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POR NAO GRAMATICA A ESCOLA PREFACIO Maria Cecilia Mollica ass? éa OR QUE 4 ESCOLA NAO ENSIVA GRAMATI pergunta que os alunos me fazem quando se deparam com explicagdes simples nas salas de aulas da Letras da UFRJ. Ao dar evidéncias de que o falante tende a buscar a naturalidade do sistema cancelando segmentos sem funcionalidade, por ndantes, procurando a economia ¢ a eficacia na comunicacao, 0s futuros professores reagem: “Mas € tao simples vezes red ‘A pergunta que nao quer calar torna-se agora 0 titulo deste livro. Teria sido o titulo do capitulo que Claudia e eu escrevemas, se todas as colaboradoras desta obra nao tivessem também adotado 0 mote como desafio de contribuir para a efetiva formagao do pro- fessor contemporaneo no que se refere aos processos lingufsticos varidveis e em mudanga Na Brasilia de 2011, em reuniao na casa de Stella, a iltima em que Claudia estaria, era impossivel escon- der nossa empolgagao em reunir base tedrica sélida cia de um bom grupo de educadoi com vasta pratica de sala de aula. Como construir com a exp ‘uma pedagogia nova, tangivel, para traduzir de forma simples as principais diretrizes dos PCN em linguagem objeto de estudo de muitos pesquisadores e preocupa: ‘¢a0 constante dos nossos formandos e mestres que jé se encontram na pratica profissional? Como lidar con: cretamente na escola com os usos variaveis das distintas comunidades de fala, das diferengas sociossimbélicas das construgdes lings por parte dos usuarios de uma mesma lingua? s variaveis Pow QUE A ESCOLA NAO ENSINA GRAMATICA assiM? Se propde a fornecer al- gumas respostas As inquietagdes de alunos € professores quanto aos modos de ensinar, compreender e fazer uso da lingua em movimento, Nao basta constatar que as linguas humanas nao sao estaticas © que os falantes sa0 bilingues em sua lingua, Nao € suficiente alertar que os usos dependem dos contextos e que devem ser adequados as situacdes discursivas, aos generos € aos estilos monitorados e nao monitorados. Nao satisfaz colocar por terra a dicotomia certo/errado, em nome do preconceito lingui sio mais complexos do que aparentam ser. ico, se os fatos PoR QUE 4 ESCOLA NAO EN: NA GRAMATICA AsSIM? Se apoia em explicagdes segundo alguns principios funcionais dos usos linguisticos reais, Preferir estruturas menos marcadas € um dos critérios de que o falante Langa mao, dando preferéncia a processamento de estruturas mais econdmicas quando nao quer imprimir relevo a informacao, podendo o oposto ser verdadeiro. Preferir estruturas inovadoras em geral reflete tendéncia de bloquear exce 0es, de regularizar paradigmas na fala e na escrita, Selecionar construcdes supOe motivagdes na interlocugao e pressupde propdsitos comunicativos, de modo a tornar o processamento discursivo mais ou menos iednico, bem como disponibilizar a informagao nova ou dada mais ou menos acessive! em distintos graus de informatividade e opacidade. Por out 4 ESCOLA NAO ENSINA GRaMATICA Assit? desvenda parte da com- plexidade implicada nos empregos linguisticos dindmicos numa proposta pedagogica contemporanea. 10 singular, em qualquer que seja o tempo. Entretanto, é preciso lembrar que vistir nao € verbo impessoal, por isso ele é conjugado normalmente em concordancia com o sujeito. Exemplos: CS LT a eee Dee rere Todavia, a gramatica normativa diz que nao se pode substituir 0 verbo hhaver pelo verbo ter em enunciados em que haver tenha o sentido de existir ou de acontecer. Na lingua em verdadeiro uso, especialmente nas ocor réncias de fala, essa substituigao poderia ser considerada erro linguistico? Certamente nao! Mas de acordo com a gramatica normativa é considerado erro gramatical. Observe os exemplos abaixo: Emprego de haver no sentido de exisir. CEU ene eae re fou) SE cea ae eee Pe) Emprego de haver no sentido de acontecer Ce ul ra eee eee pela gramatica normativa) Ce ue Ta et eee ae Cee) Ao investigar a variagdo ter/haver no sentido de existirna fala pessoense, Silva (2004: 220) buscou evidéncias para as seguintes hipoteses © a ocorréncia de ter existencial é maior do que ira fala pessoense; ver existencial na © 0s fatores sociais influenciam significativamente essa variacao: © 05 fatores sintaticos e/ou semantico-discursivos também influen ciam a ocorréncia de fer/haver. 167 Pon Que AESCOLANAO HHINA GRAMATICA ASSN? Para esse estudo, a autora levou em consideracao, além da variavel dependente “er existencial” ou “haver existencial”, varidveis independentes que foram divididas em linguisticas e sociais. Foram assim selecionadas: (i Varidveis finguisticas: © posicdo do SN objeto em relacao ao verbo © realizagao do SN objeto; peso do SN objeto © concordancia entre verbo ¢ SN objeto (i) Varidveis sociai © anos de escolaridade © faixa etdria © sexo Nos resultados da pesquisa de Silva (2004: 224-226), em que foram analisados 1.057 dados de fala da comunidade de Joao Pessoa, destacam- se 956 estruturas realizadas com o verbo fere 101 com o haver no sentido de existéncia. Observem a distribuigio dos resultados desta pesquisa. Eles apontam para uma ocorréncia de 90% de enunciados estruturados com fer contrapondo-se a 10% com haver. (Os dados que resultaram da anilise dos fatores sociais, como favore- cedores dessa variagao, mostraram a variavel “escolarizac: social mais influente na alternancia ter/haver existencial. ® como fator 0s falantes pessoenses que mais aplicam a variante ‘er existencial, se- gundo a autora, s20 os menos escolarizados. No que diz respeito a variavel “faixa etdria” a pesquisa concluiu que os falantes abaixo de 50 anos sao os {que mais fazem uso da variante ter. Esse é um dado importante porque a estabilidade/instabilidade de uma variante pode ser determinada se estiver correlacionada a faixa etaria dos informantes (cf. Taralio, 1985). Tomem-se como exemplo formas em desuso como alguns itens lexicais encontrados apenas na fala de pessoas mais velhas, o oposto do que vimos. Formas mais conservadoras sio encontradas na fala dos mais velhos e formas inovadoras na fala dos mais jovens. Um fato curioso observado com freq éncia & que o cmprego de ter & muito produtivo na midia, ma escola € mesmo em sildhignes en que se exige 0 uso da linguagem formal, mais monitonuda, o que nae tent peade avaliagao negativa por parte da sociedade, ou seja, nao se observa precon- ceito. Quando nao se observa preconceito, a nova forma est sendo bem recebida pela sociedade. [A pesquisa de Silva (2004) aponta como causa para a expansio do uso do verbo rerem substituigao ao haver, no sentido existencial, 0 esvaziamento do segundo (haver) em favorecimento do primeito (ter), podendo isso ser explicado historicamente. ‘Tanto no latim quanto no portugués arcaico, jé era possivel encontrar as duas variantes em interago e, no decorrer do tempo, com a evolugao da lingua, houve uma expansio semantica, e o sentido de um verbo foi assimilado pelo sentido do outro. No sentido de posse, ter € haver se alternavam no latim, mas no por- 8s brasileiro atual nao encontramos essa variagao, Por exemplo, nao ivel alternar: “Pela primeira vez femos uma casa nossa”, utilizando hhaver no lugar de rer: “Pela primeira vez havemos uma casa nossa’ 5. Haver, fazer e terna perspectiva da concordancia A abordagem tradicional no ensino da concordancia estabelece que © verbo, obrigatoriamente, tem de concordar com o sujeito em nimero © pessoa. A forma como a gramatica tradicional explica os casos de desvio da regta apoia-se em excegies ¢ na explicacio da diferenga entre concor dancia gramatical e concordancia ideolbgica (cf. Vieira, Brandao, 2007) ‘A nao realizagao da regra de concordancia ¢ no portugues brasileiro um marca de diferenciagao social. O grau de escolaridade tem sido apontado ras pesquisas sociolinguisticas como um dos mais relevantes fatores para explicar esse fendmeno. A lingua é 0 instrumento de que dispomos para expressar nosso: pensamentos, emocdes € interagir socialmente. Fazemos isso por meio le ‘enunciados que se compdem de estruturas menores. Temos como exemplo de estrutura 1 frase, cujo padvio em portugues, no seu aspecto sinkiticn, dor configura se considerande.o modelo nnars enconte jorbo, que se dary ani set, ser este que sintaticamente ocupa e desempenhaa posigae eo papel de sujerto, ec uncobyehe ne qual se completa cagao Vanios ver unr exemple on Que A EseoLA NAO Guna cxaarica ASS (12) Os brasilienses _enviaram po rd r Y i ser que ocupa verbo que se dirige objeto que complementa eee eee cr mee ey peed eed Esta estrutura, por sua vez, constitui-se de unidades sequenciais ainda menores, os sintagmas. O sintagma & um segmento linguistico cujos elementos expressam relagao de dependéncia entre si. Fala-se também do sintagma como um conjunto de elementos que forma uma unidade significativa Os sintagmas se organizam em sequéncias lineares tendo por nécleo um nome, um verbo, um adjetivo ou um advérbio. Vejamos um exemplo: (Een arc nCuet on ee ee a florescem em agosto = sintagma verbal. Nicleo: florescem (verbo). O verbo &a categoria lexical que ocupa a posicao nuctear do sintagma verbal, articulando seus elementos por meio da exigéncia ou nao exigéncia de um argumento. Para entender a nogao de argumento, é necessério falar de transitividade. Na gramética tradicional, segundo Castilho (2010: 262), a transitividade é vista como uma propriedade do verbo “de ir além, de transi tar, movimentando-se no espaco”. A transitividade dos verbos compreende como transitivo 0 verbo que passa sua acao a seu complemento. Temos os seguintes casos: verbo intransitivo de ligagao e outros verbos intransitivos, que-séo exemplos de verbo de um nico argumento! porque nao exigem complemento. Os verbos transitivos (direto € indireto) so exemplos de verbos de dois argumentos, ou seja, tém um argumento externo, 0 sujeito, ¢ ‘um argumento interno, o complemento (SN objeto). Os verbos bitransitivos sio exemplos de verbos de trés argumentos: um externo (0 sujeito) ¢ dois internos, que sdo os complementos, direto ¢ indireto (SN objeto), 6. O verbo ‘A classe dos verbos possui um lugar especial no estudo da lingua, pela sua riqueza de formas € por ser aquela que 0 falante identifica mais facil ‘mente, Pertencem a essa classe as palavras que admitem flexao de pessoa, tempo e modo. Castitho (2010: 392) define gramaticalmente 0 verbo como qualquer palavra que, do ponto de vista morfoldgico, disponha de “um radical e de morfemas flexionais sufixais especit a estrutura dos exemplos abaixo: cos”. Ou seja, que tenha © andar — raiz (and) + vogal tematica (a) + sufixo modo temporal (9) © vender — raiz (vend) + vogal temitica (e) + sufixo modo temporal (1) © partir — raiz (part) + vogal tematica (i) + sufixo modo temporal (1) A raiz.¢ a vogal tematica em conjunto formam o radical do verbo. A raiz exprime o seu significado e a vogal tematica diz respeito & conjugagao. Em portugués, existem trés vogais temiaticas: 4, e, , que configuram as trés conjugagdes. Os morfemas flexionais sufixais, que so as unidades finais ou terminagdes, expressam 0 tempo, 0 modo do verbo. Os verbos ainda se flexionam em nimero e pessoa, Encontramos a flexao de seis pessoas: 1*, 2" e 3° (singular) e 4°, S* e 6° (plural), Além disso, apresentam variacoes de aspecto, relacionadas ao tempo (pontual, que expressa acao momentanea; durativo, que expressa agao prolongada; continuo, que expressa aco incom- pleta ou em andamento; descontinuo, que manifesta quebra de continuidade; incoativo, que expressa uma mudanga de estado ou caracteristica; ¢ conclusivo, que expressa aco conclusa e, também, determina a voz em que 0 verbo esta (voz ativa e voz passiva). Tradicionalmente, entende-se por verbo palavras que podem expressar agdes, fendmenos c estado. A nogdo de que toda palavra que expressa ago Gum verbo & uma nogao de certa forma equivocada. Observe as palavras ire moteur Ambas expressam agao. Todavia nadar € verbo © matagao & um deverbal, ow sept, anarbstantive que se derivou do verbo mudar © que exprime, de eet ia fornia, mean agate deste verbo. © verbo, em seu aspecto sintitico, pode ser visto, de acordo com Macambira (1987: 39), como toda palavra que se possa combinar, con: cordar com os pronomes pessoais. Entretanto, quando pensamos nisso, esbarramos nos verbos impessoais, que, por ocorrerem preferencialmente sem sujeito, consequentemente nao aceitam se combinar com os prono- mes, exceto quando usados no sentido figurado, como nos exemplos que se seguem (14) Ele trovejou de raiva quando percebeu que sua carteira tinha sido poten) (oer nee at Examinando 0 verbo em seu aspecto semantico, pode-se dizer que € toda palavra que exprime acao, fendmeno ¢ estado, na perspectiva do tempo (cf. Macambira, 1987: 39). Entretanto, encontramos exemplos de verbos que exprimem outras coisas, nao somente ago, fendmeno ou estado, como por exemplo: Oe ae Lu Ce cay ore Avermethando tende mais a exprimir um processo do que propriamente uma ago, um fendmeno ou estado, Para Antoine Meillet (apud Macambira, 1987: 41), “o verbo indica os processos, quer se trate de agbes, estados ou da passagem de um estado para outro”, Para Cunha e Cintra (1985: 367), “o verbo ¢ uma palavra que, de forma variavel, exprime um acontecimento representado no tempo”. E facil perceber que essa série de definigdes do verbo necessita ainda de muitas reflexdes, 6.1. Os verbos impessoais Verbos impessoais sto aqueles que ocorrem sem sujet, Como nave possuem sugeito, nao fém com quem concordity, lear sempre na 3 pessoa do singular Portainte, formant as orighes sen suyeito, comstitinihay somente i pelo predicado e articuladas por um verbo impessoal. A excegao € 0 verbo ser, que tem outro comportamento. De acordo com Perini (2010: 79), os verbos impessoais podem ser divididos em cinco categorias: © verbos que apresentam nogao de existéncia; © verbos que denotam fendmenos da natureza ou meteorologicos; © ser e estar quando ocorrem com alguns complementos, como, por exemplo, o advérbio de tempo; © verbo ir quando utilizado com para; © verbo fazer + expressio de tempo + que. Exemplos: (Ur care ee (18) Houve muitos eleitores indecisos na iltima eleicio para presidente. (19), Haverd muitos estudantes interessados em se inscrever para tas (20) Choveu muito ontem. leet totes (Q2) Esta quente, muito quente hoje. (23) Val para quatro, trés meses que nio vejo chuva por aqui (@4) Ontem fez dois anos que eu ful 20 Rio de faneiro. Can er eee eco t a Variagdo na concordancia verbal: Coen eee ee ee en (alternativa padrio — legitimada pela gramética normativa) CO nr ieee ee eu oy fla (leernativa nio padrio —> desabonade pela gramatica normativa) Conners ane eke eae uy pela gramética normativa) on Pen OR Cn Lo ied eee ey EO eee sate ecru eens enc any fo eee) Cement MC cacy oe eee eo) (82) Fazem vinte dias da ultima prova e ja vai ter outra? (alternativa no ere eer) Asalternativas (26) e (28) processam-se de acordo com o que preconiza a gramatica normativa para a concordancia, Seu uso é adequado a lingua escrita e a eventos formais, Todavia, as escolhas (27, 29, 30, 31 € 32) fogem a regra de concordancia, mas nao podem ser consideradas “erro linguistico porque cumprem, como as outras duas, sua fungao primeira, a de producao de sentido, embora se apresentem como desvios da norma-padrao. AS es truturas exemplificadas nos itens condenados pela gramdtica ocorrem mai comumente na linguagem oral de pessoas com baixa escolaridade ou em ‘momentos de convivéncia com a familia e amigos quando predominam a informalidade, a descontragao € 0 afeto. As alternativas disponibilizadas pela lingua tém forma prépria e funcionalidade social diferenciadas; sao selecionadas pelo falante para contextos c fins especificos de comuni A seguir, temos mais alguns exemplos: CO Ue ecm ee Me kei eas Pee Per Pe ie ary Os dois exemplos acima foram extraidos da fala de alunos do Curso Técriico em Informatica da Escola Técnica de Ceilandia, estabelecimento piiblico de ensino do Distrito Federal. Os alunos informantes dessas estru turas provém de uma regiao sociodemogrifica pouco favorecida social ¢ economicamente. A comunidade em que vivern, em boa parte, constitui-se de trabalhadores que prestam servigos em Brasilia, Pressupde- alunos ji tenham aprendido, nas aulas de portugues, a aplicagio da repea we que esses de concontincia dos verbos que estamos anilisande, contorine determina A piamatica normativa Enbetasto, mest pi tenes ale agate any bon grau de escolarizacao /letramento, o que observamos foram ocorréncias de hipercoregao. Como as oragoes (33) ¢ (34) sto constituidas sem sujeito ¢ 0 verbo nao tem com quem concordar, ha a tendéncia de o falante “Forgar” a concordancia com o sintagma complemento (SN complemento). Ou seja, 6 falante busca, no argumento interno (SN complemento) da estruturaem questao, a possibilidade de preencher o lugar do sujeito, que esta vazio. Para © falante, uma coisa é certa: sem concordar o verbo nao fica. ‘As variantes selecionadas por esses falantes muito provavelmente fazem. parte dos modos de falar de sua familia e de sua comunidade, soam para eles como a forma mais natural de se expressar. Essa influencia mostrou-se claramente mais forte do que a norma. As situagdes de comunica¢ao em que se observam a aplicacao ou nao da regra de concordancia sao diferentes ¢ dependem da familiaridade que o falante tenha com a norma-padrao, com a frequéncia com que a use, da intengao do que queira comunicar da formalidade do evento e do espaco em que essas estruturas ocorram. E anterior, O seguinte texto saiu publicado na internet, no dia 5/09/2011, tretanto, temos um contraexemplo do que discutimos no paragrafo © é de autoria de uma colunista bastante conhecida e muito competente Confira abaixo. CON a Ke en con Onn a Pe Cee eee a ey — tiveram todo © tempo do mundo e deixaram tudo para a dltima hora. Allis, tanto faz. Alguém acredita que alguma licitacéo no Brasil é ee eee cones Gr eeiy Essa é uma ocorréncia bastante interessante para exemplificar 0 fend- ‘meno da concordancia nao abonada do verbo faver no sentido de acontecer rutural verbal anterior. Nesse exemplo ocorreu a influéncia da forma ¢ Entretanto, inevitavelmente, isso resultara em hipercorregio, Nao ha du- vidas de que a autora do texto domina a lingua padrao, mas 0 fito € que, mesmo assim, nao escapou da influéncia forte da necessidade da existéncia de uns ente para preencher o lugar de sujeito, Eli esta, para a surpresa de muitos, @ fenomeno regstiade nt eserita Caberia uma investigacdo detalhada e consistente que pudesse confit= mar 0 que a intui¢ao esta nos dizendo, considerando-se que os exemplos dados neste texto nao constituem uma amostea signiticativa. 7.0 que pode ser feito em sala de aula? ‘Quando falamos em ensino de lingua, falamos em desenvolver a compe- ‘ncia comunicativa® do aluno. A lingua deve ser ensinada com 0 objetivo de melhorar a qualidade da educagao e promover a cidadania do individuo. O portugués do Brasil possui uma grande variedade de falares, que se originam das diferencas sociais, etaria, de género e pela distribuigdo do falante no espaco no tempo. Ao ensinar a lingua falada, a escola nao pode ignorar esses dados. De acordo com os PCN. problema do preconceito disseminado na sociedade em relagdo as falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional ‘mais amplo de educagao para o respeito as diferencas, Para isso, e para poder também ensinara lingua portuguesa, a escola precisa livrarse de alguns mitos © de que existe uma tnica forma “certa” de falar — a que se parece com a escrita — e 0 de que a escrita é 0 espetho da fala [...] (1997: 31) Ao professor cabe a tarefa de fornecer ao aprendiz os recursos neces- sarios para o seu desenvolvimento e para 0 bom desempenho linguistico em qualquer situaco sociocomunicativa. © papel do professor de lingua é refletir com seus alunos sobre essas questoes, mostrar-Ihes as possibilidades de usos, substituindo a nocdo de “erro” na fala pela nogao de adequagdo a0 contexto interacional, ao interlocutor, a formalidade do evento por serem esses elementos importantes norteadores das escolhas linguisticas feitas pelo falante. Papel da escola € 0 de desenvolver, de forma sistematica, a compe- téncia comunicativa do estudante, fornecer-Ihe as alternativas disponiveis na lingua, especialmente as que ele ainda nao conhece nem domina, para Competnciacomunicatina: “Conecite descovolvide pela soetslinsa wnle annette, Del tyes ern 1966, que permite ao falante saber que Fabre von al vagal pessoa fem qualquer cnennstanicta” (et Heo Rica, KHL) poder interagir com qualquer interlocutor, em qualquer contexto, em qual- quer situagao de intercémbio oral e escrito com desenvoltura e seguranga. F também papel da escola ensinar que fala ¢ escrita tém fungoes diferentes na sociedade, que servem a propositos distintos ¢ especificos, Ensinar a norma-padrao é, portanto, atribuigao da escola e se esta tarefa for por.ela negligenciada o aluno estara sendo privado do acesso aos bens culturais mediados por ela, com prejuizo para sua atuacdo em sociedade. ‘Sugestdes de organizagao do trabalho pedagégico Para serem bem-sucedidas, as estratégias de ensino devem se orga- nizar a partir de s significativa para o aluno também para que ele perceba a funcionalidade tuagdes reais de uso para que a aprendizagem se torne da lingua nas suas priticas sociais, fazer pedagégico que contemple a realizagio de exercicios e que mostre a lingua em uso despertara no aluno a consciéncia das diferengas linguisticas e das raizes deste fendmeno, que nascem das diferencas sociais, e culturais, Rejeita-se, assim, 0 preconceito € mostra-se a importincia de compreender e aceitar que a lingua é to plural quanto 0 € a sociedade. ‘© Sugestao 1: para desenvolver a competéncia comunicativa do alu no, © professor, se for alfabetizador, pode langar mao de cangoes, fabulas e outros géneros textuais para compor seu material didticy -pedagogico, fazendo com que o estudante, especialmente aquele em fase inicial de escolarizagao, assimile as formas de maior prestigio de uma forma ltidiea. Vejamos, no exemplo abaixo, os dois primeiros versos de uma cantiga do nosso folclore. Ela pode ser usada com a finalidade de ensinar o emprego de haver, como determina a norma. padrao, sem nenhum trauma ou esforgo para o aprendiz: CO cece Pois perdi o meu galinho, ola [...] (Cantiga popular) Exemplos assim contribucnr part que 0 aluno assimile a variante Padma ene um aprenidizagens que acontece de forma implicita. Nite necessarie que, iis chee de alfabetzag0e, 0 professor ex Pom Quek eScoLA MAO ENSINA GRAMATICA ASS? plique a regra de aplicagao da concordancia padrao em detalhes. 0 aluno a aprende na interagao social, O que o professor deve fazer € ensina-lo a usa-la nos contextos formais e na escrita. © Sugestao 2: pesquisar em letras de misica popular brasileira 0 fendmeno da alternancia de haver/ter. Refletir com os alunos se esse fendmeno é mais comum na fala ou na escrita e como esta ocorrendo no portugués brasileiro. Cyc eg Eu tive um pesadelo agora Sonhei que tinha gente li fora [...] (Chico Buarque) (38) Amanha hid de ser Outro dia.... (Chico Buarque) COM Ch errant Luar como esse do sertio (Luiz Gonzaga) Conon Pure eae eal eke © Sugestio 3: a partir de produces escritas dos alunos, selecionar 0 texto com o maior nimero de ocorréncias em que os verbos haver/ ter/fazer so usados como impessoais em enunciados em que nao se observa aplicar a regra de concordancia verbal. Em seguida, repro- duzir os enunciados tais quais foram escritos em um cartaz ou em ‘um projetor multimidia, de forma que toda classe possa visualiza- os, O professor faz a leitura desses textos e depois os repete com 0s alunos. O passo seguinte € refletir com eles sobre 0 uso dos verbos impessoais encontrados naquela producao e sua adequacao aos diversos contextos comunicacionais, Realizar coletivamente a *retextualizacao, enfatizando a passagem do uso coloquial da lingua para o uso indicado pela gramatica normativa, 0 modo apropriado da lingua escrita 9. Consideragées finais Por que pensiamos somente cm finhas ets ¢angulos de 90°F A lingua, assim come natures, nae funciona assim As forties © ar. diegoes, em ambas, lingua e natureza, sio um aparente caos, especialmente quando tratamos da fala. Mas lingua. As construgdes humanas realizadas por meio de conceitos setoriza dos (area disso, érea daquilo) ¢ em linhas retas ¢ angulos de 90° contrariam a sabedoria milenar da natureza, ou seja, 0 homem enquadra 0 que 130 deveria enquadrar e perde a espontaneidade, Tudo se mistura porque tudo é interdependente. desse caos que nasce a ordem, na natureza ¢ na Falando desde nosso lugar de professoras, o primeiro passo no ensino de lingua materna em sala de aula, ao se lidar com as diversas possibilida des que a lingua nos oferece para a comunicagao, seu objetivo primeiro, conscientizar os alunos do fendmeno da variagao Linguistica, mostrando- -thes que a lingua é viva, que oferece alternativas de expresso € que muda xno decorrer do tempo. Conscientes disso, 0 segundo passo é deixar bem claro que a fala € uma coisa e a escrita € outra, Em seguida, nosso papel & introduzi-los no mundo da lingua padronizada, normatizada ¢ tegitimada pela sociedade € pela gramética normativa. E em sequéncia, e por toda a vida escolar, torna-los competentes para 0 uso social da linguagem, desve- lando a fungao da lingua nos diversos contextos, para que como individuos competentes possam cumprir suas tarefas na sociedade moderna, hoje fundamentalmente dependente da escrita, como cidadaos participativos © autonomos. USO E ENSINO DOS TEMPOS E MODOS VERBAIS EM UMA PERSPECTIVA SOCIOLINGUISTICA 1. Iniciando nossa conversa spera-se que 0s alunos, ao longo dos ni do ensino fundamental, adquiram a n competéncia comunicativa no uso da que lhes possibilite resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais, € alcangar a participagdo plena no mundo letrado, tendo garantida uma crescente participacao nas pré- Otratamento das questdes gramaticais, sobretudo no que diz respeito a nomenclatura, é hoje um grande dil para o ensino. Ha, por um lado, os que afirmam categoricamente que o ensino da lingua materna deve se centrar no trabalho coma compreensao e a produco textual, sem se preocupar com questées de natureza estritamente gramatical, Por oatre lado, hid os que ‘ron que AescoLando wnsia ouanaricn Assi? de tratar da nomenclatura da gramética normativa e que esta é condigao importante para 0 uso da lingua em suas modalidades escrita e oral. Sem assumir nenhum dos lados desse dilema, este capitulo tratara de questOes gramaticais em fungao de seu uso. Nomenclatura gramatical so as denominagdes dadas as classes de palavras da gramatica normativa. Trataremos, neste capitulo, apenas de uma delas: 0 verbo ¢ sua variagao modo-temporal. O mais importante € contribuir para que o professor entenda o que leva 0 usuario da lingua a realizar determinada variante: 0 que faz com que determinada flexao nos modos € nos tempos verbais ocorra naquele contexto de uso. De acordo com 0 reconhecimento, refletir sobre o tema e propor formas de ampliar a competéncia comunicativa do falante/escrevente nas diferentes interagdes sociais. Este trabalho ¢ um esforgo para perceber e entender como os usuarios do portugues do Brasil realizam a flexdo de alguns verbos no portugués do Brasil A discussao deste capitulo refuta a analise linguistica do que seja abs- trato ou desvinculado do uso. Aqui nao sera apresentada uma nova formula para aprendera conjugacio verbal do portugués. A andlise que sera feita tem ‘como ponto de partida as ocorréncias linguisticas em situacdes reais de uso da lingua, Para dar conta desse propésito, a discussao, a reflexdo e a andlise serio realizadas fundamentadas em estudos tedricos contemporaneos sobre © fendmeno linguistico em questao e a partir da apresentacao de exemplos com 0 objetivo de descrever eventos presentes na fala e na escrita, coleta- dos nas interagdes de brasileiros de diferentes areas geograficas e de niveis escolares € socioecondmicos diversos. Tais ocorréncias foram recolhidas de pbservagdes na fala, de conversas cotidianas ou de exposigdes orais € de textos escritos, produzidos em sala de aula e em circulacao na internet €/ou outros meios sociais. Cabe & escola, agéncia oficial do ensino da cultura letrada, repre- sentada pelo professor ou pela professora na condigio de agente de letra mento, promover 0 ensino ¢ a reflexiio sobre a variagiwy modo-temporal, reconhecendo a motivagao para essats ocorréncias em uso € fundamentan do as teoricamente Mas 0 que é a variagao modo-temporal? O verbo faz parte das dex categorias gramaticais em que se divide a nomenclatura gramatical, que é “profusa, confusa € muitas vezes incoerente € inconsistente” (Bagno, 2012: 29). Em estudos tradicionais, aprendemos que 0 verbo é uma categoria morfoldgica variavel Na estrutura do verbo, é possivel estabelecer um paradigma: todos os verbos na lingua portuguesa sao formados conforme o seguinte paradigma: radical (elemento na posi¢ao inicial) + terminagoes, as quais expressam as categorias gramaticais, Exemplos: Falar rr Cag ee Ce Sean (3* conjugacio) Pees Scand Carr) a ee (oct O} As categorias gramaticais representadas pelas terminagdes sao as seguintes: © vogal tematica (VT); © sufixos modo-temporais (SDMT); © sufixos nimero-pessoais (DN), Sao esses elementos que possibilitarao depreender os signos minimos em qualquer forma verbal e promover a flexao para outros verbos que pas- sem a fazer parte da lingua. E interessante levar 0 aluno a reconhecer que esas partes do verbo sao significativas, informam Mais do que memorizar como se conjuga determinado verbo, seja ele de primeira, segunda ou terceira conjugagao, ¢ importante o aluno perceber a existéncia dos morfemas constituintes da forma verbal. Como argumenta Bagno (2012: 32): Nae tem cabinents, por exemple, apresentar e paradigena dt conjuysigae verbaleannes sen. pesstas des portage elise en, acetal av, aslo) pom QUE AESCOLARAD Enna cramrick ASW? — jf que essa conjugagdo nao corresponde a absolutamente nenhum uso real de nenhuma das variedades do portugues brasileiro falado ou escrito, nem do portugués curopeu, angolano, mogambicano ete, aluno deve perceber o quanto é relevante considerar as outras palayras do enunciado, com as quais o verbo constréi uma rede de signifi- cagdes. A escotha pelo uso de uma ou outra palavra, neste caso, de outro verbo, em determinado modo, tempo ou pessoa sé faz. sentido em relacao a outras partes do enunciado, Por isso, o ensino do verbo, quando tratado de forma isolada, no amplia a competéncia comunicativa do aluno ou pouco contribui para desenvolver habilidades de identificar, analisar € ‘empregar as formas verbais adequadas & lingua escrita, segundo as normas da gramatica normativa. Além das categorias verbais ja descritas, fundamentais para o reconhe- cimento de uma forma verbal, ha ainda as categorias de analise semantica ¢ discursiva. Essas sao essenciais para definir a informatividade e a intencio- nalidade do enunciador na interagao verbal. Mais adiante apresentaremos as categorias semantica e discursiva Segundo Castilho (2010; 392-393), “a morfologia do verbo (V) é des. crita pela seguinte regra: V > morfémas-vocdbulo prefixais + radical + morfemas Nexionais sufixais”. O radical do verbo ¢ formado pela raiz e a vogal tematica Os morfemas-vocabulos prefixais s40 os verbos auxiliares ¢ os morfemas flexionais slo as categorias gramaticais Para melhor compreender o processo de formagao da categoria mor- lolbgica do verbo, vejamos 0 quadro proposto por Castilho (2010: 393) Prenpes | cuncuresmorosaess | cserois | . inpicarivo I.Presente Rad. SMT (o} + SNP Fel, ols, al...; vendo, vendes, vende..; arto, partes, parte, 2.Preérita Rad.+ SMT (ra)'*+ SNP Foal, folate, fou... flaram; end simples vendeste, vendeu...venderom; part, partite, partu..parram 3.Pretérito Rad.+ SMT (va‘ ia") + SNP Folava, vend, patio Imperfeito A.Pretérito Rad, + SMT fra} + SNP Fela, floras, flaro...; vendera, mais que venderas, vendera...;partra, perfeico porties, parti. S.Fucuro do Rad.+ SMT {ria} + SNP. Falri, floras, flava... venderia, pretérito venderios, enderia...: parti, portirias, parti, 6.Futuro do Rad.* SMT {re"""Irs"=" ira") Falare flor, flard..;venderel, presente + SNP venderds, venderé...;partire, portirss, pari susjunrivo. I.Presente Rad.+ SMT {eVa"} + SNP Fale, fle... vendo, vendo. porta, partes... 2.Pretérito Rad.+ SMT (se) + SNP Falasse,flosses, floss... imperfeito vendesse, endesses, vendesse. portisse, partses, ports. 3.Fueuro —Rad.+ SMT (} + SNP Foal, flares, flor. vender, venderes, vender... partir parties, porti. impenarivo LAfirmativo Rad. + SMT {o}"” Fala tu; vende tu; parti tu Rad. + SMT (ylldes}"> Flo ws; vendel vis; part vis Ide ws 2.Negativo — Rad.+ SMT fe"PeR/gct"C8 2") Nie fale, ndo vende ndo porta SNP infinite Rad + SMT fe} + SNP Foor, vender, partir simples 2.Participio Rad. + SMT (dolto} Fold, vendido, patio, posto 3.Geriindlo Rad. + SMT {ndo} Foalondo, vendendo, portindo ‘Qudeo 7.1: Morferassufitas medo-temporas do PB ~ formas verbs simples, 2.1. Modos e tempos verbais: observar para compreender ‘O verbo na lingua portuguesa apresenta trés modos verbais: indicativo, subjuntivee unperative. Segundo a gramatica normativa, o primeiro modo expressa altnnuig.to objetiva O segundo, deseyo, possibilidade, © 0 tempo on que A ESCOLANAQEAGINA GRAMATICA ASS? jimperativo expressa ordem, pedido. No entanto, essas proposigdes nao po- «dem ser levadas ao pé da letra, uma vez que percebemos na fala ena escrita do brasileiro o uso dos modes indicativo e subjuntivo para expressar desejo ou ordem, fato confirmado pelas pesquisas desenvolvidas por linguistas que demonstram haver variedades no uso dos modos verbais. Quanto ao tempo, 0 verbo no portugués apresenta seis tempos: presente, pretérito per feito, pretérito imperfeito, pretérito mais que perfeito, futuro do presente © futuro do pretérito. Esses seis tempos se resume nos trés tempos basicos 0 passado, o presente ¢ o futuro. Segundo Perini (2010: 219) Sobre esse esquema simples a lingua constréi um sistema muito mais rico, jncluindo: a expresso da relacao temporal entre dois eventos igualmente do passado (um antes do outro}; a repres tendo ocorrido apenas uma ver ou repetidamente, ou durante um periodo entagaio de um evento passado como extenso; a viso de um evento presente habitual ou como momentaneo (si multdneo com 0 momento da fala), ¢ assim por diante, E interessante 0 aluno ter conhecimento das designagdes dos tempos € reconhecer suas diferencas para selecionar adequadamente modo ¢ tempo verbais a ser empregados nas sentengas da lingua falada e escrita. Mas isso nao implica dizer que o aluno tenha que memorizar 0s agrupamentos verbais, Reconhecer esses aspectos morfologicos da lingua serve para desenvolver a consciéncia metalinguistica' do falante € ampliar a reflexdo sobre o objeto de estudo. No entanto, isso s6 sera sig- nificativo se também servir para ampliar a competéncia comunicativa, 0 que é possivel se considerarmos as praticas de ensino realizadas em um contexto de uso da lingua, as quais deverdo favorecer 0 letramento tanto em situagaes de fala, como em atividades de leitura e escrita da lingua em situagdes mais monitoradas Para maior compreensao do paradigma verbal, vale relletir sobre 0 que esta prescrito na gramatica normativa € o que esti sendo realizado con contextos reais de uso da lingua. E imperioso reforgar a nevessidide do conhecimento ¢ do reconhecimento tanto do professor quanto do alune, das “varias linguas” que falamos ou to menos entendemos (law Ubalda, ‘canT.07 ROK HSIN? DOR TEMPOS E ODOR VRAIS EN UN PERSECTVA SOCIOLNEUTICR Ribeiro’). Com essa compreensdo, queremos diminuir o fosso entre os que utilizam a variante padrao e os usuarios das variantes populares, ampliando a capacidade dos segundos de se apropriarem da variante dos primeiros é, assim, promover 0 respeito mituo entre todos os cidadaos. 2.2. Variagao entre a norma-padrao € os usos na conjugacao verbal do portugués do Brasil Alem dos trés modos e seis tempos, a gramatica normativa prescreve trés pessoas referentes ao singular ¢ tr ' referentes ao plural, As pessoas verbais mantém relago com as pessoas do discurso. A primeira diz respeito & pessoa que fala; a segunda, a pessoa com quem se fala; a terceita, & pessoa de quem se fala. e eu falo nes falamos r wu falas vos fais * cle = fala celesfolas fala (Quadro 72:Pessons verbal segundo a gramive normativa Quando observamos o uso da lingua em suas variedades populares por pessoas menos escolarizadas ¢ pertencentes a classes sociais baixas, en- contramos um quadro bem diferente para o paradigma das pes prescritos na norma-padrao. soas verbai eu falo nos /a gente fala z tulwocé fala voces fala * ele fala eleslolas fala (Quadro 7.3: Quadro das pessoas verbais segundo una varante no padeio. As seis formas prescritas na gramatica normativa sdo reduzidas a dus cm algumas variantes populares dit lingua (alo /fala). S6 ha oposi- Atenas ea Pn 5 Bake 002 0 ¢a0 entre a I* pessoa ¢ as demais da conjugacao verbal. Esse fendmeno deve ser considerado para que possamos identificar as necessidades do aluno, promovendo a apropriagao da lingua padrao, por ser esta a mais prestigiada e, sobretudo, porque € nessa variante que sao escritos os documentos. Um ensino de lingua materna comprometido com a luta contra as desigualdades sociais ¢ econdmicas reconhece, no qua dro dessas relagdes entre a escola ¢ a sociedade, o direito das camadas populares de se apropriarem da variedade de prestigio ¢ fixa como objetivo levar os alunos pertencentes a essas camadas a dominé-lo, nao para que se adaptem as exigéncias de uma sociedade que divide e discrimina, mas para que adquiram um instrumento fundamental para a participagao politica e a luta contra as desigualdades sociais. Um ensino de lingua materna que caminhe na direcao desse objetivo tem de partir da compreensao das condigoes sociais e econdmicas que explicam 0 prestigio atribuido a uma variedade linguistica em detrimento de ou- tras, Além disso, tem de levar o aluno a perceber o lugar que ocupa 0 seu dialeto na estrutura de relagdes sociais, econdmicas e linguisticas © a compreender as razdes por que é socialmente estigmatizado. Tem, também, de apresentar as razdes para levar 0 aluno a aprender um dialeto que nao ¢ o do seu grupo social e propor-he um bidialetalismo nao para sua adaptacdo, mas para a transformacdo de suas condigdes de marginalidade. As propostas de Soares (1980), junto as de outros estudiosos, fazem parte das reflexOes sobre o ensino da lingua materna ha mais de trinta anos 1na educacdo brasileira, No entanto, elas continuam inovadoras sintetizam de forma categorica a discussio que passaremos a fazer em seguida para 0 ensino e a aprendizagem de verbos no que diz respeito a variagao modo- temporal ¢ outros aspectos 3. Exemplificagao/descrigao do fendmeno linguistico Na nossa lingua, sdo raras as situagdes nas quais encontramos enunciados sem a presenga de um verbo, Quando isso ocorre, sabe mos que ha uma forma verbal implicit, Como é possivel observar nos, exemplos it seguir Oost Ns OR ec) es ONS Ao ouvir qualquer um dos enunciados anteriores, podemos recuperar 0 verbos ao estabelecer determinado contexto situacional para as sentengas. Qualquer usuario nativo da lingua tem a mesma competéncia para identi- -los, desde que possam ser contextualizados. No primeiro, alguém pede socorro, No segundo, alguém anuricia um incéndio. Ao ver escrita a palavra “silencio” seguida de um ponto de exclamagao, entendemos que alguém ondena ou pede silencio, Para as duas outras formas, compreendemos que alguém estd respondendo a uma pergunta. Como afirma Bagno (2012: 508), Os verbos sao 0 nicleo de todo e qualquer enunciado significativo, a tal ponto que a propria defini¢do de sentenca (ou oragio) € dependente da existéncia de verbos: contamos o niimero de sentengas num periodo pelo numero de verbos gue ele apresenta, Embora as diretrizes curriculares apontem para 0 ensino de uma gramatica contextualizada, nossas escolas ainda apresentam o ensino do verbo separado do contexto de uso. Pensando nisso, trazemos exemplos de enunciados extraidos da fala ¢ da escrita de muitos brasileiros. Espe- ramos, com isso, levar 0 aluno a perceber, a partir do reconhecimento do que seja um verbo e de como ele se relaciona com as demais palavras da oragdo/enunciado, como se constitui sua variago modo-temporal nos linguisticos. Para um ensino nessa perspectiva, a definigao de verbo como cate- goria de palavras variveis que denomina agdo, estado e fendmeno da natureza, conforme proposto pela gramatica normativa (Cunha, Cintra, 2001; Napoleao Mendes de Almeida, entre outras) ¢ tao usada no ensino des avras, nao da conta do tema em seu todo, E preciso considenw outias definigoes 14 propostas em estudos linguisticos (Perini, categoria de pa 2010, Bagnos, 2017, entieouties) Unis definigao nao substitu a outta, mas complement © exphon melhor e tenonenn en questae As definig6es s6 sao importantes quando ajudam a compreender 0 ‘om Bagno uso do verbo em suas diferentes manifestagdes. Concordam: (2012; 509): € necessario considerar na definigao de verbo suas caracteris. ticas sintatieas, semanticas e pragmaticas, conforme quadro a seguir. Morfossintatiea Palavra que dispde de um radical ede sulixos proprios: radical (aie + yoga temitica) + sufixo modo-temporal + sufixo ‘ndmero-pessoal:falissemos = fal. + a +-s5e + -mos, ‘Semantica (© verbo expressa os estados de coisas, ou sefa, a ages, 05 festados e os eventos de que precisamos dar conta quando falamos ou escrevernos. Discursiva “Palavea () que introduz participantes no texto, via processe de apresentacio, por exemplo: i) que os qualfica devidamente, via processo de predicacio: (i) que concorre para a constituicio dos géneros discursivos, via alternancia de ‘tempos e modos" (Castitho, 2010: 396). Quadro 74: Defines morfosstiti, semdnsae dscursiva do verbo 0 modo e 0 tempo verbais fazem parte das caracteristicas semanticas do verbo. O modo “expressa a atitude do falante com relagdo ao estado de do. de coisas relatado com respeito ao momento da enunciacao (‘agora’); é uma categoria deitica” (Bagno, 2012: 547) coisas relatado” € 0 tempo, “ expressa 0 momento (real ou irreal) do es 4. Os verbos vire vere suas variagées na fala do brasileiro O verbo a sintaxe da lingua portuguesa, 0 verbo * -vir” tem como origem a palavra “venire” do latim. Segundo ir” € transitivo indireto, isto é, Sua regéncia exige um complemento (objeto) com uma preposicao. Semanticamente, podemos explicar 0 verbo “vir” como relacionado a agao de movimento de alguém ou de alguma coisa em direcao a quem fala. O si portugu dizer que se trate de sindnimos, uma vez que, em virios contextos, cles gnificado di se verbo tem semethangas com outros na lingua como “voltar” ou “retornar”, no entanto, nao podemos do SAO substituiveis verbo “vir” apresenta algumas formas iguais as do verbo “ver”. Ou seja, 0 futuro do subjuntivo do verbo “ver” ¢ o infinito pessoal do verbo “vir tém as mesmas formas para todas as pessoas verbais: vir, vies, vir, r= ios, virdes, virmos, O fato de a propria estrutura da lingua apresentar formas semelhantes para esses dois verbos, embora em modos tempos diferentes, facilita a ocorréncia de enunciados em desacordo com a norma-padrao, eu faco a torta e se vocé ver a nossa amiguinha, chame-a primeiro verbo dese enunciado é “vir” e, nessa ocorréncia, a norma-padrao pede a forma “vier”. A presenga da particula “se” sugere uma possibilidade, Portanto, o verbo deve estar no modo subjuntivo, 0 modo que indica afirmagdes ainda nao seguras, ainda nao objetivas. Indica apenas uma possibilidade de acontecimento no futuro, Por isso, a exiggncia do verbo no modo subjuntivo e no tempo futuro. A oracao que di continuidade ao enunciado “eu fago a torta”, no modo indicativo, indica uma ago objetiva, certa de acontecer, mas dependente da primeira, Neste caso, tanto poderia estar no presente, como no futuro do indicativo: “eu farei a torta” Logo em seguida, ha a ocorréncia do verbo “ver”. Neste caso, deve ser usada também a forma do futuro do subjuntivo, por se tratar do mesmo fenémeno anterior: A forma usada aqui seria semethante a uma das ocorrén: cias do verbo “vir”, 0 que, provavelmente, leva o falante a “rejeitar” tal uso. ‘Vejamos como fica 0 enunciado em uma das possibilidades da norma -padrao: Roce ath ee hee aoe ey pod Em seguida, mais uma ocorréucia de fala com este verbo, por se tratar de uso muito frequente na fala do brasileiro, Fo uso do verbo “vir” na forma do prctérito petteto substituindo outros tempos verbais. Aqui, outra vez, 6 contesto preve a fornia des tutines deo subjuntive Cote he eee eet Cece ech ee en A forma verbal “vim” muito recorrente no uso da variante popular do portugués no Brasil, enquanto a forma do verbo no futuro do subjuntivo é pouco usada. Tal consideracdo pressupde que o professor planeje situacdes ‘em que 0 aluno possa perceber as ocorréncias dessas duas formas, levando-o a reconhecer suas implicagoes de sentido. Outro aspecto das formas verbais do verbo “vir” sem relacaio com a troca de tempo ou de modo é a proniincia e escrita desse verbo. Por ser um verbo irregular, “vir” apresenta diferentes raizes em suas formas conjugadas. (10) Se ele vinhesse, nés iriamos juntos. Segundo Azeredo (2010: 182), “um verbo se chama regular quando segue 0 paradigma de sua conjugacao, [...|”. Isto é, em todas as formas conjugadas de um verbo regular o radical € 0 mesmo, como ¢ 0 caso do verbo “cantar”, na primeira conjugagao, o verbo “bater” na segunda ¢ 0 verbo “partir” na terceira. J 0 verbo irregular, segundo 0 mesmo autor, é todo “verbo que apresenta algum desvio em relacao ao modelo, paradigma, de sua conjugacao”. Neste iltimo caso, esta o verbo “vir”, cujo radical se altera dependendo do tempo ou modo em que ele for conjugado, conforme se pode perceber na conjugagtio do modo subjuntivo desse verbo: edad Venha Viesse Vier Venhas Viesses Vieres Vena Viesse Vier Venhamos _Viéssemos Viermos Venhais Viésseis Vierdes Venham, Viessem Vierem Quadro 75: Mod subuntve(norma-padri) A I* pessoa do presente do indicativo do verbo "vir"@ “vwenhe", Dessia forma se origina todo o presente do subjuntivo. vila, wnlias, venhamo, wal, wala A presenca do “se” pede que a aco verbal indique uma possibilidade, portanto a forma verbal deve estar no modo subjuntivo. A presenga da outra forma conjugada no futuro do pretérito, “iriamos”, ¢0 que indica que a primiei- 1a seja conjugada no pretérito. Neste caso, trata-se do uso do verbo no pretérito do subjuntivo, Foi isso o que o falante fez. No entanto, ele fez. uma analogia com as outras formas ja descritas (1" pessoa do presente do indicativo e todas as pessoas verbais do presente do subjuntivo) ¢ produziu a forma “vinhesse” compreender a variante que produz formas dessa natureza, 0 aluno precisa entender que o pretérito do subjuntivo nem sempre mantém semelhancas com o presente. E, no caso de um verbo irregular, sua raiz pode ser completamente diferente. Vale a pena o professor trabalhar de forma contextualizada todas as pessoas do verbo “vir” no pretérito do subjuntivo. Oenune ass 5. Uma historinha de sala de aula com o verbo ir «do, portanto, escrito na variante padrao Este foi um episodio de intera¢ao em uma sala de aula de criangas de 3* série do ensino fundamental de oito anos. As criancas provinham de uma comunidade com baixo uso de priticas letradas, com uso predomi- nantemente oral da lingua. Por essa razao, elas nao tém como variedade linguistica a modalidade padrao. Trata-se de uma conversa entre aluno (A) e professora (P) durante uma aula sobre verbos, observada para uma pesquisa de doutorado sobre o ensino da leitura e da escrita’ CN ne et a tere ed RO a es ee ey Lote ed juntos. Se quser falar certo tem que dizer assim: Eu vou na Jan house stn la Lt Bea, 208 pom QUE AESCOKA NAO EMSINA GRAMATICA ASS A crianga se calou. ‘A questio aqui é entender 0 uso do verbo no enunciado do aluno, Deixamos para o leitor refletir sobre a reagdo da professora (ey a O verbo “ir” se comporta como verbo auxiliar em varias situagdes eu vou comer, eu vou brincar. Alguns estudos de nossa lingua: ew vou fiz mostram que a forma mais usual de o brasileiro usar tempo futuro de qualquer verbo € acrescentar a sua esquerda o verbo “ir”. Tal fenémeno motiva criangas em fase inicial da escolarizacdo a fazerem essa analogia € acrescentarem a esquerda do proprio verbo “it” sua forma conjugada no pretérito perfeito para enunciar uma ago futura, como todos os falantes fazem com outros verbos £ uma pena que um patrulhamento exagerado coiba as pessoas de usar vou ire vou vir, lacugées perfeitamente intuitivas, e que Ao empregadas sem susto em diversas outras linguas (espanhol: voy a ir, francés: je ais aller, inglés: I'm gonna go etc.) £ contradit6rio que nao se critique 0 uso de vou ficar e you voltar... (Bagno, 2012: 618). Nao se pode considerar um erro o uso do verbo “ir” como auxiliar dele mesmo no enunciado da crianga, otiginado na intuigdo linguistica de tum falante nativo que ainda nao tem muito contato com a lingua na sua norma-padrao prescrita pela gramatica normativa. O uso da preposicao m” no enunciado também é objeto de discussio de puristas, no entanto nao foi foco da correo, certamente por fazer parte da variedade usada pela professora, Nao vamos discutir a regéncia do verbo iraqui, mas remetemos olleitora Gramitica pedagdgica do portugués brasileiro, de Marcos Bagno (2012), que apresenta um interessante estudo sobre o tema, 6. Ouso do infinitivo pessoal e impessoal de alguns verbos no portugues Os verbos apresentan tres formas noms participa, genindio € infinitive. A fori nominal ne infiutive © a que aparece vomo enttada em verbetes de dicionarios. O aluno precisa ter essa informagao para poder consultar determinado verbo em um dicionario ou enciclopédia. Na lingua portuguesa, 0 verbo apresenta, além da forma nominal “infi- nitivo”,o infinitive pessoal, que é conjugado, segundo a gramatica normativ nas seis pessoas, como nos demais tempos verbais. Nos enunciados de noss lingua, € possivel encontrar tanto a forma nominal, quanto o infinitivo pessoal E muito frequente a troca de formas na fala do brasileiro em situagdes de uso nao monitorado da lingua e, sobretudo, na variedade popular nao padrao. O infinitivo pessoa assim como o presente do indicativo, pode ser usado para indicar a afirmago de uma acdo futura por um sujeito oracional especifico. Enquanto o infinitivo nao flexionado é usado na maioria das vezes como parte das perifiases verbais. Segundo Azeredo (2002), 0 infnitivo pode ocorrerna lingua de duas em locugdes verbais, articulado a um verbo auxiliarresponsavel enire outras coisas, pela indicacio modo-temporal na oracio “Ela pode ir «gona € como base de um sintagma nominal, atuando com fungao de subs tuntivo, Quando referido a um sujeito, sem a mediacao de verbo auxiliar, © infinitivo pode ser flexionado em niimero ¢ pessoa, segundo as regras de concordancia verbal: “Jil rentarmes sair com Maria” : form Outra forma recorrente do infinitivo na escrita dos alunos de educagao brasica € a invaridvel, para a qual podemos citar cinco possibilidades: (® Quando ¢ parte da locugao verbal: (ii)Quando serve de complemento ao verbo transitivo, seu sujeito € suprimido: (15) Vimos que seria em vio pegar o énibu: (01) Quand forma sintays 1s adjetivos: (16) O filme ¢ de arrepiar. (iv) Quando serve de complemento ao predicativo do objeto, expresso por pronome obliquo atono, do verbo que o precede: ei cr eg (») Quando precedido de preposis signilicagao de certos adjetivos: oc osc ‘A gramatica normativa defende que a flexio do infinitivo depende de que a ele seja atribuido sujeito proprio. No exemplo ja citado, “Tentar: mos em vao pegar 0 Gnibus”, o infinitivo foi flexionado para evidenciar 6 sujeito “nds” presente na sentenga. Contudo, € comum nos bancos es- colares o ensino do modo infinitivo do verbo em portugues ser ensinado 10 € com valor passivo, int egra a sem referéncia a possibilidade de flexao, o que limita consideravelmente a capacidade do aluno, leitor ¢ usuario da lingua na fala e escrita, de pro- duzir e identificar de forma consciente 0 emprego flexionado deste verbo em sua forma nominal. Cabe ressaltar a importancia do ensino da morfologia da lingua conforme a distribuigao das palavras (classes morfol6gicas) em sintagma nominal e sintagma verbal. Se o professor considerar a apresentacao dessa “organizacao morfossintética dos enunciados em sintagmas, como estratégia de ensino, poderd auxiliar os alunos a perceberem que ha uma relagdo de sentido estabelecida pela escolha das palavras, assim como ha uma ordena ‘co interna na sentenga pelas fungdes morfossintaticas ali desempenhadas, + Outro aspecto do infinitivo que requer a atencao do falante é a pos bilidade de encontrar em um mesmo enunciado a oscila flexionada ¢ a forma nao flexionada lianos — as massas em particular — levaram algumas déeadas para serem socializados, até tr n itens triviais dos menus das casas de familia de qualquer etnia® (Schwarez. apud Azeredo, 2008: 43) 0 entre a forma como por exemplo: “Os pratos ita- formar Mas a (roca nao se apresenta apenas entre as duas formas de asos da Verbo no infinitive: Poems pereeber bunbém essa fret entie 0 sniniive © 0 tempo futuro do modo subjuntivo, para a qual analisaremos algumas Ocorréncias encontradas na fala e na escrita de brasileiros, como as apre- sentadas em seguida CO ere Weekes PEO ae ee et eee a Cues Vemos nessas duas ocorréncias de fala 0 uso do infinitive em sua forma nominal en: lugar do futuro do subjuntivo. A presenca da particula se” em contexts dessa natureza pressupe uma acio possivel, nao certa por isso a forma verbal adequada é o futuro do subjuntivo. Nes , SES casos, parece se tratar de desconhecimento das formas conjugadas desses verbos, © que leva o falante a usar 0 verbo em sua forma nominal, Encontraremos ocorréncias semelhantes na fala de criangas e falantes nado nativos. Sobretudo para 0 verbo “fazer”, por ser bem mais conhecido que o verbo aver”, que geralmente é substituido por “ter” na nossa lingua com sentido semethante. CO Sa Re ELLE tae eet ee rey ‘mesmo que entre em contato com 0 responsavel técnico... (trecho Se ee ts Esta foi uma ocorréncia de uso da lingua na modalidade e crita Aqui, trata-se também de um caso em que o modo verbal adequado se- 11a 0 subjuntivo. Ou seja, o enunciado deveria estar escrito na seguinte estrutura: Oa On eC Mort trea etry CO Cece etc eer fi ana Na primeira ovorréncia, @ usuario usou © verbo nee estar” no modo untive «Ho tempo futUFO, no eEntanto deveria té-lo usado no tempo pretento, bie se lo verbo aparece em sua forma infinitiva, onde deveria er usade a presente de subyp nave de verbes peatir ow Que a etcoUA NAO ENSINA CHAMATICA ASSN? 7. Aimpessoalidade do verbo havere suas implicagoes na fala do brasileiro Alguns verbos sio chamados impessoais. S40 os que, segundo a gramética normativa, nao tém sujeito. E 0 caso dos verbos que indicam fendmenos da natureza, quando usados em seu sentido real, denotativo (ver capitulo 6), Na lingua portuguesa, 0 verbo haver, no sentido de existir, & consi: derado pela norma-padrao como um verbo impessoal, que ndo requer sujeito, embora alguns estudos mostrem que no “inconsciente” linguistico dos falantes ha a presenga de um sujeito, 0 que promove a ocorréncia de formas flexionadas. Vale ressaltar: No PB, como bem sabemos, 0 verbo haver esti praticamente extinto no VGB e sé se conserva (gragas sobretudo ao policiamento normativo € ao patrulhamento purista) em GTM. Nas suas fungdes apresentacionais como verbo auxiliar na formacao dos tempos compostos, haver cedeu 0 lugar a ser faz muito tempo (Bagno, 2012: 609). Ga eC nr a a Bee ea ea ee CuCl eee is ee ee Este & um caso em que o verbo haver deveria estar na 3* pessoa do singular, por ser considerado impessoal. A gramatica normativa reza que 0 ‘verbo haver, quando usado no sentido de existir, deve ser impessoal. Mas 0 que leva um(a) professor(a), em situagao formal de uso da lingua, a flexionar este verbo? Por hipercorrecao. Ou o verbo esta sendo usado nao no sentido de existir, mas no sentido de ter, caso em que ele pode ser flexionado? 8. Transpo: Nao se trata de ensinar 0 aluno apenas a conjugatr os verbos em scus tempos, modos ¢ pessoas. Trata-se, sobretudo, de levi-to a refletir sobre os cide, A abordagent Lusos e possibilidiades de usos dos verbos em cada de analise do verbo ent una perspectiva sociahinuistioa sober do professor a mediagan © analise das varias possibilidades de ane dat tygut Sugestao 1: uma atividade muito significativa para o inicio da discus- sa0 e anétise do uso do verbo em lingua portuguesa é levar 0 aluno a perceber a importancia do verbo como elemento essencial para a construgao de sentido nos enunciados. © valor semintico do verbo é definido na construgao do discurso ¢ manife ‘ado nos enunciados produzidos e compreendidos pelos diferentes interlocutores, de acordo com 0 contexto ¢ as possibilidades de uso da lingua, em diferentes cir- cunstincias de uso, demonstrando a realidade da variacao linguistica presente no portugui brasileiro, Sugerimos analisar o valor semantico dos verbos a partir de diferentes enunciados, presentes em textos escritos de circulagao social, tais como placas de antincio, panfletos publicitarios, capas de revistas, imagem de faixas, letreiros e outdoors, coletados no cotidiano dos alunos. Com esses textos, os alunos poderao verificar, por meio de analises da construgao dos enunciados verbais e/ou nao verbais, como 0 usuario da lingua constréi sentidos a partir das escolhas dos verbos em cada enunciado, em seus respectivos modos e tempos, Em sala de aula, aproveite para discutir coletivamente alguns textos, analisando a construgio dos enunciados ¢ observando com os alunos a importincia da palavra verbo na construcdo das ideias apresentadas nos textos. Também é bastante importante aproveitar essa atividade para situar o texto no contexto de produgio e reconhecer as caracte- risticas da comunidade de usuarios da lingua portuguesa brasileira a qual pertencem os géneros textuais analisados. Outro aspecto muito importante no ensino dos verbos é conscientizar Co aluno da estrutura morfologica dos verbos. Se ele compreender como sao constituidos os verbos, fica mais facil assimilar a ideia de desinén- cia/sufixo modo-temporal e a desinéncia/sufixo nimero-pessoal. E importante levar 0 aluno a perceber as partes significativas por meio de andlises contrastivas dos verbos em diferentes tempos ¢ modos. endo sempre o cuidado de nao tratar essa classe gramatical de forma ixolada das outras palavras que fazem parte do enunciado. A primeira sugesiao para o estudo da estrutura morfol6gica do verbo co desenvolvimento da cons iencia metalingnistica 6 a apr ssentagao de unt zeupe de verbos regulares (an exemplo da 18, 2 3" conjugagao’ Jalan, comer ¢ air) detmaustragan, no quadio, da estrutura desses, on Que AESCOLANAO NSINA GRAKATICAASSINT -verbos, Inicialmente, no infinitivo e, em seguida, no modo indicative com aescolha de uma situacao discursiva na qual os alunos percebam 2 ideia de tempo € a relagdo com o sujeito da sentenca. Exemplos’ (24) Maria e Mariana falaram muito nesta aula.—> Pretérito perfeito do, Pian aay ee hc cal ae Fn ee aad alae Pipe oreglepnnny STR Nc Re Cale ca) Fr ta era eee cle ine alee aE ee ee uc alee Gua) (O mais importante ndo a memorizacao da apresentagao do verbo na 1* pessoa do plural, no pretérto perfeito do indicativo. O mais relevante é a possibilidade de apresentar aos alunos o aspecto de regularidade dos verbos, definido a partir do emprego das DMT e DNP de acordo ‘com os sentidos que se deseja atribuir ao enunciado. Para demonstrar essa afirmagao, apresente em seguida as mesmas sentengas com alguma varidvel em sua composi¢ao e nas desinéncias dos verbos, levando a raciocinar sobre a estrutura do verbo ea relacao entre as DMT e DNP €.a nogio de temporalidade intuida pelo falante. Exemplos: Fea oe rea cs Peery Kao) Fe nee er ak aia ene est Camano) Fe ee nt ee al Been eh ued a Ca] “Aproveite para refletir com seus alunos sobre as munlificagves proven a ddas nos exemplos analisados ¢ registre av final da ata as veyutaniladen ocorridas (i) Ao madar o tempo, mudiamos a mt (i) Au madara pessoa, mudamies ber fn ‘Assim, serd fixada a maxima de concordancia verbal nos enunciados produzidos pelos falantes em diferentes situagdes discursivas, Estamos a todo instante produzindo essa organiza¢ao da lingua enquanto nos comunicamos. Dessa forma, o aluno se aptopria dos conhecimentos da norma-padrao da lingua, sem, no entanto, gastar tempo realizando listas de verbos com suas conjugacdes isoladas do contexto de uso. Sugestio 2: além de refletir sobre a estrutura morfologica dos verbos, é importante levar a discussdo para dentro dos textos que na sociedade ¢ ajudar os alunos a observarem que os fenmenos de organizacao da lingua padrao esto presentes na producao dos textos que circulam na comunidade. Chegou a hora de refletir sobre 0 valor semntico dos verbos empregados em determinados enunciados ¢ 0 quanto a alteracio de uma informagao poderd afetar a coeréncia do texto, a ponto de torna-to impréprio ou inadequado segundo a norma- -padrio de uso da lingua escrita Solicite aos alunos que levem para a sala de aula panfletos € textos publicitdrios diversos (panfletos, flderes, cartazes, santinhos, entre outros). Em sala, solicite aos alunos que identifiquem na frase central (manchete, topico frasal ou titulo) a presenga ou nao de verbos. Depois oriente a turma a registrar no caderno a forma verbal encontrada e a identificar a estrutura morfolégica desse verbo (radical, vogal tematica, DMT e DNP) Depois da identificagao do verbo, o grupo de trabalho (3 a 5 alunos) deverd experimentar trés possibilidades de alterar 0 sentido do texto, modificando a estrutura do verbo. Em seguida, devera observar quais foram as mudangas de sentido provocadas no texto a partir das alte- ragdes de modo ¢ tempo, nimero e pessoa. Com certeza, algumas proposic&es alterardo o sentido a ponto de tornar o texto incoerente. Nao se preocupe, esse € 0 momento chave da aula no qual os alunos ewe refletirio sobre as razées pelas quais a lingua materna apresen- ta regularidades no uso e, por isso, € necessario fazer escolhas mais auequadas as situagées de uso ¢ aos sentidos esperados em diferentes irculam igoes COM nicativas ssn atividade também poder ser desenvolvida em outros momentos slos estntos de verbos com a aporo de textos publicados em jornais € fevistas, nos diary voce promova o apayamente de alps verbs em on que A ESCOLANKO ENSINA CRAMATICA NSIT especial, criando lacunas no texto, para levar os alunos a refletirem sobre o que poderia ser utilizado no espaco deixado em branco: quais verbos selecionar de acordo com o valor semantico esperado, € com quais DMT e DNP. Para es atividade, é muito importante manter a atengao na relacao de concordancia e de construgao de sentido com 6 restante do texto, uma vez que a informacao deverd ter garantido a coeréncia ea sequéncia logica, assegurando a interlocugdo com os leitores do texto. © Sugestio 3: até agora sugerimos trabalhos com os textos escritos que circulam na comunidade, mas € preciso ter bastante atengao ¢ estar emestado de alerta para identificar o quanto a comunidade de falantes € rica para oferecer subsidios & reflexao ¢ andilise do falante. Assim, para esta atividade a sugestao sera trabalhar com textos oriundos de praticas de oralidade, Para comegar, organize sua turma em grupos de cinco alunos que, juntos, farao uma entrevista. Para orientar passo a passo, comece com a elaboracado de trés perguntas para uma entrevista com alguém que faca parte da comunidade escolar (funcionérios, professores, funcionarios em geral, coordenacao e di- reco, familiares, entre outros). Estabeleca um tema para a entrevista (preferencialmente na pauta das atividades em andamento no curriculo da turma), Para a elaboracao das perguntas, oriente os alunos para a modalizacdo da linguagem, a busca de objetividade e imparcialidade, além de observar o rigor do emprego da norma-padrao da lingua a0 ajudé-los a revisar 0 texto escrito. Ja com as perguntas da entrevista revisadas, peca aos alunos para irem a campo realizarem a atividade ¢, caso seja possivel, solicite que gravem a fala do entrevistado (gravadores, celulares e/ou cameras), + caso nao haja recursos, pega a mais de um aluno para registrar por ‘crito, reproduzindo a fala do entrevistado tal como ela é emitid: para que depois esses registros possam ser analisados nas aulas de lingua. Depois da entrevista, os alunos deverdo resgatar as respostas ¢, em grupo, sistematizar as anotagoes em um texto organizado para que 0 grupo possa apresenti-lo aos demais alunos, C prepaadias ¢ quatis foram os v ia grupo deveri observar quais foram as sentengas verbars em bos Depais passe para t anatise dos aaa te 1 diferenetar os verbon Ha Auaalie a carina? veo ReNEWO.908 TEMPOS EmoDoS VERHAIG EW UNA PexSPECTHA SOCIOLNUISTICN regulates dos irregulares ¢ a observar com maior atenao a formacio :morfolégica dos verbos empregados. Ao identificar os verbos no texto, a turma deverd refletr sobre o perfil dos diferentes entrevistados para ampliar a compreensio das diferentes ocorréncias dos verbos, assim como observar possiveis inadequagoes, buscando compreendé-las nao rejeité-las preconceituosamente. - O mais relevante € 0s alunos observarem os usos da lingua escrita na producao oral e, mais ainda, perceberem que o perfil sociolinguistico do falante (variagdo regional, escolar, etéria e social) interfere escothas e uso dos verbos. Isso é fundamental para instrumentalizar o falante da lingua materna para a tealizagao de escolhas adequadas, ‘Sugestio 4: trabalhe coletivamente com a turma a leitura de enuncia- dos nos quais estejam presente os verbos ter, haver, ir, ver, fazer vir. A partir da leitura, analise coletivamente 0 emprego desses verbos, Ievando os alunos a refletirem sobre 0s casos mais comuns de uso no infinitivo pessoal e futuro do subjuntivo. REGENCIA VERBAL Ana Diima de Almeida Pe Marti Vieira Lins de A: 1. Palaveas it Jem sempre seguimos ao pé da letra a grama- tica normativa. Quem nunca ouviu ou leu lexpressdes como: Eu assist o filme, Eu aspiro coisas melhores, Nés visamos um futuro melhor, Foros no clube de semana, entre outras? Tais expresses fazem parte de textos orais ¢ escritos de um nimero bem significativo de brasileicos, apesar dea tradicdo gramatical apontar que os verbos empregados nesses exemplos devem receber outro tipo de comple- mento de acordo com o sentido que se quer enfatizar, 0 que contribui para percebermos 0 quanto a rela verbose complementos é complexa (cf. Mollica, 2003a), jo entre Na tradicao gramatical, os exemplos supracitados obedecem ao seguinte padrao: Ew assisti ao filme, Eu futuro aspiro por (ou a) coisas melhores, Nés visamos a wr melhor, Fomos ao clube no final de sema na. Ainda refletindo sobre os usos que fazemos dos verbos em nosso dia a dia, encontramos outros fendme nos, tais como: queismo ¢ dequeismo, que podém ser os nos seguintes exemplos: Olive que eu preciso ¢ tado acres nuitocane Ki penso de queo Brasil én puisdest termite: Antesipsdegied votagia na Ciara seniapert Bagno (2012: 519) afirma que, ao lado da concordancia, a regéncia verbal “é um dos alvos preferidos da vigilancia purista que, infelizmente, também ¢ exercida pelos livros didaticos filiados a TGP [Tradi¢ao Grama- tical do Portugués)”, Considerando os exemplos apresentados ¢ no intuito de compreender melhor por que esses fendmenos linguisticos ocorrem, este capitulo discutira «1 eegéncia verbal organizada em trés momentos: (© verbos de dupla regéncia; © verbos de movimento; © queismo ¢ dequeismo. Bagno (2012: 984) traz. uma distingao entre norma-padrao € norma cculta que sera titil para nossas reflexdes. © Norma-padrao: “Conjunto de regras presoritivas, inspirado no uso literdrio de alguns poucos escritores do pasado considerados como exemplares e como modelos a ser imitados”. Nao corresponde ao uso real da lingua. © Norma culta: “Conjunto formado pelas variedades urbanas de pres gio, faladas ¢ escritas por cidadas ¢ cidadaos com vivencia urbana ¢ clevado grau de letramento (objetivamente quantificado pela posse de um diploma de curso superior)”. Para Bagno (2007), trata-se de ‘um conjunto de variedades da lingua que sao efetivamente utilizadas pelos falantes de uma lingua Wagno (2012: 988) ainda complementa: “O mais importante a enfatizar € ‘quca norma-padrao nao é uma variedade linguistica: ela é um construto sociocul- tual, attificial, da mesma natureza dos cédigos penais, das leis de transito. Vorbos de dupla regéncia Apos esas consideniydes, vejamos um interessante quadto, apresenta- do por Bayzne (2012 987 8), que baz as Construgnes verbais dat norma culta Contemporanes (vatiedades urbanas de prestige do portupues brasileito) ¢ vcconstragoes verbars alealizadas peta nora padi bo. Acorretar Agrodar Agradecer Aspicar Assentr Asistr Aang Bastar Buscor Caber Chegar Consistr Gastar Deporar Desobedecer Esquecerse Implicor Evitor te Cee’ Clee acarretar em algo [+abstrato] agradar alguém agradecer alguém: agradecer a alguém aspirar algo (almejar, desejar" “inalar) assentir em algo assistir algo ("presenciar’ ating algo: atingle a algo (= cif) basear alguém + infinitive buscar algolalguem buscar por algolalguem algo cabe algo chegar ema algum lugar consist em algo (ser, significar, envolver”) consistir de algo (‘ser composto de") algolalguem custar a + infinitive deparar-se com algolalguém desobedecer algolalguém cesquecer-se de algolalguem lesquecer de algo/alguem implicar em algo (envolver,acarretar") cevitar algo; evitar de + ifinitivo ir em/para/a algum lugar [tpecmanénela] Re eral acarretar algo [+eoncreto}, ([+abstrato] agradar alguém ("fazer carinho” agradar a alguém ("satisfazer, dar prazer") agradecer a alguem aspirar algo (inalar”) aspirar a algo (“almelar, desejar”) assentir a algo assistir a algo ating algo bastar a alguém + infinitive buscar algolalguém tem algo cabe algo cchegar a algum lugar Consist em algo ccustar a algolalguém + infiniivo deparar algolalguém deparar com algolalguém desobedecer a algolalguém cesquecer-se de ago/alguém implcar algo ‘evtar algo: evitar + infinitive ir a algum lugar [-permanéncia) ir para algum lugar [+permanéncia] On QUEAESCOLAMAOENSMA GEAMATICAASSIN? Lembrarse _lembrar-se de algotaiguém Jembrarse de algolalguem lembrar de ago/alguém Namorar amor com alguém:namorar—namorar alguém slguém Obedecer _obedecer algo/alguém obedecer a algolalguém Pogar pagar alguém pagar a alguém Pedic pedir a alguém pare + infinitive pedir aalguém que + subjuntivo pedir a alguém para que + subjuntiva Perdoar —_perdoar algolalguém perdoar aalguém Perguntar —_perguntar a alguem de/por penguntaraalguém por algo! sobre algofalguém alguem Preferir prefer aig, [mals] do que algo prefer algo a algo Responder responder algolaiguém responder a algo/alguérn responder a alguém Sotisfazer_satsfazeralgolalguém satisfazer a algolalguém Sobressair__sobressair-se emvde/entre sobressair em/delentre/denere -dentre algo/alguém algovalguem_ Suceder _suceder alguém (“substieuir")__suceder a alguém Vie vir ema algum lugar vie algun lugar Visor sar algo ('mirar” [concrete], _visar algo ("mirar” [+concreto}} [rabstrato}) sara algo (‘mirar”[+abstrato} Quadro 8 |: Quadro de regéncia contermporines © regénca tradicional Dispenivel em Bagno, 2012 p 987-988 Os estudos linguisticos, em especial 0s sociolinguisticos, confirmam que ‘as regencias verbais tendem a passar por variagdes ao longo do tempo, porque osusuarios da lingua comegam a utilizar os verbos atribuindo a eles nov terpretagdes e significados, como nos exemplos apresentados no quadro acima, (Os exemplos permitem compreender que os usos variados das regen cias nos dias atuais acontecem por varios motivos. Um desses motivos ¢ 0 fato de toda lingua passar por modificagées, prova viva cht dinamicidade inerent a todo sistema linguistico e que nav pode ser desemnsidenada nem pela sociedade nem pela escoha Verifiquemos os exemplos: fucka! ea Assist a0 ime. Assist o fie. ‘Acenda a0 chamado ‘Atenda © chamado. Ete fazer compra inte Evite de fazer compras inte’ A reforma do prédlo implicou {stos previstos. Ziléa namora Zélio. ‘A.reforma do prédio implicou em gastos nio previstos, Zila namora com Zalio, ‘Obedesa 20 regulamento, ‘Obedesa o regulamento. Ji paguel ao marceneiro, J paguel o marceneiro. Prefro [mais] abacaxi do que manga. Responda o questionirio. Prefiro abacaxl a manga. Responda a0 questionsio. (Quadro 82:Rogénciasconservadoras ¢novadors. Deponivel em Bagre 2007, 9.138 3. Regéncia verbal com verbos de movimento A regéncia varidvel dos verbos de movimento, cujo complemento pode ser realizado com as preposicdes a (vou a cidade), para (vou para a cidade), em (wou na cidade), até (eu fui até a feira) € com a auséncia da preposigio (vou @ 14), € um dos fendmenos que afeta os falantes que se situam em qualquer posi¢ao no continuo de variedades do PB (Assis, 2009: 40) ‘Temos as duas construcdes a seguir: Vou d jeira e Vou na feira. O que faz com que o mesmo verbo tenha duas preposigbes diferenciadas? Vieira (2009) afirma que, de acordo com a tradigao gramatical, os verbos de mo- vimento ir, chegar, vir devem ser empregados com a preposigao a ou para uma vez que essas preposigdes carregam sentido de direcao, sendo que a escolha de uma ou outra implica uma diferenga sutil de sentido. Cereja ¢ Magathaes (2006) destacam que os verbos chegar e ir sao intransitivos € cexigem a preposi¢ao a quando indicam lugar. Observemos os exemplos: (1) Chegamos ao teatro as nove horas em ponto, (2) Vou a academia dle gindstica vez ou outra, Ponque AESCOLANIo ENSINA cRAMricA ASSN? No entanto, para Vieira (2009: 427), “na lingua falada, além dessas preposicdes, também é comum o uso de em acompanhando esses verbos Oc ae Foe Cheer tet tee (uc etia hc h ou (6) Jodo foi praia no fim de semana. (7) Jodo foi para a praia no fim de semana, OVE oree ee eee a Ogee cee eet cy CO geese Em sua analise, Vieira (2009) observa que os usos destacados em 3), @), ©, (7 € 9) so previstos pela tradi¢ao gramatical e considerados norma-padrao, enquanto os usos destacados em (5), (8) ¢ (10) sao consi derados nao padrao Ha autores que interpretam tal alternancia como uma variacao lin- guistica, condicionada por fatores linguisticos e extralinguisticos. Mollica (1996), por exemplo, realizou pesquisa, através da qual identificou fatores linguisticos que condicionam a escolha de uma ou outra dessas preposicdes empregadas com o verbo ir (Vieira, 2009: 427-428), Vieira (2009) verificou que 0 estudo de Mollica demonstra que tragos seminticos do locativo influenciam a escolha da preposigo. Assim, locativos que se referem a um espago fechado, a um lugar cercado tendema selecionar a preposi¢ao em; enquanto locativos que se referem a um lugar aberto tendem a selecionar as preposi¢des a/para, Outro fator relevante, apontado pelo estudo, de acordo com Vieira (2009: 428), éo grau de definitude do locativo: «Quanto mais definido, maior a possibilidade de o verbo ser empregado cm a preposicdo em; quanto mais indefinido, maior a possibilidade de ser empregado com as preposigées @ ou para. Tais resultados apontam para © fato de que a maior ou menor integracao entre preposi¢ao e locativo & dependente de caracteristicas semanticas do locativo. Vieira (2009) concluiu que os verbos fevur, vire chi yurapresentam power variagaio em sua regéncia: fevure vir, em yeral, sao tepidos pela preposigan, a/pane eo verbo chegar, veyiado pela prepasigae car O verbo ao contiaiie, apresentou significativa variagdo, sendo a regéncia com a/para a variante preferida na amostra analisada. Assis (2009: 40), ao analisar 0 estudo de Mollica (1996) sobre o uso varidvel da regencia do verbo de movimento fr, apresenta a exigéncia da ‘gramatica tradicional quanto a regéncia deste verbo que prescreve 0 uso de 4 para, admitindo uma diferenga sutil de sentidos entre elas. ‘A preposigdo a introduz mumerosas circunstancias (indica que a ida és para certo fim, e depois volta) estabelecendo o trago de -permanéncia], a exemplo de “Fuia cidade”, Enquanto a preposigdo para denota termos de movimento, direc para um lugar coma ideia acessra de demora ou destino, desta forma, estabelecendo 0 trago de [+ permanéncia}, a exemplo de “Fui para a Europa Sobre 0 verbo ir com ideia de movimento, Bagno (2001: 287) destaca que devem ser apresentadas as trés regéncias possiveis — a, para, em —como igualmente accitaveis, ja que o contexto do enunciado ¢ suficiente para in- formar ao ouvinte/Ieitor se a ida foi temporaria ou definitiva, Em relacio a0 verbo chegar, pode-se utilizar raciocinio andlogo, devendo-se considerar que 0 uso da preposigdo em esté cada vez mais difundido, Considerando os exemplos e explicagdes apresentados, Bagno (2002) questiona: as gramiaticas, os dicionarios destinados ao tratamento da regen- cia verbal ¢ a propria escola ensinam que nao devemos usar a preposicio ‘em com verbos com ideia de ditego (ire chegar). No entanto, é comum en- contrarmos inclusive pessoas com alto grau de escolaridade desobedecendo a essa regra, Por que sera que isso acontece? E responde: Usamos a preposicdo rac para reger verbos de movimento porque o portugi € uma Lingua derivada do latim e em latim a preposigio ts (de onde veio 0 ‘nosso FM) era usada com essa mesma finalidade. Na verdade, havia em latim ‘uma concorréncia entre duas preposigdes: an (que dew o nosso a) e rs. Nao hhavia uma separagao rigida entre as fungdes das duas, e ambas podiam indicar tanto 0 repouso, a localizagio quanto 0 movimento, a direcio (Bagno, 2002: 141), O verbo chegar, com ideia de destino, tem um que ado verbo ir, Hxistem apenas duas preposigdes us 1uacdo mais simples las, a preposigin susie em sit@agoes le wo Tormatidade (¥ padrao) © preposigie em, constderida menos padtonnzatha (ef Bano, 2002) A partir das explicagdes € dos exemplos, percebe-se que, mesmo com as regras apontadas pela gramdtica normativa, existem fatores tanto linguisticos quanto extralinguisticos que favorecem o uso diferenciado das preposicdes diante de verbos de movimento, Cereja € Magalhaes (2006) afirmam que na escrita é mais comum @ monitoracdo, por isso 0 emprego da preposi¢ao a apis os verbos chegar e ir torna-se mais comum. Bagno (2002) reforga a propria constituicao da lingua portuguesa relembrando 0 processo de formacao de nossa lingua. Isso nos remete a variagao linguistica que tanto é um fator natural como historico € que tem grande influéncia nos usos que fazemos de nossa lingua materna E preciso que o professor perceba que a lingua é dindmica 0s usos que fazemos dela se dao em ambientes ora mais formais, ora menos formais. Sendo assim, podemos transitar entre um emprego ¢ outro observando as situages de uso da lingua e as priticas sociais em que estamos inseridos. Mollica (2003a: 104) reforca essa afirmagao ao destacar que, no por- tugués falado atualmente, podemos ver uma simplificacio dos “usos dos inexos preposicionais”. Isso significa que conseguimos produzir enunciados compreensivos mesmo retirando ou diminuindo a quantidade de preposi- des previstas, inclusive pela norma-padrao. Em suas aulas sobre regéncia verbal, traga para o ambiente de sala de aula exemplos concretos (voltados para 0 uso) ¢ estabelega uma comparacao entre usos jd incorporados as variedades urbanas de prestigio e a prescrigio gramatical. Essas escolhas pedagogicas permitirao que o aluno perceba 0 que a gramatica normativa prescreve e o que de fato nds usamos ¢ por que usamos de forma muitas vezes diferenciada. Essa pritica pode possibilitar no s6 0 aprendizado das regras gramaticais, mas também a reflexao em toro das praticas linguisticas como propdem os Parametros Curriculares Nacionais (Brasil, 1998), 4. Queismo e dequeismo (11) Hé rumores entre os consumidores @ que comer fora & mals econdmico (Jornal do Brasil, 26 de abril de 2004 — Cartas) CO Ee ee pee ee Se ee aCe eles ae (Ov eotueuton etn carr teeny Cue he eens (14) Foi com ele, nos tempos @ que fui o seu secretirio na diretoria da ‘Mangueira, que pude aprender alguns ensinamentos (Povo,20 de abril Cree eke eet} © que vemos em todos 0s casos citados é a supressio da preposigao. Observando os exemplos (11), (12), as palavras rumores e diivida pedem, segundo a norma-padrao, complementos regidos por preposigaio, geralmente a preposicao de. J no exemplo nimero (13), temos um verbo transitivo indireto (convencer), que, seguindo as orientagdes tradicionais da gramé. tica normativa, pede complemento com auxilio também de preposicao. No exemplo (14), percebemos a auséncia da preposicao antes do pronome relativo que é exigida pela estrutura sintatica em anilise, Mollica e Roncarati (s.d.) explicam: Por outro lado, conforme Mollica ¢ Roncarati (s.d.), 0 dequeismo' trata da insergdo inadequada da preposigao de em contextos em que ela se faz desnecessaria, como no exemplo a seguir: “Ele achou justamente de que ‘cu pudesse enganar a Bené”. Nesse caso, a preposi¢ao de nao é exigida Por nenhum elemento da construcao oracional, caracterizando aqui 0 dequeismo (p. 9) Emrelacao ao fendmeno do dequeismo, ha uma situacao contraditoria: “O dequeismo realmente é pouco usado € pouco percebido; porém quando ele € notado, ¢ fortemente estigmatizado”. O fendmeno do dequeismo & considerado desprestigiado porque ¢ usado em situagdes que no exigem a reposi¢ao de, como o exemplo a seguir: Meu sono ena de que todos ficassem ‘hei. Nesse caso, 0 verbo (ser — era) nao pede complemento acompanhado Dupmrone poser. a prensa de antes da eaniungio inlerante yu, feumand o st-taue Once svarsie ma wilaaylen ona AESCOLANAO ENSINA GRAWATICA ASEM? de preposico, por alguns motivos: o verbo ser, dentro desse contexto, ¢ um ‘verbo de ligacio que nao exige complemento acompanhado de preposicao ¢trata-se de uma construgao sintatica formada por uma oracao subordinada substantiva predicativa que, por sua constituicao, nao necessita de preposicdes. De acordo com Mollica ¢ Roncarati (S.4.), eventualmente, a conjuncio subordinativa pode ocorrer com nexos prepo- sitivos, sendo a preposiciio de empregada em varios casos, a exemplo de rages subordinadas completivas nominais. O dequeismo caracteriza- pela insereao da preposigio de em contramao com a norma tradicional di ferentemente dos sos abonados pela norma. Pode ocorrer em subordinada subjetiva, subordinada objetiva direta, subordinada apositiva, oragao relativa em que o verbo da oracao adjetiva nao pede a regéncia da preposicao de, ¢ em locugdes conjuntivas (p. 10), Os exemplos a seguir resumem claramente os dois fendmenos em estudo: Tenho a esperanga que venha amanha. Espero de que venha amanha. Te mos, no primeiro exemplo, um caso de queismo, quando se suprime 0 uso da preposigio apés a palavra esperanga, Segundo a gramatica normativa, observa-se um complemento inadequado para a palavra esperanca (regencia nominal), pois segundo a norma quem tem esperana, tem esperanga de algo. NO segundo exemplo, 0 verbo esperar nao pede complemento preposicionado, sendo a oracio apresentada um caso claro de dequeismo, © queismo e 0 dequeismo tém se tornado frequentes nos usos lin: guisticos. Apesar de a gramitica apontar como devem ser as estruturas de algumas oragées, considerando a regéncia do verbo e das palavras, ha uma tendéncia a variar esses usos devido a alguns motivos, entre eles: em algumas situagdes de uso ou inserimos elementos linguisticos ou retiramos, Véjam os exemplos a seguir: Eu perso de que 0 Brasil é um pais destinado a cvescer muito... Antecipo de que a votagio na Camara sera apertada.... Nesses exemplos, retirados de Abaurre e Pontara (2006), vemos claramente 0 uso da preposigao de em estruturas linguisticas em que clas sao desnecessirias, caracterizando-se como exemplos de hipercorregao. ste fendmeno se ex plica por um exagero que ocorre quando o falante, na tentativa de avertar ‘em relagao a um uso linguistic, acaba por cometer um equivoco inserinda, ou retirando elementos da estrutiura en use, ioe aESeNCIvERAAL 5. Como trabalhar a regéncia verbal na escola? m sala de aula, é de grande relevancia que 0 professor, ao trabalhar com regéncia verbal, explore nao s6 as regras apontadas pela gramatica normativa, mas parta das situagdes de uso e explique aos alunos por que, ‘mesmo coma existéncia das regras destinadas & regéncia de verbos, algumas pessoas acabam por nao usé-las em suas produgdes textuais. Para isso, o professor, no trabalho com seus alunos na escola, precisa entender: alguns fatores podem contribuir para 0 no atendimento s normas que regem o complemento exigido por alguns verbos, tais como: a menor monitoragao da linguagem; 0 nao conhecimento dessas regras, algo muito comum, inclusive, por conta de nivel de escolaridade baixo; os usos linguisti- cos, que, com o tempo ¢ a dinamicidade da lingua, favorecem as mudancas. Alem desses fatores, é importante partir das experiéncias linguisticas dos alunos e amplii-las considerando as reais situagdes de uso, tendo 0 cuidado de nao focar apenas um aspecto linguistico, como por exemplo, © gramatical que, infelizmente, em algumas situagoes também favorece a ampliagao do preconceito linguistico, E preciso observar a norma culta contemporanea também. Em relacio ao uso de queismos e dequeismos, é fundamental que 0 docente explicar aos alunos nao s6 por que eles devem ser evitados, mas também por que ocorrem, E relevante destacar; ao produzir enunciados como esses, 0s falantes, preocupados em nio usar 0 verbo com uma regén- cia inadequada e na tentativa de seguir as regras apontadas pela gramatica normativa, acabam gerando a hipercorrecao, que nada mais é que uma corregio “exagerada” e, muitas vezes, malsucedida (ver capitulo 5). Também é essencial, como sugere Antunes (2003), o docente trabalhar 6 texto como um todo, ndo apenas o aspecto gramatical puramente. Ji em relagdo ao “ensino de gramética”, Antunes destaca alguns pontos que professor pode trazer para 0 Ambito de sala de aula, que favorecem nao s6 © aprendizado dos conceitos, mas os usos conscientes deles nas priticas socials nas quatis os alunos estio inseridos: uma gramdtica relevante, fun- ional, contextuatlizack, interessante € q ¢ possibilite ao discente usd-la com juutanga, eke acande cont as situagbes © Cont Os HSON qME as pessoas gt sSs_o>_—_-[— 7:7” Bagno (2012: 988) propoe que as regencias tradicionais sejam explic das A medida que aparecerem nos textos auténticos lidos ¢ trabalhados em sala de aula. E acrescenta: “E perda de tempo querer forgar os estudantes aprender regéncias em franca obsolescéncia e que ji tem sido amplamente substituidas, mesmo nos GTM [Géneros Textuais mais Monitorados}, pelas regencias inovadoras Em Da linguagem cologuial @escrita padrao, Mollica (20032) apresent® algumas sugestées de atividades para o trabalho com regéncis verbal Considerando que a escola possui como um de seus objetivos ampliar 4 competéncia comunicativa dos educandos, no trabalho com re sgencia verbal é importante: 1. Iniciar pelos casos de preposigBes de baixa funcionalidade (com arb emntia minima), como ae de. 2. Produzir exercicios de substituirdo de preposigbes através dos quais os alunos ampliem o leque de ops = Dass or clecionar os nexos prepositivos com maior carga semantica, 3. Com o v ode movimento ir, a escola deve dar atencio especial para os contextos de ae corfavorecimento &tendéncia dos falantes de usar em (Forma no standard) (Mollica, 2003a: 117). 6. Ultimas consideragées E preciso compreender a gramatica funcional e discursivamente, tal qual afirma Antunes (2003: 96-99), € em suas implicagdes pedagogicas: © Uma gramatica relevante, que amplie a competéncia comunicativa dos alunos, + © Uma gramitica funcional, que privilegie 0 estudo das regras dos sos sociais da lingua ¢ de suas condigées de aplicagao em textos de diferentes géneros. (© Uma gramatica contextualizada, que promova a producao anilise de textos, levando 0 aluno a confrontar-se com circunstancias de aplicagao das regularidades estudadas COMO A ESCOLA PODE EXPLICAR ERROS GRAMATICAIS E INOVACOES? 1. Iniciando a conversa s fendmenos variaveis focalizados neste li ‘ro, ao se distanciarem em maior ou menor grau da norma-padrao, costumam suscitar rejeigdo, realimentando o binémio certo X errado, ou legitimando o “tudo vale” © Como a escola tem explicado essas atitudes? © Em que elas interferem no aprendizado da lingua? © Porqueas descobertas da pesquisa linguisticacon- tinvam sendo de dificil acesso ¢ tidas ainda como compplicadas” para muitos professores ¢ alunos? Segundo o plano geral do livro, tulo tem por objetivo: sste Ultimo capi- © esclarecer a natureza dos fendmenos variveis © funcionais da lingua; © esplorara forga explicativa de algu senfogu func comalestrs © oferecer ao professor caminhos alternativos para a compreensio de fenémenos sociofuncionais. ‘Vamos por partes. 2. Os enfoques funcionalistas Os termos “fungo" ¢ “funciona!” na visto de Nichols (1984) e Pezatti (2004), abrigam diferentes tendéncias funcionalistas', mas todas elas partem de um pressuposto fundador: « linguagem é um instrumento de comunicagao ede interagio social, A Tinguagem habilita o falante a desempenhar diversas fungdes lin guisticas (cf. Butler, 2003: 3) © funcao informativa: prover informagoes relevantes para a situacao comunicativa; © fancao intencional: atender as intengdes comunicativas; © fungao socializadora: adequar-se a regras e normas nas mais varia- das interagdes interpessoais e sociais; © funcao contextualizadora: adaptar a linguagem a0 contexto inte- racional em foco. Os enfoques funcionalistas associam estreitamente a estrutura lin guistica aos contextos de uso ¢ as escolhas que os falantes fazem para satisfazer propdsitos € necessidades discursivo-interacionais. As formas que a linguagem assume levam em conta a eficiéncia comunicativa entre 0 falante e sew interlocutor, esteja ele presente ou ausente (no caso, 0 leitor, 0 ouvinte ¢ 0 espectador de midias em geral, o autor de um texto em relacao a0 seu tradutor), Por isso, € importante compreender que a especificacao do conhecimento linguistico e da competéncia comunicativa envolve muito mais do que 0 dominio de regras sintaticas, semanticas, morfolbgicas ¢ fo ‘Agradecemos a Maria Luiza Braga a indicagdesbibliogrtics, Butler (2003), Cro (1998), Neves (2001) ¢ Pezatti 2004) apresentam uma clasificagao programitica dos diferentes maxes func ists: funcionalismo geratvista (Prince, 1991; Kuo, 1980) ou funcionalsms auton mista (Prince, 1991; Kuno, 1976; Ward, 1991, gramsitica funcional (Dk, 1946): yramtitic de papel ede referencia (Van Valin, Foley, 1980; Foley, Van Vain, 188); sistem Animal (ally. 1973, 1978, 1994); gramitica cognitva e/ou funcionabengitiva (Langackes, WN, LPM, 191, 199, Lakol 1987, 1997), gramitica deconstraio (Film Kay. BA), neal (aso 19 Cro, 18H) inal estnn aes Mav Whines, BS? TT, 120} unslnwn tet io so, B, P82, 18, Leggs I Tenneasn B80, Tana, Pa (NM IL ‘carvan COMO A ESCOLA PODEEAPLCARERAOS GRAMATICASEONAGOE noldgicas — envolve também o dominio adequado de fatores contextuais, pragmiticos ¢ sociocognitivos, Nesse sentido, Croft (1995: 492) define “ gramatica” como 0 conhecimento individual da linguagem que, além da competéncia linguistica, inclui o conhecimento pragmatico-discursivo, Para Du Bois (1985: 344), a gramética ¢ parcialmente aut6noma e parcialmente responsiva a pressdes externas ao sistema, ou scja, ¢ adaptativa, O entendimento das fungdes que a linguagem desempenha ¢ a nogao de que ela é um sistema funcional adaptativo, que correlaciona necessidade de eficiéncia comunicativa a escolhas feitas pelo falante em razao de multi facetados e variados contextos de uso, sdo relevantes para explicar por que © falante apresenta desvios (ou erros) gramaticais e inovagdes linguisticas destoantes das normas prestigiadas e devem alertar 0 professor e o aprendiz da lingua para nao incidirem em atitudes estigmatizantes 3. A natureza das explanagées funcionais A relacdo entre forma ¢ funcao tem sido explicada nas seguintes dimensdes: © arbitrariedade: ndo pareamento ou falta de acordo entre forma e © assimetria: a fungao determina a forma mas nao 0 contrério; © cstabilidade da arbitrariedade: pressio de normas ou convengdes sociais gerando rotinizacgao da forma (construgdes fixas); © iconicidade: relacdo motivada entre a estrutura sintatica ¢ a cons- trugao: © biunicidade ou isomorfismo: relagao nio arbitraria, um a um, entre fungdo e forma, Alguns exemplos Oe nk ee ea Dee eee aC a elu eens On eee ee eu cs Ce to)

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