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ISSN 2358-5145

um benefício para o cliente TECSA M AG AZ I NE


Número 13, 2016

CARDIOLOGIA VETERINÁRIA
INOVAÇÕES E AVANÇOS

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Publicação e distribuição treinamento
própria de periódico “In company”
técnico-científico
EDITORIAL

O mês de setembro traz muitas celebrações.


É o mês de comemorarmos o Dia deste profissional tão importante e dedicado: o Médico Veterinário! Parabéns a todos que fazem
desta profissão um mecanismo de transformação da realidade de nossos PETS, através de um trabalho ético e que privilegia a
PREVENÇÃO e a Educação para a Saúde.

O TECSA Laboratórios tem uma novidade para você que, assim como nós, ama prevenir. Neste Setembro Vermelho em que
chamamos a atenção para as doenças do Coração, criamos um perfil especial de exames laboratoriais veterinários. Aproveite e
faça um Check-up Cardiorrenal em seus pacientes. Prevenir é ainda a maior arma contra todo e qualquer mal. Com o diagnóstico
precoce você melhora a qualidade de vida de seus pacientes e isto é amor e dedicação! Entre nesta campanha e exerça com
inovação a sua profissão.

PERFIL CARDIORRENAL - CÓD 856:


· HEMOGRAMA COMPLETO
· CPK - CREATINOFOSFOQUINASE
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· UREIA
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· TRIGLICÉRIDES
· FOSFATASE ALCALINA

Neste mês também comemoramos a Independia do Brasil e isto não é pouca coisa. Não existe nada mais importante para um Pais,
do que sua independência e sua autonomia. Valorizemos nosso Brasil, nossa ciência, nossa tecnologia e nossa soberania. Apoie a
empresa brasileira que, como você, conhece suas necessidades e sua realidade.

Luiz Ristow Afonso Perez


Prezado colega,

O TECSA Laboratórios e a sua parceira suíça, HESKA - líder mundial


em Imunoterapia contra alergias – com o compromisso de INOVAR
e trazer TECNOLOGIA DE PONTA, comunicam mais uma novidade:

Os alérgenos Blomia tropicalis e Malassezia


pachydermitis agora estão disponíveis para
inclusão nos tratamentos imunoterápicos de
seus pacientes!

São itens extremamente importantes na formulação das vacinas


imunoterápicas, uma vez que esses alérgenos são frequentemente
encontrados nos testes de alergia como um dos principais causa-
dores da Dermatite atópica nos animais domésticos (gráfico 1).

Gráfico 1: Levantamento realizado pelos pesquisadores do TECSA Laboratórios


com 1150 amostras, onde foram observados 47% de animais com hipersensibilida-
de à Blomia tropicalis e 28% a Malassezia pachydermitis.

TECSA: sinônimo de INOVAÇÃO e Dr. Luiz Eduardo Ristow


respeito ao Médico Veterinário! Diretor Técnico - RT | CRMV-MG 3708

(031) 3281-0500 (031) 99156-0580 sac@tecsa.com.br tecsa.com.br/chat www.tecsa.com.br TECSALaboratorios


ÍNDICE

27. DERMATOLOGIA 33. MED. LAB. DE FELINOS


06. CARDIOLOGIA 27. ALOPECIA X 33. DOENÇA DE PELE AUTOIMUNE:
06. SÍNDROME BRAQUICEFÁLICA E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO CORAÇÃO 29. GRANULOMAS E PIOGRANULOMAS: DIAGNÓSTICO EM FELINOS
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E
09. CARDIOMIOPATIA INDUZIDA PELA DOXORRUBICINA
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL EM
12. TRATAMENTO DE BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR GATOS
COMPLETO POR IMPLANTE DE MARCAPASSO NA 31. DERMATITE ALÉRGICA POR
MALASSEZIA
PAREDE VENTRICULAR ESQUERDA EM CÃO
14. ELETROCARDIOGRAFIA AMBULATORIAL (HOLTER) EM CÃES E GATOS
18. EXISTE DOENÇA DE CHAGAS EM CÃES?
20. BIOMARCADORES CARDÍACOS: FERRAMENTA
AUXILIAR DE DIAGNÓSTICO
22. LINFOMA INTRAVASCULAR IMUNOFENOTIPO T EM
CÃO (CANIS FAMILIARIS) - RELATO DE CASO

Colaboraram neste número: 36. ENDOCRINOLOGIA 37. LEISHMANIOSE


Dr. Frederico Miranda Pereira, Dr. Guilherme Stancioli, Dr. João Paulo Franco, Dr. João 36. HIPOADRENOCORTICISMO: 37. NOVOS DESAFIOS NA QUALIDADE
ENFERMIDADE RARA OU SUB- DE VIDA DOS ANIMAIS INFECTADOS
Paulo Fernandez Ferreira, Dr. Luiz Eduardo Ristow, Dra. Isabela de Oliveira Avelar, DIAGNOSTICADA EM NOSSO MEIO? POR LEISHMANIOSE VISCERAL
Dr. Alexandre Augusto A. Torres, Dr. Eduardo Maia, Dra. Dyeme Ribeiro de Souza,
Dra. Rebeca Quintão Carneiro, Dra. Isabela Azevedo Ribeiro Meirelles Carvalho. Todos
membros da Equipe de Médicos Veterinários do TECSA Laboratórios. Além do Médico
Patologista Dr. Afonso Alvarez Perez Jr.

Contribuíram também para este número os renomados Professores:


Dr. James Newton Bizzeto Meira de Andrade, Dr. Fábio Nelson Gava, Dr. Aparecido
Antônio Camacho, Dr. Roberto Navarete Ampuero, Dra. Gleidice Eunice Lavalle, Dr. Luiz
Alberto do Lago, Dra. Marília Martins Melo, Dr. Rubens Antônio Carneiro, Dr. Tiago 42. NUTRIÇÃO
Sillas , Dr. Julio Ken Nagaahima, Dr. João Paulo Pereira Amadio, Dr. David Powolny, Dr. 42. NUTRIÇÃO ANIMAL
George Ronald Soncini da Rosa, Dr. Alxandre Bastos e Dr. Fábio dos Santos Nogueira.

Artigos de Cardiologia organizados por:


Dr. Marthin Raboch Lempek
MV - Residência em Clínica Médica na UFMG. Mestrando em
Medicina e Cirurgia Veterinárias com ênfase em Toxicologia
Cardiovascular e Toxicologia Renal, na UFMG. Membro do
CBNUV e da SBCV

Obs.: os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam necessariamente, a visão e opinião do TECSA Laboratórios.

EXPEDIENTE
Editores/Publishers: CIRCULAÇÃO DIRIGIDA
Dr. Luiz Eduardo Ristow . CRMV-SP 5560S . CRMV-MG 3708 . ristow@tecsa.com.br A revista VetScience® Magazine é uma publicação do Grupo TECSA dirigida somente
Dr. Afonso Alvarez Perez Jr. . afonsoperez@tecsa.com.br aos médicos veterinários, como parte do Projeto JORNADA DO CONHECIMENTO,
Equipe de Médicos Veterinários TECSA . tecsa@tecsa.com.br criado pelo mesmo. Este projeto visa a universalização do conhecimento em Medicina
Laboratorial Veterinária. A periodicidade é Bimestral, com artigos originais de pesquisa
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ISSN: 2358-1018
CARDIOLOGIA

SÍNDROME BRAQUICEFÁLICA E SUAS


CONSEQUÊNCIAS NO CORAÇÃO
James Newton Bizzeto Meira de Andrade (Médico Veterinário, jamescardio@terra.com.br)
Marthin Raboch Lempek (Médico Veterinário, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG)

Introdução colapso laríngeo, com risco de morte As principais raças são as


Enfermidades obstrutivas como (MEOLA, 2013). braquicefálicas, incluindo Buldogues,
síndrome braquicefálica podem causar Boston terrier, Pug, Maltês, Shi Tzu,
hipóxia crônica e esta por sua vez pode Boxer, Yorkshire, Pinscher, Chiuaua
levar a alterações cardíacas. O presente e gatos Persa e Himalaias (MEOLA,
trabalho revisa os principais aspectos 2013). Não há predileção sexual e a
clínicos dessas enfermidades e suas maioria manifesta sinais entre dois
consequências no sistema cardiovascular. e três anos de idade (HEDLUND,
2002). Entretanto temos observado
Síndrome Braquicefálica sinais mesmo antes dos seis meses de
A síndrome braquicefálica é composta idade, compostos por roncos, estridores,
por alterações anatômicas primárias e espirros, espirros reversos e dificuldade
secundárias que levam a obstrução das respiratória. Narinas estenosadas são
vias aéreas superiores. As primárias encontradas na maioria dos casos
correspondem a estreitamento de de síndrome braquicefálica (17-
narinas, prolongamento do palato mole 77%), seguida por prolongamento do
(Fig. 1), hipoplasia traqueal e turbinados palato mole (62 a 100%). Turbinados
nasofaríngeos. As secundárias nasofaríngeos foram encontrados em
correspondem principalmente ao edema 21% dos casos (GINN et al., 2008,
laríngeo, eversão de tonsilas e de sáculos FASANELLA et. al., 2010). Já a
laríngeos e graus mais avançados de Figura 1: Cão da raça Pug, com prolongamento hipoplasia traqueal é menos comum,
do palato mole (seta amarela).

6
CARDIOLOGIA

apresentando-se em cerca de 13% dos


casos de síndrome braquicefálica, sendo
mais comum em buldogues. A traquéia
é considerada hipoplásica quando seu
diâmetro dividido pelo diâmetro da
entrada do tórax (este corresponde
à distância entre o manúbrio e a
primeira vértebra torácica) for menor
do que 0,16 (ARON, 1985). As narinas
correspondem a cerca de 80% de toda
a resistência ao fluxo aéreo, tanto na
inspiração quanto na expiração (Fig.
2). Pela lei física de Poiseuille, uma
redução em 50% no diâmetro de
um tubo irá aumentar em 16 vezes a
resistência ao fluxo, ou seja, a pressão
negativa e, consequentemente, o
esforço inspiratório, no caso das vias
aéreas superiores. Isso leva às alterações
secundárias, como eversão dos sáculos
laríngeos e das amídalas e colapso
laríngeo, podendo também levar
ao colapso bronquial. O excesso de
pressão negativa provoca o ronco, cuja
intensidade aumenta com a gravidade
das lesões (FASANELLA ET AL.,
2010).
O prolongamento do palato mole (laringoscopia ou avaliação laríngea
muitas vezes acompanha a estenose das digital, por exemplo), permitirá
narinas e é responsável pelo ronco ou determinar a presença concomitante
estridor, devido a sua projeção à laringe e à de colapso laríngeo e a determinação
pressão negativa. Os animais acometidos de seu grau, bem como a avaliação
costumam apresentar hipoxemia (PaO2 das amídalas e das demais estruturas
em torno de 80 mmHg). Além da adjacentes (FASANELLA et al., 2010).
dificuldade respiratória, a eliminação O tratamento clínico é apenas paliativo
de calor se torna comprometida e os e envolve o uso de antiinflamatórios
animais tornam-se hipertérmicos. e sedativos, especialmente quando
Figura 2: Cão, macho, da raça Pug
com estenose bilateral de narinas.
Também podem desenvolver edema em crises de estresse respiratório.
pulmonar agudo não cardiogênico, por Independentemente de se instituir a
O tratamento das narinas estenosadas mecanismos ainda não completamente terapia cirúrgica, o controle do peso
é a rinoplastia em cunha (Fig 3), na elucidados (WYKES, 1991). Vale está sempre indicado na síndrome
qual se preserva a figura anatômica das ressaltar que até 93% dos cães braquicefálica. Coleiras de pescoço
narinas, ampliando-se, no entanto, os acometidos pela síndrome braquicefálica devem ser evitadas para passeios,
orifícios nasais (FASANELLA et al., podem apresentar distúrbios sendo recomendados os peitorais.
2010). gastrointestinais, como hérnia de hiato, O tratamento cirúrgico é curativo e
estenose de piloro, esofagite e gastrite consiste na retirada cirúrgica do excesso
e duodenite, possivelmente devido aos de tecido (FASANELLA et al., 2010).
efeitos da pressão negativa gerada pela O colapso laríngeo é consequência do
obstrução. Apneia do sono também agravamento das lesões provocadas
poderá ser observada (FASANELLA et pela síndrome braquicefálica, devido
al., 2010). O diagnóstico é estabelecido ao excesso de pressão negativa pelo
pela inspeção da cavidade oral, muitas esforço respiratório, causado pelas
vezes necessitando de sedação ou obstruções. De acordo com a gravidade
Figura 3: Cão, macho, da raça Pug, no pós
anestesia leve. Avaliação completa pode ser de três graus, observados por
operatório imediato de rinoplastia bilateral. da cavidade oral, faringe e laringe laringoscopia direta ou endoscopia: o

7
CARDIOLOGIA

confundir com outras cardiopatias e


instituir terapia inadequada, com base
apenas na cardiomegalia observada nas
radiografias.

EXAMES REALIZADOS PELO


TECSA LABORATÓRIOS

CÓD - EXAME PRAZO/DIAS

99 - CPK
CREATINOFOSFOQUINASE 1

865 - PERFIL CHECK UP


grau I corresponde à eversão dos sáculos ventricular direita, podendo levar a CARDIO - RENAL 2
laríngeos, o grau II, ao deslocamento sinais de insuficiência cardíaca direita,
medial e aproximação dos processos como ascite e pulso jugular (ALLEN,
corniculados das aritenóides (o que leva 2002, FASANELLA et al., 2010). Nas
ao fechamento da rima glotidis, ou seja, radiografias, a cardiomegalia é evidente, 111 - TGO (AST) 1
da glote) e o grau III corresponde ao devido ao aumento nas câmaras direitas.
colapso do processo corniculado, com O ecocardiograma revelará sinais de
perda do arco dorsal da rima glotidis hipertensão pulmonar, como hipertrofia
(WYKES, 1991). da parede do ventrículo direito, 288 - LDH - DESIDROGENASE LATICA 2
O colapso de grau I é tratado achatamento do septo intervetricular,
cirurgicamente, pela ressecção dos distensão da artéria pulmonar e a
sáculos evertidos, associada a correção pressão arterial pulmonar poderá ser
331 - PERFIL ELETROLITICO 1
das demais alterações da síndrome estimada através do jato de regurgitação
braquicefálica (WYKES, 1991). O tricúspide. Pressões entre 30 e 50 mmHg
colapso de grau II deve ser tratado com determinam hipertensão pulmonar leve,
a abertura permanente da glote, por entre 50 e 70 mmHg, moderada, e acima 788 - CHECK UP GLOBAL
DE FUNCOES COM HEMOGRAMA 1
meio de lateralização aritenoidea, com de 70 mmHg evidenciam hipertensão
bons resultados (TORREZ, 2006). Já o pulmonar severa (WYKES, 1991). O
colapso de grau III pode levar à morte e tratamento da hipertensão pulmonar
necessita de traqueostomia permanente se dá mediante o Citrato de Sildenafila
357 - PESQUISA DE DIROFILARIOSE 1
(WYKES, 1991). (1 mg/kg, oral,12/12 horas) e deve-se
tratar a causa respiratória obstrutiva de
Consequências cardíacas da base (MEOLA, 2013).
síndrome braquicefálica
Por definição, o cor pulmonale Considerações Finais Referências Bibliográficas
MEOLA, S. Brachycephalic airway syndrome. Topics in Companion Animal
é uma doença do coração direito São diversas as doenças respiratórias Medicine, v. 28, p. 91-96, 2013.

(hipertrofia ou dilatação ventricular obstrutivas em animais e na grande HEDLUND, C.S. Surgery of the upper respiratory system. In: FOSSUM, T.
W. Editor. Small Animal Surgery, 2nd ed, St Louis: Mosby, 2002. p. 716-748.
direita), secundária à hipertensão maioria das vezes manifestam-se por GINN, J. A.; KUMAR, M.S.A.; BRENDAN C. McKIERNAN, B.C;

pulmonar associada à doença vascular meio de ronco, os quais jamais devem ser POWERS, B. E. Nasopharyngeal Turbinates in brachycephalic dogs and
cats. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 44, n.5, p.
ou respiratória (ALLEN, 2002). considerados normais. As enfermidades 243-249, 2008.
FASANELLA,  F. J.; SHIVLEY, J. M.; WARDLAW, J. L. Brachycephalic
Enfatizaremos no presente artigo apenas podem levar a consequências airway obstructive syndrome in dogs: 90 cases (1991-2008). Journal of the

as causas respiratórias. As doenças cardiovasculares importantes, American Veterinary Medical Association, v. 237, n. 9, p. 1048-1051, 2010.
ARON, D.N.; CROWE, D.T. Upper airway obstruction general principles
respiratórias obstrutivas crônicas, como como a hipertensão pulmonar e o and selected conditions in the dog and cat. Veterinary Clinics of North
America: Small Animal Practice, v. 15, n. 5, p. 891-917, 1985.
a síndrome braquicefálica, induzem à cor pulmonale, cujo prognóstico é WYKES, P.M. Brachycephalic airway obstructive syndrome. Problems in

hipóxia crônica alveolar e consequente reservado. A terapia precoce evita essa Veterinary Medicine, v. 3, p. 188-197, 1991.
TORREZ, C.V.; HUNT, G.B. Results of surgical correction of abnormalities
vasoconstrição arterial pré-capilar consequência, melhorando a qualidade associated with brachycephalic airway obstruction syndrome in dogs in

crônica, levando a hipertensão pulmonar, de vida e aumentando a sobrevida dos Australia. Journal of Small Animal Practice, v. 47, n. 3, p. 150-154, 2006.
ALLEN, D. G.; MACKIN, A. Cor Pulmonale. In TILLEY, L.P.
que por sua vez induz à hipertrofia pacientes. Deve-se atentar para não se GOODWIN, J.K. 3a ed. Sao Paulo: Roca, 2002, p. 185-202.

8
CARDIOLOGIA

CARDIOMIOPATIA INDUZIDA
PELA DOXORRUBICINA
Fábio Nelson Gava
(Pós-Doutorando no Departamento de Fisiologia, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP)
Aparecido Antônio Camacho
(Professor no Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal - UNESP)

Introdução cães e em seres humanos (MEURS, O´GRADY & O´SULLIVAN, 2004;


O presente artigo de revisão tem como 1998; MEURS et al., 2001). Ocorre WARE, 2006). O diagnóstico da
objetivo informar sobre a importância dilatação das câmaras ventriculares com doença baseia-se no histórico clínico,
do acompanhamento dos pacientes consequente quadro de insuficiência exame físico, achados radiográficos,
veterinários submetidos ao tratamento valvar atrioventricular bilateral. Com eletrocardiográficos e principalmente
quimioterápico com doxorrubicina, uma o progresso da doença, ocorre fibrose, ecodopplercardiográficos. Ao exame
vez que esse fármaco é tóxico para os edema intersticial e alargamento das físico, além dos achados de ICC
cardiomiócitos e pode levar a dilatação fibras miocárdicas, com piora do quadro esquerda e direita, alterações do ritmo
das câmaras cardíacas, diminuição de de deformidade geométrica das câmaras cardíaco e sopro podem ser auscultados.
contratilidade e insuficiência cardíaca ventriculares e insuficiência valvar Os achados radiográficos consistem
congestiva. (SISSON et al.,1999; O´GRADY & em: cardiomegalia, distensão de
O´SULLIVAN, 2004). Observa-se veias pulmonares, edema pulmonar,
Cardiomiopatia dilatada também, comprometimento gradual efusão pleural e pericárdica, ascite e
As enfermidades que afetam o dos processos metabólicos celulares hepatoesplenomegalia (SISSON et
miocárdio são denominadas de envolvidos no transporte do íon al.,1999; CAMACHO, 2007). As
cardiomiopatias. Essas doenças cálcio, gerando o seu acúmulo nas principais alterações ecocardiográficas
estão relacionadas com disfunção mitocôndrias. A respiração celular fica encontradas na CMD são: dilatação das
miocárdica e são causas importantes de prejudicada, predispondo às arritmias câmaras cardíacas, hipocinesia do septo
insuficiência cardíaca congestiva (ICC). cardíacas (MEHVAR & BROCKS, e da parede ventricular, diminuição
A cardiomiopatia dilatada (CMD) é a 2001; WARE, 2006; CAMACHO, das frações de encurtamento e ejeção,
afecção do miocárdio de maior incidência 2007). Como ICC esquerda e direita aumento da relação átrio esquerdo/
em cães, caracterizada pelo aumento das geralmente estão presentes, os sinais aorta e aumento da distância do
câmaras cardíacas e disfunção sistólica clínicos variam. Os animais podem ponto E da valva mitral ao septo
(MEURS, 1998; SISSON et al., 1999). apresentar fraqueza, letargia, anorexia, interventricular. Insuficiência das
A etiologia continua incerta e especula- taquipnéia ou dispnéia, intolerância valvas atrioventriculares pode ser
se que fatores genéticos, nutricionais, ao exercício, tosse, cianose e edema detectada com o uso do Doppler
infecciosos, isquêmicos, tóxicos, pulmonar nos casos de ICC esquerda. (BOON, 1998; SISSON et al.,1999;
metabólicos ou a combinação desses Efusão pleural e pericárdica, ascite, GARNCARZ, 2007). Dentre os
estejam envolvidos (CAMACHO, hepatoesplenomegalia, distensão de principais achados anatomopatológicos,
2007). Estudos demonstram que fatores pulso jugular e edema de membros encontram-se aumento de câmaras
genéticos assumem grande importância posteriores são característicos de cardíacas, palidez e adelgaçamento do
no desenvolvimento da doença em ICC direita (SISSON et al.,1999; miocárdio, músculos papilares atróficos

9
CARDIOLOGIA

e hipertrofia ventricular excêntrica. A motivo de investigação científica, porém A origem dos efeitos tóxicos
análise histopatológica pode revelar sabe-se que provoca o desencadeamento provocados pela doxorrubicina no
degeneração miocárdica com miocitólise, de vários efeitos bioquímicos que miocárdio ainda permanecem obscuros.
vacuolização e atrofia dos miócitos e desempenham papel importante quanto Acredita-se que a cardiotoxicidade
necrose miocárdica, principalmente à terapêutica e a toxicidade. É capaz decorra da formação de radicais livres,
na base dos músculos papilares, septo de afetar a síntese de ácidos nucléicos, com reações de peroxidação. A liberação
ventricular e subendocárdio da parede por inibição da DNA-polimerase e da de superóxidos propicia a conversão dos
livre do ventrículo esquerdo (Tidholm RNA-polimerase, intercalando-se entre ácidos graxos insaturados da membrana
& Jönsson, 2005; CAMACHO, 2007). os pares de nucleotídeos adjacentes do celular miocárdica em peróxidos
O tratamento do paciente portador de DNA, com modificação da estrutura lipídicos, resultando em alterações
CMD consiste em controlar os sinais do cromossomo. Além disso, sabe-se estruturais no miócito, com formação
de insuficiência cardíaca congestiva, que a doxorrubicina causa apoptose de vacúolos e atrofia progressiva das
melhorar o débito cardíaco, controlar das células neoplásicas (DAGLI & miofibrilas. Sabe-se que a doxorrubicina
as arritmias, melhorando a qualidade de LUCAS, 2006; YANG et al., 2013). pode desencadear liberação de histamina,
vida. Assim, torna-se necessário o uso de Contudo, sua utilização crônica nos metabólitos do ácido araquidônico
diuréticos, vasodilatadores (inibidores protocolos quimioterápicos, pode e fator de ativação plaquetário,
da enzima conversora de angiotensina), gerar uma cardiomiopatia, semelhante contribuindo para progressão de lesões
antiarrítmicos e agentes inotrópicos a cardiomiopatia dilatada descrita no miocárdio. Tais alterações resultam
positivos (WARE, 2006; CAMACHO, anteriormente. Microscopicamente, as em dilatação cardíaca, remodelamento
2007). lesões miocárdicas encontradas em cães do músculo cardíaco e perda da
e humanos tratados com doxorrubicina capacidade contrátil. (SUSANECK,
Cardiomiopatia dilatada também são caracterizadas por 1983; TOMLINSON et al., 1985;
induzida pela doxorrubicina degeneração vacuolar, atrofia dos SOUSA, 2007). Os sinais clínicos de
A doxorrubicina possui atividade cardiomiócitos, necrose, infiltrado pacientes com cardiomiopatia induzida
quimioterápica em diversas neoplasias, mononuclear, fibrose e infiltração pela doxorrubicina são os mesmos
apresentando largo espectro de ação, adiposa (MAUDLIN et al., 1992; descritos para a cardiomiopatia dilatada
especialmente em sarcomas de tecidos GAVA et al., 2013). Gava et al. (2013) e consistem em sinais de insuficiência
moles, osteossarcoma, leucemias, demonstraram as alterações geradas cardíaca esquerda e até mesmo, direita.
linfomas, carcinomas e tumor pela doxorrubicina, em miocárdio de Devido ao prognóstico reservado dessa
venéreo transmissível (DIAS et al., coelhos tratados com esse fármaco, por cardiomiopatia, o acompanhamento
1997; DAGLI & LUCAS, 2006).O diferentes métodos, como a microscopia ecocardiográfico dos pacientes que
mecanismo preciso de ação antitumoral eletrônica de varredura (Figura 1). serão submetidos ao tratamento
desse fármaco é complexo e ainda com doxorrubicina é extremamente
importante

Acompanhamento do paciente
submetido ao tratamento
com doxorrubicina
Já foi descrita uma cardiotoxicidade
aguda da doxorrubicina, principalmente
em humanos, caracterizada pela
ocorrência de arritmias imediatamente
após a administração do fármaco. Porém,
em animais, essa cardiotoxicidade aguda
parece não ser uma preocupação. O
problema concentra-se no uso crônico
da doxorrubicina, onde os pacientes
veterinários podem desenvolver a
insuficiência cardíaca congestiva,
fazendo com que o Médico Veterinário
se preocupe com a função cardíaca do
Figura 1: Micrografia eletrônica de varredura de miocárdio de coelhos. A: Ventrículo esquerdo de animal paciente que será submetido a várias
do grupo controle (não tratado com doxorrubicina). Notar a distribuição uniforme e alinhada das fibras
musculares cardíacas. (500x); B: Ventrículo esquerdo de coelho submetido ao tratamento com doxorrubicina. aplicações de doxorrubicina. Silva e
Notar a fragmentação e desorganização dos cardiomiócitos, formando espaços-vazios entre as fibras Camacho (2005) demonstraram que
musculares (500x).

10
CARDIOLOGIA

os índices ecocardiográficos de função caracterizada por dilatação das


sistólica já reduzem a partir da quarta câmaras cardíacas e disfunção
administração da doxorrubicina em sistólica. Para evitar a evolução para
cães, quando utilizada na dose de 30 mg/ um quadro de insuficiência cardíaca
m2, mesmo respeitando os intervalos congestiva secundária ao tratamento
de 21 dias entre as aplicações. Isso quimioterápico, o Médico Veterinário
demonstra a importância da realização deverá solicitar o acompanhamento
da ecocardiografia antes da primeira ecocardiográfico desses pacientes
administração e se possível, durante todo durante o tratamento antineoplásico.
o tratamento com o fármaco. O clínico
deverá se preocupar em comparar os
valores das frações de encurtamento e Referências Bibliográficas
BOON, J. A. Manual of veterinary echocardiography. Baltimore : Williams
ejeção (principalmente), com os valores & Wikins, 1998. 478 p.

de normalidade desses índices para a CAMACHO, A. A. Cardiomiopatia dilatada congestiva canina. In:
BELERENIAN, G. B.; MUCHA, C. J.; CAMACHO, A. A.; GRAU,
espécie, mas também comparar com o J. M. Afecciones Cardiovasculares em Pequeños Animales. 2.ed. Ciudad
Autônoma de Buenos Aires: Inter-Médica, 2007. p. 281-288.
momento basal (exame realizado antes EXAMES REALIZADOS PELO
DAGLI, M. L. Z.; LUCAS, S. R. R. Agentes antineoplásicos. In: SPINOSA,
TECSA LABORATÓRIOS
da primeira aplicação de doxorrubicina) H. S.; GÓRNIAK, S. L., BERNARDI, M. M. Farmacologia aplicada à
medicina veterinária. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 667-
do mesmo animal. Quedas nesses valores 686.
DIAS, M. A.; SANTANA, A. E.; DAL FARRA, M. C. T. ; CAMACHO,
podem contraindicar a administração do A. A. Study of the central and peripheral hematologic profile in normal dogs

quimioterápico, devendo ser considerada treated with doxorubicin (adriblastina). Brazilian Journal of Morphological
Sciences, São Paulo, v.14, n.2, p. 235-241, 1997.
uma nova terapia antineoplásica. GARNCARZ, M. A. Echocardiographic evaluation of diastolic parameters

Com isso, recomenda-se uma avaliação CÓD - EXAME PRAZO/DIAS in dogs with dilated cardiomyopathy. Polish Journal of Veterinary Sciences,
Olsztyn, v. 10, n. 4, p. 207-215, 2007.
ecocardiográfica basal (antes da primeira GAVA, F. N. ZACCHÉ, E; ORTIZ, E. M. G, CHAMPION, T.;
BANDARRA, M. B.; BARBOSA, J. C.; VASCONCELOS, R. O. V.;
administração de doxorrubicina) 99 - CPK
1 CAMACHO, A. A. Doxorubicin induced dilated cardiomyopathy in a rabbit

e sempre antes das próximas CREATINOFOSFOQUINASE model: an update. Research in Veterinary Science, London, v. 94, n. 1, p. 115-
121, 2013.
administrações. Caso não exista essa MAUDLIN, G. E.;   FOX, P. R.;  PATNAIK, A. K.;  BOND, B.
R.; MOONEY, S. C.; MATUS, R. E. Doxorubicin-induced cardiotoxicosis:
possibilidade, é aceitável a realização de clinical features in 32 dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine,

uma avaliação basal e uma antes da quarta 865 - PERFIL CHECK UP


2
Lawrence, v. 6, n. 2, p. 82-88, 1992.

administração do fármaco, bem como CARDIO - RENAL MEHVAR, R.; BROCKS, D. R. Stereospecific pharmacokinetics and
pharmacodynamics of beta-adrenergic blockers in humans. Journal of

em todas as próximas administrações, Pharmacology Pharmaceutic Science, v. 4, n. 2, p. 185-200, 2001.


MEURS, K. M. Insights into the hereditability of canine cardiomyopaty. The
caso sejam necessárias. Essa segunda Veterinary Clinics of North America Small Animal Practice, Philadelphia, v.
28, n. 6, p. 1449-1458, 1998.
possibilidade é baseada no fato da 111 - TGO (AST) 1 Meurs, K. M.;  Magnon, A. L.; Spier, A. W.; Miller, M. W.; Lehmkuhl, L.

maioria dos animais desenvolverem B.; Towbin, J. A. Evaluation of the cardiac actin gene in Doberman pinschers
with dilated cardiomyopathy. Journal of Veterinary Internal Medicine,
disfunção sistólica somente após a Lawrence, v. 62, n. 1, p. 33-36, 2001.
O’GRADY, M. R.; O’SULLIVAN, M. L. Dilated cardiomyopathy: an
quarta administração, porém, sabe- update. The Veterinary Clinics of North America – Small Animal Practice,

se que alguns podem desenvolvê-la 288 - LDH - DESIDROGENASE LATICA 2


Philadelphia, v. 34, p. 1187-1207, 2004.
SILVA, C. E. V.;  CAMACHO, A. A. Alterações ecocardiográficas em
antes, e a terapia com doxorrubicina cães sob tratamento prolongado com doxorrubicina. Arquivo Brasileiro de

já não seria recomendada. No caso Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 57, n. 3, p. 300-306,
2005.
do desenvolvimento de insuficiência SISSON, D.; O’GRADY, M. R.; CALVERT, C. A. Myocardial diseases of
dogs. In: FOX, P. R.; SISSON, D.; MOISE, N. S. Textbook of canine and
cardíaca congestiva por doxorrubicina, 331 - PERFIL ELETROLITICO 1 feline cardiology. 2.ed. Philadelphia: W.B. Saunders, 1999. p. 582-619.

o tratamento quimioterápico com esse SOUSA, M. G. Função cardíaca de cães submetidos ao transplante autólogo
de células tronco hematopoiéticas em dois modelos experimentais de
fármaco deverá ser interrompido e a cardiomiopatia. 2007. 128f. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária -
Clínica Médica de Pequenos Animais) – Faculdade de Ciências Agrárias e
terapia para o controle da ICC deverá Veterinárias –UNESP, Jaboticabal, São Paulo, 2007.

ser instituída, na dependência do 788 - CHECK UP GLOBAL


DE FUNCOES COM HEMOGRAMA 1 SUSANECK, S.J. Doxorrubicin therapy in the dog. Journal of the American
Veterinary Medical Association, Schaumburg, v. 182, n. 1, p. 70-72, 1983.
estágio em que o paciente se apresenta. TIDHOLM, A.; JÖNSSON, L. Histologic characterization of canine

O quão comprometido esse paciente dilated cardiomyopathy. Veterinary Pathology, Basel, v. 42, n.1, p. 1-8, 2005.
TOMLINSON, C. W.; GODIN, D. V.;  RABKIN, S. W. Adriamycin
irá ficar, dependerá da quantidade de cardiomyopathy: implications of cellular changes in a canine model with mild
impairment of left ventricular function. Biochemical Pharmacology, Oxford,
cardiomiócitos saudáveis residuais. Esses 357 - PESQUISA DE DIROFILARIOSE 1 v. 34, n. 22, p. 4033-4041, 1985.

pacientes devem ser acompanhados por WARE, W. A. Doenças Miocárdicas do Cão. In: NELSON, R. W.;
COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. 2. ed. São Paulo:
um cardiologista veterinário. Elsevier, 2006. p. 103-117.
YANG, F.;  CHEN, H.;  LIU, Y.;  YIN, K.  WANG, Y.;  LI,
X.;  WANG, G.;  WANG, S.;  TAN, X.;  XU, C.;  LU, Y.;  CAI, B.

Conclusões Doxorubicin  Caused  Apoptosis  of Mesenchymal Stem Cells via p38, JNK
and p53 Pathway. Cellular Physiology and Biochemistry: International
Pacientes submetidos ao tratamento Journal of Experimental Physiology, Biochemistry and Pharmacology, Basel,

crônico com doxorrubicina podem v. 32, n. 4, p. 1072-1082, 2013.

desenvolver cardiomiopatia,

11
CARDIOLOGIA

TRATAMENTO DE BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR


COMPLETO POR IMPLANTE DE MARCAPASSO NA
PAREDE VENTRICULAR ESQUERDA EM CÃO
James Newton Bizzeto Meira de Andrade 1 ; Marthin Raboch Lempek 2 ; Thiago Sillas 3 ;
Julio Ken Nagashima 3 ; João Paulo Pereira Amadio 3 ; David Powolny 3 ; George Ronald Soncini da Rosa 4 .
1 Médico Veterinário, jamescardio@terra.com.br
2 Médico Veterinário, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
3 Médico Veterinário, Clinivet Hospital Veterinário.
4 Médico, Cirurgião Cardiovascular.

Resumo trabalho possui como objetivo relatar pericardiotomia e implante do eletrodo


O bloqueio atrioventricular de terceiro um caso de um cão com bloqueio na parede ventricular esquerda, por
grau é caracterizado por não permitir atrioventricular de terceiro grau, rosqueamento. O gerador de impulsos
que nenhum impulso proveniente do submetido à implante de marcapasso na (Entoves DR-T - Biotronik®) foi
nodo S-A ou nodo A-V passe para os parede ventricular esquerda. implantado no tecido subcutâneo em
ventrículos. O objetivo deste trabalho é região interescapular (Fig. 1, 2 e 3).
relatar um caso de um cão com bloqueio Descrição do Caso
atrioventricular de terceiro grau, Cão, fêmea, SRD, de
submetido à implante de marcapasso na aproximadamente 13 anos de idade,
parede ventricular esquerda. encontrado na rua, foi trazido
Palavras-chave: Bloqueio para avaliação devido a caquexia,
atrioventricular, marcapasso, cão. desequilíbrio e fraqueza. Ao exame físico
observou-se estado geral debilitado,
Introdução bradicardia importante e persistente.
Figura 1: Gerador de impulsos Entoves DR-T -
Os bloqueios atrioventriculares O eletrocardiograma confirmou Biotronik®.
são classificados em três graus. Nos bloqueio atrioventricular completo
bloqueios de primeiro grau não há com frequência cardíaca média de 26
necessidade de tratamento e raramente batimentos por minuto (bpm). Foi
se detecta a doença, pois o animal instituído tratamento suporte com
não apresenta sinais clínicos; já, nos repouso absoluto, antibioticoterapia
de segundo grau, principalmente em com amoxicilina e clavulanato de
estágios mais avançados, é necessária potássio. A reposição nutricional foi
em alguns casos até mesmo a realizada, com melhora significativa do
implantação de marcapasso artificial estado geral, entretanto os episódios de
Figura 2: Implante do eletrodo na parede
(ETTINGER, 1992; FINGEROTH, fraqueza associados a atividade física ventricular esquerda, por rosqueamento.
1994). O bloqueio atrioventricular de persistiram conforme esperado. A
terceiro grau, também denominado melhora do estado geral possibilitou a
completo ou total, é caracterizado por realização da cirurgia de implantação do
não permitir que nenhum impulso marcapasso ventricular. O animal teve
proveniente do nodo S-A ou nodo A-V seu registro eletrocardiográfico realizado
passe para os ventrículos (BLACK e no pré-operatório imediato. A anestesia
BRADLEY, 1983; ETIINGER, 1992; foi induzida com etomidato (5mg/kg)
BRAUNWALD, 1997), causando e midazolan (0,3mg/kg) intravenoso e
intensa bradicardia, que pode levar mantida com isofluorano em oxigênio
os animais à intolerância a exercícios a 100% (V.P.P.I.). A pressão arterial
físicos, apatia, pré-síncope, síncope invasiva foi monitorada continuamente. Figura 3: Radiografia latero-lateral,
e insuficiência cardíaca congestiva Realizou-se toracotomia através do evidenciando o marcapasso ventricular esquerdo
quinto espaço intercostal esquerdo, e o implante do gerador de impulsos em região
(BRAUNWALD, 1997). O presente subcutânea.

12
CARDIOLOGIA

Conclusão
O implante de marcapasso na parede
ventricular esquerda demonstra-se
eficaz no tratamento do bloqueio
atrioventricular de terceiro grau. Por
este motivo, deve ser adotado como
rotina na clínica médica veterinária.
Agradecimentos a Biotronik® pela
colaboração e parceria no trabalho
realizado.

EXAMES REALIZADOS PELO


TECSA LABORATÓRIOS

CÓD - EXAME PRAZO/DIAS

99 - CPK
CREATINOFOSFOQUINASE 1

865 - PERFIL CHECK UP


CARDIO - RENAL 2
A programação trans-operatória 0,5ms, reprogramado por telemetria.
do marcapasso foi ajustada por Atualmente o animal encontra-se
radiofrequência para frequencia assintomático e sem complicações
cardíaca máxima em atividade física de cirúrgicas, completando 2 anos de pós-
111 - TGO (AST) 1
100 bpm e mínima em repouso de 90 operatório no momento da redação
bpm (Fig.4). O marcapasso foi ajustado deste relato.
para estímulo unicameral (VVI), com
limiar de estímulo de 2,4 mV, e largura Discussão
288 - LDH - DESIDROGENASE LATICA 2
de pulso de 0,5 ms. Este relato corrobora com a literatura
consultada, a qual recomenda a
implantação de marcapasso como o
tratamento de escolha para cães com
331 - PERFIL ELETROLITICO 1
bloqueio atrioventricular de 2° e 3° grau
(BRAUNWALD, 1997). De acordo
com Johnson et al. (2007) o implante
de marcapasso aumentou a sobrevida 788 - CHECK UP GLOBAL
1
de 86% dos casos acompanhados DE FUNCOES COM HEMOGRAMA
em um ano e 36% dos casos tiveram
uma sobrevida maior que 5 anos.
Demonstrando a eficácia do implante 357 - PESQUISA DE DIROFILARIOSE 1
Figura 4: Equipamento de ajuste da frequência de marcapasso artificial em cães com
do marcapasso pelo método de radiofrequência.
bloqueio atrioventricular de terceiro
A analgesia pós-operatória foi grau. As maiores complicações do
realizada com meloxican, tramadol e implante de marcapasso artificial
dipirona. Drenagem torácica contínua em cães é no pós-operatório, devido Referências Bibliográficas
BLACK,A. P.; BRADLEY, W A. Implantation ofa permanente pacemaker
foi mantida por 24 horas após a cirurgia. as alterações da frequência cardíaca, in a dog with third degree heart block. Australian Veterinary Practitioner, v.

O animal se recuperou da cirurgia sem muitas vezes necessitando realizar a 13, n. 3, p. 122-124, 1983.
BRAUNWALD, E. Heart disease. 5. ed. NewYork: Churchill

intercorrências, entretanto a frequência reprogramação da mesma ( JOHNSON Livingstone,535 p.,1997.


EITlNGER, S. J. Bloqueio atrioventricular. In: Tratado de medicina interna
cardíaca voltou a baixar 5 dias após a et al., 2007). O que foi possível observar veterinária. 3. ed. Philadelphia: W.B. Saunders, v. 2, p. 1143-1150, 1992.

cirurgia, o que exigiu reprogramação no caso descrito, o qual necessitou de FINGEROTH, J. M. Pacemakerteraphy for bradycardias. Seminars in
Veterinary Medicine and Surgery (Small Animal), v. 9, n. 4, p. 192-199, 1994.
do marcapasso por radiofrequência. reprogramação por telemetria, com JOHNSON, M.S.; MARTIN, M.W,; HENLEY, W. Results of pacemaker

Após reprogramação, o limiar de ajuste do limiar do estímulo no quinto implantation in 104 dogs. The Journal of Small Animal Practice, v.48, n.1,
p.4-11, 2007.

pulso foi de 5 mV e a largura de pulso, dia pósimplante.


13
CARDIOLOGIA

ELETROCARDIOGRAFIA AMBULATORIAL
(HOLTER) EM CÃES E GATOS
Roberto Navarete Ampuero
(Doutorando da Unesp Campus de Jaboticabal)
Aparecido Antonio Camacho
(Professor Titular da Unesp Campus de Jaboticabal)

Introdução diagnóstico de arritmias ocultas ou de aproximados). Portanto, o registro ECG


Atualmente, em medicina veterinária caráter intermitente não demonstrada convencional seria um só conjunto de
o exame Holter ambulatorial de durante a eletrocardiografia batimentos cardíacos, sendo impossível
eletrocardiografia é principalmente convencional (MEURS et al., 2001; reproduzir novamente este mesmo
utilizado em medicina de pequenos YAMAKI et al., 2007).Graças aos grupo. Cada vez que se realize um ECG
animais (cães e gatos) e cavalos de trabalhos realizados pelo biofísico convencional se teria a informação de
esporte. É o método mais completo norte-americano Norman J. Holter um grupo isolado de batimentos que
para se avaliar o ritmo cardíaco, que inventou um dispositivo portátil não representaria fielmente o total de
fornecendo informações qualitativas e (monitor Holter) para a monitorização batimentos de um dia. Para compreender
quantitativas dos complexos normais continua da atividade elétrica do coração esta analogia análise a seguinte figura.
e anormais, período específico do dia em 1949, pode-se optar na atualidade
em que ocorreram estas anormalidades pela análise eletrocardiográfica continua
(arritmias), correlacionando os com um dispositivo de menor dimensão,
resultados do exame eletrocardiográfico mais leve, mais fácil de utilizar e carregar.
com os sinais clínicos manifestados pelo
paciente durante o tempo de registro ECG ambulatorial (Holter)
(NOGUEIRA & CAVALCANTI, versus ECG convencional
2007). O exame Holter consiste na Para compreender a relação entre
monitorização eletrocardiográfica a ECG ambulatorial e a ECG
ambulatorial por um período de convencional, pode-se exemplificar
tempo maior que a eletrocardiografia da seguinte maneira. Relacionem o Figura 1: Imagem que representa a analogia das
convencional, normalmente número total de estrelas observadas estrelas do céu com o número total de batimentos
cardíacos (110.000). Cada círculo (branco)
determinado de 24 a 48 horas. Este no céu que corresponderia ao número corresponderia ao exame ECG convencional
maior tempo de registro, possibilita o total de batimentos cardíacos de um realizado no consultório veterinário. Indicações do
exame Holter
dia de registro (110.000 batimentos
14
CARDIOLOGIA

Indicações do exame Holter Durante toda a monitorização, o total de batimentos cardíacos, FC


Na medicina veterinária, o exame animal deve ter uma rotina o mais mínima, FC máxima, FC media de cada
Holter pode ser solicitado nas seguintes semelhante possível da habitual. Pode ser hora de registro e total. As arritmias
ocasiões: diagnóstico de arritmias interessante que se realizem atividades são separadas por tipo de arritmias
intermitentes ou arritmias que não físicas compatíveis com o estado clínico (supraventricular e ventricular),
acontecem durante o exame ECG do animal para avaliar a resposta da taquiarritmias ou bradiarritmias,
convencional ou em períodos do dia frequência cardíaca frente ao exercício. severidade da arritmia.
fora do atendimento clínico veterinário É de grande importância que exista
(MEURS et al.,2001;SPIER et uma pessoa (geralmente proprietário) Controle autonômico da
al.,2004). Podem também ser utilizados para anotar todas as atividades frequência cardíaca
nas correlações entre os sinais clínicos realizadas pelo paciente durante o O automatismo se destaca por
de suspeita de arritmia (síncopes, registro e identificando o horário, num possibilitar a despolarização involuntária
desmaios e convulsões) em diferentes formulário próprio, chamado de “diário do coração e sustentar a vida. Ainda
períodos do dia onde acontecem do paciente”. Durante o exame, se deve assim, a frequência intrínseca de
(manhã, tarde, noite) (NOGUEIRA manter o animal no ambiente familiar, despolarização cardíaca é modulada
et al.,2007). Outra situação seria na minimizando as fontes potenciais de pelo sistema nervoso autônomo
estratificação de risco nas cardiopatias estresse. O ideal seria realizar o exame na simpático (SNS) e pelo sistema nervoso
ocultas (CALVERT & JACOBS, casa junto ao proprietário. Entretanto, autônomo parassimpático (SNP), que
2000); avaliação criteriosa das arritmias, nas situações em que o proprietário proporcionam homeostase em diferentes
verificação da necessidade de se instituir não pode responsabilizar pelo registro situações cotidianas. A ativação do
terapia antiarrítmica, determinar a do diario do paciente ou que se queira SNS resulta em maior cronotropismo,
eficácia da terapia antiarrítmica, e uma padronização na monitorização das inotropismo e dromotropismo cardíaco,
controle da terapia antiarrítmica. Por atividades do animal, o exame deverá ser além de redistribuir a circulação
fim, possibilita o estudo da variabilidade realizado no hospital veterinário (Petrie, sanguínea e ativar sistemas como o
da frequência cardíaca e avaliação do 2005). renina-angiotensina-aldosterona,
sistema autonômico (OLIVEIRA et preparando o organismo para situações
al.,2012). Análise do Exame Holter de estresse. Em contrapartida, a ativação
O exame Holter nos mostra um parassimpática modula de maneira
Colocação dos eletrodos conjunto de informações, tais como inversa essas variáveis, constituindo desta
de quatro cabos o detalhe do ECG, frequência forma, o balanço autonômico cardíaco
Para a realização de um exame Holter, cardíaca, variabilidade da frequência (TILLEY, 1992; KITTLESON,
são fixados os eletrodos com adesivos cardíaca e arritmias cardíacas. Oferece 1998).O controle parassimpático,
apropriados na região torácica mediante também todos os complexos do ECG, exercida através de fibras rápidas
tricotomia prévia (Figura2). O aparelho morfologias de cada ECG (divididas (F-B) mielinizadas no nervo vago,
de registro Holter é acomodado junto principalmente em normal (N), estimula os receptores muscarínicos,
ao corpo do animal por meio do uso de supraventricular (S) e ventricular (V)). aumentando a permeabilidade
um colete específico no qual existe um Detalhe da frequência cardíaca que celular ao potássio, diminuindo o
bolso para a colocação do mesmo. consiste em determinação do número potencial de membrana e frequência
de despolarização destas células. A
atuação do sistema autônomo simpático
no coração interfere nos receptores
β-adrenérgicos, que aumentam o ritmo
de despolarização sinusal (MALIK et
al., 1996).O coração dos mamíferos
vertebrados, rotineiramente ativos ou
experimentalmente preparados, opera
principalmente no âmbito de um grau
variável de tônus inibitório, imposta
pelo braço parassimpático através do
nervo vago. Para exemplificar este
domínio, foi determinado em um
conjunto representativo de mamíferos
o tônus adrenérgico, o qual variou entre
4 a 30% e o tônus vagal inibidor variou
entre 15 e 102%.

15
CARDIOLOGIA

Estudo da variabilidade RR normais adjacentes do exame todo), do dia onde o paciente se encontra
da frequência cardíaca pNN50% (porcentagem de diferenças dormindo ou descansando, a frequência
A variabilidade da frequência maiores que 50 milissegundos entre cardíaca é menor que a frequência
cardíaca se determina analisando o intervalos RR normais adjacentes do cardíaca de repouso. Estes dois períodos
tempo entre cada batimento cardíaco, exame todo) (NAVARRETE, 2013). se evidenciam claramente no tacograma
podendo determinar vários indicadores podendo inferir alterações que mudem
estatísticos que se relacionam com o Detalhe dos indicadores a frequência esperada para essa etapa no
controle autonômico da frequência no domínio do tempo tacograma do paciente. Outra análise na
cardíaca. Embora existam vários Em ritmos sinusais, os índices distribuição dos pontos no tacograma
métodos para determinação da rMSSD e pNN50% quantificam a pode ser observado. No eixo Y se
variabilidade da frequência cardíaca, modulação parassimpática veiculada determina o intervalo entre os 300 a 500
utiliza-se principalmente a variabilidade pela respiração (CALVERT, 1998; milissegundos que corresponde a uma
da frequência cardíaca no domínio do KLEIGER et al., 2005) ou não (STEIN zona com mais densidade de pontos
tempo baseado em cálculos estatísticos et al., 1994; STEIN & KLEIGER, (figura 3: A). Esta zona corresponde aos
utilizando o tempo entre os intervalos 1999). Estes índices se correlacionam batimentos com menor intervalo NN,
entres duas ondas R (ACHARYA et al., em graus diferentes e indicam maior se relaciona a frequência cardíaca maior
2006). participação do sistema nervoso e controlada pelo sistema autonômico
parassimpático em relação ao sistema simpático. No mesmo eixo Y, se
Variação dos intervalos nervoso simpático quando aumentam, e pode determinar outro intervalo, que
RR ou intervalos NN menor participação do sistema nervoso corresponde ao menor e maior valor de
O exame Holter permite mensurar parassimpático quando eles diminuem todos os intervalos RR. Esta segunda
o tempo entre cada onda R de todos (RAVENSWAAIJ-ARTS et al., 1993). zona que corresponde ao intervalo entre
os batimentos cardíacos, calcular desta 300 e 1200 milissegundos evidencia
forma a variabilidade da frequência Tacograma uma zona com menos densidade de
cardíaca, podendo assim, inferir O tacograma é uma representação pontos (figura 7: B). Esta zona se
sobre a modulação autonômica gráfica que representa os intervalos RR relaciona a frequência cardíaca menor e
cardíaca predominante para cada (tempo entre o batimento cardíaco e o controlada principalmente pelo sistema
animal. A variação dos intervalos de batimento cardíaco seguinte) durante o autonômico inibitório parassimpático.
despolarização cardíaca, promovida período de tempo. Geralmente se utiliza
pela influência autonômica, pode ser um dia (24 horas de registro), obtendo Arritmias cardíacas
detectada ao eletrocardiograma pelas dois tempos de registro durante esse As arritmias registradas durante as 24
diferentes distâncias (milissegundos) período. O primeiro, o período de vigília horas, são classificadas, quantificadas e
entre as ondas R normais (intervalos (13 às 17 horas) que corresponde à etapa separadas por severidade em dos grupos
RR). do dia onde o paciente se encontra gerais. O primeiro grupo corresponde às
desperto e realizando atividades que arritmias supraventriculares marcadas
Estudo da variabilidade demandam uma frequência maior em verde e o segundo grupo corresponde
da frequência cardíaca a frequência cardíaca de repouso. O às arritmias ventriculares marcadas em
pelo domínio do tempo segundo, o período de sonolência (02 vermelho. Os ECG determinados como
Para a determinação da variabilidade às 06 horas) que corresponde à etapa normais são marcados no registro ECG
da frequência cardíaca pelo domínio
do tempo, são calculadas variáveis
estatísticas baseadas nos intervalos entre
duas ondas R (onda R = N). As variáveis
determinadas são as seguintes; NN
médio (média de todos os intervalos
RR normais do exame), SDNN (desvio
padrão de todos os intervalos RR
normais do exame), SDANN (desvio
padrão da média dos intervalos RR
normais tomados a cada cinco minutos),
SDNNindex (média dos desvios padrão
calculados para intervalos RR normais
tomados a cada cinco minutos), rMSSD Figura 3: Representação das duas zonas no tacograma. Zona vermelha (A) com maior densidade de pontos;
(raiz quadrada da média da soma da zona laranja (B) com menor densidade de pontos.
diferença de quadrados de intervalos

16
CARDIOLOGIA

na cor azul (figura 4). arritmias supraventricular e ventricular


isoladas em um cão com doença Referências Bibliográficas
degenerativa mixomatosa da válvula ACHARYA, U.R. et al. Heart rate variability: a review.
Medical & Biological Engineering & Computing,
mitral. Heidelberg, v. 44, n. 12, p. 1031-1051, 2006.
CALVERT, C. A. Heart rate variability. Vet. Clin. North
Am.: Small An. Pract., v. 28, n. 6, p. 1409-1427, 1998.
CALVERT, C. A.; JACOBS, G. J. Heart rate variability in
Doberman Pinschers with and without echocardiographic
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Veterinary Research, v. 61, n. 5, p. 506-511, 2000.
KITTLESON, M. D. Myxomatous atrioventricular valvular
Figura 4: Canal 1 de registro ECG mostrando degeneration. In: KITTLESON, M. D. KIENLE, R. D.
o intervalo NN e tipo de morfologia geral do (Ed.) Small animal cardiovascular medicine, St Louis:
registro. ECG normal (N) se representa na cor azul,
Mosby, p. 297-318, 1998.
arritmia supraventricular se representa na cor
KLEIGER, R.E.; STEIN, P. K.; BIGGER, J. T. Heart
verde (S) e arritmia ventricular se representa na
cor vermelha (V). rate variability: measurement and clinical utility. Annals of
Noninvasive Electrocardiology, v. 10, n. 1, p. 88-101, 2005.
MALIK, M. et al. Heart rate variability: standards of
A severidade de cada arritmia se measurement, physiological interpretation, and clinical use.
expressa em eventos isolados, pareados European Heart Journal, London, v. 17, n. 3, p. 354-381,
1996.
e taquicardia, quantificando o número
MEURS, K. M.; SPIER, A. W.; WRIGHT, N. A. et al.
total e por hora de cada classificação. As Use of ambulatory electrocardiography for detection of
arritmias isoladas (Iso) correspondem ventricular premature complexes in healthy dogs. Journal

a complexos individuais correlacionado of the American Veterinary Medical Association, v. 218, p.


1291-1292, 2001.
ao primeiro grau de severidade. O NAVARRETE, R. A. Variabilidade da frequência cardíaca
Figura 6: Exemplos de arritmias de um cão
segundo grau de severidade corresponde em cães com degeneração mixomatosa crônica da valva mitral.
obtidas a partir do Holter de eletrocardiografia.
às arritmias pareadas (Par) que 2013. 70f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) -
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade
corresponde a dois eventos seguidos. estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Jaboticabal, 2013.
O termo taquicardia (Taq) é referido a NOGUEIRA, R. B.; CAVALCANTI, G. A. O.
três ou mais (até 20) eventos arrítmicos Eletrocardiografia contínua (Holter). In: MUZZI, R. A. L.;
NOGUEIRA, R. B. (Ed) Cardiologia: métodos diagnósticos
contínuos (figura 5).
das afecções cardiovasculares em pequenos animais, Lavras:
EXAMES REALIZADOS PELO UFLA/FAEPE, p. 70-78, 2007.
TECSA LABORATÓRIOS OLIVEIRA, M. S.; MUZZI R. A.; ARAÚJO R. B.;
MUZZI L. A.; FERREIRA D. F.; NOGUEIRA R.; SILVA
E. F. Heart rate variability parameters of myxomatous mitral
valve disease in dogs with and without heart failure obtained
using 24-hour Holter electrocardiography. Vet Rec., v. 170,
n. 24, p. 622, 2012.
CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
PETRIE, J. P. Practical application of Holter monitoring in
99 - CPK dogs and cats. Clin. Tech. Small Anim. Pract., v. 20, p. 173-
CREATINOFOSFOQUINASE 1 181, 2005.
RAVENSWAAIJ-ARTS, C. M. A. V. et al. Heart rate
865 - PERFIL CHECK UP
CARDIO - RENAL 2 variability. Annals of Internal Medicine, Philadelphia, v. 118,
n. 6, p. 436-447, 1993.
SPIER, A. W.; MEURS, K. M. Evaluation of spontaneous
111 - TGO (AST) 1 variability in the frecuency of ventricular arrhythmias in
Boxers with arrhythogenic right ventricular cardiomyopathy.
Journal of the American Veterinary Medical Association, v.
288 - LDH - DESIDROGENASE LATICA 2
224, n. 4, p. 538-541, 2004.
STEIN, P. K.; BOSNER, M. S.; KLEIGER, R. E. et al.
Figura 5: Tabela superior que representa 331 - PERFIL ELETROLITICO 1 Heart rate variability: A measure of cardiac autonomic tone.
o horário de registro, severidade da arritmia, Am. Heart J., v. 127, p. 1376-1381, 1994.
número por cada tipo de severidade e número total 788 - CHECK UP GLOBAL STEIN, P. K.; KLEIGER, R. E. Insights from the study of
de arritmias separadas em arritmias ventriculares DE FUNCOES COM HEMOGRAMA 1 heart rate variability. Annual Review of Medicine, v. 50, p.
(V) e supraventriculares (SV). Figura inferior: 249-261, 1999.
zona superior gráfica o número total de arritmias TILLEY, L. P. Essentials of canine and feline
separadas em isoladas (1), pareadas (2), taquicardias 357 - PESQUISA DE DIROFILARIOSE 1
electrocardiography interpretation and treatment, 3. ed.
(3-20); zona inferior da figura representa um
Philadelphia: Lea & Febiger, p. 470, 1992.
exemplo de arritmias supraventriculares isolada
YAMAKI, F. L.; SOARES, E. C. PEREIRA, G. G. et al.
(verde) que corresponde a 444 tipo isoladas (1).
Monitorização eletrocardiográfica ambulatorial por 24-horas
em cães com cardiomiopatia dilatada idiopática. Arquivo
Exemplos de arritmias Brasileiro Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 59, n. 6, p.
no exame Holter de 1417-1424, 2007.
eletrocardiografia
Na figura 6, observa-se exemplos de

17
CARDIOLOGIA

EXISTE DOENÇA DE CHAGAS EM CÃES?

Introdução Tripanossomíase Em Cães Devido a essa característica, os cães são


A tripanossomíase americana ou Assim como os seres humanos, utilizados como modelo experimental
doença de chagas é uma doença os cães também estão propícios a para estudos do patógeno. A doença
causada pelo Trypanosoma cruzi, um serem infectados, através das fezes de Chagas possui três fases distintas
protozoário flagelado pertencente à contaminadas após o repasse sanguíneo classificadas como aguda, latente e
ordem Trypanosomatidae, comumente (figura 2), ingestão de vetores, via crônica. Durante a fase aguda, o coração
diagnosticada na América do Sul. Sua transplacentária, amamentação ou é acometido por disfunção miocárdica
transmissão ocorre principalmente por materiais contaminados pelo gerada pelo grande número de formas
pelo contato com as fezes de Trypanosoma cruzi. Além do homem amastigotas na musculatura cardíaca
insetos hematófagos infectados da e do cão, destaca-se que a doença (predominância nas paredes do átrio
subfamília Triatominae, popularmente também pode acometer gatos, galinhas, direito), havendo também congestão,
denominados de "barbeiros" (figura 1). roedores, tatus e gambás, que acabam distensão do saco pericárdico (presença
O inseto possui o hábito de se esconder atuando como reservatórios do parasita. de líquidos), sintomas de infecção
durante o dia em madeiras, frestas Dessa forma, o cão pode atuar como generalizada e invasão dos gânglios
e paredes de barro e sair à procura um reservatório intradomiciliar, nervosos por células inflamatórias. Nessa
de alimentos à noite. Outras formas apresentando um risco para aqueles que fase, é possível observar uma grande
de transmissão também descritas na ali habitam. quantidade de formas tripomastigotas
literatura incluem a transmissão vertical, circulantes na corrente sanguínea. Caso
transfusão sanguínea e transplante de o animal sobreviva à fase aguda e não
órgãos. esteja apresentando sinais clínicos,
existe a possibilidade do mesmo estar na
fase latente. Por sua vez, na fase crônica
podem ser observados miocardite
crônica com focos de fibrose e
Figura 2: Protozoário sendo liberado através das insuficiência cardíaca congestiva. Outro
fezes. sinal encontrado em animais infectados
Fonte: http://anotacoesdalua.blogspot.com.br.
é a presença de sinais neurológicos por
Sinais Clínicos consequência da encefalite gerada pelo
Diversos autores têm demonstrado protozoário. O prognóstico é melhor
que os sinais clínicos encontrados na fase aguda, uma vez que a evolução
Figura 1: Barbeiro (Triatoma infestans). Fonte: em seres humanos, são semelhantes da doença reduz consideravelmente as
https://borabiologar.wordpress.com.
aos observados em cães infectados. perspectivas de cura.

18
CARDIOLOGIA

EXAMES REALIZADOS PELO


TECSA LABORATÓRIOS
CÓD - EXAME PRAZO/DIAS

640 - PESQUISA DE TRYPANOSOMA


CRUZI CANINO - SOROLOGIA RIFI 5

358 - PESQUISA DE HEMATOZOARIOS 1

788 - CHECK UP GLOBAL


DE FUNCOES COM HEMOGRAMA 1

86 - HISTOPATOLOGICO COM
COLORACAO DE ROTINA - HE 4

688 - PERFIL DOENCA


TRANSMITIDA PELO CARRAPATO 3

99 - CPK
CREATINOFOSFOQUINASE 1

865 - PERFIL CHECK UP


CARDIO - RENAL 2

111 - TGO (AST) 1


Diagnóstico tomar todas as medidas de prevenções
O diagnóstico da doença de chagas cabíveis para minimizarmos as chances
em cães deve ser feito pela associação de infecção pelo agente. De forma geral,
dos sinais clínicos, anamnese, exames é importante manter os ambientes
limpos, sem entulhos, retirar ninhos de 288 - LDH - DESIDROGENASE LATICA 2
laboratoriais, eletrocardiograma e
exames de imagem. Durante a fase pássaros nos beirais das casas, melhorar
aguda, os exames mais indicados são as instalações residenciais (eliminando
aqueles que demonstram a presença do as paredes de barro e pau a pique) e
331 - PERFIL ELETROLITICO 1
agente na corrente sanguínea. Quando eliminar fendas e frestas. Em áreas já
existe a suspeita de infecção crônica, o conhecidas pela presença dos insetos
ideal é a realização da sorologia, que vetores, é importante a utilização regular
Referências Bibliográficas
irá identificar a presença do anticorpo de produtos inseticidas com poder SOUZA, A. L.; OLIVEIRA T. F. S.; MACHADO, Z. M.; Aparecido A.

específico. É importante ressaltar residual. Outra medida para evitar a Camacho5Soroprevalência da infecção por Trypanosoma cruziem cães de
uma área rural do Estado de Mato Grosso do Sul. Pesq. Vet. Bras. 29(2):150-
que devido ao fato do Trypanosoma transmissão transfusional é através 152, fevereiro 2009

pertencer à mesma ordem da da realização de exames sorológicos e PEREIRA, B. J. M.; MARILÉIA, S. T.; ZONI, M. M. E.; MOTTARI,
F.; DOENÇA DE CHAGAS EM CÃES. REVISTA CIENTÍFICA

Leishmania, podem ocorrer reações parasitológicos em bolsas de sangue de ELETÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA; Ano VI – Número 11
– Julho de 2008 – Periódicos Semestral
cruzadas entre as duas doenças durante animais doadores. Centenário do descobrimento da doença de Chagas: desafios e

o diagnóstico sorológico. perspectivas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical


43(5):483-485, set-out, 2010
O TECSA Laboratórios está à VELOSO, V. M. Doença de Chagas experimental em cães da raça Beagle:
avaliação clínica, parasitológica histopatológica e molecular. Universidade
disposição para auxiliar no que for Federal de Minas Gerais niversidade Federal de Minas Gerais Instituto de
Conclusão preciso. Entre em contato com um Ciências Biológicas Instituto de Ciências Biológicas.
ANDRADE, Z. A.; ANDRADE, S. G.; A Patologia da doença de chagas
Por se tratar de uma doença grave para de nossos Veterinários para maiores experimental em cão. Mem. Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro Vol. 75

os seres humanos e animais, devemos informações! jul/dez. 1980

19
CARDIOLOGIA

BIOMARCADORES CARDÍACOS:
FERRAMENTA AUXILIAR DE DIAGNÓSTICO
Dr. Alexandre Bastos – Médico Veterinário especialista em Cardiologia

Veterinária produzida por um tecido específico Apesar de não ser 100% específica e ter
O número de pacientes com alterações que pode ser detectado na circulação. rápida inativação, a.CK-MB é liberada
cardíacas vem crescendo dia a dia, Para ser interessante do ponto de vista imediatamente após lesão miocárdica
entretanto, o diagnóstico das doenças clínico, deve ser liberado em uma aguda e sua mensuração é indicada como
cardíacas continua sendo desafiador quantidade proporcional à evolução da auxiliar no diagnóstico e prognóstico de
devido à inespecificidade dos sinais doença, de modo a indicar sua presença, alterações cardíacas.
clínicos. Ao exame físico, a presença e a severidade e prognóstico. Deseja-se,
intensidade do sopro nem sempre estão ainda, alta sensibilidade e especificidade, Troponina I Cardíaca
relacionadas à gravidade da doença baixo custo, estabilidade, fácil detecção Encontrada apenas no coração,
e muitas patologias cardíacas não e execução rápida. Os biomarcadores a Troponina I cardíaca (cTnI) está
apresentam este achado na auscultação. cardíacos podem ser divididos em especialmente associada às miofibrilas.
Para o diagnóstico e classificação das dois grupos principais: os que indicam Presente em pequena quantidade
alterações cardíacas, além de um exame lesão de células miocárdicas, liberados no citoplasma, normalmente, não é
físico detalhado, é necessário, muitas quando os miócitos se rompem; e os de detectável na circulação. No entanto,
vezes, utilizar mais de um exame estresse miocárdico, liberados quando quando há um dano ao miócito, a cTnI
complementar: ecodopplercardiograma, há estiramento do tecido muscular é liberada e pode ser mensurada por
eletrocardiograma, radiografia torácica cardíaco. meio de métodos de imunoensaio. Ela
e mensuração da pressão arterial. pode ser utilizada na detecção ao dano
Em 1950 iniciou-se a pesquisa dos Creatinoquinase miocárdico e as mensurações seriadas
biomarcadores cardíacos e, nos últimos A creatinoquinase (CK) é uma enzima oferecem informações importantes
10 anos, tem-se apostado neste recurso presente em músculo esquelético, quanto ao prognóstico das doenças
para diagnóstico e monitorização da músculo cardíaco, músculo liso, cardíacas em curso. Alguns fatores
doença cardíaca humana. Em medicina cérebro e nervos. Está presente livre no limitam a utilização das troponinas
veterinária, esta ferramenta pode auxiliar citoplasma das células musculares que, cardíacas na medicina veterinária,
na identificação de doenças cardíacas quando lesadas, a deixam extravasar. dentre eles, a presença de concentrações
assintomáticas, na insuficiência São três as isoenzimas formadas: CK- normais de cTnI em cães com
cardíaca, na monitorização de pacientes BB, predominante no cérebro e sistema cardiomiopatia discreta e o fato de
e na determinação do prognóstico. digestório; CK-MB, presente no tecido doenças não cardíacas aumentarem as
Um biomarcador é uma substância cardíaco, intestinos, rins e pulmões; e troponinas séricas (ver Tabela 1).
CK-MM, presente no músculo estriado.
20
CARDIOLOGIA

Causas Cardíacas Causas não-cardíacas


Cardiomiopatia Arritmogênica do ventrículo direito Trauma torácico
Infarto do miocárdio Tromboembolismo
Cardiotoxicidade induzida por doxorrubicina Dilatação-vólvulo gástrico
Miocardite Piometra
ICC Sepse
Estenose Subaórtica Doença Pulmonar
CMD e CMH Hipóxia
Endocardiose Hemoparasitoses (Babesiose, Erlichiose)
Efusão pericárdica Injúria Renal
Neoplasia (Linfoma)
Epilepsia
ICC: Insuficiência Cardíaca Congestiva; CMD: Cardiomiopatia dilatada; CMH: Cardiomiopatia Hipertrófica
Tabela 1. Causas cardíacas e não cardíacas que elevam os níveis de Troponina sérica.

BNP e proBNP elevação dessas substâncias, como o


O BNP (brain natriuretic peptide) e hipertireoidismo e as hipertensões
o proBNP são marcadores da função sistêmica e pulmonar. Valores de
miocárdica. O proBNP é um pré- NT-proBNP já são correlacionados EXAMES REALIZADOS PELO
hormônio precursor do BNP e é um à probabilidade de desenvolvimento TECSA LABORATÓRIOS
polipeptídeo de alto peso molecular da doença cardíaca, doença cardíaca
que possui um fragmento N-terminal já instalada e insuficiência cardíaca
(NT-proBNP) eficaz para evidenciar a congestiva em curso.
CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
disfunção ventricular. O BNP promove
Conclusão 99 - CPK
vasodilatação e diurese através da CREATINOFOSFOQUINASE 1
ligação aos receptores específicos nos Os biomarcadores cardíacos devem
fazer parte da rotina clínica dos 865 - PERFIL CHECK UP
tecidos vascular e renal. Suas ações CARDIO - RENAL 2
promovem um contrabalanço ao sistema animais atendidos com suspeita de
renina-angiotensina-aldosterona doenças cardíacas pois podem auxiliar 111 - TGO (AST) 1
(SRAA). As principais indicações para na detecção precoce da doença,
a mensuração do NT-proBNP são: trazer informações sobre a eficácia do 288 - LDH - DESIDROGENASE LATICA 2
diferenciação entre sinais respiratórios tratamento e prognóstico. Entretanto,
cardiogênicos e não cardiogênicos, devem ser utilizados como ferramenta 331 - PERFIL ELETROLITICO 1
detecção de cardiomiopatia dilatada auxiliar, e não teste único de triagem,
(CMD) oculta em Dobermans, sendo o ecodopplercardiograma, o 788 - CHECK UP GLOBAL
DE FUNCOES COM HEMOGRAMA 1
cardiomiopatia hipertrófica (CMH) eletrocardiograma e a radiografia
em gatos, e como valor prognóstico em torácica, indispensáveis no diagnóstico 357 - PESQUISA DE DIROFILARIOSE 1
cães com doença mixomatosa da valva destes pacientes.
mitral (DMVM) ou CMH. Doenças
que secundariamente afetam o coração, Exames oferecidos pelo TECSA
entretanto, também podem provocar como auxiliar no diagnóstico das
cardiopatias:
21
CARDIOLOGIA

LINFOMA INTRAVASCULAR IMUNOFENOTIPO T


EM CÃO (CANIS FAMILIARIS) - RELATO DE CASO
Marthin Raboch Lempek 1 , Gleidice Eunice Lavalle 1 , Dyeme Ribeiro de Souza 2 ,
Luiz Alberto do Lago 1 , Marília Martins Melo 1 , Rubens Antônio Carneiro 1 .
1 Médico Veterinário, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
2 Médica Veterinária, Tecsa Laboratórios.

Introdução apresentação intravascular cardíaca é na maioria das vezes. Entretanto com o


Os tumores cardíacos são neoplasias extremamente rara (ROBERTS, 1997, advento dos novos métodos diagnósticos
malignas ou benignas, os quais podem ser SHAPIRO, 2001, BAGWAN et al., complementares, está sendo
primários ou metastáticos. Os primários 2009). O presente trabalho possui o diagnosticado cada vez mais paciente
originam-se dos tecidos cardíacos de objetivo de relatar um caso raro de com neoplasias cardíacas, possibilitando
revestimento interno, camada muscular linfoma intravascular de linfócitos desta forma um tratamento clínico
ou do pericárdio, já os metastáticos T, em um cão da raça Fila Brasileiro, ou cirúrgico adequado (DALLAN et
são secundários a um tumor primário abordando os aspectos clínicos e al., 1988, CHAN et al., 2001). Dentre
de sítio diferente ao cardíaco (UZUM diagnósticos. os tumores cardíacos primários, o de
et al., 2007). A incidência dos tumores maior incidência na espécie canina
cardíacos primários é extremamente Revisão de Literatura é o hemangiossarcoma, seguido pelo
baixa, variando de 0,02 a 0,05% em Os tumores que acometem o quimiodectoma, sendo este um tumor
humanos. Destes tumores 75% são endocárdio, miocárdio ou o pericárdio de base cardíaca (WARE & HOPPER,
benignos e 25% malignos, dentro dos constituem um grupo de neoplasias 1999). O hemangiossarcoma é um
tumores malignos 95% são constituídos bastante raro, seja o diagnóstico tumor de células mesenquimais, oriundo
por sarcomas e 5% por linfomas. Em cães realizado clinicamente ou diagnosticado de células endoteliais com alterações de
o linfoma é a neoplasia hematopoiética pós mortem. Até alguns anos o crescimento maligno. Este tipo de tumor
de maior incidência, entretanto a sua diagnóstico era realizado na necropsia pode ter sua origem em qualquer tecido

22
CARDIOLOGIA

vascularizado, entretanto a sua maior al., 2002, VAIL & YOUNG, 2007). cicatrizam. Na inspeção observou-
incidência primária é no baço (50-60%), De modo geral, os tumores cardíacos se escore corporal 2/5, aumento de
átrio direito (3-25%), tecido subcutâneo apresentam sinais clínicos inespecíficos, volume abdominal bilateral ventral,
e fígado (13-17%) (BRONW, 1985). podendo produzir efeitos e sintomas lesões cutâneas em membros torácicos
Além desses locais o hemangiossarcoma comuns entre si (SHAPIRO, 2001), e pelvinos, localizadas em regiões de
possui incidência primária em pulmão, como: articulação, apresentando solução
pele, aorta, rins, cavidade oral, ossos, 1. Obstruções: depende do tamanho de continuidade. Ao exame físico
bexiga, vulva e língua (BRONW, 1985). do tumor e de sua localização, nos verificou-se que o animal apresentava-
Embora o tecido quimiorreceptor tumores atriais pode ocorrer alteração se alerta, com estado geral regular,
esteja amplamente difundido pelo de fluxo sanguíneo pelas valvas mucosas normocoradas, tempo de
corpo, os quimiodectomas, ocorrem atrioventriculares, mimetizando preenchimento capilar (TPC) de 2
principalmente nos corpos aórticos e estenoses valvares. segundos, frequência cardíaco de 188
carotídeos nos animais, pois é nesta 2. Embolizações: os próprios tumores bpm com presença de hipofonese
região que se encontram aglomerados podem originar êmbolos ou trombos em acentuada das bulhas cardíacas,
de células quimiorreceptoras suas adjacências, mimetizando vasculites frequência respiratória de 66 mpm,
(CAVALCANTI et al., 2006). O ou endocardites, podendo muitas vezes campos pulmonares limpos, temperatura
linfoma é uma das neoplasias mais ocasionar acidentes vasculares cerebrais. retal de 38,7˚C, desidratação de 6 – 8%,
comuns em cães, contudo a sua 3. Arritmias: a infiltração do baloteamento abdominal positivo e
incidência primariamente no coração é próprio tecido tumoral no miocárdio linfadenomegalia dos poplíteos. Como
extremamente rara (SIMS et al, 2003). e nas vias de condução pode ocasionar exames complementares realizaram-se
Em um estudo retrospectivo avaliaram- alterações de ritmo cardíaco, como os hemograma completo, perfil bioquímico
se 1.383 casos de neoplasias cardíacas bloqueios atrioventriculares, taquicardia completo, sorologia ELISA (Enzyme
em cães, dentre todas essas, apenas 34 ventricular ou até mesmo morte súbita. Linked Immunono Sorbent Assay) e
foram diagnosticadas como linfomas Devido aos avanços tecnológicos RIFI (Reação de Imunofluorescência
cardíacos, representando 0,02% dos em métodos de imagem da última Indireta) para leishmaniose, citologia
tumores cardíacos diagnosticados década, como a ecocardiografia, clínica das lesões e dos linfonodos
(WARE & HOPPER, 1999). O tomografia computadorizada e a poplíteos, análise de líquido abdominal,
linfoma canino pode ser classificado de ressonância magnética, há possibilidade ultrassonografia abdominal, pressão
três formas: pela distribuição anatômica de diagnóstico precoce dos tumores arterial sistólica, radiografia torácica,
da neoplasia, pela morfologia celular cardíacos, beneficiando desta forma eletrocardiograma e ecocardiograma.
e aspecto histopatológico e de acordo o paciente nas escolhas terapêuticas Além dos exames referidos, realizou-
com o imunofenotipo (MORRIS adotadas (SHAPIRO, 2001, UZUM et se a abdominocentese do paciente
& DOBSON, 2001). O sistema de al., 2007). para a drenagem e a coleta do líquido
classificação do linfoma de acordo abdominal, drenaram-se 7 litros de
com a sua distribuição anatômica é o Relato de Caso líquido abdominal, melhorando desta
método mais antigo de classificação, Um cão, macho, da raça Fila Brasileiro, forma o conforto e o padrão respiratório
contudo ainda utilizado até os dias de 4 anos de idade e 56 quilos de peso do paciente. Não houve alterações
atuais. Desta forma o linfoma pode ser vivo foi atendido no Hospital Veterinário significativas no hemograma completo
classificado em multicêntrico, digestivo, da Escola Veterinária da UFMG com e no perfil bioquímico, a diluição
cutâneo, mediastínico e extranodal histórico de emagrecimento progressivo total para leishmaniose apresentou
(DAHLIWAL et al., 2003). Dentre há 15 dias, inapetência, prostração e resultado negativo tanto para ELISA
os linfomas extranoais, há duas formas aumento de volume abdominal há 10 como para o RIFI. A citologia clínica
raras de: o hepatoesplênico e o linfoma dias. Proprietário relata que animal das lesões e dos linfonodos poplíteos
intravascular. O linfoma intravascular estava com a vacinação atualizada (anti- não apresentaram microrganismos
é caracterizado como uma doença rábica e óctupla), contudo o animal não e apenas verificou-se a presença de
sistêmica evidenciando-se proliferação possui vacinação contra Leishmaniose células inflamatórias sem a presença
de linfócitos neoplásicos confinados ao ou mesmo titulação recente para a de células neoplásicas, compatível
lúmen vascular de pequeno e médio mesma. Paciente apresenta esquema com um processo inflamatório. O
calibre, além da inexistência de uma profilático para verminoses atualizado líquido abdominal foi classificado
massa neoplásica primária extravascular. e possui contactantes , entretanto os como transudato modificado devido
Esta forma de linfoma deriva mesmos estão hígidos. É relatado que a celularidade encontrada. Realizou-
normalmente de células T e ocorre o animal apresenta-se cansado durante se radiografia torácica ventro-dorsal e
preferencialmente nos vasos sanguíneos o exercício físico e vem apresentando latero lateral esquerda (Fig. 1 e 2) para
do sistema nervoso central (WICK & lesões cutâneas nos membros pelvinos observar a silhueta cardíaca e o padrão
MILLS, 1991, McDONOUGH et há aproximadamente 4 meses que não pulmonar.

23
CARDIOLOGIA

o auxílio do ecocardiograma e do
eletrocardiograma, drenaram-se 430 ml
de líquido serosanguinolento. Após a
pericardiocentese o líquido drenado foi
encaminhado para o laboratório para a
realização da análise do líquido, o qual
evidenciou-se transudato modificado
sem a presença de celularidade
neoplásica. Após a drenagem realizou-
se a ultrassonografia abdominal do
paciente, na qual observou-se apenas
hepatomegalia, sistema porta e veias
hepáticas com calibre aumentado e
distribuição anatômica, os achados
ultrassonográficos foram sugestivos
de congestão hepática. Repetiu-se o
eletrocardiograma (Fig.5) do animal
após a drenagem para verificar possíveis
mudanças do traçado eletrocardiográfico.
Figura 1: Radiografia em projeção ventro
dorsal de um cão, macho, de 4 anos de idade da
raça Fila Brasileiro evidenciando cardiomegalia
generalizada.

Figura 3: Eletrocardiograma computadorizado


de um cão, macho, de 4 anos de idade, da raça Fila
Brasileiro. Velocidade de 25 mm/s e sensibilidade de
10 mm/mV.
Figura 2: Radiografia em projeção latero lateral
esquerda de um cão, macho, de 4 anos de idade da
raça Fila Brasileiro evidenciando cardiomegalia
generaliza e deslocamento dorsal da traqueia,
Após a realização da radiografia torácica o
diagnóstico presuntivo de efusão pericárdica ficou
mais evidente, pois justifica a hipofonese cardíaca,
contudo realizou-se o eletrocardiograma (Fig.3)
e o ecocardiograma (Fig.4) para complementar o
diagnóstico definitivo.

Figura 4: Ecocardiograma de um cão, macho de 4


anos de idade, da raça Fila Brasileiro evidenciando-
se efusão pericárdica. VE: ventrículo esquerdo; AE:
átrio esquerdo; AD: átrio direito, LIQ: líquido
pericárdico.

O eletrocardiograma evidenciou
a diminuição de todas as ondas do
traçado elétrico, o que é sugestivo
de efusão pericárdica, entretanto o
ecocardiograma confirmou a suspeita de
efusão pericárdica e de tamponamento
do ventrículo direito. Optou-se então
por realizar uma pericardiocentese
e analisar o líquido pericárdico. A Figura 5: Eletrocardiograma após a drenagem de
pericardiocentese foi realizada no 430 ml de efusão pericárdica em um cão, macho de 4
anos de idade, da raça Fila Brasileiro. Velocidade de
4˚ espaço intercostal direito com 25 mm/s e sensibilidade de 10 mm/mV.

24
CARDIOLOGIA

Observou-se melhora do padrão observada nenhuma estrutura evidente


eletrocardiográfico do animal, de neoplasia cardíaca
demonstrado pelo aumento da
amplitude das ondas eletrocardiográficas
no traçado. Após a realização dos exames
complementares, da abdominocentese
e da pericardiocentese optou-se
pelo internamento do animal para a
realização de hidratação e tratamento
suporte. Após a venóclise do animal, o Figura 8: Neoplasia intravascular de células
Figura 6: Necropsia evidenciando efusão
mesmo foi colocado em fluidoterapia pericárdica (seta vermelha) de um cão, macho, de 4 redondas pobremente diferenciadas (seta vermelha)
coradas com hematoxilina e eosina aumento de 20
de manutenção com ringer com lactato, anos de idade da raça Fila Brasileiro.
vezes.
realizou-se mensuração da pressão
arterial sistólica do paciente pelo método Devido a histologia apenas nos
Doppler vascular a qual se verificou 260 fornecer um diagnóstico de neoplasia
mmHg. Iniciou-se a terapêutica com de células redondas pobremente
enalapril 0,5 mg/kg 12/12 horas, via diferenciadas. Optou-se por realizar a
oral, furosemida 2 mg/kg 12/12 horas, imunohistoquímica de forma a chegar a
via intravenosa, digoxina 0,005mg/ um diagnóstico definitivo (Fig. 9 e 10).
kg 12/12 horas, via oral e diltiazem
0,5mg/kg 8/8 horas, via oral. Além de
Figura 7: Necropsia evidenciando o coração
suporte nutricional balanceado diário. A (seta vermelha) e o saco pericárdico (seta amarela)
digoxina e o diltiazem foram necessários de um cão, macho, de 4 anos de idade da raça Fila
pois o paciente apresentava episódios de Brasileira

fibrilação atrial, com frequência cardíaca


de 192 batimentos por minuto, após a
instituição dos fármacos houve uma Na necropsia não foi encontrada
redução dos episódios de fibrilação atrial nenhuma estrutura compatível com
significante. No período de internação neoplasia cardíaca, sendo está a
Figura 9: Imunohistoquímica de neoplasia de
realizou-se a hemogasometria do principal suspeita clínica, desta forma células redondas expressando o receptor CD3 (seta
animal, a qual verificou hipocalemia, foi coletado material para a realização de vermelha) em aumento de 40 vezes.
sendo feita terapia de reposição 24 avaliação histopatológica. A histologia
horas por via intravenosa. O animal evidenciou: no pericárdio neoplasia de
ficou internado durante 11 dias, células redondas disposto em manto, não
contudo não houve melhora do quadro delimitado, não encapsulado, infiltrativo,
clínico e o mesmo veio a óbito. O entremeado por estroma fibrovascular.
animal foi encaminhado ao Setor de As células apresentam citoplasma
Patologia Veterinária da Escola de basofílico, escasso, em algumas áreas
Veterinária da UFMG para a realização com fina granulação basofílica e núcleo
da necropsia, na qual verificou-se que redondo, amplo, com cromatina frouxa
saco pericárdico apresentava acúmulo e múltiplos nucléolos proeminentes. Há Figura 10: Imunohistoquímica de neoplasia de
de aproximadamente 1,5 litro de líquido acentuada anisocitose e anisocariose e células redondas não expressando o receptor CD79
vermelho escuro, levemente translúcido intenso pleomorfismo celular e nuclear. (seta vermelha) em aumento de 40 vezes.
e fluido, que não se coagula quando São observadas em média 1 mitose
Após a realização da
exposto ao ambiente (hemopericárdio) típica e duas atípicas por campo na
imunohistoquímica, o diagnóstico
(Fig. 6 e 7). Foram observados, também, objetiva de 40 vezes, apresentando
definitivo foi de linfoma intravascular
múltiplos pontos de milimétricos ainda algumas áreas de invasão vascular.
cardíaco de linfócitos T.
a 1,0 cm de diâmetro, aderidos ao Coração, hipófise, aorta, fígado e rim:
epicárdio esquerdo, mais proeminentes neoplasia com as mesmas características Discussão
na parede ventricular esquerda. A das supracitadas predominantemente Linfomas cardíacos primários são
cavidade abdominal apresentava intravasculares e em algumas áreas neoplasias raras e compreendem 1,3% de
acúmulo de aproximadamente 2,5 infiltrando o tecido adjacente (Fig. todos os tumores cardíacos ( JOHRI et
litros de líquido translúcido e fluido, 8). O exame histopatológico chegou al., 2009). Até a presente data, menos de
que não se coagula quando exposto ao ao diagnóstico de neoplasia de células 90 linfomas cardíacos foram descritos na
ambiente (hemoperitôneo). Não foi redondas pobremente diferenciadas.

25
CARDIOLOGIA

dificuldade do diagnóstico precoce ou


pelo seu comportamento extremamente
agressivo (HABERTHEUER et al.,
2014).

Conclusões
Para todo animal que apresentar sinais
sugestivos de alterações cardiovasculares
como cansaço, emagrecimento
progressivo, efusão abdominal,
efusão pericárdica e dispneia, deve-se
incluir, nos diagnósticos diferenciais,
os tumores cardíacos, mesmo
apresentando baixa incidência na
clínica médica. O linfoma extranodal
intravascular cardíaco de linfócitos T,
ainda é um desafio diagnóstico para o
clínico, pois o mesmo não apresenta
massa extra cardíaca visível aos exames
de imagem como ecocardiografia e
tomografia computadorizada. Além de
não apresentar celularidade neoplásica
na análise dos líquidos efusivos.
Desta forma seu diagnóstico in vivo é
desafiador.

literatura e quando reportados são casos físico, emagrecimento progressivo,


únicos (NASCIMENTO et al., 2007). efusão abdominal, efusão pericárdica,
Desta forma o presente relato de linfoma taquicardia, taquipneia e prostração
intravascular cardíaco é considerado um são manifestações clínicas comumente EXAMES REALIZADOS PELO
TECSA LABORATÓRIOS
caso extremamente raro em medicina verificadas em enfermidade do sistema
veterinária. Linfomas cardíacos cardiovascular e encontradas no paciente
primários devem ser diferenciados de do relato. Dentre os diagnósticos
outros tumores malignos primários do diferenciais, temos a cardiomiopatia CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
coração, tais como o hemangiossarcoma dilatada como a de maior prevalência 99 - CPK
(tumor maligno primário mais comum em raça Fila Brasileiro, por este CREATINOFOSFOQUINASE 1
em cães), além dos tumores cardíacos motivo, a mesma deve ser descartada
865 - PERFIL CHECK UP
benignos como o quimiodectoma e com o auxílio do ecocardiograma. A CARDIO - RENAL 2
os lipomas (HABERTHEUER et efusão pericárdica em cão é comum
al., 2014). O diagnóstico do linfoma em doenças neoplásicas, seja ela intra 111 - TGO (AST) 1
cardíaco primário é realizado quando ou extravascular ( JOHNSON et al.,
há envolvimento do coração ou do 2004). A pericardiocentese deve ser 288 - LDH - DESIDROGENASE LATICA 2
pericárdio, normalmente quando há sempre realizada em pacientes que
alterações de função cardíaca, sem apresentem tamponamento cardíaco, 331 - PERFIL ELETROLITICO 1
envolvimento de órgãos linfáticos além de servir para a coleta de material
788 - CHECK UP GLOBAL
(BAGWAN et al., 2009). No caso para análise citológica do líquido. DE FUNCOES COM HEMOGRAMA 1
descrito, o paciente não apresentava Outro procedimento importante
envolvimento de linfonodos periféricos, é a abdominocentese, devendo ser 357 - PESQUISA DE DIROFILARIOSE 1
como verificado na citologia do linfonodo realizada quando paciente demonstrar
poplíteo. A análise dos líquidos das desconforto ou angústia respiratória
efusões abdominal e pericárdica não foi ( JOHNSON et al., 2004). O linfoma
sugestiva de linfoma, pois não foram extranodal intravascular cardíaco
evidenciadas células neoplásicas. Os de linfócitos T possui prognóstico
Referências Bibliográficas
sinais clínicos de cansaço ao exercício altamente desfavorável, seja pela Solicitar aos autores através do e-mail: tecsa@tecsa.com.br

26
DERMATOLOGIA

ALOPECIA X
Introdução
Também conhecida como Black Skin
Disease, a Alopecia X é assim chamada
por ser um tipo de dermatite relacionada
aos hormônios sexuais.  É classificada
por uma série de dermatoses, sem
envolvimento sistêmico significativo,
que se caracterizam principalmente por
alopecia simétrica não pruriginosa e
hiperpigementação da pele.
A prevalência está entre animais
jovens de até três anos de idade, embora
tenha sido descrita em cães de dez
meses a dez anos, e, raças de pelo longo,
como Spitz Alemão, Chow-Chow,
Poodles, Keeshond, Samoieda, Husky
Siberiano e Malamute do Alasca. Não
há predileção por sexo.

Etiologia
A causa da Alopecia X ainda não
está totalmente elucidada, a teoria
atualmente aceita é de que essa doença
esteja relacionada a um componente
hereditário que cause um desequilíbrio
na sensibilidade dos receptores de
hormônios sexuais nos folículos pilosos,
provocando a permanência do folículo
piloso em telógena (fase inativa).
No entanto, ela também pode
estar relacionada ao hormônio do
crescimento, à hiperplasia adrenal
congênita, à uma pseudo-síndrome de
Cushing (hiperadrenocorticismo),  ao
início do hiposomatotropismo ou ainda
que seja uma dermatose responsiva à
castração.

Sinais Clínicos
Embora os seus sinais clínicos possam
ser considerados um tanto quanto
chocantes, felizmente  essa dermatose
não causa nenhum acometimento
sistêmico nos animais afetados,
alterando apenas a porção estética
do cão. É classificada como uma
dermatose endócrina que apresenta
como consequência, uma alopecia de
forma simétrica, não pruriginosa e pele
hiperpigmentada. Evolui com pelagem
ressecada, rarefação pilosa até a alopecia
completa em região cervical, tronco,
27
DERMATOLOGIA

de queratina nos pelos, observada


através da realização do tricograma. Do
ponto de vista laboratorial, nenhuma
anormalidade clínico-patológica
costuma estar presente.

EXAMES REALIZADOS PELO


TECSA LABORATÓRIOS

CÓD - EXAME PRAZO/DIAS

86 - HISTOPATOLOGICO COM
COLORACAO DE ROTINA - HE 4

355 – PESQUISA DE SARNA


E FUNGOS 1

686 – TESTE ALÉRGICO PAINEL


C/ 24 ALERGÉNOS 7

684 - TESTE ALÉRGICO ALERGIA À


(SALIVA) DE PULGA 7

571 - PERFIL CHECK UP


GLOBAL DE FUNCOES 1

697 - PERFIL HIPERTIREOIDISMO


RADIOIMUNOENSAIO 2

696 - PERFIL HIPOTIREOIDISMO


RADIOIMUNOENSAIO 2

621- CORTISOL POS SUPRESSAO DEXAM-


ETASONA - 3 DOS. (RADIOIMUNOENSAIO) 1

631 - DOSAGEM DE CORTISOL POS


ESTIMULO COM ACTH (2 DOSAGENS) 1

71 - TSH - HORMONIO ESTIMULANTE


DA TIREOIDE 1
cauda e face posterior de membros semelhantes à Alopecia X, destacando 73 - T4 LIVRE
pélvicos, preservando geralmente a por exemplo, o hiperadrenocorticismo RADIOIMUNOENSAIO 1
região da cabeça (figura 1). (teste de supressão por baixa dose de 147 - T4 TOTAL
dexametasona, teste de estimulação RADIOIMUNOENSAIO 1
por ACTH) e o hipotireoidismo 736 - TRICOGRAMA (AVALIACAO MORFO-
(T4 livre, T4 total, TSH), bem como LOGICA MICROSCOPICA DE PELOS) 3
outras doenças dermatológicas  como 851 - PERFIL DIAGNOSTICO ALOPECIA
demodécica e DASP, que também X - QUIMIOLUMINESCENCIA 7
deverão ser descartadas. 852 - PERFIL ESTEROIDAL
A biópsia de pele é fundamental COMPLETO 7
no auxílio ao diagnóstico, o exame 854 - PERFIL ESTEROIDAL
histopatológico é muito útil REDUZIDO 7
por descartar outros quadros de 855 - 17 HIDROXIPROGESTERONA -
apresentação similar como a displasia BASAL 7
folicular e alopecia sazonal do flanco. 765 - 17 HIDROXIPROGESTERONA -
O resultado da avaliação histológica BASAL + POS ACTH 7
destes animais evidencia um padrão
associado a endocrinopatias (discreta
Figura 1: Sinais clínicos característicos da
alopecia X. Fonte: dermatologyforanimals atrofia e acantose da epiderme e do
epitélio folicular, hiperpigmentação,
Referências Bibliográficas
Diagnóstico teleogenização dos folículos CARMEL. T. M.; Mark E. P. Manual de endocrinologia Canina e Felina.

O diagnóstico é realizado através pilosos). Um achado bastante sugestivo, São Paulo. Roca. 2009.

dos sinais clínicos, histórico do animal mas não patognomônico, de alopecia X, é NELSO, R. W. ; COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais.4 ed.
Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2010.
associado a exclusão de outras patologias a presença de “folículos em chama”, uma
dermatológicas com manifestações alteração caracterizada por projeções Whai is alopecia x. [online] [citado em 15/06/2016] http://www.vet.utk.edu/
hairloss/alopecia.html

28
DERMATOLOGIA

GRANULOMAS E PIOGRANULOMAS:
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO
DIFERENCIAL EM GATOS

Granulomas e piogranulomas e infecciosa. ulceradas e não são dolorosas nem


cutâneos podem ser de origem pruriginosas. Não há sinais sistêmicos
infecciosa ou não infecciosa. A maioria Granulomas / Piogranulomas associados e o diagnóstico é baseado no
é semelhante em sua manifestação de Causa Não Infecciosa exame histopatológico de tecido.
clínica, desta forma, são requeridos Em relação aos granulomas e
métodos diagnósticos específicos para piogranulomas de causa não infecciosa Paniculite nodular estéril:
distingui-los. em gatos, deve-se considerar reações doença idiopática de pele rara em
A lesão primária da pele se manifesta a suturas não absorvíveis, material gatos. Pode ocorrer em conjunto com
como um nódulo ou uma placa queratinoso liberado na derme por lúpus eritematoso sistémico. As lesões
endurecida com ulceração secundária, carcinoma de células escamosas, bem são localizadas no tronco (gordura
fibrose e formação de trajeto fistuloso, como corpos estranhos exógenos. subcutânea) e aparentemente dolorosas.
sendo que a maioria produz exsudato Estas lesões podem ser estéreis ou Podem ser únicas ou múltiplas e o curso
hemorrágico e purulento. As lesões complicadas por infecções bacterianas, de erupção pode ser agudo ou crônico.
podem ser singulares, regionais ou e permanecem ativas até que o corpo A maioria das lesões rompe e produz
generalizadas, sendo que em alguns ou uma intervenção externa atue na sua exsudato gorduroso.
casos, pode haver participação de uma remoção.
cavidade corporal subjacente ou osso. O Granuloma eosinofílico clássico:
presente artigo irá apresentar algumas Granuloma / piogranuloma estéril: pode ocorrer em qualquer parte do
causas e as principais características uma doença nodular multifocal corpo, principalmente na cavidade oral,
relacionadas aos granulomas / idiopática que é rara em gatos. As membros, pés, as margens dos lábios e
piogranulomas de causa não infecciosa lesões são firmes, violáceas, raramente no queixo. Caracteristicamente essas

29
DERMATOLOGIA

Conclusão
Os granulomas e piogranulomas
possuem amplo diagnóstico diferencial,
de forma que a causa inicial da doença
deve ser profundamente investigada.
O TECSA laboratório possui
infraestrutura e profissionais capacitados
para dar suporte no diagnóstico dessas
doenças com precisão e confiança.
EXAMES REALIZADOS PELO
TECSA LABORATÓRIOS
CÓD - EXAME PRAZO/DIAS

736 - TRICOGRAMA (AVALIACAO MORFO-


lesões estão ulceradas na superfície e dermatofitose generalizada. As lesões LOGICA MICROSCOPICA DE PELOS) 3
não fistuladas e tendem a ocorrer em são circunscritas, com nódulos dérmicos
gatos jovens. ulcerados ou fistulados. O diagnóstico é
estabelecido com o exame de biópsia e o 602 - RASPADOS DE PELE 1
Xantogranulomas: tratamento é difícil, principalmente em
nódulos benignos granulomatosos casos onde houver infecção bacteriana
da pele associados a anormalidades secundária. 576 - CULTURA (ANAEROBIOS +
AEROBIOS)+ ANTIBIOGRAMA 5
do metabolismo lipídico, comumente
associados à diabetes. As lesões
são esbranquiçadas e apresentam- Esporotricose: 759 - CULTURA DE FUNGOS COM
ANTIFUNGIGRAMA 30
se como múltiplas pápulas, que se A esporotricose é uma micose
desenvolvem principalmente na cabeça subcutânea piogranulomatosa, causada
e extremidades. pelo fungo dimórfico Sporothrix schenckii. 87 - CITOLOGIAS PET 3
As formas cutâneas são as mais comuns
Granulomas / Piogranulomas e as lesões de pele costumam ser graves,
Infecciosos ocorrendo principalmente na região da 86 - HISTOPATOLOGICO COM
COLORACAO DE ROTINA - HE 4
DOENÇAS BACTERIANAS cabeça e extremidade dos membros.
Actinomicose: O quadro inicial pode assemelhar-
apesar de rara em gatos, abscessos se a abscessos e não é responsivo à 272 - FAN (FATOR ANTI -
subcutâneos (piogranulomas, podem antibioticoterapia. As feridas podem NUCLEAR VETERINARIO) 4
conter grânulos amarelados), piotórax, evoluir para lesões ulceradas, crostosas e
peritonite, artrite séptica e osteomielite. com exsudatos purulentos. 253 - ANA
(ANTICORPO ANTI NUCLEAR) 4
Nocardiose:
A nocardiose cutânea é uma condição Coccidioidomicose:
686 - TESTE ALERGICO PAINEL
supurativa a piogranulomatosa, é rara É uma infecção fúngica, sendo a 24 ALERGENOS 7
em gatos. Ocorre após penetração forma cutânea rara. Nas lesões, há
do agente em ferimentos na pele e se nódulos superficiais e trajetos drenantes
manifesta com formação de abscessos 685 - TESTE ALERGICO PAINEL
crônicos. 36 ALERGENOS 7
localizados, fístulas e úlceras necróticas.

Tuberculose: Criptococose: 271 - FIV/FELV - LEUCEMIA E


IMUNODEFICIENCIA FELINA 1
quando infectados, os gatos não A criptococose é uma infecção fúngica
apresentam os sinais clássicos (tosse, sistêmica de distribuição mundial,
anorexia), ocorrendo lesões cutâneas sendo o envolvimento cutâneo comum
Referências Bibliográficas
e/ou linfadenopatia. Os pulmões são em gatos. As lesões são frequentemente FOIL, C.S. Nodules, ulcers and draining tracts in the cat: differential

afetados apenas nos casos crônicos. encontradas na cabeça, pescoço e diagnosis and clinical features of importante causes. In: II CONGRESSO
INTERNACIONAL DE MEDICINA FELINA, 2001, Rio de Janeiro.
correspondem a ulcerações e erosões, Anais... Rio de Janeiro, 2001. p.11-13.

INFECÇÕES FÚNGICAS que por sua vez podem ser nasais,


VIEIRA, T.R. Dermatite facial idiopática do gato persa. 2009. 35f.
Monografia (Especialização Latu Sensu em Clínica Médica e Cirúrgica
Dermatofitose granulomatosa: linguais, gengivais, palatinas, podais ou de Pequenos Animais) – Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade
Castelo Branco, Campinas, SP.
é vista em gatos de pêlo longo e no leito ungueal.
30
DERMATOLOGIA

DERMATITE ALÉRGICA POR MALASSEZIA

Introdução
A Malassezia sp. é um fungo
leveduriforme pertencente a microbiota
normal do animal, sendo considerado
um patógeno oportunista do meato
acústico externo e tegumento de cães
e gatos, podendo ser encontrado no
reto, pele interdigital, sacos anais e
vagina. Em animais que apresentam
predisposição genética os sinais
clínicos de otites externas e dermatites
podem desencadear o quadro de
hipersensibilidade a Malassezia sp.
em animais ainda assintomáticos. Sua
proliferação intensa, está relacionada a
processos de desequilíbrio local, como
por exemplo, inflamações do meato
acústico externo ou sistêmico como
Figura 1: Esquema da reação imediata tipo 1. Fonte: Uppsala Universitet
foliculites ou piodermatites. Vários
relatos não descreveram predisposição Etiologia alguns estudos considerem que a pele
sexual às dermatites alérgicas por As dermatites relacionadas a de cães atópicos não é mais favorável
Malassezia sp., mas, em relação à fenômenos de hipersensibilidade, ao desenvolvimento de Malassezia sp.
predisposição, as raças basset hound, são frequentemente considerados do que a de cães portadores de outras
boxer, shar pei, shi tzu, lhasa apso, fatores predisponentes. Podendo dermatopatias.
west highland white terrier, yorkshire, haver facilidades na penetração de As reações alérgicas típicas são
labrador, poodle, pastor alemão, cocker e microorganismos na pele do atópico predominantemente, aquelas que
dachshund são frequentemente citadas devido suas funções de barreira protetora envolvem predisposição genética,
como as mais acometidas. da pele serem deficientes. Embora produção de anticorpos reagentes,
31
DERMATOLOGIA

linfócitos B ativados após o contato com


o alérgeno. É interessante ressaltar que
o teste dosa o IgE ligado ao mastócito,
ou seja, a fração realmente ativa no
processo da alergia.

EXAMES REALIZADOS PELO


Figura 2: Nota-se os sinais clínicos nos locais mais acometidos por dermatite alérgica a Malassezia sp. (pele
TECSA LABORATÓRIOS
interdigital e conduto auditivo). Fonte: Theskinvet.net.

além da degranulação de mastócitos. Diagnóstico CÓD - EXAME PRAZO/DIAS


São reações que geralmente se iniciam O diagnóstico deve ser realizado
após o segundo contato com o antígeno, associado a exclusão de outras causas
87 - CITOLOGIA 7
sendo também chamadas de reações de doença que se assemelham aos
imediatas tipo 1 (figura 1). sinais clínicos da dermatite alérgica
A dermatite atópica envolve este tipo por Malassezia sp. associado a história 759 - CULTURA DE FUNGOS
COM ANTIFUNGIGRAMA 30
de reação, que é mediada principalmente clínica do animal. O diagnóstico para
pela IgE. Uma vez feito o contato com confirmar a presença da Malassezia sp.
o alérgeno, as células de Langerhans pode ser realizado através da citologia 86 - HISTOPATOLOGIA COM
entram em contato com este e os COLORAÇÃO DE ROTINA - HE 4
por impressão ou de fita adesiva
linfócitos T auxiliares são requisitados (imprint cutâneo) onde o crescimento
para fazerem a apresentação do excessivo do fungo é confirmado ao
antígeno aos linfócitos B. Estes serem encontrados mais de dois fungos 355 - PESQUISA DE SARNA E FUNGOS 1
produzem anticorpos IgE alérgeno- redondos e ovais por campo. No exame
específicos e células de memória. Os histopatológico de pele; observa-se 686 - TESTES ALÉRGICOS
anticorpos IgE se ligam aos mastócitos dermatite perivascular superficial a PAINEL C/ 24 ALÉRGENOS 7
e basófilos teciduais, o que resulta em intersticial linfo-histocítica com fungos
degranulação e liberação de mediadores e ocasionalmente pseudohifas. E pode-
646 - TESTE ALÉRGICO ALERGIA À
inflamatórios pré-formados, além se ainda realizar cultura fúngica e (SALIVA) DE PULGA 7
da estimulação da cascata do ácido pesquisa de fungos através do raspado
aracdônico. Esses mediadores pré- de pele.
formados são: histamina, heparina, 46 - MALASSEZIA SP. PESQUISA 1
serotonina, cininogenase, proteases
neutras, fator quimiotático eosinofílico
da anafilaxia, fator quimiotático do 688 - TESTE ALÉRGICO ALERGIA
A MALASSEZIA 7
neutrófilo, fator ativador das plaquetas e
todos os derivados do ácido aracdônico.

Sinais Clínicos
O principal sinal clinico apresentado
nos animais com dermatite atópica Figura 3: Malassezia sp. observado através de
microscópia. Fonte: blogspot.com
é o prurido. De uma forma geral, o
prurido do atópico é caracterizado Referências Bibliográficas
Entretanto,  para determinar  se o
por ser continuo de moderado a ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna
animal apresenta hipersensibilidade a
intenso durante todo o dia/noite. Os Veterinária: Doenças do Cão e Gato. Vol 1 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Malassezia sp. é necessário a realização Koogan, 2004. 1038 p.


outros sinais clínicos apresentados MORRIS, D. O.; OLIVER, N. B.; ROSSER, E. J. Type-1 hypersensibility
de provas sorológicas (ELISA) para
são, alopecia, liquenificação, reactions to Malassezia pachydermatis extracts in dogs. American Journal of

detecção dos IgE específicos. Os Testes Veterinary Research,


hiperpigmentação, eritema, localizando- NELSO, R. W.; COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais. 4 ed.
sorológico IgE específico são uteis
se predominantemente no conduto Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2010.
para identificar hipersensibilidade aos
auditivo externo, face, região ventral do
alérgenos ambientais, DASP e fungos.
pescoço, axilas, ventre, pele interdigital e
Este teste pesquisa a presença de
áreas intertriginosas.
anticorpos específicos, produzidos pelos

32
MEDICINA LABORATORIAL DE FELINOS

DOENÇA DE PELE AUTOIMUNE:


DIAGNÓSTICO EM FELINOS

As doenças autoimunes são eritematoso, dermatite pustular acometidos podem apresentar com
caracterizadas pela produção de subcorneal, leishmaniose, dermatoses hiperqueratose (descamação) acentuada
anticorpos direcionados contra seborréicas e farmacodermias. na pele em regiões distintas, incluído
estruturas saudáveis do próprio corpo, coxins podais e o dorso do nariz, com
causando diversos danos ao animal. Pênfingo Foliáceo ou sem envolvimento do leito ungueal.
Existem várias dermatopatias em gatos É caracterizado pela produção de Os gatos podem se apresentar febris,
causadas por fatores autoimunes ou anticorpos direcionados para estruturas deprimidos e anoréxicos, com prurido
agentes externos, que variam em relação responsáveis pela manutenção da pronunciado (figura 1).
à sua gravidade. adesão intercelular. Foram identificados
alguns antígenos específicos que são
Complexo Pênfigo alvos dos auto-anticorpos em várias
O complexo de pênfigo de doenças formas de pênfigo, dentre eles estão
inclui o pênfigo foliáceo (o mais comum), as glicoproteínas desmossômicas, que
pênfigo eritematoso, pênfigo vulgar e servem como molécula intercelular de
o pênfigo vegetante. De forma geral, adesão. A ligação do anticorpo é vista ao
o diagnóstico deve ser feito baseado longo da epiderme em todas as formas
no histórico do animal, anamnese, de pênfigo, mas a dissolução intercelular
exames físicos e laboratoriais incluindo, (acantólise) ocorre no nível da epiderme,
citologia do conteúdo das pústulas, onde o antígeno alvo predomina como a
histopatologia, imunofluorescência principal molécula de adesão. As lesões
(direta e indireta) e imunohistoquímica. consistem de máculas eritematosas
Ao se realizar o diagnostico diferencial, que progridem rapidamente para uma Figura 1: Animal apresentando pênfigo foliáceo.
deve-se pensar em foliculite bacteriana, fase pustular, transformando em uma Fonte: http://hovetanimalcare.blogspot.com.
br/2011/02/penfigo-foliaceo-gato.html
dermatofitose, demodicose, lúpus crosta seca e amarelada. Os animais
33
MEDICINA LABORATORIAL DE FELINOS

Para o diagnóstico, pode-se utilizar histopatológico, podem ser encontrados ulceração da cavidade oral pode constituir
o esfregaço direto de uma pústula achados que incluem pústulas um sinal inicial apresentado em mais de
intacta ou da superfície por baixo subcorneanas e ou intragranulares, 50% dos casos. O prurido e a dor são
de uma crosta espessa revela muitas degeneração hidrópica da camada variáveis. Os achados histopatológicos
células acantolíticas. Os achados celular basal e células disqueratóticas. incluem pústulas suprabasilares com
histopatológicos incluem pústulas Os esfregaços diretos são semelhantes acantólise. Os esfregaços diretos são
subcorneanas e/ou intragranulares aos do pênfigo foliáceo. Os testes semelhantes aos do pênfigo foliáceo. Os
com células acantolíticas. Os testes de anticorpos imunoflorescentes testes de anticorpos imunoflorescentes
de anticorpos imunoflorescentes diretos e os testes de coloração com diretos e os testes de coloração
diretos e os testes de coloração imunoperoxidase direto ficam positivos, com imunoperoxidase direto ficam
com imunoperoxidase direto ficam com coloração no padrão intercelular, positivos, com deposição intercelular de
positivos, com coloração intercelular da com ou sem intercorrente na zona da imunoglobulinas ou complemento do
imunoglobina e/ou do complemento do membrana basal. terço inferior da epiderme.
terço superior da epiderme.
Pênfigo Vulgar Pênfigo Vegetante
Pênfigo Eritematoso As lesões se caracterizam como No pênfigo vegetante, as lesões
O pênfigo eritematoso é uma erupções vesícula-bolhosas que ulceram são geralmente generalizadas em
variante raramente reconhecida rapidamente deixando crostas espessas. vez de mucocutâneas, podendo ser
do pênfigo foliáceo. As lesões são As lesões podem ser primeiramente vegetativas (proliferativas) ou verrucosas
semelhantes, mas se limitam à face, mucocutâneas em localização ou (semelhantes as verrugas). Achados
sendo que alguns animais podem generalizadas são comuns em histopatológicos incluem microabsessos
apresentar despigmentação do plano onicomadese (queda das unhas) e eosinofílicos acantolíticos intra-
nasal. Na realização do diagnóstico ulcerações nos coxins podais. Uma epidermicos com formação significativa

34
MEDICINA LABORATORIAL DE FELINOS

de crostas superficiais, proliferações Além disso, há relatos de que as raças necessários, contando com veterinários
papilomatosas e vegetações verrucosas. Collies, Pastor de Shetland, Pointers e capacitados para atender e dar suporte
Os esfregaços diretos são semelhantes Huskies Siberianos são as mais afetadas. aos seus clientes.
aos do pênfigo foliáceo. Os testes O diagnóstico de lúpus eritrematoso
de anticorpos imunoflorescentes baseia-se na anamnese, avaliação
diretos e os testes de coloração com clínica e exames laboratoriais
imunoperoxidase direto ficam positivos, complementares, como histopatologia, EXAMES REALIZADOS PELO
com padrão de coloração intercelular. biópsia, ANA (anticorpo anti-nuclear) TECSA LABORATÓRIOS
e FAN (fator anti-nuclear). Devem
Lúpus Eritematoso ser consideradas como diagnósticos
O lúpus eritematoso tem duas diferenciais, doenças do complexo CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
apresentações, podendo ocorrer na forma pênfigo, intoxicação por medicamentos,
de lúpus eritematoso sistêmico (LES) síndrome uveodermatólogicas, vitiligo, 736 - TRICOGRAMA 3
ou lúpus eritematoso discóide (LED). O micose fungica, dermatite de contato,
LED é a apresentação benigna do LES, carcinoma espinocelular, piodermites e
e em ambos os casos são produzidos dermatofitose. 576 - CULTURA (ANAEROBIOS +
5
auto-anticopos contra tecidos próprios e AEROBIOS) + ANTIBIOGRAMA
saudáveis dos animais. No LED, ocorre Alopecia Areata
a deposição dos complexos antígenos- A alopecia areata é causada por 759 - CULTURA DE FUNGOS
COM ANTIFUNGIGRAMA 30
anticorpos na pele, causando lesões segmentação auto-imune dos folículos
cutâneas que podem ser observadas em anágem. Distúrbios imunológicos
clinicamente. Normalmente estas lesões são considerados a causa mais provável
87 - CITOLOGIAS PET 3
estão restritas à face, entretanto, há da alopecia areata em gatos. Essa
relatos de acometimento de genitália desordem gera alopecia inicialmente
e membros. Inicialmente ocorre em torno na cabeça, pescoço e tronco. 86 - HISTOPATOLOGIA COM
4
descamação, eritrema e despigmentação De forma geral, não afetam as pernas COLORAÇÃO DE ROTINA
(principalmente no focinho). Já no ou cauda, não causam prurido e não
LES, a apresentação da doença é variada, há simetria nas lesões. Em animais de 272 - FAN (FATOR ANTI -
podendo ocorrer sintomas sistêmicos, pelagem de cores variadas, os bulbos NUCLEAR VETERINARIO) 4
como febre, anemia, glomerulonefrite, mais escuros têm maior acometimento.
poliartrite e estomatite ulcerativa. As O diagnóstico deve ser feito a partir da
lesões cutâneas representam cerca anamnese, avaliação clínica e exames 253 - ANA- (ANTICORPO ANTI NUCLEAR) 4
de 20% dos animais acometidos, que laboratoriais como histopatologia e
podem apresentar eritrema, alopecia, tricograma dos pelos presentes na borda
686 - TESTE ALERGICO
erosões, crostas no rosto e coxim plantar da lesão. Diagnósticos diferenciais PAINEL – 24 ALERGENOS 7
(figura 2). devem ser feitos pensando nas demais
doenças autoimunes, dermatofitoses
271 - FIV / FELV - LEUCEMIA E
e piodermites. Além disso, a alopecia IMUNODEFICIENCIA FELINA 1
areata não deve ser confundida com a
alopecia psicogênica, onde a perda de
pelo é causada por aliciamento excessivo
e automordedura.

Conclusão
As doenças autoimunes em gatos não
são tão frequentes na clínica de pequenos
animais, por esse motivo devem ser bem
estudadas e avaliadas pelo veterinário
para conclusão do diagnóstico e Referências Bibliográficas
BOCARDO, M.; LOPES, R.M.G.; PEREIRA, R.E.P. Doenças auto-
resolução do quadro clínico.
Figura 2. Felino apresentando Lúpus. imunes em gatos. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária.

Fonte: http://argos.portalveterinaria.com Dessa forma, os exames laboratoriais, n.11, 2008.


FOIL, C.S. Diagnosis and treatment of feline autoimune skin disease. In:
são indispensáveis na identificação II CONGRESSO INTERNACIONAL DE MEDICINA FELINA, 2001,
De forma geral, animais doentes destas patologias. O TECSA laboratório Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 2001. p.6-7.

apresentam piora clínica quando possui toda a infraestrutura e qualidade


expostos à luz solar e vacinas virais. técnica para auxiliar nos exames

35
ENDOCRINOLOGIA

HIPOADRENOCORTICISMO:
ENFERMIDADE RARA OU SUB-DIAGNOSTICADA
EM NOSSO MEIO?

O hipoadrecorticismo, também para vômitos, anorexia, melena, letargia de Eletroquimioluminescência ou


conhecido como síndrome de Addison, e perda de peso, além de predispor à Radioimunoensaio , no qual os animais
é uma disfunção endócrina resultante hipoglicemia e resultar em excreção portadores da síndrome apresentam
da deficiência da produção de deficiente de água livre de sódio, o que se cortisol em níveis indetectáveis, não
glicocorticóides e mineralocorticóides, verifica clinicamente como incapacidade responsivo ao estímulo de ATCH.
que tem sido relatada pela literatura de concentrar urina determinando PU/
antiga como uma “enfermidade” pouco PD (poliúria e polidipsia). ACTH:
comum em cães e raríssima em felinos, Sua dosagem no plasma de pacientes
mas hoje em dia a casuística tem O diagnóstico é laboratorial, uma vez com níveis eletrolíticos dentro da
aumentado na espécie canina. Quanto que não há sinais patognomônicos e normalidade permite diferenciar o
à causa dessa síndrome, elas podem envolve as seguintes análises: hipoadrenocorticismo primário do
ser classificadas como Primárias e secundário.
Secundárias. A primária é idiopática, HEMOGRAMA COMPLETO: EXAMES REALIZADOS PELO
podendo se tratar de processo No qual pode ser verificada anemia, TECSA LABORATÓRIOS
imunomediado, overdose de mitotano, eosinofilia e linfocitose. CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
doença granulomatosa ou metástase de
39 - HEMOGRAMA COMPLETO - CANINO 1
neoplasias. A secundária ou iatrogênica DOSAR: SODIO, POSTÁSSIO,
é consequente da interrupção de terapia CLORETO (CLORO), CÁLCIO, 110 - SODIO 1
longa com glicocorticóides, deficiência FOSFATASE ALCALINA:
isolada de ACTH, pan-hipopituitarismo Constiuem-se componentes séricos 108 - POTASSIO 1
e tumor de hipófise não–funcional. Sua alterados que merecem avaliação e
patofisiologia relaciona-se à inabilidade complementam o diagnóstico. 171 - CLORO (CLORETO) 1
da aldosterona (mineralocorticóide)
exercer seu papel regulatório na URINA ROTINA: 96 - CALCIO 1
excreção de potássio e retenção de sódio, Frequentemente revela incapacidade
101 - FOSFATASE ALCALINA 1
levando a diminuição do volume efetivo de concentração urinária.
circulante, que por sua vez, contribui
234 - URINA ROTINA 1
para a azotemia pré-renal, hipotensão, CORTISOL BASAL:
desidratação, fraqueza e depressão. A Disponível nas metodologias 619 - DOSAGEM DE CORTISOL 1
hipercalemia (juntamente com outros de Eletroquimioluminescência ou BASAL - RADIOIMUNOENSAIO
distúrbios metabólicos) pode resultar Radioimunoensaio (mais sensível). 630 - DOSAGEM DE CORTISOL POS ACTH 1
- 2 DOSAGENS - RADIOIMUNOENSAIO
em toxicidade do miocárdio, ao passo
218 - ACTH - HORMONIO 2
que a deficiência na produção de CORTISOL PÓS ACTH: ADRENOCORTICOTROFICO
glicocorticóides (cortisol) contribui Disponível nas metodologias
36
LEISHMANIOSE

NOVOS DESAFIOS NA QUALIDADE DE VIDA DOS


ANIMAIS INFECTADOS POR LEISHMANIOSE VISCERAL
Mv, PhD, Fábio dos Santos Nogueira
Sócio Fundador do BRASILEISH; Mestre e Doutor pela UNESP Botucatu – SP; Trabalha com Imunoterapia e Imunoprofilaxia da Leishmaniose Visceral
Canina (Anfotericina B, Miltefosina, Leishmune, Canileish), Professor de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais na FEA – Andradina – SP

As leishmanioses são enfermidades derme e hipoderme em associação aos ter proliferação generalizada do parasita,
infecciosas não contagiosas, causadas anexos cutâneos, refletindo não só a com resposta granulomatosa e grande
por diferentes espécies de protozoários ação espoliativa sistêmica parasitária quantidade de parasitos, principalmente
do gênero Leishmania, e que apresentam como também local. Normalmente em órgãos linfóides (linfonodos,
diversidades clínicas significantes. encontramos casos de dermatite baço, e medula óssea). Ocorre ainda
Dependendo da apresentação clínica esfoliativa não pruriginosa com ou proliferação de linfócitos B, histiócitos,
e dos diferentes agentes etiológicos, sem alopecia (principalmente em macrófagos, plasmócitos, resultando
podem ser classificadas em leishmaniose região periocular, em região de pina, e em linfoadenomegalia generalizada e
tegumentar (forma cutânea, muco membros); dermatite ulcerativa com algumas vezes esplenomegalia.
cutânea, e cutânea difusa) e leishmaniose localização predominante em saliências As manifestações oftálmicas ou
visceral apresentação clínica grave e fatal ósseas, junção mucocutânea, focinho, perioftálmicas são comumente
da doença. A Leishmaniose Visceral região interdigital e margem interna observadas e descritas, e podem muitas
Canina (LVC) caracteriza pela sua da pina; necrose isquêmica; dermatite vezes representar a primeira alteração
enorme variabilidade de manifestações nodular multifocal; dermatite papular; visualizada. São encontradas: blefarites,
clínicas, devido basicamente a fatores lesões que apresentam dificuldade de blefaroconjuntivites, ceratoconjuntivite
individuais relacionados exclusivamente cicatrização; além de quadros cutâneos seca ou não, uveítes, distrofias, hifemas,
ao tipo de resposta imunológica atípicos como hiperqueratose nasal e conjuntivite folicular e membranosa
desenvolvida (resposta imune humoral digital, despigmentação e pêlos opacos. e panoftalmites. Sinais clínicos de
e/ou celular), grau de infestação A onicogrifose (crescimento exagerado diáteses hemorrágicas causadas
parasitária, tempo de evolução e órgãos das unhas) é um sinal clínico bastante principalmente por vasculites, podem
afetados. As alterações dermatológicas presente nos animais infectados e ser observados em animais com LV, bem
também estão presentes na maioria que normalmente chama a atenção como petéquias dispersas pelo corpo,
dos casos em animais infectados por do proprietário, e é resultado da hematúria, e principalmente epistaxes.
leishmaniose visceral e demonstram estimulação da matriz ungueal. Durante Além de emagrecimento progressivo e
o comprometimento da epiderme, a evolução da enfermidade poderemos caquexia, encontramos em uma

37
LEISHMANIOSE

porcentagem alta dos cães infectados, de ecto ou endoparasitas, e virulência da quantitativa (R.I.F.I. diluição total),
uma mioatrofia preferencialmente em Leishmania, podem contribuir para uma achados laboratoriais relacionados
músculos esqueléticos mastigatórios e maior susceptibilidade ou resistência à com enfermidade renal progressiva, na
temporal. Alguns autores demonstraram enfermidade ou mesmo a intensidade severidade das lesões e nas alterações
sua patogenia, que além da presença de destas manifestações. analíticas apresentadas, com posterior
parasitos, observa-se necrose e atrofia de Durante muito tempo, baseado tratamento e prognóstico individual.
fibra muscular, infiltrado mononuclear, somente em exame físico e nas
vasculite neutrofílica, e presença de manifestações clínicas apresentadas, os Estadiamento Clínico,
imunocomplexos e anticorpos séricos animais foram classificados segundo Prognóstico e Tratamento
anti-miofibrilas . O compromentimento Mancianti et al. em: assintomáticos – Individual
osteoarticular é pouco evidenciado em cães com ausência de manifestações Atualmente, no Brasil, o tratamento
cães com a doença; porém, quando clínicas; oligossintomáticos – cães que de cães com Leishmaniose vem sendo
presentes, são caracterizados por apresentavam até três manifestações discutido no âmbito judicial, devido
poliartrite do tipo erosiva decorrente clínicas da doença; e sintomáticos – cães à proibição pelo Conselho Federal
do processo inflamatório pelo depósito que apresentavam todas ou mais de três de Medicina Veterinária através de
de imunocomplexos. As lesões renais manifestações típicas da enfermidade. um parecer técnico nº. 299/2004 da
associadas, são decorrentes do depósito No entanto, em um contexto atual, esta Advocacia Geral da União de 2004
de imunocomplexos nos glomérulos e classificação apresenta um limitado valor, (proibição do uso do Antimoniato de
por ativação do complemento, causando pois não se considera anormalidades N-metil Glucamina) e pela Portaria
normalmente a morte do animal por clínico patológicas em órgãos internos, Interministerial de 2008 (Ministério
glomerulonefrites. O tipo de resposta sem sinal clínico aparente. Assim, da Saúde e Ministério da Agricultura
imunológica apresentada pelo animal atualmente, os animais são classificados Pecuária e Abastecimento) que proíbe
após a infecção, celular ou humoral, de acordo com um estadiamento a utilização de drogas de uso humano
associada a outros fatores, como genética, clínico (proposto pelo Grupo de (Antimoniato de N-metil Glucamina,
idade, sexo, nutrição, co-infecções, Estudos Europeu LEISHVET) e Anfotericina B e lipossomal) e/ou não
condições imunossupressivas, presença baseado principalmente na sorologia registrados no MAPA para tais fins.
Este debate é apresentado pela
38
LEISHMANIOSE

Organização Mundial de Saúde (OMS); no diagnóstico, não só por quantificar à dose de 20mg/kg por via oral durante 5
Organização Panamericana de Saúde carga parasitária bem como demonstrar dias, e o antimoniato de meglumina, na
(OPAS); Ministério da Saúde (MS); a infectividade dos animais após dose de 200 mg/kg por via subcutânea
Ministério da Agricultura, Pecuária e tratamento (rt PCR de fragmento de durante 5 dias, demonstrou uma
Abastecimento (MAPA); e Conselho pele). Estudos têm demonstrado à redução maior da carga parasitária de
Federal de Medicina Veterinária concordância do Xenodiagnóstico e L. infantum no baço de camundongos
(CFMV) que recomendam a eutanásia rt PCR de fragmento de pele quando tratados com miltefosina, e com
de cães infectados, mas reconhecem que realizados no mesmo pavilhão auricular. eficácia mantida durante 7 semanas
esse propósito é difícil de levar a termo. A Miltefosina (Hexadecilfosfocolina) depois do tratamento (Oliva et al
Entendem da necessidade de novos (figura 1) é uma droga que originalmente 1995). Em 2007, a Miltefosina foi
trabalhos que provem a não infectância foi estudada e classificada como droga lançada no mercado veterinário
dos animais tratados (com a utilização antitumoral por Unger et al., 1989. europeu com o nome comercial de
de provas laboratoriais de infectividade Milteforan®, pelo Laboratório Virbac
– Xenodiagnóstico) e da utilização de S.A., e com indicação exclusiva para o
drogas não utilizadas para o tratamento tratamento de cães com leishmaniose
da Leishmaniose Humana (receio visceral. Em um estudo clínico
da resistência parasitária). As drogas multicêntrico, controlado e aleatório,
de escolha utilizadas freqüentemente em cães infectados naturalmente por
para o tratamento da LVC no Mundo L. Infantum na Espanha e França,
todo, são: Antimoniato de N-metil o Milteforan® demonstrou eficácia
Glucamina, Anfotericina B, Miltefosina clínica, laboratorial e parasitária (na
Figura 1: Melteforan 20mg/mL.
e Alopurinol. No Brasil, diversos Fonte: Vibarc.com.br
dose de 2mg/kg). Os animais foram
autores recomendam à utilização da tratados durante 28 dias e avaliados
Imunoterapia em dose dupla (Antígeno Na década de 90 foi identificado e submetidos à score clínico, coleta de
A2 com saponina - Leishtec) e células seu potencial leishmanicida e amostra de sangue e aspirado de medula
inativadas de Propionibacterium atualmente representa o primeiro e óssea. Após 42 dias de observação
acnes (Infervac) com excelentes único agente anti-leishmania eficaz os animais tratados com Miltefosina
resultados. Vários outros compostos registrado, de administração oral, e apresentaram redução estatisticamente
incluindo domperidona, pentamidinas, com estudos em parceria com a OMS significativa do score clínico, 90 %
aminosidinas, metronidazol, (Organização Mundial de Saúde). de cura parasitológica em esfregaço
espiramicina, marbofloxacina e Estudos experimentais in vitro e de medula óssea, e não apresentaram
cetaconazol, estão sendo investigados in vivo mostraram a eficácia deste alterações significativas nos valores
como agentes anti-leishmania em cães, fármaco para o tratamento de infecções hematológicos e bioquímicos. Em outro
porém sem apresentar ainda resultados causadas por L. donovani e L. infantum. estudo multicêntrico (França, Espanha e
satisfatórios. Seu mecanismo de ação se baseia na Itália), aberto, em grande escala, porém,
O tratamento visa à melhora clínica inibição da biossíntese de receptores com um seguimento mais prolongado
das manifestações apresentadas, redução GPI (glicosil fosfatidil-inositol), (56 dias de observação), os animais
da carga parasitária, reestabelecimento molécula chave para a sobrevivência apresentaram resultados semelhantes
da resposta imune celular controladora intracelular da Leishmania. Interfere com melhora clínica e parasitária.
da infecção e o bloqueio da transmissão também na síntese da fosfolipase e da A carga parasitária foi avaliada em
para os flebotomíneos. proteinaquinase C, que são leishmania cães infectados naturalmente para L.
Antes de iniciar qualquer terapia, específicas. A ação antimetabólica infantum e submetidos ao tratamento
recomenda-se a realização de uma deste composto pode levar a alterações com Miltefosina na dose de 2mg/kg
avaliação laboratorial do paciente da biossíntese de glicolipídeos e durante 30 dias. Amostras de sangue
através de hemograma, bioquímica glicoproteínas da membrana do e aspirado de linfonodo de 18 cães,
sérica para função renal e hepática, parasito, provocando a apoptose da antes e depois do tratamento, foram
urinálise, e proteinograma para célula protozoária. submetidas à reação em cadeia pela
comparação e avaliação da eficácia Lux et al. (2000) mostraram que polimerase em tempo real (qPCR), a
do tratamento. Provas parasitológicas a síntese de lipofosfoglicano (LPG) cada 30 dias durante 12 meses. Após
(citologia de linfonodo e/ou medula e glicoproteína (GP63) está inibida 1 mês de tratamento houve redução
óssea) são importantes para avaliar em parasitas tratados com este estatisticamente significativa de 91,8%
e monitorar a redução da carga fármaco. Outros estudos sugeriram na carga parasitária do aspirado de
parasitária. Neste sentido, à reação em que este fármaco possui propriedades linfonodo, que se manteve durante
cadeia pela polimerase em tempo real imunomoduladoras. Um estudo todo o período de observação. Após a
(rt PCR) representa um grande avanço comparativo entre a miltefosina, na administração oral, a absorção da droga

39
LEISHMANIOSE

é completa no trato gastrintestinal, com


biodisponibilidade absoluta de 94% em
cães, atingindo a concentração máxima
entre um período de 4 a 48 horas e
tem meia-vida de 159 horas para a sua
eliminação. Seus efeitos secundários
podem incluir transtornos digestivos
como vômito, diarreia e anorexia em
alguns animais, e por isto deve ser
administrado durante a alimentação. As
limitações da terapia em cães, no Brasil,
pelo uso de antimoniatos, anfotericina B
e anfotericina B lipossomal (proibição e
disputa judicial do uso destes fármacos)
demonstram a necessidade em se buscar
uma droga exclusiva de uso veterinário.
Segundo o Manual de Leishmaniose
Visceral Grave (Ministério da Saúde,
2006), os antimoniais pentavalentes
e a Anfotericina B e lipossomal são
drogas de escolha para o tratamento
da Leishmaniose Visceral Humana
em virtude de sua comprovada eficácia
terapêutica. A Miltefosina não vem
sendo utilizada no Brasil para o
tratamento da Leishmaniose Visceral
Humana, devido aos poucos estudos
conduzidos com Leishmania infantum e
por apresentar resultados insignificantes.
Assim, considerando a preocupação do
Ministério da Saúde sobre a geração
e circulação de cepas parasitárias
resistentes; considerando a Portaria
Interministerial (art. 3, cita “ensaios
clínicos controlados, acompanhados
de seu protocolo, utilizando drogas
não destinadas ao tratamento de seres
humanos, devem ser solicitados e
autorizados pelo MAPA”; considerando
o posicionamento do CFMV na carta
de Brasília (Brasília, 2010) com previsão
orçamentária para estímulo às pesquisas
sobre tratamento canino; considerando
que o II e III Fórum de Discussão sobre
o tratamento da Leishmaniose Visceral
Canina (Brasília, 2009 e 2015) conclui
como padrão ouro para determinar e
avaliar a infectividade do animal tratado
o Xenodiagnóstico; e considerando
a Nota Técnica n° 023-CPV/DFIP/
DAS/MAPA de 19 de setembro de
2008 que não impede o tratamento da
doença com produtos que venham a ser
registrados no MAPA; foi proposto ao
MAPA e ao MS um ensaio clínico para

40
LEISHMANIOSE

à eficácia terapêutica da Miltefosina adultos, de ambos os sexos, com


EXAMES REALIZADOS PELO
(Milteforan) em cães infectados, função hepática e renal normais, e TECSA LABORATÓRIOS
avaliando a melhora clínica, redução parasitologicamente positivos. Todos os
CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
da carga parasitária e principalmente animais foram tratados com Miltefosina
316 - PERFIL COMPLEMENTAR
o bloqueio da transmissão. Este estudo na dose de 2mg/kg durante 30 dias, e PARA LEISHMANIOSE 1
foi aprovado pelos órgãos competentes submetidos aos exames já descritos,
44 - HEMOGRAMA COMPLETO 1
e teve início em 2013, na cidade de em momentos distintos durante o
Andradina – SP, em canil construído, período de observação - figura 3. 290 - LEISHMANIOSE FELINA
(ELISA + RIFI) 2
telado e com monitoramento- figura 2. Os resultados demonstraram que a
456 - IMUNOHISTOQUÍMICA 5
Miltefosina promove uma melhora PARA LEISHMANIOSE
clínica significante, intensa redução
408 - PESQUISA DE LEISHMANIOSE 3
da carga parasitária (comprovada pela
ciltologia e rt PCR de medula óssea e 483 - LEISHMANIA CHAGASI 5
MÉTODO PCR REAL TIME QUALITATIVO
linfonodo) e diminuição da infectividade
680 - LEISHMANIA CHAGASI - 7
(comprovada pelo Xenodiagnóstico e METODO PCR REAL TIME QUANTITATIVO
pelo rt PCR de pele), bloqueando assim 451 - PESQUISA DE SPOROTRIX
SCHENKIIE 2
a transmissão. Este estudo ainda não
foi publicado e aguarda a aprovação e 447 - LEISHMANIOSE CANINA 2
Figura 2: Canil telado e com monitoramento – foto DILUICAO TOTAL
do acervo Dr. Fabio dos Santos Nogueira
liberação do produto pelo Ministério da
83 - LEISHMANIOSE CANINA 1
Saúde (MS) e Ministério da Agricultura, ( DPP + ELISA + RIFI )
Todos os animais tiveram Pecuária e Abastecimento (MAPA). 582 - PERFIL LEISHMANIOSE
(DPP+ELISA+RIFI) E PROT. TOT/ FRAC. 1
acompanhamento durante 12 meses,
com avaliação clínica, laboratorial 573 - PERFIL COMBO DE LEISHMANIA - 4
IMUNOHISTOQUMICA + SOROLOGIA
(hemograma completo e bioquímica 738 - PERFIL LEISHMANIOSE
sérica); provas parasitológicas SOROLOGIA + IMUNO-HISTOQUIMICA 5
(citologia de linfonodo/medula óssea; 810 - PERFIL PCR 7
imunoistoquímica de pele); provas DOADORES DE SANGUE
moleculares (rt – PCR de linfonodo, Referências Bibliográficas
medula óssea e fragmento de pele); e Solano-Gallego et al. LeishVet guidelines for the practical management of
canine leishmaniosis. Parasites & Vectors 2011, 4:86.
Xenodiagnóstico, antes e após a terapia Nogueira, FS. Avaliação Clínico-Laboratorial de cães naturalmente
infectados por Leishmaniose Visceral, submetidos à terapia com Anfotericina
com a Miltefosina. Foram incluídos B. [Tese]. Botucatu: Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia,
Universidade Estadual Paulista; 2007.
neste estudo 35 cães, naturalmente Figura 2: Cão avaliado após tratamento com
Jericó et al. Tratado de Medicina Interna de Pequenos Animais. Ed Roca,
2015, p. 718-733

infectados por Leishmania infantum, Miltefosina por 30 dias Milteforan – monografia do produto

Obs.: os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam necessariamente, a visão e opinião do TECSA Laboratórios. 41
NUTRIÇÃO

NUTRIÇÃO ANIMAL

A nutrição adequada de cães e gatos variam de preços em relação ao valor Sódio, Vitamina A, B12, C, E, Cobre,
é fundamental para a manutenção agregado. Zinco, Magnésio e Ácido Fólico. Caso
da saúde destes animais durante tenha alguma dúvida, entre em contato
as etapas da vida. Na atualidade, o Nesse cenário, observa-se que é com um de nossos veterinários, teremos
assunto tem despertado cada vez fundamental uma análise criteriosa do um grande prazer em ajudá-lo!
mais interesse em proprietários, que médico veterinário responsável pelo
têm buscado informações e produtos animal, visando avaliar qual programa EXAMES REALIZADOS PELO
adequados para seus pets. Essa busca nutricional é o mais indicado em TECSA LABORATÓRIOS
por produtos de melhor qualidade, cada caso. Pensando nisso, o TECSA
CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
resulta no aumento de investimentos Laboratórios elaborou um perfil voltado
por parte dos veterinários e empresas para analisar os parâmetros nutricionais
produtoras de rações, visando oferecer em relação às vitaminas e minerais do 339 - PERFIL OBESIDADE 2
o alimento mais completo possível em animal em específico.
níveis nutricionais. Entretanto, como há
884 - PERFIL NUTRICIONAL - VITAMINAS,
uma grande variação dos ingredientes O Perfil Nutricional tem como MINERAIS E HEMOGRAMA (NOVIDADE) 12
utilizados na indústria, existem também função avaliar os seguintes parâmetros:
formulações de baixa qualidade, que Hemograma Completo, Cálcio, Fosforo,

42
Em primeira mão, nossa próxima edição:

ISSN 2358-1018
ISSN 2358-1018

umaumrevista do para
benefício Grupoo cliente
TECSA TECSA MAGAZINE Número
Número11,
14, 2016
2016

HEMATOLOGIA VETERINÁRIA
DISTURBIOS DA COAGULAÇÃO, PROVAS CRUZADAS, TRANSFUSÕES E ANEMIAS

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