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Lindos Casos de Bezerra de Menezes, de Ramiro Gama

Caso 1) Quando Bezerra era ainda presidente de uma companhia de carris, deixava certo dia os
escritórios da mesma, na Rua Sete de Setembro. Seis horas da tarde; como dirigente
escrupuloso, era sempre o último a sair, após assistir ao fechamento das portas do escritório.
Dispunha-se a descer a via pública, rumo ao largo de São Francisco de Paula, onde iria tomar o
bonde para a Tijuca.
Já na calçada, Bezerra encontrou um velho conhecido, que o abordou nervoso e trêmulo. - Que é
isso meu caro? Que sucedeu? O homenzinho, com a fisionomia transtornada e angustiosa,
contou que acabara de perder o filho e que, desempregado e desprovido de recursos, vinha
precisamente para falar ao velho amigo.
Bezerra não pediu mais explicações. Chamou-o para o desvão de uma porta, enfiou a larga
mão ossuda na algibeira da calça e sacou da carteira. Toma, meu "velho". Leva, leva isto. É
tudo o que eu tenho no momento. Espera; ainda há mais! E vasculhou os bolsos do colete
de onde retirou alguns níqueis. O infeliz relutou. Mas Bezerra meteu-lhe a carteira e as
moedas no bolso do casaco e, sem mais conversas, ganhou a rua. Com lágrimas nos olhos
o amigo se despediu.
Quanto havia na carteira? Nem mesmo Bezerra o sabia; nem lhe importava saber. Desceu a
Rua Sete de setembro e chegou ao largo. Já instalado no bonde, com o jornal aberto sobre os
joelhos, meteu os dedos nos bolsos do colete e só então se lembrou de que lá não existia uma
moeda sequer! Calmamente saltou e se dirigiu a uma casa conhecida, onde foi pedir, pelo menos,
os trezentos réis da passagem...
Atos Capítulo 3: 1 a 9
1. 1 E Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona.
2. 2 E era trazido um homem que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual todos os dias
punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam.
3. 3 O qual, vendo a Pedro e a João que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma
esmola.
4. 4 E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós.
5. 5 E olhou para eles, esperando receber deles alguma coisa.
6. 6 E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de
Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda.
7. 7 E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram.
8. 8 E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e
saltando, e louvando a Deus.
9. 9 E todo o povo o viu andar e louvar a Deus;
Caso 2) Encerrada a sessão daquela terça-feira, no centro espírita da FEB, Bezerra de Menezes
saiu, sendo na rua abordado por um homem, cabelos em desalinho, cansado e aflito, a dizer-lhe:
– Dr. Bezerra, estou sem emprego, com a mulher e dois filhos doentes e famintos. E eu mesmo,
como vê, estou sem alimento e febril...
Bezerra, apiedado, verificou se tinha algum dinheiro para dar. Mas não encontrou nada,
além da passagem do bonde. Levantou então os olhos em prece silenciosa, pedindo
inspiração à Maria.
Depois, virando-se para o irmão, disse comovido:
– Meu filho, você tem fé em Nossa Senhora? a Mãe do Divino Mestre Jesus?
- Tenho, sim, e muita, Dr. Bezerra!
– Pois então, meu filho, em nome da Virgem Santa, receba este abraço.
E abraçou o desesperado irmão, envolvente e demoradamente.
E, despedindo-se dele, disse o Dr. Bezerra: - Vá, meu filho, na Paz de Jesus e sob a proteção
de Maria, Mãe de Deus. E, ao chegar em casa, faça o mesmo com seus familiares,
abraçando-os e afagando-os com ternura. E confie n’Ela, sim, no Amor de Maria, que seu
caso será resolvido.
Passaram-se alguns dias. Uma semana depois, naquele mesmo local, Bezerra foi novamente
abordado por aquele infeliz. Agora, porém, de fisionomia alegre, que lhe disse comovido:
– Venho agradecer-lhe, Dr. Bezerra, aquele abraço milagroso que o senhor me deu. Em casa,
cumpri o seu pedido: abracei minha mulher e meus filhos. Oramos todos à Nossa Senhora, a Mãe
do Céu , e, no dia seguinte, estávamos todos sem febre. A água que bebemos parecia conter
alimento, pois dormimos todos muito bem. E por inspiração da Virgem Santa, guiei-me a uma
porta que estava aberta e entrei. Tenho hoje o meu emprego e estou trabalhando. Agradeço-lhe,
dr. Bezerra, a grande dádiva que recebi do senhor, naquele abraço fraterno que me deu...

PARTE TERCEIRA - Das leis morais - CAPÍTULO XII - DA PERFEIÇÃO MORAL


893. Qual a mais meritória de todas as virtudes?
1. “Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem.
2. Há virtudes sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores.
3. A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do
próximo, sem pensamento oculto.
4. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.”

895. Postos de lado os defeitos e os vícios acerca dos quais ninguém se pode equivocar, qual o
sinal mais característico da imperfeição?
1. “O interesse pessoal.
2. [...] O verdadeiro desinteresse é coisa ainda tão rara na Terra que, quando se patenteia todos
o admiram como se fora um fenômeno.
3. “O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se
aferrar aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino.
4. Pelo desinteresse, ao contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro.”
(11. Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade?
“Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se
houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá.”)

899. Qual o mais culpado de dois homens ricos que empregam exclusivamente em gozos
pessoais suas riquezas, tendo um nascido na opulência e desconhecido sempre a necessidade,
devendo o outro ao seu trabalho os bens que possui?
“Aquele que conheceu os sofrimentos, porque sabe o que é sofrer. A dor, a que nenhum alívio
procura dar, ele a conhece; porém, como frequentemente sucede, já dela se não lembra.”

906. Será passível de censura o homem, por ter consciência do bem que faz e por confessá-lo a
si mesmo?
1. “Pois que pode ter consciência do mal que pratica, do bem igualmente deve tê-la, a fim de
saber se andou bem ou mal.
2. Pesando todos os seus atos na balança da lei de Deus e, sobretudo, na lei de justiça, amor e
caridade, é que poderá dizer a si mesmo se suas obras são boas ou más, que as poderá
aprovar ou desaprovar.
3. Não se lhe pode, portanto, censurar que reconheça haver triunfado dos maus pendores e que
se sinta satisfeito, desde que de tal não se envaideça, porque então cairia noutra falta.”

908. Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem
más?
1. [...] As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução
dos desígnios da Providência.
2. Mas, se, em vez de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o homem nos excessos e a própria
força que, manejada pelas suas mãos, poderia produzir o bem, contra ele se volta e o esmaga.
3. Todas as paixões têm seu princípio num sentimento, ou numa necessidade natural.
4. O princípio das paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições
providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma
necessidade ou de um sentimento.
5. Está no excesso e não na causa e este excesso se torna um mal, quando tem como
consequência um mal qualquer.
6. Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza espiritual.
7. Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal denota predominância do
espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição.

909. Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?
“Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes.
O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem esforços!”

910. Pode o homem achar nos Espíritos eficaz assistência para triunfar de suas paixões?
“Se o pedir a Deus e ao seu bom gênio, com sinceridade, os bons Espíritos lhe virão certamente
em auxílio, porquanto é essa a missão deles.”

913. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical?


“Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que
no fundo de todos há egoísmo.
Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu
coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e
a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.”

914. Fundando-se o egoísmo no sentimento do interesse pessoal, bem difícil parece extirpá-lo
inteiramente do coração humano. Chegar-se-á a consegui-lo?
“À medida que os homens se instruem acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas
materiais. Depois, necessário é que se reformem as instituições humanas que o entretêm e
excitam. Isso depende da educação.”

917. Qual o meio de destruir-se o egoísmo?


1. “De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque
deriva da influência da matéria,
2. influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde libertar-se
3. e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua organização social, sua educação.
4. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominante sobre a vida
material
5. e, sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro,
real e não desfigurado por ficções alegóricas.

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