Você está na página 1de 4

MD

Aulas n.ºs 23, 24, 25.

UNIÃO DE FACTO

Conceito, pressupostos, efeitos e modalidades

A União de Facto consiste na convivência sexual comum entre um


homem e uma mulher como se de marido e mulher se tratasse, sem a
existência de um casamento formalizado.

Em boa verdade, é uma convivência de caracter duradouro entre


um homem e uma mulher, segundo o figurino marital, o que significa que
entre eles se estabelece comunhão de cama, mesa e habitação, sem que,
todavia, tivessem celebrado casamento.

A União de Facto é a união entre um homem e uma mulher com o


fim de fazerem vida comum, distinguindo-se do casamento apenas por
não haver formalização ou legalização da união.

Em Angola, a maioria da população vive em União de Facto, não


por questões ideológicas ou de princípios, mas por razões de cultura e de
tradição, bem como devido à inexistência dos órgãos do registo civil
necessários à legalização da sua união ou ainda por razões económicas
nas zonas urbanas.

O objectivo do Estado é, evidentemente, o de legalizar o maior


número possível de uniões pela função social que o casamento
desempenha na sociedade. E foi de acordo com esta directriz que a união
de facto veio a ser consagrada no nosso CF.

Já a Constituição da República, no seu art.º 35º n.º 1, consagra o


princípio de que a família tem direito à protecção do Estado, quer se
funde no casamento quer em união de facto, dando assim pela primeira
vez consagração constitucional a esta forma de constituir família.

Tendo-se registado dificuldades para a concretização deste


instituto, o legislador ordinário aprovou o Regulamento do
reconhecimento da União de Facto por mútuo acordo e dissolução da
união de facto reconhecida, através do Decreto Presidencial n.º 36/15,
de 30 de Janeiro.

A característica fundamental da união de facto é a voluntariedade,


o que significa que só se constitui pela vontade comum de ambos e pode
terminar com a vontade de um só, unilateralmente.

Em termos gerais, pode-se dizer que quando for a vontade de


ambos, que uma vez preenchidos os pressupostos legais, nada impede,

1
MD

em Angola, que a grande maioria das uniões de facto sejam-reconhecidas


e formalizadas ao abrigo da lei.

O conceito legal, está prevista no art.º 112º do CF., segundo o


qual “a união de facto consiste no estabelecimento voluntário de vida em
comum entre um homem e uma mulher”.

Deste conceito resultam dois elementos: um elemento subjectivo


voluntariedade, que é essencial e o elemento objectivo que é representado
pela situação marital de convivência, segundo modelo matrimonial.

Perante a união de facto, 2 (duas) situações podem ocorrer: ou ela


preenche os pressupostos previstos na lei, por isso susceptível de ser
reconhecida, ou não preenche os pressupostos sendo que não poderá ser
reconhecida sem, no entanto, deixar de produzir determinados efeitos
legais.

Durante a sua vigência, ela só é susceptível de ser reconhecida


quando seja da vontade dos companheiros. Já quando cesse, a lei veio
permitir que uma vez verificados judicialmente os pressupostos legais,
esse reconhecimento venha a produzir os efeitos que a lei confere à
dissolução do casamento. Este é sem dúvida, o efeito mais relevante que
o instituto passou a ter no meio social, permitindo que aquando da
ruptura, a vivência anterior, querida por ambos, venha a produzir efeitos
e não seja ignorado pela ordem jurídica.

Os pressupostos legais para o reconhecimento da União de facto


são, (art.º 113.º):

- a coabitação marital do homem e da mulher pelo período


consecutivo de pelo menos 3 anos – pressupõe a comunhão de cama, mesa
e habitação e com a criação de laços de interdependência afectiva, social
e económica entre companheiros. Esta união tem de ter ainda natureza
estável e a sua perduração no tempo é tomada em conta.

- a capacidade matrimonial de ambos os membros do casal – o que


implica que ambos tenham capacidade para contrair casamento, dado os
efeitos que a lei atribui à união de facto e que correspondem aos do
próprio casamento.

- a singularidade da união – esta tem de ser exclusiva, tal reflete o


princípio da monogamia fundamental ao casamento e, como tal, à união
de facto.

Reconhecimento por mútuo acordo (art.º 114.º do CF.)

2
MD

Tem de ser pedido em comum acordo, pessoalmente ou por


intermédio de procurador bastante, art.º 4.º do Dec. Presidencial n.º
36/15, de 30 de Janeiro.

Este reconhecimento é da competência dos órgãos do registo civil


da área de residência respectiva, art.º 116.º do CF.

Trata-se de um processo administrativo em que será necessário


provar, tal como no casamento, a capacidade matrimonial, a
singularidade da união e a sua duração de 3 anos. A prova destes
pressupostos pode ser feita através de testemunhas ou de documentos
emitidos pelo órgão da administração. E, assim como para o casamento,
tem de se declarar o regime de bens por que optam.

Apesar de a esta forma de processo se assemelhar ao do casamento,


a diferença mais saliente é que neste processo não há a parte ritual e
solene da cerimónia.

Uma vez reconhecida a união de facto, esta passa a produzir os


mesmos efeitos do casamento, retroactivamente à data do início da união.

O seu registo é obrigatório (art.º 120.º do CF.), pois só aí passa a


ser oponível a terceiros. E por fim, também está sujeito à anulação nos
termos da do casamento.

Reconhecimento por via judicial

Refere-se ao facto da união de facto poder a vir ser reconhecida


depois de ter cessado, o que pode acontecer por morte ou por ruptura, esta
poderá ser por acto unilateral ou bilateral.

Pelo grande número de efeitos que o reconhecimento da união de


facto produz, o legislador entendeu que deve ser feito pela via judicial.

- Legitimidade para a acção (art.º 123.º CF.): em caso de morte, tem


legitimidade o companheiro sobrevivo, o seu representante legal ou os
herdeiros do companheiro falecido, pois ao contrário do que se passa com
a acção de divórcio, esta acção não se extingue com a morte. Em caso de
ruptura, por qualquer dos companheiros ou pelo respectivo representante
legal.

3
MD

- Prezo de propositura da acção e formalismo processual (124.º


CF.): o prazo de dois anos, sob pena de caducidade. Este prazo conta-se
a partir do fim da união.

- Efeitos do reconhecimento: em princípio os efeitos são os mesmos


do casamento por morte e no caso de ruptura os de por divórcio. Salvo
no que respeita os efeitos de natureza pessoal do casamento que aqui não
se chegam a verificar (nome, afinidade, nacionalidade). Já em relação aos
filhos aplica-se por inteiro o art.º 147.º CF.

No campo das relações patrimoniais os efeitos são praticamente os


mesmos. Há o direito à partilha dos bens comuns adquiridos a título
oneroso durante a união, a responsabilidade pelo passivo também é a
mesma, assim como a atribuição da residência familiar, art.º 75.º CF. As
regras aplicáveis do direito sucessório e do direito a alimentos são
igualmente as previstas da dissolução de casamento por morte, art.º
261.º, n.º 1 e 2. A decisão de reconhecer a união de facto dissolvida tem
de ser registada, art.º 126.º CF.

Atendimento à união de facto que não preencha os


pressupostos legais

No caso de união de facto que não pode ser reconhecida, pois não
preenche os requisitos legais, ela poderá ser atendida, não a produzir os
efeitos na sua plenitude, mas produzir alguns efeitos restritos, previstos
no n.º 2, art.º 113.º CF., e ainda o efeito presunção de paternidade do
companheiro, art.º 168.º al. b) CF., e ainda à questão do enriquecimento
ilícito que corresponde ao enriquecimento sem causa.

Relativamente a terceiros, a união de facto, também produz efeitos


patrimoniais, pois deve haver responsabilidade solidária quanto às
dívidas contraídas por qualquer um deles para satisfazer encargos
familiares ou em proveito comum do casal; é a chamada teoria da
aparência do casal que se comporta na sociedade como se o fosse, por tal
deve suportar os riscos de tal comportamento.

Você também pode gostar