentando ler sua expressão. Se de alguma forma eu a
havia assustado. Se ela me condenava por aquilo. Mas Leighton continuava
me encarando com seriedade. Continuava acariciando minha mão.
Continuava agindo com complacência.
Ela deu um sorriso de quem garantia que estava tudo bem. Era como
se soubesse que eu precisava de compreensão, não de alguém que me
julgasse.
— Eu não sabia, mas tinha um cara da escola mais à frente. Eu não o
tinha visto. Ele era mais velho que eu, estava prestes a terminar o colegial e
nós nunca havíamos nos falado. Ele me perguntou o que eu estava fazendo
naquela região, sozinho e eu, ainda um pouco atordoado com o que
aconteceu, acabei dizendo que precisava arrumar grana. Ele assentiu. Depois
me chamou para ir com ele a um lugar. Era um espaço, como se fosse o
casarão.
Leighton balançou a cabeça em afirmativa, garantindo que se
lembrava bem do lugar. Eu não duvidava. Era o tipo de lugar que fica em sua
memória para sempre.
— Ele ia lutar e perguntou se eu queria experimentar depois de me
explicar como funcionava. Àquela altura eu toparia qualquer coisa por
dinheiro. Eu aceitei e lutei com dois caras. Ganhei as duas lutas. Quando, no
dia seguinte, Oly desceu e encontrou seus cereais preferidos, chocolate
algumas panquecas que eu havia feito, a maneira que ela me olhou, como se
eu fosse o salvador do mundo. O melhor irmão do mundo... — soltei um
suspiro. — Eu soube que eu faria qualquer coisa por meus irmãos. Para que
ficassem felizes. O dinheiro que ganhei naquela noite nos sustentou por três
semanas. Depois, eu pedi para ele me levar outra vez, e mais uma... quando
dei por mim, eu lutava quase todas as noites. Eu estava sustentando a nossa
casa. E foi assim que o Imbatível começou.
Fiquei em silêncio, esperando que ela dissesse algo. Qualquer coisa.
Ela também não falou nada por um longo tempo.
— Uau. — Uma palavra. Foi isso que saiu de sua boca. — Foi muito
bonito o que você fez por eles.
Leighton completou com um sorriso em seus lábios.
Parecia sincera.
Ela me olhava fixamente. Havia um misto de curiosidade e algo
parecido com orgulho em seu olhar.
— Acho que você é a única pessoa que pensa assim, Leighton.
Ela balançou a cabeça em negativa.
— Você manteve sua família unida. Cuidou sozinho dos seus irmãos.
Olha só pra eles. — Sorriu, admirada. — São caras incríveis, talentosos. E a
Olívia, por mais que eu não a conheça, tenho certeza de que é uma garota
incrível. E vai para Yale realizar os sonhos dela com o seu apoio.
— Eu não fiz nada demais — falei, me sentindo um pouco
incomodado com o rumo da conversa.
— Você fez tudo! Chegou até aqui mesmo com todas as dificuldades.
Isso é admirável, Andrew. O Imbatível pode ser um personagem que você
criou para as lutas, mas é isso que você, Andrew, é. Um imbatível. Porque
nenhuma dificuldade conseguiu parar você. Isso é lindo.
Ninguém nunca havia dito aquelas coisas para mim antes. Ninguém
nunca havia dito que eu era lindo a não ser pela aparência, mas pelas coisas
que eu fiz para garantir a proteção da minha família.
Eu gostei daquilo.
Da maneira como meu coração reagiu.
Acelerado.
Tocado, de alguma forma por suas palavras.
Não sabia como reagir àquilo.
— Obrigada por compartilhar isso comigo — Leighton respondeu,
aproximando o corpo do meu e pousando sua cabeça em meu ombro.
Beijei o topo de sua cabeça, sentindo um milhão de coisas diferentes
acontecendo em meu peito. Sentindo o cheiro de morango em seus cabelos
fazer com que meu coração acelerasse ainda mais. Que meu corpo se
acendesse desejando-a, mas ao mesmo tempo querendo ficar ali deitado com
ela aos meus braços.
— Acho que está na hora de dormir — falei, movimentando um
pouco meu rosto de forma que o queixo roçasse em sua cabeça. Era uma
sensação boa de proximidade. — Amanhã você precisa passar no dormitório
antes de ir para aula.
Ela assentiu. A cabeça balançando meu corpo.
— Boa noite, Andrew — murmurou, brincando com a ponta do
indicador desenhando círculos em meu peito.
— Boa noite, Afrodite.
Falei, fechando os olhos sentindo a maneira perfeita como nossos
corpos se aconchegavam. Como se encaixassem bem demais.
Bem demais para o meu próprio bem.
Capítulo 34

Andrew era bonito.


Não era uma coisa incomum de se pensar. Eu o achei bonito desde a
primeira vez que o vi na sala de aula. A forma austera de agir.
O típico cara revoltado.
A postura sempre tensa.
O rosto, em geral, travado.
Ela era bonito de qualquer forma. Todos os malditos dias.
Ele era o tipo de cara tão bonito que às vezes você sentia vontade de
dar um soco na cara só para saber se ele ainda ficaria bonito machucado. Não
que eu fosse fazer isso por dois motivos:
Eu é que acabaria com a mão quebrada se batesse nele.
Já o tinha visto com alguns machucados por causa das lutas e isso só
o deixava com o aspecto mais sexy.
Não tinha para onde fugir. Ele era irremediavelmente lindo.
Mas agora, dormindo, com as feições relaxadas e a postura sem toda
aquela tensão, ele estava ainda mais lindo. E eu não sabia se era por causa
disso ou por agora conhecer a verdade sobre ele. Parte da verdade, eu diria.
Eu ainda sentia que havia segredos. Coisas que ele não contou.
E eu entendia. Até ontem praticamente éramos estranhos, mal
conseguíamos ficar perto um do outro. Nossa relação estava mudando, e me
falar sobre tudo aquilo mostrava que ele estava confiando em mim. Por mais
que eu também achasse que podia confiar nele, mantinha meus segredos.
Ele merecia saber, mas eu não estava pronta para contar.
Fiquei admirando suas feições enquanto respirava de forma rítmica,
completamente em paz.
Pensar no quanto havia passado para chegar até aqui, a maneira como
cuidava dos outros. Andrew não parecia ser o tipo de pessoa que estava
habituado a ser cuidado, ele cuidava. E isso podia não ser tão bom assim.
Porque pessoas que estão acostumadas a cuidar, esquecem que também
precisam e merecem ser cuidadas.
Mordi os lábios pensando nele. Em todas as vezes em que o Andrew
agiu de forma protetora, ou na maneira como ele dizia que não podia tirar a
minha virgindade, ou em como ele se empenhava em garantir que eu tivesse
prazer. Nunca permitindo que eu fizesse algo para ele.
Talvez, essa relutância tivesse alguma coisa com isso.
— Nunca te disseram que é falta de educação observar alguém que
está dormindo? — murmurou com a voz rouca que me fez ter um calor no
meio das pernas, ao mesmo tempo que meu coração batia forte no peito pelo
susto.
— Nunca te disseram que é errado assustar pessoas que estão
concentradas? — perguntei, pondo a mão no coração e encarando seu rosto
perfeito demais.
Os olhos estavam fechados, mas tinha um sorriso leve no rosto.
— Concentrada demais me achando lindo?
Sorri, soltando um suspiro, e pousando a cabeça em seu peito.
— Você é tão convencido.
— E você gosta de mim, mesmo assim. — Soltou o ar pelo nariz
como em uma risada.
— Nunca disse que gosto de você — retruquei, me movendo um
pouco de forma que, ainda com a cabeça em seu peito, conseguisse ver seu
rosto.
— Mas diz que gosta das coisas que te faço sentir sempre —
provocou, passando as mãos em suas costas.
— Isso eu gosto mesmo — falei, passando as unhas por seu tórax.
— Ou seja, você gosta de mim porque não tem como não gostar de
alguém que te faz gozar. E só eu te faço gozar, só eu sei do que você gosta,
Afrodite. Só eu sei como arqueia o corpo quando chupo seus seios, ou como
esfrega a boceta contra minha cara quando estou te chupando e você está
perto de gozar... — Não respondi. — Ficou calada de repente? Sabe que
estou certo, não é?
Rolei os olhos, mesmo que ele não pudesse ver.
— Posso te fazer uma pergunta? — pedi, depois de algum tempo.
— Vou começar a cobrar pelas respostas. Você está curiosa demais
hoje.
Rolei os olhos.
— Tá bom, eu não pergunto então. — Dei de ombros como se não me
importasse.
Parte de mim ficou até aliviada. Não sabia o que esperar como
resposta ao meu questionamento.
— O que você quer saber, Afrodite?
— Esquece. Você não quer conversar. — Soltei o ar com força de
forma dramática.
— Para de coisa, Leighton. Pergunta logo!
— Já que você insiste... — movi um pouco o rosto em sua direção,
vendo um pequeno sorriso em seus lábios. — Você sempre diz que não transa
com virgens. — Esperei para que ele confirmasse, mas Andrew mudou a
expressão de leve e divertido para todos os meus sinais estão em alerta e eu
posso sair correndo a qualquer instante, como se não gostasse do rumo da
conversa. — Você tem algum motivo especial para isso?
Andrew soltou o ar com força acariciando minhas costas
preguiçosamente.
— Lembra do cara que te contei? O que me ajudou a começar a lutar?
— Assenti. — Ele não precisava de dinheiro. Lutava porque gostava. Às
vezes, nós saíamos de lá completamente fodidos, e tínhamos que ir pra escola
no dia seguinte, especialmente eu. Não podia me dar ao luxo de que as
pessoas descobrissem sobre nós.
— Sim. Faz sentido — falei, curiosa para ouvir o restante da história.
— Ele tinha uma irmã. — Não sei por que, mas senti uma pontada no
peito com aquela frase. Mesmo sabendo que ele tinha transado com dez mil
pessoas, foi impossível não sentir o coração arder um pouco com ciúme. E
era tão errado. — Ela nos ajudava. Era boa com maquiagem, então nos dias
que eu estava mais machucado, ia lá e ela disfarçava os hematomas.
Assenti, incapaz de falar.
— Naquela época, eu já não me importava com nada além de fazer as
pessoas acreditarem que tudo estava bem. Ela meio que era apaixonada por
mim e queria que eu fosse o seu primeiro. — Ele ficou tenso. — Foi... ruim
para nós dois. Ela achou que nós íamos namorar, casar e ter uma casa de
muros brancos. Eu não tinha nada para oferecer a ela, ou a ninguém. Eu era
só um fodido. Até gostava dela na época, mas...
Ele balançou a cabeça em negativa.
— Você disse que não podiam ficar juntos — afirmei, baixo.
— Ela disse que eu era um maldito aproveitador. Que se arrependia
de tudo. Mas isso não é o tipo de coisa que alguém possa recuperar. Eu me
senti mal por ela. Como se tivesse roubado algo importante e já estava
passando por tanta coisa, tinha meus irmãos, uma hipoteca para pagar, eu não
conseguiria ter mais um problema.
— Então determinou que não ficaria com nenhuma outra virgem —
concluí.
— Sim. — Ele soltou o ar com força. — E estava sendo muito fácil
manter minha promessa, até uma garota me parar no meio do campus e me
chantagear a namorá-la. — Balançou a cabeça em negativa. — É o preço que
eu pago por ser gostoso demais.
Ri, dando um tapa em seu peito.
Eu conseguia imaginar como devia ter sido difícil para ele, tendo que
lidar com tantos problemas, ainda acreditar que havia feito uma garota fazer
algo que não queria. Ele estava certo quanto a uma coisa, esse não é o tipo de
coisa que podemos voltar atrás. Por isso eu não havia transado com ninguém.
Queria ter certeza, e eu a tinha sobre ele. Só precisava fazer com que ele
acreditasse nisso.
Fechei os olhos me aconchegando mais em seu corpo.
Ficamos assim por um tempo, confortáveis. Ele passeando a mão por
minhas costas, eu brincando com o seu peito, seus mamilos e descendo a mão
por seu abdômen.
Sua respiração, aos poucos, foi ficando pesada, assim como a minha.
Eu queria fazer aquilo. Mas estava temerosa de fazer errado.
Ele segurou minha mão com força quando cheguei na linha entre sua
calça e o que vinha logo abaixo.
— O que você está fazendo? — sua voz estava carregada de tesão, os
olhos ainda fechados, como se quisesse se conter.
Eu gostava de ouvi-lo daquela forma. Por mim.
— Exatamente o que você disse ontem. — Andrew abriu os olhos,
assustado, depressa.
— Não pedi para que você me...
— Eu sei — interrompi, dando um pequeno sorriso em sua direção.
— Mas você me disse que eu podia fazer o que quisesse. Eu quero fazer isso.
O peito já não descia e subia de forma tranquila, como há instantes
quando estava dormindo. Agora a respiração era tão rápida que eu tinha
certeza de que seu pulmão estava sobrecarregado.
— Andrew, para fazer isso, eu preciso que você solte a minha mão —
pedi, olhando-o diretamente nos olhos.
— Você não precisa, Leighton — reafirmou.
— Eu sei. Você me deu tanto prazer nos últimos dias, que eu quero
fazer o mesmo por você. — Andrew balançou a cabeça em negativa tentando
afastar minha mão. O pomo de Adão se movimentando com certa rapidez. —
Andrew, solta meu braço, porque eu quero muito colocar o seu pau na minha
boca.
Ele soltou um ruído que veio direto da garganta. Um ruído que fez
uma cosquinha lá embaixo. Eu sabia exatamente como estava e o que ele
diria se pudesse enfiar a mão entre minhas pernas. Que eu estava molhadinha
para ele. A verdade é que eu sempre estava assim. Desde que ele me olhava,
ou se aproximava, eu sorria. Ultimamente, ele fazia com que meu corpo
reagisse a ele instantaneamente.
Assenti, como um pedido mudo.
Senti, aos poucos, o aperto se afrouxar.
Eu desci a mão um pouco mais, passando-a pelo cós da calça. Andrew
fechou os olhos apertando-os com força. O maxilar trincou. Minhas mãos
encontraram também o elástico da sua cueca. Andrew pareceu ficar um pouco
mais agitado.
Com cuidado, passei um dedo para dentro da peça, depois mais outro.
Ele soltou um gemido quando minha mão encontrou o pau pulsando dentro
de sua cueca.
Ele engoliu em seco, assim como eu.
Com a outra mão, comecei a descer a calça. Andrew ergueu o quadril
para facilitar o acesso. Em pouco tempo, a roupa já estava em seus pés,
enquanto eu segurava aquela coisa enorme com uma de minhas mãos.
Nunca tinha pegado em um pau antes, e eu gostava da sensação. A
carne estava quente. Era grosso. Eu mal podia circundá-lo com uma das
mãos. Também era bonito e grande. As veias pulsantes eram visíveis. A
cabeça era rosada, e parecia mesmo com um perfeito cogumelo. Ele quase
não tinha pelos pubianos, o que, para mim, só o deixava mais atraente.
Imediatamente minha boca salivou.
Lambi os lábios, encarando-o em minhas mãos e sem saber
exatamente o que fazer.
— Você já fez isso antes? — perguntou, depois de algum tempo.
— Não. — Mordi o lábio, antes de encará-lo.
— É só fazer o que você quiser — explicou, paciente.
Movi a mão para baixo. Andrew soltou um gemido alto.
Parei imediatamente.
— Fiz alguma coisa de errado? — minha voz soou assustada e ele
abriu os olhos. Eles queimavam.
— Não... Você fez algo certo demais.
Eu sorri, me sentindo um pouco mais confiante. Repeti o movimento.
— Puta que pariu — resmungou jogando a cabeça para trás.
Gostava daquilo. Da sensação de saber que eu também podia dar
prazer a ele.
Segurando-o com firmeza, passei minha língua na sua cabeça. Foi a
vez dele arquear o corpo. Andrew rugiu, soltando um palavrão em seguida.
Gostando daquilo, de vê-lo torturado, passei a língua outra vez por toda a
cabeça, em um movimento circular.
Os gemidos se tornaram mais intensos.
Movimentei a mão subindo e descendo, vendo a forma como ele as
fechou em punho com força.
— Andrew — chamei, vendo o esforço que ele fez para abrir os
olhos. Estava sério, o maxilar trincado com força. — No que você está
pensando?
Ele engoliu em seco, me olhando com intensidade. Desejo.
— Me conta. — Parei os movimentos ouvindo um sibilo. Sorri,
satisfeita.
— Na sua boca — falou com a respiração entrecortada. — Estou
pensando na sua boca em meu pau. Em como seria foder essa boca atrevida.
Movimentei a mão outra vez para cima e para baixo, lentamente.
Uma, duas, três vezes.
Em todas elas, ele soltou um gemido delicioso de se ouvir.
Era bom saber a maneira como seu corpo reagia aos meus toques.
Parei outra vez, e ele reclamou novamente.
— Eu fiquei pensando — falei. — Pensando em como você disse
ontem que ia me foder com a sua mão, mas que eu devia pensar que era o seu
pau. — Continuei o movimento de vai e vem. — Depois fiquei pensando em
como seria tê-lo em minha boca.
Andrew me encarava. Era um misto de expectativa e indecisão. Ele
não queria me forçar a fazer nada que não quisesse.
Baixei a cabeça lentamente sentindo seu olhar fixo em cada
movimento meu. Lambi sua cabeça e seus quadris se ergueram, outra vez.
Beijei a extensão até chegar às bolas, passando a língua por toda a carne dura
de baixo para cima.
Ele soltou alguma palavra incompreensível e eu tinha quase certeza de
que foi um palavrão.
— Porra, isso é... decididamente... a melhor coisa do mundo. — Ele
falou com dificuldade.
Era bom saber que ele estava gostando.
Eu tinha certeza de que não conseguiria colocar tudo aquilo na boca,
então chupei a cabeça, passando os dentes com cuidado. Andrew xingou,
parecendo agoniado. Parecendo querer mais.
Movimentei as mãos outra vez, para cima e para baixo. Rápido,
rápido, rápido, lento, lento. Parei. Fiz novamente, repetindo os mesmos
movimentos. E então, coloquei-o na boca até onde conseguia, chupando-o,
como se fosse um pirulito, em seguida.
Brinquei com as bolas, arranhando-as com cuidado e observando suas
reações. Andrew gostava de me agradar, e eu queria fazer o mesmo para ele.
Queria que ele sentisse prazer comigo, não com a mão, como havia feito.
Brinquei, outra vez, com a cabeça, passando a língua, lambendo,
chupando, beijando.
Andrew arfava com o contato.
Coloquei-o em minha boca outra vez. Ele já estava maior e muito
mais duro. Em um movimento involuntário, Andrew ergueu o quadril,
fazendo com que o pau batesse no céu da minha boca, agarrando minha nuca
com força ajudando-me no movimento. Não forçando nada, mas mantendo
meu limite.
— Leighton — falou com a voz rouca e a respiração mais pesada.
Continuei chupando. Colocando e tirando o pau da minha boca.
Estava gostando. Era uma sensação diferente ter aquela coisa quente e
grossa contra meus lábios. Sentir a maneira como ele reagia aos meus toques.
Ainda o chupando, comecei a brincar com as bolas e arranhar a parte
interna de suas coxas. Senti quando ele começou a se retesar, se contrair.
— Leighton, se você não parar agora, eu vou...
Não deixei que ele completasse a frase, dando uma última chupada
antes de tirá-lo da minha boca, pondo a mão em sua base outra vez e
recomeçando os movimentos de vai e vem. Rápido, sempre dessa vez.
Andrew erguia o quadril, como se quisesse foder a minha mão. Eu o
olhava, queria ver a expressão em seu rosto quando enfim gozasse por minha
causa. Não demorou até que o líquido quente caísse por minha mão, sua
barriga e pela cama. Ele gozou soltando um urro gutural, depois deixou o
corpo cair com força na cama tentando controlar a sua respiração.
Sorri, vendo-o de olhos fechados, suado, e com a boca aberta puxando
todo o ar que precisava.
— Porra, sua boca, Afrodite, é o caralho da melhor coisa do mundo.
— Ele abriu os olhos, me encarando. Ergueu um pouco o corpo, mantendo os
cotovelos na cama e me olhando com curiosidade. — Você não gostou? —
perguntou, sério.
Mordi o lábio, tentando conter o sorriso no rosto.
— Na verdade, eu estava pensando em como posso te convencer a me
deixar te chupar outra vez — falei, formando uma linha com os lábios.
— Sabe de uma, Afrodite. Eu acho que criei um monstro, e eu estou
adorando essa ideia.
Andrew sorriu, me puxando para ele ignorando a bagunça que
tínhamos feito. Ele me beijou com vontade e eu retribuí. Àquela altura eu já
tinha entendido que esse namoro podia não ser de verdade, mas eu faria de
tudo para aproveitar cada experiência nova que pudesse ter com ele.
Não porque o Andrew era o Imbatível, mas porque por mais que ele
não conseguisse perceber isso, ele era o cara mais especial que eu havia
conhecido, e eu queria que as minhas primeiras experiências fossem com
alguém exatamente como ele.
Ou melhor, que fossem todas com ele.
Capítulo 35

Rolei os olhos ao ler a mensagem que Oly havia me enviado. Uma


imagem dela mesmo mostrando o dedo do meio de ambas as mãos e um
comprovante de depósito em minha conta do valor residual. O que ela devia
usar para comprar a passagem.
“Se quiser me ver, venha você.”
— O que foi? — Leighton perguntou, me olhando com curiosidade.
Tínhamos acabado de tomar café da manhã reunidos na mesa como há algum
tempo não fazíamos.
Leighton saiu da cama um pouco mais cedo que o necessário disposta
a preparar um café da manhã e mesmo depois de ter lhe oferecido um
orgasmo maravilhoso, não consegui convencê-la a permanecer deitada por
mais tempo.
Mostrei a mensagem recebida para ela, que riu.
— Dessa vez, acho que você não vai ganhar essa batalha — Jackson
opinou depois de espiar a mensagem, pegando algumas das panquecas que
Leighton havia feito.
— Bom, então teremos uma ação de graças incomum. — Meu tom
deixava claro que a decisão não estava aberta a discussão.
Dei de ombros, enchendo meu copo com um café preto. A única coisa
capaz de me fazer acordar hoje depois de uma noite muito aproveitada e
pouco dormida. Tinha valido a pena, enfim. Eu estava gostando de conhecer
a Leighton. De ser um amigo que podia lhe dar o prazer desejado.
Benjamin riu, como se não acreditasse em mim.
— E você, vai para casa no feriado? — perguntei a Leighton, dando-
me conta de que se o assunto não tivesse chegado à mesa, eu não me teria
lembrado de perguntar.
— Não. — Ela pareceu triste. — Meus pais vão trabalhar em todo
feriado. Minha mãe trabalha em hospital e costuma dizer que feriados são os
momentos onde as pessoas mais são propensas a fazer besteiras e colocar a
vida em risco. Vou ficar aqui mesmo, ou talvez ir com a Mad para a casa
dela.
— Você devia ficar aqui com a gente. — Benjamin falou, externando
meus pensamentos. — Quer dizer, vai ser legal ter você aqui e vai ajudar a
distrair o Andrew. Assim Jackson e eu teremos mais chances jogando contra
ele.
Leighton pareceu sem graça com o convite, como se não esperasse
por ele e agora não soubesse o que fazer.
— Você devia ficar com a gente mesmo — falei, piscando para ela.
— E eu vou provar pros meus irmãos que mesmo distraído, sou melhor que
eles.
— Vou pensar sobre isso — ela sorriu, enfiando um enorme pedaço
de panqueca na boca, como se quisesse mudar de assunto. Peguei o celular de
volta, digitando outra mensagem para Olívia.
“Você vai vir. Tenho uma surpresa para você.”
Devolvi, guardando o aparelho celular no bolso.
— Ela vai vir, vai ceder — garanti, ouvindo um gemido de Benjamin
ao dar uma mordida em sua comida.
— Ei, Leighton — chamou-a, parando um segundo para engolir antes
de continuar. — Você devia terminar com meu irmão e casar comigo. Sério!
Se você cozinhasse para mim todos os dias eu te faria a mulher mais feliz do
mundo!
Meu olhar recaiu sobre ele e nesses anos todos vivendo com
Benjamin nunca senti uma vontade de parti-lo ao meio tão intensa.
— Longe de mim causar uma briga entre irmãos. — Leighton sorriu
em sua direção, depois passou a mão sobre a minha até pousá-la em meu
braço. — E eu até que gosto do meu namorado. — Deu de ombros de uma
forma divertida.
— Por favor, casa com ela então — pediu, fazendo um beicinho em
minha direção.
Apertei os dentes com força.
A ideia de Leighton tomando café comigo e acordando ao meu lado
sempre não pareceu tão ruim. Quer dizer, isso era a faculdade, e eu sabia que
nada aqui era para sempre, mas de todas as garotas com quem já estive,
Leighton foi a única que me fez sentir algo parecido com a normalidade de
antes do acidente.
Algo que me fizesse querer não ser o cara fodido que eu sou.
Fechei os olhos com força dando-me conta exatamente disso.
Leighton era uma garota legal e assim que não estivesse mais desesperada
por alguma coisa, nossas vidas voltariam ao normal.
Ao normal pós-acidente. Eu voltaria a ser apenas aquele cara com
quem as garotas se divertem e a Leighton seria a garota com quem os caras
brigariam para estar perto.
Caras que fariam com ela as mesmas coisas que eu faço. Que a
conheceriam tão bem quanto eu, que decorariam cada pedaço de pele que
cobria seu corpo. Filhos da puta que eu odiaria para sempre.
Olhei para Benjamin com a expressão fechada.
A culpa de tudo era desse desgraçado que, ainda cedo, me fazia
pensar em tudo isso. Fazia-me perceber que um dia Leighton estaria com
alguém à sua altura. A porra de um cara decente e que seria apresentado a
família dela.
— Vai pro inferno, Benjamin! — respondi irritado, mostrando o dedo
do meio para ele cansado de pensar sobre isso.
Ele sorriu para mim. Um daqueles sorrisos de quem queria dizer que
sabia o que estava acontecendo ali. Que eu estava mesmo gostando da
Leighton, mesmo que essa fosse a ideia mais absurda de todas.
Afrodite era minha amiga.
Eu me preocupava com ela.
Apenas.
Trinquei meus dentes com força enchendo minha boca de comida.
O celular vibrou sobre a mesa, fazendo um barulho alto.
“Vai se foder você e a sua surpresa.”
“Tão bonita e com uma boca tão suja.”
Respondi minha irmã. Leighton olhou para a minha tela outra vez.
— Ela sempre vem para cá ficar com vocês? — perguntou, fazendo
um carinho em meu braço.
Assenti.
— Todo ano, nos feriados, eu a trago para passar uns dias conosco.
Agora ela empacou e nos quer lá. Algo como uma despedida da cidade —
expliquei.
— E você não quer ir. — Não foi uma pergunta. Ela afirmou.
— Eu não vou. Nós não vamos.
— E ela não vem — Benjamin se intrometeu, mas eu o ignorei.
Sabia que era idiotice, mas ele ter levantado a questão de se envolver
com Leighton me deixou incomodado. Mais do que eu gostaria de admitir.
— Eu vou. — Jackson ergueu a voz encarando o prato à sua frente
praticamente vazio.
Eu o encarei em silêncio, permitindo que as palavras tomassem forma
em minha mente. Ninguém disse ou falou nada por algum tempo.
— Acho que sua irmã vai amar a visita — Leighton falou, tentando
amenizar o clima hostil que começava a se formar.
Jackson assentiu, ainda olhando para o prato.
— Não. Você não vai — falei, firme.
Nenhum de nós voltaria lá.
— Você não manda em minha vida, Andrew. — Jackson mantinha o
tom de voz calmo, como se essa fosse uma conversa banal. E isso estava
longe de ser um assunto corriqueiro em nossas vidas. — Eu já combinei com
a Oly. Eu vou e não há nada do que você possa falar que vá me convencer do
contrário.
Fechei minhas mãos em punho, inspirando fundo.
— Jackson — comecei, parando a frase para me acalmar. — Você
tem que parar de dar ouvidos ás coisas malucas que a Olívia pede. Ela é uma
só. Faz muito mais sentido ela vir até nós.
— A Olívia não vai vir — falou, seguro, dessa vez me encarando. —
Não vou deixá-la sozinha, Andrew. Ela estava ao meu lado em todos os
momentos ruins da minha vida. Ela estava lá quando você e o Ben foram
embora. Se você não está disposto a deixar a raiva daquele filho da puta que
nem lembra que tem filhos, por algumas horas, tudo bem. Mas eu não sou
como você. Não vou abandoná-la, ou puni-la para obrigá-la a fazer o que eu
quero.
Meus irmãos tiraram o dia para foder com a minha vida, só podia ser
isso. Minha respiração ficou alterada, e Leighton com certeza percebeu, ou
então não teria posto a mão em meu joelho dando um leve aperto, como se
quisesse que eu me acalmasse.
— Aquele filho da puta. — Aumentei o tom da minha voz, parando
em seguida. Fechei as mãos com força sentindo uma incontrolável vontade de
bater em algo. — Aquele filho da puta fodeu com as nossas vidas, Jackson.
Então, se você espera que eu me desculpe por não fazer questão de voltar
naquela porra de cidade, para aquela casa onde nós sabemos bem o que
passamos, ou que não esteja ansioso para olhar na cara daquele desgraçado
que nos tirou tudo, saiba que isso não vai acontecer.
— Ninguém está pedindo para que vá. É uma escolha sua. Você tem
todo o direito de fazê-la. Assim como eu fiz a minha — falou, levantando-se.
— Leighton, obrigada pelo café da manhã. — Sorriu, e pedindo licença e saiu
voltando para o quarto.
Fechei os olhos apertando a ponte do nariz e me sentindo
mentalmente exausto. A noite tinha sido maravilhosa, porém, o que tinha de
tudo para ser um excelente dia, estava se tornando um inferno.
— Deixa ele, cara — Benjamin falou, por fim.
— Jackson é adulto — respondi seco, também irracionalmente
chateado com Benjamin e saindo da mesa em seguida.
Eu ainda podia ouvir os dois que sussurravam baixo. Trinquei os
dentes pensando no que poderia acontecer naquela sala. E se ele realmente
estivesse apaixonado? Não... Benjamin não se apaixona.
Benjamin é um Davis. Nós não nos apaixonamos.
Eu estava preocupado com ela, mas tinha certeza de que meu irmão
também seria capaz de perceber que Leighton merecia alguém bem melhor
que qualquer um de nós, que temos as porras dos nossos corações quebrados.
Afrodite merecia alguém inteiro. Alguém capaz de dar-lhe tudo que pessoas
como nós, fodidas, jamais seriamos capazes.
Tentando garantir que meu irmão não fosse fazer nenhuma besteira,
encostei-me na parede do corredor para ouvi-los.
— Como vocês têm tanta certeza de que ela não vem? — Leighton
perguntou baixo.
Benjamin soltou uma risada baixa.
— Você ainda não passou tempo suficiente com os Davis. Se tivesse,
também saberia disso.
— Isso quer dizer que todos você são tão difíceis como o Andrew? —
sua voz ficou mais distante.
— Talvez ele nem seja o pior — Benjamin respondeu.
Leighton soltou um suspiro audível.
— Bem, por sorte, eu sou tão cabeça dura como ele. Tenho certeza de
que vamos conseguir arrumar uma solução.
Eu também estava feliz por aquela garota ter a cabeça mais dura que
eu já havia conhecido em minha vida.
Se Leighton não fosse tão obstinada, não teria me forçado a namorá-
la. Então, nós não estaríamos fazendo uma porção de experiências para
descobrir formas novas de oferecer prazer a ela sem tirar a sua virgindade, e
eu não me sentiria da maneira como estava me sentindo ultimamente.
Estranho.
Mas bem.
Eu gostaria de continuar a me sentir desta maneira.
Seja lá o que isso significasse

— Tem certeza de que você está bem? — Leighton sussurrou para


mim no meio da aula da senhora Hughes.
Assenti, olhando para a frente.
Jackson ia voltar, o que faria com que Olívia ficasse ainda mais brava
comigo. Benjamin estava certo quando disse a Leighton que eu não era o
mais cabeça dura dentre nós quatro. Eu podia ter um gênio forte, mas Olívia,
quando colocava alguma coisa na cabeça, ninguém conseguia fazê-la mudar
de ideia. E ela seguia firme em sua convicção até o fim apenas para mostrar
que conseguia sim. Acredito que o fato de ser a única garota entre três
homens a tornou assim para que ela pudesse ser levada em consideração.
— Algum problema aí em cima, senhorita Westerwood e Davis. Algo
que queiram compartilhar conosco?
— Não, senhora — respondi encarando-a.
Sabia exatamente o que ela queria. A senhora Hughes tinha um
padrão. Sempre que queria transar comigo, dava um jeito de chamar minha
atenção durante a aula. Depois, mais para o fim, pedia que eu fosse até sua
sala.
— Você parece distraído hoje, Davis. — Apertou um pouco os olhos
em minha direção.
— Impressão da senhora. Estou muito concentrado no assunto da
aula.
Mentira.
Minha cabeça estava em vários lugares ao mesmo tempo, porém
Leighton ao meu lado conseguia anotar sistematicamente tudo que
acreditasse ser importante.
A senhora Hughes assentiu, retomando ao conteúdo. Ao meu lado,
podia sentir que Leighton estava tensa. Segurei sua mão sem nem ao menos
perceber e ela pareceu relaxar um pouco.
A aula em si não era das mais atrativas. Também não estava com
disposição para apreciar os atributos da senhora Hughes como costumava
fazer. Joguei um pouco a cabeça para trás até que estivesse apoiada sobre o
encosto.
— Ainda está chateado com o Jackson? — perguntou.
— Não quero falar sobre isso. — Devolvi encarando o nada.
— Você não acha que talvez pudesse ser bom ver sua irmã?
— Leighton, não quero falar sobre isso — respondi, firme.
Ela assentiu, virando o rosto para a professora também.
Esfreguei o rosto com as mãos, me sentindo cansado. Hoje, com
certeza, era um dia daqueles em que sair da cama tinha sido uma péssima
ideia.
Meu celular vibrou indicando uma mensagem.
Peguei, imaginando ser outra resposta abusada da Oly, mas era
Malcon que tentava falar comigo. Havia se atrasado para a aula e teve que
sentar mais atrás, onde havia lugar.
“Recebi novas informações”
Virei o rosto para ele assentindo.
Nós sabíamos que depois da aula nos encontraríamos e ele me diria o
que sabia sobre o James. Não desistiria até conseguir descobrir o que houve
para que a Leighton não gostasse daquele cara.
A aula se arrastou e cada segundo parecia levar dez exaustivos anos
para passar. Quando, enfim, estávamos liberados, levantei-me para encontrar
Malcon, Leighton também se levantou, como se quisesse falar comigo.
— Senhor Davis. — Era a voz da senhora Hughes. Apertei os olhos
com força antes de me virar em sua direção. — Gostaria que você me
acompanhasse. Preciso falar com você por um segundo, por favor.
Olhei para o Malcon que fez uma careta.
— Senhora Hughes, eu preciso resolver uma coisa antes — falei.
— Preciso que o senhor me acompanhe imediatamente. — Foi firme.
Soltei o ar com força olhando para Malcon outra vez que apontou
com a cabeça para o lado de fora como se dissesse que nos encontraríamos
depois. Mas ainda ficou parado um tempo aguardando as garotas.
— Andrew, você vai falar com ela? — A pergunta foi feita em um
tom baixo demais, garantindo que além de mim ninguém mais pudesse ouvir.
— Tenho que ir — respondi, pegando minhas coisas da cadeira.
— Que bom que finalmente seu namorado vai te dar uma trégua. —
Madison estava animada, sem notar a preocupação da amiga. — Quando eu
disse que você precisava de um namorado, não era uma liberação para
esquecer que tem amigas, sabe? Vem — falou, entrelaçando seu braço ao de
Leighton que me encarava com uma expressão de frustração. — Vamos ter
um almoço de garotas.
— Eu já te encontro — garanti.
Leighton assentiu sem dizer nenhuma palavra.
Ela me olhou por um segundo, e eu tive a impressão de ver um brilho
diferente em seus olhos. Decepção e lágrimas misturadas.
Inspirei fundo quando as garotas passaram por mim. Madison
continuava animada, falando sobre ligarem para Chiara e terem um almoço
com muitas fofocas. Olhei para a senhora Hughes que me aguardava
impaciente no meio da sua sala.
Caminhei, descendo as escadas, até o centro onde ela estava. Ela
sorriu para mim, entregando-me alguns materiais para que eu carregasse. Eu
o fiz, seguindo-a até que estivéssemos na sala de sua secretária.
— Senhora Lites — falou ansiosa. — Que tal aproveitar para tirar
esse tempo para o almoço.
— Eu ainda tenho algumas coisas para...
— Não foi uma sugestão, senhora Lites — respondeu, fazendo com
que a senhora me encarasse como se ainda não acreditasse que eu estava ali,
com ela. Minha professora.
— Senhora Lites. — Sorri. — Sempre linda.
Ela rolou os olhos, juntando alguns papéis que estavam sobre a sua
mesa, enquanto a senhora Hughes abria a porta da sua sala para que
pudéssemos entrar.
— Não precisa ter pressa para retornar. — A senhora Hughes sorriu
para a senhora Lites quando ela enfim abandonou a sua mesa.
A senhora soltou um murmúrio baixo e, em seguida, a porta da sala
foi fechada deixando-nos sozinhos ali dentro.
— Quanto tempo. — A senhora Hughes soltou um suspiro, trancando
a porta e virando-se para mim. Ela sorriu. — Os últimos dias foram um
inferno, havia sempre muito trabalho para fazer, mas eu mal via a hora de
poder te chamar aqui outra vez.
Ela deu um passo em minha direção.
Eu permanecia da mesma maneira que estava quando entrei na sala.
Parado, de pé em frente a uma das duas cadeiras que estavam posicionadas
em frente à sua mesa, com a mochila nos ombros.
Uma coisa estranha estava acontecendo comigo.
Eu não queria transar com ela.
A senhora Hughes era uma das professoras mais gostosas dessa
universidade e eu gostava de ser eu o escolhido para fodê-la. Adorava a
intensidade e a forma como ela apreciava tudo. Posições novas, ser
enforcada, amarrada e tantas outras coisas que mexiam com a imaginação de
um homem.
Mas hoje, mesmo vendo-a descer a alça da blusa que vestia revelando
a lingerie preta e absurdamente sexy, que me fariam rasgá-la apenas para me
enfiar nela mais rápido, eu não sentia a menor vontade de fazer isso.
— Senhora Hughes — chamei, enquanto ela caminhava de forma
sensual até mim. Soltei um suspiro quando suas mãos encontraram meus
ombros.
— Você está tão sério hoje. — Ela empurrou a alça da mochila até
que ela caísse sobre a cadeira. — Vamos melhorar esse humor já, já, quando
eu ficar de quatro para você enquanto você me fode bem forte.
Seus lábios se viraram para meu pescoço enquanto eu tentava afastá-
la.
— Senhora Hughes, espera — pedi. — Para — pedi outra vez, dessa
vez a empurrando mais forte.
— O quê? Vai se fazer de difícil agora? — sussurrou em meu ouvido,
passeando a mão até chegar ao cós da calça jeans que eu usava. — Tenho
certeza de que assim que eu chupar você da maneira como gosta, você vai
reagir melhor.
— Desculpa, senhora Hughes. — Usei um tom mais firme, afastando
suas mãos do meu corpo. — Mas eu não posso fazer isso.
Dei um passo para trás pegando minha mochila.
— Você não pode? — ela riu.
— Não. Não posso. Tenho uma namorada agora.
Ela fez uma careta.
— Ouvi boatos sobre isso. Mas, sabe, eu nunca vi você com ninguém.
De qualquer forma, essas garotas sabem que namoros adolescentes não são
sérios. — Deu um passo para frente outra vez, tentando se aproximar.
Eu sabia que ela estava parcialmente correta. Leighton e eu tínhamos
um acordo. Eu podia transar com garotas lá do casarão onde ninguém saberia
que nós estamos apenas fingindo. A senhora Hughes pode não pertencer ao
casarão, mas faz parte da área da minha vida que as pessoas desconheciam e,
tanto quanto eu, não iam querer boatos sobre nós.
Então, não teria problema se eu quisesse aproveitar toda a tensão por
estar me aliviando com a minha própria mão há tanto tempo, mas o problema
era que eu não queria. Não conseguia. Não podia fazer isso com ela.
— Não pra mim. Desculpa, senhora Hughes. Não vou fazer isso com
a Leighton. Ela é minha namorada.
Ela riu balançando a cabeça em negativa.
— Tudo bem — falou, erguendo a alça da roupa e dando um passo
para trás. — Mas eu sei como funcionam esses namoros universitários,
Andrew. Quando vocês terminarem, estarei aqui pronta para retomarmos de
onde paramos.
— Sem ressentimentos, então? — ergui um pouco o rosto em sua
direção.
— Nenhum. Você foi, sem dúvida, o melhor aluno com quem já
transei. Vai dar trabalho arrumar outro à altura, mas sei que vou conseguir.
Depois, quando você estiver disponível outra vez. — Dei de ombros. — É só
bater na minha porta.
Assenti, achando graça da sua praticidade.
— Não tenho planos de mudar o meu status tão cedo, senhora
Hughes.
— Aposto que você também não tinha planos de se apaixonar. — Deu
de ombros.
Senti meu corpo retesar no mesmo instante e o sangue parar por
alguns segundos de correr por minhas veias.
— Não estou apaixonado — garanti.
— Nenhum homem recusa uma mulher praticamente pelada à sua
frente e disposta a chupar seu pau sem estar apaixonado, Andrew. — Ela
sorriu. — Já vivi muito mais que você. Posso te garantir isso. Você pode não
saber, pode estar mentindo para si mesmo, pode não querer assumir. Mas
você sabe que é verdade. Que essa garota é exatamente a pessoa que anda
dominando seus pensamentos.
Engoli em seco, disposto a ignorar suas palavras. Mas parte de mim
admitia que ela estava certa em alguns pontos. Leighton andava mesmo
dominando meus pensamentos. Eu queria protegê-la da mesma forma como
fiz a vida inteira com meus irmãos.
— A boa notícia, é que paixões são passageiras, Andrew. — Ela
sorriu. — O problema, é quando a paixão se torna amor. Se isso acontecer, aí,
sim eu posso dizer que as coisas não serão tão fáceis para você. Mas daqui a
algumas semanas vou te chamar aqui outra vez. Se você ainda não quiser
trepar como antes, posso dizer que as coisas estarão se complicando para
você. — A senhora Hughes apontou com o rosto para a porta. — Feche-a
quando sair, por favor.
Assenti, virando-me e seguindo em direção à saída.
Fechei a porta quando passei por ela exatamente como ela pediu que
fizesse e soltei um suspiro pesado em seguida.
A senhora Hughes estava errada.
Eu não estava apaixonado, afinal os Davis não se apaixonam. Daqui a
algumas semanas a Leighton já terá conseguido o que queria de mim e se
livrado do James. Nós já não estaremos mais juntos e eu vou poder trepar
como se não houvesse amanhã sem precisar me preocupar em magoá-la.
Daqui a algumas semanas, as coisas estariam de volta ao normal.
Apertei os dentes com força sentindo algo estranho ao pensar sobre
isso. Era exatamente assim que devia ser. Porém, alguma coisa dentro de
mim soava um alerta, algo que eu não conseguia entender.
Capítulo 36

— Alô, Terra chamando Leighton — Os dedos de Madison


apareceram no meu campo de visão estalando com força. — Por favor, o
momento das garotas não é pra gente ficar pensando nas coisas que podíamos
estar fazendo com os garotos.
— Desculpa. — Dei um sorriso fraco em sua direção. — É que estou
com tanta coisa na cabeça.
Madison apertou os olhos em minha direção.
— Tanta coisa é seu namorado?
Apertei os dentes com força ao pensar nele. Aquele cretino que agora
estava na sala da senhora Hughes transando com ela. Soltei o ar pelo nariz.
Ele não queria transar comigo, mas claro que ia transar com ela.
— Não — falei, irritada. — O Andrew não tem nada com isso.
Chiara quase soltou uma gargalhada.
— Sim, nós acreditamos. Dá pra ver bem. — Chiara deu um gole no
suco de morango que havia pedido. — Especialmente com a senhorita
passando as noites fora de casa. — Ela ergueu uma sobrancelha para mim.
Rolei os olhos a ignorando.
— Mad disse que esse era um almoço de garotas, sem garotos. Não
vamos falar sobre isso. — Dei de ombros.
— Eu disse que era um almoço de garotas, justamente pra gente falar
sobre isso sem ele aqui. Vai, conta pra gente, como estão as coisas.
Soltei um suspiro.
Eu estava chateada com ele por saber que nesse momento Andrew
estava fazendo coisas que eu gostaria que ele fizesse comigo, com a nossa
professora. Mas também sabia que as meninas estavam curiosas, e para o
meu próprio bem, tinha que manter a mentira sobre esse namoro bem
convincente.
— Indo bem, eu acho. — Dei de ombros. — Nunca tive um namorado
antes para comparar, mas Andrew é atencioso e divertido. Eu gosto de estar
com ele.
E era verdade. Bem, pelo menos quando ele não estava enfiando o
pau em tudo quanto era buraco disponível. Inspirei com força, lembrando que
esse era o acordo. Ele podia transar. E eu não podia ficar chateada com isso.
— Isso é bom, gostar de passar um tempo com o namorado já é um
ponto a favor — Chiara falou, levando uma garfada do almoço à boca. — E
como está sendo a convivência com um bando de cunhados? Meu Deus, a
genética daquela família é simplesmente a coisa mais perfeita que já vi.
Sorri, lembrando-me de nossa interação mais recente.
O café da manhã estava indo muito bem. Os garotos estavam todos
apreciando a comida, até o assunto volta à casa ter sido mencionado. Parte de
mim entendia o Andrew. Ter se tornado responsável pela família quando o
pai devia ter conseguido forças para continuar a cuidar deles certamente foi
horrível. Órfão de mãe, mas também de um pai vivo.
Em contrapartida, segundo ele mesmo falou, Jackson e Olívia eram
uma dupla inseparável. Jackson tinha um bom motivo para, mesmo
contrariando o que queria, ir até a irmã. Ele a amava, e essa era uma das
maiores provas de amor que alguém poderia dar, abrir mão de algo para
deixar o outro bem.
Olívia também tinha todo o direito de querer estar com a família para
se despedir do lugar onde cresceu e para onde, certamente, não ia querer
retornar nunca mais.
— Eles são legais. O Benjamin é mais comunicativo, como vocês
viram. O Jackson fica mais na dele, mas sempre tem algo de bom a dizer.
Eles me tratam bem e é divertido também estar em uma casa cheia de gente e
ver como é uma interação entre irmãos. Sempre quis ter um, mas... —
interrompi a frase, dando de ombros.
— Tá, mas... — Madison chegou o corpo para a frente e antes mesmo
que ela falasse, eu sabia o que sairia de sua boca atrevida —, e o sexo? Foi
bom mesmo?
Mordisquei o lábio sem saber o que responder. Eu seria sincera ou
mentiria? Estava inclinada a mentir, mas me lembrei de quando Mad, Chi e
eu nos tornamos amigas. Ela me disse que tínhamos que ser sinceras umas
com as outras, isso só funcionaria assim, e estava coberta de razão.
— Estamos indo devagar. — Fiz uma careta. — Na verdade, ele sabe
que eu sou virgem e está reticente em... você sabe...
— Te tornar uma pessoa não virgem? — Chiara brincou, rindo.
— Sim.
— E o que você quer? — Mad perguntou, dando um gole na água e
depois me encarando com seriedade. — É fofo que ele tenha esse repentino
surto de sei lá o que, mas se ele é o seu namorado e você tem certeza do que
quer, vocês têm que ter uma conversa séria.
— Eu quero — falei, convicta e sentindo meu rosto esquentar de
vergonha. — Nós fizemos outras coisas, sem que ele tivesse me penetrado,
sabe? E eu fico pensando o tempo inteiro que eu quero que a minha primeira
vez seja com ele.
Madison riu, rolando os olhos.
— Homens, quem pode entendê-los. No Oriente Médio eles acreditam
que irão receber virgens como recompensa a sua fé, e seu namorado não
querendo tirar a sua virgindade.
Fiz uma careta de descontentamento.
— É, eu sei... — soltei um suspiro me sentindo uma idiota por estar
aqui falando sobre transar com um cara que agora está transando com outra.
Trinquei os dentes com força, sentindo um misto de raiva e decepção crescer
outra vez dentro de mim. — Tá, mas se eu estou passando tempo demais com
o Andrew, significa que vocês têm passando tempo demais fazendo outras
coisas. — Aproveitei para da uma garfada na carne em meu prato.
— A Chiara tem estado assassinando a moda com esses blusões
folgados demais o tempo inteiro e estudando como se não houvesse vida
além disso, claro. — Gesticulou com a mão como se dissesse que era
bobagem.
— E você se preocupando demais com a moda e estudando menos do
que devia. — Chiara ergueu uma sobrancelha para Mad que lhe deu língua
como uma garotinha de cinco anos faria.
— Tudo normal, então. — Ri para as garotas. — Não vai comer? —
perguntei a Madison que bebericava água.
— Estou sem fome. — Fez uma careta. — Vou ficar só na água.
— Madison — Chiara chamou atenção, séria.
— Beber água é bom, me mantém hidratada — justificou.
— Ela está fazendo umas coisas malucas pra perder peso. — Chiara
acusou.
— Eu estou com uma barriga enorme.
— Madison, você decididamente está ficando maluca — respondi,
vendo-a soltando o ar. — Você nem tem barriga.
— Ganhei alguns quilos desde que comecei a andar com vocês que só
pensam em comer, minha mãe vai ficar no meu pé quando me vir. — Rolou
os olhos já imaginando.
— Você não tem que seguir os padrões da sua mãe — falei.
— E mesmo que ela. — Chiara apontou para Mad —, quisesse perder
alguma coisa, é necessário fazer isso com acompanhamento médico, não
testando informações encontradas na internet.
— Vocês só estão falando isso porque são minhas amigas e não
conhecem a minha mãe. E também nem adianta vir com esse papo que o que
importa é o que está por dentro, minha mãe só liga para o que ela pode ver.
Um rosto perfeito, modos educados e nenhuma gordurinha em minha barriga,
afinal “aparência é tudo”.
— Mad...
— Não quero falar sobre isso. Será que podemos mudar de assunto?
Não gostaria de falar da minha mãe mais que o necessário. Ou seja, nada. —
Sorriu friamente dando um enorme gole na água.
Eu preferia falar sobre sua alimentação, porque isso me fazia não
pensar sobre o Andrew e o que ele estaria fazendo agora. Já havia se passado
uma hora desde que nos separamos na sala. Sem dúvida ele estava
aproveitando muito a professora.
Apertei os dentes com força.
Como se tivesse ouvido meus pensamentos, a sineta da porta soou e
tanto Andrew quanto Malcon passaram por ela. Ele sorriu para mim que não
retribuí o gesto desviando o olhar. Eles vieram para a nossa mesa.
— Podemos sentar? — Andrew perguntou. Percebi que, para ele, a
pergunta era retórica quando já se aproximou tentando encontrar espaço ao
meu lado.
— Não.
— Sim.
Madison e eu respondemos no mesmo momento. Olhei para minha
amiga que me encarou confusa com a negativa.
— Você disse que era um almoço de meninas — expliquei, óbvia,
sem olhar para Andrew ao meu lado.
Esse traidor que estava transando com a professora enquanto fingia
que me namorava. Eu o odiava.
— Deveria ser. Mas eu prefiro almoçar com eles a manter o assunto
anterior. — Madison abriu espaço para Malcon sentar-se ao seu lado e
Andrew seguiu o exemplo do amigo, sentando-se ao meu lado.
— E cadê seu prato? — Malcon perguntou à minha amiga sentando-
se ao lado dela.
Mad deu de ombros.
— Já acabei — falou.
— Mentira. Está trocando o almoço por água. — Chiara entregou
Mad que apertou os olhos para ela, bufando em seguida. — Desculpa, amiga,
mas não posso ver você se matar e não falar nada.
— Madison. — Malcon tinha um tom sério, de quem estava alertando
outra pessoa.
— A Chi está exagerando. Você sabe como a mamãe é. Vamos ter um
baile beneficente daqui a algumas semanas e eu tenho que estar perfeita para
que ela possa me exibir. — O olhar estava fixo em Malcon, como se ele
soubesse bem do que estava falando.
— Ah, os jantares beneficentes — Malcon reclamou, balançando a
cabeça em negativa.
— É, afinal para quê fazer o bem para quem precisa. — Chiara
repreendeu-os, chateada.
— Seria ótimo, se fossem realmente beneficentes. Mas esses jantares
só servem para mostrar como ricos babacas como nossos pais são
benevolentes, ricos e absurdamente frívolos. — Malcon ergueu o olhar para o
cardápio. — Uma noite perfeita para contarem vantagens uns sobre os outros.
Quem tem a maior limusine, casa de praia, quantidade de empregados e iate.
— Tão bom fazer bem a quem precisa. — Mad riu para Chiara, como
se ela fosse uma idiota por ter levantado essa questão.
— Clima tenso, hein? — Andrew comentou baixinho para mim.
Assenti, dando mais um gole no meu suco.
— Você está chateada comigo? — Andrew perguntou sentado ao meu
lado.
— Não.
— Sua mãe é uma idiota, mas não vou deixar você se matar outra vez
por causa dela. — Malcon falou com Mad, chamando Ania e realizando o
pedido para os dois.
Mad fez uma careta como se o repreendesse pela fala. Eu sabia que
aquele não era um momento para perguntas, mas queria saber o que havia
acontecido para que ele usasse o outra vez.
Andrew pôs a mão em meu joelho por baixo da cadeira, mas não
permiti, mexendo a perna até que sua mão deixasse de me tocar.
— Afrodite, eu conseguia sentir o ódio emanando dos seus poros lá
do lado de fora.
— Então não devia ter entrado — falei, pegando meu copo de
limonada e me concentrando em dar outro longo gole para manter a minha
boca ocupada.
— Afrodite...
— Não me chama assim — pedi, irritada.
— Qual o problema com você? Qual a porra do problema de todos
vocês que resolveram tirar apenas um dia para me foder? — o tom era baixo,
apenas para que eu ouvisse, mas irritado o bastante para fazer com que todos
os pelos do meu corpo se arrepiassem.
— De foder você entende bem, não é? — retruquei, de igual modo,
irritada. — Afinal era isso que estava fazendo agora com a senhora Hughes.
Andrew ficou em silêncio por algum tempo, parecendo chocado
demais.
— Eu não...
— Não vem negar, Andrew. Eu vi vocês uma vez. Tenho certeza que
vocês estavam muito ocupados esse tempo inteiro.
Andrew balançou a cabeça em negativa levantando-se.
— Vem comigo — ordenou, levantando a mão.
— Não — respondi, ciente de que nossos amigos estavam nos
encarando como se fôssemos malucos.
— Leighton, eu não estou muito paciente hoje. Como você pode ver,
meu dia está uma merda. Se eu fosse você, não iria testar os limites da minha
paciência. Você pode vir por bem, ou eu posso te erguer dessa mesa e sair
com você jogada sobre meu ombro. A escolha é toda sua. — Ele estava
falando sério. E por mais que estivesse com raiva, não queria fazer uma cena
ou que nossos amigos ficassem vendo nossa discussão e percebessem que nós
éramos uma farsa.
Fiquei de pé, o seguindo. A mão dele segurava meu pulso com força,
como se eu fosse uma criança que precisasse ser direcionada a algum lugar.
Ele parou na frente da porta do banheiro feminino, bateu duas vezes não
obtendo resposta.
— O que você está fazendo? — perguntei, quando ele a abriu e me
empurrou para dentro trancando-a em seguida.
— Vamos conversar — falou, cruzando os braços em frente ao corpo.
— Não temos nada para conversar. — Ergui o rosto para encará-lo.
— Eu não transei com a senhora Hughes — falou, convicto.
— Claro. E eu sou a Beyoncé! — Rolei os olhos, deixando clara a
ironia.
Andrew pôs as mãos espalmadas na parede fria contra a qual meu
corpo estava encostado, uma de cada lado do meu rosto. Os braços esticados
ajudavam a manter seu corpo distante do meu que, traiçoeiro, começava a
esquentar pensando em como seria beijá-lo agora assim com raiva e depois
cair em sua cama.
— Eu. Não. Transei. Com. Ela — falou entre dentes.
— E eu não acredito em você — afirmei, cruzando os braços sobre
peito. — Por que você não transaria com ela?
— Eu tenho palavra, Leighton — falou, irritado. — Pra você eu posso
ser a porra de um cara que vai te manter afastada de outro, mas eu cumpro a
porra das minhas promessas. Eu disse que não transaria com nenhuma garota
fora do casarão. Não disse?
Apertei os dentes com força.
Sim, ele havia dito isso.
Assenti.
A respiração dele estava rápida e pesada. Aflito, cansado, com raiva.
— Use palavras, Leighton. Você soube usá-las para me acusar. Não
disse? — repetiu a pergunta, querendo que da mesma forma que eu o acusei,
mostrasse que ele é, sim, uma pessoa que cumpre o que diz.
— Sim, você disse.
— E eu não tenho transado com porra de garota nenhuma. Nem aqui
na universidade, nem no casarão, Leighton. — Os olhos estavam fixos no
meu. — A única mulher que eu toquei desde o maldito dia em que você
apareceu na minha frente dizendo que eu tinha que te namorar, foi você,
Leighton. Então, não. Eu não transei com ela, nem com mais mulher alguma.
Abri a boca surpresa com a revelação.
— Você não...
— Não, caralho. Não. A única mulher com quem eu quero transar, é
você, Leighton.
Levei alguns segundos para processar a informação.
Minha respiração ficou mais pesada. Encostei minha testa na sua
roçando nossos narizes em seguida. Coloquei meus lábios sobre os seus,
afastando-os quando Andrew tentou me beijar. Mordi seu lábio inferior,
ouvindo seu gemido.
Uma de suas mãos apertou meu quadril com força me fazendo arfar.
A outra mão subiu até meu pescoço apertando minha nuca.
— Você nunca será capaz de imaginar o quanto que eu desejo comer
você, Leighton. O quanto eu quero ver você gozar em meu pau. — Resvalou
os lábios nos meus, movimentando minha nuca. — O quanto eu quero encher
você com a minha porra.
Andrew mordeu meu lóbulo. Beijou meu pescoço. Apertou com mais
força a minha cintura. Subindo a mão por dentro da minha blusa até o meu
peito.
— Eu quero — falei, com a voz entrecortada. — Quero que você faça
o que quiser comigo, Andrew.
Ele balançou a cabeça, colando nossas testas.
— Você é a porra de uma virgem — reclamou, como se aquela fosse
a maior das ofensas.
— Eu posso transar com qualquer cara se for isso que você quiser. —
O aperto em meu peito se intensificou.
— Você não vai foder com mais ninguém, Leighton — falou. A voz
estava firme e carregada de desejo. — Com ninguém além de mim.
Um pouco de esperança correu pelas minhas veias.
— Então você vai transar comigo? — perguntei, ansiosa.
Andrew balançou a cabeça em negativa.
— Eu não posso. — Havia um misto de fúria e frustração em seu tom.
— Então estamos em um impasse — falei, aproximando nossos
lábios.
— Alguns impasses são fáceis de resolver, por enquanto.
O que aconteceu a seguir foi rápido demais para que eu pudesse
processar. Andrew colou os lábios aos meus com ferocidade. A mão apertava
minha nuca com segurança ao mesmo tempo em que a movia com a precisão
necessária para fazer que o beijo de continuasse intenso.
Sua mão, a que estava em meu peito, passeou pelo meu corpo até que
estivesse dentro de minha calça. Polegar massageando com força meu clitóris
enquanto eu retorcia-me contra seu corpo que me prendia com força.
— Andrew — falei em meio a um gemido.
Os dedos entraram em minha boceta com rapidez. Com força.
Andrew gemeu com frustração. Como se ele quisesse mais do que qualquer
coisa que fosse o seu pau ali entre as minhas pernas.
Mordi seu ombro.
Andrew aplicou mais força nas mãos.
— O que eu mais queria na porra desse mundo era poder foder você,
Afrodite.
Andrew me golpeava com intensidade e força.
Com precisão e rapidez.
Eu sentia que estava perto.
— Vamos Leighton, eu sei que você quer tanto quanto eu. — Ele
movimentava os dedos dentro de mim. Intercalava pequenos e delirantes
giros, com entradas e saídas rápidas e intensas.
Fiquei na ponta dos pés tentando me segurar em alguma coisa.
— Andrew. — Choraminguei, encontrando o meio de suas costas e
firmando minhas unhas nelas, com força.
— É só gozar para mim, linda — pediu, estocando os dedos com mais
força. Mais e mais. Entrando e saindo.
Eu murmurei alguma coisa enquanto cravava minhas unhas ainda
mais sobre a minha pele implorando por alivio.
— Andrew — chamei quando, enfim, eu senti meu corpo explodir
como se fogos de artifício estivessem por toda parte do meu corpo.
Encostei minha cabeça em seu peito enquanto acalmava minha
respiração. Andrew me segurou pelo queixo, com força, erguendo meu rosto
em sua direção.
— Eu não volto atrás em minha palavra, Afrodite. Nem mesmo
quando eu sinto que preciso foder você tanto quanto eu preciso da porra do ar
para respirar.
Ele encostou nossos lábios por um instante. Fechei os olhos sentindo
seu gosto contra meus lábios, mas foi apenas por um instante. No momento
seguinte eu ouvi o click, indicando que estava sozinha naquele banheiro.
E de todas as coisas do mundo eu tinha certeza apenas de uma: Eu
faria com que ele mudasse de ideia.
Os últimos dias estavam sendo estranhamente calmos. Tranquilos até
demais. Eu ia às aulas, trabalhava e Andrew me mantinha ocupada durante a
maior parte das noites.
Às vezes eu pensava que havia perdido muito tempo me dedicando
exclusivamente aos estudos. Que se soubesse como era bom fazer tudo que
Andrew vinha fazendo comigo, mesmo sem nenhum tipo de penetração,
talvez eu tivesse começado antes. Mas ai eu pensava que talvez seja bom
desse jeito por ser com ele. Por ele saber exatamente o que fazer com meu
corpo, ou o que falar para que eu chegasse ao clímax.
Abri a porta do quarto encontrando Chiara jogada na cama, de barriga
para cima, sorrindo para alguma coisa na tela do seu celular. Estava usando
um short curto e sutiã. Vi o vislumbre de uma eu notei uma cicatriz um pouco
abaixo do seio.
— Falando com algum namorado? — perguntei. Ela deu um pulo da
cama assustada e puxou a coberta para se cobrir. — Olha só, tão entretida que
nem me notou chegar.
Ela bufou, parecendo nervosa.
— Não estou falando com ninguém, só estou vendo um vídeo. —
Mentiu. E eu sabia disso porque ela Chiara sempre mexia de maneira
involuntária na ponta do nariz quando mentia. — Chegou uma coisa para
você. — apontou com o rosto para um envelope em minha cama.
— Quem mandou isso? — franzi o cenho para o envelope pardo sem
nome de remetente, apenas o meu nome impresso e colado bem grande.
— Não sei, quando cheguei do almoço já estava aí. — Olhei em sua
direção, percebendo que por baixo do lençol ela vestia suas roupas. — Ei,
Leigh — chamou, depois de enfiar um blusão por cima da cabeça. — Sobre a
cicatriz, você pode não...
— Não precisa pedir isso. Jamais contaria algo que você não quer que
as pessoas saibam.
Chiara assentiu, com um sorriso tímido no rosto.
— Então, não vai abrir? — perguntou, olhando o envelope ainda em
minhas mãos.
Joguei a bolsa que trazia comigo na cama, rasgando a parte superior
do envelope. Não fazia ideia do que podia ser, talvez uma carta dos meus pais
enviando dinheiro para mim.
Sentei-me na cama, retirando os papéis de dentro.
O sangue parou de circular por meu corpo assim que percebi do que
se tratava. Eram fotos. As malditas fotos minhas e de James de anos atrás. Eu
estava deitada, sem roupa. Ele ao meu lado, uma mão brincando em meus
cabelos. Em outra foto ele segurava o seu pênis ereto. Pela forma como o
segurava, parecia estar se masturbando. Soltei um grito estrangulado ao ver a
última imagem.
As lágrimas escorriam por meu rosto e eu não conseguia respirar
direito.
— Leighton. — A voz de Chiara parecia distante, mas ela estava à
minha frente, ajoelhada, segurando meu rosto como se quisesse que eu
prestasse atenção nela. Ela falou alguma coisa que eu não conseguia ouvir.
Minha mente não estava mais ali, mas naquele dia.
No dia em que eu descobri quem meus vizinhos eram e o que eles
faziam. No dia em que soube o que eles faziam comigo. E que em momento
algum eles queriam me ajudar a realizar meus sonhos.
Eles tinham os próprios planos deles.
E eu tinha sido uma idiota por não perceber.
Eu senti meus olhos pesando. Tudo ficando escuro. E a Chiara me
chamar mais uma última vez.
Capítulo 37

— Tem certeza de que não devemos levar ela pro hospital? — ouvi a
voz da Mad perguntando.
— Ela desmaiou, Mad. Não é necessariamente nada grave. Ela vai
acordar.
Tudo estava escuro.
Minha respiração parecia regular.
Abri os olhos aos poucos, piscando várias vezes até me ajustar à luz.
Eu conseguia ver a silhueta das meninas ao meu redor.
— Leigh — falaram em uníssono.
— O que aconteceu? — tentei me sentar. Senti as mãos delas
ajudando-me a recostar os travesseiros da cama.
— Toma, bebe isso. — Chiara pôs um copo em minhas mãos e me
ajudou a colocá-lo em minha boca.
Dei um gole, empurrando a mão dela em seguida.
— O que aconteceu? — quis saber outra vez, começando a repassar
minha chegada ao quarto.
Chiara namorando por mensagem, envelope sobre a cama, fotos.
James.
Meus olhos se encheram de lágrimas outra vez.
— Shii, vem aqui.
Chiara me abraçou forte contra seu corpo me permitindo chorar. Os
braços de Madison também nos circundaram. Eu podia sentir as lágrimas das
meninas caindo sobre a minha pele.
Não sei por quanto tempo ficamos assim. Mas foi muito.
As meninas me ajudaram a acalmar meus soluços. Eu me sentia suja.
Indigna de todo aquele carinho. Pequena. Com raiva. Frustrada.
Eu só queria poder voltar no tempo e não ter conhecido o James. Eu
queria ter o poder de mudar tudo.
— Não acredito que isso está acontecendo comigo. — As palavras
saíam entrecortadas e sofridas.
— Eu sei — Mad falou, passando as mãos pelo meu braço.
— Eu não sabia que aquilo estava acontecendo. — Tentei me
justificar. — Eu juro, eu não...
— Ei — Chiara segurou meu rosto com força entre as mãos. — você
não tem culpa de nada, Leighton.
— Vocês nem sabem o que aconteceu. — Balancei a cabeça em
negativa. — Eu fui uma criança burra. Eu dei todos os motivos para que
eles...
— Não, meu amor. Você não deu motivo algum. Não importa o que
tenha acontecido, Leighton. Você não é culpada.
Balancei a cabeça outra vez, negando.
— Meus pais trabalhavam muito naquela época e eu ficava sempre na
casa dele. Desde muito nova. Eu dizia que queria ser uma estrela e aparecer
na televisão fazendo filmes e ficando famosa. — Comecei a falar rápido com
uma intensa necessidade de explicar o que aconteceu. Eu gostava delas, não
queria que as meninas pensassem mal de mim. — E o James e o pai dele
disseram que podiam me ajudar. Eles tinham uma câmera. Eles diziam que
nós íamos produzir filmes, e que eu ficaria muito famosa com eles.
Eu me lembrava da alegria que senti.
Meus pais trabalhavam tanto, e pessoas famosas tinham tanto
dinheiro. Se eu fosse rica, meus pais não iam trabalhar tanto e iam poder
passar mais tempo comigo. E eu apareceria na televisão como uma estrela de
cinema.
— Nós encenamos muitas cenas inspiradas em livros. Romeu e
Julietta, O morro dos ventos uivantes, Orgulho e Preconceito, Anna
Karenina, O amor em tempos de cólera, O grande Gatsby, Razão e
sensibilidade... Eu achava bonito. Eram histórias que falavam de amor. —
Sequei uma lágrima que caiu dos meus olhos. — E o James era encantador.
Eu achava que um dia nós viveríamos um amor como aqueles que
encenávamos. No começo, ele quase me beijava. Depois, ele me beijava de
leve. Dizia que o público queria isso. Aos poucos, as coisas começaram a
ficar estranhas, mas eles diziam que era normal. O James descia as alças da
minha blusa. Às vezes beijava meu ombro. Algumas vezes, ele punha a mão
em meu joelho e subia aos poucos. Também direcionada a maneira como eu
mexia em seu dorso, sua barriga.
Senti meus olhos se encherem de lágrimas mais uma vez e minha
garganta travar. Era doloroso lembrar disso.
— Jason dizia que James e eu éramos como irmãos. Que não havia
nenhum mal em fazer aquilo. Que aquela experiência me ajudaria a ser uma
boa atriz. — Pisquei, baixando o olhar para as minhas mãos que estavam
unidas no meu colo. — Um tempo depois, todas as vezes que gravávamos
alguma coisa, eu acordava na cama dele. Eu não me importava. Ele me
mostrava os vídeos e até editava alguns para que eu montasse o meu acervo
pessoal e pudesse encantar os produtores um dia.
Engoli em seco lembrando-me de seu cheiro. De seu quarto. Da
maneira fácil com a qual ele mentia para mim. Da maneira fácil com a qual
eu acreditava nele.
— O pai do James, Jason, era como se fosse meu próprio tio de
sangue. Eu confiava nele. Eu sentava no colo dele e deixava que ele beijasse
a minha bochecha. Meus pais faziam churrasco nos finais de semana juntos e
éramos como uma família.
Senti meu coração afundar no peito.
Era ruim sentir-se traída pela própria família.
— Um dia meus pais me contaram que nós íamos nos mudar, e eu
fiquei arrasada. Pensei “não vou poder viver se eu nunca mais ver o James”.
Então, chorando, eu fui até a casa dele. Eu entrei pela janela de seu quarto.
Havia uma árvore que ligava nossos quartos. Às vezes nós a usávamos. — Eu
podia sentir sob as minhas mãos o casco grosso da árvore, o cheiro de grama
molhada, a cor das flores que nasciam na primavera. — A casa inteira estava
em silêncio eu ia chamá-lo, ouvi um som. Era um som de alguém respirando
forte. Pensei que James havia dormido na sala, assistindo algum filme.
Passei pelas paredes brancas e vazias sentindo uma coisa no
estômago. Eu estava triste, não queria ir embora. Queria falar com James.
Queria que ele me abraçasse. Que me dissesse que tudo ficaria bem e que ele
ainda seria o meu Romeu.
— Segui o som em silêncio, andando na ponta dos pés. Cheguei à
porta do porão, onde o pai do James estava filmando alguma coisa. Me
esgueirei pela gretinha e vi uma garota deitada em um colchão. Ela tinha os
olhos fechados, estava sem roupa. James também. E ele segurava o pau dele
contra a boca da garota desacordada. — Soltei o ar com força lembrando-me
da sensação de medo. Eu nunca havia me sentindo daquela forma antes. —
Fiquei em silêncio vendo o que mais eles iam fazer. Ele beijou a boca da
garota. Ele colocou a cabeça entre as pernas dela. Eu fiquei assustada. Muito.
Sentindo as lágrimas se acumulando em meus olhos, continuei
observando, sentindo-me completamente imóvel.
Meu coração estava acelerado e eu me sentia petrificada. Não
conseguia pensar ou piscar, ou me mover.
Aquilo não podia estar acontecendo.
— Minha mãe tinha conversado comigo há alguns dias sobre sexo.
Ela disse que sabia que eu gostava do James, e que eu precisava saber de
algumas coisas em relação ao meu corpo, e as coisas que acontecem no corpo
de um garoto quando ele gosta de uma menina. Foi uma das conversas mais
constrangedoras que eu já tive em minha vida. — Balancei a cabeça em
negativa, lembrando-me do meu embaraço com a conversa. Claro que na
escola a gente já teorizava sobre o assunto, mas eu não sabia como
funcionava com a riqueza de detalhes que minha mão contou. — Foi por
causa daquela conversa que eu tive certeza de que aquilo era errado. E eu me
assustei tanto, que não notei que havia começado a soluçar.
Os olhos de James e do seu pai vieram parar em mim.
Meu sangue parecia ter congelado no corpo. Não conseguia mais
sentir mais batimentos cardíacos ou minha respiração.
Eles pareciam assustados.
Eu estava confusa, amedrontada.
Minha mente enviava sinais de que eu devia correr, mas minhas
pernas não conseguiam compreender ou responder ao comando. Elas
pareciam travadas, como se tivessem criado raízes no chão.
“Pega essa filha da puta”
Tio Jason gritou e foi então que minhas pernas pareceram
compreender que estávamos em meio a alguma coisa muito ruim.
Eu corri.
Eles também.
Correram atrás de mim.
Subi os poucos degraus que havia descido, fechando a porta atrás de
mim. Meu coração batia tão rápido que eu só conseguia ouvi-lo. Nada mais
atrás tinha minha atenção.
Eu precisava chegar até o quarto de James, me trancar e sair pela
janela. Devia ser fácil. Minhas pernas se esforçaram e correram pela casa o
mais rápido possível. Meus dedos tocaram a maçaneta quando senti braços
me rodeando. Meus pés deixaram o chão ao mesmo tempo em que uma
enorme mão tapou minha boca antes que eu pudesse gritar.
Eu estava com medo.
Muito medo.
Nunca havia pensando sobre a minha morte até aquele momento.
Nunca tinha pensado que um dia eu morreria, especialmente tão jovem.
Pelas mãos de pessoas que eram da minha família. Que eu amava.
— Shi, querida. Não grite. Não grite ou será pior para você — ele
pedia, baixo, falando bem perto do meu ouvido.
Ele me carregou por um tempo. Eu tentei mordê-lo. Esgueirar-me.
Gritar. Retorcer meu corpo. Nada funcionava. Ele era mais forte que eu.
Meu corpo recaiu sem nenhuma delicadeza em uma cadeira que
estava perto da parede. O cheiro de cigarro me deixou enjoada e eu mal
conseguia respirar por causa do choro. Meu nariz começava a tapar.
Tio Jason apertou as pernas sobre as minhas, obrigando-me a ficar
quieta enquanto ele prendia minha boca com um tecido vermelho que estava
em seu bolso. O tecido estava úmido, gosmento e tinha um cheiro estranho.
A garota ainda estava deitada no chão, inconsciente. Ela não me
ouvia gritar. Dormia profundamente.
Foi então que eu entendi que era por isso que acordava sempre na
cama de James sem lembrar-me do que havia acontecido. Eles me faziam
dormir. As lágrimas quentes caíram ainda mais sobre meu rosto com a
constatação. Meu corpo estava mole e eu mal conseguia manter-me reta. Se
não estivesse presa à cadeira, teria caído.
Prestei uma atenção maior aos traços da garota. Os cabelos loiros e
cacheados repousavam sobre o rosto. Eu a conhecia. Já a tinha visto
algumas vezes. Nós frequentávamos a mesma igreja aos domingos.
A sua família, a família de James, a minha família.
Assustada, olhei ao redor.
Havia algumas fotos instantâneas espalhadas pelo lugar. As fotos
eram horríveis. O James mostrando as partes do seu corpo, colocando-as na
garota. Em sua vagina, sua boca, sua bunda. Fotos só dela também
completamente expostas. O senhor Jason beijando a sua boca, ele tinha
colocado a boca dele naquela menina. Ela era mais nova do que eu, com
certeza. Eu senti uma vontade muito forte de vomitar.
Pisquei sentindo mais lágrimas escorrendo por meu rosto com mais
intensidade. Aquilo tinha que ser um pesadelo.
Tinha.
— James não estava lá. Fiquei tão assustada que nem notei. Só
percebi quando ele entrou no porão com uma caixa nas mãos — falei,
piscando enquanto sentia as lágrimas caírem. — A cada passo que ele dava,
eu sentia medo. Pavor. Nunca achei que fosse sentir isso por ele. James se
ajoelhou na minha frente.
“Isso não devia acontecer, Boo. Você nunca devia ter entrado aqui!”
James passava as mãos pelo rosto, nervoso. “Por que você fez isso? Por que
você estragou tudo?”
A ânsia de vômito era intensa. Eu sentia meu corpo tão fraco que
podia desmaiar a qualquer instante. James tirou o pano que tapava a minha
boca, liberando assim o meu choro livremente.
E eu chorei.
Com todas as forças que havia em mim.
“Por favor, diz que você não fez isso comigo” pedi, desesperada. O
coração martelava minha caixa torácica. Minha cabeça doía e eu me sentia
como em um filme de terror. “Por favor. Por favor. Por favor, James.”
“Boo” ele falou. A voz estava triste.
James balançou a cabeça em negativa, como se doesse nele fazer o
que faria a seguir.
“Para com essa porra de chorinho de menina, James. Para com essa
porra e cala logo a boca dessa vadia.”
Aquilo foi como um golpe no estômago. Mais forte que um soco.
Doeu no corpo e também na alma.
Doeu.
Intensamente.
Cinco minutos atrás ele era meu tio. O cara que me carregava, que
me dava um beijo de boa noite, que dizia que eu era uma boa menina. Agora
estava me chamando de vadia. Isso não era certo.
James abriu a caixa que trazia consigo.
Tinham algumas fitas de vídeo com nossos nomes e os romances que
interpretávamos.
Eu não queria ver. Não podia.
Ver aquilo era tornar verdade os meus temores.
Eu ainda tinha um pouco de esperança que aquilo fosse um pesadelo.
Que fosse acabar.
Fechei os olhos com força, pedindo internamente para que eu
acordasse. Para que aquela dor intensa no peito cessasse. Para que tudo
fosse um engano.
Aquilo não estava acontecendo comigo.
Não podia estar acontecendo comigo.
“Se você não fizer alguma coisa, eu farei, James.”
A voz de tio Jason soava irritada. Nunca havia visto a sua voz
daquele jeito. Ele era gentil, divertido, todo mundo gostava dele. Ele ia aos
cultos, dava dinheiro aos pobres e estava sempre ajudando as pessoas
quando elas precisavam. Como ele podia ser uma pessoa boa e ao mesmo
tempo ser esse homem que fazia coisas ruins com crianças?
“Você tem que abrir os olhos, Boo”. Balancei a cabeça em negativa.
Senti um impacto em minha cabeça, começando a chorar outra vez.
“Pai!” James gritou como se quisesse me defender.
“Se não resolvermos a situação com essa vadia curiosa agora, sua
mãe vai chegar. Você quer que sua mãe chegue e nos veja aqui? Quer que
ela saiba o que fazemos?” Gritou com James.
Então ela não sabia.
Alguém era inocente naquela família.
Respirei aliviada. Ela tinha que chegar. Precisava ver o que estava
acontecendo para contar para todo mundo que o marido dela era um cara
malvado. Que não podíamos confiar nele.
James soltou o ar com força. Eu ainda tinha os olhos fechados, mas
não restavam dúvidas de que ele não queria isso. Não queria me mostrar o
que quer que tivesse dentro daquela caixa.
Tio Jason puxou meu cabelo jogando minha cabeça para trás. Eu
gritei de dor e ele soltou um palavrão me mandando ficar quieta. Em
seguida, abriu meus olhos usando os indicadores e os polegares obrigando-
me a mantê-los abertos.
Eu sentia meu corpo fraco.
Sentia medo.
Queria minha mãe, meu pai.
Meu corpo tremia. Eu estava uma mistura de suor, lágrimas e do
catarro que escorria do meu nariz.
Mas por dentro eu estava pior. Em frangalhos.
James ergueu a primeira foto. Eu era obrigada a ver por causa do tio
Jason que mantinha meus olhos abertos.
Ele foi passando foto por foto. Tinha várias. Seu rosto entre as
minhas pernas. As minhas partes expostas. Ele segurando meus peitos que
começavam a nascer. Ele colocando o seu pênis em minha boca. Seu pênis
em minha vagina. Ele abrindo minhas pernas para que as fotos focassem
bem nas partes que ele queria mostrar.
Eu vomitei.
Tio Jason soltou outro palavrão e dizendo a James que teria que
limpar aquela bagunça. Ele limpou minha boca com cuidado.
“Eu nunca fiz nada de verdade com você, Boo. Com você, não.”
James passou a mão por minha cabeça, chegando até meu rosto. Movimentei
a cabeça com força tentando afastar seu toque de mim. “Ninguém nunca viu
suas fotos, ou seus vídeos. Eu juro. Eu nunca faria isso com você.”
“Como assim ninguém nunca viu?” Pisquei confusa.
“A gente vende essas coisas, Boo. O papai consegue um bom dinheiro
com elas.”
Eu pensei que fosse desmaiar naquele momento. As palavras
demoraram para fazer sentido em minha mente, mas quando eu entendi o que
ele quis dizer, tudo começou a girar e eu via pontinhos pretos. Pisquei várias
vezes sentindo meu corpo enfraquecer.
“Você vende essas fotos? As fotos de meninas sem roupa?”
perguntei, ainda incrédula.
“Mas não as suas. As suas são só para mim.” Falou rápido como se
não quisesse que eu pensasse mal dele.
“E isso vai continuar entre nós se você mantiver o que fazemos aqui
embaixo em segredo, Leighton” tio Jason falou, dando a volta por mim e
ficando em meu campo de visão. “Tem um bocado de gente por aí que gosta
de ver meninas novinhas sem roupa. Isso deixa eles excitados. E me dá muito
dinheiro.” Ele suspirou com força. “Não vou deixar você estragar isso,
garota. Se você não contar para ninguém, podemos manter suas fotos em
segredo. Mas se falar...” ele balançou a cabeça em negativa. “imagina a
decepção de seus pais ao saberem que você e meu filho estavam fazendo
vídeos e tirando fotos um do outro.”
Ele se sentou na minha frente.
“Eles vão dizer que a culpa é sua que não se dá ao respeito” riu. “As
pessoas sempre culpam as garotas, Leighton. Depois vão ver que trabalhar
tanto está fazendo mal a você. O seu pai vai jogar a culpa na sua mãe, a sua
mãe vai dizer que ele é o culpado por não ter um trabalho bom o bastante
para que ela possa ficar em casa. Então, eles vão se separar e a culpa vai ser
sua porque não soube ficar com a língua na boca. Você vai destruir a sua
família, Leighton.”
À medida que ele falava, as situações iam se desenhando em minha
cabeça. Meus pais brigando. Minha mãe dizendo que se não tivesse que
trabalhar tanto, poderia me educar melhor, meu pai dizendo que ela tinha
obrigação de cuidar de mim. Ele saindo de casa com uma mala e nunca mais
voltando, eu crescendo sem o meu pai. Meu pai me odiando por aquelas fotos
que eu não queria fazer.
E tudo por culpa minha.
Porque eu queria ser famosa. Queria aparecer na televisão. Queria
que as pessoas me amassem.
Eu fiz aquilo tudo.
“Você quer isso, Leighton? Quer destruir a sua família?” pisquei,
sentindo as lágrimas pesarem em meus olhos até voltarem a cair de forma
torrencial. Balancei a cabeça em negativa. “Então vamos ficar em silêncio,
não é? Você não conta o que viu hoje, e sua família segue intacta.”
Meu peito doía do tanto que meu coração batia forte. Tanto que eu
mal conseguia respirar.
“Mas e as outras meninas?” perguntei com a voz baixa.
“Existem momentos na vida, querida, que nós temos que ser egoístas.
Esse é um desses momentos. Você pode destruir sua família ou pensar nas
outras pessoas. O que você quer?”
Ele cruzou os braços à minha frente.
Eu olhei para a garota deitada no chão. Ela nem fazia ideia das
coisas que aconteciam com ela.
“Leighton, ninguém vai acreditar em você. Essas provas vão
desaparecer assim que você sair daqui. Só as suas fotos vão continuar. Se
alguém vier aqui, vai ser você e o James. E ele vai dizer que você quis tirar
essas fotos. — Ele soltou um suspiro dramático. — Seu pai vai ficar tão
decepcionado com você.”
Não queria decepcionar meu pai.
“Temos um acordo?” perguntou, por fim.
Sentindo o coração diminuir até ficar do tamanho de um grão de
areia, assenti. Não contaria nada.
Nós estávamos indo embora em algumas semanas e eu nunca mais os
veria. Não queria que a minha família fosse destruída por minha causa.

— Eles não me soltaram de imediato. Arrumaram todo o lugar.


Tiraram todas as fotos, os vídeos, era como se aquele lugar nunca tivesse
existido — falei, olhando fixamente para o nada. — Eu não tinha como
contar aos meus pais. Então, eu esperei ansiosa pelo dia de irmos embora. E
eu nunca mais tinha visto nenhum deles desde então. — Soltei o ar com
força. — Se eu não tivesse esse sonho idiota de ser atriz isso não...
— Não — Madison falou segurando meus ombros e olhando bem no
fundo dos meus olhos. — Você não fez nada de errado. Ele era um homem
adulto que sabia o que estava fazendo. Você era uma criança, Leigh. Uma
criança com sonhos e ele se aproveitou disso. Você não fez nada de errado.
Balancei a cabeça em negativa.
Não era verdade. Ela só estava falando isso por serem minhas amigas.
— Leigh, eu não posso imaginar a quantidade de coisas que você está
guardando aqui — Madison pôs a mão em meu peito indicando meu coração.
— Mas eu sei que existem feridas que precisam ser ouvidas para serem
curadas. Alguns anos atrás eu tive uns problemas e precisei conversar com
uma pessoa. Eu acho que isso pode te ajudar. Que você vai conseguir
entender que você não fez nada de errado e que aquele cretino cometeu tantos
crimes que poderia passar anos na cadeia. — Mad desceu as mãos por meus
braços segurando minhas mãos ao alcança-las. — Nós vamos passar por isso
juntas, Leighton.
Chiara pôs a mão junto as nossas também, acenando afirmativamente.
Meu celular tocou alto me assustando. O nome de Andrew apareceu
na tela. Ele tinha me chamado para ir ao treino do irmão dele, mas eu não
podia sair. Não agora. Queria ficar na cama, deitada, sozinha.
— Ele já sabe? — Chiara perguntou, olhando para o nome na tela.
Balancei a cabeça, negando. — Você devia contar para ele.
— Não — falei, rápido. — O Andrew é cabeça quente demais. Ele
pode fazer alguma coisa e se prejudicar.
As meninas trocaram um olhar rápido.
— Leigh, o James mandou essa foto para você, ele pode mandar para
o Andrew também — foi Mad quem falou. — Vai ser melhor que ele saiba
por você. Que você peça para que ele aguarde a hora certa de agir. Eu vou te
ajudar, tenho advogados à minha disposição. Você não está sozinha nessa,
Leigh. Nós vamos provar o que aquele filho da puta fez com você, e vamos
fazê-lo pagar por isso. Eu juro.
Assenti, sentindo os braços das minhas amigas me rodeando outra
vez. Foi bom poder falar sobre isso com alguém. Foi bom ter o apoio das
meninas. E elas estavam certas, eu tinha que contar ao Andrew. Só não sabia
como fazer isso sem que ele fizesse alguma besteira nesse processo.
Eu não queria que ele se metesse em problemas por minha causa, e
seria exatamente o que aconteceria. Eu tinha que pensar na melhor forma de
fazer isso, ou poderia causar um estrago ainda maior.
Capítulo 38

— Você está bem? — perguntei a Leighton enquanto caminhávamos


pela universidade.
Eu estava indo deixá-la em sua sala, mas hoje, ela, que em geral era
sempre animada e falante, estava calada. A expressão triste no rosto não me
passou despercebida desde que me encontrou na entrada dos dormitórios.
Leighton apenas balançou a cabeça, sem nem ao menos erguer o olhar
para mim.
— Ei — chamei, parando em sua frente e segurando seu rosto —,
você está chateada com alguma coisa que eu fiz?
Comecei a fazer uma análise mental de qualquer coisa que eu podia
ter feito para causar uma reação negativa nela. A última vez em que
estivemos juntos foi bem tranquila. Ontem íamos para o treino do meu irmão,
mas ela acabou ficando no quarto com as amigas. Antes de ir ao treino, fiz
questão de passar por lá e deixar um analgésico. Teria deixado um beijinho
também, mas Madison falou que ela tinha cochilado depois de se sentir mal
por algum tempo. Então, nem cheguei a vê-la.
Leighton balançou a cabeça em negativa mais uma vez.
Senti um forte golpe no estômago ao pensar que talvez ela também
tenha se arrependido das coisas que estávamos fazendo.
Pensar sobre isso, sobre Leighton querer voltar no tempo e nunca ter
tido nenhum tipo de orgasmo comigo era inconcebível. Eu só pensava nela,
em seu corpo, e em tê-la em meus braços outra vez.
Em tê-la de forma definitiva.
Não queria que ela desistisse.
— Você... — trinquei os dentes odiando a sensação de que essa esse
pensamento podia ser real. — Você está assim, está arrependida por...
— Não, não — Leighton parou à minha frente, segurando meu rosto
entre suas mãos. — Não. Eu juro que não. Nada no mundo faria com que me
arrependesse disso.
Ela deu um sorriso fraco.
— Então me conta — pedi, forçando-a a me encarar quando baixou os
olhos para o chão. — O que aconteceu?
— Não é nada, juro — falou com a voz um tanto embargada.
Eu continuei a encará-la. Lidar com Leighton em alguns momentos
era complicado. Ela não se abria, e isso me deixava frustrado. Eu sabia que
havia algo errado, mas ela não admitia. Não tinha como forçá-la a me contar
o que quer que fosse.
— Eu sou estou sendo boba e acordei com saudade dos meus pais. —
É só isso, juro. — Leighton tentou dar um sorriso outra vez. — Me conta,
como foi o treino ontem — pediu, tentando distrair-me.
Assenti, ainda contrariado e duvidando de sua justificativa. Passei o
braço por seus ombros recomeçando a andar. Contei sobre o treino do
Benjamin, sobre como ele é disparado o melhor do time e como suas chances
de chegarem à liga profissional só aumentavam. Ela ouvia com atenção,
sorrindo nos momentos certos e depois fazendo perguntas de quem realmente
escutava o que eu dizia.
Era a primeira vez que eu tinha uma garota com quem compartilhar
coisas bobas do meu dia e a sensação era muito boa. Esperava que
pudéssemos continuar a fazer essas coisas mais vezes, mesmo quando ela não
precisasse mais de mim.
Apertei os dentes com força outra vez.
A verdade é que eu não queria que aquilo acabasse. Que ela e eu
perdêssemos a cumplicidade que estávamos construindo.
Gostava de passar um tempo com ela e tinha certeza de que isso era
recíproco.
— Chegamos — anunciei, quando chegamos à porta de sua sala.
Leighton deu um sorriso sem graça.
Sentindo uma enorme vontade de protegê-la dela mesma, de sua
tristeza e desejando mais do que tudo ver o sorriso que costumava tornar meu
dia mais iluminado, a puxei contra meus braços sentindo o calor da sua pele.
— Você pode me contar o que quiser. — Dei um beijo no topo de sua
cabeça. — Sabe disso, não é?
Ela assentiu.
— Não gosto de te ver triste, Afrodite. Me parte o coração.
Leighton afastou o corpo do meu, olhando para meu rosto. Ela sorriu,
um sorriso bem melhor do que aquele que estava em seus lábios instantes
antes. Um sorriso que quase chegava aos olhos.
— Há quem diga que você não tem coração — brincou.
— Eu só mostro meu coração para quem merece, e, por acaso, só
conheci uma pessoa capaz disso até hoje — falei baixo. — Mas você precisa
manter meu segredo para que eu possa continuar com a minha pose de bad
boy que você vem arruinando com facilidade.
Leighton deu um tapa em meu braço brincando.
— Preciso entrar — falou, mas parou por um segundo com o corpo
ficando tenso e o olhar fixo em algum ponto atrás de mim.
Senti quando suas mãos começaram a tremer e ficaram gélidas.
— Leighton — chamei, mas ela não me ouviu.
Olhei para trás, seguindo o seu olhar e encontrando-o.
James.
Ele tinha um sorriso de lado como se quisesse passar um recado para
Leighton. Um recado que ela havia entendido bem, pela maneira como
reagiu. Ele não olhou para mim por nem um segundo sequer, mantendo a
atenção voltada a ela.
— Eu vou resolver isso com esse filho da puta — murmurei,
começando a dar as costas para Leighton, com as mãos já cerradas em punho,
disposto a atravessa o próprio inferno, começando a seguir na direção dele.
— Andrew, não — Leighton pediu, segurando minha mão com força,
tentando me fazer voltar a ela.
— Eu vou resolver isso, Leighton. Cansei desse cara te enchendo.
— Por favor, não. Por favor, por favor — pediu com os olhos cheios
de lágrimas. — Por favor, não faz isso.
— Tudo bem — falei, passando a mão em seu ombro e a abraçando
em seguida. A respiração dela estava descontrolada e eu detestava vê-la
daquela maneira por causa daquele cara. — Eu estou aqui. Estou aqui com
você.
Garanti.
Senti quando ela relaxou em meus braços.
A angústia era evidente em seu tom de voz, e eu queria entender.
Queria saber o que havia acontecido entre eles. Se aquele filho da puta tivesse
machucado a Leighton de alguma forma, se ele tivesse triscado nela como
suspeitava que havia feito com a garota de Harvard, eu destruiria a sua vida
sem nem ao menos parar para pensar.
Olhei para trás outra vez. Ele ainda estava lá, sorrindo, satisfeito por
ter conseguido mexer com ela, como o filho da puta que era. Eu tiraria o
sorriso do seu rosto por se meter com a minha garota, faria de tudo para
garantir isso.
Ela não perdia por esperar.

— Joga pra cá! — Um dos garotos gritou, erguendo a mão,


mostrando-se disponível para receber o passe.
A bola cortou o ar, passando rapidamente na direção do garoto. Teria
dado certo se o Jackson não tivesse surgido de Deus sabe onde, o acertando.
Os dois foram ao chão.
— Filho da puta! — gritou, massageando as costas. — Não estamos
em campo, Jackson.
O garoto jogado no chão com meu irmão reclamou, fazendo uma
careta e parecendo querer se certificar de que estava intacto.
O campus tinha menos pessoas que o habitual. Boa parte dos alunos já
havia começado a retornar para suas casas com intuito de aproveitar o feriado
com as famílias. Alguns outros preferiam evitar esse momento ao máximo e
ficavam aqui até o último segundo possível.
E havia os que, como eu, fugiam dessas coisas e preferiam ficar em
casa estudando ou fazendo qualquer outra coisa.
— Foi mal, mas eu não jogo pra perder — retrucou, levantando-se e
estendendo a mão para o colega. — Nunca.
— Você e seus irmãos não são nada normais com esse lance de
competição. — Malcon parou ao meu lado no gramado da universidade
pegando o cigarro dos meus dedos e dando uma tragada.
Já tinha um tempo que eu não fumava, mas hoje, depois de ver a
forma como aquele cara conseguiu desestabilizar Leighton, eu precisava
disso para me acalmar. O notebook estava jogado em meu colo enquanto eu
fingia que lia um artigo sobre o qual debateríamos em uma das aulas de
amanhã.
— Já perdemos muito na vida, Malcon. Agora estamos aqui só pra
vencer. — Dei de ombros, erguendo a mão para que ele me devolvesse o
cigarro.
— Jackson me disse que viaja amanhã. Vai para a cidade de vocês.
Assenti.
— Não estou de acordo, ainda acho que é a porra de um tiro no pé.
Mas meu irmão é maior de idade e eu já não posso obrigá-lo a fazer o que eu
quero.
Malcon pegou meu cigarro outra vez dando uma tragada, soltando a
fumaça em seguida, antes de me devolver.
— Pelo menos Olivia terá companhia — falou, como se isso fosse a
melhor das ideias. — Embora eu tenha certeza de que ela ia preferir que
estivessem os quatro juntos.
Sorri, soltando o ar com fumaça pelo nariz.
— Estaríamos reunidos se ela viesse para cá.
— Não sei, cara, é a cidade onde ela sempre morou. Todas as
memórias dela estão lá, por mais que você a odeie. Se eu estivesse no lugar
dela, talvez também quisesse guardar as últimas memórias ao lado de vocês
em casa. Com as pessoas que ela ama. Ano que vem, quando Olivia for para
Yale, vocês começarão a tomar rumos diferentes, escolhas diferentes e sem
os pais de vocês para manterem o desejo de voltar para casa, talvez levem um
tempo sem se encontrar outra vez.
— Isso não vai acontecer conosco — falei. Mas não estava seguro.
Malcon tinha razão.
Depois que Oly fosse para a universidade, estaríamos mais distantes.
Quando meus irmãos entrarem para a liga profissional o tempo deles será
escasso com tantos treinos e jogos na temporada.
Nada seria o mesmo depois desse ano.
— Eu sei que sua família é a coisa mais importante do mundo para
você. Acho que devia ter essa opção em mente — falou, pegando o cigarro e
dando outra longa sugada no ar.
Automaticamente pensei em Leighton.
Ela também era importante para mim, e eu tinha a mesma necessidade
de protegê-la que eu sentia em relação aos meus irmãos.
— Eles são. — Acenei afirmativamente. — Ainda tenho esperanças
de que ela mude de ideia quanto a Yale. — Peguei o isqueiro no bolso
esquerdo da minha roupa, entregando-o ao meu amigo. — Aqui posso
protegê-la.
— Acho que isso é justamente o que ela não quer. Sua proteção. —
Malcon enfiou o cigarro entre os dentes, fazendo com que suas próximas
palavras saíssem um tanto sufocadas. — Já pensou em como deve ser
horrível ter três muralhas prontas para destruir a vida de quem quer que seja,
por ela?
— Família, cara. Já disse que ninguém mexe com a família. — Dei
uma tragada no cigarro, soprando a fumaça lentamente. — Falando em
família, alguma novidade sobre aquele assunto?
— Meu contato, o mesmo que conseguiu aquelas informações, está
atrás da garota — falou com seriedade. — Mas ele me disse que tinha outra
coisa rolando, e que só podia conversar sobre isso pessoalmente e se você
fosse de confiança. Como eu disse que ponho a minha mão no fogo por você,
vou marcar com ele e te aviso.
Assenti, esperançoso em descobrir alguma coisa sobre ele. Em fazer
cessar aquele poder que, de certa forma, ele exercia sobre ela.
Voltei meu olhar para o jogo à minha frente. Os meninos começariam
a jogar pelo campeonato universitário pra valer daqui a alguns dias. O
desempenho do Jackson no jogo teste foi o bastante para que ele garantisse
sua vaga no time principal.
— Aqui! — Jackson gritou pedindo que alguém passasse a bola.
George, jogou em sua direção. Forte demais. Acompanhamos a bola
com o olhar, vendo-a cair. Os garotos estavam decidindo que deviam ir
buscá-la quando ouvimos alguém coçar a garganta enquanto se abaixava para
pegar a bola.
Era ele. E sorria de forma provocativa enquanto olhava diretamente
para mim. Trinquei meus dentes, levantando-me depressa. Malcon me
acompanhou, murmurando alguma coisa e erguendo a mão à minha frente
para que eu não me aproximasse daquele filho da puta.
— É de vocês, suponho. — Apontou a bola para George, fingindo que
jogaria, mas mantendo-a em suas mãos.
Dei um passo à frente com o rosto erguido.
— Devolve isso e some daqui — falei, dando um passo em sua
direção.
— Calma, só ia perguntar se podia jogar também. — Ergueu o lábio
esquerdo em um sorriso sarcástico. — Todo mundo merece um pouco de
diversão, sabe como é.
Fechei as mãos em punho.
— Não. Não pode. Passa essa porra da bola, e some daqui —
respondi, entredentes, dando mais um passo em sua direção. Malcon
continuava ao meu lado e percebendo a tensão que se instaurava, meu irmão
instintivamente se aproximou.
James deu um passo com a cabeça erguida.
Malcon segurou meu braço, como se pudesse me parar.
Ele não podia.
— Até onde eu sei, esse é um ambiente público. — Olhou ao redor.
— Não sabe dividir, Andrew? Você não foi o primeiro a chegar aqui. —
Ergueu uma sobrancelha. Apertei ainda mais minhas mãos em punho
sentindo as pontas das minhas unhas mal cortadas machucando as palmas das
minhas mãos. — Acho que existem coisas na vida com as quais todos podem
usar se houver um comprometimento de satisfação. Pode ser de gosto comum
entre as pessoas. — Ele balançou a bola em minha direção.
Ele sabia que não falava da bola. Eu sabia. Todos sabiam. O silêncio
que se seguiu por alguns poucos milésimos de segundo foi o mais intenso que
já havia presenciado até então. E, em seguida, antes que pudesse perceber, eu
estava sobre seu corpo caído no chão, pressionando-o com força, segurando-o
pelo colarinho da camisa que vestia.
Havia mãos me puxando, tentando impedir que eu o acertasse como
queria fazer há muito tempo. Ele ria. Provocativo.
— Eu vou acabar com a sua raça, filho da puta. — Usei um tom
firme.
Baixo o bastante para que ele ouvisse.
— Se você não aguenta ouvir umas verdades leves, nem quero saber o
que você vai fazer quando eu contar tudo que sei sobre ela. Tudo que fizemos.
— Não ouse falar sobre ela. Não ouse sequer pensar nela — gritei,
puxando-o pela gola da camisa que vestia e batendo-o contra a grama com
força.
— Você não sabe nada sobre ela. Sobre nós dois. — Ele soltou um
riso abafado. — Ela pode estar namorando você agora, mas eu tenho certeza
de que no final das contas, vai ser na minha cama que ela estará, como já
esteve muitas outras vezes.
Vendo vermelho sangue e carregado de todo o ódio que já carregava
por aquele filho da puta, eu o soquei. Ouvi um estalo forte quando meu
punho acertou seu rosto.
Ele riu, como se esperasse por isso. Como se quisesse isso. Tentou me
acertar de volta, mas não conseguiu.
— Andrew, porra, para — Jackson gritou, me puxando, agarrando-
me.
— Andrew. — Ouvi a voz de Leighton ainda distante.
Foi o que bastou para que eu me distraísse. Para que ele que me
empurrasse e meu tronco encontrasse o chão. Para que seu punho acertasse
meu queixo.
Ergui meu corpo de forma súbita. Minha testa encontrando seu nariz.
Minha cabeça em seu abdômen. Novamente, meu corpo sobre o seu. Meu
punho erguido acertou seu queixo outra vez.
— Andrew, para! Não faz isso, por favor. — Leighton tentou me
empurrar, com força, Malcon e Jackson finalmente conseguiram me conter.
George e mais dois caras que estavam jogando seguraram ele. Leighton tinha
uma expressão assustada no rosto. — Andrew, para!
— Conta pra ele, Boo — James gritou em um tom ameaçador. —
Conta que ele pode estar com você agora, mas que antes você já dormiu
muito na minha cama. Em meus braços.
— Me solta — gritei, me debatendo contra meu irmão e Malcon que
me seguravam com força. — Eu vou acabar com você, seu filho da puta.
Você não vai contar mentiras sobre a minha namorada e achar que vai sair
desfilando essa cara inteira por aí.
— Conta para ele, Boo. Você sabe que é verdade. — O corpo de
Leighton estava tenso, como se houvesse alguma verdade no que ele estava
dizendo. Como se ela não quisesse que o resto de nós soubéssemos da
verdade.
— Andrew. — Leighton parou à minha frente, pondo a mão sobre
meu peito. — Por favor, vamos embora.
As mãos estavam trêmulas e sua expressão indicava que estava
mesmo assustada. Não podia culpá-la.
— Vamos embora, cara — Malcon falou, soltando um pouco o aperto
em meu braço. — Ouve sua garota, vamos embora e deixa esse filho da puta
pra lá.
Meus olhos ainda estavam fixos em Leighton. Na sua expressão
nervosa, tensa. Na maneira como seu corpo parecia tremer.
Eu faria isso por ela.
Mas na primeira oportunidade que encontrasse, eu ia destruí-lo.
Malcon afrouxou o aperto até que eu estivesse completamente livre.
Segurei o rosto de Leighton entre as mãos por alguns segundos.
— Você está bem? — perguntei, ansioso.
— Não. — Foi sincera. A voz estava vacilante. — Mas nós
precisamos conversar, Andrew. E você não vai gostar do que vai ouvir.
Apertei os dentes com força, sabendo que ela me contaria o que a
prendia àquele filho da puta. E, independente do que fosse, eu a ajudaria a
encontrar a melhor forma de se libertar, não deixaria que ele continuasse
atrapalhando a sua vida.
Faria de tudo para garantir isso.
Capítulo 39
— Entra — Leighton pediu, abrindo a porta do seu quarto no
dormitório. Passei por ela, olhando ao redor, como se quisesse ter certeza de
que estávamos sozinhos. — A Chiara só vai vir aqui mais tarde hoje. Vai
estudar na biblioteca.
Assenti, vendo-a morder o lábio e caminhar até sua cama. Leighton se
sentou na beirada, fazendo com que o colchão cedesse um pouco a pressão do
seu peso, pousou o cotovelo nas pernas e as mãos em frente ao rosto.
— Ei — falei, abaixando-me à sua frente, e pondo minhas mãos sobre
as suas. — Eu tô aqui. Confia em mim, você pode me contar o que quiser, ou
não me contar nada. Eu já sei que ele te assusta e eu prometo que estarei aqui
com você.
Leighton balançou a cabeça em negativa e eu podia ver a forma como
ela tentava controlar a respiração e os tremores pelo corpo.
— Leighton...
— Eu queria ser atriz quando era criança — começou, tirando as
mãos do rosto. O olhar estava fixo em algum lugar atrás de mim, como se a
ideia de me ver enquanto falava fosse dolorosa demais.
— Você teria sido uma atriz maravilhosa — interrompi, passando o
indicador por seu rosto.
Leighton riu de forma triste.
Uma lágrima escapou do seu rosto e eu a limpei.
— Foi esse sonho que destruiu a minha vida, Andrew. — Fungou. —
James foi meu vizinho. Nós éramos melhores amigos e quando o tempo foi
passando eu descobri que gostava dele naquela época. — Apertei os dentes
com força. Já imaginava que ele havia feito parte do seu passado, mas ouvir
isso me irritou mais do que devia. — Ele estava certo sobre uma coisa, dormi
muitas vezes em sua cama. Meus pais trabalhavam bastante e nossos pais
eram amigos. Ele tomavam conta de mim.
Cerrei os punhos, com força. O coração batendo forte no peito.
Leighton contou sobre como suas famílias eram próximas, como os
pais dele sempre foram considerados tios para ela.
E como gostava de estar com eles.
Eu ouvi, com paciência, enquanto ela narrava sobre a infância, sobre
como amava o lugar onde morava e como achava que era a criança mais feliz
do mundo por ter encontrado o seu futuro marido ainda tão cedo.
Sobre como reagiu mal quando soube que iam se mudar e sobre como
foi buscar abrigo na pessoa com quem ela acreditou que podia confiar.
— Eu fiquei tão assustada e com tanto medo quando vi aquilo —
falou. A voz em um fio, como se nem estivesse lá. — O James, a pessoa que
eu acreditava ser o meu príncipe, com o pênis dele na boca de uma garota que
não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. Eu tentava a todo
momento tentar bloquear o pensamento que insistia em querer se infiltrar em
minha mente. Eu não queria pensar que ele podia ter feito a mesma coisa
comigo.
A maneira como ela falava, os olhos desfocados, a voz repleta de dor.
Parte de mim pensava que eu não conseguiria continuar a ouvir. Eu queira
encontrar aquele filho da puta e quebrara cada um dos dentes que estavam em
sua boca. Mas também sabia que se Leighton havia decidido me contar, era
porque ela queria que eu soubesse. Queria que eu a entendesse. Que soubesse
a verdade sobre o seu passado, e por mais que aquilo doesse em mim, eu
continuaria a escutar por ela.
A verdade era importante para ela.
— A maneira como ele beijava a sua boca, que pressionava o pênis
ereto em partes do seu corpo. — Leighton limpou uma lágrima que havia
escorrido por seu rosto balançando a cabeça em negativa como se estivesse lá
outra vez. Como se pudesse ver a cena outra vez, nesse exato instante.
— Você sabia o que estava acontecendo ou...
— Eu tinha acabado de entrar na adolescência naquela época. Eu não
sabia dar nome ao que estava acontecendo, mas tinha certeza que era errado.
E eu só conseguia pensar que eles também fizeram o mesmo comigo. Que eu
confiava neles e eles se aproveitavam de mim. — Seus olhos se encheram de
lágrimas outra vez. — E então, eu quando eu chorei, eles me notaram e
vieram atrás de mim.
Leighton narrou a forma como tentou correr e como chegou a ter
esperanças de que conseguiria sair daquela casa. Que chegou perto. Mas que
foi capturada.
— Eu fico pensando em como seria a minha vida se eu tivesse
conseguido. Se tivesse alcançado a janela e saído de lá — falou com um
pequeno repuxar do lábio esquerdo. Era um sorriso pequeno. — Eu penso
que minha vida seria completamente diferente. Costumo imaginar que eu
teria contado às pessoas, à minha mãe, e que elas teriam acreditado em mim,
que teriam descoberto o que eles faziam. Que minha vida seria diferente. Mas
não foi o que aconteceu.
Leighton soltou o ar olhando para baixo.
— Ele me disse que eu não devia gritar, me jogou em uma cadeira,
me amarrou e tudo que eu pensava era que aquilo era um pesadelo. Apertava
os olhos com força, tentava me forçar a abrir os olhos e acordar em minha
cama. — Ela moveu a cabeça de um lado para o outro, como se dissesse que
aquilo não aconteceu. Que era uma ilusão. — Você já pensou em como as
pessoas que nós amamos escondem coisas da gente? Em como elas podem
fingir ser algo que não são?
Leighton me olhou por um instante, antes de soltar uma risada pelo
nariz sem humor algum.
— Eu nunca tinha pensado sobre isso até aquele momento. Aos doze,
eu acho que não devíamos pensar sobre isso. Eu sempre só... eu sempre achei
que se a gente gosta de alguém, pode confiar. Aquela foi a primeira vez que
me dei conta de que nem sempre as pessoas falam a verdade. Eu pensava que
a menina no chão, coitada, confiava nele. Neles. Em tantas pessoas que
confiavam neles.
— Quando James desceu as escadas com uma caixa na mão, eu já
sabia o que havia ali. A mesma coisa que eu podia ver em alguns cantos do
porão. Fotos. Filmagem. Naquela caixa deviam ter as minhas coisas. — Ela
ficou em silêncio por um tempo. Foi angustiante. Não saber o que se passava
em sua cabeça, o que ela estava sentindo. O que estava vendo no lugar onde
havia se escondido. — Fechei os olhos com força. Não queria acreditar
naquilo. Eu ainda me apegava ao pouco que sabia sobre eles. Ainda queria
acreditar que eles eram minha família. Família que ama e protege.
Pus minha mão sobre a sua, apertando-a um pouco. Essa era a minha
vontade. De protegê-la. De não permitir que ninguém fizesse mal a ela.
— Quando ele abriu aquela caixa, quando ele me forçou a ver aquelas
fotos. — Leighton mordeu os lábios parando para pensar por alguns
segundos. — Metade de mim não conseguia reconhecer aquela garota, sabe?
Como se não fosse eu. Como podia? Eu não me lembrava de nada daquilo.
Em contrapartida, eu podia reconhecer o meu corpo. Os meus sinais, meu
cabelo, as roupas que nós usávamos quando ensaiávamos alguns dos
clássicos. Acho que um pouco de mim morreu naquele momento. E então, ele
me disse que... ele disse que me vendia as fotos e os vídeos na internet.
Apertei com força os dentes.
O filho da puta não era apenas um pedófilo, também era parte de
algum esquema de pornografia infantil.
Senti minha respiração ficar mais forte, pesada. Meus olhos ardiam e
meu estômago embrulhou ao pensar no que ela tinha passado. No que aquelas
garotas tinham passado.
— Ele disse que não tinha divulgado as minhas fotos, mas que eu não
devia contar nada. Que isso estragaria a vida da minha família, que ninguém
acreditaria em mim, que meus pais iam se odiar e me odiar por acharem que
eu quis tirar aquelas fotos, fazer aquelas coisas — sua voz ficou embargada e
lágrimas voltaram a cair. Eu nunca quis tanto tirar a dor de alguém. Nunca
quis tanto curar as dores que alguém pudesse ter. — James me beijou naquele
dia. Diferente de quando me beijava para os filmes. Eu senti sua língua
invadir a minha boca e me sentia tão suja, tão nojenta. Ele me dizia que
estava tudo bem, mas nada nunca mais estaria bem. Depois eles limparam o
lugar, levaram a menina para a cama do James e me soltaram.
Leighton me encarou. Os olhos vermelhos, as marcas das lágrimas
que escorreram por seu rosto, os lábios que tremiam um pouco.
— Eu tentei esquecer aquilo, todo maldito dia. Tentei não me lembrar
daquela tarde. Enterrar aquilo. Eu pensava o tempo inteiro nas garotinhas que
confiavam neles — o queixo tremeu um pouco enquanto ela tentava não
chorar. — Mas eu tinha medo. Eu só, fui embora daquela cidade e tentei não
pensar naquilo nunca mais. Eu fui uma idiota, agora ele está aqui.
— E ele não vai encostar em você, Leighton — falei, segurando seu
queixo com firmeza. — Você era uma criança que estava com medo e queria
se proteger. O que eles fizeram é crime. Crime, entendeu? Você não fez nada
de errado.
Eu podia sentir as lágrimas molhando minha camisa, podia sentir seu
corpo trêmulo contra o meu. Podia sentir a dor nos soluços dela. Não havia
nada que eu desejasse mais que encontrar aquele desgraçado e cobri-lo de
porrada. Queria enforcá-lo. Queria assistir enquanto o ar se esvairia dos seus
pulmões. Queria ver seu rosto inchado de apanhar e coberto de sangue.
Eu odiava meu pai.
Mas eu odiava ainda mais aquele filho da puta.
Odiava o que ele havia feito com Leighton. Odiava o que ele havia
feito com meninas inocentes. Odiava que as pessoas não soubessem daquilo.
Odiava que ele ainda pudesse assustá-la.
Eu jamais odiaria tanto alguém como eu o odiava.
Sentia o sangue ferver pelas minhas veias.
— Você acha que as coisas que você fez é errado, Andrew — a voz
estava entrecortada. — Mas fui eu quem fugi e deixei a verdade para trás. Eu
é que fui egoísta. Você fez tudo pelas pessoas que ama, Andrew.
Aquela fala fez alguma coisa em meu coração. Senti a maneira como
ele parecia afundar no peito, dolorido.
Eu ainda estava com ódio.
Eu ainda queria quebrá-lo ao meio. Mas não podia.
Não.
Leighton precisava de mim, ela precisava se acalmar.
— Ei, Afrodite, você fez o necessário para você ficar bem. Você fez o
que devia fazer, Leighton. — Abracei-a outra vez com força.
Ficamos assim por um tempo, até que eu sentisse que seu corpo havia
relaxado um pouco. Até que ela tivesse parado de tremer.
— Promete pra mim que você não vai fazer nada, Andrew — pediu,
com o rosto ainda colado em meu ombro. — Promete que você não vai brigar
com ele.
— Leighton...
— Você me perguntou por que eu estava triste pela manhã —
Leighton se afastou, levantando-se em seguida e abrindo uma gaveta. Ela
retirou um envelope entregando-me ao se aproximar outra vez.
— O que é isso? — quis saber antes de abrir.
— Ele me mandou isso ontem. São... — Leighton parou. Seus olhos
se encheram de lágrimas outra vez — são algumas das fotos. Estavam aqui
quando eu cheguei. Chiara disse que deixaram por baixo da porta.
— Aquele filho da puta se atreveu a mandar essa porra pra você? Eu
vou matar aquele desgraçado, Leighton. — levantei, falando alto.
— Não, por favor — pediu, levantando-se também e parando à minha
frente com a voz entrecortada pelas lágrimas.
Leighton fechou os olhos assustada e eu soltei um palavrão.
— Desculpa, desculpa, Leighton. — Apertei-a contra meu corpo em
um abraço. — Eu só... Eu gostaria de matar aquele filho da puta com as
minhas próprias mãos.
— Não — pediu, começando a chorar outra vez. — Não faz nada, por
favor. Ele vai contar para as pessoas, Andrew. Se a universidade inteira
souber eu não teria mais coragem de ficar aqui... Por favor, não faz nada.
Respirei fundo fechando os olhos e tentando contar até mil.
Era muita coisa em minha cabeça. Era muita coisa na cabeça dela.
O mais importante neste momento era a Leighton. Eu tinha que
pensar nela, que cuidar dela. Se estava sendo difícil para mim que estava
apenas ouvindo, sem dúvida para ela que teve seu corpo exposto, suas
memórias afetadas e o corpo subjugado a outra pessoa sem a menor vontade,
isso era absurdamente pior.
— Tudo bem — garanti, passando a mão em suas costas em um sobe
e desce rítmico tentando acalmá-la. — Tudo bem, Leighton. Não vou fazer
nada, por enquanto, mas só porque você está me pedindo e eu vou respeitar a
sua decisão.
Com cuidado, levei-a até a cama e deitei-me com ela em meus braços.
Ficamos deitados, enquanto eu a acalmava.
— Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? — quis saber,
enquanto acariciava suas costas.
Leighton movimentou a cabeça em um gesto negativo.
Ainda conseguia sentir as lágrimas molhando a minha camisa, e vê-la
daquele jeito, triste, desolada, sem poder fazer nada, isso me matava.
Eu queria fazer alguma coisa por ela.
Queria que ela não precisasse sofrer aquele tanto.
Queria que ela não precisasse sofrer nada. Nunca.
Não sabia explicar o motivo, mas se havia algo que eu não tinha
dúvidas, era de que seria capaz de enfrentar o próprio diabo por ela.
— Sabe — falou, depois de um tempo. — Eu queria, sei lá, sumir —
soltou o ar com força. — Queria que houvesse uma maneira de desaparecer
por uns dias e nem mesmo respirar o mesmo ar que ele. Acho que queria
passar o feriado com meus pais, mas ao mesmo tempo não sabia o que diria a
eles quando percebessem que eu não estava bem. Acho que eu só queria um
pouco de normalidade familiar, talvez.
Meu coração apertou um pouco com as suas palavras.
Eu entendia.
Parar, refletir, tudo isso era importante para conseguir seguir em
frente, seja lá da forma que ela decidisse fazer.
A conversa com Leighton havia sido muito reveladora, e agora, mais
do que nunca, eu sabia que alguma coisa pior do que imaginávamos havia
acontecido em Harvard.
Eu descobriria o quê.
Eu ia foder com a vida daquele filho da puta, da mesma maneira
como ele havia feito a minha Afrodite sofrer.

O quanto um cara estava disposto a fazer por uma pessoa que havia
conhecido há pouco tempo?
Eu não sabia.
Mas uma parte de mim insistia em dizer que eu estava disposto a
tudo. A qualquer coisa, por ela. Inclusive, abrir mão de minhas convicções.
A frase de Leighton ecoava em minha mente.
O desejo de desaparecer.
Fechei os olhos fingindo não ouvir as três palavras que ecoavam em
minha mente com a voz da minha irmã: Ação de graças.
Não.
Ou sim?
Será que eu podia fazer isso por ela?
Soltei um suspiro forte.
Por que será que eu estava considerando justamente a única coisa que
eu jurei a mim mesmo não fazer? Tudo isso para vê-la sorrir outra vez? Para
afastá-la de toda essa confusão?
Desde quando eu havia passado a me importar mais com ela do que
com os meus próprios sentimentos? Com os limites que havia imposto a mim
mesmo? Desde quando Leighton estava grudada tão intensamente em meus
pensamentos fazendo com que a vontade de protegê-la do mundo fosse maior
do que qualquer outra coisa?
Soltei o ar forte pela boca, passando as mãos no rosto.
Os sons lá de baixo me deixavam ainda mais ansioso. Eu precisava
daquilo. Da adrenalina.
Precisava parar de pensar.
Duas batidas na minha porta. Era a minha hora.
Depois de um dia inteiro de merda, finalmente eu teria como revidar a
porra do destino que só fodia com a minha vida.
Segui ignorando as pessoas ao meu redor. Elas eram como borrões.
Não conseguia prestar atenção em nada. Minha mandíbula estava tensa.
Ergueram nossas mãos, nos cumprimentamos e foi quando minha mente
pareceu voltar.
Meu punho direito acertou o nariz do meu adversário.
Eu nem tinha reparado a cara do filho da puta.
Sua cara era a cara dele. James.
Ele rindo enquanto falava sobre a Leighton. Ele não tinha direito.
Nenhum direito de falar nada sobre ela.
Ele fazendo coisas terríveis contra ela. Contra garotinhas indefesas.
Podia ter sido a minha irmã.
Se tivesse sido Olívia, ele teria deixado de respirar há muito tempo.
Eu não conseguiria me controlar. E minhas mãos só não estavam no seu
pescoço nesse instante por ela.
Leighton não queria ser exposta, mas eu tinha certeza de que, com as
coisas que Malcon estava descobrindo, seria o suficiente para acabar com
aquele desgraçado.
Precisava socar alguém. Bater em alguém. Quebrar ossos.
Precisava colocar para fora a raiva que estava sentindo.
Os gritos.
Os aplausos.
Meu nome sendo aclamado.
Nada disso me fazia sentir especial. Nada disso fazia com que eu
sentisse que aquela raiva em meu peito podia ser justificada.
Eu precisava quebrar algo. Pessoas.
Precisava ver o sangue jorrando. Vê-los caídos aos meus pés.
Aquele incômodo em meu peito estava me matando.
Leighton não merecia.
Ninguém merecia aquilo.
A imagem dela, vulnerável, chorando em meu colo, era demais para
mim.
Fiquei com ela até que Chiara chegou, até que ela me garantisse que
não sairia do lado de Leighton para nada.
Mas eu precisava extravasar.
Eu tinha que fazer isso para não cometer nenhuma loucura.
O cara à minha frente não se rendeu, ainda que com o sangue jorrando
do nariz. Admirava adversários assim. Mas não hoje. Hoje eu só o achava
burro mesmo. Era minha quarta partida e a sede não diminuía. Ele não sairia
daqui muito bem.
Seu punho esquerdo acertou meu maxilar. Uma vez. Duas vezes.
Quis rir, mas porra, doeu mesmo.
O direito acertou em cheio minha boca e eu senti o gosto metálico do
sangue.
Dei um passo para trás, afastando-me.
Ele sorriu pra mim como se quisesse me desafiar. Como se aquele
soco ínfimo pudesse ter me atingido de alguma forma.
Já tinha aguentado coisas piores.
Sorri de volta.
Meu punho direito o acertou em cheio uma vez. E mais uma. E mais
uma. Ele sucumbiu. Caiu no chão.
Não consegui parar. Meu corpo estava sobre o seu e meus punhos
ainda batiam com força ora no rosto, ora nas costelas. Eu não via mais onde
batia. Só precisava bater.
Mais.
Mais.
Mais.
— Chega, porra! — A voz de Malcon que me trouxe de volta à
realidade.
Braços estavam ao meu redor. Eu já não estava mais sobre o corpo
coberto de sangue jogado no chão. Ele soltou um gemido e eu quase senti
pena do cara.
— Você tá louco? — Malcon gritou, puxando meu rosto em sua
direção.
Não respondi.
Meu rosto estava tenso.
Meu maxilar trincado.
Sentia os olhares em minha direção.
Alguns admirados.
Eu não decepcionava nunca. Apostar em mim era a forma mais fácil
de ganhar dinheiro e todo mundo ali sabia disso.
Outros olhares eram assustados, como se eu tivesse passado de alguns
limites hoje.
Vi, de soslaio, quando dois caras fortes levantaram o moribundo do
chão.
Malcon ainda me empurrava para algum lugar, falando sei lá o quê.
Eu sentia também olhares desejosos sobre meu corpo. Olhares de
mulheres que sonhavam com o momento em que eu puxaria seus cabelos
com força, as fazendo ajoelhar em minha frente e enfiar meu pau pulsante em
suas bocas. Depois, fodê-las sobre qualquer superfície.
Seria fácil ter qualquer uma delas em minha cama. Seria só um estalar
de dedos e eu teria companhia. Eu precisava de sexo. Precisava transar.
Ainda tinha muita raiva dentro de mim.
Mas eu não conseguiria.
Não podia.
Jamais faria isso com ela.
Fechei os olhos por um segundo.
Por mais que pensar nela fosse a última coisa que eu precisava, era a
única coisa que a porra da minha mente sabia fazer. A imagem de Leighton
sorrindo invadiu a minha mente. Foi como... eu não sabia expressar, mas foi
bom. Foi como colocar os pés no chão depois de um pesadelo terrível.
A imagem contrastou com a de hoje mais cedo, quando ela chorava
assustada. Quando aquele filho da puta assinou seu atestado de morte.
Aquilo não ficaria impune.
Meu corpo tombou com o de alguém por causa da forma como
Malcon me empurrava para fora do casarão. Ele olhou em minha direção.
Tinha um sorriso de canto. Os olhos desafiadores. Postura altiva. Era quase
como se estivesse dizendo que nós dois nos desafiaríamos em breve e que ele
ganharia a porra da luta.
Como se isso fosse possível.
De repente, ele sumiu. As pessoas também. A iluminação precária do
casarão e todas as mulheres me olhando enquanto imploravam para serem
escolhidas para irem pra cama comigo hoje.
— O que aconteceu lá dentro, caralho? — Malcon gritou, soltando
meu corpo com força.
— Eu... — soltei o ar com força. — Eu precisava quebrar a cara de
alguém.
— Isso eu consegui perceber — retrucou, como se meu argumento
fosse idiota demais.
— Como você sabia que estava aqui? — perguntei, passando as mãos
no rosto, inquieto.
— Porque eu sei quando você odeia alguma coisa, precisa colocar a
raiva para fora. — Apontou, com o rosto, para dentro do casarão. — A
Chiara falou com a Mad que você saiu do quarto como se fosse matar
alguém, então depois de garantir que você não tinha ido atrás do filho da
puta, eu vim pra cá.
Não respondi.
— A Leighton te contou o que aconteceu entre ela e aquele cara, não
é? — perguntou. Minhas mãos fecharam em punho imediatamente.
— Você sabe também? — Encarei-o sério.
— Não. Mas pela forma como ela ficou mais cedo, a maneira como
ele queria te desestabilizar, eu sei que é algo sério. — Malcon soltou o ar com
força. — E o meu contato me mandou mensagem mais cedo. Ele quer mancar
um encontro depois do feriado.
Assenti, apertando a ponte do nariz com os dedos.
Será que ele estava certo?
— Sabe? É bom ver você se importando com essa garota — Malcon
falou dando um sorriso de quem estava achando aquela situação uma
maravilha. — Você realmente gosta dela.
— Claro que gosto, ou não estaria namorando com ela — apontei.
— Eu duvidei muito quando soube desse namoro de vocês.
Principalmente quando os vi juntos a princípio. Você era distante demais, frio
demais, mas então — deu um tapa em meu ombro —, então você mudou. Se
diverte com ela. Vocês são bons juntos.
— Você andou vendo muito filme de mulherzinha ultimamente, não?
Ele riu.
— Você vai mesmo viajar no feriado? — perguntei, erguendo um
pouco a cabeça para encarar as luzes reluzentes das estrelas no céu.
Malcon rolou os olhos.
— Infelizmente. Minha mãe faz questão. Amanhã cedo pego meu
voo. — Fiz uma careta, decepcionado. Se o Malcon estivesse por aqui, nós
podíamos distrair a Leighton. Levá-la a algum lugar, eu não sei. — E você?
Vai ficar aqui mesmo?
Dei de ombros, sem saber exatamente o que fazer.
— Esse sempre foi o plano.
— Planos mudam, cara. Às vezes, para melhor. — Deu um tapa em
meus ombros, e eu poderia jurar que Malcon conseguia ler a minha mente em
muitos momentos. — Eu vou pegar a porra do seu dinheiro. Você fica aí fora
antes que seja expulso e não tenha mais como pagar o caralho da faculdade,
seu filho da puta — falou, parecendo divertido e voltando pra dentro.
Um vento gelado bateu um meu rosto. Ainda estava com raiva, mas
me sentia um pouco melhor.
E se o Malcon e a senhora Hughes estivessem certos?
E se eu gostasse realmente dela?
Soltei o ar percebendo que eu precisava vê-la. Era um desejo urgente.
Forte demais para ser ignorado.
Eu precisava vê-la da mesma maneira que o planeta precisava que a
Terra girasse e distribuísse o Sol para cada canto do mundo.
E eu não podia esperar um minuto a mais por isso.
Capítulo 40

Meu corpo reclamou com o som de batidas firmes.


Apertei os olhos com mais força.
Eu não queria acordar. Meu corpo estava cansado, minha mente
estava exausta. Os últimos dois dias foram emocionalmente desgastantes
demais para mim.
Chiara resmungou alguma coisa, e eu conseguia ouvir o ronco de
Madison que dividia a cama com a Chi.
Ouvi a voz de Andrew me chamando e meu corpo pareceu acordar de
vez. Abri os olhos, piscando no escuro. Meu celular vibrou em algum lugar
na cama e eu tateei o espaço até que meus dedos conseguissem agarrar o
aparelho. Com os olhos semicerrados analisei a tela.
O nome de Andrew brilhava enorme.
Preocupada, apertei o botão verde.
— Oi — falei baixo, tentando não acordar as meninas.
— Abre a porta pra mim — pediu, desligando a chamada.
Com minha mente ainda confusa, saí da cama indo até a porta do meu
quarto lutando contra a certeza de que aquela ligação tinha sido um sonho.
Eu adormeci nos braços de Andrew mais cedo, quando lhe contei toda
a verdade sobre o passado. As meninas estavam certas, ele iria descobrir e
seria muito melhor que ele soubesse por mim da maneira correta. Não através
de James, manipulando as informações.
Quando acordei, estava sozinha na cama. Chiara disse que Andrew
havia sido muito explicito em dizer que ela não devia tirar os olhos de mim, e
que estava com medo até de ir ao banheiro. Achei fofo, mas também fiquei
triste por não tê-lo comigo ao acordar.
Madison veio para cá trazendo comida e filmes para vermos juntas. E
essa era uma das coisas que eu mais gostava em minhas amigas, elas estavam
comigo para tudo. Para qualquer coisa.
Toquei a maçaneta fria, sentindo meu corpo se arrepiar e, ao abrir a
porta, me surpreendi com o fato de que ele realmente estava ali.
— Ei, Afrodite — falou, sorrindo.
Meu coração parou um pouco com a imagem de Andrew ali, parado.
Eu abri a boca para responder, mas à medida que meus olhos se adaptavam à
pouca luz vinda do corredor, consegui ver os machucados por seu rosto.
— Meu Deus, você está bem? — perguntei, sentindo meus olhos se
arregalarem.
Dei um passo à frente, tentando tocar seu rosto.
— Eu tô bem. — Andrew tentou dar um sorriso, mas acabou fazendo
uma careta ao sentir dor.
Meu coração parou por alguns segundos.
— Andrew, me diz que você não...
— Não — garantiu, segurando minhas mãos. — Eu estava no casarão.
te disse que não faria nada, e não vou. Não ainda. Não até você se sentir bem.
E então, Afrodite, eu juro por Deus que eu vou arrancar dente por dente
daquele filho da puta. Mas eu precisava colocar pra fora aquilo que estava
sentindo.
Encarei-o por alguns segundos sentindo uma repentina paz. Eu me
sentia bem quando o Andrew estava por perto.
— Obrigada — falei. — Por hoje. Por ter estado aqui. Por ter me
ouvido.
Ele balançou a cabeça em negativa.
— Eu vou estar aqui sempre, Afrodite. — Andrew prendeu as mãos
em minha cintura puxando meu corpo para perto do seu. — Desculpa te
acordar, mas eu precisava te ver. Tinha que ter certeza de que você estava
bem.
Fechei os olhos me aconchegando em seu abraço.
Era bom. O abraço do Andrew aquecia e acalmava. Eu gostava da
sensação de sentir seu peito batendo contra o meu.
Era muito bom.
— Como você conseguiu entrar? — perguntei, ainda aconchegada a
ele.
— Você precisa entender que não existe nada que um Davis não
consiga quando ele quer. — Sorri, contra seu corpo. — E não existia outro
lugar que eu quisesse estar, senão aqui com você — suspirei quando seus
lábios roçaram em meus cabelos. — Fiz uma troca de favores. Arrumei um
encontro para meu irmão.
Franzi o cenho para ele.
— Você vai ser cafetão agora? — brinquei, sentindo meu sorriso se
alargar, achando graça da situação.
— As coisas que eu não faço por você, Afrodite. — Ele riu também, e
o ar quente de sua respiração resvalou em minha pele quando olhei um pouco
para cima. — Não que o Ben vá se importar, mas nunca pensei que doaria
meu irmão assim.
— Eu me importaria se fosse ele.
— Leighton, você literalmente me abordou e disse que eu ia namorar
você. — O tom em sua voz era bem-humorado.
Dei de ombros.
— Acho que fui a cafetina dos dois, então. — Andrew riu, suspirando
em seguida. — Já tem que ir?
Ele assentiu, sem fala nada.
— A menos que você me deixe ficar aqui essa noite. — pediu. O
queixo repousado no topo da minha cabeça. — Por favor, me deixa ficar aqui
com você. Posso ir embora amanhã cedo antes da Chiara acordar. — Soltei
um suspiro. Parte de mim estava contente com o pedido. Por saber que ele se
preocupava de verdade comigo. — Eu só preciso me certificar de que você
está bem.
Mordi os lábios, pensando se isso seria uma boa ideia. Eu não queria
que ele fosse, mas não seria legal com as meninas ter um estranho no quarto
acordando com ela. E se ele fosse pego aqui, seria um enorme problema.
— Juro que ninguém vai brigar com você — falou, como se tivesse
lido meus pensamentos. — E posso dizer às suas amigas que arrombei a porta
e me enfiei debaixo de seus lençóis. Eu juro que tomei banho no casarão
depois da luta se isso te preocupar.
Ri.
Talvez as meninas não se importassem tanto assim. E, no fim das
contas, eu gostei de ter alguém que estava disposto a arcar com
consequências das quais nem fazia ideia por mim.
— Agora que você explicou que já tomou banho, posso considerar a
proposta — falei, sentindo suas mãos subindo e descendo em uma caricia
gostosa nas minhas costas. — Tá bom — falei, baixinho, depois de alguns
segundos de silêncio.
Andrew beijou o topo da minha cabeça, e eu seguirei sua mão
enquanto entrávamos. Ouvi quando ele soltou um palavrão quando bateu o
dedo no pé da minha cama e eu ri. Nós nos aconchegamos. Ele me puxou
para cima de seu corpo, uma das mãos circundando minha cintura e a outra
fazendo um cafuné gostoso.
— Como você está? — perguntou, depois de um tempo em silêncio.
— Pensei que não ia mais te ver hoje — ignorei a pergunta, fazendo
círculos com meu indicador em seu braço.
Não podia ver, mas senti quando ele balançou a cabeça em negativa.
— Foi difícil pra mim ouvir tudo que aconteceu com você e não poder
fazer nada. — Andrew deu um suspiro. — Eu precisava fazer alguma coisa.
Precisava colocar a raiva que estava sentindo pra fora. Caso contrário, eu
teria feito uma besteira, e eu não quero fazer nada que te prejudique. Nada
que você não queira.
Assenti, em silêncio, continuando os círculos em seus braços.
— Mais alguém sabe? — ele perguntou, depois de um tempo.
— Aqui, as meninas. O professor de Rogers, ele sabe que tem alguma
coisa de errado, mas não exatamente o quê... Nunca contei pra ele. E o Ab,
meu amigo. Ele foi a primeira pessoa para quem eu contei. Nos conhecemos
na escola, logo depois que eu me mudei.
Andrew ficou em silêncio, mas dessa vez a mente parecia estar
distante, como se pensasse em algo.
— Eu jogava hóquei — ele falou, de repente.
Apoiei um pouco do peso do corpo sobre meu cotovelo,
pressionando-o na cama.
— Por isso você patina bem — comentei. Andrew bateu com o
indicador em meu nariz, como uma confirmação. — Por que parou?
— Eu era o melhor do time, o capitão. O treinador apostou muito em
mim — ele suspirou. — Naquela época, minha mãe já havia nos deixado, eu
estava me virando em mil, mas ainda assim eu dava tudo de mim no hóquei.
Era... meu momento de paz. Quando eu realmente fazia algo que amava por
mim. Ele ficava tão bêbado a maior parte do tempo, que nem devia mais
saber quem era. Nós tínhamos um jogo importante naquele dia, a escola
levou alguns dos alunos para a torcida e eu fiz questão que Benjamin e
Jackson estivessem presentes. Olívia ainda se preocupava com ele. Ela tinha
pena e tentava ajudar no que fosse possível. Decidiu não ir para garantir que
ele não fosse, sei lá, tropeçar e quebrar o pescoço quando tentasse subir a
escada.
— Ela parece ser uma boa menina. — Sorri para ele.
Andrew alargou um sorriso no rosto.
— Um dia, quando vocês se conhecerem, vai ver que Olívia é
qualquer coisa, menos uma boa menina.
— Coitada. — Rolei os olhos. — Tenho certeza de que você está
exagerando.
— Vou aguardar pelo momento em que você dirá que eu tenho razão.
— Ele piscou para mim. — Naquele jogo em específico, ele bebeu muito e
Oly não conseguia fazê-lo acordar. Ele estava se sufocando no vômito. Minha
irmã não conseguia falar com os meninos, então ela me ligou, desesperada.
Eu nunca desligava o celular por causa dela. — Andrew ficou em silêncio por
um tempo com os olhos flamejando de raiva. — Eu abandonei a equipe e
voltei para casa mesmo sabendo que aquilo foderia a minha vida. Que ele
foderia a minha vida outra vez. Meu técnico ficou tão puto por termos
perdido que me tirou da equipe. Como o destino me odeia, o filho da puta se
tornou técnico da Walker, e por isso eu não ganhei uma bolsa de hóquei para
jogar pela Walker. Ele é o atual técnico da equipe e me odeia.
Andrew soltou o ar pelo nariz, como uma risada abafada.
— Eu entendo o que você quis dizer com as pessoas que deviam nos
proteger acabarem nos ferrando. Ele tirou tudo que eu amava. Eu perdi minha
mãe, minha família, o hóquei, a minha vida tendo que fazer algo que era o
seu papel. A sua responsabilidade. — Era triste saber que ele me entendia o
suficiente por já ter vivido situações difíceis na vida, mas era reconfortante ao
mesmo tempo que ele conseguisse compreender o que eu sentia. — Eu não ia
voltar. Eu pensei em deixá-lo lá morrendo, do jeito que havia escolhido. Mas
não podia fazer aquilo com a Oly. Também não podia permitir que nos
separassem. Acabaríamos em um abrigo, longe uns dos outros. Não podia
arriscar também saber o que poderia acontecer conosco. Ainda não tinha
idade para adotá-los. Não conseguiria ficar longe deles. Eu mantinha meus
irmãos, mas eles quem faziam com que eu tivesse um foco. Se eu os
perdesse, não sabia o que seria de mim.
— Então você voltou. — Andrew assentiu.
— Você acha que fez uma coisa ruim quando não contou o que
aconteceu com você, mas eu desejei, mais do que tudo, que ele tivesse
morrido. Eu odiei Deus por muito tempo. Quer dizer, porque Ele levou a
minha mãe e deixou alguém incapaz de pensar em alguém além de si
mesmo.
— Mas você voltou. — Dei um breve sorriso para ele.
— Por meus irmãos — ele falou. — Por meus irmãos eu faria
qualquer coisa, Leighton. Se eu não os tivesse, se as consequências fossem
apenas para mim, eu não teria voltado. Eu o teria deixado morrer.
— Não importa o motivo. — Balancei a cabeça em negativa. — Você
voltou. Você pode achar que não, que isso te torna uma pessoa ruim, mas é
uma pessoa boa. E pessoas boas também têm momentos ruins.
— Acho que você vê mais qualidades em mim do que de fato eu
tenho — ele falou em um tom divertido, mas não parecia estar brincando.
— Você pode ser meu namorado de mentira, mas é meu amigo de
verdade. Sou mais habilitada para defender suas qualidades que você mesmo
— falei, soltando um bocejo.
Andrew beijou o topo da minha cabeça.
— Você precisa dormir, Afrodite. Amanhã vai ser um novo dia.
— E você ainda vai estar comigo.
Sorri.
— Vou estar com você até que você me peça para ir.
Eu queria dizer que não pediria isso. Que gostava de estar com ele.
Mas o dia tinha sido exaustivo e o cansaço me venceu. Mas senti meu
coração aquecer quando Andrew beijou minha testa uma última vez.
— Talvez até depois disso.
Ouvi quando ele falou e, em seguida, meu corpo relaxou de vez.

— Tem certeza de que não quer vir comigo? — Madison perguntou


pela milésima vez, me encarando com um ar preocupado.
Eu ainda estava deitada na cama, coberta até o pescoço e inspirando o
cheiro do Andrew que havia saído só há poucos minutos antes das garotas
terem acordado. Os pais da Chiara tinham ido buscá-la há alguns minutos.
Ela me deu mil recomendações antes de partir sobre como eu devia me cuidar
e ligar para elas, caso acontecesse qualquer coisa, e desceu o mais rápido
possível. Disse que não queria que eles subissem.
— Tenho. Eu vou ficar bem, prometo.
Mad soltou o ar com força, como se não acreditasse.
— Eu ficaria com você se pudesse, você sabe — assenti. — Mas
minha mãe cortaria a minha mesada se eu não comparecer a esse evento
beneficente.
— E o que seria de você sem comprar bolsas da Prada.
— Sendo filha da minha mãe, precisei desenvolver hobbies. Era isso
ou a tomar remédios controlados pro resto da vida.
Eu ri, mas na verdade, ficava preocupada com ela. Eu queria saber
mais sobre sua vida para ajudá-la, mas também sabia que as pessoas
precisavam de tempo para se sentirem seguras o bastante antes de mostrar
suas fraquezas.
— Eu queria que você viesse comigo — falou, dando um enorme
sorriso. O que a deixava ainda mais bonita e erguendo a mão para que eu
levantasse para um abraço.
— Com certeza eu me sentiria deslocada vivendo a vida de um rico
por um dia. — Mad me deu língua, antes de jogar os braços ao meu redor.
— Qualquer coisa, só me ligar que eu venho voando. — Apertou-me
ainda mais em seu abraço.
— Tenho certeza de que você conseguiria um avião particular para
chegar aqui rápido.
— Gostaria de dizer que não, mas sim. — Mad franziu o rosto, como
se fosse culpada.
— Vai lá, garota — falei, dando um tapinha em sua bunda. — Vou
ficar bem, eu prometo.
Seu celular tocou ao mesmo tempo que ouvimos batidas na porta.
— O motorista chegou. — Mad rolou os olhos. — Mamãe adora me
fazer passar vergonha.
Caminhamos até a porta, mas a surpresa quando a abrimos e
encontramos Andrew parado. Ele sorriu para mim, não um dos sorrisos que
ele dava quando achava graça de algo, mas parecia um pouco nervoso pela
postura quase travada.
— Arruma as malas, Leighton. Nós vamos viajar.
Capítulo 41

Existem coisas na vida que nunca imaginamos que faríamos.


Por exemplo, quando eu era criança, acreditava que o meu futuro seria
no rinque, mas em um jogo de hóquei. Nunca achei que teria que aprender a
lutar para que pudesse nos manter. E aqui estava eu, um dos melhores
lutadores clandestinos que as pessoas conheciam.
Também nunca havia imaginado que em algum momento da vida
estaria aqui, de volta à nossa pequena cidade. Ao lugar que fodeu com a
minha vida.
Mas aqui estava eu.
Por ela.
Porque, aparentemente, negar-me a transar com ela não era punição o
bastante. Eu queria que Leighton tivesse tudo, e eu sabia que ela precisava
disso. De distância. De normalidade. Ela nem imaginava a bagunça que a
esperava quando nós quatro estivéssemos juntos, dentro das paredes de um
mesmo lugar.
Trinquei os dentes com força ao parar o carro na entrada da casa. Era
a mesma, mas havia mudado tanto.
A viagem durou algumas horas e já era fim de tarde quando
chegamos. Eu havia alugado um carro para facilitar a locomoção. Meus
músculos estavam todos travados. Não sabia o que esperar ou qual lembrança
me atingiria. E agora, tão perto, eu desejava não ter concordado em fazer
isso. Queria voltar.
Perguntei a Olívia, pelo menos cem vezes, se ele não estaria aqui
mesmo. Ela já havia garantido um milhão de vezes que não.
Mas ainda assim eu conseguia ver as imagens passando por minha
mente como um déjà vu. Nossa mãe brincando conosco no balanço de
madeira que havia feito para nós. Ele chegando do trabalho e dando um beijo
apaixonado nela. Nossa alegria ao vê-los juntos. Nós seis sentados ao redor
da mesa contando sobre como tínhamos passado os dias.
Fechei os olhos com força me concentrando em qualquer coisa que
me fizesse focar no agora, não no passado.
Leighton estava sentada ao meu lado, ela sorriu para mim. Eu já a
conhecia por tempo suficiente para saber o que aquele sorriso significava: Eu
estou aqui com você, Andrew. Retribuí com um pequeno gesto de cabeça. Ela
sabia que era a minha forma de agradecer.
Jackson e Benjamin foram ótimos companheiros de viagem. Eles me
envergonharam, contando a Leighton histórias sobre quando nós éramos
crianças. Claro que durante a maior parte do tempo eu precisava corrigi-los.
Os garotos aumentavam as histórias. Era a primeira vez em que
compartilhávamos, juntos, histórias que envolviam a mamãe. Talvez
sentíssemos que voltar estivesse fazendo com que boas lembranças também
nos assolassem.
Eu ria algumas vezes e falei menos do que falaria em geral. Talvez eu
tenha sido o mais parecido comigo mesmo, desde então.
Assim que o motor do carro foi desligado, soltei um suspiro alto
demais. Senti os dedos de Leighton sobre a minha mão e eu dei um pequeno
sorriso, voltando a encarar a casa.
Eu sempre tinha gostado de nossa casa. Ela era bonita. As madeiras
eram um tom de verde-musgo com pilastras brancas, mas estava descascando
em alguns pontos, como se não houvesse retoques há bastante tempo. As
janelas de vidro estavam tanto no andar inferior, quanto no primeiro andar.
As mesmas janelas nas quais mamãe acenava para nós sorrindo quando
voltávamos da escola. Pelas quais eu pude observar meus irmãos enquanto
voltava do trabalho.
A pequena área verde onde fizemos tantos piqueniques. Eram
lembranças demais naquela casa.
Vi quando um vulto passou pela janela principal da sala. Prestando
atenção na imagem, vi quando Olivia deu um enorme sorriso desaparecendo
em seguida. Com certeza indo até a porta para nos receber.
Soltei um suspiro alto demais, o que fez com que Leighton me
olhasse.
— Ainda podemos voltar, se quiser. — Ela deu um sorriso, pondo a
mão sobre a minha. Neguei, balançando a cabeça.
— Vamos — falei, abrindo a porta e indicando que ela devia sair.
Jackson e Ben ainda estavam do lado de fora, parados ao lado do
quarto, nos aguardando.
— Vocês chegaram — a voz da garota soou ainda longe.
Ela tinha acabado de passar pela porta com um sorriso radiante lhe
cortando a face. A mesma expressão de felicidade em seu rosto que eu vi
quando lhe trouxe aqueles chocolates anos atrás e eu jurei a mim mesmo que
faria de tudo para que minha irmã estivesse sempre feliz.
Eu sorri.
Sentia falta disso todos os dias. Apesar de ser irritante, petulante e
cabeça dura, eu amava aquela garota.
Assim que estava perto o bastante e sem nem ao menos notar a
presença de Leighton, Oly se jogou nos braços de Jackson que a segurou com
firmeza. Os dois levaram uns tempos abraçados, como se tivessem anos sem
se ver. Quando abriu os olhos, assustou-se ao perceber Leighton, um pouco
atrás dele.
— Ai, meu Deus! Você trouxe uma namorada! — Afastou-se de
Jackson, aproximando-se da Leigh. — Eu sabia que Jackson seria o primeiro
de vocês a perceber que ele era um homem decente e que não precisava enfiar
o pau em qualquer coisa se que move.
Benjamin riu, achando graça. Oly a agarrou em um abraço forte
demais, e Leighton pareceu sem saber o que fazer. Jackson abriu a boca para
corrigi-la, levou uma reprimenda do Ben.
— Bem-vinda à família — falou ainda abraçada a ela. — Tenho
certeza de que seremos boas amigas já que enfim um dos meus irmãos fez
algo que preste.
Olivia a soltou, afastando um pouco os corpos e analisando Leighton.
— Obrigada — Afrodite respondeu, sorrindo sem graça. — Mas acho
que você fez uma pequena confusão.
— Uma enorme confusão — falei, aproximando-me e erguendo a
mão para Afrodite, que a aceitou, entrelaçando nossos dedos. O sorriso de
Olívia morreu no rosto ao notar que na verdade, eu era o namorado. — O
melhor irmão trouxe a sua nova grande amiga.
— Você está namorando com o Andrew? — a descrença em sua voz
era palpável.
Dei de ombros.
— Tem coisas na vida que a gente não escolhe, simplesmente
acontece — brincou, me olhando com os olhos.
— Você era a minha grande aposta, Jackson. Não acredito que o
Andrew arrumou uma namorada antes de vocês. — falou, decepcionada,
olhando para Jackson.
— Não é por falta de opção. — Jackson deu de ombros. — Só não é a
hora ainda.
Ela ergueu a mão balançando a cabeça em negativa, descrente.
— Vem aqui. — Puxei-a para um abraço, apertando-a contra meu
corpo o máximo que eu pude. Olívia pareceu ficar surpresa inicialmente, mas
não demorou a reagir. Os braços me envolveram com força também, e ela
pareceu gostar do contato. — Você está bem? — quis saber. A voz ainda
abafada por causa do contato com o seu ombro onde minha cabeça estava.
— Melhor agora — assumiu. — Fiquei surpresa por você vir, mas
feliz. Obrigada por fazer isso por mim.
Não tinha sido por ela, mas também estava repentinamente aliviado
por estar aqui. Por perceber que eu estava mesmo com saudade.
— Espero que você planeje nos alimentar bem — brinquei, afastando-
me dela um pouco. — Agora vem aqui, quero te apresentar minha namorada.
Puxei Leighton para perto, passando o braço por seu ombro.
— Oly, essa é a Leighton. Afrodite, minha irmã. Eu te disse que ela é
difícil e você já teve uma pequena amostra gratuita.
Olivia rolou os olhos.
— Ele só está implicando — falou, passando o braço pelo da Afrodite
e começando a puxá-la. — Sou maravilhosa. E para você estar namorando
com esse cabeça-dura, já a admiro completamente. Vem, vou te mostrar a
casa.
Leighton me olhou como se quisesse ter certeza de que ela podia ir e
que eu ficaria bem. Assenti. Fiquei parado observando a maneira animada
como Olívia conversava com Leigh enquanto a arrastava pela porta adentro.
— Parece que a Oly vai querer a atenção exclusiva da sua namorada.
— Ben deu um tapinha em meu ombro, passando à minha frente e
começando a subir as escadas que a levavam para dentro.
Eu esperava que ele estivesse certo. Leighton precisava de distração, e
ninguém melhor que a nossa irmã mais nova para essa função.

— Então é aqui que você dormia? — Leighton perguntou, entrando


no cômodo, mas encostando o corpo na parede próxima à porta, o que
permitia que ela ficasse de frente para mim.
Assenti.
Eu estava sentado em minha cama girando entre os dedos o meu
primeiro disco de hóquei.
Havia anos que eu não entrava naquele lugar e tudo ainda permanecia
igual. Com certeza Oly tinha bastante trabalho para mantê-los limpos e
intocados. Se isso fosse possível, eu teria amado ainda mais a minha irmã.
— Não me diga que você queria ser um garoto Harvard. — Fez uma
careta ao olhar a decoração com os elementos da universidade vermelha.
— Era meu sonho. Hóquei em Harvard. — Dei um tapa no espaço
vago ao meu lado na cama para que ela sentasse. — Eu passei. Cheguei perto
de realizar meu maior sonho.
Leighton franziu a testa, como se não compreendesse o que
aconteceu.
— Não podia deixá-los aqui. Benjamin não teria conseguido lidar
com a pressão. Escolhi esperar um ano e ir com ele. Sabia que não teria outra
chance lá, mas esperava uma bolsa para outro lugar. O que não aconteceu.
— Se arrepende? — ela quis saber, me olhando com curiosidade.
— Não. Eu sei que minha vida podia ter sido diferente, mas não.
— Gosto disso em você — Leighton falou, encostando a cabeça em
meu ombro. — Você ama sua família e está sempre disposto a tudo por eles.
Leighton segurou minha mão entrelaçando nossos dedos em seguida.
Meu coração pareceu bater diferente.
Fechei os olhos aproveitando a tranquilidade do momento.
— Andrew — falou, acariciando meus dedos. — Obrigada por vir
aqui comigo. Sei que era o último lugar em que queria estar. E também quero
que saiba que estarei aqui por você, sempre que precisar.
Sorri um pouco.
Acho que essa, desde que havia perdido minha mãe, era a primeira
vez em que me sentia confortável com isso. Em que eu queria isso.
Saber que eu podia contar com alguém.

— Você não pode contar isso a ela — Benjamin reclamou com Olívia
quando ela começou uma de nossas constrangedoras histórias de família.
Estávamos sentados à mesa do jantar e eu precisava confessar que
Olívia me havia surpreendido. Quase toda a comida estava pronta quando
chegamos e passamos um tempo na cozinha dando os toques finais no jantar.
— Cala a boca, Ben. — Oly rolou os olhos, ignorando-o. — E ai, o
idiota resolveu que seria inteligente aceitar o desafio e beber uma garrafa de
pimenta. Bom, ele conseguiu pelo menos por cinco segundos antes de
começar a chorar e beber toda a água que caía da torneira como se fosse um
cachorrinho com sede.
— Você é a pior irmã do mundo. — Ben apontou o garfo na direção
da Oly. — E eu bebi por muito mais tempo que você conseguiria.
— Na verdade, não — Jackson interrompeu, dando mais uma garfada
na comida e concluindo a explicação com a boca cheia. — Ela bebeu por sete
segundos e meio.
Deu de ombros.
Todos nós olhamos para Olívia que sorriu.
— Eu também tenho minha cota de idiotice. E você sabe que tudo que
vocês são capazes de fazer, eu faço ainda melhor e de salto alto.
Olívia piscou para Benjamin que mostrou o dedo do meio.
— Parem crianças, temos convidados. — Usei um tom divertido, o
que fez com que Benjamin erguesse o dedo do meio em minha direção. —
Não me envergonhem na frente da minha garota.
— Eu estou adorando — Leigh se intrometeu, fazendo com que
Olívia erguesse uma sobrancelha em minha direção. — Você é o único velho
chato dessa mesa, Andrew.
Todos riram, e eu fiquei feliz por estar ali.
Finalmente meu corpo começava a relaxar. Olívia estava certa, ele
não voltou. Com certeza dormiria em qualquer lugar onde pudesse encontrar
garrafas de qualquer coisa que pudesse beber e amanhã cedo, quando
fôssemos embora, minha vida estaria igual, mas um pouco melhor por ter
conseguido fazer minha irmã feliz.
Como se soubesse o que eu pensava a seu respeito, Olivia riu. E eu
me lembrei sobre o que havia dito mais cedo, quando cada um de nós falou
sobre o motivo de sermos gratos, antes de comer.
“Sou grata por ter todos vocês aqui. Nunca vou esquecer que fez isso
por mim, Andrew. Obrigada.”
Valia a pena.
Cada sacrifício, cada vez em que pensei que Olívia me deixaria louco,
cada momento de insegurança que eu tive no caminho para cá. Tudo tinha
valido a pena. Por meus irmãos.
Sorri, observando-os conversar ao redor da mesa. Leighton estava tão
à vontade e feliz que eu sentia que havia feito a coisa certa.
Ela estava linda.
Usava um vestido verde de alças finas, o decote em v destacava os
seios firmes e ficava mais justo na cintura, emoldurando o corpo
incrivelmente sexy. Perfeita seria pouco para descrevê-la. Eu queria, mais do
que qualquer outra coisa, tirar aquela peça absurdamente provocante e beijar
aquele corpo inteiro. Queria transar com ela.
Não.
Não era isso.
Eu queria algo mais especial.
Queria uma noite languida, dando a Leighton tudo que ela merecia.
Eu queria alguma coisa completamente diferente.
— Você não precisa comer sua namorada com os olhos assim,
Andrew. — Olívia pôs a taça com vinho em frente aos lábios tentando
reprimir o sorriso descarado que estava em seus lábios.
Abri a boca para falar alguma coisa, mas senti meu corpo retesando
quando ouvi o som de alguém tentando enfiar uma chave na porta.
Os olhos de Olívia, arregalados e assustados, foram parar em meu
rosto. Ela não disse nada, mas havia ali um pedido mudo de desculpas.
O silêncio foi a única coisa que restou na mesa.
Todos me encaravam como se esperassem a minha reação para
saberem o que fazer.
A porta foi aberta e a cantoria irritante e arrastada começou.
Ele tentava acertar a letra de uma canção antiga, mas as palavras se
embolavam tanto que era impossível entender alguma coisa que dizia.
— Ah, que alegria. — Abriu os braços como se estivesse feliz ao nos
ver, e quisesse o abraço que costumávamos dar quando ele voltava do
trabalho. Mas isso era em outra vida. — Venham, crianças. Não fiquem
tímidas, o papai chegou!
— Pai, o que você está fazendo aqui? — Olivia perguntou, com
cuidado, pondo a taça que ainda segurava na mesa.
— Aqui ainda é minha casa, Olizinha. — O uso do seu antigo apelido
infantil me deixou enjoado. Ele não tinha direito de usar aquela palavra.
Não o homem que ele havia se tornado.
— Pai — Olivia começou, mas ele fez um gesto mostrando que ela
devia ficar quieta.
— Todos os meus filhos reunidos em um único lugar. — Ele começou
a rir, como se houvesse uma coisa de muito engraçado nisso. Apertei minhas
mãos com força. — Há quanto tempo isso não acontece. Há quanto tempo.
Vamos jantar todos juntos, como antigamente?
Mais uma vez, tentou andar.
— Meus meninos. Vamos jantar, afinal, hoje é dia de graças, não é?
Deu um passo à frente, trombando em seus próprios pés. Oly quase
saiu correndo ao perceber para ajudá-lo, mas parou ao notar que conseguiu
recuperar o equilíbrio. Ele caminhou até quase estar próximo à mesa.
— Hoje é dia de graças — suspirou. — E vocês não me esperaram
para o jantar. — A expressão confusa e olhar perdido deixavam a cena ainda
mais patética.
Eu sentia que meu coração podia explodir de ódio. Olhei para
Benjamin que acompanhava a cena como se estivesse atento a nós dois, com
medo do que poderia acontecer. Jackson mantinha os olhos em Olívia. Seria
sempre ela quem ele socorreria primeiro, e eu ficava feliz por isso.
Leighton tinha uma expressão séria no rosto.
Sem olhar em minha direção, ela pôs a mão sobre a minha com
cuidado. O calor que irradiava da sua pele, de alguma maneira me acalmou
um pouco. Inspirei fundo, soltando o ar com força. Eu não podia perder a
cabeça.
— Meus meninos. Como estão enormes. Como estão enormes meus
meninos ingratos. — Ele arrastou uma cadeira, sentando-se na outra
cabeceira, bem de frente para mim.
Ele estava exatamente como eu me lembrava. Sujo e fedorento.
A camisa que antes era branca estava preta. Em lugares havia
manchas amarelas como se ele tivesse vomitado nele mesmo e a roupa
tivesse secado assim.
O rosto inchado e olhos desfocados. Não havia ganhado muito peso,
mas a barriga saltava para fora mesmo com o cinto apertado sobre a cintura.
Ódio.
Senti novamente ele correr pelas minhas veias.
Trinquei os dentes sentindo minha respiração ficar irregular.
Lembrando-me de quantas vezes nossos jantares foram regados de
momentos constrangedores. De quantas vezes fomos impedidos de trazer
amigos em casa com medo do que ele pudesse fazer.
E agora, aqui estava Leighton, a primeira garota que eu quis que
conhecesse a melhor parte de mim, os meus irmãos, e esse filho da puta
conseguia destruir isso.
Eu estava cansado dele destruir todas as coisas que importavam para
mim deixando-me com a responsabilidade de consertá-las depois.
Olhei para Olívia.
— Pai — Olívia falou, levantando-se. O olhar fixo no dele. — O que
está fazendo aqui? Eu pedi para não voltar hoje, lembra?
Ele riu outra vez.
— Eu não vou deixar de vir para a minha casa porque um desses
ingratos não me quer aqui, Olívia. Não vou me tornar motivo de risada pros
meus amigos. As pessoas vão ficar rindo de mim por ter que sair para que os
principezinhos de merda possam ficar. Esses filhos da puta só existem por
minha causa, eles têm um teto em cima da cabeça deles por minha causa.
Essa casa que eu comprei com sua mãe só existe por minha causa. Então, eu
não vou ficar me escondendo como a porra de um rato imundo. — Ele olhou
para o espaço vazio à sua frente. — Onde está o meu prato, Olívia? Traga um
prato para mim.
Oly ia sair da mesa, mas Jackson a impediu segurando seu braço.
— Ela não é sua empregada. Quer um prato, vá buscar você. Isso é, se
conseguir ficar de pé — falei.
— Andrew — Olivia chamou, tentando evitar a briga que se seguiria.
Ela sabia disso.
Desde o momento em que soubemos que ele estava ali.
— Você vai obedecer a esse sujeito, Olívia? — Apesar de falar com a
minha irmã, seus olhos estavam em mim. — Ele foi embora, ele nos
abandonou. Eu sou seu pai. Eu estou aqui com você. Eu estou aqui.
Ben me olhou com uma expressão que provava que estava pensando o
mesmo que eu. Ele, além de bêbado, não estava falando coisa com coisa.
Repetia as últimas palavras, como se estivesse em algum transe.
— Pai, por favor. — Apesar do tom firme, eu conhecia minha irmã o
suficiente.
— Todos eles foram embora, Olívia. — Repetiu, falando devagar. —
E eu não vou sair da minha casa, por causa desse filho da puta que se acha
melhor que eu. — Riu pelo nariz. — Essa é a porra da minha casa. Minha.
Minha casa.
— Pai... — Oly tentou se aproximar pondo a mão em seus ombros.
— Eu já disse, se eles não querem me ver, não venham à minha casa.
Minha casa. — Bateu a mão na mesa, gritando as últimas palavras, o que fez
com que a minha irmã se encolhesse um pouco.
Jackson levantou em um impulso e Olívia balançou a cabeça em
negativa. Ela estava determinada a fazer com que a noite não acabasse da pior
forma possível.
— Tá, eu vou te ajudar, então — falou, com a voz tranquila, voltando
a colocar as mãos em seus ombros. Vou te levar pro seu quarto e o senhor
dorme lá.
— Eu não vou sair daqui. — Bateu na mesa outra vez. Senti quando a
mão de Leighton apertou a minha um pouco mais. — Não vou sair da minha
casa. Não vou para o meu quarto como a porra de uma criança de castigo por
causa desse merdinha. Se algum dos seus irmãos não quiserem me ver, não
quiserem ver o homem dessa casa, eles podem ir. Eles podem ir.
— Você não pode se considerar o homem da casa só por ter
participação em ter nos colocado no mundo. O Andrew é o homem da casa.
Foi ele quem garantiu que todos nós estivéssemos bem.
Dei um pequeno sorriso em agradecimento a Jackson.
— O quê? — perguntou erguendo um pouco o rosto. — Você está
vendo, Olívia? Ele se acha melhor que eu, melhor que eu. Mas ele não é. Ele
nunca vai ser melhor do que eu! Só porque ele acha que estuda em uma
faculdade de gente bacana é melhor que eu? Você não é nada, Andrew. E
tudo que você é, é por minha causa.
— Tudo que eu sou, é apesar do senhor — falei, mantendo a voz
tranquila. Eu estava me controlando por Olívia. Ela não merecia ter a noite
que havia planejado destruída dessa forma. — Apesar de você ter destruído
as nossas vidas, fugido da sua responsabilidade e deixado quatro crianças
sem nenhuma perspectiva. Tudo que eu sou hoje, é apesar de você.
— Você acha mesmo que é um machão, não é? Que só porque
colocou comida nessa casa, é alguma coisa? Eu sou a porra do seu pai. Do pai
de todos vocês. — Ele olhou para cada um dos meus irmãos que ainda
estavam distante dele. Até que os olhos recaíssem em Leighton. Então, ele
sorriu para ela.
— E quem é você? — perguntou.
Os olhos brilhando em diversão.
Minha mandíbula ficou tensa com a pergunta direcionada a ela e
fechei os punhos. Leighton pôs a mão sobre a mim, em um pedido mudo que
eu me acalmasse.
— Uma amiga minha, pai — Oly mentiu. — Os pais viajaram e ela
veio ficar comigo.
Ele riu, negando com um balanço de cabeça.
— Porque você está mentindo pra mim, Olívia? A garota veio no dia
que seus irmãos vieram. Ela é de algum deles, e pela forma como aquele
merdinha está me olhando, ela é a companhia dele.
Leighton apertou outra vez minha mão em um aviso que eu não
deveria fazer nada. Eu já não sabia se podia me controlar.
Ele olhou para Leighton com atenção e minhas mãos se fecharam
mais ainda.
— Você é bonita, sabia? — As mãos de Leighton ficaram geladas ao
notar o interesse dele sobre ela. — Você merece coisa melhor que esse
merdinha. Ele vai foder com a sua vida, como faz com as pessoas que estão
redor dele. Ele vai te abandonar quando você precisar dele.
Ela abriu a boca para responder, mas Olívia interrompeu.
— Pai, para agora — Olívia gritou, frustrada. — Para. Vem comigo,
por favor. Vamos para o seu quarto.
— Eu não vou sair daqui sem comer. Tenho esse direito, Olívia! É a
minha casa! Porque você está do lado dele? O que ele faz por você? Eu sou a
única pessoa que se importa de verdade com você.
— Você é a única pessoa que não se importa com nenhum de nós —
Jackson falou, enfiando mais uma garfada na boca. — O Andrew fez
exatamente tudo que você devia ter feito por nós. Não faz sentindo todo esse
show de coitado de mim, depois de ter fodido as nossas vidas.
— Olha a porra dessa boca, seu moleque mimado. — Alterou o tom
de voz. — Vocês todos me dão desgosto. São todos uns ingratos.
— Você que é um ingrato — Benjamin falou, irritado. — Devia
agradecer pelo teto que tem, pelo Andrew ainda se importar o bastante para
não ter tirado Olívia de casa e te deixado na rua, como você merecia que ele
tivesse feito.
— Então, eu merecia estar na rua? — ele riu. — É um motim? Meus
filhos, todos os meus filhos, se unindo contra mim. Vocês estão querendo que
ela acredite que eu sou um pai ruim, não é? — Ele olhou para Leighton outra
vez. — Eu não sou um pai ruim, eu fiz tudo por eles. Tudo por eles. Mas eles
são uns ingratos. Você está vendo, eles estão dizendo que eu devia morar na
rua. Eles querem tudo para eles.
Eu podia sentir o olhar de Leighton sobre mim, mas continuava
encarando fixamente aquele homem. Olívia apertou os dentes com força e
ele me encarou outra vez sério demais.
— Você tinha obrigação de ficar aqui, de cuidar deles, de mim. — Os
olhos ardiam como chamas intensas. — Você escolheu ir embora. Você é um
filho da puta egoísta. Você tinha mesmo a obrigação de cuidar de tudo. Acha
que a sua mãe ia se orgulhar de você? — Senti meu coração bater mais
rápido.
Mais forte.
Eu podia, por Olívia, aguentar tudo calado. Mas não aquilo.
Ele estava passando de todos os limites.
— Ela não estaria orgulhosa dele, Olivia. — Encarou os olhos de
minha irmã. — Não estaria orgulhosa daquele filho da puta. Da maneira
como ele consegue dinheiro para isso. Eu tenho certeza de que ele vende
drogas. — Riu. — Você acha que ela ia ficar orgulhosa? A sua mãe ia
preferir morrer outra vez a saber que o filho dela se tornou um filho da puta
drogado. A sua mãe teria vergonha de você.
— Não fala dela — gritei, levantando-me tão rápido que a cadeira
tombou para trás, ela se virou na direção de onde eu vinha, e mantinha as
mãos abertas, como se tentasse me manter distante daquele filho da puta que
nem mesmo se aguentava de pé. — Não fala dela seu desgraçado! Ela com
certeza não estaria orgulhosa de mim, mas sabe o que mais? Você acha
mesmo que ela teria orgulho de você? Desse monte de merda que você se
tornou? Eu, pelo menos, fiz tudo o que você devia fazer. Alimentei e cuidei
dessa família enquanto você se tornava esse verme, esse parasita que você é!
Jackson e Benjamin me seguraram por trás, enquanto Olívia estava à
minha frente. As mãos espalmadas em meu peito tentando me fazer voltar
para trás.
— Olha pra você! Quem você pensa que é? Um saco de merda que
passa o dia enchendo a cara — gritei. Eu sabia que meus irmãos estavam
falando comigo, mas meu foco não era nenhum deles. O mundo sumiu e tudo
que eu conseguia ver, era ele. Aquele desgraçado. — Enquanto você estava
lá, esquecendo que tinha quatro crianças que dependiam de você, fui eu quem
estive aqui, fazendo o possível por eles. Por nós. Se não fosse por mim,
estaríamos todos mortos. E essa casa? — Apontei para o teto. — A casa que
você orgulhosamente está dizendo que é sua, sou eu quem paga a porra dessa
casa. Assim que Olívia for embora, você vai pra puta que pariu, porque você
não vai ver dinheiro algum vindo de mim.
— A minha casa — falou, como se estivesse na porra de um transe,
encarando o teto com os olhos tão inexpressivos quanto um peixe morto.
— Desculpa, Olívia. Mas eu não posso com isso — falei, mexendo os
braços para que me soltassem. Dei meia volta não conseguindo enxergar nada
à minha frente e só voltei a respirar quando passei pela porta pegando a chave
do carro que estava no porta-chaves sobre a bancada próxima à porta.
O ar frio da noite bateu em meu rosto ajudando a colocar os
pensamentos em ordem. Eu precisava de um pouco de distância. Precisava da
minha mãe.
Entrei no carro dando partida.
Pelo retrovisor vi quando Leighton chegou ao local de onde havia
acabado de sair. Mas eu não podia arriscar estar com ela agora.
Porque, caralho, a voz dele dizendo que minha mãe não estaria
orgulhosa de mim continuava ecoando em minha mente como a acusação dos
piores crimes. Eu sabia que era verdade. Eu mantinha meus irmãos, o que,
para mim, era mais importante que qualquer coisa.
E eu o odiava ainda mais por me fazer lembrar disso.
Capítulo 42

— Posso fazer alguma coisa para te ajudar? — perguntei a Olívia


assim que passei pela porta.
O clima depois que o Andrew saiu não ficou dos melhores. Olívia
finalmente conseguiu fazer o pai reagir, mas ao invés de ir para o quarto, ele
foi embora, alegando que precisava beber com os amigos. Era como se ele
tivesse voltado apenas para desestabilizar o Andrew e destruir a noite
agradável dos filhos.
— Não — falou, me olhando como se quisesse pedir desculpas.
— Você fez esse jantar maravilhoso, acho que não posso
simplesmente ficar esperando que você limpe tudo. — Ergui uma
sobrancelha para ela.
A garota sorriu, mas um sorriso triste.
— Eu não diria maravilhoso. Está mais para catastrófico. — Ela
balançou a cabeça em negativa com um sorriso no rosto. — Foi burrice a
minha achar que isso pudesse acabar bem de alguma forma. Mas, tudo bem,
aceito a ajuda.
Olívia era muito bonita. Muito mais do que as fotos que havia visto.
Os olhos claros demonstravam uma inocência quase angelical, quando como
no instante em que chegamos e ela ficou feliz ao ver os irmãos, mas também
uma força inacreditável, igual como no momento em que seu pai chegou
causando toda a confusão.
Fui perguntando as coisas que não sabia onde deveria guardar e pondo
os restos na geladeira de forma organizada. Olívia respondia de maneira
quase automática. Depois passei a perguntar sobre sua vida, a escola e seus
amigos enquanto limpávamos a cozinha até que o cheiro de limpeza estivesse
sobrepondo-se ao de gordura das frituras e também do aroma de peru assado.
Quando terminamos de limpar tudo, ela apoiou as mãos na ilha da
cozinha me encarando com curiosidade.
— Você acha que ele está bem? — perguntei, nervosa com a maneira
como ela me encarava.
— O Andrew é capaz de fazer tudo pelas pessoas que ama, em troca,
às vezes você precisa compreender o silêncio dele — assenti. — Eles dois
sempre tiveram uma relação complicada depois que nosso pai ficou daquele
jeito. Depois da morte da mamãe, ele também morreu. E nós nunca
conseguimos trazê-lo de volta.
— Eu sinto muito. Deve ter sido horrível para vocês — falei. — Meus
pais ainda são vivos, mas eu não consigo me imaginar sem algum deles.
Olívia assentiu. A curiosidade ainda estava estampada em seu olhar.
— Não costumo me meter na vida dos meus irmãos, mas eu preciso
perguntar: Vocês dois são sério mesmo? — Meu coração acelerou um pouco.
Como eu podia responder a essa pergunta? O Andrew não estava
comigo por livre e espontânea vontade e eu não queria mentir para ela. A
Olívia realmente ficou feliz comigo aqui, não era justo com ela.
— Eu... Nós estamos nos conhecendo — falei, por fim, depois de
alguns instantes.
— Ele gosta de você. — Olívia sorriu. — O Andrew não é o tipo de
pessoa que gosta de outras pessoas de maneira gratuita. Depois da morte da
mamãe, ele pôs na cabeça que nós éramos sua responsabilidade e esse virou o
foco da sua vida.
Assenti. Não era difícil perceber isso.
— Meu irmão foi muito mais que um irmão — continuou. — Ele
aprendeu a dar alguns pontos para poder ajudar a arrumar minhas roupas
quando eu tinha alguma apresentação da escola, também foi ele quem
comprou meu primeiro absorvente e me ensinou a usá-lo. Foi o Andrew
quem sentou comigo e me explicou sobre como o sexo funcionava, como
usar camisinha e que eu sempre devia usá-la. Depois, ele disse que confiava
em mim e nas minhas escolhas, mas que eu as fizesse com responsabilidade.
O Andrew foi um pai pra mim. Ele esteve presente em todos os momentos
importantes, mesmo quando se mudou. E ele gosta de você.
Meu coração bateu tão forte no peito que eu tinha certeza de que
podiam ouvi-lo da lua.
— Não acho que seja assim — devolvi sem graça.
Meu sangue circulava mais depressa pelo corpo.
— É. Ele não a traria aqui se não fosse. — A forma como ela falava
com convicção me deixou nervosa. Será que era verdade? Será que ele
gostava mesmo de mim? Nós éramos namorados de mentira, amigos de
verdade e será que existia a menor chance de que ele sentisse algo por mim?
— Eu gostei de você. De verdade. Mas, é importante você saber que se
magoar o meu irmão, nós duas teremos algo a resolver. E como você deve
saber, nós Davis, nunca perdemos uma disputa.
— Sim, eu sei — garanti, rindo para ela.
— Então, eu quero saber, Leighton. Você realmente gosta dele? —
Olívia ergueu uma sobrancelha em minha direção.
Será que eu realmente gostava dele?
Eu gostava dele. Essa era uma resposta fácil.
Da maneira como ele cuidava das pessoas e de mim. Eu havia
aprendido a confiar nele. Gostava demais da forma como Andrew me fazia
sentir e da maneira como meu coração batia mais rápido respondendo a ele,
aos seus toques, aos seus sorrisos.
Abri a boca para responder, mas Olívia riu.
— Esquece, não precisa dizer mais nada. Você gosta dele também —
falou, convicta. — Eu fico feliz por isso. O Andrew precisa de alguém como
você. Que conheça ele de verdade, que o veja em suas formas mais
vulneráveis, e que ainda assim deseje ficar.
Sorri para ela sem saber o que dizer.
E de tudo que ela havia me dito, eu tinha certeza de uma coisa, eu
estava disposta a ficar mesmo, nos momentos vulneráveis e também nos
momentos felizes.

— Você está bem? — as palavras saltaram da minha boca assim que


Andrew passou pela porta do quarto.
Ele suspirou, caminhando até mim.
— Desculpa por isso. Eu te trouxe para que você se divertisse um
pouco com uma saudável briga entre irmãos e no fim você acaba no meio do
drama familiar.
— Toda família tem problemas — falei, passando a mão por seu
braço em um carinho preguiçoso. — Você precisava ver em um Natal da
família do meu pai que meu avô apareceu com a amante. Spoiler: Minha avó
estava na festa.
— Sério? — Andrew arregalou os olhos em minha direção.
— Seríssimo. — Fiz uma careta. — Foi um horror.
— Sabe de uma, dei valor a coragem do seu avô — brincou.
— Andrew? — dei um tapa em seu braço, sorrindo.
Fiquei feliz por, mesmo por alguns segundos, ele ter conseguido tirar
da mente aqueles momentos.
— Eu queria voltar para casa ainda hoje, mas não consegui convencer
o Benjamin a entrar no carro. Depois do acidente ele ficou mais difícil com
isso.
— Não tem problema. A Olívia está muito feliz por você ter vindo.
Aposto que acordar cedo e fazer um bom café da manhã para te mimar vai
deixá-la ainda mais feliz.
Ele riu.
— Sério, você também foi encantada por ela? Te disse que minha
irmã era uma pessoa perigosa.
— Também já sei disso. Ela teve uma daquelas conversas de irmã
comigo. Disse que se eu o magoasse, ela arrancaria os meus órgãos internos.
Bem, não com essas palavras, mas eu acho que esse foi o recado. Ela te ama.
— Eu também a amo.
— Você não respondeu à minha pergunta — comentei, passando meu
dedo outra vez por seu braço. — Como você está? Você está sempre
preocupado com todos, mas e você? Eu quero saber como você está.
Andrew balançou a cabeça sem falar nada.
— Eu não sei. — Ele engoliu em seco. — Sendo sincero, eu não me
preocupo com o que eu mesmo sinto há tanto tempo, que eu não sei mais
dizer.
— Você falou uma coisa hoje, enquanto discutia com seu... —
interrompi a frase ao lembrar que ele não gostava que a palavra fosse usada
para representar o pai. — Você disse que a sua mãe não se orgulhava de você
e que sabia disso. — Segurei seu rosto entre minhas mãos. — Você está
errado. A sua mãe teria muito orgulho de você se estivesse aqui, Andrew.
Ele negou, soltando-se e levantando-se em seguida enquanto negava
com um aceno de cabeça.
— Você não sabe como ela era, Leighton. — Andrew parou a alguns
passos de distância, virando-se de frente para mim. — Minha mãe odiava
quando nós brigávamos e detestava violência. Se ela soubesse que eu ganho
dinheiro batendo em pessoas ela...
— Você está errado — falei, levantando-me e parando em sua frente,
segurando seu rosto em minhas mãos outra vez, forçando-o a me encarar. —
Ela continuaria orgulhosa, Andrew. Porque você está dando o seu melhor por
sua família. Por amar eles. Tudo que você fez foi por eles. E sua mãe estaria
muito feliz por saber que, apesar de não poder cuidar de vocês, seus irmãos
tiveram você que de todas as maneiras possíveis, estava aqui por eles.
Ele tentou negar movendo a cabeça outra vez, mas o segurei mais
forte.
— Não importa quantas vezes você negue, essa é a verdade. Você é
incrível. O que você fez por seus irmãos foi incrível, o que você ainda faz. —
A respiração dele parecia relaxar. — Você não é a pessoa ruim que você
pensa, Andrew. Você é incrível. De tantas formas, de tantas maneiras que eu
nunca poderia te fazer entender.
Andrew parecia incomodado com as palavras, como se ele não
conseguisse acreditar naquilo. Como se ele tivesse passado a vida inteira
acreditando que havia perdido parte de quem ele era, dos valores que deveria
ter, que não merecia mais coisas boas.
Isso não era verdade.
— Leighton...
— Você não merece se punir, ou desacreditar disso. Você é o cara
mais confiável do mundo, está sempre pronto para defender quem você ama,
você é paciente, mesmo quando tem motivos para não ser. E você não
acreditar em mim é um erro, porque eu consigo te enxergar muito mais do
que você imagina.
Os olhos dele pareceram se acender um pouco.
— E o que você vê quando me olha, então? — Quis saber. A voz
rouca e sussurrada como se estivesse com medo da resposta.
Colei minha testa a dele. Uma das minhas mãos segurava sua nuca
com força, tentando mantê-lo preso a mim. Rocei meu nariz em sua
bochecha, depois na linha do maxilar. Andrew se arrepiou.
Mordi seu lábio inferior, puxando-o. Minha outra mão que ainda
estava livre passeava com tranquilidade pelo tórax, ainda por cima da camisa
escura que vestia. A respiração estava pesada agora e fazia cócegas contra
meu rosto.
Beijei seu queixo e segui distribuindo beijos até o ponto entre sua
orelha e sua clavícula. Continuei beijando suas bochechas, seus olhos ainda
fechados, seu nariz. Resvalei meus lábios sobre os seus. Andrew soltou um
pequeno gemido de expectativa e eu senti uma necessidade gritante de beijá-
lo, como se fosse morrer caso não tivesse seus lábios nos meus naquele
instante.
— Eu vejo tudo que eu sempre procurei, e nunca achei que fosse
encontrar — confessei, colando nossos lábios em seguida.
O beijo fez o meu coração parar.
Era diferente de todos os outros que já tínhamos trocado. Não era cru,
como quando nos beijamos pela primeira vez no casarão. Era um beijo como
eu nunca havia experimentado antes.
Andrew passou os braços em minha volta, me puxando para mais
perto. O beijo conseguia ser a coisa mais contraditória do mundo. Ardia em
cada um dos meus poros com intensidade, mas era calmo e tranquilo. Um
beijo que acabava com todo o meu fôlego e ainda assim, me fazia desejar
mais.
Já havíamos nos beijado muitas vezes àquela altura. Nossas línguas já
conheciam com clareza a boca do outro, sabíamos exatamente o que esperar
quando tocávamos pontos específicos. Mas, ao mesmo tempo, era como se
ainda houvesse mais a aprender.
Meu coração batia tão forte no peito que meu que começava a doer. E
eu nunca havia sentido aquele tipo de dor antes, uma dor boa.
— Leighton — ele sussurrou contra meus lábios.
E quando pousou a boca novamente na minha, o chão desapareceu
sob meus pés. Eu já não era capaz de pensar sobre quem eu era ou o que faria
ou sobre cada um dos desafios que me esperariam quando retornasse à
universidade. Naquele momento nada mais importava além do que eu tinha
ali.
O melhor beijo do homem que eu havia aprendido a... gostar?
Não.
Admirar. Apreciar. Afeiçoar.
Amar.
Era isso.
Eu estava apaixonada por ele.
Por todas as coisas boas, por cada uma das suas impetuosidades. Pelas
suas caricias. Por suas palavras. Pela maneira como ele via o mundo.
Pela maneira como ele me via.
Pela forma como ele me beijava.
Por cada sensação do meu corpo ao ser tocado por ele.
Eu estava apaixonada por ele.
Sorri no meio do beijo.
— O que foi? — ele perguntou, se afastando um pouco.
Balancei a minha cabeça em negativa, mas ainda podia sentir o
sorriso em meus lábios. Dei alguns passos para trás. Andrew me observava
sem entender o que eu estava fazendo e eu vi a maneira como o seu pomo de
Adão se moveu quando ele notou que eu descia as alças do meu vestido.
— O que você está fazendo? — sua voz saiu em um sussurro
extremamente sexy.
Os olhos estavam fixos em cada um dos meus movimentos. Eu ainda
o encarava tentando mostrar que eu queria aquilo. Agora. Com ele. Andrew
me observou descer o zíper na lateral do meu vestido, depois continuou
assistindo atentamente enquanto ele escorregava por meu corpo caindo aos
meus pés.
— Todas as vezes que eu pensava em alguém com quem eu gostaria
de ter a minha primeira vez, eu tinha certeza de que eu queria alguém
exatamente como você — falei, dando um passo para a frente, em sua
direção. — Alguém que respeitasse a família, com quem eu gostasse de
passar um tempo fazendo qualquer coisa, mesmo que só sentados ouvindo o
vento passar. Alguém que fosse especial para mim, que me fizesse sentir
especial. — Aproximei-me ainda mais. — Eu não quero alguém como você,
Andrew. Eu não quero alguém como eu imaginei. Eu quero você. Só você.
Seu peito subia e descia rapidamente. Mais rápido do que eu já havia
visto em minha vida inteira.
Coloquei as minhas mãos para trás, abrindo o fecho do sutiã e
deixando-o cair aos meus pés também. Eu estava pelada. Completamente
pelada.
Andrew parecia hipnotizado enquanto esquadrinhava cada pequeno
detalhe do meu corpo fazendo com que meu sangue incendiasse enquanto
corria por minhas veias.
Eu podia notar a maneira como a parte da frente de sua calça ficava
cada vez mais volumosa. Sorri, percebendo o quanto ele estava excitado por
mim. Ergui a mão em sua direção e ele a aceitou fazendo-me arder em
expectativa.
Andrew me beijou novamente, dessa vez, firmando a mão embaixo da
minha bunda e me erguendo do chão. Rodeei-o com minhas pernas enquanto,
em meio a um beijo, ele me carregava até sua cama. Não demorou para que
eu sentisse o toque macio do colchão em minhas costas.
Assim que fui colocada suavemente na cama, ele arrancou a camisa
que vestia jogando-a em algum canto distante.
Lambi os lábios ao apreciar o corpo esculpido á minha frente. Andrew
chegou o corpo um pouco mais para a frente, pousando seus braços um de
cada lado do meu corpo.
— Não acredito que você não estava usando calcinha por baixo dessa
porra desse vestido que me deixou maluco a noite inteira — falou, com os
olhos ardendo e colados em meu corpo.
— Meu plano era enfiar suas mãos entre minhas pernas depois do
jantar, mas acho que assim também serve. — Dei de ombros, divertida.
— Você tem certeza de que é isso que deseja? — perguntou,
encarando-me com seriedade.
— Sim. — Segurei seu cabelo com força trazendo seu rosto para mais
perto do meu até que nossos narizes se tocassem. — Eu quero você.
Ele sorriu ao notar a convicção em minha voz.
— E eu quero atender todos os seus desejos. — Ele aproximou ainda
mais o rosto do meu, colando nossos lábios e recomeçando outro beijo.
Um beijo mais intenso dessa vez.
Enquanto sua língua brincava dentro da minha boca me fazendo soltar
pequenos suspiros, suas mãos passeavam por meu corpo.
— Andrew — murmurei, jogando a cabeça para trás, quando seus
lábios encontraram meus seios.
Ele passou a língua em um deles, estimulando o outro. Andrew
chupava meus seios com destreza, enquanto eu agarrava seus fios loiros
mantendo-o ainda mais preso a mim. Com certeza aquela era uma das
melhores sensações do mundo.
— Você é a garota mais linda que eu já vi em toda a porra da minha
vida, e ninguém nunca me deixou tão doido quanto você, Afrodite —
murmurou enquanto beijava o vão entre os meus seios, alternando os beijos e
chupões entre os dois igualmente.
Eu não era capaz de falar.
Nada.
Eu usava perfeitamente o inglês desde que aprendi a falar. Mas,
naquele momento, eu não seria capaz nem mesmo de falar a mais simples das
palavras.
Andrew roçou com cuidado os dentes no bico do meu seio e meu
coração parou. Ergui o corpo tentando sentir novamente aquela sensação
gostosa que perpassou por toda a minha pele. A sensação era tão boa que eu
soltei um gemido alto demais.
Andrew parecia saber exatamente o que fazer e quando fazer, porque
quando repetiu o gesto depois de mudar a boca do seio outra vez eu quase
desmaiei de prazer quando uma das suas mãos começou a passear por minha
coxa traçando, com um indicador, pequenas ondas em minha pele.
Engoli em seco abrindo a boca para conseguir respirar melhor.
Nunca conseguiria me acostumar a toda aquela confusão de
sensações, de sentimentos de tantas coisas que aconteciam comigo quando
ele me tocava.
Eu sentia uma enorme necessidade dele.
E ela apenas crescia.
Andrew continuava a me castigar lambendo, chupando e beijando
meus seios. Aos poucos, ele descia os lábios deixando beijos molhados por
minha barriga. Mordiscando minha cintura e apalpando a minha bunda.
Eu gostava de tudo.
De cada toque.
Seus lábios chegaram à minha boceta e eu arqueei o corpo em sua
direção desejando mais do que nunca que ele estivesse ali.
Andrew riu, dando uma mordiscada de leve em meu clitóris. Soltei
um gemido. Metade de expectativa por mais, outra metade de frustração por
ter acabado tão depressa.
— O que você quer, Leighton? — perguntou.
A voz sexy de uma forma que poderia me fazer gozar só de ouvi-lo.
— Eu quero...
Ergui o corpo outra vez quando ele brincou com um dos dedos
girando em minha entrada.
— Não consegui ouvir, Afrodite.
Eu queria xingá-lo, mas nem isso conseguia fazer.
— Ainda não estou te ouvindo. — Andrew parecia se divertir com a
situação.
— Eu juro que se você não enfiar a sua língua em minha boceta
agora, depois que você me fizer gozar, eu vou quebrar a sua cara, Andrew.
Ele riu, não levando a menor fé em minhas palavras.
— Como estamos agressivos hoje — brincou, passando o nariz por
toda extensão. Choraminguei frustrada pelo toque ter acabado cedo demais
outra vez. — Mas eu adoro um sexo agressivo. Não vamos fazer isso hoje,
mas eu espero ansioso pelo dia em que eu vou foder você de uma forma que
não vai conseguir se manter de pé por um mês, Leighton.
Ele colocou a ponta da língua na entrada da minha boceta e eu agarrei
o tecido do lençol acima de minha cabeça com força.
— Eu adoro o seu gosto — falou. — O seu cheiro. — Andrew passou
o nariz pela boceta outra vez. — Adoro quando você arqueia o corpo para
mim, querendo sempre mais. E eu sempre vou dar, Afrodite. Sempre darei
qualquer coisa que você quiser.
E então, como que para provar o ponto, ele lambeu minha boceta.
Lentamente. Como se quisesse saborear cada pequeno pedaço por onde a sua
língua passava.
Ele soltou um gemido depois, como se estivesse satisfeito por sentir
meu gosto outra vez.
— Eu estava com tanta saudade de seu gosto, Leighton. Você não
imagina o tanto tempo que eu passo, deitado na porra da minha cama,
lembrando-me de como é bom lamber essa bocetinha deliciosa.
A expectativa crescia dentro de mim.
Andrew começou a massagear o meu clitóris usando o polegar
enquanto brincava com a ponta do dedo médio em minha entrada. Suspirei.
— É aqui que você me quer, Leighton?
— Você sabe que sim — falei, ansiosa, tentando rebolar contra seu
dedo para senti-lo mais dentro de mim.
Andrew colocou, aos poucos, o dedo dentro de mim, remexendo-o.
Minhas habilidades cognitivas estavam completamente prejudicadas. Eu só
conseguia sentir aquela coisa que ia crescendo dentro de mim. Meu corpo
começou a tensionar e o ar saía cada vez mais forte. E então, quando ele
estava prestes a me fazer explodir, parou.
Abri os olhos, apertando os dentes com força.
— Eu não acredito que você fez isso — reclamei, quando finalmente
consegui formular uma frase.
— Hoje você vai gozar muito, Afrodite. Mas vai ser no meu pau.
Meu corpo se animou com a promessa e eu sorri.
— Então eu acho que estou em desvantagem aqui, você ainda tem
muita roupa — ergui uma sobrancelha em sua direção.
— Esse é um problema que podemos resolver rapidinho. — Andrew
ficou de pé, livrando-se da calça e da cueca ao mesmo tempo. O pau ereto e
enorme fez a minha boca salivar com vontade de chupá-lo outra vez.
— Melhor assim? — Andrew perguntou, apontando para o próprio
corpo.
— Sim. Mas você podia facilitar vindo aqui pra cama, o que acha?
Andrew sorriu, um dos sorridos que ele dava quando estava realmente
feliz. Antes de se aproximar, ele se abaixou pegando alguma coisa no bolso
da calça.
— Adoro a forma como você está sempre ansiosa — ele deu alguns
passos em minha direção, parando no pé cama e abrindo o que agora descobri
se tratar da camisinha.
— Adoro a forma como você está sempre disposto a me ensinar
alguma coisa.
— É mesmo? — ele ergueu a sobrancelha para mim. — Então se
prepare, porque essa noite, você vai aprender um monte de outras coisas.
Andrew pegou meu pé e eu soltei um gritinho com o susto.
Ele me beijou. Os pés, as penas, as coxas, cintura, o vão entre os
seios, meu queixo, meus nariz, meus olhos, minha testa.
— Eu quero te perguntar uma coisa — falou, baixinho, olhando para
meus olhos.
— Tenho certeza, quero isso, já disse — respondi a pergunta antes
que ele a fizesse.
Andrew balançou a cabeça em negativa.
— Eu quero saber se você quer me namorar.
Meus olhos se abriram com o susto.
— Você quer namorar comigo? — perguntei, com o cenho franzido
em sua direção. Andrew assentiu, tirando alguns fios de cabelo da frente do
meu rosto.
— Eu quero — usou as palavras para afirmar também. — De verdade.
Nós dois, sem precisarmos fingir para as pessoas. Quero que seja oficial,
Leighton. Então, você aceita?
Meu coração bateu forte no peito e eu reprimi o sorriso que queria
aparecer em meu rosto.
― Por que? ― quis saber. ― Por que você quer me namorar?
― Porque eu gosto de estar com você ― falou, sério. ― Gosto de
quem eu sou quando estou com você, de como me sinto e quero poder dizer
as pessoas que você é minha, sabendo que isso é verdade e não por causa da
porra de um acordo.
Apertei os olhos em sua direção, desconfiada, mas ao mesmo tempo
sentindo um misto de sensações boas passando por meu corpo.
— Você disse que não namora — lembrei.
— Eu não namoro outras garotas, porque nenhuma delas é você.
Quero namorar você porque eu gosto de você. Só você — Ri, notando que ele
usou parte do meu discurso contra mim mesma. Andrew passou a ponta do
nariz por minha bochecha, depois resvalou os lábios nos meus. — E então?
Assenti, balançando a cabeça de modo afirmativo.
— Eu aceito. — Ele sorriu e desceu os lábios até os meus em um
beijo doce, como se estivéssemos experimentando uma coisa nova.
Namorados. De verdade agora. Eu nunca tinha beijado um namorado, e agora
poderia fazer isso muitas vezes porque gostava dos beijos dele.
Entretanto, o beijo que começou suave, rapidamente se transformou
em um beijo cheio de paixão.
Eu podia sentir a sua ereção me cutucando.
Seus lábios desceram até meu pescoço, me fazendo soltar um gemido.
Andrew beijou meu pescoço, minhas bochechas, minha mandíbula. Ele
chupou meus seios outra vez me fazendo arquear meu corpo em sua direção,
depois passou o indicador e o dedo médio em minha boceta.
— Caralho, você está tão molhadinha, linda. Pronta pra mim. —
Beijou a ponta do meu nariz. — Isso vai doer, Leighton — falou, brincando
com a ponta do pau em minha entrada.
Assenti, soltando um gemido enquanto ele passava a ponta do pau de
uma maneira muito gostosa.
Andrew enfiou um pouco o pau em minha entrada, pincelando
apenas. Joguei a cabeça para trás, em expectativa. Ele apoiou os cotovelos na
cama tentando fazer com que a maior parte do seu peso não recaísse sobre
mim. Encarava-me, querendo ler as minhas expressões. Aos poucos, sentia
meu pau entrando em minha boceta. O contato era bom e ele se mexia com
muito cuidado como se quisesse garantir que não me machucaria.
Então, eu senti quando ele chegou à barreira que o impedia de seguir
em frente. Assenti, passando a mão por seu rosto.
― Me avisa se te machucar, tudo bem? ― pediu, me olhando com
carinho.
Assenti.
― Você não vai me machucar. ― Sorri para ele, acariciando sua
bochecha.
Andrew forçou seu corpo devagar. Ele rebolou um pouco e a fricção
dos nossos corpos era boa demais. Aos poucos, senti um incômodo, uma
ardência que se espalhou por todo o meu corpo. Soltei o ar com força
fechando os olhos em seguida. Andrew ficou parado por um tempo, percebi
que ele não se movia mais dando beijos por todo meu rosto tentando me
distrair da dor.
— Não vai doer mais, prometo — assenti, abrindo os olhos e
encontrando-o ainda me encarando.
Ele se moveu outra vez e foi bom.
A cada vez que ele se mexia, mais dele entrava em minha boceta. A
sensação era incrível e eu podia ficar com ele ali para sempre. Eu amava a
forma como ele gemia em meu ouvido, como dizia coisas sacanas, mas
também coisas bonitas.
— Caralho, Leighton. — Ele beijou meu pescoço se movendo outra
vez. — Caralho, você é deliciosa. Gostosa demais.
Andrew se moveu mais uma vez para dentro de mim, e eu apertei as
unhas em seus ombros. A única coisa que eu sabia era que precisava de mais.
A dor que senti instantes antes havia desaparecido dando lugar a um desejo
incontrolável a cada vez que ele entrava e saía de dentro de mim.
Eu nunca havia sentido algo assim antes.
― Continua, por favor ― pedi, tentando puxá-lo para mais perto,
querendo diminuir a distância que já quase não existia entre nós.
Querendo fundi-lo a mim.
Soltei em um suspiro, enquanto os lábios quentes de Andrew faziam
um caminho por meu pescoço por meu rosto, mordiscando meu lóbulo de
leve, fazendo-me gemer.
Eu nunca imaginei que pudesse me sentir daquela maneira.
Eu estava fazendo sexo pela primeira vez com o meu namorado.
― Desde que eu vi você, eu espero por esse momento ― murmurou
em meu ouvido ―, mas, caralho, você simplesmente conseguiu superar todas
as minhas expectativas. E eu não vejo a hora de fazer isso com você de todas
as formas possíveis.
― Eu também ― falei, com um sorriso. ― Também quero fazer isso
com você de todas as formas possíveis.
Ele gostou de saber daquilo, e eu sabia porque ele riu.
Andrew passou o indicador por meus lábios, beijando-me em seguida.
A maneira como seu corpo investia contra mim me levando a arquear o corpo
sempre em busca de mais.
Queria mais.
Mais dele o tempo inteiro.
― Sua boceta é tão quente, Leighton. Tão deliciosa. Eu podia passar
horas apenas fodendo você ― falou, intensificando os movimentos. ―
Rebola pra mim, vai ― pediu, sussurrando em meu ouvido.
Eu fiz o que ele pediu, e, minha nossa, isso intensificava ainda mais
as sensações. Meus gemidos ficaram mais altos e Andrew intensificou os
movimentos, tudo ficou mais incrível. Andrew usou o polegar para
massagear meu clitóris enquanto me penetrava e eu sentia que meus olhos
estavam prestes a parar o cérebro. Andrew fazia tudo com maestria. Ele
beijava. Estimulava. Estocava.
Nossas línguas trocavam caricias de uma maneira que devia ser
considerava crime. Era obsceno.
Além dos nossos gemidos a única coisa que era ouvida era o som dos
nossos corpos se chocando.
Andrew ergueu um pouco o meu quadril fazendo com que ele
conseguisse entrar de forma mais profunda em minha boceta. Sem conseguir
me controlar mais, comecei a choramingar enquanto metia em mim, mais
duro. Mais forte. Mais intenso. Com movimentos precisos.
Ele bateu em minha bunda, como havia feito da outra vez e eu soltei
um gemido de excitação.
Eu sentia que começava a apertá-lo mais contra mim de forma
desesperada. Querendo algo que eu nem sabia o que era, mas precisava com
urgência.
Já ele parecia saber muito bem o que fazer. Andrew me levava à
loucura em muitos momentos, algumas vezes, quase ao ápice, o momento em
que eu sentia que meu corpo explodiria, mas ele parava e me beijava antes de
recomeçar.
― Andrew ― chamei agoniada, sentindo que eu estava à beira de um
precipício e eu queria pular. ― Eu não vou mais aguentar, eu vou...
Andrew saiu de mim outra vez, estocando com mais força, parou em
seguida me admirando por um tempo com os olhos nublados de tesão.
O ar sumia dos meus pulmões a cada vez que ele estocava. Eu me
mexia em busca de mais, em busca do que eu já sabia que viria.
Ele estocou mais uma vez.
E mais uma.
E outra.
― Olha pra mim, Afrodite ― pediu, quando eu fechei os olhos com
força dizendo que estava prestes a gozar. Fiz o que ele pediu e Andrew
deixou um rastro de fogo por meu rosto enquanto passava o indicador por
minha bochecha e o polegar por meus lábios. ― Você fica ainda mais linda
gozando. E eu quero ver essa carinha linda fazendo isso em meu pau.
Encarei-o fixamente em seus olhos, apertando minhas unhas ainda
mais em sua pele. Uma das mãos no ombro, outra nas costas.
Soltei um gemido ainda mais forte quando seu polegar começou a
acariciar meu clitóris. Arqueei meu corpo em direção à sua mão enquanto ele
estocava em mim.
Minhas gotas de suor que se misturavam as dele. Nossas respirações
quentes se misturando. Meu coração que batia mais rápido e mais forte.
Eu estava ali, com ele.
Eu estava feliz.
Então, sem poder mais suportar, meu corpo inteiro explodiu como
todos os fogos de artifício do quatro de Julho.
E foi, decididamente a melhor coisa da minha vida.
Andrew beijou minha bochecha, depois minha testa, enquanto
murmurava o quanto eu era linda. Ele continuou estocando até que seu corpo
tensionasse e com um gemido alto, Andrew gozou com intensidade.
Depois, ele caiu sobre meu corpo com a respiração acelerada. Andrew
beijou meu pescoço se livrando da camisinha, mudando nossas posições e
deixando meu corpo por cima do meu.
― Isso foi... uau ― falei, sorrindo, enquanto ele passava o indicador
por minhas costas.
― Foi sim ― concordou, ainda movendo o dedo por minha pele.
― Foi a primeira vez mais perfeita de todas. ― Pressionei um
cotovelo no colchão, olhando-o. ― Porque foi com você.
Ergui meu corpo um pouco salpicando um beijo rápido em seus
lábios.
― Também foi a primeira vez pra mim ― falou, me levando a rolar
os olhos.
― Você já transou com metade da universidade, e também já transou
com uma virgem. Sem nenhuma chance de que eu tenha sido a primeira vez
em qualquer coisa na sua vida, Andrew. ― Bati o indicador em seu nariz.
Andrew segurou meu queixo erguendo minha cabeça em sua direção.
― Ninguém nunca estava tão errada sobre algo em toda a vida,
Afrodite. Você foi a primeira em coisas que eu jamais achei que
aconteceriam. Essa foi a primeira vez que eu transei com minha namorada. ―
Seus lábios foram parar na ponta do meu nariz. ― Foi a primeira vez que fiz
amor com a minha namorada, na verdade.
Meu coração acelerou e a respiração falhou por um instante.
― Você não faz amor, me disse isso ― brinquei, apertando os olhos
em sua direção. Seus olhos se tornaram divertidos.
― Com você eu faço ― afirmou, acariciando meu rosto e colando
nossos lábios rapidamente. ― Tudo é diferente com você, Afrodite. Eu fui o
seu primeiro, mas você também é a minha. Minha primeira namorada, a
primeira garota que eu trouxe para casa, e primeira vez que fiz amor.
Eu sorri. Tanto que o sorriso podia ter rasgado meu rosto ao meio.
Andrew aconchegou meu corpo ao seu e eu deitei minha cabeça em
seu peito. Eu também era a primeira dele, e independente dos
desdobramentos da nossa vida no futuro, ele também saberia qual era a
sensação de acordar nos braços da namorada pela primeira vez.
E essa garota, ela seria eu.
Capítulo 43

Foi a claridade do sol que me despertou.


Pela primeira vez em muito tempo eu acordei no quarto em que dormi
por muitos anos e me senti feliz. A última vez em que estive bem da maneira
como estava me sentindo agora, foi quando minha mãe ainda estava viva.
A noite tinha sido muito melhor do que podia ter imaginado.
Assim que coloquei os olhos nela, na minha namorada, pela primeira
vez, eu soube que ela era uma puta de uma gostosa. Nos últimos dias, quando
nossas provocações começaram, eu também soube que desejava mais do que
qualquer coisa estar dentro dela.
Mas, puta que pariu, nada havia me preparado para tanto.
Leighton era, decididamente, uma perdição.
A minha perdição.
E uma parte de mim, uma enorme parte, insistia em me dizer que eu
não enjoaria dela nunca.
Além do mais, o que nós fizemos foi muito além de sexo.
Fisiologicamente falando, toda e qualquer atividade que agite nosso
corpo, o coração precisa de um fluxo maior de sangue e oxigênio para
desempenhar corretamente suas atividades, fazendo com que aumente a
frequência cardíaca.
Era isso que acontecia comigo. Quando eu corria, quando eu lutava,
quando eu jogava com meus irmãos, quando eu fazia sexo. Porém, ontem,
quando ele bateu rapidamente, eu sabia que aquilo não tinha nada a ver com a
atividade que eu desempenhava, mas tudo com ela.
Nos últimos dias meu coração batia mais forte no peito quando nossos
lábios se encontravam, quando ela sorria, ou simplesmente quando a via.
Eu fui um bom aluno na escola e lembrava-me do que o professor de
biologia havia explicado sobre o assunto. Segundo ele, isso acontece porque
nosso cérebro produz mais dopamina quando alguém está apaixonado. O
cérebro também produzia norepinefrina química quando gostamos de alguém,
fazendo com que o coração acelerasse quando estamos nervosos.
Podia ser idiota, me colocar deliberadamente em risco incontáveis
vezes nas lutas, mas não era burro. Eu gostava dela. E já fazia um tempo. A
noite de ontem só serviu para provar isso.
A maneira como meu coração acelerava a cada toque, a cada beijo, a
cada vez que ela sorria, ou gemia, ou chamava meu nome, ou gozava.
Eu gostava dela.
Por mais que não soubesse como isso havia acontecido, ou como. Mas
eu sabia que gostava dela. E que queria estar com ela. Queria continuar
sentindo todas aquelas coisas.
O corpo quente de Leighton em cima do meu, nossas respirações
saíam de forma ritmada e os corações batiam em um mesmo ritmo, como se
fossem apenas um. Sorri, passando a mão por seu rosto de leve para que não
a acordasse.
Ontem, depois da discussão com ele, eu fiquei mal. Não, péssimo. Fui
ao túmulo da minha mãe, como costumava fazer sempre que tinha um
tempinho quando ainda vivia nessa cidade.
As palavras dele haviam ficado gravadas em minha mente. E essa
acusação vinda daquele filho da puta que nunca fez nada por nós me deixou
irritado. Saber que Leighton estava ali, vendo toda aquela cena, me deixou
puto.
Mas a maneira que ela me recebeu quando retornei, as coisas que ela
me disse. A maneira como ela via as coisas que eu fiz, não de uma forma
horrível, mas como um cara que fez o possível para manter a segurança das
pessoas que eu amava. Leighton me via quase como um herói. Eu seria mais
um vilão se a vida fosse como em um filme, mas eu gostava disso nela. A
maneira como Leighton me via fez com que eu gostasse mais dela, com que
as minhas barreiras cedessem.
Ela confiava em mim, mesmo com todas as minhas falhas. Mesmo
sabendo que eu não era o cara certo para ela. Leighton conseguia ver coisas
boas em mim. E eu gostava disso. Gostava muito.
Nunca imaginei que a noite fosse terminar daquela forma, nem que o
dia de hoje fosse começar assim, com ela usando apenas uma camisa antiga
minha, embolada em meus braços.
Sorri, analisando a cena.
Ela se mexeu, ronronando e se aconchegando mais ao meu corpo.
Deixei um beijo no topo de sua cabeça.
― Bom dia, namorada ― falei, notando que ela já havia despertado.
A palavra saiu da minha boca de uma maneira tão natural. Como se
eu sempre tivesse dito aquilo. Como se Leighton tivesse nascido para ser a
minha namorada.
― Bom dia... ― respondeu, erguendo a cabeça para me ver ―
...namorado.
Leighton sorriu, colando nossos lábios rapidamente.
― E então, acordar ao lado do cara com quem você teve a sua
primeira vez é como você imaginava? ― apertei um pouco os olhos em sua
direção, brincando com alguns cachos de sua cabeça.
Ela negou.
― Na verdade, não. Nem um pouco. É melhor, muito melhor. Porque
é você.
Sorri, satisfeito.
― Sabia que você me ajudou a realizar o sonho de todo cara? ―
Leighton fez uma careta que mostrava o quanto estava confusa. ― Transar
com sua garota no quarto de infância.
― E esse era um sonho seu? ― quis saber, erguendo o lado esquerdo
dos lábios.
― Se eu disser que sim, você vai realizar essa fantasia outra vez? ―
minhas mãos desceram por suas costas, ainda por cima do tecido da camisa, e
foram parar em sua bunda. Apertei-a, deslizando a mão para perto da sua
entrada, levando-a a soltar um gemido.
― Ainda não disse que sim ― sussurrou, mexendo o quadril sobre
meus dedos.
― Mas também não disse que não ― respondi, baixinho.
― Não disse ― concordou, soltando um gemido quando meus dedos
encontraram seu clitóris, estimulando-o.
Leighton não falou mais nada enquanto meus dedos brincavam em
sua boceta dando atenção a cada pequena parte. Ela mantinha olhos fechados,
como se fosse absolutamente impossível tê-los abertos. Concentrava-se nas
sensações.
Meu pau, que já estava duro só por saber que ela estava ali, tão perto,
deu mais um sinal de que estava completamente desperto.
Fiz um carinho em sua bochecha, vendo-a soltar o ar e abaixei um
pouco o rosto de forma que nossos lábios estivessem o mais próximo
possível. Brinquei, passando-os de leve pelos seus, retrocedendo quando ela
abri a boca querendo iniciar um beijo.
Leighton gemeu.
Não sabia se em reclamação ao beijo negado ou ao estímulo que eu
lhe dava entre suas pernas.
Aproximei-me do seu rosto outra vez, passando o nariz pela pele na
linha de sua mandíbula e mordiscando o lóbulo de sua orelha.
Leighton soltou o ar em um suspiro sôfrego.
― Não brinca comigo assim ― pediu.
Eu ri, mordendo seu queixo.
― E como eu devo brincar com você, Afrodite?
― Que tal se você começar passando a língua em minha boceta? ―
perguntou, fazendo meu pau ficar mais duro com a sugestão.
― Eu tenho certeza de que posso começar com isso ― falei, já
ansioso por sentir o gosto do seu gozo em minha boca. ― Mas antes, que tal
isso? ― falei, próximo o bastante de seus lábios, selando-os em seguida.
Um ritmo foi estabelecido assim que minha boca encontrou a sua.
Leighton soltou um gemido contra meus lábios, segurando os fios da minha
nuca com força, enquanto me mantinha presa a ela como se não quisesse que
eu escapasse. Mas eu não iria.
Nunca.
Não agora que eu a tinha para mim.
Que ela era minha, de verdade.
Afastei nossos lábios, começando a descer os beijos por seu queixo,
pescoço, pelo vão entre os seios e pela barriga que ainda estavam cobertos
pelo tecido da minha blusa marrom.
Leighton arfou quando minha boca chegou à linha que marcava os
primeiros pelos de sua boceta. Ela ergueu o quadril em agonia, como se
pedisse que eu não parasse. Leighton apoiou os cotovelos na cama deixando
o rosto alto, para que pudesse acompanhar meus movimentos.
A boca entreaberta e os olhos nublados de desejo mostravam a
ansiedade. Tão ansiosa quanto eu.
Continuei deixando os beijos, até que meu rosto estivesse no local que
eu desejava. Podia ver a carne inchada que eu podia jurar, implorava por
minha atenção.
Dei um leve sopro, mantendo os olhos em Leighton que seguia com o
olhar ardendo sobre o meu. Sorri, aproximando o rosto da entrada de sua
boceta, passando a língua de leve.
Leighton tentou aproximar o corpo do meu rosto outra vez.
Desesperada por mais atenção no pequeno triângulo no centro de sua carne.
Ergui o lábio esquerdo em um sorriso de lado, enquanto passava a língua
lentamente por toda a sua boceta.
Ela soltou um gemido.
Alto demais.
Como foi durante toda a noite.
Mas eu não me incomodava, gostava disso. Gostava da maneira como
ela não se continha quando eu lhe estava lhe dando prazer. Da forma como
ela reagia a qualquer coisa que eu fizesse.
Enquanto lambia sua boceta com vontade, como se fosse a mais
deliciosa das frutas, passei uma das mãos por dentro de sua blusa, apertando
seu seio entre minha mão.
Leighton arqueou o corpo outra vez, pedindo, sem palavras, por mais.
― Andrew ― sussurrou, jogando a cabeça para trás e mordendo os
lábios como se tentasse conter os gemidos.
― Gosta assim? ― quis saber, apertando seu bico com delicadeza.
Leighton tentou fechar as pernas como se fosse demais para suportar e
eu sentia meu pau ficar ainda mais duro, desejando enfiar-se com força
dentro dela. Desejando foder com Leigh, de quatro. Forte. Segurando em sua
cintura com força enquanto entrava e saia do seu centro ouvindo-a gemer.
― Abre as pernas pra mim, Afrodite ― pedi, tentando afastá-las e
passando o dedo indicador por sua boceta. Leighton pareceu derreter-se por
completo e perder a força nas pernas.
Ri, dando um beijo em seu centro, vendo-a arfar.
Eu a encarei.
Brinquei com a ponta da língua em sua entrada, sugando tudo que
podia dela. Leighton gemia cada vez mais. E, a cada momento, eu queria me
enfiar entre suas pernas. Queria gozar estando dentro dela outra vez.
Sentindo sua boceta me engolindo, suas paredes se contraindo
enquanto anunciavam que estava prestes a se desfazer.
Sentindo-me completamente e intimamente ligado a ela.
Não era só sexo.
Com a minha Afrodite, jamais seria.
Enquanto minha língua lambia e a estocava com intensidade, coloquei
meu polegar em seu clitóris.
― Quando eu te beijei pela primeira vez, Leighton, você também
ficou assim? Molhadinha? ― perguntei, passando beliscando o bico do seu
seio. ― Fala pra mim, gostosa. É isso que acontece com você quando eu te
beijo?
Leighton assentiu, arfando alto e começando a rebolar contra meus
dedos e minha boca.
― E o que você quer que eu faça agora, Afrodite? ― perguntei,
enfiando minha língua outra vez em sua entrada e levando a língua até o
clitóris.
― Eu quero... eu preciso... Andrew. ― A voz entrecortada, como se
estivesse incapacitada de manter um pensamento coerente me deixava feliz.
― Vou acabar sua agonia, Afrodite. Vou deixar você gozar em minha
boca, porque eu preciso sentir o seu gosto outra vez, e depois vou estocar tão
fundo em você, que você vai gozar como nunca gozou em sua vida.
Leighton arfou outra vez erguendo o corpo em agonia. Enfiei dois
dedos em sua boceta e ela soltou um gemido que seria capaz de me fazer
gozar.
Leighton era a porra da garota mais gostosa que eu já tinha visto em
minha vida. Tinha o melhor gosto do mundo, e sua boceta abraçava meu pau
de tal maneira que eu não queria sair de dentro dela de maneira nenhuma.
Deslizei o dedo que acariciava seu clitóris, enfiando-o em sua entrada
estocando com força. Ao mesmo tempo que meus dedos se movimentavam
dentro dela, minha língua continuava trabalhando. Lambendo. Mordiscando.
Beijando a sua boceta.
Os movimentos dela estavam cada vez mais intensos.
E sabia que ela ia gozar a qualquer momento. Usando o polegar,
voltei a acariciar seu clitóris. Leighton jogou a cabeça ainda mais para trás,
prendendo-a à cama, enquanto suas costas deixaram o colchão, enquanto eu
continuava com todos os movimentos de vez.
Eu senti quando Leighton começou a tentar fechar as pernas com mais
intensidade, enquanto sua boceta apertava meus dedos com força. Ela ia
gozar.
Chupei com ainda mais intensidade aquela boceta que tinha o melhor
gosto do planeta, desejando que ela explodisse de vez para que eu pudesse
sugá-la para mim.
― Andrew... Andrew...
Sua voz estava em agonia, mas uma agonia boa.
― Vai, Afrodite. Goza. Eu tô pronto para sugar você todinha ― falei.
Leighton apertou com força o travesseiro sob sua cabeça, formando
uma linha com os lábios enquanto tentava conter o gemido que se seguiu
quando gozou deixando o corpo cair de vez na cama. Eu suguei todo o gozo
dela, sentindo seu gosto salgado em meus lábios. Leighton arfava enquanto
eu continuava a sugá-la.
Ela ainda tentava acalmar a respiração quando eu terminei de chupar
seu gozo e lambi os lábios para que ela pudesse assistir.
― Se você não fosse meu namorado, juro que te pediria hoje mesmo.
― E eu pensando que você tinha aceitado por meu pedido por causa
do meu charme, ou do meu intelecto. ― Apoiei as mãos, uma de cada lado de
seu corpo, subindo, aos poucos, como um leão em busca de sua presa. ―
Mas você está aqui por causa do sexo.
― Uma garota virgem tem que aproveitar as oportunidades da vida ―
brincou, passando os braços por meu pescoço, trazendo-me para mais perto
do seu rosto.
― Você quer oportunidades? ― perguntei, beijando a ponta do seu
nariz. ― Vou te dar oportunidades agora, espertinha. Vou te dar tantas
oportunidades que suas pernas vão ficar bambas.
Ela arfou com a promessa e eu colei nossos lábios dando inicio a mais
um beijo.
Um beijo duro, cru e cheio de tesão.
Deslizei minha mão por seu corpo até estar em sua boceta outra vez.
Leighton
― Eu faço uma promessa boba e você já está pronta para mim? ―
perguntei, beijando seu pescoço e estimulando seu clitóris, para que ela
ficasse ainda mais molhada.
― Eu tô sempre pronta para você, Andrew ― falou, mordendo meu
lábio inferior de um jeito sexy.
― E eu adoro isso ― falei, dando um sussurro sensual em seu
ouvido.
Ergui a mão até alcançar a mesinha ao lado da minha cama onde já
havia deixando uma camisinha ontem, na esperança de que continuaríamos
hoje, vestindo-a em meu pau pronto para a diversão.
Afastei suas pernas com a minha, posicionando o pau na sua entrada.
Pincelei a sua cabeça algumas vezes, apenas para ver a maneira como
Leighton arfava e erguia o corpo em expectativa.
Devagar, fui entrando nela. Soltei um gemido me deliciando com a
sensação de estar naquela garota outra vez. Nossos olhares cravados enquanto
eu sentia sua boceta abrir espaço para o meu pau e engolindo-o. Sua boceta
era quente e muito receptiva ao meu pau. Devagar, continuei entrando até que
nossas pélvis estivessem coladas e eu percebesse que estava completamente
dentro dela. Nossas respirações foram se misturando até que nossos lábios
estivessem unidos outra vez.
Fiquei um tempo parado, se me movesse, com certeza não ia aguentar
mais do que um segundo. Eu estava absurdamente duro. Todas as vezes em
que fiquei tão duro, foi com ela. Por ela.
Quando, por fim, consegui me mover, foi impossível conter o gemido
em meus lábios. Eu podia viver para sempre dentro daquela boceta deliciosa.
Comecei a me mover, aos poucos. Lentamente. Querendo aproveitar
cada momento. Cada sensação. Cada toque.
Querendo aproveitar tudo dela.
Leighton gemia também. Desejando mais. Arranhando minhas costas.
Enfiando as unhas em meu ombro. Mordendo minha orelha. Meu pescoço.
Leighton era intensa.
E, porra, eu devia ser o filho da puta mais sortudo do mundo por,
mesmo com tantas pessoas no planeta, com tantos playboys que ela podia ter
pedido em namoro, Leighton ter vindo falar justamente comigo.
Finalmente o destino estava me devolvendo um pouco da felicidade
que havia me roubado anos atrás.
Leighton queria intensidade, e eu lhe daria exatamente tudo.
Se ela sorrisse me pedindo o mundo, eu daria.
― Porra ― murmurei, chupando seu pescoço tentando controlar os
gemidos altos demais que eu mesmo queria dar. ― Você me deixa maluco,
Afrodite.
― Andrew ― chamou, apertando ainda mais as unhas em minhas
costas.
― Vem aqui ― falei, saindo dela, e pulando da cama, erguendo sua
bunda. ― Eu quero comer você de quatro, Afrodite. E eu fantasio com isso
desde que pus os olhos nesse rabo.
Dei um tapa em sua bunda e ela arfou, excitada.
― Acho que, no fundo, você me trouxe aqui para realizar as suas
fantasias ― brincou, me olhando com uma expressão safada no rosto.
― E aposto que você vai gostar muito de cada uma dessas fantasias.
― Pisquei para minha garota, dando outro tapa em sua bunda.
Ela arfou e o som fez com que a reação em meu pau fosse imediata.
Leighton apoiou os braços na cama, erguendo a bunda. Eu podia ver o
rabo piscando para mim e pedindo atenção também. Mas isso ficaria para
outro dia, para quando ela estivesse pronta.
Esfreguei meu pau em sua entrada, fazendo-a rebolar contra a cabeça,
pedindo mais.
― Você quer isso, Afrodite? ― perguntei, beijando suas costas já
suadas.
― Andrew, por favor ― pediu, rebolando e levando o corpo para trás,
ao encontro do meu pau, querendo que eu acabasse com aquela tortura e me
enfiasse nela de vez.
Segurei sua cintura fina com firmeza, guiando-a até mim. Nossos
corpos se fundiram outra vez, e os gemidos ecoavam por todo o quarto.
As estocadas começaram já intensas. Apesar de querer muito ficar
mais tempo dentro dela, a necessidade que eu tinha era de tomá-la para mim.
De senti-la gozando em meu pau. De dar a ela todo prazer que queria. Era
maior que qualquer outra coisa.
Leighton murmurou alguma coisa incompreensível enquanto eu
entrava e saía de dentro dela. A visão de sua bunda redonda e durinha ali,
empinada para mim, já seria o bastante para me fazer gozar.
Eu entrava e saía com movimentos firmes. Às vezes lentos, outras
vezes, rápido.
Mas sempre constantes.
O corpo de Leighton começou a se contrair e dar sinais de que estava
perto de se entregar. As minhas coxas também tensionaram.
Estava perto para nós dois.
A boceta de Leighton começou a apertar com mais intensidade meu
pau e eu já não tinha mais forças para conseguir prolongar aquilo.
― Leighton ― chamei, pondo mais intensidade aos movimentos,
fazendo com que ela choramingasse alguma coisa. ― Eu sei que você está
perto. Eu também estou, Afrodite. ― Dei um beijo em suas costas outra vez.
Estoquei uma, duas, três, quatro vezes.
― Andrew... ― A voz rouca mostrava que estava prestes a se
desfazer.
Eu também.
― Goza comigo, Afrodite ― pedi, pressionando meu polegar contra
seu clitóris.
Senti os jatos deixando meu pau, no mesmo instante que o líquido
quente dela me cobria. Fiquei um tempo parado, recuperando a minha
respiração e passando a mão por suas costas em um carinho.
Deitei o corpo de Leighton junto ao meu na cama dando um beijo em
sua bochecha. Tirei a camisinha, dando um nó e correndo até a lixeira que
ficava debaixo de uma antiga mesinha de escritório que eu usava para estudar
antigamente.
Leighton acariciava meu peito.
― Acho que namorar você vai me dar um trabalho ― Leighton
comentou. ― Não que eu esteja achando ruim. Na verdade, estou achando
muito, muito, muito bom.
― Pra mim, não vai ser nenhum trabalho, só prazer ― garanti.
Ela deu um tapa em meu braço, bocejando em seguida.
― Nós temos que ir já? ― quis saber.
― Não. Você pode descansar um pouco, se quiser. ― Beijei sua testa.
― Quero sim. ― Ela bocejou outra vez. ― Como eu disse, namorar
dá um pouco de trabalho.
Beijei a ponta do seu nariz e no instante seguinte, Leighton já estava
apagada outra vez.
Eu queria dormir outra vez, mas ainda tinha uma preocupação em
mente. O que nós faríamos quando voltássemos?
Capítulo 44

Balançava as pernas, ansioso, enquanto esperava o contato do Malcon


chegar. Ele havia topado nos encontrar em um restaurante afastado da cidade
e nós estávamos aqui, sentados, aguardando.
O feriado havia sido muito melhor do que eu esperava.
Leighton e eu realmente estávamos namorando, e eu gostei disso.
Gostava de saber que era de verdade agora. Que eu a tinha de verdade. Ela
era minha.
E, como uma pessoa que fazia parte da minha vida agora, Leighton
também estava sob a minha proteção. Eu faria qualquer coisa por ela.
Qualquer coisa mesmo.
Ergui a cabeça, encarando o teto branco. Em seguida olhei ao redor,
examinando as paredes em tons terrosos e decoração rústica. Quase como um
bar do século passado.
— Tem certeza de que ele vem? — perguntei, olhando as horas em
meu celular, completamente inquieto.
— Relaxa, Andrew. Daqui a pouco ele estará aqui. — Malcon rolou
os olhos, cansado de responder a mesma pergunta.
Assenti, voltando a bater o pé no chão com força.
Pensar em Leighton na universidade, longe dos meus olhos me
deixava ansioso. Eu não queria tirar os olhos dela por nenhum segundo
sequer.
— Pronto. Ele chegou — Malcon falou, enquanto olhava para o cara
que passava pela porta fazendo a sineta soar.
O homem não era velho. Muito pelo contrário. Devia ter em torno de
vinte e cinco anos. Era preto, tinha barba espessa e ostentava uma expressão
austera. Bem-apessoado, inclusive. Usava uma camisa e calça de moletom
pretas. Nenhum casaco, mesmo que estivesse um pouco frio hoje. Embora
parecesse sério demais, abriu um sorriso enorme ao ver Malcon, que se
levantou para recebê-lo. Fiz o mesmo.
— Andrew, esse é meu primo, Jimmy — eu teria reagido com
surpresa, caso ele não tivesse me contado no caminho sobre o grau de
parentesco e como o primo havia ido parar no FBI depois de ter perdido os
pais em um atentado.
Apertei sua mão com firmeza.
— Prazer em conhecê-lo, Jimmy.
O homem assentiu.
— Na verdade, o prazer é todo meu — falou, com um sorriso no
rosto. — Você nem sabe há quanto tempo eu estou esperando para colocar as
mãos em todos aqueles filhos da puta.
Nós nos sentamos.
— Você não imagina o quanto eu espero que você consiga pôr as
mãos neles. Vamos ajudar em tudo que for possível.
— Meu primo entrou em contato comigo há algum tempo querendo
saber informações sobre o James Peter. Segundo ele, vocês não estavam
muito seguros sobre a presença dele no campus — assenti, confirmando as
informações. — Eu quero saber tudo que vocês sabem sobre ele.
Eu contei tudo que sabia. O que não era muito, neste caso. Não
mencionei em momento algum o que Leighton havia me contado. Expliquei
que ela tinha demonstrado medo em todas as vezes que cruzou o caminho e
como eu achava aquilo estranho.
— Você sabe dizer se há alguma ligação entre eles no passado? —
perguntou com a expressão séria.
Encarei-o por alguns segundos.
Não podia trair o que Leighton havia me contando, mas também se eu
queria que ele confiasse em mim, precisava mostrar que confiava nele. Era só
uma informação, não diria nada demais.
— O James foi vizinho dela quando minha namorada era criança.
Ele formou uma linha com os lábios, da mesma forma que alguém
costuma fazer antes de dar uma notícia desagradável.
— Andrew, possivelmente, a sua namorada foi uma das vítimas desse
cara. Pelo que temos conversado, ele começou com isso muito cedo. — Meu
coração acelerou de ódio. Não era um possivelmente, era uma certeza. —
Nós começamos uma investigação há alguns meses depois de uma denúncia.
A ideia inicial era efetuar a prisão imediata do dono de um site na darkweb,
mas quando começamos a investigar, descobrimos que existiam muito mais
coisas do que podíamos imaginar. Entrei em contato com uma pessoa que
acreditou que eu era um filho da puta depravado e me adicionou a um grupo
com milhares de outras pessoas. Nesse grupo, eram efetuadas as vendas de
packs. Pacotes com imagens pornográficas de crianças. Crianças de todas as
idades. De zero em diante.
— Bebês? — perguntei, chocado, sentindo meu estômago embrulhar.
Jimmy assentiu.
— Infelizmente a procura é maior do que você possa imaginar. — Ele
soltou o ar com força, como se estivesse cansado. — Uma quantidade
absurda de pessoas que pedem para ver imagens de crianças mostrando suas
partes íntimas ou em posições sexuais.
Senti meu corpo tremer de raiva.
Por Leighton.
Por saber que existem meninas e meninos que passam por isso.
— Foi assim que eu conheci o cara. O James. — Ele me olhou com
firmeza. — Ele me viu em um dos grupos que entrei por conta dessa
denúncia. Descobri que além dos grupos, havia muitos outros sites. O filho da
puta era, simplesmente, o maior distribuidor pornográfico infantil do mundo.
— Ele fez uma expressão de desgosto. — Passei algumas semanas
conversando com todos e sendo o mais convincente que eu podia. Quando ele
se sentiu á vontade o bastante, me mandou mensagem também oferecendo
pacotes com imagens. Ele disse que havia simpatizado comigo e que me
enviaria algumas para provar que possuía as melhores. Perguntou se eu
queria apenas das crianças, ou também delas em companhia, com alguém
realizando atividades com ela.
Mais uma vez meu estômago embrulhou.
— Nunca havia visto uma coisa tão nojenta assim em minha vida.
Aquelas crianças, a maneira como as pessoas expunham seus corpos. — Ele
balançou a cabeça em negativa. — Em alguns casos, os próprios parentes
gravavam os vídeos para realizarem a venda.
— Caralho — falei, ao mesmo tempo que Malcon soltou um palavrão.
— Mas isso é crime — afirmei.
— Sim.
— E não tem nada que vocês possam fazer? Se você quisesse ir à casa
dele e prendê-lo agora, não poderia?
— Poder, nós podemos. Mas estamos aguardando a hora certa —
falou, devagar. — Nós achamos que esse filho da puta é só um pau-
mandado. Queremos o manda-chuva. E eu preciso de mais tempo para que
ele me coloque no esquema e possamos acabar com essa porra de vez.
Soltei um suspiro resignado.
Era o pai dele.
Eu sabia, mas não podia contar. Não ainda. Não sem expor a Leighton
e uma parte dela que ela deveria decidir o que fazer a respeito. Eu precisava
conversar com ela. Precisa contar tudo isso para que ela soubesse o que fazer.
— E como caralho eles conseguem essas fotos das crianças? — queria
saber se eles ainda agem da mesma maneira que aconteceu com a Leigh.
— Algumas enviam por conta própria — A forma como fala
evidencia o quão ele detestava a situação. — Eles aliciam as crianças,
oferecem dinheiro e elas enviam fotos. Às vezes, eles mandam de presente
também lingeries provocantes. Algumas garotas em situação vulnerável
acabam sentindo que não tem escolha, que essa é uma forma rápida e fácil de
ganhar dinheiro. Outras, algum adulto que acaba filmando de forma ilegal e
sem o consentimento, obviamente.
Senti minha respiração pesar e a raiva começar a tomar conta de todo
meu corpo. Eu bem sabia a maneira como algumas dessas crianças eram
usadas.
— Eles são organizados também. Existem os arregimentadores,
administradores, moderadores, provedores de surporte de hospedagem,
produtores de material, disseminadores de imagens e muitos outros. —
Depois fez silêncio por alguns instantes. — Você acha que existe a chance de
sua namorada ter sido... — ele deixou a frase morrer, como se soubesse que
ouvi-la concluída mexeria ainda mais comigo.
— Como nós podemos te ajudar a pegá-lo? — Ignorei a pergunta
questionando-o e trincando os dentes com força.
— Existe uma maneira, e eu vou precisar da ajuda de vocês — eu
assenti.
Estava disposto a qualquer coisa para conseguir justiça por Leighton.
Para enviar aquele filho da puta até o quinto dos infernos.

— Aconteceu alguma coisa? Você sumiu hoje — Leighton perguntou,


depois de deixar a mochila no chão do meu quarto e se jogar na cama quase
como se fosse a dona do lugar.
Algumas semanas atrás e ela estava simplesmente olhando para a
cama como se lhe oferecesse um enorme risco.
— Precisei ir a um lugar com o Malcon — confessei, aproximando-
me e sentando-me ao seu lado. — Eu te chamei para vir aqui porque minha
saída de hoje tem tudo a ver com você, e eu quero que você saiba de tudo que
está acontecendo.
Leighton franziu o rosto, como se não compreendesse sobre o que eu
estava falando.
— Eu não sou um cara conhecido pela minha paciência de esperar,
Leighton — ela assentiu, a expressão começando a ficar séria. — Quando
você me pediu para começar a namorar você e nós encontramos com aquele
filho da puta na biblioteca, eu soube que havia alguma coisa de errado.
Lembra-se de que eu voltei com a desculpa de pegar um livro? — Leighton
assentiu, abrindo a boca alguns centímetros, tentando puxar o ar, nervosa. —
Você estava certa. Eu só queria marcar território, dar a entender que você era
minha. Também precisava de uma foto dele — contei.
— Uma foto? — Leighton pareceu ainda mais confusa.
— O Malcon, ele é aquele tipo de pessoa que conhece um cara, que
conhece um cara... — ela assentiu, como se conseguisse entender o que eu
queria dizer. — Ele sempre consegue informações sobre qualquer pessoa. E
eu queria saber quem era aquele filho da puta e o que ele queria com você.
— Então, quando eu te contei...
— Eu sabia que ele tinha sido transferido de Harvard, o que é
estranho. A Ivy League pode ter muitas universidades boas, mas ninguém
desperdiça uma vaga em Harvard — assentiu. — O Malcon descobriu que ele
não tinha sido transferido. Ele teria sido expulso, mas movimentações
bancárias substanciais foram realizadas na conta da família dele justamente
naqueles dias.
Fiquei um tempo em silêncio para que Leighton absorvesse a
informação.
— Você acha que ele comprou o silêncio de alguém? — perguntou,
parecendo incomodada.
Assenti.
— Hoje eu conheci um dos caras do Malcon. Ele trabalha para o FBI.
— Leighton arregalou os olhos, percebendo que a história havia ido mais
longe do que ela podia imaginar. — Existe toda uma organização criminosa
voltada para esse meio. Muito dinheiro rolando e uma enorme quantidade de
crianças de todas as idades que estão sendo usadas. Eles vendem pacotes com
imagens sensuais ou de corpos pelados de... de crianças
A palavra saiu rasgando pela minha garganta e eu senti o ar faltar por
alguns segundos.
Para mim ainda era inconcebível que alguém, qualquer pessoa,
pudesse ser a porra de um depravado para sentir atração por crianças. Por
bebês. Por pequenas pessoas que deviam ativar o nosso instinto de proteção.
— Eles ainda fazem isso, então? — seus olhos escureceram e a
expressão de tristeza tomou todo o seu rosto.
Segurei suas mãos entre as minhas.
— Sim. Eles ainda fazem isso.
Leighton piscou algumas vezes tentando controlar as lágrimas. Ela
mordeu o lábio e eu esperei para que conseguisse absorver o que estava
sentindo.
— O que o amigo do Malcon disse? — quis saber, depois de alguns
minutos encarando as mãos unidas e brincando sobre as coxas.
— Ele quer prender aquele desgraçado — ela assentiu. — Mas ele
precisa de ajuda. Da nossa ajuda. E ele também quer conversar com você, se
você quiser, claro.
Automaticamente seu rosto se virou em minha direção com uma
expressão alarmada.
— Eu não contei nada. Só que vocês foram vizinhos na infância, mas
ele já tem as desconfianças dele. — Leighton ergueu o rosto encarando o teto
tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair outra vez. — Você não é
obrigada a isso. — Lembrei-a, segurando as suas mãos geladas entre as
minhas. — Se você achar que é muito para você, ninguém vai te forçar. Nós
vamos entender você. Eu estou com você.
— Você acha que ele vai ser preso? De verdade? — a voz estava
cheia de expectativa. — Acha que depois que ele não estiver mais aqui, eu
vou poder ter uma vida normal, e não precisar mais ter medo dele?
— Sim. — Sorri, garantindo enquanto a fitava fixamente nos em seus
olhos. — E ainda bem que eu garanti que você não vai se livrar de mim
depois disso.
Leighton rolou os olhos, como se eu estivesse fazendo drama.
— Mesmo que você tivesse resistido aos meus encantos e não tivesse
me pedido em namoro. — Ela deu um sorriso divertido em minha direção. —
Ainda iria precisar de auxilio quando não conseguisse entender os jogos e
talvez você ainda pudesse me ensinar uma coisa, ou duas, sabe?
Ela arqueou uma sobrancelha em minha direção.
— Acho que eu criei um monstro, mas eu não tenho muito o que
reclamar — brinquei, puxando-a para mais perto de mim. Caímos na cama e
eu a acomodei sobre meu corpo. — Você vai ficar bem mesmo com isso?
Leighton assentiu.
— A Madison também tem contatos. Eu conversei com uma pessoa
logo depois de contar às meninas. Ela disse que foi a mesma pessoa que a
ajudou em um momento difícil — contou.
— Uma psicóloga? — quis saber, movendo o rosto de forma que
pudesse ver seus olhos.
Leighton moveu a cabeça, afirmando.
— Madison conseguiu uma consulta online e meio que me obrigou a
conversar com ela. Disse que mal não faria — contou. — Eu já tinha tentado
ir a uma psicóloga. Minha mãe me conseguiu uma quando percebeu que não
fazia amigos na escola nova, dormia muito nas aulas e conversava muito
menos com eles. Ela achava que era por causa da mudança, e me levou para
psicóloga. Eu briguei com ela e não falava nenhuma palavra durante a sessão,
e depois de algum tempo ela decidiu que faria o que eu queria. Mas, por mais
que eu quisesse contar a alguém, tinha medo de que ela contasse à minha
mãe, que isso refletisse no casamento dos meus pais. Que eles me odiassem.
Eu estava apaixonada na época, não queria que eles pensassem que eu quis
aquilo. Quando eu contei às garotas, Mad falou com a psicóloga dela que
conseguiu um espaço na agenda pra mim.
— E o Ab? — quis saber.
— Ab foi a melhor coisa que aconteceu comigo. — Leigh deu um
sorriso bonito, daqueles de quem está feliz de verdade. — Ele não ligava se
sentava ao meu lado e eu não falava nada, as pessoas na escola o ignoravam,
ou eram ofensivos com ele. Um dia fizemos um trabalho em dupla e nos
tornamos inseparáveis.
— Que bom que você tinha ele, então — assentiu.
— Eu achei que fosse odiar a psicóloga, sabe? Que não fosse
conseguir falar nada, mas... ela falou coisas que... não sei explicar. Ela disse
que esse tipo de coisa. — Parou, suspirando. — É crime. Esse tipo de crime
em um contexto familiar é complicado justamente por ser algo que o agressor
usa da confiança depositada nele. O que faz com que as pessoas. — Leighton
mordeu o lábio como se precisasse de muita ajuda para pronunciar as
palavras. — As pessoas como eu, acreditemos nas ameaças.
Assenti, compreendendo o ponto. Lembrando-me da sensação
horrível que é sentir-se traído por alguém em quem você acreditava poder
confiar sua vida.
— Nós conversamos hoje também. Na hora, foi horrível, sabe? Ter
que lidar com tantas coisas que estavam escondidas dentro de mim há tanto
tempo. Tantas coisas que eu quis ignorar e esconder — ele deu um suspiro
longo. — Eu sei que pra me sentir melhor comigo mesma vai ser um longo
caminho, mas depois que parei para pensar em algumas coisas que ela me
disse, acho que estou me sentindo um pouco melhor.
— Então você não tem mais medo dele?
Leighton riu de forma quase inaudível, mas a maneira como seu corpo
me moveu, indicava que havia sorriso, sim.
— Eu ainda morro de medo dele. Tenho vergonha de que as pessoas
possam descobrir o que houve e ainda assim preferirem acreditar que eu sabia
de tudo. Que era conivente. Eu só... — ela soltou o ar com força. — Por outro
lado, não quero passar o resto da minha vida fugindo do meu passado. Em
especial quando ele está aqui dentro.
Leighton bateu com o indicador na têmpora, indicando que tudo
estava em sua mente.
Assenti.
Os olhos dela não saíam de meu rosto, como se estivesse pensando
sobre alguma coisa que não queria falar.
— O quê? — perguntei, depois de um tempo, incomodado com a
maneira que ela me encarava com intensidade.
Leighton negou com um balanço de cabeça, passando o indicador por
minha sobrancelha. Fechei os olhos absorvendo o contato de sua pele quente
contra a minha. Senti quando ela se aproximou. Seu hálito beijando a minha
pele fazendo cócegas, o indicador brincando com meu nariz, minha boca,
acariciando o lóbulo da minha orelha e me fazendo estremecer um pouco.
— O que você está fazendo? — perguntei, ainda de olhos fechados,
usando um tom baixo.
— Te agradecendo — falou, dando mais um beijo. — Te agradecendo
por você ser tão incrível comigo.
Mas seus lábios encontraram os meus. Delicados e convidativos.
Sentia a respiração quente resvalando contra meu rosto. O beijo foi delicado e
sutil. Sem urgência. Como se ela quisesse apenas aproveitar aquele momento.
Meu coração bateu rápido.
Eu amava beijar aquela garota.
Amava passar um tempo com ela.
Amava seu jeito delicado, mas também firme.
Amava a paz que sentia quando estávamos juntos.
Como se o mundo parecesse um lugar bom e todas as outras vozes,
todo o ódio que eu sentia, conseguissem se calar por alguns instantes.
Amava o fato de que ela era, de verdade, a minha namorada.
Meu coração parou um pouco quando me dei conta de uma coisa: Eu
não gostava da Leighton. Eu estava apaixonado por ela.
Eu a amava.
E eu tinha esperança de que ela se sentisse da mesma forma com
relação a mim.
Capítulo 45

Os últimos dias foram maravilhosos.


Mesmo.
Andrew era um bom amigo, mas um namorado ainda melhor. Fiquei
surpresa quando ele me contou que já tinha começado por conta própria a
investigar o passado do James, e fiquei feliz ao constatar que ele se importava
comigo muito mais do que demonstrava.
Depois da viagem até a sua casa de infância, nós ficamos ainda mais
próximos, e eu nunca achei que pudesse sentir meu coração bater de maneira
tão descompassada por outra pessoa como batia por ele.
A verdade era que a cada dia eu achava mais um motivo para me
apaixonar pelo cara que eu, um longínquo dia, detestei.
E estava feliz assim.
Soltei um suspiro olhando, através da enorme janela de vidro estilo
Friends, as pessoas caminhando até a porta do café onde estávamos. Meu
coração automaticamente dava um solavanco no peito imaginando que podia
ser o agente com quem conversaria.
Ele havia entrado em contato com o Malcon ontem cedo marcando
uma conversa comigo hoje. Eu estava com medo de tudo que podia acontecer
a partir daqui.
— Não precisa ficar nervosa — Andrew falou, dando um beijo na
minha mão que estava entrelaçada a dele.
— Fácil falar. — Fiz uma careta.
— Só fácil mesmo, você precisava ver quando conversamos com o
Jimmy pela primeira vez, o pedaço de chão onde ele batia o pé deve estar
danificado até hoje — Malcon falou, me fazendo rir um pouco.
Ele veio conosco por ser o contato do agente que era seu primo, mas
havia dito que caso eu não me sentisse confortável com a sua presença, ele
podia nos deixar a sós. Para mim, não fazia diferença. Malcon era o melhor
amigo do Andrew e ele não confiava nas pessoas com facilidade, isso com
certeza devia mostrar que o amigo era alguém em quem eu também podia ter
confiança.
Não demorou muito para que o agente chegasse. Nós fomos
apresentados e, em seguida, sentamos à mesa.
— Essa é só uma conversa informal. Preciso que você saiba disso.
Você não será gravada nem obrigada a responder pergunta alguma. Mas
estou aqui para tirar todas as dúvidas que você possa vir a ter — assenti,
sentindo meu coração bater acelerado no peito, nervosa. — Se quiser que eu
pare de falar, é só interromper. Tudo bem?
Acenei afirmando outra vez.
Ele então me contou sobre tudo.
Sobre como descobriu sobre o esquema que rolava, sobre como ficou
espantado a ver a quantidade de pessoas envolvidas. Quer fossem pessoas
que queriam ter acesso às fotos ou pessoas que queriam enviar imagens suas
ou de vulneráveis com quem tinham contato.
Era nojento.
Senti uma ardência no estômago enquanto o ouvia. Era podre.
Nojento.
A internet não era tão fácil quanto hoje. Isso significa que
antigamente as fotos analógicas eram vendidas pessoalmente para
depravados.
— Eu sei que essa é uma pergunta difícil de ser respondida — Jimmy
falou, cruzando os dedos e apoiando os braços sobre as pernas. — Mas você
acha que pode ter sido uma das vítimas dele?
Olhei para o Andrew. Eu queria saber se realmente era confiável
contar a ele. Senti suas mãos apertando as minhas. Ele não assentiu, nem
negou. Só queria que eu soubesse que estava ali comigo, independente do que
eu decidisse fazer.
Mordi o lábio com força, balançando, lentamente, a cabeça de forma
afirmativa. Malcon soltou um palavrão baixo, como se ainda tivesse
esperanças de que não fosse verdade.
— Sim. Ele tinha fotos minhas — falei com a voz baixa. — Não sei
se as fotos foram distribuídas. Naquela época, o James agia como se gostasse
de mim. Ele me fez pensar assim. No dia que eu descobri, ele me disse que
aquelas fotos eram pra ele. Que ninguém havia visto, mas eu já não podia
confiar na sua palavra.
Senti quando minha garganta se fechou, embargando.
Andrew apertou um pouco mais a mão na minha, acariciando-a, me
passando algum conforto.
E então, foi a minha vez de contar a ele sobre tudo.
Sobre a amizade de nossas famílias, sobre como eu confiava neles.
Sobre como eu os vi fotografando aquela garotinha e como eu fui embora
sem nunca tocar no assunto com ninguém.
Até aquele momento, quando ele ressurgiu dos mortos para me
atormentar.
— Leighton — ele falou depois de algum tempo apenas me
escutando. Parecia surpreso, como se acabasse de descobrir algo muito
importante. — Você está me dizendo, então que o filho da puta do Jason está
metido nisso?
Assenti com um balançar de cabeça.
— Eu tenho certeza de que foi ele quem começou com isso.
Ele soltou um palavrão irritado.
— Aquele filho da puta vem nos enganando então há tempos! Nos
fazendo de palhaços. — Jimmy passou as mãos pelo rosto irritado. — Nós
suspeitamos dele, mas o filho da puta conseguiu nos despistar.
O Jimmy fechou a mão, irritado.
— Eles têm bons servidores. Alguns nós já conseguimos derrubar e
descobrir quem eram. Temos muito mandados em andamento e quando
finalizarmos isso mais de setecentos filhos da puta estarão atrás das grades.
Nós já tínhamos investigado o Jason e nunca tínhamos conseguido provar
nada. Era como se ele fosse o desgraçado mais bem protegido da porra desse
mundo, agora, com você confirmando nossas suspeitas. — Ele balançou a
cabeça em negativa.
— Você tem aquelas fotos ainda? — perguntou, referindo-se as fotos
que ele havia me enviado alguns dias atrás. Assenti. — Se você não se
incomodar, gostaria de tê-las como provas também.
Assenti.
— Leighton — Jimmy me chamou, fazendo-me olhar para ele. — Eu
não tenho como mensurar como você está se sentindo, ou como se sentiu
naquela época, mas eu juro que aqueles filhos da puta vão pagar por cada um
dos crimes que cometeram contra você e todas as crianças com quem ele
mexeu.
Assenti.
A maneira firme e segura como ele falou, me fez ter certeza de que
era algo certo. O James seria preso. O Jason também.
Seria o fim para mim e para tantas outras garotas

— Tem certeza de que quer fazer isso? — Andrew perguntou,


sentando-me ao seu lado bem em frente à tela do computador com uma foto
nossa agora, no fundo.
Andrew tinha tirado aquela foto instantes antes. Eu usava um cardigã
vermelho e calça jeans. Ele tinha sentado ao meu lado e segurado minha mão.
Depois, passou um braço por meus ombros levando-me para perto dele e
deixando um beijo em minha têmpora. Eu sorri. E foi assim que aquele
momento ficou congelado na imagem que eu observava agora.
Soltei o ar com força.
— Se a verdade vai ser dita, eu quero que eles saibam por mim —
afirmei, apertando um pouco mais a sua mão.
Meu coração batia todo errado.
Não havia o menor ritmo.
Nada.
Ele só batia em uma tentativa de manter-me viva.
E funcionava. Mas não tinha certeza de que seria por muito tempo.
— Vai dar tudo certo — Andrew falou, aproximando o rosto do meu
e colando nossos lábios rapidamente.
Antes que eu pudesse responder, a solicitação de vídeo apareceu na
tela. Eu me senti enjoada, mas mesmo assim cliquei no botão verde aceitando
a chamada.
A imagem dos meus pais sentados lado a lado com um enorme sorriso
no rosto por estarem me vendo era reconfortante e, ao mesmo tempo, era
triste. Eles não sabiam, mas eu iria partir o coração deles nesse momento. E o
meu também.
— Oi, meu amor — mamãe foi a primeira a falar, exatamente como
eu sabia que aconteceria. E, apensar de falar comigo, os olhos já não estavam
em mim. Eles analisavam o meu namorado sentado ao meu lado — Quem é
esse, hein? — ergueu uma sobrancelha divertida para mim.
— Oi, mãe. Oi pai. — Sorri. — Esse é meu namorado, Andrew —
falei, sem demora. Com certeza essa seria uma longa chamada.
Andrew acenou para eles.
— Senhor, senhora. — Deu um sorriso. — Se me permite dizer,
senhora, agora eu sei por que eu namoro a garota mais linda desse lugar.
— Ai, ele é um bajulador. — Mamãe pôs a mão no peito, como se
achasse aquilo a coisa mais linda do mundo. — Gostei dele, meu amor.
Ela nem precisava dizer para que notássemos. Inclusive, isso ficou
ainda mais claro quando, no meio da chamada, ela me enviou uma mensagem
de texto falando sobre como ele era lindo e que estava feliz por mim.
Eu ri, achando graça, mas sentindo minhas mãos gelarem a cada
segundo que se passava. Papai e Andrew começaram a falar sobre o curso
que ele fazia, plano de carreira e tudo que envolvia futuro, como se eu tivesse
acabado de dizer que íamos nos casar na semana que vem.
Andrew passou o polegar pelas costas de minha mão tentando me
acalmar quando soltei um suspiro forte.
— Mamãe, papai, nós precisamos ter uma conversa séria — falei,
estremecendo e sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.
— Ai, meu Deus, me diz que você não está gravida — mamãe falou
com um ar mais sério na voz do que eu estava acostumada.
— Não, mãe. — Rolei os olhos tentando soar divertida, já sabendo
como seria difícil fazer o que eu tinha que fazer.
Meu estômago dava voltas e eu sentia que estava prestes a vomitar.
Meus pais iam me odiar.
— O que eu vou falar é sobre algo que aconteceu no passado — olhei
para Andrew precisando saber que ele estava ali. — Sobre o James e o Jason.
Mamãe franziu o cenho parecendo não compreender o que pessoas
com quem não falávamos há tanto tempo tinham a ver com o assunto.
— O James e o Jason? — papai repetiu a pergunta, também tentando
compreender como eles viraram assunto.
— Sim — soltei o ar com força. — Eles mesmos.
Comecei então, a outra vez, narrar fatos que eu, até há pouco tempo,
mantinha escondido de todos. Contei sobre a câmera que eles usavam para
que eu pudesse treinar minha atuação e como eu me sentia nesses momentos,
depois contei que sempre acordava em seu quarto dormindo em sua cama.
Falei sobre o dia em que mamãe me contou da mudança e depois narrei tudo
que aconteceu naquela casa e como eu tive medo de que eles me odiassem
por isso.
Mamãe ficou pálida enquanto ouvia, depois seu rosto ficou vermelho
por conta do choro incessante. Papai também chorou. Mais contido. Mas
dolorido por saber tudo que aconteceu e como eu passei sozinha pelos piores
momentos da minha vida.
Queria ter contado sobre as investigações, mas Andrew não achou
uma boa ideia. Ele teve medo, de que a história acabasse se espalhando antes
que o FBI conseguisse por fim ao esquema.
— É tão difícil saber o tanto mal que fizemos a você, meu amor —
mamãe falou com a voz tomada pela dor e entrecortada pelo choro. — Nós
achávamos que podíamos confiar neles, que eram nossos amigos e que a
viam como uma filha, nunca podíamos pensar que...
Parou, voltando a chorar e sem conseguir concluir a frase.
Papai deixou que ela afundasse a cabeça em seu peito enquanto
lamentava, sentindo-se culpada.
— Nós nunca teríamos duvidado de você, Leighton. Nunca — papai
falou, emocionado. — Você é a pessoa que mais amamos no mundo. E, nem
por um segundo, teríamos duvidado de você.
Assenti, sentindo as lágrimas se acumularem em meus olhos outra
vez.
— Desculpa, pai — pedi, sentindo meu coração apertar por estar
fazendo-os sofrer enquanto sentia as lágrimas rolarem por meu rosto. —
Desculpa, eu não...
— Não, querida. Nós é quem temos que nos desculpar com você. Nós
só... nós pensamos em te deixar com alguém que você confiava e se sentia
bem, alguém que nós confiávamos. — Papai passou a mão pelos cabelos,
parecendo irritando. — Alguém que fez essas coisas horríveis com a minha
garotinha. Com tantas garotinhas.
Prendi a respiração por alguns segundos tentando interromper o choro
que estava prestes a sair.
Andrew passou as mãos por meu braço tentando me confortar. Nós
permanecemos por um tempo juntos, chorando, mesmo distantes, unidos
como uma família.
Desligamos a chamada vários minutos depois, com a promessa de que
mamãe conseguiria uma licença do trabalho e passaria alguns dias comigo.
Andrew me puxou para o calor dos seus braços assim que desligamos
a chamada, deitando-se no sofá e me puxando para cima do seu corpo.
— Você foi incrível, Afrodite. E muito corajosa. — Andrew deu um
beijo em minha cabeça passando os braços por minhas costas.
Gostava quando ele fazia aquilo. Acalmava-me de verdade.
Estar com ele me acalmava.
Andrew ficou ali um tempo até que as minhas lágrimas tivessem
cessado, jurando que estaria comigo e que tudo ficaria bem. Que estava
orgulhoso de mim e que eu podia contar com ele.
Eu odiava que James tivesse voltado, odiava que ele estivesse tão
perto. Mas, por causa dele, minha vida havia dado uma volta incrível. Eu
estava namorando um cara incrível de quem eu gostava de verdade e, além do
mais, ele seria preso. Tudo ia acabar.
E isso porque ele havia decidido voltar.
A justiça seria feita, e pensar nisso, ainda que com o coração doendo,
me acalentava um pouco.
Ali, nos braços do Andrew, sentindo o calor do seu corpo contra o
meu, adormeci. E nunca me havia sentido tão segura em minha vida.
Capítulo 46

— Para onde vamos? — minha namorada perguntou outra vez,


segurando a minha mão com firmeza enquanto me olhava com os olhos
brilhando de curiosidade.
— É uma surpresa. — Repeti o mesmo que vinha falando desde que
havia ido buscá-la na fraternidade de Madison com o carro que Malcon havia
me emprestado outra vez.
— Eu não gosto de surpresas — resmungou, dando de ombros.
— Mas eu gosto de você e você gosta de mim, então seja uma boa
menina e me deixe, pela primeira vez, mimar a minha primeira namorada.
Ela não tinha como refutar o argumento, então só fez uma careta para
mim, como se tivesse seis anos, e voltou a olhar a paisagem pela janela.
— Você vai me levar para vermos o pôr do sol na praia? — voltou o
rosto em minha direção outra vez incapaz de controlar a curiosidade.
— Não vou contar, Afrodite. Nem adianta.
— Vamos jantar em algum lugar chique, ou você não estaria usando
essa roupa tão formal. — Leighton mordeu o lábio olhando. passando o olhar
por todo o meu corpo, provocativa. — Se você não estivesse dirigindo, eu
poderia sentar em você agora. Esse estilo te deixou um tanto gostoso demais.
Engoli em seco e percebi o sorriso em seu rosto.
Ela sabia como me deixar excitado.
— Não me olha assim, mulher — falei, dando um sorriso de lado para
ela.
— Assim como? — Franziu o rosto, fingindo inocência.
Pus uma das mãos em sua perna, passando meus dedos lentamente
pela parte interna da coxa.
— Me provocando — devolvi, subindo um pouco mais a mão agora já
dentro do vestido e bem perto do seu centro. Sua respiração estava ofegante
e, apesar de manter os olhos fixos na direção, subi ainda mais a mão notando
sua respiração se agitar. Meu pau já latejava ainda mais na calça e eu encostei
o indicador e o dedo médio em sua boceta. — Porque se você quer brincar, eu
posso continuar esse jogo também.
Apertei meus dedos em seu clitóris e Leighton pressionou a cabeça no
encosto do seu bando.
— Andrew — murmurou.
Fiz um pouco de pressão, tirando a mão do meio de suas pernas em
seguida.
Ela abriu os olhos, me encarando com dúvida na expressão.
— Se nós continuarmos, eu vou parar o carro no acostamento pra te
comer, porque, caralho, não existe coisa melhor do mundo inteiro que estar
dentro de você, Afrodite — ela deu um suspiro. Eu amava que Leighton
havia se tornado uma garota sem o menor pudor. Não parecia mais aquela
garota que no começo mal podia ouvir falar sobre foder, boceta ou pau. — E
eu não posso arriscar perder nosso primeiro encontro.
Leighton me encarou com o olhar cheio de brilho, mas o tesão ainda
estava lá. Ela me queria tanto quanto eu a ela.
— Isso é um encontro? — perguntou, animada.
— Eu percebi que estamos namorando há algum tempo e eu nunca te
levei em um encontro de verdade, nós dois e aquelas coisinhas românticas
desses filmes de menina.
— E você parece entender bem do assunto, pelo visto. — Leighton
apertou os olhos em minha direção.
Dei de ombros.
— Deixe-me adivinhar, você tem uma irmã — ela falou.
— Eu tenho uma irmã — repeti, fazendo-a sorrir.
Ela olhou pela janela por alguns instantes antes de voltar a me
encarar.
— Já podemos falar sobre para onde você vai me levar?
— Ainda não, Afrodite. Não vou estragar a surpresa.
Dessa vez ela bufou, dando-se como vencida e aumentando o som do
rádio e cantarolando a música que começou a tocar. Era um Indie Folk bem
gostosinho, nunca tinha ouvido, mas Leighton cantava como se fosse de uma
banda famosa. A letra falava sobre a importância que um grande amor teve,
até a chegada de um novo amor. Um pouco trágica.
Tentei, por alguns segundos, em como seria não ter a Leighton em
meu coração. Ter outra namorada. Outra garota. Não conseguia.
Eu a queria e apenas ela.
Pedi ajuda a Madison para conseguir um encontro perfeito para minha
namorada. Eu era o seu primeiro namorado. Sabia que ela se importava com
isso, e eu queria fazer de tudo para agradá-la. Fazer Leighton feliz me
deixava feliz. Queria fazer algo memorável para ela e esperava que gostasse
do programa que havia escolhido.
Parei o carro no acostamento quando estávamos próximo, tirando a
minha gravata e entregando-lhe. Ela apertou ainda mais os olhos para mim.
— Esse é o momento em que você diz que mudou de ideia e que
vamos começar a ficar pelados?
— Esse é o momento em que você vai colocar isso aqui nos olhos e
ficar bem paciente esperando a surpresa.
Ela pegou o tecido em minha mão, prendendo-o ao rosto sem
reclamar, dando-se conta de que não importava o que dissesse. Nenhuma
pergunta seria respondida.

A Houston Street é uma das principais vias de comunicações leste-


oeste de Manhattan. A rua recebeu esse nome em homenagem a um delegado
do estado da Georgia.
A 44th Street estava mais vazia do que eu havia imaginado. Não foi
difícil conseguir uma vaga. Leighton ficou mais ansiosa ao notar que
estávamos parando e seguia sem fazer ideia de onde estávamos indo.
Depois de estacionar o carro, desci correndo para o seu lado da porta,
e estendi a mão para ela, segurando-a de forma que não entortasse o pé ou se
machucasse ao descer. Segurei uma de suas mãos e, com a outra mão, sua
cintura.
— Cuidado — falei, enquanto a ajudava a dar pequenos passos ao
local aonde íamos.
— Já pode me contar onde estamos? — perguntou.
— Não sei se estou namorando com uma garota, ou com o burro do
daquele desenho.
Ela não falou nada, mas balançou a cabeça em negativa, achando
graça. Ainda a segurando, posicionei seu corpo de frente para o Majestic
Theatre.
— Está pronta? — quis saber.
Dei a volta em seu corpo e pondo as minhas mãos em seus ombros,
aproveitando para colocar um pouco do cabelo dela para o lado e plantar um
beijo em sua nuca. Sorri quando ela se arrepiou.
— Acho que sim. — Leighton mexeu as mãos em frente ao corpo,
nervosa.
Comecei a desamarrar a gravata que havia prendido sobre seus olhos
tomando todos os cuidados que a maquiadora exigente recomendou para não
destruir a maquiagem da sua modelo. Leighton arfou de felicidade vendo a
enorme placa do teatro.
— Andrew isso é... — Leighton virou o rosto em minha direção, com
um enorme sorriso no rosto — Nós estamos na Broadway. Vamos assistir?
Assenti sentindo um sorriso se formar em meu rosto.
Leighton envolveu meu corpo em um abraço animado.
— Obrigada, obrigada, obrigada!! Eu amei!!!
— Bem, eu ficaria decepcionado se você não gostasse — falei,
rodeando a sua cintura e dando um beijo leve em seus lábios.
— Quando a Mad começou a me arrumar, eu fiquei um pouco
desesperada, achando que tinha perdido alguma data comemorativa. —
Pareceu um pouco constrangida ao confessar.
— Então, você é o tipo de namorada que não lembra as datas
especiais? — Leighton fez uma careta fofa, quase um pedido de desculpas.
Puxei-a um pouco mais para perto. — Mas, sim. Estamos comemorando o
hoje. Todos os dias são especiais. — Bati com a ponta do indicador em seu
nariz. — E se eu sou o seu primeiro namorado, é importante te levar para um
primeiro encontro de verdade.
Leighton sorriu.
— Obrigada por isso. Esse é sem dúvidas o melhor primeiro encontro
de todos — falou, pousando a cabeça em meu ombro e soltando um suspiro.
— Ninguém nunca fez nada assim por mim.
— Isso é bom pra mim. Não vou precisar me preocupar em superar
ninguém. — Leighton deu um tapinha em meu braço sorrindo. — Na
verdade, acho que vou ser um alto concorrente para mim mesmo, porque não
tenho nenhuma pretensão de te deixar terminar comigo, Afrodite.
— Se você continuar se comportando bem, também não terei intenção
de terminar com você, lutador.
— Que bom que estamos na mesma página então. — Salpiquei um
beijo em sua boca, segurando sua mão e começando a nos encaminhar para a
entrada do Teatro.
Leighton queria ser atriz, e se ela ainda tivesse esse sonho, eu queria
que ela o realizasse. Talvez estar mais perto daquilo que ela gostava fizesse
reacender a chama.

O Fantasma da Ópera era simplesmente o espetáculo com a carreira


mais longa da Broadway, tendo sua estreia em 1988 e vencedor de 7 prêmios
ao longo dos anos.
Situado no século XIX, contava a história de um homem deformado
que se escondia em uma adega da casa de ópera, aterrorizava os trabalhadores
do teatro e se apaixonou por uma dançarina, a Christine. Então, ele a ensina a
cantar para que ela tivesse a chance de se tornar uma musa. Entretanto, ele
percebe que esse será um amor impossível e jura vingança.
Eu não era um cara de teatro ou coisa assim, mas não podia negar que
o cenário era enigmático, nos levando a instigar ainda mais o público, ao
mesmo tempo que podia ser considerado assustador. O figurino, a trilha
sonora, cada pequeno detalhe da produção colaborava para que, de fato, ela
fosse o sucesso que havia se tornado.
Assistir Leighton durante a apresentação foi um espetáculo à parte.
Ela suspirava, dava pequenos pulos na cadeira quando se assustava, chorava e
eu ficava vidrado em suas expressões.
De certa forma, eu conseguia me ver naquele lugar, como o fantasma.
Um cara fodido que descobriu que ainda podia se apaixonar e que estava
disposto a tudo pela garota que havia conquistado seu coração. Infelizmente,
no meu caso, também havia uma terceira pessoa. Felizmente, Leighton o
detestava.
Eu não sei se poderia lutar por ela.
Talvez, sem mim, ela pudesse ter uma vida melhor, um futuro melhor,
ao lado de outra pessoa, mas talvez, por ela, no final das contas, eu me
tornasse um filho da puta egoísta e pensasse apenas em mim para, mesmo
sabendo que podia não ser o melhor, não a deixaria ir.
Ela não era qualquer garota, era a minha Afrodite.
Ri lembrando-me da primeira vez que associei o apelido a ela. Foi
exatamente quando eu notei que todos os caras paravam para secá-la. Eu
sabia que ela fisgaria alguém rapidamente. Só não desconfiei que esse alguém
seria eu mesmo.
— O que foi? — Leighton quis saber ao perceber que estava sorrindo.
— Nada — balancei a cabeça em negativa. — E então, o que achou
do encontro? — apesar de supor que ela realmente havia gostado, estava
nervoso para ouvir de sua boca.
— Digamos que eu estou ansiosa para saber como vai me surpreender
da próxima vez. — Ela parou, circundando meu pescoço com os braços. —
Eu amei.
— Sinto muito, Afrodite, mas as mulheres vivem pedindo direitos
iguais. O próximo encontro está por sua conta. — Dei de ombros.
Leighton rolou os olhos, afastando-se e segurando meu braço para que
voltássemos a andar.
— Você não pensa mais em ser atriz?
Leighton balançou a cabeça em negativa.
— Eu acho que nunca me sentiria confortável completamente tendo
que tirar fotos com pessoas que não conheço. Ou morreria de medo de ter
alguma foto vazada na internet. Seria um sonho que se tornaria uma tortura
para mim.
Assenti, notando que fazia sentindo seu receio.
— Você me trouxe aqui por isso? — ela quis saber. — Para que eu
tivesse certeza do que queria?
Assenti.
— Talvez você ainda quisesse isso, só não soubesse. — Dei de
ombros.
— Não. Quando eu sair da Walker, será como assistente social. Vou
cuidar de criancinhas que precisem de mim.
— É um plano bonito — comentei, me sentindo orgulhoso dela.
Tinha certeza de que em algum lugar, Leighton salvaria crianças de
pais babacas e que só pensavam neles mesmos.
— E você? Quando pensa no futuro, como você se vê?
Balancei a cabeça, negando.
— Não sei — confessei, tentando engolir a chateação. Já havia
pensado nisso tantas vezes. Já havia sentido ódio por isso tantas vezes. Eu
abri mão do meu sonho e apesar de gostar da área que eu havia escolhido, eu
sentia que viver engravatado em uma sala ia me matar aos poucos. —
Quando eu era mais novo, tinha certeza de que minha vida seria no hóquei.
Acabei desenvolvendo gosto por arquiteturas diferentes. Acho que vai ser
isso mesmo.
— Você fala do esporte com tanta paixão — comentou.
— Acho que não tem nada que eu goste mais de fazer do que isso.
Depois de sexo, claro. Especialmente, sexo com você — falei, vendo-a rolar
os olhos tentando parecer entediada, mas, com certeza estava gostando.
— Será que você não conseguiria entrar para a liga profissional?
— Não. — Soltei um suspiro, chateado.— Para isso eu tinha que ter
conseguido entrar nos times universitários. O que é uma pena, porque você
daria uma ótima namorada de capitão. — Apertei seu nariz, tentando mudar o
assunto.
— Eu sinto muito mesmo. Tenho certeza de que você seria o melhor
capitão de todos — ela falou, tocando meu rosto e levando-me a fechar os
olhos.
— Foi minha mãe quem me levou para jogar pela primeira vez —
contei.
Eu ainda era muito pequeno. Devia ter cinco anos, talvez. Mas não
tive dúvida alguma de que eu amava aquilo. Mamãe, no mesmo dia, me
conseguiu tudo que eu precisava. Patins, lâminas, taco, a roupa, proteção e
me matriculou em nossa escola. Ela era sempre a primeira a nos incentivar
quando queríamos fazer algo. Se um de nós quiséssemos tocar gaita de fole,
sem dúvida ela teria ido a Escócia a pé para garantir que tivéssemos o que
queríamos.
— Você sente muita falta dela, não é? — Leighton passou o indicador
por meu rosto.
— Todos os dias, o tempo inteiro — falei, soltando o ar com força. —
Se ela estivesse aqui, nossas vidas seriam muito diferentes.
— Eu sinto muito — falou, fazendo um carinho em meu braço.
— Eu também sinto.
Continuamos andando por mais alguns minutos. O céu estava
estrelado e Leighton olhava fascinada para as estrelas.
— Ei — ela chamou e eu a encarei. — Tive uma ideia. Você me deu
um memorável dia de hoje. Que tal eu te dar uma memorável madrugada
inteira?
A voz estava carregada de promessas as quais eu não tinha a menor
intenção de negar.
Nem precisei responder, apenas segurei a sua mão, levando-nos de
volta ao carro. Pela maneira como ela sorriu ao ver a minha pressa, ela
também se sentia da mesma forma, e, caralho, eu estava viciado nela.
E não tinha a menor intenção de fazer algum tratamento para que
aquele vício fosse sanado. Tudo que eu queria era garantir que o meu gosto
preferido estaria ali comigo, sempre.
Capítulo 47

— Acho que estou apaixonada por seu namorado — mamãe falou,


dando um suspiro enquanto observava Andrew voltar para a cozinha da casa
dele. — Alguma chance que você termine com ele para que eu peça o
divórcio?
— Mãe. — Ralhei, rindo.
Meu namorado insistiu que mamãe não devia pagar hotel nem nada e
sim se hospedar no quarto da Olívia que estaria sem ninguém mesmo.
Mamãe, claro, aceitou. E eu acabei vindo passar uns dias aqui também com
ela.
— O quê? Ele é perfeito, filha — falou, dando um sorriso. — Você
está apaixonada por ele, não é?
Ela ergueu uma sobrancelha me encarando. Mordi o lábio,
aproveitando para começar a arrancar um fio que começava a soltar do casaco
de tricô cinza que eu vestia.
— Não sei se apaixonada, mas eu gosto dele — confessei.
— E ele de você, com certeza — garantiu.
— Não tem como a senhora saber disso, mãe. — Rolei os olhos,
tentando ignorar a mesma coisa que senti em meu peito quando Olívia fez a
mesma pergunta. Ela sim podia saber.
— Claro que tem. É só ver a forma como ele te olha. — Mamãe deu
um tapinha em minha mão. — Sem falar que um cara que não está
apaixonado jamais chamaria a mãe da namorada para ficar na casa dele. Ele
foi TÃO paciente comigo esses dias que não foi possível deixar de imaginá-la
construindo uma família ao lado desse rapaz, meu amor. E depois de tudo que
ele passou, Deus sabe que esse garoto precisa de um pouco de felicidade.
Andrew contou uma versão bem resumida da história dele para
mamãe, deixando de fora a parte das lutas, claro. Não que ela fosse gostar
menos dele por isso. Na verdade, só ele acreditava que isso era relevante. O
que Andrew fazia pelos irmãos era uma prova de amor. Para mim era difícil
compreender que ele não conseguisse enxergar dessa maneira.
— Eu sei — concordei.
— Fico feliz por ter encontrado essa garoto que tem cuidado de você
de tantas formas. De formas como seu pai e eu não...
Parou de falar quando a voz embargou e os olhos se encheram de
lágrimas outra vez.
— Mãe — chamei em um tom de reprimenda. Já havíamos
conversado sobre isso tantas vezes.
Ela não conseguia parar de se culpar. Achava que se não tivesse
trabalhado tanto, tudo podia ser diferente. E apesar dos meus pais não
estarem brigando agora, às vezes eu me pegava pensando se o James e Jason
não estavam certos. Se meus pais não passariam tanto tempo se culpando que
acabariam com o casamento deles. Minha psicóloga dizia que era normal ter
esse tipo de pensamento – tanto eu quanto mamãe – mas, que nós tínhamos
que ter em mente que éramos inocentes.
Minha mãe estava me deixando aos cuidados de pessoas em quem
confiava e eu não consegui compreender a gravidade do que havia acontecido
comigo. Agi tentando proteger as pessoas que eu amava e que isso também
era uma das piores formas de abuso psicológica. Fazer com que a vítima se
sentisse culpada com o que aconteceria caso eu decidisse denunciar.
— Eu sei, eu sei — falou, olhando para cima e abanando as mãos
perto dos olhos como se quisesse que as lágrimas voltassem. — Desculpa, é
só que eu te olho e penso no quanto deve ter sido difícil para você passar por
isso sozinha e me sinto uma péssima mãe por não ter, sei lá, tentando te
entender mais, ou que eu não tivesse passado todas as horas do meu dia com
você para evitar que isso acontecesse e...
— Mamãe. — Coloquei a mão sobre a sua. — Você é a mãe mais
perfeita que eu poderia ter e eu a amo com todo o meu coração. A senhora
precisava daquele emprego, o papai precisava trabalhar e eu nunca, nunca os
culpei nem por um segundo, pelo que aconteceu.
— Leighton, você é a melhor filha que qualquer mãe poderia ter —
falou, abraçando-me emocionada.
— E a senhora é a melhor mãe que eu podia ter. — Apertei-a com
força entre meus braços.
Não queria que ela tivesse que ir amanhã. Aliás, nem ela queria ir.
Tinham sido dias bons aqui. Comidinha da mamãe, colo e muito carinho. Eu
percebia a maneira que Andrew, Jackson e Benjamin nos olhavam e sorriam
para nossas interações.
Eles desejavam poder ter aquilo outra vez com a pessoa que perderam
tão precocemente. Mamãe também havia notado, claro. E estava sempre
procurando motivos para dar aos garotos aquilo que lhes faltava. Carinho
materno. Sempre havia um abraço, um elogio, um afagar. No começo, os
meninos pareceram um pouco desconfortáveis, mas aos poucos estavam tão
acostumados que eu não estranharia se eles aparecessem chamando-a de
mamãe também.
— Queria poder ficar mais tempo, querida — lamentou, soltando um
suspiro e emoldurando meu rosto em suas mãos encarando meus olhos. —
Mas eu quero que saiba que eu estou orgulhosa de você, meu amor. Muito
orgulhosa da mulher que você se tornou.
— E eu só sou essa mulher porque tive o exemplo da senhora para
seguir — falei, dando um sorriso leve.
Andrew voltou para sala alguns instantes depois trazendo um balde de
pipoca e um litro de refrigerante. Ele também não bebeu uma gota de álcool
nesses sete dias em que mamãe esteve aqui. Queria estar alerta para poder
levá-la a todo e qualquer lugar que quisesse conhecer. Eu queria só ver
quando ela voltasse para casa e papai que tivesse que ser seu serviçal. Ele
amaldiçoaria o Andrew para sempre, com certeza.
Meu namorado se sentou ao meu lado entregando o controle para que
minha mãe decidisse o que veríamos. Nem adiantava eu reclamar, mamãe
poderia ter escolhido o pior filme do mundo e ele assistiria de bom grado, o
bajulador.
Soltei um gemido baixo quando ela escolheu Persuasão. Sério?
Rolei os olhos, aconchegando-me no sofá e pondo a cabeça no colo
do meu namorado que imediatamente começou a fazer um cafuné em minha
cabeça. Cansada, senti minhas pálpebras pesarem. Soltei um bocejo antes
mesmo que Anne fosse obrigada a terminar seu relacionamento com o oficial.

O som de conversas fez com que minha mente ficasse um pouco


alerta. Os dedos de Andrew passeavam por meu cabelo, ainda em um carinho
que fazia com que meu corpo seguisse entorpecido pelas sensações. Mexi-me
um pouquinho e meu namorado esperou que eu me acomodasse em uma nova
posição antes de retomar os movimentos que deixaram meu corpo mole outra
vez. Senti minhas pálpebras pesarem, mas pouco antes de ser tomada pelo
sono, uma voz fez com que meu corpo despertasse. E não foi a televisão.
— Não tenho palavras suficientes para agradecer tudo que você está
fazendo pela minha filha — mamãe falou.
Instantaneamente meu corpo reagiu. O sono, claro, me deixou.
Senti quando ele olhou para mim, que me esforçava para manter a
melhor expressão de quem ainda repousava relaxada e dormindo, e não como
quem estava ansiosa para saber cada palavra que estavam conversando.
— Não precisa agradecer — ele respondeu depois de algum tempo.
— Não estou fazendo nada demais.
— Você está fazendo tudo, Andrew. — A resposta de mamãe foi tão
instantânea que me assustou um pouco. — Não apenas por causa de toda essa
situação horrível que a minha menininha vem passando. Eu me preocupei
muito quando a Leighton saiu de casa para vir para cá. Tinha medo de que ela
não se enturmasse. Que continuasse sendo uma garota sozinha. Eu passei
anos achando que a Leighton decidiu se afastar do mundo porque nós a
tínhamos tirado de perto da pessoa que ela gostava.
Mamãe deu um suspiro de quem estava visivelmente abalada e meu
peito apertou no peito ao ouvi-la.
— Eu não consigo olhar para ela agora e não pensar nas tantas coisas
que eu gostaria de ter feito diferente — continuou. — Eu fico agradecida por
não ter encontrado com aquele desgraçado, mas ao mesmo tempo, eu odeio
isso. Queria ter a oportunidade de quebrar a cara dele por ter feito mal à
minha garotinha. — Mamãe deu um suspiro. — Quando ela me contou, eu
pensei que a encontraria daquela mesma maneira outra vez. Trancada no
quarto, afastando as pessoas dela. Mas quando eu a vi com você, com as
amigas, quando vi a maneira como você tem cuidado dela em tantas pequenas
coisas e quando eu vejo a vida que a minha menina tem construído aqui, eu
sei que ela está feliz e fico um pouco mais tranquila. Porque eu sei que a vida
nos coloca em situações difíceis, mas que por mais insuportavelmente
dolorosa que seja a circunstância, tudo parece mais suportável quando temos
pessoas que nos amam ao nosso lado.
Eu esperei que Andrew a corrigisse.
Que dissesse que ele se importa comigo, que gosta de mim. Mas que
amor era outra coisa. Era demais.
Ele não fez isso. Ouvi quando soltou uma risada sem graça, passando
a ponta do indicador em minha orelha.
— A senhora não fez nada de errado — Andrew falou. Já havia dito
isso milhares de vezes. Eu falei sério quando disse que não a culpava. Mamãe
não podia desconfiar que ele não era confiável. O Jason era um dos caras
mais decentes que nós conhecíamos. Prezava pela família, pelos bons
costumes e nunca deu sinal algum de que era um mau caráter. — Às vezes,
infelizmente, confiamos nas pessoas erradas, acreditando que elas são como
nós.
Minha mãe passou a mão por minha perna, que estava acomodada em
seu colo.
— Eu quero que você saiba que posso não ser sua mãe, mas que
sempre que precisar de colo, de conselhos, ouvidos, eu estarei aqui por você.
— Ele não respondeu. Eu o conhecia o bastante já para saber que Andrew
não era o tipo que gostava de mostrar o quanto também precisava ser ouvido.
— Eu percebi que você pensa que precisa cuidar de tudo e de todos ao seu
redor, mas é importante ser cuidado também. E você precisa aprender a
aceitar o cuidado das pessoas que estão com você.
Ele ficou em silêncio por alguns instantes.
— Obrigada.
— Ainda é cedo para agradecer — mamãe falou. — Eu gosto de você,
Andrew. Mas espero mesmo que você não magoe o coração da minha filha.
Não vai poder fugir do meu puxão de orelha, sei onde você mora, mocinho.
Andrew sorriu.
— Não vai ser necessário. Não prometo que não vamos brigar nunca,
mas eu gosto demais dela. Mais do que eu achei ser possível — Andrew
enrolou o indicador em uma mecha do meu cabelo. — Eu nunca a magoaria
conscientemente.
Meu coração saltitou no peito.
Quando Andrew me pediu em namoro, eu não havia considerado que
ele pudesse realmente gostar de mim. Na verdade, não havia considerado
nada além do fato de que eu realmente havia gostado dele. Andrew era muito
diferente do que eu havia imaginado e conhecê-lo tornava impossível não
gostar dele. Mas ele gostava de mim, ou só estava falando aquilo para a
minha mãe? Parte de mim queria acreditar que, de alguma forma, Andrew
havia conseguido encontrar um espaço para mim em seu coração. Ele nunca
havia dito com todas as letras o que realmente sentia por mim.
Eu sabia que ele me considerava diferente das outras. Talvez porque
eu fosse virgem, talvez porque ele realmente nunca tenha namorado até que
eu surgisse em sua vida.
Havia, em minha mente, uma infinidade de opções para aquilo. E eu
queria saber o real motivo. Queria saber se o coração dele batia tão rápido por
mim quanto o meu disparava no peito a cada toque, a cada sorriso, a cada vez
em que estávamos juntos.
Queria saber se ele também me amava, porque, eu não sabia quando
ou como, havia me apaixonado por aquele lutador.
Eu o amava.
Eu amava o meu namorado falso que se tornou de verdade.
Meu coração bateu ainda mais rápido com essa constatação.
— Fico feliz em ouvir isso. — A voz de mamãe interrompeu meus
pensamentos. — Eu acredito em você, Andrew. Você é um bom garoto. —
Ouvi quando ela deu dois tapinhas em tom de camaradagem em meu
namorado, soltando um bocejo em seguida. — Acho que eu vou dormir.
Amanhã cedo preciso pegar meu voo. Só preciso acordar essa mocinha e...
— Não, pode deixar. Eu a levo — falou.
Mamãe tirou minha perna do seu colo e senti quando Andrew ergueu
meu corpo, passando os braços por minhas pernas e equilibrando meu rosto
em seu tronco enquanto me prendia pelo meio do corpo. Andrew deu um
beijo em minha testa antes de começar a andar. Eu podia sentir o calor do seu
corpo, a maneira como sua respiração parecia um pouco alterada e seu
coração batendo rápido no peito e o cheiro de hortelã que saía dos lábios que,
certamente, estavam entreabertos.
Eu queria, mais do que tudo, saber o que aquelas batidas diziam. Eu
queria que chamassem pelo meu nome, mas tinha medo de descobrir que não
era. E a proximidade acabou reacendendo uma chama enorme. Meu corpo
inteiro desejava sexo. Sexo com meu namorado.
Uma maratona intensa de sexo.
Desde que mamãe chegou nós não tivemos muito tempo e eu estava
morrendo de saudade dos nossos corpos unidos. De ter suas mãos acariciando
cada pequeno pedaço de pele como se fosse a coisa mais importante do
mundo.
Eu estava louca de saudade dele.
Amanhã, assim que deixássemos mamãe no aeroporto, eu corria um
sério risco de atacá-lo ainda dentro do carro.
Senti o contato com o colchão macio e suspirei quando ele me deixou
sobre a cama já sentindo falta do contato com a sua pele. Ele deu outro beijo
no topo de minha cabeça afastando-se em seguida. Eu queria passar meus
braços por seu pescoço e mantê-lo ali junto a mim.
Na verdade, eu não queria mais esperar.
Queria Andrew dentro de mim hoje.
Agora.
— Boa noite, querido — mamãe desejou, e, em seguida, ouvi um
beijo estalado. Agora ele ganhava beijos de boa noite e eu teria rolado os
olhos se não estivesse fingindo que estava dormindo.
— Boa noite — Andrew respondeu.
Em seguida, a porta foi batida.
Eu amava minha mãe e queria que ela ficasse mais, mas estava
ansiosa para que ela dormisse. Tinha muitas perguntas em minha mente que
precisavam ser respondidas, mas, mais importante que isso, eu precisava
dele.
Demorou um pouco, mas assim que ouvi os primeiros sinais de ronco
de mamãe, sentei-me, tentando movimentar o mínimo possível da cama. Pus
os pés no chão frio e pé ante pé, caminhei até a porta, abrindo-a e me
esgueirando até seu quarto.
— Eu sabia que você viria aqui — Andrew falou assustando-me,
assim que eu fechei a porta atrás de mim.
Dei um pequeno pulo com o susto, pondo a mão em meu coração.
— Você vai me matar um dia — retruquei, enquanto acompanhava os
movimentos de sua silhueta. Andrew sentou-se na cama e ergueu a mão para
que eu a aceitasse.
— Tenho ideias melhores para fazer com você do que te matar,
Afrodite — ele murmurou, puxando-me para sentar-me em seu colo. Mordi o
lábio enquanto acomodava meu corpo contra o seu.
Passei uma perna de cada lado do seu corpo sentindo a ereção me
cutucar. Pressionei meu corpo contra o dele, ouvindo-o soltar um gemido
sofrido.
— E eu posso saber como você sabia que eu viria aqui? — quis saber.
— Você pode ter enganado a sua mãe, Afrodite — Andrew subiu a
mão por minhas costas, parando em meu pescoço, apertando-o. — Mas eu te
conheço um pouco melhor que isso. Seria como insultar a minha inteligência
esperar que eu acreditasse que você ainda estava dormindo quando eu a levei
até o quarto. Ou quando eu disse que gostava de você. — Ele deu um beijo
em minha bochecha fazendo meu coração acelerar um pouco. — Ou quando
sua mãe me ameaçou. O que foi bonitinho, inclusive.
— Você sabia que eu estava acordada? — perguntei, brincando com
os fios de sua nuca.
— Claro que sabia — Andrew falou, dando uma mordida em meu
queixo.
— E me deixou fingir? — puxei um pouco mais os fios, forçando-o a
olhar para mim.
— Sim. — Ele apertou meu pescoço por trás me fazendo soltar um
gemido. — Já tem um tempo que eu queria falar uma coisa e não sabia
quando ou como. Sua mãe me ajudou muito.
Ele subiu a outra mão até o meio das minhas costas, me fazendo
suspirar.
— Posso saber o quê? — brinquei com os fios de sua nuca.
— Eu gosto de você — repetiu o que havia dito a mamãe. Meu
coração parou antes de recomeçar a bater tão forte que eu seria capaz de cair
morta ali mesmo. — Eu nunca pensei que fosse sentir isso por ninguém,
Leighton. Nunca.
Andrew pegou uma das minhas mãos dando um beijo em cada dedo,
pousando-a, em seguida, sobre seu peito. Sobre o seu coração.
— Eu amo você, Afrodite.
Meus olhos se encheram de lágrimas e minha respiração falhou. Ele
não precisava de palavras para que eu entendesse, mas ainda assim fez
questão de dizer para que não houvesse dúvidas.
Ele me amava.
Sorri, piscando os olhos rapidamente enquanto sentia as lágrimas
inundando meus olhos e deslizando por minha bochecha.
— Eu também amo você, lutador — falei.
Antes mesmo que pudesse concluir qualquer outra palavra, os lábios
dele estavam sobre os meus. Sua mão apertando minha cintura e eu de forma
inconsciente me esfregando contra a sua ereção.
Meu coração parecia prestes a explodir.
Ele estava ali, eu estava ali.
E ele gostava de mim.
Jamais acreditaria se alguém me contasse que eu e Andrew Davis
estaríamos aqui. Que ele estaria agora beijando minha boca com intensidade,
que seus lábios começariam a se deslocar por toda a extensão do meu rosto,
por meu pescoço, por meu busto, minha clavícula.
Se alguém me contasse que ele estaria passando as mãos por dentro
do tecido da minha blusa, e o indicador pela linha da linha coluna. Que seria
ele a fazer com que meu corpo pegasse fogo.
Que eu o desejaria mais do que qualquer outra coisa no mundo.
Andrew era a pessoa mais incrível que eu conheci em toda a minha
vida. O mais dedicado, o mais apaixonado pelas pessoas. O mais disposto a
abrir mão de tudo por quem ele amava.
Quem poderia dizer?
Como não sentir o meu coração derreter como manteiga aquecendo,
com suas palavras, com seus beijos, com seus toques? Com a sua presença.
Como não sentir que eu havia dispensado todas as chances com caras
anteriormente por causa dele? Para estar aqui com ele. Porque de alguma
forma, ele estava destinado a mim.
Levei meus lábios aos seus, com cuidado.
Essa seria a nossa primeira noite juntos depois de confessarmos
estarmos apaixonados um pelo outro, e eu queria que fosse especial. Queria
que aquela fosse uma noite especial para ele também. Que ele entendesse que
ele era merecedor de todo amor do mundo. Que ele era merecedor do meu
amor.
Andrew correspondeu ao meu beijo e não demorou para que sua mão
começasse a percorrer meu corpo. Pressionando minha cintura, beijando
minha clavícula, acariciando meu ombro.
Se fazendo presente em cada parte do meu corpo e marcando também
a minha alma.
Eu podia sentir sua língua brincando em minha boca. O sabor de
menta e tabaco. Ele havia fumado, com certeza.
Ergui os braços em um pedido mudo para que ele tirasse minha roupa.
Andrew respirou fundo, tocando minha pele com tanto cuidado que seu toque
parecia ser mais leve que o de uma pluma.
Assim que tirou minha blusa, ele soltou o ar com força, olhando por
bastante tempo para o sutiã de renda branco que eu usava. Seus lábios
passaram a brincar perigosamente perto dos meus seios.
Joguei a cabeça para trás, arfando em expectativa.
Andrew passou a alternar os beijos com mordidas e leves chupões que
faziam com que todo o meu corpo se acendesse. Suas mãos me apertavam,
como se quisesse afundar em minha pele tentando garantir que aquele
momento era real. Que eu não desapareceria.
Nossas respirações estavam afobadas e em alguns momentos ele
interrompia os beijos para olhar em meus olhos. Eu conseguia distinguir o
desejo, o fogo a paixão. Também havia receio.
Receio de que eu pudesse me arrepender.
— Andrew — sussurrei, sentindo uma coisa que jamais havia sentido
antes. Aquelas sensações. O meu coração batendo acelerado.
Apesar de ser a pessoa que mais gostava de mostrar isso, Andrew era
incrivelmente meigo e cuidadoso. Eu gostava disso nele.
Suas mãos começaram o caminho inverso, passando de baixo para
cima na linha da minha coluna. Suas mãos roçaram de leve em meus seios e
temendo que ele nunca fizesse isso, pus minhas mãos para trás abrindo o
fecho do sutiã libertando meus seios.
Andrew os encarou alguns minutos como se aquela fosse a coisa mais
incrível do mundo. Como se nunca os tivesse visto.
— Você é tão perfeita, Leighton. Perfeita demais para a minha
sanidade.
Eu não sabia o que dizer, então o beijei. Andrew mordiscou meu lábio
inferior, sentindo meu corpo entrando em combustão por ele, por suas
palavras, por sua respiração.
Andrew fazia com que eu aprendesse coisas novas sobre meu corpo o
tempo inteiro. Sobre mim. Sobre meu coração.
Pouco depois, as mãos de Andrew estavam passeando por onde seus
olhos contemplavam, segundos atrás. Seus dedos me exploravam com
intensidade e antes mesmo que eu pudesse notar, seus lábios macios estavam
lá, deixando-me com ainda mais vontade de me entregar por inteira a ele.
— Andrew — murmurei, sentindo-me vazia. Eu precisava dele para
me sentir completa.
Seus beijos se tornaram mais afoitos. Mais intensos. Friccionava meu
corpo contra o seu. Ele gemia em meu ouvido. Acariciava meu cabelo.
Tentava gravar meu rosto com os dedos.
A cada segundo eu precisava de mais dele.
Aquela expectativa crescendo dentro de mim.
Sem parar de beijá-lo por um segundo, ergui meu corpo indo para a
cama e me deitando. Andrew estava ao meu lado. Passei os dedos por sua
barriga, sentindo sua extensão. Seus músculos bem trabalhados.
Eu queria explorar cada pequeno pedaço dele também. Andrew, como
eu, puxou a blusa pela barra, jogando-a longe e dando-me a visão do seu
dorso nu.
Passei a ponta do indicador outra vez. Havia pequenas cicatrizes que
não tinha notado antes. Certamente faziam parte de suas aventuras de infância
com os irmãos ou das lutas em que participava.
Eu não queria memorizar aqueles detalhes. Queria aprendê-los de
novo e outra vez. Queria que cada vez que estivéssemos juntos fosse algo
novo. Que pudéssemos sentir sempre como se fosse a primeira vez. Queria
que pudéssemos sentir como sentíamos agora.
Andrew começou a baixar o corpo, aos poucos, deitando-se sobre
mim. Seus lábios me mordiscavam. A barba por fazer pinicava em alguns
pontos me fazendo sentir cócegas em alguns momentos e suspirar em outros
quando ele entrava em contato com a minha pele. Ele se mexeu em cima de
mim, dessa vez fazendo com que eu suspirasse.
Ainda vestia a calça de moletom, mas isso não durou muito tempo. A
peça, assim como tudo que atrapalhava que nossas peles se tocassem
desapareceram como mágica.
Soltei um suspiro frustrado quando os lábios de Andrew se afastaram
dos meus, dando atenção outra vez ao meu pescoço. Meu lóbulo. Quando
seus dedos caminharam por minha barriga. Suas mãos apertaram meus seios.
Tinha a sensação de que a qualquer momento poderia pegar fogo.
Incendiar. Queimar de dentro para fora se ele não estivesse dentro de mim.
Agarrei com força o lençol quando ele desceu os lábios, traçando uma
trilha de beijos que passavam por minha barriga. Até chegarem ao meu
centro. Nas dobras inchadas e que queriam atenção também.
— Eu adoro quando você fica assim molhadinha para mim, Afrodite
— ele falou, usando aquela voz sexy que fazia com que eu esquecesse meu
próprio nome.
— Ai, Jesus — murmurei, arqueando o corpo quando a língua entrou
em contato com a minha boceta.
— Não, gata. Sou eu, Andrew — falou, distanciando um pouco o
rosto do meio das minhas pernas.
Eu poderia ter rido, mas foi impossível já que ele deu outra lambida
em minha boceta.
— Eu estou completamente viciado em você, Leighton — confessou.
— Em seus sons, em seu gosto, em seu sorriso. Em você por completo.
Sua língua continuava a estar lá. Ele lambia. Mordiscava meu clitóris.
Estimulava-o usando os dedos e eu sentia a sensação de explosão dentro de
mim prestes a acontecer. Esfreguei meu centro contra seu rosto querendo que
aquela explosão acontecesse logo.
Eu estava perto.
Mas ele parou.
Eu reclamei.
— Eu sei — ele falou, dando um beijo na parte interna das minhas
coxas. Um beijo de cada lado. — Mas vai ser melhor assim. Eu não aguento
mais esperar.
Ele se afastou um pouco apenas para pegar uma camisinha e vesti-la.
Em seguida, voltou à forma de me torturar com o meu corpo.
Ao invés de voltar para cima e beijar minha boca como eu esperava,
ele recomeçou os beijos, erguendo minhas pernas. Um beijo em meus
tornozelos, minhas panturrilhas. Mordiscou minhas coxas. Apertava minha
carne com força me fazendo soltar suspiros cheios de desejo.
Eu o queria, agora.
Era impossível formar uma frase coerente.
Eu estava em um universo paralelo. Completamente perdida em suas
carícias, em suas mãos, em seus beijos, nele.
Seu rosto, enfim, aproximou-se do meu outra vez. Ele me beijou.
Dessa vez, um beijo lento.
Suspirei em meio ao beijo sentindo quando Andrew começou a se
ajeitar no meio das minhas pernas. Arfei, jogando a cabeça para trás quando
ele entrou em mim fazendo com que aquela angústia, o sentimento de
incompletude me deixassem.
Ele me preenchia.
Andrew me olhou, passando a mão por meu cabelo, o indicador por
meu rosto, o polegar por minha bochecha. Por meus lábios. Ele colou nossas
testas. Nossas respirações se misturaram fazendo com que o ar quente
resvalasse em meu rosto.
Os movimentos de vai e vem começaram lentos. Aquela sensação que
eu conhecia tão bem tinha alguma coisa nova. Meu coração batia forte no
peito, a maneira como ele me olhava, como se quisesse parar o tempo nesse
instante.
Suas investidas faziam com que eu sentisse que nossas almas estavam
ligadas, como se não fossem necessárias palavras naquele momento porque
tudo que precisávamos era de nós mesmos. Como se isso fosse tudo.
Nossos corpos se chocando. Nossos sussurros e gemidos.
Era perfeito.
Nenhuma palavra precisava ser dita.
Talvez almas gêmeas realmente existissem. Talvez o Andrew fosse a
minha. Por isso que meu coração parecia que ia sair do peito. Por isso que
essa noite estava sendo tudo intenso.
Sorri pensando no quão inesperado e incrível isso era.
Sorri porque ele gostava de mim e porque eu gostava dele.
Andrew investia contra mim e a cada estocada eu me sentia mais
perto de me desmanchar. De tocar as estrelas do céu.
A explosão que só ele me fazia sentir.
Andrew uniu nossas mãos fazendo com que uma manada de elefantes
dançasse em meu estômago.
Era como se embora tudo fosse igual, todas as coisas estivessem
diferentes.
— Eu vou gozar, Leighton — falou em meu ouvido.
Fechei os olhos me concentrando nas sensações.
Uma de suas mãos, a que estava livre, fez um caminho até o meio das
minhas pernas massageando meu clitóris.
Eu estava sensível.
Cada vez mais perto.
Sentia que meu corpo, que minha boceta, apertava seu pau. Que ele
também estava perto.
Era fácil saber disso. Os sons que ele fazia eram inconfundíveis.
— Andrew — chamei, sentindo aquela sensação tomando conta de
cada partícula do meu ser.
— Eu sei — ele falou. — Goza comigo, Afrodite.
Todas as vezes que transamos foi intenso. Nós tínhamos uma coisa
que eu não sabia descrever. Não sabia se era assim que funcionava com todas
as pessoas.
Mas com ele, eu ficava sem ar.
E eu esperava ter aquela sensação por muito tempo.
Levantou correndo indo até o banheiro para se livrar da camisinha.
Um segundo depois voltou para cama me puxando para cima dele. Ele
suspirou dando um beijo em minha testa.
— É sempre assim? — perguntei, olhando para ele.
Não precisei traduzir o que estava dizendo, ele havia entendido.
— Não — respondeu. Pela maneira como seus olhos me encaravam,
parecia dizer a verdade. Ele colocou a minha mão sobre o meu peito. Seu
coração estava acelerado e seu sentia que seu coração estava tão acelerado
como o meu. — Pra ser sincero, é a primeira vez que é assim para mim
também.
— E você não está assustado? — formei uma linha com os lábios me
sentindo meio idiota por ter perguntando.
— Pra caralho, Afrodite.
Andrew beijou o topo da minha cabeça, começando um cafuné
gostoso em minha cabeça.
Não demorou até que eu sentisse minhas pálpebras pesarem. Mas
havia uma coisa em comum.
Andrew estava com medo daquilo.
Eu também.
E eu esperava que aquilo não fosse um mau sinal.
Capítulo 48

— Que filho da puta! — gritei alto o bastante para que o juiz ouvisse.
Malcon estava jogando contra o time de Harvard. O jogo era na
universidade deles, o que significava que nós tínhamos passado algumas
horas vindo até aqui só para ver aqueles filhos da puta agredirem os nossos
jogadores e o juiz apenas assistir sem marcar nada a nosso favor.
Se eu estivesse lá tudo seria diferente.
Era um pensamento mesquinho, eu sabia. O time estava dando o
melhor de si, não havia dúvidas. Mas eu tinha que estar no campo. Com
Malcon e eu jogando juntos seria impossível que aquela porra de massacre
continuasse acontecendo.
Leighton chegou mais perto e enroscou os dedos nos meus e
imediatamente senti aquela faísca entre nós. A noite passada foi uma das
melhores da minha vida.
Não. Foi a melhor.
E ouvi-la dizer que me amava. Saber que ela realmente gostava de
mim, foi... incrível.
Dormir com alguém por quem você realmente sentia algo, alguém que
você amava, tornava todas as coisas diferentes. E eu queria ter mais disso
com a Leighton. Mais e mais.
Eu não estava apenas viciado em sua boceta, em seu gosto, em seu
cheiro, em seu sorriso, em cada pequeno detalhe que a tornava cada vez mais
única. Eu estava viciado naquilo que eu sentia quando estávamos juntos,
naquilo que eu sentia quando estava dentro dela, eu estava viciado nela.
Estava viciado em amá-la.
— Fica calmo, nós vamos ganhar — Leighton falou tentando ser
positiva.
Fingi não escutar o som que Chiara havia feito ao lado da minha
garota. Ela entendia bastante de jogos para saber que ganhar, agora, seria
apenas por um milagre. E nem apenas pela diferença de oito pontos no placar,
mas o emocional deles com certeza estava abalado, e nada pior que isso para
foder com a mente de um jogador. Especialmente depois que dois dos nossos
melhores jogadores foram machucados deliberadamente pelo time rival.
Nossas táticas eram boas, mas nossos jogadores decentes demais para
jogar sujo. Queríamos ganhar por mérito. Eles estavam certos, mas se eu
estivesse jogando devolveríamos na mesma moeda.
Que se fodessem todos eles.
Estávamos no segundo tempo e o cronômetro indicava que, em
instantes começaríamos uma nova pausa. Bufei quando fomos atacados mais
uma vez e o técnico escolheu ignorar a agressão.
O fato do jogo ser em outra universidade e em dia de semana
dificultava também que o nosso lado da torcida estivesse cheio como
aconteceria se o jogo fosse em casa. Assim que foi indicado o final do tempo,
observei meu time deixar o gelo com a clara expressão de derrota no rosto.
— Ei, Afrodite. Vou ver se consigo falar com o Malcon — falei, me
aproximando, ela assentiu, erguendo um pouco o rosto para que eu colasse
nossos lábios. — Vai ficar bem com as meninas?
Franzi o rosto notando o desfalque em nosso pequeno grupo.
— Sim. A Mad saiu correndo para ir ao banheiro e o Jackson disse
que ia comprar alguma coisa para comer — respondeu, passando os braços
por minha cintura. Assenti, observando Benjamin emplacar uma conversa
animada com a Chiara sobre suas impressões a respeito da partida.
— Você vai ficar bem? — quis saber.
— Pedi um namorado e ganhei um guarda-costas? — brincou,
apertando os olhos em minha direção. — Pode ficar tranquilo. Não estou
sozinha.
Era Harvard, e eu duvidava que aquele cara aparecesse por aqui, mas
eu ainda me preocupava. Além de apoiar meu amigo, vim até aqui para
procurar informações sobre aquele filho da puta. Se ele foi expulso, alguém
devia saber o motivo. Se Harvard fosse como a Walker, nenhuma fofoca
ficaria incólume.
Não existe nada que jovens façam com tanta eficiência quanto falar da
vida dos outros. O aviãozinho era um bom exemplo disso.
Dei um beijo rápido em seus lábios indo em direção ao vestiário.
Como não era do time, claro, não me deixaram entrar. Enviei uma mensagem
para o Malcon que saiu para me encontrar. Eu podia ouvir de onde estávamos
os gritos do filho da puta do treinador exigindo que ele voltasse. Ao notar que
não aconteceria, passou a gritar com o time.
— Caralho, cara. Você devia estar nessa porra de jogo mais do que
qualquer um de nós. — Passou a mão pela cabeça, irritado.
— Vocês estão jogando bem. O problema é o juiz filho da puta. Não
entreguem o jogo, tenho certeza de que vocês são capazes, capitão. Aquela
equipe — Apontei pelo caminho de onde ele veio. — Precisa de você.
Ergui a mão com o punho fechado para cumprimentá-lo.
— Eles são rápidos, mas estão focados em atacar vocês. Evitem os
wingers[6] e aposta nos nossos centers.
— Pode deixar. Nós vamos dar o nosso melhor — falou.
Observei meu amigo andando por alguns segundos, olhando ao redor
em seguida. Harvard hoje era nosso rival, mas eu estava mais que disposto a
conseguir qualquer informação que pudesse ser útil para acabar com aquele
filho da puta.

— Tem certeza de que não o conhece? — perguntei outra vez à garota


que balançou a cabeça em negativa, quando eu coloquei a imagem do filho da
puta na tela para que ela desse uma olhada outra vez.
— Tenho. Desculpa não poder ajudar. — Deu um sorriso de quem
realmente sentia muito.
Esfreguei o rosto com a mão.
— Imagina. Obrigada de qualquer forma.
A garota passou por mim dando um gole na cerveja que segurava.
O tempo de intervalo estava acabando. Eu podia ver a Leighton de
onde estava, algumas cadeiras acima do estádio. Ela olhava para os lados
como se tentasse me encontrar enquanto conversava com Madison que
parecia animada contando alguma coisa. Uma grande ajuda para mim.
Madison tinha ciência do que havia me levado a sumir por alguns minutos e
prometeu me ajudar com a Leighton. Não queria que ela ficasse preocupada
com nada.
Perguntando por aí não consegui descobrir muita coisa. Mostrei a foto
dele que havia enviado a Malcon meses atrás. A maior parte dos alunos
parecia não se recordar ou fingiam não fazer a menor ideia de quem ele era
repentinamente quando eu mostrava a foto.
Havia algo de errado e eu tinha certeza disso.
Resignado, soltei um suspiro começando a voltar para meu lugar.
Alguns minutos e o jogo recomeçaria.
— Caralho, foi mal. — Desculpei-me ao esbarrar em um cara. Olhei-
o rapidamente notando que o conhecia. — Professor Rogers? — perguntei
descrente por vê-lo aqui.
— Davis. — Fez um gesto curto com a cabeça.
— Não sabia que o senhor gostava de hóquei.
— Não muito, na verdade. — Deu de ombros. — Eu vim aqui por
outro motivo. — O homem apertou um pouco os olhos em minha direção. —
Você ainda namora a senhorita Westerwood?
Estranhei a pergunta, apertando também os olhos para ele.
— Sim. Sem planos para término por bastante tempo, senhor.
Ele esboçou um pequeno sorriso.
— Então, acredito que o assunto que me traz aqui é do seu interesse
também, porque ele tem tudo a ver com a sua namorada.
— Com a Leighton? — perguntei devagar.
— A menos que o senhor tenha outra namorada, sim, é da senhorita
Westerwood que estamos falando.
Ele ergueu a mão indicando que eu devia segui-lo. Ponderei por
alguns segundos, mas decidi que não havia perigo quando me lembrei de que
a própria Leighton havia dito algumas semanas atrás. Se ele estava aqui em
Harvard e não era pelo jogo, mas por minha namorada, só havia uma coisa
que ele estava procurando: Respostas. Assim como eu.
Respostas que apenas esse lugar poderia nos dar.
O senhor Rogers nos levou até uma pequena sala ainda próxima à
arquibancada onde os jogos aconteciam.
— Eu não gosto do aluno novo. O James. Ele veio aqui da Harvard, e
sempre que está na minha aula, noto que a sua namorada fica assustada —
assenti, ouvindo-o com atenção. Ele me analisou, esperando para saber o
quanto eu estava ciente da informação. — Ouvi dizer que vocês dois
brigaram na universidade, e tenho certeza de que a senhorita Westerwood tem
os dois pés metidos na situação.
Apertei um pouco os dentes, tentando decidir se confiava ou não no
homem. Leighton confiou nele, talvez eu devesse fazer o mesmo.
— Sim. Bati nele por ela e faria novamente se o senhor quer saber.
O lado esquerdo do lábio se ergueu um pouco em um tipo de sorriso
de aprovação.
— Tenho alguns amigos aqui e aproveitei esse jogo idiota para me
reunir com eles tentando a sorte para descobrir algo. — Meu coração bateu
aliviado por alguns instantes. Ele deve ter conseguido alguma coisa, com
certeza. Especialmente levando em conta que era amigo dos professores. A
maioria deles não podia negar que conhecia o cara. — Precisava descobrir se
alguém podia me dar qualquer informação, mas ninguém parece disposto a
falar.
Soltei um suspiro frustrado.
— O mesmo comigo.
O professor Rogers me encarou em silêncio por alguns instantes como
se ponderasse se me contaria ou não alguma coisa.
— Só conheço uma pessoa que conseguiria alguma informação. Se
está mesmo disposto a descobrir o que aconteceu aqui, me encontra amanhã,
no almoço, em frente à sala da Hughes.
Assenti devagar já imaginando que seria uma busca inútil. Não tinha
certeza de que ela estaria disposta a me ajudar neste caso.
— E como a senhora Hughes pode ser útil? — questionei, tentando
manter a expressão facial impassível.
O destino é mesmo um filho da puta.
— Se existe uma pessoa no mundo capaz de conseguir qualquer coisa
que queira, rapaz, esse alguém é a Hughes — garantiu batendo a palma aberta
sobre meu ombro ao passar por mim. Eu não duvidava nem um pouco quanto
a isso. — Não se atrase.
Assenti, soltando um suspiro e voltando para encontrar minha garota
que sorriu para mim ao me ver.
— Como estão os garotos? — perguntou, levantando-se e enlaçando
os braços em minha cintura.
— Acho que mais preparados para perder que dispostos a lutar. —
Franzi o cenho em uma careta.
— Eu sei que você queria estar lá — assenti. — Alguma coisa me diz
que ainda vai conseguir realizar seu sonho. Eu vi os troféus no porão de sua
casa quando Olívia e eu fomos guardar algumas coisas.
— Isso é passado. O futuro é outra coisa, Afrodite.
— Tipo? — perguntou apertando os olhos em minha direção.
— Sei lá. — Dei de ombros. — Tipo ir pra casa quando esse jogo
acabar e fazer mais uma sessão de sexo intenso com a minha namorada.
Leighton rolou os olhos com um sorriso divertido nos lábios.
— Isso não é futuro, é algo que vai acontecer dentro de algumas horas
involuntariamente.
— Se ainda não aconteceu, é futuro, gata. — Bati o indicador em seu
nariz. — E eu devo ser um filho da puta muito bom em prever o futuro já que
de acordo com a minha namorada super gostosa e que me deixa de pau duro o
tempo inteiro, involuntariamente ele vai acontecer.
— Ei, alguém vai ouvir — falou, olhando ao redor tentando garantir
que as pessoas não tinham escutado a nossa conversa.
— E se alguém ouvir vão concordar mesmo comigo. Eu sou um filho
da puta sortudo.
Leighton riu entrelaçando nossos dedos.
Os jogadores começaram a entrar patinando pelo jogo e pela
expressão deles, a conversa no vestiário não foi legal.
Nada pior para foder com um time que um treinador de merda.

A expressão no rosto da senhora Hughes enquanto estava no telefone


não era das melhores, o que me fazia ter ainda mais certeza de que seja lá o
que tivesse acontecido em Harvard era pior do que podíamos imaginar.
Suprimi um bocejo, cansado.
Ontem, depois do jogo, o time não estava com uma boa moral, então
saímos para beber um pouco e relaxar. Foi uma noite divertida. Mas os
garotos estavam pensando sobre como se livrar do técnico e pensavam em se
reunir com o reitor para prestar alguma queixa formal.
E, como eu tinha recém-descoberto meus poderes de prever o futuro,
Afrodite e eu acabamos a noite da melhor maneira possível. Agora eu estava
aqui, abrindo e fechando a mão, ansioso para saber o que a pessoa do outro
lado da linha contava a senhora Hughes que, me surpreendendo, aceitou
prontamente entrar em contato com seus amigos, do alto escalão de Harvard.
— Você tem certeza? — perguntou, com uma expressão séria demais
no rosto ficando em silêncio em seguida enquanto ouvia a resposta ao
questionamento. — Não, tudo bem — falou, prendendo o aparelho celular
entre o ouvido, passando a mão no rosto. — Ok. Falo com você mais tarde.
A senhora Hughes desligou o aparelho, pousando-o sobre a mesa.
— E então? — o professor Rogers perguntou no exato momento em
que abri a boca.
Ela balançou a cabeça em negativa.
— Você tinha razão, Rogers. Aparentemente ninguém quer falar
sobre o assunto. — A senhora Hughes formou uma linha com os lábios.
O senhor Rogers fez com que os cantos dos lábios fossem para baixo
movendo a cabeça de cima para baixo.
— Não deram nenhuma dica? Nada que pudesse nos ajudar? —
perguntei, chegando um pouco mais para a ponta da cadeira.
— Não. Infelizmente. — Ela soltou o ar com força. — Mas eu
prometo que vou continuar tentando e caso alguém me diga alguma coisa,
vocês serão as primeiras pessoas com quem eu falarei.
O professor Rogers assentiu, claramente não acreditando em nada do
que ela dizia.
— Agora, se não for pedir demais, tenho algumas coisas pra resolver.
— Ela ergueu a mão direita para a porta.
Nós dois nos levantamos.
— Desculpe tomar seu tempo, Hughes. — O professor Rogers
levantou e eu o imitei.
— Imagina. Teria sido um prazer poder ajudá-los. — O sorriso falso
que ela soltou não deixava margem para dúvidas. Estava mesmo mentindo.
— Davis, já que você está aqui, porque não espera um minuto? Quero tirar
uma dúvida sobre o trabalho que me entregou.
Olhei para o senhor Rogers que me dava um recado claro: Quero
saber se ela te disser algo diferente do que foi dito aqui.
— Sim, senhora — respondi, sentando-me outra vez.
Ela mexeu em alguns papéis até ter certeza de que o senhor Rogers
não estava mais lá.
— Eles te contaram algo, não é? — perguntei logo depois que o ouvi,
do lado de fora, dar tchau para a senhora Lites, a assistente.
— Sim, eles me contaram algo, Andrew.
— E porque mentiu? — quis saber, chegando mais um pouco para a
ponta da cadeira. — O que te disseram? Porque aquele filho da puta saiu da
Harvard?
— Não posso contar, Davis. Não ainda. — Os olhos estavam sérios.
Ela realmente não me contaria.
Apertei os dentes com força ao mesmo tempo em que fechei as mãos.
— Senhora Hughes — comecei, mas ela ergueu a mão impedindo-me
de continuar.
— Andrew, não posso contar. Não ainda. Preciso primeiro, garantir
que isso é verdade. Não vou manchar a honra de uma pessoa por causa da sua
namorada. Nem mesmo por você.
— Senhora Hughes, essa resposta é o que ainda está faltando para que
nós possamos montar um quebra-cabeça que pode ajudar muita gente.
— Da mesma maneira que pode prejudicar muita gente se não for
usada com sabedoria, Andrew — ela suspirou. — Não estou negando a
minha ajuda, estou apenas dizendo que existem coisas que nós precisamos
ver por nós mesmos, caso contrário não é fácil de acreditar.
Soltei um riso pelo nariz, baixando a cabeça.
— Isso quer dizer que alguém grande está envolvido no esquema
dele, não é? — perguntei. Ela me encarou, apenas. Não precisava dizer mais
nada.
— Então quer dizer que seu namoro é sério mesmo e que nós dois não
vamos mais nos divertir juntos. — Constatou.
— Sim. Meu namoro com a Leighton é sério. Foi bom enquanto nós
dois estávamos transando, mas a senhora estava certa. Eu gosto dela. De
verdade.
A senhora Hughes sorriu.
— Foi bom transar com você — falou, convicta. — E já sabe, se
precisar afogar as mágoas com alguém...
Abri um sorriso para ela.
— Terei isso em mente, mesmo esperando que não seja necessário. E,
por favor...
— Eu sei. — Ela me interrompeu com uma expressão triste no rosto.
— Pode deixar. Vou contar.
Assenti, levantando-me e seguindo em direção à porta.
Vi um vulto passando apressado por uma pequena fresta aberta.
Apertei os olhos na direção do pequeno espaço. Não havia nada lá.
Com certeza eu estava vendo coisas.
Voltamos à estaca zero.
Podia ser que a informação de Harvard não fosse importante, mas de
alguma forma eu sentia que era e queria saber o que estava escondido ali.
Pela Leighton.
Capítulo 49

“Você estava certo” mandei mensagem para Ab. “Dar uma


oportunidade ao Andrew foi mesmo a melhor coisa que eu podia ter feito”
Mordi o lábio me sentindo estranha ao admitir isso.
Ele me amava.
Ele me amava.
Eu o amava.
“Eu costumo estar sempre certo sobre tudo” Ab respondeu, enviando
também o emoticon da garota pintando as unhas. Rolei os olhos para a sua
modéstia. “Você está vivendo seu próprio clichê. A nerd e o popular. Tem
namoro falso e ainda por cima, a garota era virgem. Se isso fosse um filme,
seria um estouro de bilheteria.”
Eu ri, prestes a começar a responder, porém ele recomeçou a digitar.
“Permissão para criar um roteiro?”
“Permissão concedida” respondi, rindo.
“E como foram as coisas com a sua mãe por aí?” quis saber.
“Mamãe queria roubar meu namorado. Saiu daqui apaixonada por
ele.” Enviei emoticons rindo.
“Amiga, manda ela entrar na fila. Se existe alguém que merece um
pouquinho da atenção daquele deus grego, sou eu. Afinal, sem minha ajuda
você não estaria namorando com esse mau caminho inteirinho... Mas eu
poderia trocar ele facinho por aquele outro irmão, o gato que joga futebol
americano.”
Rolei os olhos, rindo do meu amigo.
Ab estava apaixonado por meu namorado, por meus cunhados e pelo
Malcon. Às vezes, quando falávamos por chamada de vídeo, ele flertava
descaradamente com eles. Eu mal via a hora de tê-los todos juntos em um
mesmo ambiente. Ab ia ter vários leves infartos enquanto estivesse assistindo
os ensaios com nossos jogadores sem camisa.
Minha vida estava surpreendentemente boa nas últimas semanas. E
estar apaixonada não era tão ruim como eu achei que seria. Pelo menos, claro,
entregando o coração à pessoa certa.
O Andrew era a minha pessoa certa.
A sineta da porta tocou fazendo com que eu me assustasse e olhasse
em sua direção. Sempre temia que o James viesse aqui, mas ele não vinha. O
medo permanecia em todos os momentos, especialmente porque sentia seus
olhares sobre mim por onde quer que eu passasse pela área da universidade.
Nós nos víamos na aula que fazíamos juntos ainda, mas o professor
Rogers sempre me solicitava como assistente nas aulas impossibilitando-o de
ter contato comigo. Entretanto eu sentia a maneira como me olhava. De
forma nojenta. Carregada de desejo. Às vezes eu mal conseguia respirar só
por saber que ele estava por perto. Isso não acontecia quando eu estava com o
Andrew.
Eu me sentia segura e protegida com ele. Eu gostava daquela
sensação.
Mas o fato de James não tentar entrar em contato outra vez me
assustava também. Eu não sabia o que ele estava pensando, tramando,
querendo. E isso me deixava com medo. Minha psicóloga dizia que era
proposital, para manter minha mente ocupada pensando nele.
E eu estava caindo em seu golpe.
Sorri ao notar que quem havia entrado era o George quando ele
passou pela porta acenando para mim. Ele não era a minha pessoa preferida
do mundo, mas pelo menos não era o James.
Qualquer pessoa seria preferível ao James.
Caminhei até a mesa onde ele estava sentado analisando o cardápio
em seu celular. Patrick havia, finalmente, dado uma modernizada por aqui
usando QR code para que os clientes tivessem acesso ao cardápio do dia.
— Já sabe o que vai querer? — perguntei, pegando o bloquinho para
anotar os pedidos do bolso da minha casa.
— Sim. — Ele me encarou com os olhos brilhando, como se tivesse
algo importante para falar. Não gostei daquilo. — E não vai ser nada para
comer. Vim até aqui para abrir seus olhos.
— Não preciso que ninguém abra meus olhos — falei, com a
expressão fechada. — Só que faça o pedido mesmo.
Peguei a caneta do bolso, pousando-a sob o papel enquanto aguardava
que ele começasse a falar o que queria.
— Era uma aposta — falou, repentinamente.
Franzi o cenho em sua direção. Será que ele bateu a cabeça antes de
vir para cá?
— Uma aposta? O que é uma aposta?
— Seu namoro. — George esperou um tempo antes de continuar a
falar, como se quisesse ter certeza de que eu havia internalizado a
informação. — O Andrew está namorando você porque nós apostamos que
ele não conseguiria manter um relacionamento por muito tempo. Tinha uma
boa grana em jogo. Ele disse que conseguiria ficar com você por mais tempo
que qualquer um de nós tivéssemos apostado e que provaria que poderia ser o
namorado perfeito.
Eu ri pelo nariz cruzando os braços.
— É mentira. — falei, convicta. — Andrew não faria isso comigo.
George alargou um sorriso pelo rosto, recostando-se na cadeira e
pondo as mãos atrás da cabeça.
— Ele fez. E fez mais. Eu estava de olho em você, já tinha dito que
queria namorar você, outros caras também queriam. Você é gostosa pra
caralho — falou dando uma olhada por meu corpo que me deixou enjoada. —
Mas ele, claro, que não aguenta perder, decidiu que ficaria com você. Que
faria com que se apaixonasse por ele, e que seria o mais perfeito dos
namorados até que o prazo da aposta terminasse.
— Eu acho melhor você ir embora, George — falei, erguendo o rosto
e pronta para dar meia-volta retornando para trás do balcão.
Meu coração havia parado de bater e ao mesmo tempo batia
assustadoramente forte. Nem sabia que era humanamente possível ter essa
sensação.
George saiu do seu lugar parando em minha frente impedindo-me de
sair do lugar.
— Você deve se lembrar do dia em que brigaram aqui, não é? — fez
um gesto com o indicador, mostrando que a briga havia sido aqui mesmo, no
Women’s. — Ele foi grosseiro com você, se não me engano. Todo mundo
comentou que vocês terminariam naquele dia. Aliás, pensei mesmo que você
não seria o tipo de garota que se submeteria a ser tratada como um lixo. —
Ele rolou os olhos. — Claro que sabemos que o Andrew tem um jeitinho
muito especial de conseguir enganar as garotas. Então não me surpreendi que
ele tivesse melhorado a maneira como te tratava. Ele odeia perder. E
dinheiro, menos ainda.
Eu não conseguia respirar.
Ele estava certo. Lembrava-me daquele dia.
Nós brigamos e eu tinha ido pedir minha transferência, depois ele me
encontrou e disse que queria continuar o namoro. Quando eu perguntei o
motivo, Andrew usou a irmã como justificativa.
Minha respiração ficou mais rápida e meu coração afundou no peito
diminuindo de tamanho.
Meus olhos se encheram de lágrimas.
Ele estava mentindo para mim?
Andrew estava comigo por causa de uma aposta?
Não podia ser verdade.
Balancei a cabeça em negativa.
— Não — murmurei. — Ele não faria isso.
Retruquei, lembrando-me dos últimos dias. De como ele estava feliz.
Da maneira como havia me dito que fazia amor comigo.
Que eu era diferente.
Especial.
Ele não podia ter mentido tanto assim.
Eu não podia ter me enganado com alguém dessa maneira.
— Está tentando convencer a si mesma ou a mim? — ele apertou os
olhos em minha direção.
— Não preciso convencer nenhum dos dois. Eu sei que o Andrew não
faria uma coisa dessas — defendi meu namorado, mas na verdade, eu estava
tentando convencer a mim mesma de que ele não podia ter feito aquilo.
Ele não faria.
Não podia fazer.
— Você sabe que ele se importa com a imagem — deu de ombros. —
Em provar para nós que ele era o melhor. Capaz de conseguir tudo.
— Ele não é assim — falei, sentindo um embrulho estranho no
estômago. — Andrew não é assim. Ele é... Ele é muito mais do que você
consegue ver, George.
— O que você consegue ver? Alguém que você achou que fosse
capaz de se apaixonar? — ele riu. — O Andrew não é esse cara. Hoje mesmo
eu o vi com uma garota. Sozinhos. Em uma sala. Perto demais e marcando de
transarem.
O ar sumiu dos meus pulmões, como se alguém tivesse me dado um
soco no estômago.
— Ele não faria isso — garanti, mas já não havia tanta confiança em
minha voz.
Ele lutava por dinheiro.
Ele transava com várias garotas.
Isso parecia ser exatamente o tipo de coisa que ele faria.
— Você sabe que o Andrew é o maior comedor de bocetas da Walker,
não é? Não achou mesmo que ele ficaria comendo só você por muito tempo?
Meu coração doeu um pouco mais por pensar que eu havia acreditado
tanto nele. Será mesmo que o Andrew havia mentido para mim daquela
forma? Que ele havia me usado como uma aposta?
— Ele não pode ter feito isso. — As palavras saíram de minha boca
como um murmúrio. Meu corpo parecia entorpecido.
— As pessoas são assim, princesa. O mundo é assim. São as pessoas
de quem menos esperamos determinadas atitudes que mais nos magoam. —
Ele deu de ombros como se fosse uma constatação óbvia. A expressão no
rosto era triste, como se estivesse magoando-o trazer para mim essa notícia.
— É claro que você vai tentar negar, encontrar motivos pelos quais ele não
faria isso. Mas ele fez. Eu sei que você confiava nele. É uma pena, mas as
pessoas em quem confiamos são as primeiras a nos trair.
O ar saiu dos meus pulmões com força.
Será?
Eu já havia passado por aquilo antes. Eu sabia que as pessoas podiam
nos enganar, mentir, destroçar nosso coração. Tudo isso aparentando ser
boas, se importarem. James havia feito aquilo comigo.
Eu confiei nele. No Andrew.
E ele também estava fazendo aquilo comigo.
Será que tudo que aconteceu entre nós era mentira? Será que, assim
como o James, o Andrew só queria brincar comigo? Destruir-me?
Ele havia feito com que eu me apaixonasse. Eu o amava. Apresentei-o
aos meus pais. À minha mãe. Deixei que ele entrasse em minha vida.
Deixei que entrasse em meu coração.
Senti a respiração falhar, apertando os dedos com força na mão. As
unhas machucavam minha palma tentando me fazer concentrar na dor física,
não na agonia, na queimação que eu sentia em meu peito.
— Você está percebendo, não é? — falou, soltando um suspiro triste.
Ele fez. Assim apostou que namoraria você. Assim como ri de você com
todos os amigos. Ele fez isso. Ele ganhou dinheiro te usando, Leighton. E se
não acredita em mim, pergunta a ele. Se você o conhece tão bem vai saber a
resposta antes mesmo que ele possa mentir para você. — Ele riu, passando o
polegar nos lábios. — Confia nele tanto assim? Apostaria tudo nele?
Sim?
Apostaria?
Não.
Não apostaria.
Já tentei isso uma vez e não deu muito certo.
Fechei os olhos por um segundo.
E se ele tivesse contado aos amigos sobre as fotos? E se ele só queria
mesmo posar de herói? De namorado preocupado que conseguiu pôr o FBI
atrás do cara que mexeu com a sua namorada.
Tudo isso era por ego?
Meu coração batia de forma mais lenta no peito.
Dor. Dor. Dor.
Era assim que as batidas funcionavam.
A respiração falhando outra vez.
Tudo que eu havia construído em minha mente desabando como um
castelo de areia. Andrew não era um porto. Alguém com quem eu podia me
sentir segura. Ele era um aproveitador, que queria brincar comigo.
Fechei os olhos com força obrigando-me a inspirar e expirar
lentamente como eu havia aprendido a fazer anos antes. Uma, duas, três, dez,
quinze, trinta vezes. Eu conseguia sentir as lágrimas se acumulando no canto
dos meus olhos.
Quarenta. Quarenta e cinco. Cinquenta.
Isso tinha que ser mentira.
Era mentira.
Tinha que ser mentira.
Andrew não faria isso.
O Andrew que me beijava e dizia que me amava.
O Andrew que dizia que fazia amor comigo.
Setenta, setenta e três, oitenta vezes.
Meu pulmão seguia pedindo ar cada vez mais.
— Vocês são amigos, porque está me contando? — falei, quando
senti que eu era capaz de fazer alguma palavra sair de minha boca, precisando
me apoiar na cadeira para manter o equilíbrio.
— Não somos amigos, Leighton. Mas tenho observado vocês dois. Se
eu acreditasse que você fosse só mais uma dessas garotas que ele costuma
transar e descartar em seguida, eu não me meteria. Mas... — ele formou uma
linha com os lábios passando os olhos por mim. — Você é uma garota
especial. Não merece que alguém brinque assim com os seus sentimentos.
O som de sua voz se misturava em minha mente com todos os
momentos que eu havia vivido com ele como se o que George falou
contrastasse com o Andrew que minha mente registrou nos últimos dias.
Confiei em Andrew.
Confiei tanto nele que me entreguei para ele.
Isso tinha que ser um engano.
— Era só isso que eu tinha a te dizer. Eu sei que está doendo agora,
mas acredite em mim. — George pousou a mão em meu ombro ao passar por
mim. Dei um passo para trás nos afastando. — É melhor arrancar o band aid
de vez.
Eu não conseguia me mover.
As palavras dele ecoando em meus ouvidos.
Uma aposta.
Então eu era só isso para ele?
Uma maneira de provar para as pessoas que podia ser o Andrew
Davis comprometido?
E então eu me lembrei de algo que ele viva repetindo “Nós, Davis,
não gostamos de perder”.
Fechei os olhos sentindo uma lágrima escorrer por meu rosto.
Não tinha mais dúvidas sobre aquilo. Mas eu precisava ouvir de sua
boca.

Andrew estava sentado com Malcon e alguns dos garotos que nem me
havia dado ao trabalho de parar para reconhecer. Apesar de ainda estar
distante, eu conseguia vê-lo.
Estava lindo.
Ele era um babaca. Porque os babacas tinham que ser tão lindos?
Senti meu coração apertar a cada passo que eu dava em sua direção.
Andrew estava rindo falando alguma coisa com o Malcon e, como se
soubesse que eu estava me aproximando, olhou em minha direção.
Seu sorriso se alargou ainda mais ao me ver.
Mentiroso desgraçado.
Lindo, filho da puta.
Eu te odeio.
Mas porque meu coração ainda batia daquela forma por você?
— Ei, Afrodite — Andrew se levantou, começando a vir em minha
direção. Os garotos deram risadas e soltaram assobios. Com certeza deviam
estar rindo muito da minha cara pelas minhas costas. O sorriso começou a
desaparecer um pouco em seu rosto à medida que se aproximava e notava
minha expressão taciturna. — Aconteceu alguma coisa, Leighton? —
perguntou, ao chegar mais perto.
Andrew caminhou mais rápido, pousando as mãos em meus ombros
assim que me alcançou esquadrinhando meu rosto tentando decifrá-lo. Havia
uma urgência tanto em sua voz como em sua expressão. Ele era um bom ator.
Quem o visse, pensaria que realmente se preocupava comigo.
Trinquei os dentes. Não podia me deixar levar por aquela carinha
bonita, ou pelo corpo sexy nem pela maneira como seu rosto parecia
contorcido de preocupação.
Não podia me deixar levar por ele outra vez.
— Não se encosta em mim, Andrew — falei, firme, fazendo com que
ele apertasse os olhos em minha direção, confuso.
— O que aconteceu? Você está bem? — seus olhos pareciam
confusos.
— Você fez uma aposta sobre mim? — perguntei, erguendo a cabeça
e cruzando os braços em frente ao meu corpo.
Dei um passo para trás, mantendo uma distância segura entre nós
dois.
— Aposta? — franziu o rosto, como se não conseguisse entender
sobre o que eu estava falando.
— Não se faz de desentendido. Uma aposta, Andrew.
— Não faço ideia do que você está falando. — Ele parecia sincero.
Deu um passo em minha direção, e eu outro afastando-me dele.
— Uma aposta. Uma aposta com os seus amigos sobre como você
seria o melhor namorado do campus.
A expressão do seu rosto, antes confiante, vacilou um pouco.
— Leighton...
— Você fez — afirmei, sentindo a voz falhar. O coração parar de
bater.
O mundo parar de girar.
O Andrew que até segundos atrás estava se mostrando um incrível
porto seguro para mim, na verdade, estava fazendo isso por incentivo
financeiro e não por preocupação.
— Não! — Negou rápido. — Não desse jeito que você está pensando.
— Andrew deu mais um passo e outro em seguida quando eu recuei. —
Afrodite, me ouve, por favor, me deixa explicar, não foi assim que as coisas
aconteceram.
— Houve uma aposta? — perguntei outra vez.
— Eu não sei o que você soube, mas com certeza as coisas não foram
da maneira como você está pensando e se você puder me ouvir por um
segundo, tenho certeza de que vai...
— Achar graça? — ri pelo nariz. — Dar risadas com você porque
você estava me usando por grana todo esse tempo? — falei, dando uma
risada, fechando os olhos e passando a mão na frente do rosto.
Andrew apertou os dentes com força. Eu podia ver pelo maxilar
travado a maneira como estava tenso. Mas não era preocupação. Ele havia
sido descoberto e perderia uma grana por causa disso.
— Eu não usei você — falou, irritado, segurando meus braços com
força puxando-me para perto do seu corpo. — Você está com raiva, e está no
seu direito, mas eu não usei você. Eu jamais faria uma coisa dessas.
— Porque você tem uma irmã? — repeti a justificativa que ele me deu
quando perguntei o motivo pelo qual queria continuar com a farsa, lutando
contra suas mãos que insistiam em me manter presa a ele. — Isso não vai
convencer mais, Andrew.
Funguei, tentando evitar que as lágrimas escorressem por meu rosto,
empurrando sua mão com força o suficiente para enfim, ele me soltar.
— Seja homem para assumir que fez isso porque não queria perder.
Afinal você é um Davis, e os Davis não perdem nunca, não é? — dei uma
risada irônica. — Parabéns. Você venceu outra vez. Tudo isso, toda essa
mentira, eu espero que tenha valido a pena.
Eu conseguia ver a angústia em seu olhar, mas não podia mais confiar
em nada relacionado a ele. Dias atrás também via amor. Agora eu sabia que
era mentira. Que ele havia mentido o tempo inteiro.
— Claro que não! — quase gritou, desesperado. — Não foi uma
mentira! Caralho, Leighton, você acha que eu enganaria você dessa maneira?
Movimentei a cabeça em um gesto afirmativo me sentindo confusa.
Meus olhos ardiam das lágrimas acumuladas e que estavam prestes a cair.
Eu não queria chorar, mas meu peito doía.
Ardia, na verdade.
— Acho — falei. — Tudo isso começou por causa de uma mentira,
não foi? Você sempre diz que não gosta de perder, não é? — falei baixo
dessa vez.
Mais por não ter forças para falar do que por qualquer outro motivo.
Meu peito doía tanto que eu sentia que meu coração se partiria em um milhão
de pedacinhos.
— Leighton. — Andrew se aproximou, emoldurando meu rosto sob
suas mãos enormes. — Leighton, eu não menti para você.
— Então me diz que não houve aposta — pedi. A maneira que seus
olhos se tornaram distantes e frios só provavam a culpa. — Você não pode
dizer isso, não é?
— Olha pra mim — implorou. — Me ouve, por favor. Não foi uma
aposta de verdade, foi só uma forma idiota de dizer que eu não era o babaca
que eles pensavam. Que eu podia ser um bom namorado. Eu não menti para
você. Eu juro — falava baixo, como se quisesse que as pessoas não nos
ouvissem. Aparentemente nós gostávamos de drama, já que boa parte da
universidade parou para nos assistir. Outra vez. — Tudo que aconteceu
depois, tudo, cada pequeno detalhe, cada... Foi tudo verdade, Leighton. Tudo.
Eu juro.
— Se é assim, porque você não me contou? — quis saber. — Se tudo
que aconteceu depois não foi mentira, porque você não foi sincero e me
contou sobre a aposta?
— Eu não... Não fazia mais diferença. — O olhar estava fixo no meu,
parecia desesperado para que eu acreditasse nele —, porque pra mim todo o
resto, todo o meu tempo com você passou a importar mais e eu nem lembrava
que aquela conversa tinha acontecido, Leighton.
Balancei a cabeça negando e ele se aproximou me segurando outra
vez, olhando em meus olhos fixamente como se quisesse que visse verdade
através deles.
— Aposto que você disse que conseguia tirar a minha virgindade, não
é? Que ganharia mais dinheiro por isso. — Balancei a cabeça em negativa
rindo um pouco. — Vocês devem ter tido muitos motivos para rir de mim.
Andrew me soltou como se eu queimasse.
O rosto endureceu e ele ficou um pouco mais pálido.
— Você não pode acreditar que eu faria uma coisa dessas — falou
com a voz dura. Mas eu podia acreditar sim. E o fato de não ter respondido
foi exatamente a confirmação que ele precisava. — Você acredita mesmo
nisso? Acha que eu faria isso com você?
— Eu soube que você ganhou uma bolada com isso — contei, vendo-
o trincar os dentes.
— Os caras apostaram dinheiro, sim. Não eu. Aquela aposta idiota foi
só uma forma de falar, da boca pra fora. Eles estavam dizendo que eu seria
um namorado ruim. Até o Malcon e meus irmãos. — Apontou para o lugar
onde Malcon estava sentado com os garotos e eu desviei o olhar pela primeira
vez. Nós estávamos atraindo a atenção de boa parte das pessoas que estavam
aqui sentadas aproveitando o raro sol que havia aparecido. — Meus amigos,
meus irmãos, apostaram e eu disse que apostava que seria o melhor porque
queria provar a eles que eu conseguia. Então eu saí e fui atrás de você. Da
minha parte não tinha nenhum dinheiro envolvido. Foi só... Por favor,
Leighton você precisa acreditar no que eu estou falando. Qualquer um pode
dizer isso, exatamente isso a você.
Estava confusa.
E se ele estivesse falando a verdade?
Mas e se não estivesse?
E se no final das contas Andrew fosse exatamente o babaca que eu
havia conhecido no começo de tudo que se importava apenas com ele mesmo
e com os irmãos?
“Você é uma garota especial. Não merece que alguém brinque assim
com os seus sentimentos”.
As palavras de George invadiram a minha mente outra vez.
— Leighton, por favor, por favor, acredita em mim — pediu
apertando mais as mãos ao redor do meu rosto.
— Você conseguiu provar a eles que era o melhor. E eu acreditei
também. — Meus olhos se encheram de lágrimas outra vez. — O James fez o
que fez comigo, ele usou meu corpo. Ele me destruiu. Você não é tão
diferente dele. Me viu como um pedaço de carne, um motivo para aposta.
Você também me destruiu, Andrew. Mas, mais do que meu corpo, você
destruiu meu coração.
Ele não esperava por aquilo. Pude ver na maneira como seus olhos se
carregaram de ódio.
— Não me compara com aquele filho da puta — o tom de voz estava
assustadoramente irritado. — Eu nunca faria o que ele fez. Eu nunca faria a
garota nenhuma o que ele faz.
— Ele vende fotos, você faz apostas. Não é tão diferente assim. —
Dei de ombros.
Sua respiração ficou acelerada, as narinas inflaram e seu rosto ficou
vermelho-vivo.
— Se você pensa mesmo isso a meu respeito, você não me conhece,
Leighton.
— Não mesmo — falei, firme. — Na verdade, essa é uma coisa que
eu acabei de aprender, não importa o quanto você ache que conhece alguém,
sempre se surpreenderá. Você mentiu pra mim. Eu confiei em você, Andrew.
Achei que eu pudesse acreditar em você de verdade.
— Leighton...
— Eu não posso. — Pisquei algumas vezes sentindo as lágrimas
escorrerem por meu rosto. — Eu já fui exposta uma vez a coisas das quais
não me lembro, agora você me vendeu para seus amigos. Só para mostrar que
podia. Que era o melhor — neguei, balançando a cabeça. — Quando o
George me contou eu não quis acreditar, mas...
— O George? — perguntou, confuso. O rosto indo de choque a raiva
e depois a expressão que ele fazia quando queria matar alguém.
Eu conhecia muito essa cara, era a que ele sempre mantinha no rosto
quando via James caminhando por aqui.
— Não adiante ficar bravo com ele, pelo menos alguém foi sincero
comigo. — Ele bufou.
— Leighton, eu disse que te amava. — Andrew tentou se aproximar
outra vez. — Eu falei sério.
— Acho que você ama a ideia de que as pessoas achem que você é
capaz de fazer o que elas não acreditavam que você seria capaz — falei,
sentindo as lágrimas em meus olhos outra vez. Não sabia nomear o que se
passava em meu coração naquele momento. Decepção? Tristeza?
Incredulidade? Não sabia. Mas doía. Muito. Demais. Mais do que eu achei
que pudesse suportar. — Felizmente ninguém apostou quanto tempo você
ficaria mal para superar um término. Todo mundo saberia a resposta. Dia
nenhum.
Andrew ficou imóvel por alguns instantes antes de piscar uma, duas,
três vezes.
— Você não pode estar falando sério — ele perguntou com a
expressão mais surpresa que eu já havia visto em minha vida.
— Claro que estou. — Meu coração parou. Com certeza as três
palavras mais difíceis que eu já havia dito, seguida da primeira palavra mais
dolorosa do mundo. — Acabou. Mas pense pelo lado positivo, você não vai
mais precisar fingir que se importa comigo. E eu não vou mais precisar de
você.
Ele soltou um palavrão e puxou o ar com força para dentro dos
pulmões.
— Leighton, você está nervosa — falou, erguendo a mão e se
aproximando outra vez. — Eu vou te levar em casa e nós conversamos
melhor quando você estiver tranquila
Balancei a cabeça negando.
— Eu não estou nervosa. Triste. Decepcionada. Com o coração
destroçado. Com raiva. Mas eu sei bem o que estou fazendo, Andrew.
Terminando com o namorado em quem eu não posso confiar. — Fechei os
olhos por um segundo, sentindo quando seu corpo se aproximou. O cheiro de
tabaco e hortelã que eu conhecia tão bem inundou meu olfato.
— Leighton — ele sussurrou com o hálito fazendo cócegas em meu
rosto.
— Por favor, não vem atrás de mim — pedi, prendendo a respiração
enquanto dava as costas para ele ouvindo-o me chamar.
— Isso não acabou aqui, Leighton. Não mesmo. — Andrew garantiu
com a voz determinada. — Eu vou provar a você que não foi assim que as
coisas aconteceram.
— Não vai rolar, Andrew.
— Isso é o que nós vamos ver, Leighton. Você pode até ser
determinada e saber o que quer, mas eu sou o Imbatível. Em outras palavras,
isso quer dizer que é impossível me vencer.
A expressão obstinada no rosto e a voz segura mostravam que ele
estava falando sério.
Mas eu também estava.
Andrew havia morrido para mim.
Não seria enganada outra vez.
Capítulo 50

Eu sou um filho da puta.


Nunca neguei isso.
Jamais negarei.
Mas não sou um filho da puta que se aproveita das pessoas. Eu jamais
faria as coisas que Leighton me acusou.
Sim. Eu havia dito aquelas malditas palavras. Mas nunca, nunca
mesmo, coloquei uma única nota de dólar naquela porra de aposta.
Uma palavra.
Uma palavrinha mudou tudo.
Eu odiava a ideia de namorar a Leighton. Agora, eu amava a ideia de
namorar a Leighton.
Eu amava a maneira como ela me fazia sentir.
Amava o fato dela ter conhecido o verdadeiro Andrew.
Ela não tinha estado com o lutador, como as meninas do casarão.
Também não queria namorar o cara que não namorava para provar as garotas
que ela podia fazer isso. Muito menos queria ascensão social.
Leighton havia me conhecido.
Conhecido meus irmãos, minha casa, minha vida.
Eu lhe havia dado o meu coração.
A porra do meu coração.
Nunca havia sido tão sincero com alguém em toda minha vida. Nunca
estive tão disposto e disponível para alguém.
Então me magoou que ela duvidasse de mim. Que ela acreditasse que
eu seria capaz de apostar a virgindade dela para contar vantagem. Por
dinheiro. Eu nunca faria isso.
Com ninguém.
Mas apesar de magoado, eu a queria de volta.
Apenas três minutos que ela havia terminado comigo e meu peito já
doía tanto que eu não me sentia capaz de respirar. Que eu sabia que faria
qualquer coisa por ela. Para tê-la outra vez.
Pessoas feridas costumam ferir para se proteger.
E eu entendia os seus motivos para estar puta comigo. Para me odiar.
Eu só precisava provar a ela que as coisas não aconteceram como ela
pensava. Mas antes, eu tinha uma conta para acertar.
— Que porra você vai fazer? — Malcon perguntou assim que passei
pela merda da porta que dava acesso a área onde o time de futebol americano
estava treinando, tentando parar à minha frente.
Dei a volta em seu corpo, seguindo firme rumo ao círculo de
jogadores que estava armado no centro do campo. O treinador estava dando
as instruções antes de começarem a treinar. Eu sabia disso porque já havia
assistido alguns dos treinos.
— Matar o filho da puta do Lair — falei, caminhando com os olhos
fixos nele.
Eu não tinha olhos para mais ninguém. Eu ia matar aquele
desgraçado.
— Andrew? O que você...
Meu irmão começou a falar, levantando-se, mas passei por ele com os
olhos fixos em George. Ele sorriu para mim. Sabia o motivo que havia me
levado até o gramado do campo de futebol.
Antes que qualquer um pudesse me parar, acertei um soco em seu
queixo. Ele cambaleou, mas recobrou o equilíbrio rápido.
— Desgraçado, filho da puta — rosnei para ele, já soltando mais um
soco. — Porque caralho você fez isso?
— Você não sabe? — gritou, partindo para cima de mim e me
acertando na maçã do rosto, em cheio. — Tem certeza de que você não sabe,
filho da puta, desgraçado. Isso foi pela minha mãe.
Eu não esperava por aquilo.
O choque fez com que ele conseguisse se jogar contra meu corpo e
me derrubar no chão. O punho direito acertou meu rosto duas vezes seguidas
antes que eu conseguisse reagir, virando-me.
Havia mãos em nossa volta tentando nos separar. Nada me faria sair
de cima daquele desgraçado. Não enquanto aquele filho da puta continuasse
respirando.
— Ela não tinha nada a ver com isso — gritei contra seu rosto,
acertando os punhos fechados em qualquer parte que conseguisse encontrar.
— Ela tinha tudo com isso. Você me fodeu, filho da puta, eu fodi
você também — garantiu, parecendo realizado. — Duvido que a Afrodite
queira te ver novamente. — Sorriu, como se aquela fosse uma vitória. — E
eu vou comer ela. Ela vai ser a minha garota para você aprender a nunca mais
brincar com assuntos sagrados, seu desgraçado, denegerado, filho da puta.
— PAROU! — o treinador conseguiu se colocar entre nós dois. —
Que porra vocês acham que estão fazendo no MEU campo?
— Pai, esse filho da puta...
— Aqui eu não sou a porra do seu pai, George. — Apontou o dedo
em riste na direção do rosto do filho. — Aqui eu sou o treinador. E como
treinador eu preciso dizer que esperava mais do meu capitão.
George trincou os dentes, puto por ter levado uma reprimenda do pai.
— E você, se não é do meu time, não pisa no meu campo. Se existe
alguma diferença entre vocês, resolvam lá fora — gritou em minha direção.
— Sim, senhor — respondi, mas com meus olhos fixos em George.
— Eu vou querer saber o que aconteceu aqui? — perguntou, olhando
de um para o outro.
Minhas mãos estavam fechadas em punho caídas rentes ao corpo.
Malcon estava ao meu lado enquanto Jackson permanecia um passo à minha
frente, como se quisesse garantir que eu não faria nenhuma besteira outra vez.
Nem eu nem George fizemos questão de falar nada.
— Se ninguém vai explicar porra nenhuma, você. — Apontou o dedo
em riste para mim. — Sai do meu campo. E você, pro banco — falou com o
filho.
— Mas pa... treinador, eu estava aqui quando esse filho da puta
chegou do nada. O senhor viu — reclamou.
— Eu posso ser seu pai, garoto. Mas sei que ninguém se atraca com
ninguém sem que haja um motivo. Banco, agora. — Deu a ordem de forma
clara sem que houvesse margem para reclamações. — Davis. — Olhei para
ele ao mesmo tempo em que meu irmão. — O Davis que não agrediu
ninguém, claro. Vai jogar como quaterback hoje. — Olhou para meu irmão.
— Vamos ver do que você é capaz.
— Pai — Lair reclamou.
— O que você ainda está fazendo na porra do meu campo? —
perguntou olhando na direção do filho.
Lair soltou um palavrão, olhando-me em seguida com a expressão
fechada. Retribui o olhar. Não tinha medo dele.
— Isso não vai ficar assim — falou baixo.
— Não vai mesmo — garanti. — Se você chegar perto da minha
garota, Lair, eu vou te matar. E acredite, eu já estou no inferno mesmo. Não
vai me custar absolutamente nada.
Ele deu um passo em minha direção e eu me empertiguei.
— Para — Malcon se pôs entre nós. — Vai pro banco, cara. Sabe que
essas rodadas são importantes pro seu futuro. Se seu pai decidir deixar você
fora de algumas partidas, vai ser ruim para você.
Lair soltou o ar com força considerando o que meu amigo havia dito.
Sem falar mais nada, seguiu na direção contrária à nossa.
— Tá, agora é hora de você me explicar que caralho aconteceu aqui.

Leighton estava linda.


Linda de morrer.
Eu podia morrer só de olhar para ela.
Ela também podia morrer só de me olhar, mas de raiva, com certeza.
— O que ele está fazendo aqui? — Leighton perguntou a Chiara que
havia descido com ela do alojamento. Eu estava, como sempre, aguardando-a
do lado de fora para levá-la à aula.
— Vim te acompanhar para a aula, como todos os dias desde que
começamos a namorar — respondi, caminhando lentamente até seu lado.
— Quando eu terminei com você ontem, pensei que estava óbvio que
não precisava mais de sua ajuda, companhia ou qualquer outra coisa, para
nada. — Leighton cruzou os braços em frente aos seios e eu soltei um gemido
esganiçado. Eu adorava aqueles peitos dela.
— Afrodite, nós temos que conversar — falei, aproximando-me.
— O que, você apostou agora, que consegue me fazer de idiota outra
vez? — Trinquei os dentes e Chiara soltou um sibilo.
— Você está sendo injusta, Afrodite — acusei, repetindo seu gesto de
cruzar os braços.
Ela me olhou por alguns segundos. Os olhos correndo por meu rosto.
Percebi quando notou as maçãs do rosto avermelhadas porque seus olhos se
demoraram ali, depois foram para os nós dos meus dedos, como se quisesse
saber se eu havia ido lutar ontem.
— Bati no George. Aquele filho da puta que mentiu pra você.
Ela riu, negando com a cabeça.
— Ele foi a única pessoa sincera comigo, Andrew.
— Ele foi mentiroso, mesquinho e vingativo. Só fez aquilo porque
descobriu sobre a senhora Hughes. — Tentei explicar.
Os olhos de Leighton perderam o foco por alguns instantes como se
estivesse repentinamente triste.
— Então foi com ela que você estava combinando de transar? —
soltou o ar pelo nariz. — Não é de se estranhar que ele tenha vindo correndo
me contar.
— Eu não... Leighton. — Incapaz de me conter mais, dei alguns
passos aproximando-me do seu corpo e segurando seu rosto. — Eu não fiz
isso. Eu jamais trairia você. Nós nos encontramos ontem sim, mas porque ela
está me ajudando. — Leighton afastou minha mão do seu rosto como se eu
estivesse queimando-a.
— Não importa. — Deu de ombros. — Você não é mais meu
namorado. Não é nada meu. Pode fazer o que quiser com a sua vida.
Leighton deu um passo para longe de mim, recomeçando a andar.
Fiz o mesmo.
Ela parou.
Eu parei.
— O que você está fazendo? — perguntou.
— Já disse. Vou te acompanhar até suas aulas.
— A menos que tenha ficado surdo, deve ter ouvido quando eu falei
com todas as letras que não preciso de você — falou, encarando-me com os
olhos frios.
— Não vou sair do seu lado, Leighton. Não enquanto aquele cara
estiver à solta. Não vou te deixar sozinha.
Eu vi quando seus olhos brilharam por um instante. Um ínfimo
instante.
Por alguns milésimos de segundos ela voltou a ser a minha Afrodite.
Mas tão rápido como surgiu, passou.
Leighton ergueu o rosto entrelaçando seu braço ao da amiga e saíram
caminhando. Comigo atrás.
Não importava quando, onde ou como.
Eu iria atrás dela.
Sempre.
Meu corpo estava quebrado quando passei pela porta do casarão
seguindo para o estacionamento. A noite estava fria e eu podia ver as
fumaças de ar em minha respiração.
Eu nunca havia pegado tantas lutas como hoje. Aquela coisa que
queimava e ardia dentro de mim precisava sair de alguma forma.
O melhor modo, a única maneira que eu conhecia, era fazendo com
que meus punhos acertassem alguns rostos.
Não conseguia fazer com que a voz de Leighton, a expressão dela ao
achar que eu havia mentido para ela, me comparando com aquele filho da
puta, saísse da minha cabeça.
Eu estava com raiva.
Do George.
De suas mentiras. Da maneira como a minha garota tinha terminado
comigo. Eu estava com raiva de tudo.
Meus punhos estavam doloridos e alguns nós dos meus dedos
machucados. Meu rosto doía. Ardia tanto quanto o meu peito.
Eu estava desatento como nunca tinha estado, o que quer dizer que
nunca foi tão fácil bater em mim. Entretanto, ainda assim, ganhei cada uma
das malditas lutas. Porém, não estava feliz. Não conseguia pensar na
quantidade de dinheiro que havia ganhado.
Não conseguia pensar em nada além dela.
Da maneira como eu a decepcionei.
Na forma como meu peito reclamava de saudade.
— Que porra você estava fazendo? — A voz do Malcon me fez fechar
os olhos. Eu sabia que ele estava puto.
Havia desligado o celular, horas atrás, e desaparecido.
— Pensei que você soubesse o que rola aqui — respondi, passando
por ele caminhando a passos decididos e tentando esconder que estava
mancando. Porém a cada passo sentia que minha perna podia explodir de dor.
Segui tentando aproximar-me da minha moto. Depois de muito
tempo, decidi usá-la. Desde que comecei a sair com a Leighton, costumava
andar mais com o carro do Malcon quando íamos a lugares mais distantes, ou
a pé, para que pudesse passar mais tempo com ela. Sentindo seu cheiro,
vendo seu sorriso e sentindo aquela coisa dentro do meu peito. Aquele
quentinho bom.
— Andrew. — Malcon se colocou à minha frente, usando a palma da
mão aberta espalmada em meu peito. — Você precisa parar com isso. Jogar
por grana, eu consigo entender, você quer carregar o mundo inteiro nas
costas. Mas isso. — Apontou em minha direção, descendo a mão em frente
do meu corpo, querendo mostrar o quão fodido eu estava.
— Isso não é da sua conta, Malcon — respondi, empurrando sua mão
e passando por ele.
— Claro que é da minha conta, seu idiota. — Malcon puxou minha
camisa por trás me fazendo voltar alguns passos para encará-lo. — Olha o
que você está fazendo com a sua vida? Você vai acabar se matando, seu filho
da puta.
— Outra vez, isso não é da sua conta — falei, tentando passar por ele
novamente.
— Você é a porra do meu melhor amigo, Andrew. E como seu melhor
amigo, é claro que eu me preocupo com você. Logo, óbvio que isso é da
minha conta. — A voz dele estava mais alta. Continuei andando, ignorando
suas palavras. — E como seu melhor amigo, te digo que você precisa ir a um
psicólogo que possa te ajudar a controlar essa raiva que você sente o tempo
inteiro do mundo todo, Andrew. Você está sempre gritando aos quatro ventos
que odeia seu pai e que não ser igual a ele, mas está seguindo exatamente
pelo mesmo caminho.
Meu corpo ficou tenso assim que ele terminou de falar. Meu peito
subia e descia rápido e meu coração fez uma coisa estranha. Eu já tinha
sentido raiva outras vezes na minha vida, mas nada comparado àquele
momento.
Voltei-me em sua direção.
Malcon ergueu o rosto como se quisesse que eu soubesse que
mantinha as palavras. Caminhei em sua direção, não me preocupando em
esconder as caretas de dor dessa vez.
— Não fala isso nunca mais. — As palavras saíram entredentes.
Soaram ameaçadoras. — Você não sabe nada sobre ele. Eu não sou nada
parecido com aquele desgraçado, Malcon.
— Seu pai tem uma doença — ele disse. — Um vício que pode levá-
lo a morte. Ele sabe disso. Ele escolheu se destruir. Você também tem um
vício, Andrew. Lutar porque precisa de dinheiro, porque precisa pagar as
contas? Isso é admirável. Mas se destruir porque você não consegue controlar
a raiva? Isso também é uma forma de se autodestruir, Andrew. E como ele,
você está escolhendo isso.
Senti o impacto das palavras.
Trinquei meus dentes com força fechando o punho.
— Eu não sou como ele — repeti, com raiva, segurando-o pela
camisa.
— Você não quer ser como ele, cara. — O tom calmo me deixou
ainda mais irritado. — Mas se não tomar cuidado, seu futuro não vai ser tão
diferente.
Não acreditava que ele estava falando aquilo.
Ele.
Meu melhor amigo.
Malcon, mais do que qualquer outra pessoa devia me apoiar. Ele sabia
que eu não era parecido com aquele filho da puta. Eu havia assumido as
responsabilidades que ele negou.
Eu nunca seria como ele.
Antes mesmo que pudesse pensar, meu braço se moveu um pouco
para trás, pronto para desferir um golpe em seu rosto.
— Vai me bater? — perguntou com o rosto sério. — Vai bater em
uma das poucas pessoas que se preocupam com você por falar a verdade? Se
isso vai te fazer feliz, bate.
A maneira como falava não deixava dúvidas de que, se eu quisesse,
poderia quebrar a cara dele ali mesmo. Ele não se oporia. Não reagiria.
Eu queria.
— Vai, bate. — Ele virou um pouco o rosto para facilitar o meu
trabalho.
Minha respiração ficou mais rápida outra vez. Eu podia bater nele.
Podia bater nele apenas por sugerir que eu fosse como aquele desgraçado.
— Você é um irmão pra mim, Andrew. E eu amo você, cara — falou,
pousando a mão em minha nuca com força, me obrigando a encará-lo. — Eu
não quero ver você se fodendo por causa de toda essa raiva que você carrega
aí dentro, cara. Você é o filho da puta mais decente que eu conheço. Você
pode fazer qualquer coisa que queira. Mas, por tudo que é mais sagrado, para
de se autodestruir. Eu não consigo assistir isso. Não consigo ficar aqui vendo
você destruir sua vida.
Malcon ficou em silêncio alguns minutos.
— Eu não sou como ele — repeti, como se aquela fosse a única coisa
que eu consegui ouvir.
— Você não se parece com ele. Nem um pouco — afirmou. — Mas
você tem a mesma tendência autodestrutiva que ele, e se não lutar contra isso,
caralho, você pode se perder. E eu não vou deixar isso acontecer. Eu sou seu
amigo, porra.
Malcon me soltou, se afastando de mim encarando-me.
Engoli em seco pensando em como ele chegava em casa bêbado, sem
conseguir se controlar. Em como eu não conseguia controlar a raiva que ardia
em meu peito sempre. Em como eu só conseguia pensar depois de quebrar a
cara das pessoas, quando me sentia bem.
Malcon podia estar certo.
Eu não bebia. Jamais seria tão fraco como ele.
Mas eu também tinha uma dependência. A raiva.
E eu sempre precisava colocá-la para fora.
O pensamento fez com que eu estremecesse. Não queria ser igual a
ele.
Não conseguiria me olhar no espelho se me tornasse exatamente
como a pessoa que eu mais odiava.
— Eu não posso ser como ele — falei, por fim, olhando para ele.
— E não vai ser — garantiu.
E eu acreditei nele.
— Pega. — Malcon falou, jogando alguma coisa em minha direção.
Por reflexo, consegui segurar o que ele havia jogado, percebendo depois que
era a chave do seu carro. — Vou com sua moto. Com essa perna fodida,
capaz de eu encontrar seu corpo estirado no chão no meio do caminho. Nós
ainda temos um filho da puta pra prender, e você ainda tem muita coisa pra
conquistar.
Assenti, erguendo um pouco o lábio em um sorriso curto. Joguei a
minha chave em sua direção, ele a pegou, dando as costas em seguida.
— Ei, Malcon — chamei, vendo-o virar-se em minha direção. —
Obrigado.
Malcon acenou de forma positiva voltando a caminhar até a minha
moto.
E eu nunca me senti tão agradecido por ter aquele filho da puta em
minha vida.
— Ah, só mais uma coisa — falou, virando-se em minha direção. —
Dá próxima vez que você pensar em me der um soco, eu vou quebrar seus
dentes.
Ele falou sério.
Eu sorri.
Mas pensei um pouco sobre o que havia dito. Terapia.
Talvez, realmente, isso me fizesse bem.
Faria qualquer coisa para não me parecer com ele.
Em nada.
Capítulo 51

— Pelo amor de tudo que é mais sagrado, amiga, quando você vai
conversar com o Golden boy que está ali sentado esperando sua hora de ir
embora para te seguir como um doguinho feliz até o dormitório e sem nem ao
menos ganhar um mísero sorriso seu? — Mad soltou um suspiro audível,
olhando para a mesa onde meu ex-namorado estava me aguardando.
Era seu ritual de todos os dias.
Andrew estava pontualmente no meu horário de sair pela manhã
aguardando na frente do dormitório, me levava em todas as aulas, me
acompanhava até o trabalho e depois me levava em casa novamente.
Em silêncio.
Bem, eu ficava em silêncio. Andrew falava comigo. Ele me dava bom
dia, desejava-me boa aula. Às vezes me contava alguma coisa que havia
acontecido em seu dia.
Em algumas circunstâncias eu queria responder, ou rir das coisas que
falava. Mas me lembrava de como meu coração ainda estava doendo por
causa dele. Por sua mentira. Então, mordia minha língua e engolia qualquer
pensamento benevolente que pudesse sentir em relação a ele.
Mas eu permitia a sua presença por causa do James. Ainda tinha medo
do que ele podia fazer caso se aproximasse. Ainda tinha medo da minha
reação. Ele nunca aparecia quando o Andrew estava por perto, e isso fazia
com que eu me sentisse um pouco mais segura.
— Eu achava que já tinha conhecido muita gente sem coração, mas a
Leighton está ganhando. — Ania entregou a Mad um copo de água com
limão.
— O que é isso? — perguntei, apontando para o copo, ignorando o
comentário a meu respeito.
— Nada demais, só para me ajudar a perder um pouco das gorduras
em minha barriga. — Abri a boca para responder, mas ela me interrompeu.
— Tem certeza de que não quer falar com o Golden? Tadinho — outro
suspiro.
— Quer pra você? — ergui uma sobrancelha em sua direção.
— Tá doida? Eu jamais pegaria alguém que já ficou com alguma de
minhas amigas, menos ainda alguém que está completamente e
irremediavelmente apaixonado por uma das minhas melhores amigas.
Mad piscou para mim.
— Ouvi melhor amiga, e aviso que cheguei. — Chiara apareceu ao
lado de Mad jogando sua bolsa no balcão e olhando na direção onde Andrew
estava sentado. Ele pegou o copo de coca cola para dar um gole destacando
os malditos músculos que eu sentia falta todos os dias. — Ela ainda não foi
falar com ele? — perguntou, apoiando a mão sobre o punho fechado
encarando-o como se estivessem com pena.
— Supõem-se que vocês são minhas amigas, e amigas ficam do lado
das amigas, não do cara que mentiu para ela. — Rolei os olhos, passando a
flanela laranja gasta no balcão com força.
— Isso acontece quando a amiga em questão não é uma vaca sem
coração. — Mad retrucou, dando língua para mim.
— Muito maduro pra sua idade. — Bati nela com a flanela molhada.
— Tão madura como você, que não conversa logo com esse homem.
Por favor, Leighton.
Balancei a cabeça em negativa, olhando para o relógio. Faltavam três
minutos. Coincidentemente Andrew olhou para o relógio também. Depois
para mim. Três minutos para aguentar a caminhada que antes levávamos
quinze minutos e que agora se transformou em trinta, ao seu lado.
Sentindo seu cheiro.
Sentindo meu peito arder de saudade.
Sentindo meu corpo tremer de raiva.
Uma semana.
Uma semana ignorando-o completamente. Fingindo que ele não
existia. Mas não conseguindo nem por um minuto me esquecer de seu
sorriso, dos seus beijos, da maneira como meu coração batia feliz por causa
dele.
— Está pronta? — Andrew perguntou, de repente, próximo demais de
mim. O cheiro de hortelã e tabaco. O gosto que eu tanto sentia falta.
Dei outra conferida no relógio constatando que era exatamente o
horário de saída. Soltei um suspiro com força. Trinta minutos ao seu lado.
Trinta minutos em que eu vivia o céu e o inferno ao mesmo tempo.
Assenti, deixando o avental sob o balcão, e pegando minha bolsa que
já havia entregado a Chiara quando fiz uma pausa para o banheiro, minutos
atrás.
— Ai, droga — Mad falou, dando uma conferida no celular. — Vou
ter que voltar na sala. Deixei aquele casaco azul da Channel lá. O que você
gosta, Chi. — A carinha de quem estava desolada podia enganar quase
qualquer pessoa, menos a mim.
— Eu vou com você — Chi respondeu, feliz demais. — Quem sabe
assim você deixa eu roubá-lo, finalmente.
— Vou junto. — Sorri para as meninas deixando claro que se o plano
era me deixar sozinha com o Andrew, eu não aceitaria isso tão fácil.
— Facilitaria muito a minha vida se você fosse direto para o
dormitório hoje — Andrew falou, parecendo sem graça. — Tenho um
compromisso depois de te deixar em casa. Não posso me atrasar.
Sair? Pra onde? Você não está vestido para luta.
A pergunta chegou à ponta da minha língua, mas a engoli. Não faria
isso. Não daria uma de ex-namorada que fica perguntando sobre a vida do ex-
namorado. Nem mesmo quando ele era um babaca que estava seguindo a vida
enquanto eu ficava aqui chorando todas as noites por ele.
— Não estou aqui para facilitar a sua vida. Nem te pedi para que seja
meu guarda-costas — retruquei, chateada.
Queria saber para onde ele ia.
Reparando bem, ele estava bonito demais. Cheiroso demais.
— Leighton...
— Pode ir foder à vontade com as garotas que você engana agora.
Não preciso de você, Andrew.
As palavras saíram rasgando em minha garganta, como se uma lasca
de gelo tivesse descido rasgando por ela, cortando-a por dentro. Porém, por
mais que doesse em mim, a expressão de quem foi golpeado forte demais fez
meu coração doer um pouco. Eu o detestava, mas o amava na mesma
intensidade. Odiava que ele tivesse feito aquilo!
Porque você precisava apostar, Andrew?
Porque você não podia se tornar um bom namorado só por gostar de
mim? Eu gosto tanto de você. Meu coração ainda te ama. Mas como eu
posso acreditar nas suas palavras agora?
— Leighton, não fala assim — Madison reclamou, com os olhos
arregalados. — Não liga pra ela, só está com ciúmes.
— Não estou com ciúmes — falei, com os dentes trincados na direção
de minha amiga. Ela podia se tornar ex-amiga a qualquer momento também.
— Você, pra casa. Nós, casaco — Chiara interrompeu, ignorando
meus protestos, agarrando a mão da Mad e saindo. Sem mim.
Soltei um suspiro frustrado e comecei a andar. Andrew abriu a porta
da lanchonete para mim, como fazia todos os dias. Meu coração bateu
acelerado, como fazia todos os dias.
Caminhamos em silêncio comigo inspirando todo o ar que eu podia
para que conseguisse gravar seu cheiro em minha memória. Os passos eram
lentos, como se quiséssemos aproveitar todo o pouco tempo que tínhamos.
Olhava para ele de soslaio analisando suas roupas. Pensando se havia
vestido aquele cardigã verde-oliva e a calça jeans para encontrar alguma
garota em específico. Se a garota com quem ele estaria hoje ficaria feliz ao
vê-lo. Se ela sabia como era bom enfiar os dedos por seu cabelo e brincar
com os fios de sua nuca.
Ela devia saber.
— Não vou transar — falou.
Meu coração deu uma guinada no peito e eu pensei que ele podia
vencer qualquer corrida olímpica sem precisar da minha ajuda pela forma
rápida que batia.
— Não te perguntei. — Tentei conter o sorriso que ameaçava se abrir
em meu rosto mordendo o lábio inferior.
— Não vou transar com ninguém além de você, Afrodite.
Rolei os olhos.
— Você também não ia transar comigo. — Dei de ombros.
— E transei, porque eu me apaixonei. E justamente por estar
apaixonado é que não vou transar com nenhuma outra garota. — Andrew deu
um passo mais rápido parando na minha frente. — Me apaixonei por você,
Leighton. E eu vou esperar até que você esteja pronta para me ouvir.
Eu podia dizer que meu coração parou, mas não acreditaria nele.
Mesmo que a maneira com a qual ele falou isso tenha sido segura, olhando
bem no fundo dos meus olhos, sem piscar nenhuma vez.
Mesmo que seus olhos tivessem caído rapidamente para meus lábios,
mesmo que suas pupilas tenham se dilatado, mesmo que ele tenha passado a
ponta da língua, daquela língua que eu estava tão habituada a ter em meu
corpo, nos lábios.
Mesmo que meu coração tenha implorado para ouvi-lo.
Mesmo que eu o amasse.
Eu não podia acreditar nele.
Não por uma segunda vez.
— Andrew, isso não vai acontecer. — Soltei o ar de forma dramática.
— Como eu disse, você não está pronta. E eu sei esperar. — Andrew
apontou com a cabeça para a porta do dormitório. — Chegamos. Você está
segura agora.
Assenti com o coração doendo.
A dor era ambígua.
Eu o queria. Mais que tudo.
E justamente por isso eu não me sentia segura. Porque Andrew tinha o
meu coração. E não havia nada menos seguro no mundo que isso.

Assim que entrei no dormitório rolei os olhos ao me deparar com o


enorme buquê de rosas vermelhas que me esperava na porta do meu quarto.
Andrew era um idiota se achava que eu ia perdoá-lo com algumas flores.
Segurei o buquê abrindo a porta e levando-o para dentro. Joguei-o em
minha cama, notando o pequeno envelope branco. Eu não ia ler.
Mas...
E se fosse um recado importante?
Eu era curiosa demais para não lê-lo.
Soltei o ar com força me odiando um pouco por ser uma idiota que
não conseguia simplesmente ignorar a existência daquele babaca de quem eu
estava morrendo de saudade.
Peguei o envelope, abrindo-o.
Para a minha artista preferida, Boo.
Soltei o bilhete sentindo o ar faltar em meus pulmões.
Era ele.
Eu havia dito que não precisava do Andrew, mas ele não me podia
abandonar. Não ainda. Não quando eu ainda tinha tanto medo.
Capítulo 52

— Você está diferente — A professora Hughes falou, apertando os


olhos em minha direção.
Ela havia mandado uma mensagem para mim mais cedo, quando eu
estava na terapia, dizendo que queria me contar sobre Harvard.
Não tinha como negar.
Depois da última vez que fui ao casarão, quando Leighton terminou
comigo, as coisas que ele me disse ficaram ecoando em minha cabeça.
Eu não queria ser como o filho da puta do meu genitor.
Mas ele tinha um vício. Um vício destrutivo.
Eu tinha um vício. Um vício que podia me destruir.
Um vício que podia me fazer perder a Leighton.
Foi por isso que eu reconsiderei. Por ela.
Porque, porra, não existia nada no planeta que eu não fizesse por ela.
Eu a amava. Demais. Leighton me apoiou, ela me aceitou como eu sou. Com
meus erros, meus defeitos, minhas vulnerabilidades.
E foi por isso que aceitei o conselho do Malcon e procurei terapia.
Hoje foi a minha terceira sessão. Foi para onde eu fui quando deixei Leighton
no dormitório.
Minha terapeuta estava me ajudando a lidar com a raiva.
Ela inclusive estava me ajudando com passos que contribuíam para
que eu a controlasse. Estava quase funcionando. Quase. Ontem quase quebrei
a cara do George outra vez, mas me lembrei de uma das coisas mais
importantes, segundo ela, que eu precisava aprender a fazer: conhecer a
minha raiva.
Reconhecer o sentimento do sentimento dentro de mim. Ela disse que
sem isso seria impossível que começássemos o que ela chamou de tratamento
comportamental. O autoconhecimento é a condição ideal para saber o que
causa a raiva antes mesmo que ela pudesse vir à tona.
Não era difícil saber o que causava a minha raiva: A vida.
A porra da minha vida fodida.
O segundo passo, segundo ela, era respirar.
O quinto passo consistia em resolver meus conflitos internos. Isso,
sim impossibilitaria o tratamento. Meus conflitos internos eram muitos e
muito antigos também.
Ela tinha certeza de que eu melhoraria.
Eu tinha certeza de que não.
Dei de ombros.
— Se me chamou aqui para falar sobre o seu filho...
— Não. — ela interrompeu. — Eu sinto muito mesmo que o George
tenha descoberto sobre nós dois. Sinto muito pelo que ele fez. Meu filho não
fala comigo há uma semana. Ele me odeia, Andrew. — Ela balançou a cabeça
em negativa. — Mas eu te chamei aqui para falar sobre Harvard.
— Descobriu alguma coisa? — quis saber, me arrastando para mais
perto da ponta da cadeira.
Ela assentiu.
— Tem uma pessoa chegando — explicou, olhando para o relógio em
seu pulso. — Ela vai explicar melhor o que aconteceu. Mas você estava certo.
Em tudo. Em não confiar nele.
Ouvimos uma batida na porta e a senhora Lites pôs a cabeça para
dentro.
— Tem uma garota aqui — anunciou.
— Pode deixá-la entrar, senhora Lites — a professora falou dando um
sorriso fraco. A senhora abriu um pouco mais a porta e uma garota loira de
cabelos longos surgiu. Parecia tímida. Ela olhou ao redor, analisando a sala
como se quisesse guardar cada detalhe em sua mente. — Seja bem-vinda,
Sophie.
A garota assentiu. A professora nos apresentou, indicando a cadeira
em que ela deveria sentar.
— Esse é o garoto de quem eu lhe falei. Andrew — Sophie assentiu.
— Eu preciso que você diga a ele exatamente o que me contou. — Sophie
parecia indecisa mordendo o lábio inferior, nervosa. — Eu confio nele. Pode
confiar também.
Ela assentiu.
— Se você sabe de alguma coisa, qualquer coisa que possa nos
ajudar, vou serei grato a você a vida inteira.
A garota olhou para a professora Hughes antes de começar.
— Eu saía com ele. O James. — Ela engoliu em seco. — Saíamos há
algum tempo. Não era nada fixo e eu sabia que ele também saia com outras
garotas. Isso não me incomodava. Um dia, quando estávamos em casa — A
garota fez uma pausa —, ele foi ao banheiro e o celular vibrou. Pensei que
era o meu, mas era o dele. E eu vi de quem era a mensagem. Estranhei, claro.
E decidi ler. Eu só não esperava ver as coisas que eu vi em seu aparelho.
— O que você viu? — perguntei, ansioso.
A garota olhou para baixo, como se a resposta fosse dolorosa demais
para que ela contasse nos encarando.
— Tinha fotos, muitas fotos de crianças, meninas e meninos pelados
— assenti, esperando que ela contasse o resto. — E ele enviou várias para o
reitor. O reitor de Harvard.
Engoli em seco, olhando para a senhora Hughes que encarava a mesa
de madeira com uma expressão triste no rosto.
— Caralho — falei, sem acreditar no que havia ouvido. Recostei
minhas costas na cadeira, passando a mão pelo rosto. — O reitor? — Ela
assentiu. — Por isso a transferência.
Passei a mão pelo rosto outra vez.
— O James me viu com o celular na mão e eu disse que ia contar a
todo mundo o que eles estavam fazendo — continuou, com os olhos cheios
de lágrimas. — Mas foi no mesmo dia em que soube que minha mãe estava
doente. Eles me ofereceram uma enorme quantidade de dinheiro e disseram a
todos que eu passaria uns tempos longe da universidade, em uma clínica de
repouso, depois de um período estressante com os trabalhos.
Assenti outra vez, mas dessa vez sem falar nada.
— Eu queria ter contado. Queria ter feito a coisa certa, mas...
— Você não precisa se explicar. Não para mim. Eu sei que às vezes
fazemos escolhas difíceis pelas pessoas que amamos — Sophie assentiu com
os olhos cheios de lágrimas. — Fico feliz que você tenha nos contato isso. Só
preciso de mais um favor. Isso pode mudar tudo.
Sophie mordeu o lábio.
— Eu quero ajudar. Quero fazer a coisa certa dessa vez.
Sorri feliz em saber que muitas coisas estavam para mudar. E se tudo
desse certo, muito em breve eu ia foder com a cara daquele filho da puta
desgraçado.
Capítulo 53

O dia havia começado de maneira normal.


Andrew me esperava em frente ao dormitório, me seguiu até a minha
primeira aula e foi para sua própria sala.
O incomum veio depois.
A professora não se sentiu bem e nos liberou. Aproveitei o tempo
livre para ir a biblioteca. Tinha que colocar algumas matérias em dia. Eu
estava cansada. A noite foi um tormento. Eu mal consegui dormir. Sentia-me
sufocada o tempo inteiro.
Aquele era um momento em que eu precisava. O lugar estava vazio o
bastante para que eu tivesse certeza de que seria bem silencioso da maneira
como eu precisava.
Eu sabia que todos queriam o melhor para mim, me proteger.
Entretanto, isso consistia em estar sempre acompanhada. Eu precisava ficar
sozinha. Precisava de mim mesma, da minha companhia.
Nem que por cinco minutos.
Já tinham passado dois dias desde que James enviou as flores. Não
contei a ninguém sobre elas.
Pedi para que a garota do quarto ao lado as jogasse no lixo, embora
desconfiasse que ela tenha ficado com o buquê.
Decidi manter o silêncio sobre isso, pois só faria com que Andrew
ficasse ainda mais angustiado. De Golden, como Mad costumava chamá-lo
agora, claramente viraria um pitbull disposto a arrancar a mão de qualquer
pessoa que se aproximasse demais de mim.
Eu gostava de ver aquele cuidado comigo, o que me levava cada vez
mais a questionar sobre a aposta. Eu estava brava, claro. James tinha me
enganado, Andrew tinha me enganado. A sensação de que eu não podia
confiar nas pessoas por quem me apaixonava era péssima.
Expirei, me sentindo mal pela briga.
Depois de tudo que eu disse a ele, Andrew ainda seguia aqui comigo,
me protegendo, se importando. Mesmo que eu tenha escolhido algumas
palavras deliberadamente para magoá-lo.
Eu decidi transar com ele mesmo com suas negativas. Talvez ele
tenha se negado tanto justamente por isso, por saber que não se tratava de
uma coisa real. Talvez ele tenha mesmo apostado e os sentimentos mudaram
no meio do caminho. Mas isso não mudava o que aquilo significava para
mim, que eu confiei em alguém que me usou enquanto eu estava
inconsciente.
Enquanto eu não fazia a menor ideia do que estava acontecendo.
Minha psicóloga dizia que eu ainda tinha problemas com confiança.
Que eu não tinha como ter certeza de nada daquilo, especialmente sem falar
com ele. Ela me perguntou se eu sentia falta de falar com ele.
Não respondi.
Mas a verdade era que eu sentia saudades sim.
Muita saudade.
Sentia falta da sua amizade, da maneira como ele me fazia rir e
tornava meus dias mais leves.
Sentia muita falta dele.
Suspirei, erguendo o calcanhar do chão, tentando pegar o livro que
estava na prateleira mais alta.
Dei um pequeno salto quando uma mão tocou a minha. Meu corpo
congelou com o contato.
— Ei, boo. — A voz de James, aproximando-se por trás, me assustou.
Meu corpo travou.
Não conseguia reagir.
Respirar.
Pensar.
Tinha sido uma péssima ideia vir sozinha, porém eu não aguentava
mais me sentir refém dele. Sentir medo o tempo inteiro. Eu queria voltar a ser
a pessoa que eu era meses atrás.
Feliz.
Livre.
Não via a hora de o James ser preso. Sabia que ainda havia coisas a
fazer, a investigar, mas esperava que o FBI agisse rápido. Não via a hora de
poder voltar a ter uma vida normal.
— Gostou das minhas flores? — perguntou, me fazendo engolir em
seco. Lentamente desci os pés até que eles tivessem completamente apoiados
no chão. — Eu sempre soube que te mandaria flores, que te faria feliz, Boo.
Ele deu um passo em minha direção e eu um passo para trás. James
ergueu a mão, brincando com uma mecha do meu cabelo, e eu me afastei
novamente esbarrando na prateleira.
— É tão bom te ver livre outra vez, sem aquele guarda-costas
brutamonte. Eu sabia que você ia terminar com aquele cara. Tenho estado
sempre perto de você desde que terminaram. Sempre esperando a hora de me
aproximar — ele suspirou, como se tivesse esperado muito por esse
momento. — Você tem a alma de artista, Boo. Ele é bruto demais para você.
Ele nunca a entenderia. Eu tenho te esperado por anos. Desde que você foi
embora. — Meu corpo estava travado. Ele sorriu, fazendo menção em tocar
meu rosto. Me encolhi. — Você está com medo? De mim? — franziu o
cenho para mim. — Não precisa ter medo, Boo. Não estou aqui para te
assustar. — James deu um passo para mais perto. Encolhi-me mais — Eu
amo esse seu cheiro.
— Eu odeio você — falei, em um sussurro.
— Boo, não fala assim comigo. — Ele se aproximou um pouco mais.
— Eu nunca te fiz mal. Eu sempre cuidei de você. Eu sabia que quando nós
crescêssemos, você seria a minha garota. Eu sempre cuidei de você, Boo.
— Eu nunca vou ser sua, James. — Ergui o rosto um pouco olhando
para ele. — Eu achei que você era um cara legal. Achei que gostasse de mim
como eu gostava de você. Achei que eu podia confiar em você. Mas você é
um nojento, um criminoso. Um pedófilo.
— Não fala isso, Boo — ele se aproximou de mim um pouco mais me
fazendo dar um pequeno passo para o lado, tentando me afastar dele,
assustada. — Nós não somos isso. Você não sabe a história toda. Não
começamos assim, só precisávamos de dinheiro para nos manter. Quando
papai perdeu o trabalho foi um momento difícil, Boo. Mamãe jamais aceitaria
perder o estilo de vida que tínhamos. Ele estava desesperado, mas um dia ele
viu um cara olhando garotinhas no parque, viu como ele ficou... você sabe,
excitado. Depois ele foi para o banheiro público. Papai entendeu o que estava
acontecendo ali e descobriu uma forma rápida de nos manter. Pessoas que
gostavam de criancinhas. Ninguém pode julgá-lo por isso.
A maneira como ele contou, casualmente. O tom de sua voz. Tudo
deixava claro que ele realmente acreditava naquilo. Que não estava fazendo
nada demais.
— Claro que pode. Seu pai é um nojento, e você também. Não
consigo acreditar que você pensa que isso é normal. Que você acredita que
isso é certo. — Senti meus olhos marejarem. — Não acredito que você tenha
feito isso comigo. Que tenha feito isso com tantas crianças.
— Você está fazendo tempestade num copo d’água, Boo. Não
estamos transando com nenhuma delas. São só algumas fotos para ajudar na
imaginação de caras que precisam. — Fez um gesto de masturbação. — Você
sabe... Depois papai descobriu que as pessoas gostavam de verem mais uma
pessoa. Então ele me disse que começaríamos uma brincadeira nova, e
quando você falou sobre filmes... bem, isso deu a papai uma nova ideia. E,
claro, nos deu muito dinheiro, Boo.
— Eu tenho nojo de você. — Cuspi as palavras. — Nojo do que você
fez comigo, James. Eu confiei em você.
Ele deu um passo em minha direção com os olhos pegando fogo.
— Leighton, não seja assim. — Ele balançou a cabeça como se
estivesse frustrado. — Eu nunca mostrei suas fotos a ninguém. Eu sonhava
com você todas as noites. Eu repassava em minha mente as vezes que eu te
tocava, que eu te beijava. Que você permitia que eu te beijasse.
— Eu achava que aquilo eram você me ajudando. Que eu seria uma
boa atriz. Vocês se aproveitaram de mim, James. Se aproveitavam das
crianças que confiavam em vocês. Ainda se aproveitam. Vocês ainda fazem
isso.
— Nunca nos aproveitamos de você. As outras garotas eram
negócios. Você era a minha Boo. Sempre será.
Balancei a cabeça em negativa, sem conseguir acreditar nas coisas
que estava ouvindo. Ele destruía a vida de milhares de pessoas. De crianças.
Era nojento. Inadmissível que as pessoas se sentissem atraídas por crianças.
Crianças. Pequenos serem humanos que deviam ser protegidos por todos.
Senti meu estômago embrulhar.
— Você não pode ficar chateada comigo por isso, Leighton. São só
negócios. Policiais matam pessoas, pescadores pescam peixes, caçadores
caçam animais. Nós só vendemos algumas imagens por aí. É só comercio. —
Balancei a cabeça em negativa.
Ele deu mais um passo em minha direção.
— Não vou te fazer mal, Leighton. Nunca. Eu só quero que você
entenda isso. As fotos, é um negócio. Meu trabalho. Nunca foi pessoal. —
Ele deu mais um passo erguendo a mão como se tentasse tocar meu rosto. —
Eu senti tanto sua falta quando você se foi.
James falou, inspirando fundo como se quisesse registrar meu cheiro
em sua mente.
— Mais do que eu queria admitir, pra ser sincero. — Ele soltou o ar
com força. — Eu sempre tive planos para você, Boo. Sempre soube que
quando chegasse a hora, nós faríamos o que eu sempre quis. Eu poderia tirar
sua roupa de verdade, e enfiar minha cabeça entre suas pernas de verdade. E
colocar meu pau em sua boca com você acordada, sabendo o que estava
acontecendo. Gostando daquilo. Eu te daria prazer. Te faria gostar. Eu
conheço cada detalhe do seu corpo. Eu estudei seu corpo. Te faria sentir bem.
Seria a melhor coisa da sua vida. Eu queria ver a sua expressão quando
estivesse comigo. Quando você fosse minha.
Eu sentia minhas pernas vacilarem.
Não como quando acontecia com o Andrew. Quando era bom.
Quando minhas pernas viravam gelatina de uma maneira gostosa. Aquilo era
nojento, e eu sentia que podia vomitar.
— Se você der mais um passo para perto dela, será a última coisa que
vai fazer na vida. — A voz de Andrew foi o bastante para que meu corpo
relaxasse por alguns segundos.
Olhei para frente, através de James.
Meu coração parou e eu esqueci como respirar.
Ele caminhava, passos firmes, expressão de quem estava prestes a
matar alguém. A matar o James.
— Você está bem? — quis saber, olhando-me rapidamente.
Assenti, sentindo-me tremer um pouco.
— Tem certeza? — os olhos passam com urgência por todo o meu
corpo.
— Tenho. — Minha voz falhou.
Andrew caminhou até estar à minha frente, parando entre nós, ficando
cara a cara com James.
— Que eu saiba, ela não é mais a sua namorada. — O tom de voz era
de deboche. Embora eu não pudesse vê-lo por causa da muralha do meu ex-
namorado à minha frente.
Andrew deu um passo para o lado como se quisesse evitar que ele
conseguisse me ver.
— Não olha na direção dela, não chega perto dela. — Andrew parecia
ameaçador.
Não, não era o Andrew. Era o Imbatível.
O meu lutador.
E ele estava absurdamente sexy.
— Leighton, vamos. — Ele riu. — Fala pra ele que está tudo bem.
— Não fala com ela. — A voz de Andrew estava séria demais. —
Quer falar com alguém? Fala comigo. Mas é bom ter em mente que você vai
conversar diretamente com meu punho.
— E é por isso que vocês nunca vão dar certo. A Boo precisa de
alguém que não seja como você, alguém equilibrado e que não queira sair
quebrando tudo que vê pela frente. Ela precisa de alguém como eu.
Andrew soltou o ar pelo nariz.
— Sugiro que espere que ela diga que quer a sua companhia.
James deu mais um passo se aproximando.
— Você não é o dono dela — falou.
— E é exatamente por isso que estou lhe dizendo: espere que ela diga,
com todas as letras, que quer a sua presença.
— Ela pode não querer agora, mas vai. E quando isso acontecer,
quero ver se a sua pose vai ser a mesma.
Andrew empertigou o corpo e apertou os punhos. Eu estava até
surpresa por ele ainda não ter acertado o James. Com certeza estava fazendo
um esforço hercúleo. Ele ergueu a mão, e percebi quando passou o polegar
pelo queixo, como se quisesse dar algum recado.
— Meu punho está coçando para encontrar essa sua cara. Eu já disse
que vou te deixar irreconhecível. Eu cumpro as minhas promessas, e essa é a
sua sorte. Eu prometi não fazer nada por enquanto. Mas esse dia vai chegar e
eu vou foder com você.
— Ela te contou das nossas fotos, então. De como ela gostava de fazer
vídeos comigo, tirando a roupa e...
E então não houve mais controle algum.
O corpo do James estava no chão, estendido. A prateleira balançou
um pouco, levando alguns livros ao chão.
Andrew ainda estava de pé. Ele abriu e fechou a mão.
Ele deu um passo para a frente, mas pareceu lembrar-se que eu estava
ali. Ainda estática.
Seus olhos encontraram os meus.
— Vem... — ele falou, erguendo a mão em minha direção. E eu fui.
Porque parte de mim sabia que não importava o quão machucada eu
estivesse, sempre podia contar com a sua proteção.
Eu podia contar com ele.

— Não pensei que você fosse deixá-lo sair de lá antes de acabar com
ele. — Meu corpo estava tenso, e Andrew parecia irritado.
Não irritado como ele costumava ficar, mas irritado de uma maneira
contida. Ele permaneceu em silêncio, ignorando-me.
Soltei um pouco do ar com força.
Estávamos chegando perto do meu dormitório. Andrew estava usando
roupas de corrida. Não sabia que ele costumava correr. Chegava a doer meu
peito a maneira como ele estava lindo. A camiseta colada ao corpo por causa
do suor, os músculos definidos que se destacavam. As mãos enormes e que
eu sentia tanta falta de tê-las percorrendo meu corpo.
Era uma droga que ele fosse tão terrivelmente bonito. Tão
inacreditavelmente bom de cama e que fizesse a porcaria do meu coração
reagir de maneira tão implacável, ainda que eu estivesse com raiva.
Andrew não queria conversar, e eu não podia julgá-lo. Mas eu sabia
que ele estava chateado comigo. Que diria que eu não devia sair sozinha
enquanto aquele cara estivesse por aí.
Mas ele não disse nada.
Parte de mim queria que ele brigasse, que gritasse comigo se fosse
necessário. Mas eu queria que ele dissesse algo. Aquele silêncio estava me
incomodando. Demais.
— A professora Hughes me chamou para dizer o que aconteceu em
Harvard — falou, do nada, querendo se justificar. — O James estava
passando fotos por lá, e o reitor estava no esquema também. Ela me
perguntou se nós dois éramos sérios. Foi isso que o George ouviu —
explicou.
Eu não respondi.
Não queria ouvir aquela explicação, mas também não queria que ele
ficasse em silêncio.
— E aquela porcaria de aposta. — Andrew balançou a cabeça em
negativa. — Eu disse sim as palavras. Eu falei que apostava que eu seria um
namorado melhor que qualquer um deles e foi por isso que eu te procurei.
Queria voltar. Você precisava de um namorado, eu precisava mostrar a eles
que podia ser bom nisso também. E no começo era só isso. Nós dois
estávamos nos favorecendo mutuamente. E depois...
Ele parou.
Andrew respirou fundo.
— Depois... — repeti, esperando que ele continuasse.
— Tudo mudou — falou. — Eu falei sério. Você mudou tudo,
Leighton. Você foi a primeira em todas as coisas que realmente importavam.
Em tudo que importa. Você é a primeira que eu amo, Leighton. A primeira
que me faz querer ser alguém diferente, alguém melhor.
Sentia meu coração bater acelerado.
Sentia que o sangue corria pelas minhas veias.
Sentia que meu coração pararia de bater e que não havia ar suficiente
em meus pulmões para me manter viva.
Ele não podia falar aquelas coisas.
Não quando eu não tinha parado de estar brava com ele.
— Eu queria ter quebrado ele inteiro. Queria ter batido nele até que
ele parasse de respirar. Mas você é mais importante, Leighton. Você sempre
será.
Meu coração deu uma cambalhota no peito.
Será que alguém pode morrer com o coração cheio de palavras
bonitas? Porque o meu doía tanto que eu nem lembrava como respirar.
— Bem, e porque minha terapeuta vai gostar de saber que eu consegui
suprimir minha raiva pelo menos uma vez. E eu consegui por sua causa.
Porque sempre haverá você antes de qualquer coisa.
— Você está fazendo terapia? — perguntei, tentando ignorar aquele
incômodo gostoso em meu peito.
— Uma garota inteligente me disse que estava dando certo para ela.
— Ele deu um sorriso fraco. — O Malcon falou uma coisa. Ele disse que se
eu não tomasse cuidado, ia acabar como o meu pai.
— Claro que não — interrompi. Se aquilo foi um golpe no estômago
para mim, deve ter sido cem vezes pior pra ele. — Você não é nada parecido
com ele. Nada. Você...
— Ele estava certo. — Andrew levou o indicador ao meu lábio para
que eu o deixasse falar. — O vício dele é o álcool. O meu a raiva. Os dois
podem levar ao mesmo destino.
Explicou.
Eu neguei balançando a cabeça para ele. Emoldurei seu rosto com
minhas mãos, forçando-o a me encarar.
— Você nunca vai ser como ele, eu sei disso. — Sorri para o cara que
ainda era capaz de me deixar com as pernas bambas apenas com um olhar.
Meu Deus, meu coração era tão idiota. — Mas eu fico feliz que você esteja
fazendo terapia. É um grande passo.
Ele concordou com um aceno, pousando uma das mãos em meu rosto
em seguida. O contato da sua mão com minha pele foi o que faltava para que
todo meu corpo entrasse em combustão.
Para que a saudade dele crepitasse em minhas veias tão vividamente.
Sentia como se eu pudesse queimar de dentro para fora. Como se tudo em
mim explodisse por causa daquele contato.
— Andrew — falei, dando um passo em sua direção.
— Eu te amo e que quero você, Leighton. Só você, comigo. — Eu te
amo — ele disse, parando à minha frente. — Eu te amo, pra caralho, e não
vou desistir de você. Eu. Te. Amo. — Dividiu as palavras como se eu fosse
uma idiota. Meu coração respondeu desmaiando por alguns segundos. Só isso
para explicar o motivo para que ele parasse de bater e para que meu corpo
amolecesse. — E eu vou continuar insistindo, Afrodite. Porque ser um Davis
não é apenas vencer, é saber o que quer, e não desistir de lutar. E eu quero
você. Mais do que qualquer outra coisa no mundo. Eu te amo.
Senti minha boca secar.
Ele fez uma aposta.
Ele apostou.
Tratou a nossa relação de uma maneira leviana. Volúvel.
Como se eu não passasse de um pedaço de carne, não alguém que
tinha mesmo sentimentos por ele. Isso fazia com que eu não conseguisse ter
certeza dos seus sentimentos. Se tudo que ele demonstrou não foi por causa
da aposta, para provar aos amigos que era capaz de ser um bom namorado, de
fazer uma garota feliz, porque sim, eu estava feliz.
Em cada momento com ele eu era feliz. Mas ele fazia isso por mim,
por gostar de mim, ou pelos amigos?
Eu não sabia se podia perdoar isso. Não sabia como podia viver sem a
certeza do que ele sentia. E se ele apostasse outra vez que conseguiria me
fazer voltar para ele?
Não existia nada pior que as dúvidas.
Mas seus olhos, a maneira como me olhava, a maneira como meu
coração reagia.
Eu o amava.
É tão difícil amar alguém com quem se sente decepcionada. Seria tão
mais fácil que o amor acabasse junto com a decepção.
Mas não, ele continuava ali, insistindo em me lembrar de que eu o
amava.
Andrew soltou o ar com força, depois deu um passo em minha
direção. E mais um. E mais outro. Até que apenas centímetros nos
separassem. Ele colou nossas testas e meu coração parou de bater. Meu
sangue esquentou com o contato. Meu corpo inteiro chamava seu nome.
— Eu vou conquistar sua confiança de novo, amor — sussurrou.
Minhas pernas amoleceram. Ele nunca havia me chamado daquela forma.
Estava com a voz trêmula. Andrew roçou a ponta dos nossos narizes e meu
corpo implorava por um beijo. Só mais um. Ergui um pouco a cabeça,
sentindo quando meus lábios tocaram de leve os seus. Andrew aproximou
ainda mais nossos lábios, eu já podia sentir o gosto dos seus lábios sob os
meus, então, ele se afastou. — Porra, eu quero mais do que tudo isso. Te
beijar. Ter você outra vez, Afrodite. Mas não assim. Você vai se odiar, vai
me odiar se fizermos isso assim, sem que você acredite em mim.
Andrew passou o polegar com calma por minha bochecha,
deslizando-o por meus lábios. Arfou, e eu tinha certeza de que, como eu,
queria que fossem os seus lábios ali.
— Eu te amo, Leighton. Eu preciso de você mais do que a porra do ar
que eu respiro. E eu nem sabia que era possível sentir isso por alguém. Eu te
amo. Mas eu vou fazer isso da maneira certa. Quando você estiver pronta
para me perdoar e quando eu estiver pronto para você. — Ele passou a mão
suavemente por meu rosto, fazendo meu coração disparar outra vez. — É
melhor você entrar — falou deixando um beijo em minha testa como se fosse
difícil demais não me tocar. — É melhor você entrar — ele disse, dando um
passo para trás, mas segurou uma mecha do meu cabelo entre os dedos como
gostava de fazer.
Nossos olhos seguiram fixos um no outro. Nenhum dos dois pareciam
dispostos a fazer com que o momento acabasse. Era como se soubéssemos
que assim que nossos olhares se desviassem, aquele momento acabaria e
voltaríamos ao mesmo de antes.
Do modo em que eu estava com saudade o tempo inteiro, fingindo ser
forte. Tentando odiá-lo. Mas não era possível.
Andrew apontou para a direção de onde vinhamos.
— É melhor eu ir — falou.
Assenti.
Ele também.
Meu coração doeu.
Não queria me despedir.
Ele sorriu, fazendo meu coração parar.
— Andrew — chamei. Ele se virou em minha direção. — Obrigada.
— Eu te disse que estaria aqui por você, sempre. E eu cumpro aquilo
que prometo.
Dei um pequeno sorriso assentindo.
Ele havia jurado não parar de lutar por mim.
Dias atrás era a única coisa que eu queria. Agora, eu só conseguia
pensar que eu estava torcendo para que ele ganhasse essa luta.
Para que ele conseguisse me fazer acreditar outra vez.
Porque ele tem o meu coração.
E eu não conseguiria pegá-lo de volta pelo visto.
Capítulo 54

— Bonito teto mesmo. — A voz de Jackson soou da porta do quarto.


Segui o olhar até ele. — Vai ficar aí admirando mesmo ou descer pro
almoço?
Não respondi, encarando o teto outra vez.
Estava há alguns minutos deitado na cama pensando na mensagem
que Jimmy havia enviado alguns minutos atrás. Eles haviam conseguido
todas as provas necessárias para prender o James e seu pai.
Todas.
E isso aconteceria hoje à noite, enquanto ele estivesse no jogo de
basquete do Benjamin.
Era uma coisa boa, claro.
Maravilhosa, na verdade.
Leighton enfim voltaria a se sentir segura. Mas isso queria dizer que
ela não precisaria mais de mim. Que eu não teria outra desculpa para buscá-la
e levá-la. Não teria mais motivos para que ela ainda me aceitasse por perto.
— Foi por causa dela, não é? — perguntou, entrando no quarto e
sentando-se na ponta da cama. — Por causa da Leighton você voltou para lá.
Não respondi, mas meu corpo se encolheu um pouco ao me lembrar
daquela viagem. Ela foi a pior e a melhor coisa que podia te acontecido
comigo. Foi lá que Leighton e eu tivemos a nossa primeira vez. Foi lá que eu
a tornei minha. Aquele lugar me tirou coisas, mas também me deixou aquela
lembrança dela para sempre.
— Eu achei que você estava brincando quando disse que ia. Depois,
quando ficou claro que a Leighton iria junto, eu percebi que era por ela. Você
tinha brigado com o James naquele dia. — Jackson ficou em silêncio por
algum tempo. — Nunca pensei que você fosse voltar lá realmente. Foi por
isso que eu percebi que você gostava dela. Você fez exatamente o que se
negava a fazer por uma garota. Isso provava que ela não era qualquer garota.
Assenti.
— Se você gosta dela, não desiste. Nós somos Davis, lembra?
Dei uma risada fraca, lembrando-me de que foi justamente o que fez
com que ela terminasse comigo. O fato de que eu era um Davis, e que os
Davis ganham sempre.
Formei uma linha com os lábios, não queria falar sobre aquilo com
ele. Não queria ser sincero em relação aos meus sentimentos, mas as palavras
da minha terapeuta soaram em meus ouvidos. Ela disse que nós éramos
unidos, e que isso era bom, mas que ao mesmo tempo cada um parecia viver
em seu próprio mundo, ter suas próprias limitações e lidar sozinho com
nossas dores.
Que talvez fosse bom poder contar de verdade uns com os outros. Foi
pensando nisso que as palavras saíram da minha boca mais rápido do que eu
pude processar.
— Ela está magoada comigo. Não importa o quanto te tente, o quanto
fale a verdade, eu sinto que ela me odeia cada vez mais, que ela não vai me
perdoar. Eu fodi com tudo. — Bati com a mão na cama. — Eu já disse que a
amo. Eu... eu a amo. — Olhei para meu irmão. — Eu a amo mesmo, de
verdade. E pra ser sincero, estou com medo de perdê-la.
Ele deu uma risada baixa.
— De todas as pessoas que existem no mundo, você é o único que eu
tenho certeza de que consegue consertar qualquer coisa — ele falou. — Você
meio que consertou nossa família e fez com que nós quatro estivéssemos
unidos mesmo contra todas as possibilidades. Mesmo que às vezes cada um
viva em seu próprio mundo. Se conseguiu isso, você pode fazer qualquer
coisa.
Jackson deu um tapa de incentivo em minha perna antes de se
levantar.
— É melhor você descer logo antes que o Benjamin decida comer
tudo sozinho, ele acha que só porque vai jogar hoje, precisa engolir tudo que
vê pela frente. — Jackson passou pela porta em seguida e eu tive certeza
outra vez que mesmo odiando tudo que aconteceu conosco, tinha valido a
pena cada momento até aqui por eles.
Eu tinha os melhores irmãos do mundo.
E meu irmão estava certo. Eu havia nos mantido juntos e em
segurança. Não seria uma história mal contada que me separaria da garota por
quem eu estava apaixonado.
A garota que eu amava.
— Oi — falei, ao ver as meninas se aproximando.
Meus olhos foram parar nela. Como sempre.
Ela estava linda. Os cabelos soltos com os cachos bem definidos ao
redor do rosto, os olhos estavam marcados com uma maquiagem verde, a cor
da Walker. Leighton vestia um short jeans, tênis branco e uma camisa do
time de basquete, como se fosse a garota de um dos jogadores.
Eu não gostei.
Queria poder estar no time de hóquei. Queria que ela usasse uma
camisa com meu nome. Queria que ela fosse a minha garota outra vez.
Leighton sorriu para mim.
E meu coração parou de bater por algum tempo.
Já tinha um tempo que seus sorrisos não eram direcionados a mim
daquela maneira, como se estivesse feliz em me ver. Já tinha um tempo que
além de raiva, eu não recebia nada dela.
Aquele sorriso, porra, aquele sorriso fez o meu dia inteiro valer a
pena.
Fazia a porra da minha vida ter sentido.
Madison e Chiara também sorriram ao se aproximarem. Tinham um
sorriso acolhedor, de quem torciam por mim. Meu irmão abriu espaço para
que as garotas escolhessem seus assentos, e surpreendendo, Leighton
escolheu o lugar ao meu lado. Formou uma linha com os lábios.
— Você está bem? — perguntou baixo.
O som da sua voz preencheu o ambiente e, não por acaso, a voz dela
preencheu cada partícula que existia dentro de mim. Cada porra de batida do
meu coração.
Para mim não existiam outras pessoas ali. A arena, que instantes antes
estava superlotada, agora parecia vazia, existíamos apenas nós dois.
Eu assenti.
— Estou.
Ela sorriu.
— Você parece nervoso. — Ela apertou os olhos em minha direção.
— Mais um dos dias tensos em que assistir seus irmãos jogarem pode te
matar de ansiedade e te encher de orgulho ao mesmo tempo?
— Exatamente isso. — Soltei um suspiro longo. — Fico feliz que
esteja aqui. Com certeza vai tornar isso mais fácil.
— Não deixaria de vir. Especialmente quando seu irmão foi muito
especifico em dizer como ficaria magoado se eu não comparecesse ao seu
jogo. — Leighton torceu as mãos na frente do corpo. — Ele disse que apesar
de termos terminado, ele ainda me via como uma amiga.
Um soco no estômago. Foi essa a sensação de suas palavras.
Ela podia ter terminado comigo, mas meu coração ainda era dela.
— É, ele sabe como ser persuasivo. Mas eu nunca fiquei tão
agradecido por essa característica dele, afinal você está aqui.
Leighton baixou um pouco a cabeça, e pôs uma mecha de cabelo atrás
da orelha como se estivesse sem graça.
Malcon apareceu próximo a nós, gesticulando para que eu olhasse
meu celular. Peguei o aparelho no bolso, notando que ele havia enviado uma
mensagem afirmando que os mandados foram liberados. O FBI iria prendê-lo
hoje.
Dei um rápido sorriso para o aparelho, aliviado.
Meu olhar capturou uma movimentação em nossa direção, do outro
lado da quadra. Era ele. James estava aqui.
Olhei rapidamente para Malcon, como em um aviso, antes de encará-
lo outra vez. Ele usava um casaco vermelho sem nada que remetesse às cores
da Walker e uma calça preta. Estava com dois caras ao lado dele, eu não os
conhecia muito bem, mas os via caminhando pelos corredores da Walker.
Vi quando ele escolheu a cadeira do outro lado da arquibancada, mas
que o deixava de frente para nós dois.
Vi quando ele sentou, pondo a perna direita sobre a perna esquerda.
Vi quando ele sorriu para mim.
Acompanhei quando Leighton seguiu meu olhar vendo-o também.
Vi quando sua respiração falhou por um segundo.
Ergui minha mão para tocá-la.
Leighton suspirou, erguendo o rosto em minha direção com um
sorriso nos lábios.
— Não me importa — murmurou. — Você disse que eu tinha que
fingir não me importar. Mesmo que eu esteja muito assustada.
Assenti, orgulhoso.
Olhei para ele outra vez.
O sorriso em seu rosto se alargou.
Eu sorri de volta.
Ele não fazia ideia de como aquilo terminaria.
Eu sim.
O corpo de Leighton ficou tenso ao meu lado.
— Porque você está sorrindo para ele? — perguntou.
— Porque eu estou ao lado da garota mais incrível desse lugar. É um
feito que ele nunca vai conseguir.
Ela rolou os olhos dando um sorriso de lado.
Seu corpo ainda estava tenso e eu senti que sua respiração ainda não
estava normalizada.
— Fica tranquila, Afrodite. Eu estou aqui, vou te proteger, sempre.
Leighton anuiu no exato instante em que o celular tocou outra vez.
Malcon novamente informando que o FBI estava vindo para cá. Leighton
veria, com os próprios olhos, aquele filho da puta sendo preso.
O time entrou no estádio arrancando gritos e aplausos da torcida. Eu
levantei, Leighton também.
Benjamin era o pivô, assumia a posição mais importante do time
ficando sempre dentro do garrafão, seja no ataque ou na defesa, sempre perto
da cesta. Os jogos universitários, diferentes da NBA, são divididos em dois
tempos de vinte minutos, e não em quatro de dez, o que só servia para me
deixar mais nervosa ainda.
— Sabe como o jogo funciona? — perguntei, olhando-a rapidamente
ao lembrar a maneira como Ben a havia ensinando sobre o futebol americano.
Leighton assentiu.
— Benjamin fez questão de me ensinar tudo. Alegou querer garantir
que eu soubesse exatamente pelo que torcer quando estivesse assistindo o
jogo.
Eu ri.
— Garoto esperto.
— Um Davis, afinal. — Deu de ombros.
Eu teria ficado tenso, acreditando que aquilo era uma provocação,
mas ela sorriu. E eu refleti seu gesto.
Apesar de tentar me concentrar no jogo, meu olhar recaía sobre
Malcon em muitos momentos. Ele sempre balançava a cabeça em negativa de
maneira quase imperceptível. Seu primo nos havia contado que hoje as
batidas aconteceriam, assim como as prisões. Não contei a Leighton. Não
queria que ela criasse expectativas e caso desse errado, ela ficasse frustrada.
Mas estava ansioso para que tudo começasse. Para que ela presenciasse esse
momento.
Para que ela testemunhasse que a pessoa que lhe fez tanto mal
começava a ruir. Para que ela soubesse que o planeta seria um lugar um
pouco mais seguro para ela, para tantas outras garotas.
Nosso time estava ganhando com facilidade. Rapidamente estávamos
no final do segundo período. Malcon, próximo a mim, fez um gesto com a
cabeça balançando o celular discretamente indicando que estava prestes a
começar. Imediatamente, meu olhar recaiu sobre o cara à nossa frente. Ele
tinha uma expressão assustada e o celular preso ao ouvido.
Olhou ao redor por alguns instantes. Alguém o havia informado e ele
estava buscando uma rota de fuga, com certeza. Mas isso não aconteceria.
Não comigo aqui. Não com vários policiais atrás dele.
Sorri, dando um aceno para ele, no exato instante em que seus olhos
recaíram na nossa direção, olhando minha garota uma última vez.
Seu maxilar trincou e todos na arquibancada se levantaram
comemorando o ponto que o outro time marcou. Eu o perdi de vista por um
segundo. Levantei-me em seguida, procurando-o. Ele não estava mais.
— Caralho, você o viu? — perguntei a Malcon quando notei que ele
também estava de pé olhando ao redor.
— Não — resmungou. — Foi rápido demais.
— O que está acontecendo? — Leighton perguntou, chamando minha
atenção. Seus olhos se arregalaram e eu vi a preocupação neles. Não era o
que eu esperava para hoje. Queria que seus olhos se acendessem de alívio.
Sabendo que seus medos terão fim. — É o James?
— Leighton, eu preciso que você fique aqui — falei, notando que eu
não conseguiria simplesmente assistir enquanto o FBI fazia alguma coisa.
Eu conhecia essas arquibancadas melhor que qualquer um deles. Eu
tinha que ajudar.
— Andrew — ela chamou, segurando minhas mãos notando alguns
homens descendo as escadas como se estivessem procurando algo.
— Confie em mim, Leighton. Por favor. — Segurei seu rosto em
minhas mãos. — Não sai daí. Me espera aqui. Se acontecer qualquer coisa, eu
quero que você e as meninas vão para o carro do Malcon e voltem para o
dormitório. — Eu não precisava olhar para ele para ter certeza de que meu
amigo já estava tirando a chave do bolso e entregando-a a Madison. — Você
pode fazer isso?
Leighton assentiu.
— Vai dar tudo certo — garanti. — Hoje é o fim de uma fase da sua
vida, Afrodite. Daqui pra frente, você não vai mais se preocupar com isso. Eu
prometo.
Leighton esboçou um sorriso. Dei um beijo em sua testa sentindo o
cheiro de morango nos fios escuros e cacheados.
— Vem, cara — Malcon chamou, apontando para as escadas
próximas ao nosso lugar.
Assenti, olhando-a uma última vez antes de segui-lo. Como eu havia
imaginado, a chave de Malcon estava nas mãos da Madison.
Minha garota estaria segura.
Todas elas estariam.
Jackson seguia logo atrás de Malcon, eu, atrás dos dois. Olhava para
ambos os lados tentando descobrir para onde aquele filho da puta havia ido.
Tentando localizar qualquer vestígio do casaco vermelho que o havia visto
usando poucos instantes antes.
Podíamos ver agentes do FBI começando a busca e tudo se tornou
uma confusão ainda maior. As pessoas saíam da frente sem compreender
exatamente o que estava acontecendo. Os agentes se espalhavam pelo lugar,
mas isso não nos impedia de seguir nossa busca.
Assim que alcançamos o final das escadas, viramo-nos olhando ao
redor. Ele não estava em lugar algum. Os torcedores, que vestiam as camisas
dos times, misturavam-se aos agentes trajando suas roupas pretas. Nada de
casaco vermelho. Seguimos em frente, passando por entre as pessoas que
haviam se levantado para que pudessem ir ao banheiro ou comprar lanche no
intervalo. Não nos preocupamos em esperar que passassem com educação,
apenas as empurrávamos em uma busca frenética, decididos a não permitir
que, por mais improvável que fosse, conseguisse fugir.
— Nada, caralho — Malcon reclamou, soltando o ar com força depois
de algum tempo correndo.
— Ele não pode só ter simplesmente desaparecido. — Grunhi,
preocupado que, se ele não fosse pego hoje, sumisse por mais tempo.
— Vamos achar ele, cara — Malcon deu um tapa em meu ombro,
tentando me animar.
— Ei, olha ali! — Meu irmão apontou para alguém ao longe com o
casaco dele. Estava perto dos elevadores que davam na área inferior, o que o
levaria para a saída.
— Não vamos deixar esse filho da puta escapar. — Determinei,
começando a correr em sua direção seguindo-o.
— Pega ele — Malcon gritou atrás de mim.
Ele correu sem olhar para trás, passando pelas portas de metal que se
fecharam em seguida. Não conseguimos ver a sua cara, mas eu tinha certeza
de que havia um sorriso em seu rosto.
Um sorriso de quem se achava vitorioso.
— Lá embaixo. — Malcon e eu gritamos juntos apontando para a
porta do elevador. Não falamos para ninguém em especifico, mas sentimos
que além de nós três, havia outras pessoas seguindo para a mesma direção,
pela escada de emergência.
Alguns dos agentes passaram por nós, nos empurrando, enquanto se
comunicavam com outros através do rádio informando que o suspeito estava
no andar inferior. Nós informamos que ele usava um casaco vermelho e
estávamos certos de que o andar também estava cheio de homens e que
quando chegássemos lá, o filho da puta já estaria preso.
Apesar de não terem sido tantos degraus, pareceu uma eternidade
quando passamos pela porta de forma afoita.
O alivio foi instantâneo ao ver o casaco vermelho rendido, apoiado no
chão, com um agente sobre ele falando sobre seus direitos.
Sorri, enquanto me aproximava, contente por finalmente vê-lo no
lugar onde ele merecia estar.
O ar saiu dos meus pulmões quando ouvi sua voz.
Meu coração bateu mais rápido quando seu rosto virou em minha
direção enquanto se debatia sob o agente.
— Não é ele — gritei, virando-me na direção onde meu irmão,
Malcon e os demais agentes ainda passavam pela porta.
— Como assim não é ele? — alguém falou. Não sabia quem.
— Não é o filho da puta do James — gritei ainda mais alto, pensando
em como aquele desgraçado estava brincando conosco.
— Não sou o James, é isso que eu estou tentando explicar. — O cara
falou sendo ouvido pela primeira vez. — Um cara me parou e pagou setenta
dólares pelo meu casaco e para que eu usasse o dele. Ele disse que estava
fugindo de uma garota que estava correndo atrás dele. Eram setenta paus,
claro que eu aceitei.
— Puta que pariu. — Dessa vez eu reconheci a voz de Jimmy.
— Puta merda — Malcon falou, aproximando-se de mim encarando a
tela do celular. — É a Madison. Ela quer saber se a Leighton está com a
gente.
Senti que o mundo havia parado de girar por um instante e nem sei
como, mas seu celular estava em minha mão enquanto meus olhos passavam
pelas palavras que se confundiam sobre eles.
A Leighton não estava com elas.
Ela também não estava conosco.
E o mundo não parecia girar mais.
Capítulo 55

Eu não podia deixar o Andrew sozinho. Não quando aquele era um


problema meu. Não podia deixar que acontecesse nada com ele.
Jamais conseguiria viver sabendo que ele podia se machucar por
culpa minha. O FBI andando por aí mostrava que as coisas podiam sair do
controle rapidamente.
Assim que os homens de preto começaram a andar de um lado para o
outro, com armas na mão, tive medo por ele.
— Eu já volto — falei a Madison sem ao menos dar tempo para que
ela tentasse me impedir.
Pulei, por cima das cadeiras, para a fileira de cima e fui seguindo
assim até chegar ao final das fileiras. Eu estava observando os garotos desde
que eles saíram, eles tinham ido para a direita. Era para lá que eu ia também.
Segui, olhando para a frente sempre, tentando encontrá-los.
Eu os vi, e gritei o nome dele. Mas Andrew não me ouviu. Segui
andando mais rápido. Gritei seu nome outra vez, mas fui surpreendida por
uma enorme mão tapando minha boca enquanto outra me puxava com força
pela cintura para uma pequena sala com cheiro de água sanitária.
Meu corpo congelou ao mesmo tempo em que lutava para pedir ajuda.
Era ele.
O cheiro, a respiração pesada, as mãos geladas sobre meus lábios
como em tantos anos atrás quando eu descobri o seu segredo.
Pisquei, tentando fazer com que minha visão se adequasse ao escuro
da pequena sala de limpeza. Não havia muito espaço, o que fazia com que
seu corpo ficasse tão próximo do meu, que eu sentia vontade de vomitar.
Eu tinha nojo dele.
Raiva.
Eu o odiava.
Minhas costas estavam apoiadas em um armário gelado. James usava
um boné e um casaco completamente diferentes dos que estava usando horas
atrás. Esse era verde, como a maioria dos alunos torcedores do time da
Walker, o que, com certeza, dificultaria demais a encontrá-lo.
— Se você gritar, vou matar você, Boo — falou, baixinho em meu
ouvido, fazendo com que meu corpo se retesasse. Os lábios gelados
friccionados contra meu ouvido. — Fica quietinha.
Meu coração estava parado.
Minha respiração acelerada.
Meus olhos cheios de lágrimas que escorriam por meu rosto.
Eu não conseguia respirar.
Apertei os olhos com força.
Não podia estar com ele nessa posição outra vez.
James soltou um suspiro pesado seguido de um palavrão, ainda
mantendo a mão apertada sobre a minha boca. Tão apertada que eu conseguia
sentir meus dentes friccionando-se contra meus lábios começando a
machucá-los. Não demoraria até que eu sentisse o gosto metálico do sangue
em minha língua.
James soltou um palavrão, irritado.
— Para de chorar, Leighton — pediu, a mão ainda firme contra meu
rosto. — Eu quero que você preste atenção no que eu vou falar. Isso vai
facilitar a vida para nós. Consegue entender? — ele falava baixo e
pausadamente, como se quisesse que eu conseguisse compreender cada
palavra do que dizia. — Tá vendo isso aqui? — A mão que estava em minha
cintura havia me soltado. E ele a ergueu na altura dos meus olhos. Fixei meu
olhar em suas mãos. Havia um canivete. — Se você não for uma boa menina,
Leighton, eu vou ter que fazer coisas que eu não quero com você. Então, por
favor, não me obrigue a isso. Consegue entender?
Assenti, sentindo o coração bater tão forte que eu conseguia ouvi-lo
tão forte de dentro para fora.
— Boa menina — falou, passando a mão com o canivete por perto do
meu rosto, como em um carinho. Senti minha pele se arrepiar com medo,
sentindo toda a tensão do momento. — Merda, merda, merda. O FBI,
Leighton? Caralho! Você contou a eles, não foi? Você disse, na biblioteca,
que nós ainda fazíamos isso. Você falou com eles — quis saber, batendo com
a testa contra a minha, como se fosse um tique nervoso. — Porra, Boo.
Caralho. Que merda eu vou fazer agora? Você não podia ter feito isso. Esses
caras vão foder com a minha vida. Você tem ideia de como isso pode foder
com a sua vida? Sabe que tipo de gente tem tesão por criança? Um monte! E
gente poderosa, Boo. E eles vão foder com a sua vida de uma maneira que
você vai se arrepender da merda que fez.
Meu corpo não conseguia reagir a mais nada. Eu estava com medo.
Não foi assim que eu havia imaginado.
Na minha cabeça, ele seria preso em sua casa. O FBI arrombaria a sua
porta, o renderia e enfim eu poderia andar livre pelo campus.
Aproveitei o momento de silêncio dele e tentei pedir socorro, mas a
mão apertada contra meu rosto tornava minha voz abafada.
— Caralho, fica quieta, Leighton. Me deixa pensar — reclamou,
balançando a cabeça em negativa. — Vou ter que fazer tudo outra vez. Mudar
minha vida de novo. Vir de Harvard pra cá só não foi pior porque eu te
encontrei. Merda, Leighton.
Ele balançou a cabeça em negativa ainda próxima demais da minha.
— Não tem como eu sair daqui assim, sem proteção. Sozinho. Eles
vão me ver. — James puxou o ar com força, como se estivesse tentando achar
uma solução. — Sabe de uma coisa, Boo. Você me colocou nessa bagunça e
será você que vai me tirar dela. — James soltou um suspiro forte. — Você
achou que iria se livrar de mim, mas você vem comigo. Sem chamar atenção.
Ou eu não gostaria de estar no seu lugar se alguém notasse quem eu sou. —
James mudou de posição comigo, colando seu corpo às minhas costas e
pondo a ponta do seu canivete na base da minha coluna. — Tem alguém lá
embaixo vestido como se fosse eu, a essa altura, todo mundo deve estar
perseguindo ele. O que vai facilitar para nós dois.
Ele riu, com os lábios ainda colados ao meu rosto.
— Nós vamos nos divertir, Boo — ele sussurrou, fazendo com que
mais lágrimas escorressem por meu rosto.
Ainda mantendo nossos corpos unidos e o canivete preso a mim, ele
abriu uma fresta pela porta. Os corredores estavam uma confusão. Gente indo
e vindo, mas nenhum policial à vista.
— Ótimo — falou, soltando um suspiro. — Nós estamos próximos a
uma das saídas laterais que dá direto para o estacionamento superior. Meu
carro está aqui perto, Boo. Vai dar tudo certo.
Minha respiração estava mais ofegante, e assim que ele passou meu
corpo pela porta colado ao seu, passou um braço por meu ombro com nossos
quadris unidos. A mão que portava o objeto cortante ainda pressionado a
mim, mas agora, na minha cintura. Qualquer movimento, por menor que
fosse, poderia causar um dano. Só me restava torcer para que alguém nos
visse.
Eu sentia o celular vibrando em meu bolso. Com certeza as garotas
haviam notado que eu não tinha alcançado o Andrew e ele poria essa arena
abaixo para me encontrar.
Uma batida do meu coração falhou com a constatação.
Ele viraria o mundo de cabeça para baixo para me encontrar. E só
alguém que ama a outra pessoa faria algo assim.
Ele me amava.
Andrew me amava.
Pessoas que se importavam comigo tentariam ajudar de alguma
forma, não ele. Andrew não confiou em deixar isso nas mãos dos
profissionais porque queria garantir que eu me sentisse segura, ele voltou
para casa por mim. Para que eu ficasse longe do James, para que eu decidisse
o que queria fazer, para me dar espaço. Ele voltou sabendo que podia
encontrar o pai por mim.
Andrew me amava. E eu era uma idiota por não ter conseguido ver
isso antes.
Mesmo sentindo meu coração parar de desespero, eu tive certeza de
que ele me encontraria. De uma forma ou de outra.
— Eu acreditava que você perceberia que ir comigo era uma coisa
boa, Boo. Você está até sorrindo. Eu sabia que ficaria feliz no final das
contas.
Eu ri, de verdade dessa vez.
— O Andrew vai me encontrar — garanti. — Estou rindo, porque
quando isso acontecer, eu não gostaria de estar na sua pele.
James pressionou mais o canivete contra minha pele fazendo com que
eu soltasse um sibilo de dor.
— Você vai esquecer ele, Leighton. Eu prometo que um dia esse cara
será apenas uma lembrança distante em sua mente.
Eu não respondi, não era necessário.
Havia tido um insight.
Andrew me amava, e ele me encontraria.
Segui pelo corredor com James que nos desviava das pessoas que
passavam por nós assustadas. Não demorou até que ultrapassássemos as
portas duplas verdes da cor da nossa universidade. O ar frio bateu contra meu
rosto e eu inspirei fundo tentando manter na minha mente a certeza de que
tudo terminaria bem.
— Nada ainda? — perguntei, impaciente, ao Jimmy que dava
comando à sua equipe para que fechassem todas as saídas.
James não teria para onde ir. Seria impossível sair.
E eu encontraria a minha garota e depois ia matar aquele filho da puta
desgraçado que ousou colocar as malditas patas nela.
— Fica calmo, nós vamos encontrá-la — garantiu.
Soltei um suspiro, pegando o celular do bolso e mandando uma
mensagem para Jackson e Malcon que estavam na sala das câmeras com mais
dois agentes do FBI analisando as imagens.
O lugar era cheio delas, com certeza daria para vê-los.
“Ele ainda não apareceu?” perguntei a Malcon.
“Não, cara. Mas nós vamos achá-los.”
Bloqueei a tela do aparelho outra vez, olhando ao nosso redor.
Madison e Chiara estavam com os olhos inchados de chorar e meu coração
parecia prestes a explodir de preocupação.
Não podia acreditar nisso.
Eu a perdi.
Eu a perdi.
Eu devia ter ficado ao seu lado segurando sua mão e garantindo que
ela estivesse segura.
Eu havia prometido a mim mesmo que ela ficaria bem e havia
falhado. Ela não estava em segurança.
Eu a havia soltado.
— Vai ficar tudo bem, Andrew — Jimmy falou, se aproximando e
dando um tapa em meu braço. — Tenho homens por todo esse espaço. Aqui
dentro e lá fora. Ele não vai conseguir sair daqui e a sua garota vai ficar bem,
eu prometo.
— Eu não sei como ele ficou sabendo. Aquele desgraçado estava bem
à minha frente. Ele recebeu uma ligação e instantes depois ele havia sumido.
Passei as mãos pelo rosto, cansado demais.
— Parece que o pai dele conseguiu fugir. — Jimmy soltou um suspiro
de pesar após soltar as palavras. — Ele deve ter alertado o filho.
— Desgraçados. — Esbravejei, cansado de não fazer nada.
Senti o celular vibrando outra vez em minha mão.
“Ei, olha isso”
A mensagem de Malcon veio com uma imagem. Uma garota de
cabelos cacheados andando ao lado de um homem de casaco verde e boné. A
garota vestia um short jeans, tênis branco e camisa de basquete. Exatamente
como ela. Era a minha garota.
“Onde?” digitei as palavras, afoito, caminhando até o Jimmy que
agora estava próximo a um de seus homens falando algo pelo rádio. Mostrei a
ele a tela do meu aparelho que fez um sinal afirmativo. O agente que estava
com o Malcon estava passando a mesma informação.
“No corredor principal. Eles acabaram de passar por lá em direção à
saída lateral para o estacionamento.”
— Vamos buscar sua garota. — Jimmy falou e eu o segui correndo
pelos corredores sentindo meu coração acelerar.
Angústia.
Medo.
Raiva.
Desespero.
A cada vez que meu coração batia, uma sensação diferente.
E se fosse tarde demais?
E se eu a tivesse perdido também?
Nós tínhamos que conseguir.
Assim que passamos pela porta o vento frio nos saudou. O
estacionamento não estava tão iluminado, mas em certos pontos nos permitia
uma visão privilegiada do que estava acontecendo.
Nada, por enquanto.
Jimmy chamou minha atenção gesticulando que eu devia fazer
silêncio. Não sabíamos onde ele estava e tínhamos que ter certeza de que
minha garota estava bem, de que ele não a machucaria.
Embora a vontade de correr fosse maior do que eu pudesse descrever,
segui mantendo o passo dos agentes. O som de um carro sendo destravado
chamou nossa atenção.
Ergui um pouco o corpo vendo-a. Leighton estava de costas, mas pela
sua postura estava assustada. Eu daria qualquer coisa para tranquilizá-la. Para
que ela soubesse que eu estava aqui. Que eu cuidaria dela.
James parecia apertar algo contra seu corpo. Leighton se encolheu por
alguns instantes com medo. Jimmy gesticulou com a cabeça fazendo gestos
com a mão também, indicando para onde seus homens deviam seguir.
Ela estava prestes a entrar no carro quando alguém abriu a porta por
onde nós havíamos saído pouco antes fazendo com que ela batesse e um
estrondo fosse ouvido. Alguém soltou uma exclamação de susto, voltando
para dentro outra vez a passos apressados. Isso assustou James. Assustou a
Leighton e fez o meu coração parar. Dei um passo, sendo impedido por
Jimmy.
— Quem está aí? — James falou, pondo o corpo de Leighton em
frente ao seu como uma barreira olhando ao redor de maneira meticulosa. —
Eu sei que tem alguém ai.
— Solta a garota, James — Jimmy falou com calma. Eu vi quando
Leighton soltou um suspiro de alivio olhando ao redor tentando distinguir
quem estava ali. — Nós temos um mandado contra você. Sabemos sobre as
suas atividades e temos testemunhas oculares, além de todas as provas que
conseguimos nos últimos meses te investigando. Não tem como você fugir,
está cercado.
— Porra, Boo. Tá vendo? Era isso que você queria? — falou, irritado,
com a minha garota.
Apertei as mãos com força.
— Leighton, você está bem? — Jimmy quis saber.
— Eu... — a voz falhou, mas antes que pudesse continuar, foi
interrompida.
— Ela está ótima. Está comigo. E vai continuar.
— A área está cercada, James. Você não vai conseguir sair com ela
daqui — Jimmy falou outra vez.
— Isso é o que você pensa — retrucou, passando o braço com força
pela cintura dela, de forma que Leighton estivesse ainda mais presa a ele. —
Eu não vou soltar ela. A Boo é a minha garantia. Vocês não vão atirar em
mim, porque isso seria o mesmo que arriscar a vida dela. Ela vai comigo e
vocês não vão me impedir.
Meu sangue fervia enquanto passava pelas minhas veias. Ele não
sairia daqui com ela, nem que para isso eu mesmo precisasse agarrar o
pescoço dele até que todo o ar se esvaísse dos seus pulmões.
Não conseguia mais ouvir ou entender o que Jimmy e James falavam
um para o outro. Meus olhos estavam presos a ela. A cada pequena parte do
seu corpo que estava à mostra tentando garantir que ela estivesse bem. Que
não havia um pequeno arranhão em sua pele.
Eu não aceitaria a Leighton menos perfeita do que estava quando a
deixei na arena. Ela continuou olhando ao redor, como se quisesse me
encontrar. Eu queria acenar para ela, para que me visse. Porém, James ainda
não havia me visto e queria contar com o fator surpresa. Se necessário fosse,
eu me lançaria contra ele.
Faria qualquer coisa para mantê-la em segurança.
Quando, enfim, seus olhos encontraram os meus, Leighton soltou o
ar, parecendo feliz ao me ver, ao mesmo tempo que triste por estar naquela
situação. Por não ter feito exatamente o que eu havia pedido para fazer.
Pus o indicador nos lábios pedindo para que ela permanecesse em
silêncio. Seu rosto estava marcado pelas lágrimas que faziam caminhos por
seu rosto. Os olhos estavam vermelhos e eu sentia, mais do que tudo, o ódio
correr pelas minhas veias.
Ódio por vê-la passar por aquela situação.
Ódio por aquele filho da puta estar com as mãos nela.
Ódio por ele estar ameaçando-a.
Naquele momento, eu poderia mandar um enorme foda-se para a
minha terapeuta. Eu não queria acalmar aquela coisa que crescia dentro de
mim. Não queria calar aquele sentimento. Eu só queria acabar com aquele
cara.
Eu precisava de toda aquela raiva naquele momento. Precisava disso
mais do que o ar que eu respirava.
Vi quando ele apertou Leighton contra seu corpo, pressionando um
canivete contra ela. A maneira como ela se encolheu fechando os olhos com
força antes de voltá-los a mim outra vez.
Trinquei os dentes com força.
Fechei as mãos com furor.
Meus dedos formigavam de vontade de socar algo.
Socá-lo.
Os olhos arregalados de Leighton estavam firmes em minha direção.
Cheios de lágrimas. Assustados.
Olhei ao redor, procurando alguma maneira de me aproximar sem ser
notado sempre retornando para olhá-la. Para tentar, de alguma maneira, fazer
com que ela se sentisse segura.
Para que ela soubesse que eu estava ali, com ela, para qualquer coisa.
Aos poucos, enquanto Jimmy conversava com James tentando
convencê-lo a soltar a minha futura namorada, me aproximei aos poucos, pé
ante pé. Fazendo o mínimo de movimentos possível.
Jimmy deu um passo para a frente, tentando manter a atenção de
James nele. O desgraçado pressionou ainda mais uma coisa brilhante contra
seu corpo. Um canivete. Ele pressionava um canivete com força contra a pele
dela.
Minha respiração ficou irregular.
— Fica longe — James gritou, pressionando-a ainda mais contra a
lâmina afiada, fazendo meu coração retumbar no peito. — Fica longe. Eu vou
entrar no carro com ela. Você vai mandar seus homens saírem de perto e eu
vou embora.
— A melhor coisa que você tem a fazer é se entregar, James.
Ele balançou a cabeça negando.
— Não. Isso nunca. Eu não vou passar o resto da minha vida preso.
Eu não fiz nada. Sou inocente.
Ele moveu a mão um pouco, colocando o canivete mais à frente do
corpo da Leighton.
— Eu vou entrar com ela no carro e ninguém vai fazer nada. — Ele
deu um passo para o lado, forçando com que a Leighton o seguisse.
— James, calma — Jimmy pediu. Eu estava bem mais próximo, quase
podia pegá-lo. Ele não me via, porém eu o tinha quase em minhas mãos.
Entretanto, não arriscaria fazer nada que pudesse machucá-la. — Estamos
aqui para te ajudar. Se você fizer isso, só vai complicar ainda mais a sua
situação.
Ele soltou o ar pelo nariz em uma risada abafada.
— Abre a porta, Leighton — ordenou. Sem outra alternativa, ela fez
exatamente o que James havia pedido. — Vem. — Ele entrou pela cadeira de
passageiro pondo Leighton sobre seu corpo, sentada em sua perna. Eu não
podia ver a sua expressão, mas tinha certeza de que era algo como desespero.
O que me deixou ainda mais puto.
Observava cada movimento, atento, pensando em como poderia
arrancá-la de seus braços. Dei a volta no carro por trás que era grande o
bastante para que ele não pudesse me ver pelo retrovisor. Esperando que
assim que ele se acomodasse no automóvel para abrir sua porta puxando-o
para fora. O filho da puta trancou a sua porta, deixando-me sem alternativa.
Ouvi quando ele bateu a porta com força, trancando-os por dentro e
acionando o motor. Olhei para Jimmy desesperado por uma solução.
Leighton não podia ir com ele. Eu não podia deixá-la ir.
James pisou no acelerador passando por nós.
Atirar era arriscado, ele podia realmente machucá-la. Eu não sabia
viver em um mundo onde Leighton pudesse estar machucada.
Eu corri.
À medida que o carro ia se afastando.
Segui correndo até que meus pés cansassem.
Até que meus pulmões queimassem.
Corri vendo a maneira como Leighton mantinha o rosto virado para
trás, para mim. Os olhos inchados e vermelhos.
Eu queria trazê-la de volta.
E eu não a alcancei.
Parei, assim que eles saíram do meu alcance. Flexionei os joelhos,
pousando as mãos neles enquanto tentava pensar em algo. Qualquer coisa que
fosse útil.
Meus ouvidos zuniam e eu não ouvia mais nada, além disso.
Meu coração batia acelerado.
Com medo.
Com um medo que eu nunca havia sentido na vida.
Era diferente do medo de perder uma mãe.
Era como... era como se o mundo estivesse parando de girar, como se
as cores que ela havia me ensinado que ainda existiam tivessem sumido outra
vez. Era como se o futuro fosse inexistente.
Ali eu descobri que não era o Imbatível.
Era apenas um garoto que estava prestes a perder a razão que ele
ainda tinha para lutar. Para lutar por seu amor.
Mas eu era um Davis, e os Davis não desistiam.
— Andrew. — A voz de Malcon vinha de não tão distante.
Ergui o rosto apenas para vê-lo correndo com o seu próprio carro. A
porta do passageiro se abrindo enquanto diminuía a velocidade para que eu
pudesse entrar. Meus pés prontamente seguiram em sua direção e pulei para
dentro assim que estava perto o bastante fechando a porta em seguida.
Dois carros pretos enormes passaram por nós.
— Jimmy foi na frente, estão seguindo ele — Jackson falou do banco
de trás, aproximando-se de mim. — Vão encontrar a Leighton. Nós vamos
trazê-la de volta.
Assenti, olhando fixamente para a nossa frente enquanto seguíamos
os carros do FBI enquanto Malcon dirigia garantindo que nós
conseguiríamos. Olhei para o velocímetro pela primeira vez não pensando em
minha mãe ou no quão perigoso era que estivéssemos a uma velocidade tão
rápida.
Não havia tempo para aquela sensação de medo, de que algo ruim
pudesse acontecer. Para mim só o que importava era ela.
Mantê-la segura.
Malcon cortava os carros que estavam pela rua. Não eram muitos,
mas o bastante para que eu mantivesse o alerta de perigo. Não demorou
muito para que o carro de James aparecesse em nosso campo de vista. Era um
carro cinza, alto, e estava também em alta velocidade.
Eu podia jurar que conseguia sentir o olhar de Leighton em mim,
ainda que soubesse que era impossível. Malcon manteve a velocidade, e eu
seguia olhando fixamente para o carro que, assim como meu amigo, cortava
os carros no meio da pista arriscando-se a bater a qualquer momento.
— Ele precisa diminuir — Jackson falou, como se lesse meus
pensamentos.
Mas ele não diminuiu.
Nem nós.
Nem nenhum dos carros pretos que estavam conosco.
A pista ficava mais estreita para que passássemos por um túnel. Ele
tinha que diminuir, mas não o fez. Mau, sim.
Os caras do FBI sim.
— Malcon, nós vamos perdê-los — falei, olhando desesperadamente
para meu amigo.
— Nós vamos segui-lo, mas não assim. Não de forma imprudente. —
O tom de voz firme me fez soltar um gemido frustrado.
Ele estava certo.
Soltei o ar com força e no exato instante ouvimos um barulho.
Pneus.
Vidros quebrando.
Batida.
Capítulo 56

O silêncio dentro do carro foi ensurdecedor.


O mundo entrou em suspenso enquanto eu abria a porta antes mesmo
que Malcon tivesse parado por completo. Sentia que meus passos estavam em
câmera lenta e parecia que a gravidade me puxava de forma que eu demorava
o dobro do tempo para chegar até ela.
O carro havia batido na saída do túnel. Havia alguns pedaços de
concreto sobre o capô do carro. A frente estava bastante danificada. E meu
coração não cansava de doer.
Eu mal conseguia respirar.
A porta dela já estava aberta, alguém tinha o dedo em seu pescoço e
falou alguma coisa que eu não entendi. Meus olhos só focavam nela. O airbag
a manteve com o rosto encostado no banco de couro do carro. Os cachos
emaranhados jogados de qualquer forma em seu rosto.
Assustado, passei o indicador por sua pele tentando fazer com que a
maior parte de seu rosto bonito estivesse visível. Ela estava quente. Alguém
dizia alguma coisa atrás de mim, mas eu não entendia.
Minhas mãos tremiam.
Eu não podia perdê-la.
Segurei sua mão. Diferente do rosto, estava fria.
Eu não conseguiria perdê-la.
Tinha outras mãos sobre ela.
Eles tentavam encontrar pulso.
Eu não conseguia ouvir as palavras que saíam de suas bocas. Meu
indicador passeava por seu rosto em um carinho tentando fazê-la acordar.
Eu sabia que meus lábios estavam se movendo, mas não sabia o que
eu dizia. A única coisa que a minha mente processava, era que eu precisava
que ela acordasse. Que abrisse os olhos escuros para mim. Que sorrisse outra
vez.
Eu me senti novamente na sala da diretora ouvindo o que ela tinha a
dizer. Dessa vez não era Benjamin, mas Jackson quem estava comigo. E eu
tinha medo.
Medo de ouvir as mesmas palavras.
— Andrew — Jackson falou perto de mim, pondo a mão em meu
ombro. — Ela está bem. — Olhei para trás, para meu irmão. — Tem pulso.
Está tudo bem. Ela vai ficar bem. Uma ambulância já está a caminho. Eu
juro.
Assenti.
As palavras ainda sendo processadas em minha mente. Um peso
enorme saindo do meu peito.
Eu respirei pela primeira vez.
Ouvi um gemido.
Não era dela.
Vinha do outro lado do carro. Vinha dele.
Ele era culpado de tudo.
A preocupação começava a ser substituída por toda a raiva que meu
corpo era capaz de produzir. Eu podia sentir minha cabeça esquentando, meu
sangue fervendo, minhas mãos se fechando, e meus passos firmes dando a
volta no carro.
O airbag também havia funcionado mantendo-o em um bom estado de
conservação. Mas não por muito tempo. Por tempo nenhum na verdade.
Segurei no casaco verde da Walker que ele havia trocado com o outro
garoto, puxando-o para fora do carro e encostando-o na lateral do carro
ignorando os gemidos e reclamações.
Meu punho acertou em cheio seu maxilar e eu tinha certeza de que
ouvi o som de alguma coisa estalando. Era o primeiro soco e eu já estava
destruindo o filho da puta que soltou um gemido alto de dor.
O segundo soco foi em seu estômago fazendo com que ele arqueasse
seu corpo, justamente para deixá-lo sem ar. Empurrei seu ombro com minha
mão livre, mantendo-o de pé quando o terceiro chegou firme em seu rosto
outra vez.
Depois disso, eu parei de contar.
Um soco atrás do outro. Cada golpe com mais força. Com mais
intensidade. Com mais ódio.
Por ela.
Pelas crianças.
Por ele ter tornado o mundo um lugar pior para se viver.
Não demorou para que ele estivesse caído ao chão, mas eu ainda não
havia terminado. Sentei sobre aquela carcaça caindo aos pedaços que ele
chamava de corpo. Parecia meio inconsciente e o rosto manchado de
vermelho em todas as partes.
Boca, nariz, queixo, testa. Uma bagunça de sangue e saliva.
Mas eu ainda não estava satisfeito.
Gostava de ouvir a maneira como gemia implorando para que eu
parasse a cada soco. A cada vez que eu podia ouvir um novo osso sendo
quebrado.
— Ei — alguém chamou minha atenção, mas não me importei.
— Se ele tivesse feito o mesmo com a minha garota, também ia
querer ter esse direito — Jimmy falou para a pessoa que queria interromper
meu momento.
— E o que vamos dizer? — quis saber.
— Ele caiu da escada, houve um acidente de carro. Opções não
faltam.
Eu continuei.
Eu segui.
Soco atrás de soco.
Queixo. Nariz. Barriga. Maxilar.
Ele implorava para parar.
Eu arfava, cansado, mas disposto a dar mais.
A fazer aquilo, exatamente o que ele merecia.
— Andrew. — Eu conhecia aquela voz. Era a voz dela. — Andrew.
— De repente, Leighton estava lá, à minha frente, me olhando com os olhos
cheios de lágrimas. Assustada. — Andrew, por favor. Por favor, não.
Ela balançou a cabeça, negando. Pedindo para que eu parasse.
— Não faz isso. Você precisa parar. Precisa voltar para mim — falou.
Suas mãos, agora mais quentes, seguraram a lateral do meu rosto. — Eu
preciso de você aqui, comigo. Por favor — pediu.
Soltei o ar com força, jogando o que restava daquele filho da puta
para longe de mim.
— Leighton — murmurei. — Leighton — repeti, como se aquilo
fosse um sonho, puxando-a para mim. Trazendo seu corpo para perto
rodeando suas costas em um abraço cuidadoso para que não a machucasse,
mas firme o bastante para que eu sentisse que ela não escaparia outra vez. —
Eu tive tanto medo, tanto medo de te perder.
Ela riu, eu consegui ouvir aquela risada que melhoraria meus dias.
— Eu não — ela disse. — Eu tinha certeza de que me encontraria.
Você é o meu Imbatível, e ele nunca teve chance contra você, porque você
me ama. — Sua voz falhou um pouco. — Você me ama e iria até o inferno
por mim.
Anuí.
— Eu iria até além do inferno — confirmei, trazendo-a para mais
perto em um abraço.
Ela me soltou mais cedo do que eu imaginava.
— Sabe, eu sei um segredo seu — falou, esboçando um sorriso. —
Você vive fingindo por aí que não existe um coração nesse peito, e eu tenho
como provar o contrário. E se você aceitar me namorar, eu posso manter isso
entre nós dois. — Ela sorriu abertamente.
Afastei-me o suficiente para que pudesse ver seu rosto por completo.
— Tenho uma ideia melhor. Que tal se provar ao mundo que tem um
coração aqui dentro, e que ele pertence à garota mais linda e mais chantagista
que eu conheço, Afrodite?
Seus olhos se encheram de lágrimas e o sorriso em seu rosto
conseguiu crescer ainda mais. Eu acreditava que aquilo era impossível.
— Eu gosto mais da sua ideia, contanto que não haja nenhuma aposta.
— Ela semicerrou os olhos em minha direção.
— E se eu quiser apostar com você que eu te amo mais do que você
consiga imaginar?
Leighton mordeu o lábio fazendo uma careta como se quisesse pensar.
— Acho que essa é uma aposta que eu consigo suportar. — Ela
formou uma linha com os lábios. — Então, namorados?
— Só se for para a vida inteira, gata.
Meus lábios se encostaram nos seus com cuidado, e foi ali, em meio
aos agentes do FBI, aos carros de ambulância que estavam chegando, a maior
emoção que eu havia sentido em minha vida, que eu voltei a ser o namorado
da garota que eu amava.
E se eu era o Imbatível, o único motivo para que eu me sentisse assim
agora, era saber que a garota linda que tinha os lábios colados aos meus era
minha.
Minha garota.
Minha namorada.
Meu amor.
Minha Afrodite.
Epílogo – Leighton

— Ainda não acredito que tudo acabou — falei, me aconchegando ao


corpo quente do meu namorado. — Que eu posso sair na rua sem ter medo, e
o melhor, sem um guarda-costas irritado ao meu lado.
— Existe um erro nessa frase, o guarda-costas segue aqui disposto a
te proteger de qualquer coisa, Afrodite.
Sorri. Eu sabia que ele protegeria mesmo.
Já se haviam passado duas semanas e ele sempre reclamava sobre
isso. Muitas coisas mudaram nesses quinze dias. Menos Andrew. Ele
continuava me levando até as aulas, me buscando no dormitório e sendo meu
acompanhante no caminho para o trabalho/casa. Dessa vez, não por nenhum
tipo de obrigação, mas porque ele me amava, porque eu o amava, e porque
queríamos estar juntos.
James estava preso. Assim como seu pai, o reitor de Harvard e uma
inacreditável quantidade de pessoas que estavam envolvidas com a
pornografia infantil – em diversos países, diga-se de passagem.
O governo, depois do escândalo com a prisão de tantas pessoas
importantes, resolveu que criaria um sistema de computador que seria mais
eficaz em descobrir a prática da pornografia infantil. Fosse ela quem a
comercializava, fosse quem disponibilizava as imagens.
Eu me sentia mais leve, mais feliz. Como se o mundo estivesse
girando da forma certa agora.
O dia estava frio e meu namorado achava que eu precisava de uma
boa inserção no mundo dos carros e do crime. Nunca chegávamos ao final da
maratona – dos filmes – porque começávamos outra maratona sempre – de
sexo. Andrew dizia que nós precisávamos colocar em dia todo aquele tempo
que perdemos quando estávamos brigados.
Pelas suas contas, tínhamos mais umas sessenta sessões de sexo antes
de, finalmente, podermos recomeçar nossa vida sexual do zero.
Claro que não tem ninguém reclamando desse lado.
Eu gostava de poder me aproveitar do corpo do meu namorado
gostoso sempre que possível.
Senti o celular do Andrew vibrar na cama, ele fez uma careta ao pegá-
lo.
— O quê? — quis saber, virando-me de frente para ele.
— Minha irmã. — Outra careta. — Bom, agora o Malcon também.
Oly mandou algumas fotos de acomodação em Yale — Andrew suspirou.
Ainda não estava convencido de que a irmã devia ir. — Já Malcon está
avisando que vai ter treino do time amanhã cedo, e o capitão do time queria
me lembrar de que eu não posso transar com a minha namorada à noite
inteira como eu gostaria de fazer. — Deu um tapa em minha bunda, me
levando a beliscar seu braço.
— Fiquei tão feliz por você quando foi chamado para o time de
hóquei. — Bati o indicador em seu nariz, e ele segurou minha mão dando um
beijo em meu pulso, subindo para a ponta do indicador, do dedo médio,
anelar, mindinho, polegar e palma da minha mão.
Meu namorado agora fazia parte do time de hóquei da universidade.
Depois dos garotos do time terem ido diretamente – com alguns dos pais mais
influentes do país – fazer uma queixa formal ao reitor, a situação do antigo
técnico ficou difícil. Um novo técnico foi contratado e Malcon fez questão de
exigir que Andrew fosse levado ao time.
Claro que ele aceitou sem pensar duas vezes, mas recusou a posição
de capitão que seu melhor amigo queria lhe dar.
— Não sabia que você era uma Maria patins. — Ele passou a mão
por minhas costas, dessa fez fazendo o movimento de baixo para cima —
mas eu estou adorando ter uma namorada torcendo por mim durante os jogos.
— Não sou Maria patins. — Rolei os olhos.
— Não? — Andrew abriu um sorriso de quem sabia que eu estava
mentindo, porque ele estava certo. Eu meio que havia me tornado uma nos
últimos sete dias, quando ele começou os treinos para o jogo desse final de
semana.
— Humhum. — Neguei com um aceno de cabeça, roçando os lábios
nos dele bem de leve. — Sou Maria você.
As suas mãos foram parar em minha nuca apertando com firmeza do
jeito que eu gostava
— Acho bom mesmo, porque eu sou todo João você também. —
Rindo, aproximei meu rosto do seu alguns milímetros, até que estivessem
completamente colados e a sua língua em minha boca.
Arfei com o contato, nunca me cansaria disso.
De tê-lo para mim.
Sua mão, habilidosa demais, veio parar dentro da minha blusa.
Provocante.
— Sem sutiã — falou, soltando um gemido de aprovação.
— Achei que faria bem poupar nosso tempo. — Arqueei o corpo em
sua direção quando ele fez gestos circulares com o indicador pelo bico do
meu seio que entumeceu na mesma hora.
Sua mão livre passeou por minha cintura, apertando-a com força.
Arfei.
— Assim a gente não vai terminar esses filmes nunca.
— Não estou interessado em filme nesse momento. — Ele beijou o
lóbulo de minha orelha, descendo os lábios por toda a extensão do pescoço
que fazia cócegas ao mesmo tempo que me deixava excitada. — Tem um
monte de coisas que eu quero fazer com você.
Mordi seu lábio inferior puxando um pouco enquanto sentia suas
mãos descerem até a barra do short leve que eu vestia.
— Tem uma coisa que eu quero fazer — falei, empurrando seu ombro
de leve.
— Agora? — resmungou, tentando fazer com que a mão escorregasse
por dentro da minha roupa. — Agora mesmo?
— Sim. Mas eu aposto que você vai gostar disso depois — garanti,
mudando nossas posições e ficando por cima dele dando uma leve rebolada
sobre seu pau que endureceu imediatamente.
Rindo, me levantei, indo até uma de suas gavetas e escolhendo um
cinto. Andrew apertou os olhos em minha direção, como se não entendesse.
— Hoje vamos fazer diferente, lutador — falei, subindo na cama e me
aproximando lentamente dele. Seus olhos ficaram nublados de desejo
enquanto eu engatinhava em sua direção tentando ser o mais sexy que
conseguisse. — Hoje, quem estará no comando serei eu.
Andrew soltou um gemido quando sentei sobre seu pau outra vez,
prendendo suas mãos acima da cabeça e usando o cinto para mantê-las
afiveladas à cabeceira.
Movimentei meu corpo para a frente e para trás outra vez ouvindo o
gemido sôfrego saindo de seus lábios.
— Afrodite, o que você está fazendo? — ele perguntou, e eu vi seu
pomo de Adão subindo e descendo em expectativa.
— Lembra quando, meses atrás, você foi uma pessoa muito ruim me
deixando cheia de expectativa em uma boate? — O olhar ao mesmo tempo
cheio de expectativa e repleto de curiosidade. — Acho que é a minha vez de
te dar um revanche.
— Eu te fiz gozar — pontuou.
— Não disse que não faria você gozar, mas pode estar nos meus
planos te torturar um pouco. — Rebolei outra vez em sua virilha. A fricção
entre nossos corpos o fez soltar um gemido outra vez e tentar puxar as mãos
para me tocar. — Está bom assim? — quis saber, me sentindo um pouco
insegura ao tentar ousar. Não tinha certeza de que era boa naquilo.
Andrew assentiu fechando os olhos por um instante, como se
precisasse se conter. Eu ri, passando a mão por dentro de sua camisa sentindo
os músculos duros aperfeiçoados pelas lutas que ele ainda não poderia largar.
Apesar de agora, por causa do hóquei, e ser bolsista, ainda pagava as
despesas da casa onde Oly e o pai moravam e a maior parte das despesas da
sua casa atual com os garotos.
Baixei um pouco o corpo resvalando os lábios em seu queixo, a linha
do seu maxilar, o pescoço.
— Acho que tem muita roupa aqui — brinquei, continuando a passar
os dedos por sua pele quente. Eu podia sentir sua ereção aumentar e me
satisfiz com isso. — Abre os olhos, lutador. Você vai gostar muito do que
vem agora.
Ele fez o que eu pedi e as íris brilharam de satisfação e ao ver-me
ergueu os braços e arrancou a blusa, deixando meus seios à mostra. Andrew
passou a língua pelos lábios e eu amava o tanto que ele sentia prazer em me
chupar. Em chupar qualquer parte do meu corpo.
— Essa posição é incrível. — A voz estava rouca. — E se você se
aproximar mais um pouquinho, eu posso lamber esses peitos até você gozar.
Foi a minha vez de soltar o ar com força.
Reclinei um pouco o corpo em sua direção, jogando a cabeça para trás
quando sua língua circundou meus mamilos e ele mordiscou o bico do meu
peito. Andrew estava certo, ele podia mesmo me fazer gozar assim com
incrível facilidade.
Sentindo-me incrivelmente vazia, pressionei mais nossos corpos
sentindo meus olhos começarem a se revirar nas órbitas.
Meu corpo, institivamente começou a mover-se para a frente e para
trás, aflito, querendo ser preenchida por ele.
— Acho que essa é uma tortura para nós dois, Afrodite. Porque se
minhas mãos não estivessem presas, eu estaria fodendo você com meus dedos
até te levar bem perto de gozar. Depois, te faria gozar em minha boca e
chuparia cada gota sua.
As palavras incendiaram ainda mais o meu corpo.
— Sabe de uma coisa? — continuou, com o hálito quente tocando a
pele já sensível do meu seio esquerdo que estava perto demais do seu rosto.
— Senta na minha cara e rebola pra mim, porque eu quero muito sentir seu
gosto, Leighton.
De imediato, meu ímpeto seria fazer exatamente o que ele me pedia.
Eu queria sentar em sua cara. Queria sentia sua língua em minha boceta,
queria que ele me fizesse sentir todas aquelas coisas que só ele era capaz.
— Eu vou fazer isso, lutador, pode ter certeza, mas tenho os meus
próprios planos para você agora. — Passei a língua por meus lábios, correndo
meus dedos por sua cintura até encontrar a barra da calça de moletom que ele
vestia.
Foi a sua vez de arquear o corpo quando minha mão envolveu o pau
pulsante entre meus dedos. Andrew já estava duro. Muito duro. Mas eu ainda
conseguia senti-lo ficando ainda mais excitado.
Ele soltou um gemido alto quando fiz o movimento de cima para
baixo, soltando um palavrão.
Ergui um pouco meu corpo, descendo a calça cinza até libertar seu
pau da cueca que o prendia. Eu também amava o seu pau. Era grande, bonito
e tinha muitas veias que o deixavam ainda mais atraente.
Baixei a cabeça lentamente, com meus olhos fixos em Andrew. A
expectativa. O desejo. Ele queria aquilo. Muito. Sorri, pincelando a língua
pela sua cabeça. Andrew puxou o braço tentando libertar-se, porém não
conseguiu. Eu sorri, de lado, passando a língua por toda a extensão, da base
até a cabeça outra vez.
Outro palavrão. Um daqueles que indicava o quanto estava gostando.
Beijei o seu saco, passando a língua em seguida. Andrew arqueou o corpo
quase implorando para que eu enfiasse logo o pau em minha boca.
— Vai me fazer implorar? — ele perguntou com a voz mais grossa,
cheia de tesão.
— Ah, com certeza. — Dei um sorriso de lado. — Só vou fazer se
você...
— Me chupa. — interrompeu desesperado. — Me chupa, caralho, por
favor.
Sorri, sentindo-me vitoriosa.
Também incapaz de aguentar por mais tempo, enfiei o seu pau em
minha boca com gosto.
Andrew arfou assim que o pau entrou em contato com a minha boca,
arqueando o corpo para cima, como se implorasse para que eu continuasse
enfiando-o em minha boca.
— Puta que pariu, isso é bom demais. E é um pecado que eu não
possa enfiar a mão em seu cabelo para poder te ajudar com isso. —
Reclamou.
A maneira como erguia o corpo a meu encontro, como parecia
estremecer em alguns momentos. A maneira como gemia enquanto eu o
chupava, lambia toda a extensão. Ele movia o quadril de maneira ritmada.
Soltava suspiros ofegantes. E eu tinha certeza de que ele estava perto.
Como que para comprovar o que eu estava pensando ele me chamou.
— Leighton. — Arfou, em um chamado desesperado. — Preciso que
você pare agora, porque eu não consigo mais...
Eu sabia o que aconteceria. Ele explodiria em minha boca.
Andrew gostava tanto do meu gosto, de me fazer gozar em sua boca.
Com certeza eu queria dar-lhe o mesmo prazer. E eu gostava de ter aquele
pau pulsante e quente em minha boca.
Era uma coisa boa.
— Leighton — chamou outra vez, agora tentando ele mesmo tirar o
pau da minha boca.
Pressionei minhas mãos em sua bunda mantendo o pau em meus
lábios.
— Leigh...
Andrew não conseguiu completar, porque no instante seguinte senti o
jato quente invadindo-me. Eu o engoli. Completamente. Sugando todo o seu
pau enquanto o tirava da minha boca.
Passei a língua pelos lábios saboreando cada gota que havia saído
dele.
Andrew tentava ajustar a respiração com os olhos fixos em mim
cheios de tesão. Levou alguns segundos até que ele fosse capaz de formar
uma frase outra vez.
— Porra, Afrodite. Isso foi perfeito. — Sorri, feliz com o elogio. —
Sua boca é, porra, a melhor coisa do mundo. Agora, dá pra você soltar
minhas mãos? Eu tenho uma infinidade de ideias para te dar prazer.
Eu sorri.
Jamais lhe negaria isso.
Nem a mim mesma.
Subi em seu corpo outra vez, deixando o bico do meu peito
resvalando seu nariz. Andrew movimentou o rosto passando a língua por meu
seio enquanto eu retirava, aos poucos, o cinto que aprisionava suas mãos.
Meio segundo depois, ele já tinha invertido nossas posições, partindo
para cima de mim e eu sabia que a nossa noite estava apenas começando.
Epílogo – Andrew

— Eu achei que você estava com pressa para me fazer gozar —


Leighton falou, enquanto eu passava o indicador com calma pela lateral de
seu corpo.
— Estou — respondi, colando nossos lábios em um beijo urgente. —
Mas também estou com vontade de provar cada pedaço de você outra vez.
Murmurei, pressionando o rosto contra a curva do seu pescoço. Meu
pau estava pronto para outra. Nem parecia que havia gozado vinte segundos
atrás. Leighton me deixava maluco.
Tudo nela me deixava maluco.
Porra, ela simplesmente me fascinava de um jeito inacreditável.
— A gente tem a noite inteira pra testar várias coisas, mas que tal se
você se apressar um pouco? Assim vamos poder fazer isso mais algumas
vezes antes que você tenha que se preparar para o treino — Leighton mordeu
meu queixo, descendo as mãos para meu pau outra vez.
— Sabe de uma, você está certa — falei, segurando seu queixo entre
meus dedos. — Essa noite você é toda minha, e eu vou me aproveitar de você
de todas as maneiras possíveis. E agora, eu vou comer você de quatro. Então
levanta essa bunda pra mim, porque eu vou enfiar meu pau com força na sua
boceta, Leighton, até que esteja implorando por mais.
— Eu posso pedir, mas aqui é só você quem implora, lutador — ela
respondeu.
— Imploro mesmo, pra você me chupar eu posso implorar a cada
segundo do meu dia, deusa do amor. — Dei um tapa em sua bunda. — Vem
cá e monta em mim, quero ver você gozando enquanto eu te como.
Apesar de ter dito que não implorava, a maneira rápida como ela fez o
que pedi me levou a rir, fazendo com que ficasse claro que Leighton estava
tão ansiosa por isso quanto eu.
Deitei-me na cama, segurando meu pau pela base começando a fazer
movimentos de vai e vem lentamente enquanto Leighton passava as pernas
por minha pelve, a boceta na direção exata do meu pau.
Ela desceu o corpo aos poucos, soltando um gemido quando a cabeça
do meu pau tocou a entrada da boceta. Ela parou e eu arqueei o quadril
querendo aumentar o contato dos nossos corpos.
Leighton não permitiu.
— Acha que é uma boa hora para implorar, ou quer esperar um pouco
mais? — brincou com o olhar brincando em divertimento.
— Senta logo, Leighton. Meu pau já está babando por você e não vejo
a hora de sentir você cavalgando e rebolando gostoso antes de gozar pra mim.
Ela mordeu o lábio, e em uma tentativa de ajudá-la a ser uma boa
menina, pus as mãos em sua cintura com força, ajudando-a a descer o corpo
sobre o meu aos poucos.
Gemi à medida em que eu a preenchia.
Leighton apoiou as mãos espalmadas em meu tórax fechando os olhos
com força, como se aquilo fosse demais. Quando eu entrei por completo em
sua boceta, ela arfou ficando parada por algum tempo. Aproveitei o momento
para erguer minha mão até sua nuca, trazendo seu corpo para mais perto e só
parando quando seus seios estavam perto o bastante de minha boca.
Mordisquei o bico esquerdo, lambi o direito passando a língua pela
ponta do bico pequeno, enfiando-o por completo em minha boca em seguida.
Leighton gemia em resposta e à medida em que seus gemidos se
intensificaram eu sabia que ela estava gostando mais.
Aos poucos, ainda mantendo meus lábios ocupados em seus seios,
comecei a ajudá-la a se mover ainda usando as mãos que estavam presas à
sua cintura. Ela começou a movimentar o corpo para a frente e para trás
dando reboladas que me faziam arfar, preso por completo nas sensações.
Leighton não precisou de ajuda por muito tempo. Os movimentos que
fazia com o corpo começaram de forma instintiva, ela passou a subir e descer
sobre mim, alternando a cavalgada tímida com reboladas longas e lentas.
Nossos gemidos se misturavam e o som do choque entre nossos
corpos era como a porra da melhor música do mundo.
Era engraçado como meses atrás eu tentei boicotar esse
relacionamento e hoje eu mal podia me imaginar com qualquer outra garota.
Era a Leighton que eu queria, sempre.
Usei o polegar para estimular o clitóris, o que pareceu agradá-la ainda
mais. Eu amava a maneira como ela respondia aos meus toques. Aos meus
estímulos. Eu amava como meu corpo respondia a qualquer movimento que
ela realizasse.
O suor fazia com que sua testa brilhasse. Ela apoiou as mãos em meus
joelhos, inclinando um pouco o corpo, soltando um gemido mais alto como
se tivesse encontrado a maneira perfeita da engolir ainda mais meu pau. E
havia mesmo. Eu conseguia sentir cada centímetro meu dentro dela.
Leighton passou a se esfregar contra mim também, gemendo mais
alto.
Subi as mãos pela lateral do seu corpo, apertando os seios e ouvindo-a
arfar com o contato. Minhas mãos subiram mais um pouco até seu pescoço,
apertei um pouco e, como se fosse o estímulo necessário, Leighton começou
a intensificar os movimentos.
E, caralho, eu podia sentir meu pau começar a se retesar. Conseguia
sentir sua boceta se contraindo e me apertando cada vez mais.
— Eu adoro como sua boceta está sempre parecendo gulosa quando o
assunto é meu pau — falei, puxando-a para perto do meu rosto.
— E eu adoro quando você me fode com força. — Leighton mordeu
meu lábio inferior.
Ri, colando nossos lábios rapidamente.
— Você nem parece a garota puritana que não podia me ouvir falar
sobre comer alguém. E eu gosto muito mais dessa aqui. — Subi minha mão
até sua nuca apertando-a. — Essa boca suja e disposição a fazer qualquer
coisa depravada entre quatro paredes, faz com que a minha imaginação viaje
muito.
— Só para constar — falou, puxando meu cabelo no topo da minha
cabeça. — Você ainda não pode falar sobre comer outras garotas. — Ela
ergueu o lado esquerdo do lábio. — A única pessoa que você vai comer,
lutador, sou eu.
— Quanto a isso, não existem dúvidas — respondi, mudando a
posição dos nossos corpos, iniciando um beijo cheio de paixão enquanto
investia com força contra ela.
Ela estava perto. Eu podia sentir. Suas pernas circundavam a minha
cintura enquanto eu ia mais fundo nela. Os sussurros e gemidos que ela
soltava misturavam-se aos meus.
Sentia minha coxa retesar.
Eu estava perto.
— Leighton — chamei.
— Eu sei.
Não foi preciso dizer mais nada.
Nós gozamos juntos e por alguns segundos eu não conseguia pensar
em mais nada.
Eu estava feliz.
A vida era boa.
— Você é o pior namorado de mentira do mundo — Leighton falou.
— Nem acredito que você se apaixonou de verdade.
— Foi você quem escolheu o pior namorado de mentira do mundo —
devolvi, dando um beliscão em sua cintura.
Ela deu de ombros.
— Sou visionária. Sabia que no fim, você se tornaria alguém que
valeria a pena ter por perto. — Ri, puxando-a para cima de mim.
— É bom saber que esse é um contrato vitalício. Está presa a mim
agora.
— Não estou aqui reclamando — ela disse um segundo antes de me
beijar e então eu já estava pronto para ela outra vez.
Porque aquela garota era capaz de tudo, até derreter o meu coração.
Até levar à lona o Imbatível.
Por ela, eu iria até o final do mundo.
Se chegou até aqui, eu só tenho a agradecer!
Obrigada, obrigada e obrigada!
Espero, de todo o meu coração, que tenha gostado das aventuras de Andrew e
Leighton!
Posso te pedir só mais um favor?
Por favorzinho, deixa sua avaliação na Amazon? Você não sabe o quanto isso
é importante para nós, autores. O Feedback de vocês nos ajuda a melhorar a cada dia
mais.
Ah, e eu tenho outras obras por aqui!
Se gostou dessa história, que tal conhecer as demais?
Espero que possamos nos encontrar muitas outras vezes, amore!
E não deixa de me mandar uma mensagem me contando o que achou da
história. Vou adorar te ouvir.

Beijos,
Ray!
[1] Gíria derivada de Beautiful (lindo/linda), entretanto, geralmente utilizada
de forma mais amorosa.
[2] Universidade fictícia. Seu sobrenome, entretanto, vem de uma pessoa real,
Madame Walker.
[3] Pessoa que estuda ou conhece muitas ciências.
[4] Corredor do time.
[5] Jogador mais importante do time e responsável por, junto com o técnico,
dirigir a equipe.
[6] S ão os jogadores que jogam pelas laterais do rinque e são extremamente
ofensivos. Assim como o resto do time, ajudam o time defensivamente, mas quando
estão com a posse do disco, jogam na zona de ataque, em busca dos gols. A sua
função principal é fazer gols.

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