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NASCIMENTO, A. C. A. Os antecedentes históricos do diagnóstico psicológico. 2018. 3 f.

Apostila da
disciplina Fundamentos dos Processos Diagnósticos, Departamento de Psicologia, Universidade de Taubaté – 1
São Paulo, 2018. Apostila confeccionada para fins didáticos da disciplina.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO DIAGNÓSTICO PSICOLÓGICO

- A prática da avaliação psicológica, e consequentemente do diagnóstico e psicodiagnóstico,


inicia-se no final do século XIX e início do século XX, a partir do interesse de diferentes
categorias profissionais em avaliar demandas sociais específicas com as quais se
confrontavam:

Medicina: estudos psicopatológicos das desordens mentais, estabelecendo critérios uniformes


para identificar e classificar as pessoas “doentes mentais” e “deficientes mentais”.

Educadores: seleção de alunos através de testes para medir a capacidade intelectual (graus
de deficiência mental);

Engenheiros e Administradores: seleção de candidatos e orientação profissional.

- Na busca de responder a tais demandas, os testes psicológicos possuíram um papel de


destaque, visto terem sido fundamentados segundo padrões de cientificidade da época:
precisão, generalização e quantificação (Positivismo).

O homem nesse momento era compreendido como uma soma de características ou fatores
passíveis de mensuração. A ênfase na quantificação embasa o surgimento dos testes
psicométricos.

O diagnóstico psicológico é, neste momento inicial, puramente classificatório, apoiando-se


basicamente nos resultados dos testes.

O modelo psicométrico com sua a ênfase na postura positivista ajudou a demarcar como
atividade exclusiva do psicólogo a utilização e análise do material coletado pelos testes

▪ Esquirol (1838): buscou delimitar graus de retardo mental, desenvolvendo um sistema


de classificação linguístico para essa finalidade.
▪ Francis Galton (1884): propunha-se a mensurar a acuidade visual, tempo de reação e a
capacidade de discriminação tátil como meio de avaliação do intelecto.
▪ James Cattel (1890): a expressão “teste mental” é pela primeira vez utilizada, referindo-
se a testes para determinar o nível intelectual de estudantes universitários.
▪ Kraepelin (1895): devido ao interesse no exame de pacientes psiquiátricos criou testes
para medir o que considerava traços básicos do indivíduo: memória, fadiga e habilidade
NASCIMENTO, A. C. A. Os antecedentes históricos do diagnóstico psicológico. 2018. 3 f. Apostila da
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São Paulo, 2018. Apostila confeccionada para fins didáticos da disciplina.

de aprendizagem, constituindo-se um marco para a inclusão de procedimentos


psicológicos no estudo da psicopatologia.
▪ Alfred Binet e Henri Simon (1904): criaram provas que permitiram maior objetividade e
exatidão para identificar crianças com baixo nível mental de modo a submetê-las a
métodos pedagógicos especiais.

A evolução do pensamento psicológico promoveu, entretanto, modificações no diagnóstico


psicológico:

(a) Em relação às linhas teóricas, a Psicologia Fenomenológica-existencial, o Humanismo e a


Psicanálise: a objetividade e a quantificação cedem lugar a SUBJETIVIDADE. Surge nova
modalidade de testes: os testes projetivos;

(b) Os testes psicológicos perdem sua supremacia. Outros recursos passam a ser utilizados
como meio de coleta de dados: a observação, a entrevista e o próprio relacionamento
terapêutico.

(d) O diagnóstico afasta-se de seus objetivos puramente classificatórios;

(e) O diagnóstico perde status enquanto prática psicológica. A psicoterapia, ao contrário,


torna-se supervalorizada, absorvendo a fase diagnóstica.

(f) Décadas de 50 a 70: crise no diagnóstico psicológico. Antagonismo dos fundamentos


quantitativos e subjetivos.

(g) Décadas de 80 a 2000: a compreensão voltada a visão social e histórica do indivíduo


mobiliza uma perspectiva psicossocial no diagnóstico psicológico realizado em vários
contextos.

Todas estas transformações contribuíram para o modelo de diagnóstico psicológico aplicado


na atualidade.
A partir desse histórico, torna-se possível identificar as principais contribuições do diagnóstico
para a prática psicológica:

1- O histórico demonstra a aplicabilidade do diagnóstico em variados contextos e demandas;


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São Paulo, 2018. Apostila confeccionada para fins didáticos da disciplina.

2- O histórico demonstra a importância de um diagnóstico científico e fidedigno voltado à


observação cuidadosa e objetiva do comportamento;

3- A prática diagnóstica propicia a organização de instrumentos de coleta de dados voltados à


mensuração objetiva e quantificável, com vistas à generalização dos conhecimentos obtidos
nas populações (testes psicométricos);

Instala a importância de aprofundar o estudo do comportamento humano a partir do


conhecimento da subjetividade do sujeito relacionado aos aspectos latentes da personalidade
e a maneira particular do indivíduo perceber sua própria história;

5- Para investigação dos aspectos subjetivos, novos instrumentos são criados ou passam a
ser valorizados:

- A entrevista psicológica e um aspecto intrínseco a ela: a Relação Terapêutica


psicólogo-cliente;

- Os testes projetivos de personalidade;

6- As investigações das variáveis socioculturais e históricas passaram a ser valorizadas por


serem reconhecidas como aspectos que influenciam a constituição do indivíduo.

REFERÊNCIAS

CUNHA, J. Psicodiagnóstico-V. 5.ed. Revisada e Ampliada. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

NASCIMENTO, A. C. A. Psicodiagnóstico: a busca de novas abordagens e a maneira com cem


sendo desenvolvida pelos psicólogos do Vale do Paraíba-SP. 204 p. Dissertação de Mestrado,
UNICAMP, Campinas, 1998.

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