Você está na página 1de 3

UMA ABORDAGEM REFLEXIVA DO DOCUMENTÁRIO “FREUD ANÁLISE

DE UMA MENTE”

Thalles Azevedo Ladeira – Módulo III

O documentário “Freud análise de uma mente”, de 1995, aborda vários aspectos


importantes da vida de Sigmund Freud, como por exemplo, especificidades de sua
infancia; a escolha da sua profissão como médico formado pela Universidade de Viena;
dentre uma série de outras particularidades, que nos aproxima da vida pessoal de Freud e,
sobretudo de seu processo de desenvolvimento da psicanálise, enquanto método
epistemológico e científico.
Em certo modo, o documentário trouxe algumas curiosidades da vida de Freud que
dificilmente são divulgadas nos espaços acadêmicos e congressos de psicanálise, a saber:
a sua relação com a cocaína; seu vício por fumar charutos, que inclusive, desencadeou em
Freud, em certo momento de sua vida, um câncer na boca; sua longa abstinência sexual e a
quebra de protocolos psicanalíticos com a análise indireta realizada por Freud de sua
própria filha e também psicanalista Anna Freud.
A respeito do último aspecto apontado, cabe trazer um trecho do livro
“Fundamentos Psicanalíticos” de Zimernan, em seu capítulo 26, em que ele destaca o
seguinte:
É sabido que Freud algumas vezes analisava durante uma caminhada com
algum paciente, outras vezes ele charlava amenidades, trocava presentes,
aconselhava, admoestava, de forma indireta forçava os pacientes a trazerem
associações que confirmassem suas teses prévias. Isso, sem levar em conta o
fato de ele ter “analisado” o pequeno Hans, pelo método de usar o pai do
menino como “porta-voz” de suas interpretações. (ZIMERNAN, 2007, p. 298-
299).

Talvez tenha sido esse, um dos pontos do documentário que mais me chamou
atenção, essa exposição de um Freud real, humano, que erra, que se contradiz e que se
aproxima das vulnerabilidades humanas.
Outro aspecto que me chamou a atenção e que cabe destacar aqui é o interesse que
Freud tinha pela interpretação de sonhos desde a sua infância, pois, mesmo ainda criança,
fazia anotações de seus sonhos em um caderno pessoal e como já sabemos, esse interesse
levou Freud a desenvolver uma epistemologia de interpretação dos sonhos dentro da
psicanálise, que pode ser acessada por meio de sua obra: A interpretação dos sonhos.
Além disso, outro ponto que me chamou bastante atenção é o fato de aos 12 anos
de idade, ele já falar seis linguas diferentes, nos revelando seu comprometimento desde
muito cedo com o conhecimento e seu condicionamento para a obtenção do mesmo.
Todas essas curiosidades da vida de Freud nos aproximam de sua trajetória pessoal
e da construção de sua carreira enquanto exímio pesquisador e intelectual que foi. Nesse
sentido, um dos pontos mais notáveis do documentário para mim, foi à participação de
diversos especialistas sobre a vida e obra de Freud, para comentar a respeito do mesmo,
como por exemplo: o psicólogo e historiador Joe Aguayo; o diretor executivo dos
arquivos de Freud, Dr. Harold P. Blum; o psicanalista Dr. Léo Rangell e os importantes
depoimentos dos próprios netos de Freud, Walter e Sophie Freud.
Um ponto importante a se pensar, que me sobreveio enquanto eu assitia ao
documentário, é a respeito de como a psicanálise passou por transformações ao longo da
História, e até mesmo o perfil de pacientes que procuram a psicanálise se expandiu e se
modificou.
Se no período de seu desenvolvimento, a psicanálise atendia majoritariamente a
necessidade das mulheres que sofriam de histeria, por meio de uma série de métodos, que
iam desde a hipnose, no qual Freud aplicou por um tempo, mas não obteve êxito,
desevolvendo, a partir de então, a cura pela fala, por meio do qual verificou-se a
possibilidade de análise e interpretação do incosciente; nos dias atuais, a demanda de
pacientes com histeria foi subtituída por questões do nosso tempo, como uma infinidade
de doenças psicossomáticas, que nos revelam que a psicanálise não almeja ser uma ciência
cristalizada e absoluta, mas em constante trasnformação e em profunda relação com as
demandas contemporâneas a ela.
Isso fica claro na obra de Zimernan (2007), ao apontar:

O perfil emocional e situacional do paciente que procura análise é bem


diferente daqueles dos primeiros tempos, as condições sociológicas e
econômicas também são completamente diferentes, os conhecimentos
teóricotécnico dos psicanalistas se ampliaram em extensão e profundidade, os
objetivos a serem alcançados também sofreram profundas modificações, as
análises são mais longas e, por conseguinte, temos mais tempo, mais liberdade e
menos medo para interagirmos intimamente com os nossos analisandos.
(ZIMERNAN, 2007, p. 294).
De modo geral, podemos concluir que o documentário cumpre o seu objetivo de
traçar um panorama assertivo da vida de Freud, tecendo análises importantes a respeito de
sua vida, sua trajetória profissional etc.
Talvez, um dos aspectos mais interessantes do documentário em questão, é sua
tentativa de procurar traçar uma análise a respeito de como ele pensava, pautado nos
relatos de seus netos, que conviveram com ele, e puderam nos privilegiar com detalhes a
respeito de traços de sua personalidade, a saber: seus medos, como no episódio da invasão
nazista em Viena; suas pulsões, como o vício que ele tinha por charutos e que nunca
conseguiu abandonar; mas, sobretudo, sua determinação, de continuar suas pesquisas e
desenvolvimento da psicanálise, em um período em que a grande maioria da sociedade
considerava-o libertino, imoral e enganoso.
Em suma, Freud deve ser considerado um grande revolucionário de seu tempo.
Não é a toa que seus livros eram queimados nas fogueiras nazistas e ainda, (e, sobretudo),
nos dias atuais, suas ideias continuam cada vez mais necessárias, pertinentes e atuais.

Referência Bibliográfica:

ZIMERNAN, D. E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica. Editora


Artemed. Porto Alegre. 2007.

Você também pode gostar