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*Mário Ernesto Rene Schweriner,

professor da ESPM, onde é chefe


do departamento de humanas e
coordenador do curso de ciências
do consumo aplicadas. Formado em
administração pela FGV é mestre
em psicologia pela USP e doutor em
ciências da religião pela Metodista.
Atuou como executivo de market-
ing na Walita, Johnson&Johnson,
Young&Rubicam e Grupo Accor, entre
outras empresas.

"NECEJOS" DE CONSUMO
Por que as pessoas sofrem? Rindamentalmente, quando suas necessida-
des não são satisfeitas: sono, ar, água, alimento, moradia, transporte, seguran-
ça, familiação, hospitais, todas elas condições psicobiológicas conectadas à
(digna) sobrevivência do ser humano. São produtos e serviços essenciais,
Mas o surpreendente é que tantos há que também sofrem em significativa
intensidade simplesmente porque não conseguem saciar desejos: pelo últi-
mo modelo de bolsa, de sapato, de automóvel, a última moda de vestuário,
o restaurante do momento, as marcas de grife, o luxo em evidência, Tais in-
divíduos ficam como que presos aos desejos, dos quais não conseguem se
desvencilhar, e padecem ao não poder realizá-los. É, de forma simplória, o que
denominei "necejos", que serão esmiuçados adiante.
Esses consumidores são motivados por produtos e serviços supérfluos. Todavia,
supérfluo não significa, em absoluto, um bem ou serviço negativo; inferior. Signifi-
ca simplesmente secundário no rol das prioridades humanas. Atente-se para o que
Veblen tem a contribuir a esse respeito:
O emprego do termo 'supérfluo' é a certo respeito infeliz. Tal como é empregado na
vida cotidiana, traz um timbre de condenação. É usado aqui à falta de um termo me-
lhor, que descreva adequadamente a mesma série de motivos e fé- nome-
nos, e não deve ser tomado num sentido odioso, como
se implicasse um dispêndio ilegítimo de produtos
ou de vidas humanas. De conformidade com a
teoria econômica, o dispêndio em questão não
é mais nem menos legítimo do que qualquer
outro (VEBLEN, 1965, p. 99).
Pode-se chegar a afirmar que o "supérfluo
é necessário". Explicando melhor: uma
vida restrita ao necessário tenderia à vida
de um mero animal selvagem, não a de um
ser humano racional que arquitetou para si
inúmeras fontes de prazer, fruto do neocór-
tex. O que pode ser dramatizado por um tre-
cho de Shakespeare, em Rei Lear (apud BAU-
DRILLARD, 1995, p, 39):
Oh, não discutam a 'necessidade'! O mais pobre E são precisamente tais desejos ilimitados à maténa-
dos mendigos possui ainda algo de supérfluo na prima da qual se alimenta a sociedade de consumo
mais miserável coisa. Reduzam a natureza às ne- para atiçar os consumidores em direção a novos pro-
cessidades da natureza e o homem ficará redu- dutos e serviços permanentemente lançados no mer-
zido ao animal: a sua vida deixará de ter valor. cado para aplacar exatamente esses desejos sem fim.
Compreendes por acaso que necessitamos de Todavia, ao gerar essa cornucópia de produtos à dis-
um pequeno excesso para existir? posição dos consumidores, a sociedade de consumo
contribui para dificultar a demarcação das fronteiras
1. NECESSIDADES, DESEJOS, O ESSENCIAL E O SUPÉRFLUO entre necessidades'e desejos, tornando-as menos níti-
Observe-se como necessidades e desejos são defi- das, "embaçando" o conceito da "digna sobrevivência
nidos por um dos maiores especialistas mundiais do biopsíquica". Habitação é necessidade, Mas quantos
marketing, Philip Kotler, em seu livro de referência 'Ad- metros quadrados configuram uma residência "digna"
ministração de marketing": por habitante? A partir de que metragem a moradia
.Necessidade humana é um estado de privação de al- configura um desejo? Uma habitação de 6,5 metros
guma satisfação básica. As pessoas exigem alimen- quadrados seria aceitável? (Não, não é erro de revi-
to, roupa, abrigo, segurança, sentimento de posse e são: são seis metros e meio quadrados mesmo...)
auto-estima. Essas necessidades não são criadas pela Um grupo de ativistas lançou a Small House Society
sociedade ou empresas, Existem na delicada textura (Sociedade da Casa Pequena) para promover os be-
biológica e são inerentes à condição humana (Kotler, nefícios ecológicos e econômicos das minimoradias.
1998, p. 27). Os modelos têm preços médios de US$ 40 mil e tama-
nhos que vanam de 6 a 15 metros quadrados. (,,.) Jo-
E assim conceitua desejos: hnson vive em uma moradia de 6,5 metros quadrados
no Estado de Iowa, nos Estados Unidos. Atelevisão dá
Desejos são carências por satisfações específicas lugar a um notebook, alimentado pela bateria. A cole-
para atender às necessidades. Um norte-amencano gão de discos e CDs foi parar dentro de um tocador de
precisa de alimento e deseja um hambúrguer, batatas MP3 portátil. (ÉPOCA, Ed.555, 5 jan, 2009, p.44,5)
fritas e uma Coca-Cola [...] Uma pessoa faminta na Alimento obviamente é necessidade: proteínas, vitami-
Ilha Maurício pode desejar mangas, arroz, lentilhas e nas, carboidratos. Na forma de arroz, feijão, pão, ma-
feijão (KOTLER, 1998, p. 27). carrão. Temperados por desejo ou necessidade?
E logo a seguir acrescenta um comentário defensi- Vestir-se é uma necessidade. Mas de quantas calças
vo eximindo os profissionais de marketing de criar ou pares de sapato precisa um indivíduo "para trajar-
necessidades ou que (em suas próprias palavras) o se de uma maneira 'digna'!"? Provavelmente, depen-
"marketing induz as pessoas a comprar coisas que derá da classe social e de sua profissão, só para citar
não desejam1' (p. 28). E como proceder para diferen- alguns fatores. O tempo costuma ser outro fator que
ciar desejos dessas necessidades? nubla as fronteiras entre as necessidades
O fato é que as necessidades são e os desejos na sociedade de
relativamente limitadas, uni- consumo, porque vários de-
versais e objetivamente sejos de hoje irão confi-
demarcadas, os desejos ^ gurar as necessidades
são ilimitados, pesso- de amanhã. O telefo-
ais e subjetivos, sendo ne celular era nada
sempre urna especifici- mais que um luxo
dade das necessidades; para os brasileiros no
uma opção particular início dos anos 1990.
do indivíduo. Isso gera Hoje chega a ser uma
a insaciabilidade dos necessidade para a
consumidores, pois maioria dos indivídu-
uma vez que um de- os, mesmo porque,
sejo tiver sido satis- em virtude do seu
feito, outro já se en- baixo preço, ingres-
contra à espreita. sou nos domínios de

marketing
consumo das classes C e mesmo D. Outrossim, o que Maslow
é necessidade para uma determinada classe social preconi-
eqüivale apenas a um desejo para outras inferiores. zava uma pro-
Indivíduos das classes A e B costumam encarar corno gressão em
necessidade direção hidráulica e ar-condicionado em que a neces-
seus automóveis, o que não passaria de um "mero" sidade de nível
desejo nas classes C e D. Pois então é uma missão ár- mais baixo deve
dua a demarcação de fronteiras claras e seguras entre ser substancialmen-
necessidades e desejos, te satisfeita antes de
EnchPromm, em sua clássica obra"Ter ou ser" (1977), focar o degrau acima.
caracteriza duas espécies diversas de ter, uma conec- Outra teoria de necessida-
tada às necessidades, outra aos desejos. A primeira des é a de McClelland (1961), a
ele denomina "ter existencial", "porque a existência hu- qual está erigida sobre três pilares:
mana exige que tenhamos, conservemos, cuidemos e § Necessidades de realização - enfren-
utilizemos certas coisas a fim de sobrevivermos. Isso tar desafios, superar obstáculos, fazer melhor as
se refere ao nosso corpo, ao alimento, habitação, ves- coisas.
tuário e instrumentos necessários a satisfazer nossas § Necessidade de poder - influenciar e controlar os
necessidades" (FROMM, 1977, p. 94-95), O ter exis- outros; estar no comando.
tencial está em contraste com o "ter caracteriológico", § Necessidade de associação - cooperação e aceita-
"que é uma tendência ardorosa a reter e conservar o ção pelos outros.
que não é inato, mas que se revelou como conseqüên- As necessidades também podem ser classificadas,
cia do impacto das condições sociais sobre a espécie independendo da teoria, de um modo bem objetvo
humana como biologicamente dada11 (p, 95). segundo sua natureza, em viscerogêmcas e psicogêni-
Uma das mais conhecidas teorias acerca das necessi- cas, sendo as primeiras de premência preponderante.
dades humanas é a do psicólogo humanista Abraham As necessidades viscerogênicas se originam da ca-
Maslow (1954), lembrado por sua hierarquia das ne- rência (de água e de alimentos) e da distensão, que se
cessidades. Rara ele, as necessidades humanas vão divide em secreção, como sexo e lactação, excreções,
num crescendo das mais básicas - as necessidades como urinar e defecar, e finalmente evitar danos, como
fisiológicas, envolvendo oxigênio, supressão da fome, dor, calor e frio. Já as necessidades psicogênicas são em
da sede, do frio, do sono, do calor e da dor - até as maior número, dentre as quais destaco realização, nutri-
mais "elevadas" - as de auto-realização. Entre esses mento, filiação, aquisição, dominação e autonomia.
dois extremos se localizam as de segurança e prote- Essa classificação das necessidades pode ser amplia-
ção, em seguida as sociais (de afeição e filiação) e da, observando-se que as pessoas se movimentam
depois as de status, envolvendo reputação, domínio e continuamente entre dois pólos, sempre mediadas por
prestígio, Para Maslow, a necessidade de nível mais produtos e serviços, O primeiro deles consiste em evi-
baixo deve ser substancialmente satisfeita antes que o tar/sanar dor e sofrimento físico e psíquico, que con-
sujeito seja motivado pela imediatamente acima. figura o terreno das grandes e agudas necessidades
A teoria ERG 1 é uma espécie de adaptação da hie- humanas, que o consumo tenta mitigar, há milênios,
rarquia de Maslow que melhor atende à pesquisa Necessidades básicas, universais e muito parecidas
empírica, Elaborada por Cíayton Alderfer (1969), da para toda a humanidade. Isto é, principalmente água,
Universidade de Yale, reduz os cinco níveis de Mas- nutrientes, saúde; segurança, transporte, moradia,
low a três: as necessidades de existência englobam as vestuário, educação, família e amigos, e a proteção
fisiológicas e as de segurança; as de relacionamento contra frio e calor intensos.
correspondem às sociais e a algumas de status e, fi- A procura de estimulação prazerosa (gratificação)
nalmente, as de crescimento ou desenvolvimento pes- também constitui uma necessidade humana, universal
soal são similares às de auto-realização. e materializada pelo consumo (ou as pessoas ficariam
Uma segunda diferença do modelo de Maslow para a restritas ao tédio): conhecer coisas novas, pertencer,
teona ERG é que esta aceita que mais de uma necessi- criar, empreender, possuir, poder e sentir. Principal-
dade pode estar ativada ao mesmo tempo, ao passo que mente este último, a premiação dos órgãos dos sen-
tidos: perfumes, beleza, música, estímulos táteis, ali-
mentos saborosos.

marketing
E o que se denomina "circuito algedônico", porque muitos outros o desejam, Se tantos assim o desejarem,
advindo da combinação dos termos gregos pode acabar por se tornar ainda mais escasso, o que fará com
algos (dor) e hedos (prazer), que traz constan- que desperte mais e mais desejos.
temente ao indivíduo informações sobre seu Desse modo, existe uma íntima correlação entre:
estado presente, e que devem condicionar - o verbo precisar, as necessidades humanas (viscerogênicas
todo o seu comportamento, de se distanciar e psicogênicas) e os bens essenciais, de um lado;
da dor e se aproximar do prazer, - e o verbo desejar e os bens posicionais, sua dimensão simbó-
Tais condutas foram analisadas pelo psicólo- lica e prazerosa, do outro.
go Frederick Herzberg (1959), que cunhou a Tais bens costumam ser denominados supérfluos, e traduzem
teoria da "Manutenção/Motivação11. Fará ele, o tudo que transcende a "digna" sobrevivência física e psicoló-
ser humano vive o seu dia-a-dia entre o equilí- gica humana, o que varia de civilização para civilização, e de
brio e a remoção da insatisfação, por um lado, época para época.
e o equilíbrio e a busca da satisfação, por ou-
tro. Rara Herzberg, a insatisfação é removida 2. DESEJO: "CRIADO" OU "ATENDIDO" PELAS EMPRESAS?
pelos fatores de manutenção, também chama- Qual é a meta principal das empresas? Por mais que muitas
dos de higiene, com base na analogia de que delas enunciem um discurso de satisfação do cliente, a razão
lavar as mãos antes das refeições evita doen- primordial de sua existência é o binômio vendas/lucro, a fim de
ças, mas não garante boa saúde. Também remunerar o mais regiamente possível seus acionistas. Para a
podem ser chamados de fatores de "déficit", consecução desse objetivo, as empresas devem satisfazer às
pois são sentidos quando de sua ausência. Os necessidades e saciar os desejos dos consumidores, previa-
fatores que conduzem à gratificação, conso- mente existentes ou até "criados" por elas (empresas) ou
ante Herzberg, são chamados motivacionais, agências de propaganda. Principalmente os desejos pelo
ou fatores de desenvolvimento. novo, pelo melhor, pelo diferente. De um modo ou de outro,
Uma vez materialmente satisfeitas as neces- interessa às empresas que o consumidor adquira o máxi-
sidades básicas - aquelas viscerogênicas e mo possível de bens, sejam eles essenciais ou supérflu-
psicogênicas recém-listadas, ou mesmo as os, e de preferência pelo maior preço possível,
de Maslow - o sujeito acabará por emprestar a fim de aumentar sua lucratividade.
mais importância à dimensão simbólica, cul- O desenvolvimento e lançamento de no-
tural e prazerosa do consumo, fruto do querer, vos produtos e serviços destinados a sa-
do que à sua dimensão funcional, fruto do pre- tisfazer a tantos e tão variados desejos po-
cisar (Slater, 2002). É o que Eduardo Giannet- dem ser uma resposta dos profissionais de
ti, em seu livro "Felicidade", denomina "bens marketing ao que as pessoas querem, ou
posicionais"2, referindo-se aos que transcen- pode ser uma artimanha para fazê-las que-
dem os "bens primários", que satisfazem às rer o que estão a fabricar. Tal polêmica en-
necessidades humanas (GIANNETTT, 2002), seja três grandes linhas de discussão, pa-
Pois um dos principais meios de ser reconhe- trocinadas por profissionais de propaganda
cido pelo outro é o de desejar (e evidentemen- e marketing, economistas e estudiosos do
te possuir) o objeto que também é almejado comportamento humano. Campbell (2001)
por esse outro, o que René Girard denominou assim alinhava as principais características
"desejo mimético de apropriação". dessas três correntes, visando compreen-
Desejando tal ou tal objeto, o rival designa-o der se os profissionais de marketing dão às
ao sujeito como desejável. O rival é o mode- pessoas o que elas querem ou dizem a elas
lo do sujeito, não tanto no plano superficial o que devem querer,
das maneiras de ser, das idéias, etc., quanto a) Primeira corrente: a tradição instintivista.
no plano mais essencial do desejo (GIRARD, Para ela, a herança biológica é que dirige
1998, p, 184). o comportamento, e pode ser representada
O bem em si é secundário nesse mecanismo pela hierarquia das necessidades de Mas-
de desejo: o essencial é que ele é desejado low. Parte-se da premissa da existência de
uma demanda natural de desejos naturais e
não satisfeitos que o mercado descobre e se
propõe a satisfazer. Essa corrente advoga que

marketing
a propaganda "e o marketing não possuem poder de coerção, das demandas do consumidor moderno.
pois os desejos'pelo novo já existem, mesmo que embutidos nas Todo este arcabouço de raciocínio deriva
profundezas da mente humana - inconscientes - e aí então as da teoria de um dos mestres de Galbraith,
empresas desempenham o papel de "garimpo", Quer dizer, os o economista austríaco Joseph Schumpeter
indivíduos possuem uma noção bruta (diamante) dos desejos, (1984), pai da teoria da "destruição cnado-
que as empresas se encarregam de garimpar, lapidar e dar for- ra". Tal expressão designa o dinamismo
ma e substância na forma de produtos específicos. Nesse caso, criativo inerente ao capitalismo, em que
a propaganda e o marketing até desempenham um papel salutar a concorrência entre as empresas, com a
e relevante para a "sadia" satisfação do consumidor, criando a passagem do tempo, deprime as margens
consciência de que tais desejos existem e que, de outra forma, de lucratividade. Assim, a fim de recompô-
repousariam latentes e não atendidos. las, as empresas partem para a pesquisa de
Kirkpatrick (1997, p. 69) defende processos mais eficientes e menos custosos
[...] que a propaganda não pode mudar gostos, criar necessida- de produção, bem como o desenvolvimento
des e vontades ou até criar demanda. A propaganda pode tornar e lançamento de novos produtos no merca-
os consumidores cientes de suas necessidades, pode estimular do, Isso até que a lucratividade volte a enco-
suas vontades, pode estimular a demanda e pode tomar possí- lher a patamares tão exíguos que uma nova
vel para os consumidores aproveitar um número maior e uma seqüência de destruição criadora seja deto-
extensão mais ampla de gostos. Mas gostos, necessidades, nada. O aumento da produção, da lucrativi-
vontades e demanda se originam todos dentro do consu- dade e do emprego é o lado iluminado da
midor, sociedade de consumo. Por outro lado, para
Para ele, a propaganda tem a capacidade de tornar o funcionar devidamente, tal sistema requer
consumidor ciente de seus desejos e de sua vontade de que as novidades sejam continuamente al-
consumir, estimulando a demanda por bens e serviços. mejadas e adquiridas, o que, em sua essên-
As duas próximas correntes defendem que o mercado cia, é o cerne do consurnismo, cujo dínamo
(propaganda e marketing) objetiva criar novas deman- é a propaganda.
das que ele se encarregará de satisfazer por b) A segunda corrente mencionada por
meio de uma oferta antes inexistente, fazendo Campbell é a irmanipulacionista". Em con-
crer aos consumidores que estes vinham an- traste com a anterior, prega que as pessoas
siando precisamente por tais produtos e ser- basicamente se contentam com o que pos-
viços, Tais correntes tangenciam a teoria do suem, sendo "compelidas" a agir pelas ne-
famoso economista canadense John Kenneth cessidades3 que lhes são "injetadas", prin-
Galbraith (1996). Fará ele, o moderno sistema cipalmente pelas ações de propaganda e
econômico inventa os desejos que ele mesmo marketing. Metaforicamente, esse modelo
se incumbe de satisfazer. Ele batiza de "fiei- é denominado "modelo hipodérmico" das
ra invertida" a esse processo no qual o com- influências dos meios de comunicação de
portamento do consumidor é controlado pela massa, que opera como uma agulha hipo-
produção, em vez desta ser a resposta às ca- dérmica: "nesse caso, o que é introduzido
rências e expectativas do mesmo, a chamada na 'corrente sangüínea' dos consumidores
"fieira clássica". Quer dizer, apesar de toda a é a 'necessidade' de um produto ou serviço
encenação inversa, todas as sofisticadas fer- específico" (CAMPBELL, 2001, p. 71).
ramentas de pesquisas de mercado servem E aí vale a pena ressaltar um ponto polêmi-
essencialmente para descobrir caminhos mais co, conclusão de várias "dinâmicas de gru-
eficientes para induzir a procura, a fim de de- po" patrocinadas por institutos de pesquisa
saguar os produtos já fabricados ou a serem por anos a fio: os consumidores sabem
fabricados pelas indústrias (BAUDRILLARD, muito bem o que não querem, porém não
1995). Por conseguinte, sem o acelerado siste- sabem.,, o que desejar!
ma de produção característico dessas últimas Nas palavras de Davis (2003, p. 15):
décadas, provavelmente não existiriam muitas A maioria de nós não tem a menor idéia

marketing
do que deseja realmente. Sabemos
que desejamos alguma coisa, e a de-
sejamos com ansiedade e paixão, até
ferocidade. Mas simplesmente não
sabemos exatamente que coisa é essa,
Essa incapacidade parece especial-
mente estranha no momento presente,
quando a espécie humana está muito
atenta à questão da satisfação, própria
ou alheia, e quando a lista das coisas
que desejamos e precisamos adquinr,
fazer, experimentar e alcançar é maior
e mais indispensável do que nunca.
Nossa cultura nos induz a pensar em
nossos desejos a cada minuto do dia:
quero isso, isso e isso. Mesmo assim,
no fundo de nossas mentes, há sempre
uma pontada de angustia, alguma an- dor tomar ciência dos mesmos. Assim, a propaganda pode ser en-
siedade enigmática, uma sensação de focada como um acelerador artificial que impede a estabilização da
que aquilo que realmente nos traria sa- procura, o que Elgozy (apud BAUDRILLARD, 1995) denominou ação
tisfação ainda não foi identificado nem "anticoagulaníe" da propaganda. E atribui-se a ela o poder de mudar,
inventado. moldar ou criar desejos, necessidades e vontade no consumidor, ten-
Talvez seja ai que entrem as empresas, cionando aumentar, o quanto possível, a demanda por bens não es-
decidindo por eles, A prova reside nos senciais (que de outro modo não seriam adquiridos e, portanto, não
incontáveis produtos criados e lançados teriam sido produzidos). "Será o consumo uma arena de liberdade
praticamente só com base no feeling e escolha ou de manipulação e indução? Terá o consumidor efetiva-
empresarial, independentemente dos mente escolha? Ele é súdito ou soberano, ativo ou passivo, criativo ou
anseios do consumidor, dos quais se determinado?" (BARBOSA, 2004, p, 35),
destaca o famoso walkman4, da Sony. c) O terceiro modelo é o" veblenesco". Aqui as necessidades tampou-
Um famoso slogan publicitário para o co são inatas, mas ao contrário do modelo hipodérmico, é o próprio
DVD Infoway, da Philco, do início do indivíduo que as "fabrica", conseqüência da imitação ou emulação. A
ano 2000, atestava bem esta constata- denominação "veblenesco" deriva de Veblen (o americano Thorstein
ção: "Você ainda não sabe, mas não dá Veblen), que cunhara o conceito de consumo conspícuo, na virada
para viver sem um", do século XTX para o século XX. Sua obra clássica "Ateona da classe
Após o uso de todo esse ferramenta! de ociosa", pela primeira vez publicada em 1904, procurava explicar a
pesquisas, entra em ação a propagan- compulsão de muitas pessoas pela ostentação. Fará estas, "só" ter
da, visando informar e convencer os muito dinheiro não basta (em si); é preciso mostrar para todos sua
consumidores dos benefícios e vanta- opulência.
gens em adquirir um determinado bem, A propriedade se torna, portanto, a base convencional da estima
A propaganda ocupa um papel central social. Nenhuma posição honrosa na comunidade é possível sem
na corrente manipulacionista. Afinal, ela. Torna-se indispensável adquirir e acumular propriedade a fim
sem esta (propaganda), como os con- de conservar o próprio bom nome. [.,.] A riqueza, no início valiosa,
sumidores tomariam conhecimento das simplesmente como prova de eficiência, se torna no entendimen-
características, vantagens e benefícios to popular um ato meritóno por si mesmo. A riqueza é agora coisa
dos produtos, particularmente do alu- honrosa intrinsecaniente; confere honra ao seu possuidor (VEBLEN,
vião de novos lançamentos despejados 1965, p. 42).
continuamente no mercado? Ademais, Conforme Veblen5, para muitos membros das classes superiores só
muitos dos produtos não imprescindí- faz sentido ter muito dinheiro se esta riqueza puder ser alardeada de
veis são adquiridos só após o consumi- um modo exibicionista - a "distinção ofensiva" -, satisfazendo ao bor-

marhelíng
dão "não basta ser rico, tem de ostentar". Por As gravatas feitas com o fio de ouro de 18 quilates são ven-
sinal, para ele, nenhuma classe social, nem didas por 260 dólares. Um homem pagou 9,000 dólares por
mesmo os pobres, abre mão da possibilidade, um smoking de seda preta, uma gravata borboleta e faixa de
quando não do objetivo, do consumo exibicio- cintura com fios de ouro, Outros estão comprando ternos com
nista, centrados na emulação. listras finas de ouro no valor de 10 mil a 20 mil dólares (CAREY
[...] e é extremamente agradável possuir algu- apuei SOLOMON, 2002, p. 323).
ma coisa mais do que os outros, Nem bem, to- Tal ostentação de bens até pode ser invertida, na medida em
davia, adquire o indivíduo maior riqueza e com que se "mede" a riqueza ou status de alguém pelos presentes
ela se acostuma, o seu novo padrão cessa de que ele dá:
lhe dar satisfação maior que o padrão anterior. Veblen foi inspirado por estudos antropológicos dos índios
De qualquer modo, a tendência é constante Kwakiutl, que viviam no noroeste do Pacifico. Em uma ceri-
para fazer de cada padrão pecuniário o ponto mônia chamada potlach, o anfitrião exibia sua riqueza e dava
de partida para um novo aumento de riqueza; presentes extravagantes aos convidados. Quanto mais al-
o novo padrão, por sua vez, produz um novo guém distribuía, mais era bem-visto pelos outros. Às vezes, o
critério de suficiência e uma nova classifica- anfitrião usava uma estratégia ainda mais radical para
ção pecuniária em relação aos vizinhos ostentar sua riqueza. Ele destruía publicamente
(VEBLEN, 1965, p. 44). algo de sua propriedade para demonstrar o
Para alguns, a ostentação se expressa quanto possuía {SOLOMON, 2002, p. 323).
no uso de roupas tecidas com A demonstração ostensiva de riqueza pa-
fios de ouro: rece não conhecer limites. Que tal então
Consideremos a recente ouro,., comestível? Matéria publicada no
tendência na moda mas- jornal O Estado de S,Paulo (8 jul. 2005,
culina de utilizar fios de Caderno Cidades/Metrópole, p. CS), sob
ouro no tecido das roupas. o título "Novidade do inverno em Campos:

marketing
ouro comestível", relatava que: çaram e até dilapidaram além do necessário, porque
Em Campos do Jordão, por exemplo, o mercado está "[.,.] é no consumo do excedente e do supérfluo que,
cada vez mais diversificado, principalmente o de luxo. tanto o indivíduo como a sociedade, se sentem não só
Nos restaurantes, a novidade é o ouro comestível - em existir, mas viver1' (BAUDRILLARD, 1995, p, 38). Mes-
pó, folhas ou pétalas - que enfeita os pratos. "Não tem mo porque essa é a forma pela qual as classes aris-
gosto. É pelo aspecto decorativo, pelo glamour de co- tocráticas costumam demonstrar sua proeminência: a
mer ouro de 24 quilates", diz Manlda Molma, dona do wasteful expenditure (prodigalidade inútil, citada por
restaurante e empório Matterhorn. Trinta gramas do Baudrillard), ou o "consumo conspícuo", clássica ex-
produto, importado da Itália, custam R$ 168,00. A fon- pressão cunhada por Thorstein Veblen, em sua obra
due tradicional de chocolate sai por R$ 54,00, mas se de referência 'A teoria da classe ociosa", anteriormen-
tiver uma pitada de ouro fica em R$ 154,00. te citada,
Sabe-se que a identificação dos seres humanos com Needleman (1991, p. 235) resgata a obra do grande
produtos que lhes conferem status, prestígio e gla- pensador judeu Moses Maimonides, para o qual o
mour não é recente, A História está pontilhada por rou- supérfluo efetivamente não conhece limites, abrindo
pas, veículos de transporte, armamentos, jóias, como campo para desejos sem fim: " [,.,] as coisas necessá-
também tantos outros utensílios domésticos que em- rias são poucas em número e restritas a certos limites;
prestavam notoriedade a quem os possuísse, Mas em mas o que é supérfluo é infinito [,.,]",
que grau a necessidade de ser reconhecido como su- E, mais à frente, ele busca demonstrar como a distin-
perior passa a estar umbilicalmente conectada a pro- ção entre supérfluo e essencial pode ser chancelada
dutos e serviços, desvinculada de uma diferenciação pela Natureza, na medida em que esta prove as neces-
intrínseca do sujeito, como cultural, artística, esportiva sidades em abundância, em contraponto à raridade do
ou social? supérfluo (NEEDLEMAN, p. 239): "Quanto mais uma
Em todo o reino animal (do qual o ser humano ob- determinada coisa é necessária para os seres viven-
viamente faz parte), existem distinções baseadas no tes, mais fácil se pode encontrá-la, e mais barata ela é;
poder, no domínio e no status dos animais mais pro- quanto menos necessária for, mais rara e cara será". E
eminentes. A busca por proeminência/status, de ser sedimenta seu pensamento exemplificando que o ar, a
reconhecido como superior, é parte integrante do rol água e a^omida - nesta ordem - são absolutamente
das necessidades do ser humano, e é enfocada sob essenciais para a vida humana, e estão mais dispo-
o prisma de um sonho por Longinotti-Buitoni (2000, níveis na Natureza, precisamente nessa seqüência. O
p, 42), o "sonho do reconhecimento social", Para ele, que deve ser ressaltado é que nem sempre é verda-
"como somos animais sociais, ansiámos por reconhe- deiro, haja vista a escassez de chuva que provoca se-
cimento e admiração", cas no Nordeste brasileiro e a falta de água em tantos
Todavia, esse teatro de demonstração de riqueza como desertos pelo planeta, mormente na África,
ponte para o reconhecimento social ex-
trapola a obra de Veblen. Isso porque 4.0 SUPÉRFLUO E OS NECEJOS
jamais, em qualquer período da O desejo pelo supérfluo pode ser tão poderoso que
História, as pessoas tiveram à mão chega a ser guindado à condição de necessidade.
tantos produtos e marcas, lançados Urna necessidade artificial, não oriunda da condi-
continuamente no mercado, precisa- ção psicobiológica do ser humano, mas advinda
mente para lhes conferir diferenciação do ambiente de mercado - propaganda e marke-
e prestígio. Não é apenas a nobreza ou ting -, um dos principais combustíveis da socie-
os muito ricos os que podem ostentar; dade de consumo. A seguir, um bom exemplo
hoje, mesmo a classe média, de como autores costumam "confundir" de-
por intermédio de seus car- sejos fortes com necessidades (artificiais),
tões de crédito, pode almejar inserindo-os em um mesmo patamar
demonstrar um estilo de vida v daquelas:
opulento. Por um lado, as necessidades po-
dem ser consideradas naturais e
3.0 SUPÉRFLUO evidentes por si mesmas (como
Historicamente, inúmeras socieda- as "necessidades básicas" de
des, em todos os tempos, desperdi- comida, roupas e teto); por ou-

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tro lado, são vistas muitas vezes como arbitrárias e subjetivas
- como "carências", ''caprichos11, "preferências" ou "desejos"
que dependem inteiramente da peculiaridade dos indivíduos
[Slater, 2002, p, 12).
O surgimento dessas necessidades não oriundas da
condição biopsicológica do ser humano, des-
pertadas e multiplicadas pela sociedade de
consumo, pode ser ilustrado por esta singe-
la parábola citada por Baudnllard (1995, p. ~"
68); "Era uma vez um Homem que vivia na
Raridade. Depois de muitas aventuras e de longa viagem através
da Ciência Econômica, encontrou a Sociedade da Abundância. solidão e a depressão [...] a produção, por
Casaram-se e tiveram muitas necessidades", Provavelmente, maior que seja, jamais pode igualar-se com
Baudrillard estivesse se referindo a "desejos fortes; extremamen- os desejos ilimitados.
te fortes", que,.por facilidade de expressão, são simplesmente Quer dizer, o hedonismo tampouco preen-
traduzidos por necessidades, O próprio Jean-Jacques Rousse- che as promessas de felicidade. Por sua
au usava indistintamente o conceito de necessidade para se própria natureza, prazeres são efêmeros e
referir às necessidades reais, e a uma outra categoria, paralela devem ser constantemente renovados, o que
àquelas, que ele denominava necessidades sociais, Para ele, as é facilitado e incentivado pela avalanche de
necessidades reais são finitas, conectadas à satisfação da fisio- produtos e serviços colocados à disposição
logia e ancoradas na natureza, enquanto as sociais são paridas dos consumidores.
pela associação humana e pelo confronto com os outros, motor Como aponta Baurnan (2007, p. 121):
da inveja e da competição social. Rousseau julgava saudáveis Os mercados de consumo se alimentam
as necessidades reais, que são limitadas e saciáveis, enquanto da ansiedade dos potenciais consumido-
as sociais, ilimitadas e dependentes da aprovação e admiração res, que eles próprios estimulam e fazem o
dos outros, tendiam ao patológico. possível para intensificar. [...] o consumismo
O que tangencia o pensamento de Gaston de Bachelard (1968): não se refere à satisfação dos desejos, mas
"O homem é um produto do desejo, não da necessidade". Como à incitação do desejo por outros desejos
conseqüência dessa premissa, o consumo assume uma dimensão sempre renovados, preferencialmente do
marcantemente individualista, dado o caráter subjetivo do desejo. tipo que não se pode, a princípio, saciar.
Mas quando se analisa um comportamento
5. OS NECEJOS E O CONSUNISMO de consumo, nasce a questão de como esta-
A escalada sem fim dos desejos ilimitados que da forma aos ne- belecer as fronteiras entre este e o chamado
cejos pode desembocar no consumismo; um verdadeiro beco consumismo. Compreender a partir de que
sem saída. Como não há limite para os desejos do ser humano, limite um ato de consumo pode ser definido
nenhum produto consegue satisfazer plenamente desejos sem como consumismo não é tão simples. Apartir
fim, fonte permanente de ansiedade e frustração. "Pois não há de que patamar pode-se afirmar que alguém
padrões a cujo nível se manter quando a linha avança junto com está incorrendo em um comportamento con-
o corredor" (ASSMANNN; SUNG, 2000, p. 183). O indivíduo sumista? Como demarcar tais fronteiras?
consumista, engajado em um ritual de premiação dos sentidos e O fato é que o consumo satisfez às neces-
perseguição do status, costuma abortar os limites da sensatez. sidades, bem corno aos desejos, e está co-
Para Fromm (1977), as pessoas se tornam insatisfeitas porque se nectado tanto a bens essenciais quanto aos
instila cada vez mais desejos por novos consumos, o que gera supérfluos. Pode-se consumir desde arroz
uma espiral sem fim rumo à satisfação impossível de atingir, e feijão, medicamentos e transporte coletivo
Quem não tem quer ter. Quem tem quer ter mais. É como matar a (necessidades), por um lado, até uma sofis-
sede com água salgada, Ainda conforme Fromm (1977, p, 118): ticada feijoada, Viagra e automóveis com ar-
Em contraste com as necessidades fisiológicas, tais como a condicionado (desejos), por outro. O consu-
fome, que tem um ponto definido de saciação devido à fisiolo- mismo, por seu turno, busca saciar somente
gia do corpo, a avidez mental - e toda avidez é mental, mesmo os desejos, estando sempre conectado ao su-
que satisfeita pelo corpo - não tem ponto de saciação, visto que pérfluo, e se diferencia do consumo em uma
não esgota o recipiente interno, o vazio, o tédio, sobrevindo a questão de grau, exagero e dependência.

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De um modo ou de outro, o certo é que o consumo (dos outros) também é medido pelos bens materiais (o
acelerado e até o consumismo são muito bem-vindos "consumo conspícuo", termo cunhado porThorsteinVe-
para as empresas que almejam estar alicerçadas na blen [l 965], na virada do século XEK para o século XX).
premissa econômica do pleno emprego da capaci- Tal obsessão pelo consumo, gerido em boa parte pela
dade instalada, produzindo, assim, bens que a propa- ganância e inveja dos que têm mais, muito mais, pode
ganda se encarregará de tornar desejáveis, sedutores, estar na raiz da presente crise que perpassa quase to-
quando não imprescindíveis ao consumidor. Em outros das as economias do planeta. Não preconizo aqui uma
termos, cutucam, despertam e dão forma e conteúdo a vida espartana, regulada tão somente pela satisfação
desejos, sejam latentes ou "injetados", a fim de poder das necessidades. 'Afinal, se todos reduzirem as des-
escoar sua produção, possibilitando o pleno uso da pesas abruptamente, a crise só vai piorar" (ÉPOCA, 5
capacidade produtiva instalada, quando não sua cons- jan. 2009, ed.555, pág. 47). Nas palavras do poeta e jor-
tante ampliação. Conseqüências positivas: aumento do nalista Jorge da Cunha Lima, em artigo publicado na
lucro e, normalmente, do índice de empregos. Folha de S. Paulo, 12 fev, 2009, Primeiro Caderno, p. A3.,
Uma vida pautada pelo consumo é o caminho eleito "o que precisa mudar é o comportamento da socieda-
por muitas pessoas como principal acesso à felicidade, de, O comportamento dos políticos e também da mídia,
pavimentando um estilo de vida baseado no desejo in- a propor novos desejos, compatíveis com a natureza hu-
cessante por supérfluos como via conducente ao prazer mana, e não com os humores destrutivos da moda".
e ao status, traduzido pela relação instrumental com os Afinal, "o desejo é um ótimo escravo, porém um péssi-
bens não essenciais. É fruto da pressão dos agentes de mo senhor", d
mercado - propaganda e marketing -, apontando para
um consumo permanente e crescente. Os produtos e Este artigo é uma adaptação do livros "Identificando
serviços assumem um papel preponderante no sistema Necejos e Supérfluos Essenciais", e da tese de dou-
de valores do indivíduo consumista, não raro até acima torado "O Consumismo e a Dimensão Espiritual das
do das suas relações pessoais, sendo que o sucesso Marcas", ambos redigidos pelo autor.

SCHWERINER, Mario E.R. " Necejos" de consumo, Marketing, São Paulo, a. 42, n. 434, p. 33-42, mar. 2009.
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