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Ciências Empresariais Teoria das Organizações

Gastão Marques

Gestão Empresarial Introdução à Gestão e à Empresa 1º A 1º S


Contabilidade Introdução à Gestão e à Empresa 1º A 1º S
Marketing Introdução à Gestão e à Empresa 1º A 1º S
Engenharia Civil Gestão de Empresas 3º A 1º S

Parte I Meio Envolvente


Capítulo 1 Meio Envolvente Contemporâneo
Secções 1 Introdução
2 Sociedade e Economia do Conhecimento

Parte I Meio Envolvente


Capítulo 1 Meio Envolvente Contemporâneo
Secção 1 Introdução

Define-se o meio envolvente como sendo todos os factores, que existem fora da empresa,
que se relacionam, influenciam e condicionam a mesma.

Todas as empresas são de alguma forma influenciadas e condicionadas pelo meio


envolvente. Mas as empresas também influenciam e podem condicionar o meio
envolvente. À medida que se avança de uma economia local para economias regionais,
nacionais e internacionais, vai diminuindo a influência da empresa no seu meio envolvente.
No entanto, quanto maior for a empresa, maior pode ser a sua influência, bem como
estender-se por âmbitos económicos mais vastos.

Para os gestores o meio envolvente consiste nalgumas variáveis chave que interagem
individualmente ou conjuntamente com a empresa. As quais devem ser acompanhadas de
perto no âmbito da gestão da empresa. Mas estas variáveis podem interagir com a empresa
de acordo com formas muito diversificadas. Por isso a compreensão do meio envolvente e
a capacidade de previsão das mudanças que ocorrem no mesmo, revela-se, normalmente,
uma questão muito complexa. Assim, o conhecimento e acompanhamento do meio
envolvente realiza-se, normalmente, de uma forma sistemática com base na aprendizagem
baseada em experimentação e correcção de erros (trial and error).

O conjunto de variáveis susceptíveis de afectar as empresas pode ser classificado de acordo


com cinco grandes categorias:

• Economia;
• Governo;
• Tecnologia;
• Trabalho;
• Cultura.

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Economia

No que se refere à economia é muitas vezes difícil decidir onde é que a economia começa
e os negócios acabam e vice-versa. Com efeito, situações como:

• Mudanças estruturais;
• Finanças;
• Competição internacional;
• Preço dos materiais e do trabalho, etc..

Têm um impacto directo nos negócios. Mas quem cria estas situações são precisamente as
empresas, ou seja os negócios desenvolvidos pelas empresas. Só que resultam dos negócios
desenvolvidos pelas empresas no seu conjunto e não isoladamente.

Assim, os produtos e serviços comercializados afectam o produto de um país, o emprego


afecta os rendimentos, as receitas fiscais, o consumo por via dos rendimentos, etc., e de
acordo com o comportamento destes, e de outros, indicadores, as autoridades económicas
desenvolvem diversas políticas que, por sua vez, vão afectar, positiva ou negativamente, as
empresas.

Por outro lado, os mesmos indicadores económicos revelam situações que se traduzem, às
vezes, em mudanças estruturais que afectam as empresas, mas que foram criadas pelas
empresas no seu conjunto. Como é o caso da subida dos rendimentos, que pode representar
a existência de uma mão-de-obra mais cara que, deste modo, vai inviabilizar a existência
de indústrias baseadas em mão-de-obra barata (como é o caso do têxtil no ramo da
confecção para determinados tipos de confecção em Portugal).

O impacto da variável economia do meio envolvente, também, pode ser analisado de


acordo com vários níveis de análise geográfica:

• Local e regional;
• Nacional;
• Internacional.

A nível local e regional as questões mais importantes, normalmente, relacionam-se com a


concorrência. Se um competidor baixa os seus preços a empresa não pode, ou não deve,
ficar de braços cruzados. Por outro lado, muitas vezes as empresas acordam determinados
limites para situações de interesse comum, de forma a não entrarem numa escalada de
guerra que, no fim, acaba por as prejudicar a todas (salários, preços de materiais, etc.).

A nível nacional existe uma grande variedade de indicadores e políticas que influenciam
diversas decisões tomadas pelas empresas. Como é o caso de taxas previstas de inflação, de
desemprego, investimentos públicos, apoios públicos, políticas fiscais, etc..

A nível internacional existem outras situações de grau mais geral, como é o caso da
cotação das moedas de referência, preços do petróleo, comportamentos das bolsas

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mundiais, recessões ou expansões nas economias onde a empresa desenvolve negócios,


níveis de custos de outras economias, etc..

Por outro lado, neste âmbito também cabem as empresas multinacionais que, devido ao
seu peso de acordo com vários indicadores (emprego, exportações, etc.), normalmente
influenciam, a seu favor, as economias onde se inserem de acordo com várias níveis de
actuação (lobbies políticos, preços, condições de trabalho, etc.).

Governo

No que se refere ao governo, o mesmo tem, normalmente, um forte impacto na vida das
empresas, de acordo com vários tipos de influência:

• Políticas económicas:
o Locais e regionais;
o Nacionais;
• Regulamentação e fiscalização das actividades económicas;
• Peso do estado enquanto agente económico:
o Através de empresas estatais;
o Através da dimensão do sector público administrativo.

As políticas económicas variam desde as políticas:

• Fiscais;
• Agrícolas;
• Industriais;
• De telecomunicações;
• Comerciais;
• De turismo, etc..

Que são constituídas, normalmente, por um conjunto de sub políticas que incidem sobre
especificidades regionais, sectoriais, etc.. Estas políticas incidem, normalmente, sobre
medidas de fomento da economia, reconversão estrutural, protecção das empresas
nacionais face à concorrência internacional, divulgação das potencialidades nacionais no
exterior, etc..

Algumas economias, como é o caso da portuguesa, encontram-se inseridas em espaços


económicos alargados (blocos económicos). Neste caso na União Europeia, o que implica a
adopção de uma série de políticas comuns. Políticas estas que, normalmente, afectam,
diferenciadamente, as empresas dos vários países envolvidos.

A regulamentação e a fiscalização das actividades económicas afectam as condições em


que as empresas podem desenvolver as suas actividades. Assim, questões como:

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• Alvarás e licenças para o desempenho de determinadas actividades só são concedidos


mediante a satisfação de determinados requisitos (que são específicos das actividades
desenvolvidas);
• Regulamentações ambientais;
• Regulamentações das telecomunicações;
• Procedimentos obrigatórios no comércio (saldos por exemplo);
• Controlos de qualidade de produtos alimentares, etc..

Condicionam, claramente, em muitos aspectos o desenvolvimento da actividade das


empresas que estão inseridas nos sectores alvos de regulamentações específicas.

O estado, enquanto agente económico, por intermédio de empresas públicas,


normalmente, afecta, nalguma medida, o meio ambiente económico das empresas. Assim,
empresas públicas que, normalmente, constituem monopólios em sectores como é o caso
das telecomunicações, energia, cimentos, transportes, etc., condicionam e influenciam
alguns serviços e produtos básicos que a generalidade das empresas necessita para
desenvolver as suas actividades.

Por outro lado, o estado devido à natureza e variedade de serviços que presta em regime de
monopólio, como é o caso de:

• Justiça;
• Segurança;
• Forças Armadas;
• Negócios estrangeiros;
• Governo geral da nação, etc..

Bem como de outros serviços em que, normalmente, detém um peso relevante no conjunto
da nação:

• Saúde;
• Educação, etc..

Detém uma dimensão relevante na generalidade das economias. Assim, os níveis de


emprego, rendimentos, consumos, etc., directamente dependentes do estado têm um peso
significativo na generalidade das economias. O conjunto de recursos que se torna
necessário desviar, para a existência e desenvolvimento destes serviços, afecta o conjunto
de recursos que podem ser utilizados no desenvolvimento das empresas.

Tecnologia

A tecnologia deve ser entendida num sentido amplo, que engloba não apenas os
equipamentos, produtos e serviços, mas também:

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• Os processos, ou seja, a forma como se desenvolvem as diversas actividades das


empresas;
• As teorias e políticas que governam a aplicação de novos conhecimentos;
• A qualificação das pessoas e a disponibilidade de instituições de interface das
mesmas.

(em desenvolvimento)

Trabalho

(em desenvolvimento)

Cultura

(em desenvolvimento)

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Parte I Meio Envolvente


Capítulo 1 Meio Envolvente Contemporâneo
Secção 2 Sociedade e Economia do Conhecimento

Nesta secção pretende-se clarificar o que se entende por sociedade e economia do


conhecimento, através da estruturação de algumas variáveis consideradas chave. Não se
trata de uma visão absoluta nem consensual, trata-se, apenas, de uma visão possível que
nos pode ajudar a compreender o contexto em que estamos, crescentemente, inseridos.

Neste sentido, analisando-se o passado recente (desde a década de sessenta do século XX),
constata-se que neste período se têm vindo a verificar um conjunto significativo de
transformações estruturais na generalidade das economias do primeiro mundo. Essas
mudanças têm transformado, gradualmente, uma economia, predominantemente,
industrial numa outra economia, predominantemente, informacional. Ou seja, tem-se
registado uma transição de uma economia baseada, sobretudo, na transformação energética
de recursos materiais em produtos, para uma outra economia em que elementos
informacionais se têm vindo a tornar dominantes e decisivos. A nova economia que está a
implantar-se já foi denominada de diversas formas, devido à ambiguidade inerente às
mudanças em curso: nova economia, economia de serviços, economia terciária, economia
da informação, economia do conhecimento, economia da aprendizagem, economia
quaternária, etc.. Em face desta situação pretende-se criar um quadro de referência que
permita compreender alguns aspectos desta nova realidade em que nos encontramos,
crescentemente, envolvidos.

Para o académico francês Jacques De Bandt o que distingue esta nova economia é a sua
dimensão de aprendizagem. Um processo de aprendizagem traduz-se na criação e/ou
aquisição de novos conhecimentos. Será em torno destas duas dimensões - aprendizagem e
conhecimento - que se caracterizará esta nova economia de acordo com algumas variáveis
sistematizadas por De Bandt.

Aplicações e Investimentos Não Materiais

Neste sentido, constata-se que os sectores de telecomunicações e de actividades


relacionadas com informações têm vindo a deter uma importância crescente no seio da
economia actual. Relativamente às actividades relacionadas com informações, com essas
actividades não se obtêm materiais nem produtos, o que se obtém são conhecimentos e
soluções. Estes conhecimentos e soluções representam aplicações não materiais. No caso
da esfera empresarial essas aplicações podem ser relativas a diversas situações: treino e
formação, pesquisa e desenvolvimento, software, marketing estratégico, logística,
organização, etc.. No entanto, para se proceder à produção destes activos é necessário
realizarem-se investimentos não materiais, como é o caso de actividades de pesquisa e
desenvolvimento (I&D). Estes investimentos e actividades visam, sobretudo, aumentar a
capacidade de produção. Pretende-se aumentar a capacidade de produzir maior
diversidade de produtos e serviços, de produzir maior volume de produtos e serviços e de

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aumentar os rendimentos. Em suma, com estes investimentos e actividades pretende-se


aumentar a produtividade e a criação de valor. No entanto, estas pretensões têm-se
revelado difíceis de se atingir, uma vez que os conhecimentos disponíveis se têm revelado,
cada vez mais rapidamente, insuficientes para resolver os novos problemas que se vão
enfrentando.

Sistemas, Problemas e Conhecimentos Complexos

Com efeito, para se resolverem os novos problemas que têm surgido nos mais diversos
domínios, tem-se revelado necessário considerar os sistemas em que os problemas estão
inseridos. De facto, quer as realidades enfrentadas, quer as próprias organizações,
constituem sistemas. Estes sistemas são compostos por n dimensões, para cada uma das
quais se revela necessário criarem-se conhecimentos, de forma a se poderem desenvolver
soluções adequadas. Por outro lado, as dimensões em causa são interdependentes, pelo
facto de constituírem um sistema (em que o todo é maior que a simples soma das partes).
Deste modo, os conhecimentos que se torna necessário criar precisam de considerar,
também, as interdependências presentes. Está-se, portanto, em presença de problemas
complexos pelo facto de ser necessário atender a n variáveis interdependentes quando se
busca uma solução para os mesmos.

Problemas n dimensões + n conhecimentos Problemas complexos


interdependentes

Deste modo, torna-se necessário produzir novos conhecimentos através de um


conhecimento adequado sobre sistemas complexos. O que se tem verificado é que, em face
de problemas complexos, para se desenvolver uma solução é necessário produzirem-se
conhecimentos complexos. Ou seja, é necessário considerar-se n variáveis
interdependentes (multi-dimensionalidade e interdependência entre as dimensões) de modo
a que os conhecimentos criados permitam solucionar, efectivamente, os problemas
enfrentados.

Inovação e Sistemas de Inovação

Em face deste contexto, verifica-se que existe uma dependência cada vez maior em relação
a novos conhecimentos. Tanto de novos conhecimentos complexos, como de novos
conhecimentos complexos que sejam simplificados. O que significa que se está, cada vez
mais, dependente de um fluxo contínuo de inovações. Para que se possa criar,
sistematicamente, inovações, torna-se necessário desenvolver processos de inovação, que
se devem subdividir em dois componentes:

o Processos colectivos: baseados em activos não materiais;


o Processos individuais: que são quem concebe inovações.

A cooperação de diversos processos individuais de inovação corporiza um processo


colectivo de inovação. Esse processo colectivo constitui um sistema de inovação, ou seja

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um sistema de aprendizagem. Os activos não materiais, em que se baseia o sistema de


inovação, constituem unidades de conhecimento relacionadas com soluções,
constituindo, portanto, conhecimento de soluções.

Processo individual de inovação 1 Processo individual de inovação n

Processo colectivo de inovação

Sistema de inovação Sistema de aprendizagem

Sobre soluções Criador de unidades de conhecimento

Conhecimento de soluções

Neste contexto, de produção de novos conhecimentos complexos para se resolverem


problemas complexos, normalmente não existem garantias que os mesmos sejam
desenvolvidos de acordo com as necessidades, i.e. em tempo útil e/ou com um custo
aceitável. A produção de conhecimento complexo requer que se vá definindo e redefinindo
o problema à medida que se avança na sua criação, é necessário experimentar várias
soluções, testá-las, etc.. Assim, tanto a eficácia como a eficiência, normalmente, são
baixas na produção de conhecimentos complexos. Em face do incremento contínuo de
situações complexas enfrentadas pelas empresas, têm-se revelado novas exigências para se
conseguir produzir conhecimentos complexos com um mínimo de eficácia e de eficiência.

Novo Sistema Técnico

Com efeito, está-se a assistir à emergência de um novo sistema técnico. Esse novo sistema
técnico tem-se desenvolvido num espaço global, no âmbito de um regime capitalista, em
simultâneo com o desenvolvimento de novas formas de socialização, novas tecnologias e
novas instituições. As situações acabadas de referir configuram um novo modelo de
crescimento, que se revela mais complexo do que os sistemas técnicos anteriores,
comportando, portanto, novos requisitos a vários níveis:

o Desenvolvimento especializado;
o Engenharia do conhecimento;
o Processamento de dados relativos a informações de negócios com vista a criar-se
valor.

Estes requisitos implicam novas exigências de formação, novas formas de produção de


conhecimento, novos conhecimentos sobre tecnologias de produção, novas exigências e
formas organizacionais, novas regras, novas instituições, novas formas de financiamento,
etc.. O ponto mais importante a reter, quando se fala do actual sistema técnico, reside na
existência e necessidade de fortes interdependências. Com efeito, para se produzir

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conhecimento complexo de uma forma mais eficiente e eficaz, é necessário dispor-se de


pessoas com qualificações adequadas, por isso é que existem novas exigências no que se
refere à formação. Mas estas pessoas precisam de se organizar de novas formas para
poderem ser mais produtivas, por isso é que existem novas exigências e formas
organizacionais, novas regras e novas instituições. Que, por sua vez, precisam de novas
formas de financiamento, face à falta de garantias inerente à produção de conhecimentos
complexos. Essas situações traduzem-se em novas formas de produção de conhecimento.

Competências e Cooperação de Competências

Assim, as interdependências inerentes ao novo sistema técnico, que está a emergir,


implicam a necessidade da existência de trabalho cooperativo entre individuais e entre
empresas. Trata-se da cooperação de competências. Competências que são específicas e
especializadas. Competência, neste contexto, consiste na capacidade para utilizar
conhecimento e know how, por forma a resolver operacionalmente e efectivamente
problemas concretos e a responder a questões concretas. Para que isso seja possível há
que operacionalizar os conhecimentos adquiridos e criados, para que passem a constituir
uma competência. Esta necessidade implica a consideração de diversas situações:

o Treino: transferência de conhecimentos;


o Capacidades: organização e sistematização do conhecimento;
o Competências: experiência e compreensão dos sistemas.

De forma a deter-se a capacidade de criar, de uma forma interdependente, n


conhecimentos relativos às n dimensões consideradas nos sistemas alvo de estudo. De
acordo com este contexto, considera-se que os requisitos mais importantes, para a
produção de conhecimentos complexos, são os seguintes:

o Disponibilidade de competências complementares;


o Capacidade de agregação de competências:
o Acordos contratuais;
o Activos colectivos não materiais;
o Organização dos processos de aprendizagem.

Face à complexidade dos requisitos apresentados, para a produção de conhecimentos


complexos, é natural que se tenham revelado, também, um conjunto de constrangimentos
e dificuldades:

o Falta de competências necessárias;


o Selecção adversa: extrema assimetria de informações torna difícil a escolha de
parceiros;
o Falhas organizacionais:
Mesmo com as competências necessárias disponíveis, pode-se falhar devido
à incapacidade organizacional para as juntar e fazer convergir;
Falhas no mercado:
o Falhas do processo organizacional de aprendizagem;

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o Acordos de parceria imperfeitos;


o Riscos morais e éticos.

A necessidade de co-produção de conhecimentos resulta, também, da existência de


assimetrias de informação. Esta situação levanta problemas a nível de identificação e
selecção de cooperadores e de controlo de processos. É por essa razão que se torna
necessário recorrer a contratos contingentes, em que existe um adiantamento de uma
parte do valor acordado e o resto é pago no fim do processo, se o mesmo tiver sido bem
sucedido. Deste modo, compreende-se que se torne importante para as empresas
produtoras deste tipo de conhecimentos, preocuparem-se com a construção da sua
reputação, no sentido de serem consideradas como empresas bem sucedidas na produção
de novos conhecimentos e na criação de soluções exequíveis para as empresas, assim como
pelo facto de respeitarem elevados princípios de ética profissional e social.

Após a análise das condições em que se tem vindo a produzir conhecimentos complexos,
de uma forma cada vez mais generalizada, apresenta-se um quadro de referência relativo a
essas mesmas condições.

Quadro de Referência I - Cooperação de Competências

Necessidade de criação de conhecimentos complexos Análise de sistemas complexos

Trabalho cooperativo

Entre competências específicas e especializadas

Cooperação de competências Novas exigências

Que precisam de ser operacionalizadas


Requisitos Problemas Interdependentes

Requisitos/Exigências Problemas/Dificuldades Implicações

De acordo com o quadro de referência apresentado, verifica-se que o enfoque central, na


produção de conhecimentos complexos, reside na cooperação de competências. Verifica-
se, neste ponto, a existência de um conjunto de requisitos, a serem satisfeitos, bem como
de um conjunto correspondente de problemas que se torna necessário ultrapassar. As
competências em causa, normalmente, são muito especializadas e específicas. Neste
sentido, para que seja possível dispor das mesmas, revela-se necessário satisfazer um
conjunto relativamente vasto de exigências interdependentes, bem como de
operacionalizar, adequadamente, as competências disponíveis.

Desta forma, a economia que, gradualmente, se vai tornando dominante, baseia-se na


utilização de activos não materiais, que constituem conhecimentos complexos. Os quais,
são criados através da cooperação de diferentes competências específicas e
especializadas.

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Deste modo, as diversas actividades económicas e sociais estão, cada vez mais,
dependentes de activos não materiais, assim como do seu contínuo desenvolvimento, de
forma a se poder ir solucionando os novos problemas que se vão revelando. É desta forma
que activos não materiais (informacionais) se têm vindo a tornar dominantes e decisivos.
Compreende-se, assim, que a Economia do Conhecimento tenha tendência a estender-se,
cada vez mais, à generalidade das áreas de actividade humana. Dependendo,
essencialmente, dos processos de aprendizagem que permitem criar mais conhecimentos
complexos de uma forma, cada vez mais, eficaz e eficiente.

Consequências Empresariais do Contexto da Economia do Conhecimento

Depois de se caracterizar, de uma forma necessariamente sumária, a perspectiva com que


se entende a economia do conhecimento, pretende-se analisar algumas consequências deste
contexto para as empresas.

De facto, por força de diversos fenómenos resultantes do contexto apresentado, como é o


caso da intensidade e velocidade de desenvolvimento científico e tecnológico que se
verifica na actualidade, tem-se verificado um incremento na complexidade da realidade
enfrentada pelas empresas. Essa situação é reflectida por um incremento muito grande da
complexidade no mundo da produção, por um incremento muito grande da incerteza no
desenvolvimento das actividades empresariais e por um decréscimo significativo dos
rendimentos. Devido a esta complexidade torna-se mais difícil gerir duas situações
essenciais com vista à sobrevivência e desenvolvimento das empresas: o aumento da
eficiência e a criação de valor. Com efeito, as empresas da economia do conhecimento
necessitam de conhecimentos complexos para desenvolver as respectivas actividades,
tendo por suporte a criação de valor e um acréscimo da respectiva eficiência.

Deste modo, no contexto empresarial, verifica-se uma necessidade, crescente, de se


criarem e/ou disporem de inovações de uma forma contínua e sistemática. Essa
necessidade deve-se, sobretudo, a duas situações:

o Necessidade de introduzir inovações no mercado antes da concorrência;


o O facto das velhas soluções já não resolverem os novos problemas que se vão
revelando.

Assim, a tendência que se tem vindo a consolidar consiste na crescente endogeneização de


processos de inovação no interior das empresas. No entanto, a maior parte das empresas
não está capacitada para produzir e processar conhecimentos complexos, nem é essa a sua
vocação. Por isso necessitam de ver reduzida a complexidade inerente aos conhecimentos
que precisam de utilizar. Com efeito, em face de situações complexas, devido à sua
complexidade, não se conseguem discernir claramente soluções, nem alternativas, nem os
vários problemas enfrentados, nem as suas inter relações. Por isso, torna-se necessário
simplificar a situação problemática, bem como as diversas hipóteses de resolução da
mesma. Processo este que se representa em seguida:

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Aumento
Problema de Simplificação Solução
Informação

Produtores de Conhecimento Intermediários Empresa

De acordo com o diagrama apresentado, os produtores de conhecimento necessitam de


processar muitas informações para criarem soluções (conhecimentos complexos). Depois
os produtores de conhecimento e/ou outros intermediários tratam de simplificar tanto o
problema como a solução criada. Por intermédio deste processo chega-se a uma solução
final a ser adoptada pela(s) empresa(s) em questão. Neste processo, no âmbito da gestão
das empresas, existem diversos serviços e tecnologias que pretendem reduzir a
complexidade e incerteza associadas ao seu desempenho, como é o caso de:

Sistemas de informação de negócios Expert systems, ERP, CRM, etc..

Para se discernirem Soluções

Que procuram reduzir a complexidade Simplificando as situações problemáticas

De acordo com o enquadramento desenvolvido apresenta-se um quadro de referência que


permite sistematizar e inter relacionar as considerações analisadas.

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Quadro de Referência II - Produção de Activos Não Materiais

Complexidade e incerteza
Problemas para as empresas
Concorrência
Problemas complexos
Necessidade de inovar
Necessidade de criação de conhecimentos complexos
Investimentos
não materiais Sem garantias

Sistemas de inovação Actividades de Pesquisa e desenvolvimento Conhecimentos de negócios

Análise de sistemas Simplificação

Sistemas de informação Actividades de informação Soluções de negócios

Activos não materiais Eficiência Criação de valor

Baixa eficácia e eficiência


Aumento da Produtividade

Problemas/Resultados Necessidades Actividades/Processos Investimentos


Conhecimentos

De acordo com este quadro de referência, verifica-se que as diferentes actividades de


informação desenvolvidas se traduzem na criação de activos não materiais. Quer se
tratem de actividades de pesquisa e desenvolvimento, quer se tratem de actividades de
informação de uma forma geral. Esses activos não materiais revestem-se da forma de
conhecimentos sobre os sistemas em análise, conhecimentos de negócios, soluções de
negócios, etc.. Os mesmos activos não materiais, inicialmente, constituem conhecimentos
complexos de uma forma não apreensível para a generalidade dos agentes económicos. Por
isso, são, depois, sujeitos a processos de simplificação para que se tornem operáveis pelos
mesmos agentes económicos no âmbito das respectivas actividades. Esses conhecimentos
são essenciais para as empresas poderem criar valor e serem mais eficientes no
desenvolvimento das suas actividades. No entanto, ficam desactualizados muito
rapidamente. Assim, torna-se necessário para as empresas procederem a uma produção
contínua de novos conhecimentos.

Desta forma, verifica-se uma crescente endogeneização de processos de inovação no seio


das empresas. Estes processos de inovação, conforme se analisou, baseiam-se em
processos de cooperação que precisam de ser organizados, de forma a criarem-se,
sistematicamente, inovações no seio das empresas ou através de redes de cooperação.

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