Com vista à exposição anterior, acerca do conceito de documento e da existência dos
títulos de crédito no domínio virtual, é notória a relação entre o referido tópico e a matéria da cartularidade para a conformação do objeto dos títulos de crédito em meios digitais. Nessa ambiência, umas das preocupações apresentadas pelo autor tem como foco o fato de que, os documentos digitais, ainda que aceitos no mundo jurídico, possuem certos pontos frágeis que poderiam facilmente ser abordados em situações de ação de má-fé, ou seja, mesmo que preferíveis em questão de praticidade, os títulos cambiários representados por meio virtual estariam suscetíveis a questionamentos no que tange a segurança jurídica do título. A partir disso, entra em pauta o princípio da cartularidade, instrumento essencial à comprovação do direito de crédito e facilitador a circulabilidade dos títulos de crédito de modo seguro. Ademais, a cartularidade alia-se ao princípio da literalidade, posto que, é neste instrumento que deverá ser indicada a obrigação a ser adimplida, a direito do titular. Igualmente, bem como afirmou o autor no tópico 1.2.1 (Cartularidade), a representação do título cambiário, mediante a figura da cártula, é exercida desde as primícias do estabelecimento da utilização de títulos de crédito. Por conseguinte, é associada à caracterização da cártula como objeto documental disposto em papel e não sob a perspectiva de que mesmo em meio virtual, a cártula não perderá sua função e respeitará os requisitos, a exemplo da descrição da obrigação creditícia, item oriundo do princípio da literalidade. Tendo em vista a possibilidade de que essas preocupações se configurassem como impasses, no que tange a apresentação da cártula, vê-se, segundo o autor, que há, no próprio Código Civil de 20002, normatização relativa a requisitos necessários a emissão de título de crédito a partir de meio virtual, desde que em observância aos requisitos exigidos em Lei. Dessa maneira, é evidente a tentativa legal de garantia de que somente aquele que tem direito ao título cambiário possa apresentá-lo digitalmente, já que estará preenchido nominalmente, assinalando a pertença ao devido portador (art. 889, § 3º, do CC 2002). Além disso, este também deve estar "protegido", em caso de endosso, pela emissão de termo devidamente escriturado. Por fim, importa notar que neste trecho o texto trata de termos fundamentais a temática dos títulos de crédito como, os princípios da cartularidade; da literalidade, da característica da circulabilidade, da figura do endosso, além de sugerir a constituição de institutos de registro e suporte aos títulos cambiários emitidos digitalmente, oportunizando a facilitação do uso destes e maior segurança jurídica.
A (in) admissibilidade da Reclamação para a aplicação de teses de recursos repetitivos: uma análise do julgamento da Reclamação nº 36.476 do Superior Tribunal de Justiça