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BIOQUÍMICA DOS ALIMENTOS

CAPÍTULO 3 - METABOLISMO DOS


CARBOIDRATOSS
Kally Janaina Berleze

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Introdução
Vamos começar esta terceira unidade compreendendo o papel dos carboidratos no metabolismo intermediário.
Para isso, é interessante refletir sobre alguns pontos: qual a relação entre a classificação dos carboidratos e o seu
índice glicêmico? Quais são os principais destinos metabólicos dos carboidratos que comemos? Quais são as
principais consequências do excesso de carboidrato dietético, principalmente em indivíduos diabéticos? Qual a
relação entre o metabolismo oxidativo e a taxa metabólica basal? Quais são os principais hormônios envolvidos
na homeostase metabólica e como eles mantêm a glicemia no estado alimentado e de jejum? Quais são as
variantes da glicemia utilizadas como biomarcadores?
Seguindo estes quesitos, trabalharemos inicialmente com o entendimento de conceito, classificação e função dos
carboidratos, conhecendo as principais fontes alimentares. Depois, descreveremos todos os processos a que os
carboidratos dietéticos passa, a partir de uma refeição mista, transitando pela digestão até os principais destinos
metabólicos. Discutiremos o metabolismo dos carboidratos, entendendo de que forma o organismo transforma a
glicose como fonte energética imediata e de armazenamento e, também, a sua regulação nos estados alimentados
e de jejum. Por último, estudaremos a aplicabilidade da glicemia de jejum e pós-prandial.
Ao final, teremos o entendimento sobre fontes alimentares, conceitos, classificações, funções, digestão, absorção,
metabolismo intracelular, regulação hormonal do metabolismo dos carboidratos e a interpretação clínica da
glicemia de jejum e pós-prandial.
Vamos lá? Acompanhe esta unidade com atenção!

3.1 Classificação e fontes alimentares dos carboidratos


Neste tópico, estudaremos a nomenclatura e a estrutura dos açúcares simples, a classificação dos carboidratos e
as suas principais fontes alimentares. Abordaremos, também, as fibras dietéticas e os prebióticos. E você sabe
qual o carboidrato encontrado no pão, nas frutas, no mel e no leite? O que é açúcar invertido? Qual o papel das
fibras dietéticas e dos prebióticos para a saúde do nosso corpo?

3.1.1 Nomenclatura e estrutura de açúcares simples

A definição clássica de um carboidrato é a de um aldeído ou uma cetona com dois ou mais grupos hidroxila, cuja
fórmula empírica é (CH O)n. Os carboidratos mais simples, possuindo dois grupos hidroxila, são o gliceraldeído
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e a di-hidroxiacetona (intermediários da glicólise), denominados aldose e cetose, respectivamente. O sufixo “ose”


designa um açúcar ou sacarídeo.

3.1.2 Classificação e fontes alimentares dos carboidratos

A classificação química dos carboidratos pode ser determinada pelo tamanho da molécula, que é, por sua vez,
determinada pelo grau de polimerização (GP), pelo tipo de ligação (alfa e não alfa) e pelas suas características
dos monômeros individuais (FAO/WHO, 1997), informações muito importantes para melhor compreensão dos
efeitos fisiológicos dos carboidratos (CUMMINGS, 2007). Há três grandes classes de carboidratos: açúcares
(mono e dissacarídeos), oligossacarídeos e polissacarídeos. Essa classificação, bem como seus principais
componentes e características fisiológicas, acompanhada das principais fontes alimentares e químicas, pode ser
verificado na tabela.

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Figura 1 - Grau de Polimerização ou número de monômeros (unidades individuais de monossacarídeos) que
compõe o carboidrato.
Fonte: Elaborado pela autora, baseado em CUMMINGS, 2007; FAO/WHO, 1997; COZZOLINO, 2013; SILVA, 2016.

Apesar dos carboidratos serem divididos em apenas três grandes classes, podemos observar na tabela que, de
acordo com o subgrupo e o tipo, os carboidratos apresentam variações nas características fisiológicas e nas
fontes.
As fibras alimentares são consideradas carboidratos não disponíveis. Isto porque, segundo a American
Association Cereal Chemistry (AACC) e o Codex Alimentarius, a fibra dietética é a parte comestível das plantas ou
dos carboidratos análogos, que é resistente à digestão e à absorção no intestino delgado de seres humanos, com
fermentação completa ou parcial no intestino grosso. A fibra da dieta inclui polissacarídeos, oligossacarídeos,
lignina e substâncias associadas às plantas. As fibras dietéticas promovem efeitos fisiológicos benéficos,
incluindo laxação e/ou redução das concentrações séricas de colesterol e de glicose, além da redução do risco de
doenças crônicas não transmissíveis.
Quando determinados componentes das fibras alimentares estimulam o crescimento de bactérias benéficas, em
especial as bactérias do gênero Bifidobacterium e os Lactobacillus, eles são denominados prebióticos. Segundo
Gibson et al. (2004), a inulina, os FOS, os trans-galacto-oligossacarídeos e a lactulose são considerados
prebióticos.
Os prebióticos causam modificação seletiva na composição e/ou atividade da microbiota do trato gastrintestinal,
podendo proporcionar efeitos benéficos ao cólon e, também, contribuir para a redução do risco de doenças
intestinais ou sistêmicas (ROBERFROID, 2010).

3.2 Digestão e absorção dos carboidratos e deficiência de


dissacaridases
Neste tópico, vamos estudar os processos de digestão e absorção dos carboidratos dietéticos, desde o momento
em que o ingerimos até os principais destinos metabólicos da glicose, frutose e galactose provenientes da sua
digestão. Abordaremos, também, a intolerância à lactose.
Para a melhor compreensão dos processos metabólicos envolvidos neste tópico (digestão e absorção),
utilizaremos um exemplo de desjejum saudável (refeição mista). Você sabe quais são os destinos metabólicos da
glicose oriunda de um prato farto de macarrão ao sugo? O que é hipolactasia? Como se dá o diagnóstico de
intolerância à lactose?

3.2.1 Digestão dos carboidratos

A partir um exemplo de desjejum saudável, contemplando os principais carboidratos dietéticos (amido, sacarose
e lactose), estudaremos os processos digestivos dos carboidratos.

Considere o seguinte desjejum: uma taça de café com leite semidesnatado (lactose) sem açúcar acompanhado de

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Considere o seguinte desjejum: uma taça de café com leite semidesnatado (lactose) sem açúcar acompanhado de
duas fatias de pão de centeio (amido) com geleia caseira de morango (sacarose e frutose) e meia unidade de
mamão papaia (frutose).
A digestão do amido, essencialmente, acontece em três locais, iniciando na cavidade oral, onde o amido, por ação
da a-amilase salivar, transforma-se em a-dextrinas (polissacarídeo menor). Depois, no lúmen do duodeno, as a-
dextrinas são digeridas pelas a-amilases pancreáticas, resultando em maltose (dissacarídeo), maltotriose
(trissacarídeo) e dextrinas limites (oligossacarídeo). Por último, na superfície luminal borda em escova das
células do epitélio do intestino delgado, a maltose [dois resíduos de glicose ligados por ligação glicosídica a-1,4
(linear)], a maltotriose [três resíduos de glicose ligados por ligação glicosídica a-1,4 (linear)] e as dextrinas
limites {4 a 9 resíduos de glicose mais uma unidade de isomaltose [dois resíduos de glicose ligados por ligação
glicosídica a-1,6 (ramificado)]} são digeridas pelas maltase, maltase e glicoamilase, respectivamente em dois
resíduos de glicose, três resíduos de glicose e quatro a nove resíduos de glicose, mais uma unidade de
isomaltose. Ainda na superfície luminal borda em escova das células do epitélio do intestino delgado, a
isomaltose, pela ação da isomaltase, transforma-se em dois resíduos de glicose.
A digestão dos dois dissacarídeos sacarose e lactose acontece na superfície luminal borda em escova das células
do epitélio do intestino delgado pela ação de suas dissacaridases correspondentes, a sacarase e a lactase,
respectivamente em um resíduo de glicose e um de frutose e em um resíduo de glicose e um de galactose.
Podemos visualizar os processos digestivos do amido, da sacarose e da lactose na figura.

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Figura 2 - Visão geral da digestão dos principais carboidratos dietéticos (amido, sacarose e lactose).
Fonte: SMITH, C. M.; MARKS, A. D.; LIEBERMAN, M, 2012.

Podemos concluir que os produtos finais da digestão dos principais carboidratos dietéticos (amido, sacarose e

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Podemos concluir que os produtos finais da digestão dos principais carboidratos dietéticos (amido, sacarose e
lactose) são os monossacarídeos glicose, frutose e galactose, agora prontos para o próximo passo do
metabolismo destes macronutrientes: a absorção.
Podemos concluir que os produtos finais da digestão dos principais carboidratos dietéticos (amido, sacarose e
lactose) são os monossacarídeos glicose, frutose e galactose, agora prontos para o próximo passo do
metabolismo destes macronutrientes: a absorção.

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3.2.2 Absorção dos carboidratos

Há dois tipos de proteínas transportadoras de monossacarídeos presentes nas células do intestino delgado,
responsáveis por transportar os monossacarídeos do lúmen intestinal até a circulação.
Ambas, glicose e galactose, entram nas células do epitélio intestinal pelos transportadores facilitados de glicose e
pelos cotransportadores de sódio e glicose localizados no lado luminal (mucosa) da superfície borda em escova
destas células. Através dos transportadores facilitados de glicose localizados no lado seroso das células do
epitélio intestinal (transportadores de glicose número 2 – GLUT 2), a glicose e a galactose entram na circulação e,
por meio da veia porta, chegam ao fígado.
A frutose entra nas células do epitélio intestinal apenas pelos transportadores facilitados de glicose localizados
no lado luminal (mucosa) da superfície borda em escova destas células (transportadores de glicose número 5 –
GLUT 5). Além disso, através dos transportadores facilitados de glicose localizados no lado seroso das células do
epitélio intestinal, a frutose entra na circulação e, por meio da veia porta, também pode chegar no fígado.
Podemos visualizar os processos absortivos dos monossacarídeos na figura.

Figura 3 - Visão geral da absorção dos monossacarídeos (glicose, frutose e galactose) provenientes da digestão
dos principais carboidratos dietéticos.
Fonte: SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2012.

Por razões desconhecidas, a frutose é absorvida em uma velocidade maior quando ingerida junto com sacarose
do que quando junto com um monossacarídeo.

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3.2.3 Destinos metabólicos dos monossacarídeos

O primeiro destino metabólico da glicose dietética após absorção é o fígado, através da veia porta. Depois, a
glicose é distribuída para os outros tecidos pela circulação sistêmica. Mas, para a glicose entrar no fígado e em
outros tecidos, ela depende dos transportadores facilitados de glicose localizados nas membranas plasmáticas
das células. As propriedades das proteínas transportadoras de glicose (GLUT) diferem entre os tecidos,
refletindo na função do metabolismo da glicose em cada tecido, demonstrado na tabela.

Figura 4 - Descrição das propriedades das isoformas (GLUT 1 – GLUT 5) das proteínas transportadoras de
glicose de acordo com a sua distribuição tecidual.
Fonte: SMITH.; MARKS; LIEBERMAN, 2012.

O sistema de transporte com alta ou baixa afinidade por glicose reflete a função do metabolismo da glicose nas
células, ou seja, se as células captam muita ou pouca quantidade de glicose, respectivamente. E, por sua vez, o
sistema de transporte com alta capacidade por glicose reflete a capacidade de a célula “sentir”, por meio da
constante de Michaelis (K ) das enzimas intracelulares relacionadas ao metabolismo da glicose (hexocinase e
m

glicocinase) e dos GLUTs, as variações da glicemia e determinar o destino metabólico deste nutriente e, no caso
do pâncreas regular, a síntese e a secreção de insulina, que é diretamente proporcional à glicemia.
O GLUT 4 apresenta uma propriedade única relacionada à dependência da insulina para o transporte de glicose
nas células, ou seja, a captação de glicose nos tecidos adiposo e muscular é dependente da concentração
sanguínea de insulina (Figura 5). Por exemplo: ao comermos três pratos de macarrão ao sugo na hora do almoço,
a síntese e a secreção de insulina no sangue será proporcional à glicemia, estimulando um aumento muito maior
do número de GLUT 4 na membrana plasmática dos adipócitos e, consequentemente, uma maior captação de
glicose e síntese de triglicerídeos (gordura) se ingeríssemos apenas um prato de macarrão ao sugo.

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Figura 5 - Mecanismo da captação de glicose pelo transportador de glicose número 4 (GLUT4) dependente de
insulina.
Fonte: Shutterstock, 2020.

No fígado, a frutose dietética é metabolizada a gliceralaldeído-3-fosfato e di-hidroxiacetona fosfato,


intermediários da glicólise, sendo convertidos, principalmente, em glicose, glicogênio, ou ácidos graxos.
Semelhante ao metabolismo da frutose no fígado, a galactose dietética é convertida em glicose-1-fosfato e depois
em glicose-6-fosfato, intermediária da glicólise, sendo convertida em glicose livre, além de seguir para a
circulação sistêmica ou formar glicogênio no próprio fígado.
No fígado, a frutose dietética é metabolizada a gliceralaldeído-3-fosfato e di-hidroxiacetona fosfato,
intermediários da glicólise, sendo convertidos, principalmente, em glicose, glicogênio, ou ácidos graxos.
Semelhante ao metabolismo da frutose no fígado, a galactose dietética é convertida em glicose-1-fosfato e depois
em glicose-6-fosfato, intermediária da glicólise, sendo convertida em glicose livre, além de seguir para a
circulação sistêmica ou formar glicogênio no próprio fígado.

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3.2.4 Resposta glicêmica dos alimentos (índice glicêmico e carga glicêmica)

Diferentes fontes de carboidrato variam quanto aos seus processos digestivos e absortivos e, consequentemente,
quanto aos seus efeitos sobre a glicemia e a insulinemia, os quais podem ser quantificados por meio do índice
glicêmico (IG) dos alimentos (HODGE et al, 2004).
O IG é uma medida, in vivo, do impacto relativo dos alimentos contendo carboidrato sobre a glicemia (LIU, S. e
WILLETT, W. C.). É definido como a área abaixo da curva de resposta glicêmica duas horas após a ingestão de
uma porção do alimento teste, geralmente com 50 g de carboidrato, dividido pela área abaixo da curva de
resposta glicêmica, correspondente ao consumo de uma mesma porção de carboidrato do alimento referência
[glicose ou pão de farinha de trigo refinado (pão branco)]. Esse valor é expresso em percentual (SAHYOUN et al,
2005). Quanto maior a área abaixo da curva, maior o IG do alimento (PI-SUNYER, 2002), maior a resposta
glicêmica e consequentemente maior a resposta insulinêmica. Por definição, o IG compara quantidades iguais,
em gramas de carboidrato, fornecendo uma medida da qualidade do mesmo, mas não da quantidade.
Por essa razão surgiu o conceito de carga glicêmica (CG) (FOSTER-POWELL et al, 2002), fornecendo uma medida
da qualidade e da quantidade de carboidrato de um alimento em particular ou de uma dieta (STEVENS et al,
2002). Quanto maior a CG do alimento, maior será a sua resposta glicêmica e consequentemente a sua resposta
insulinêmica. (FOSTER-POWELL et al, 2002). A cenoura, por exemplo, apesar de ser um alimento com alto IG,
tem um pequeno efeito sobre a glicemia e, assim, sobre a insulinemia, porque ela apresenta pequena quantidade
de carboidrato, o que a caracteriza como um alimento de baixa CG (LIU; WILLETT, s.d.). A soja cozida é um
exemplo de alimento que apresenta tanto o IG quanto a CG baixos, enquanto o cereal matinal Corn Flakes® e a
batata inglesa assada são exemplos de alimentos que apresentam tanto o IG quanto a CG altos (FOSTER-POWELL
et al, 2002).
Os valores utilizados para definir o IG e a CG de um alimento particular (tendo a glicose como referência) estão
apresentados na tabela a seguir, juntamente com os valores utilizados para representar a CG diária.

Figura 6 - Descrição de um alimento particular quanto ao IG e a CG, juntamente com os valores utilizados para
representar a CG diária.
Fonte: SILVA; MELLO, 2006.

Fatores intrínsecos de um alimento podem influenciar o seu impacto na glicemia, dentre os quais: a sua forma
física (suco versus fruta inteira, batata amassada versus batata inteira), o grau de processamento, o tipo de
amido (amilose versus amilopectina) e a preparação (método e tempo de cocção), bem como o tipo específico ou
variedade do alimento (SHEARD et al, 2004; JENKINS et al, 1988). Na tabela, estão listados alguns dos fatores
que influenciam o IG dos alimentos.

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Figura 7 - Descrição dos fatores intrínsecos e extrínsecos dos alimentos que influenciam o seu índice glicêmico
(IG) bem como sua resposta glicêmica e insulinêmica.
Fonte: AUGUSTIN et al, 2002; SILVA; MELLO, 2006.

Alimentos com baixo grau de gelatinização do amido, como o macarrão, possuem menores valores de IG.
Legumes e arroz parboilizado, exemplos de alimentos com elevada razão amilose/amilopectina, tendem a ter
menores valores de IG (LIU; WILLETT, s. d.). Alimentos ricos em betaglucano, como o farelo de aveia, também
podem proporcionar efeito benéfico na resposta glicêmica (TAPOLA et al., 2005). O amadurecimento das frutas
pode diminuir o valor do IG, conforme observado na banana madura, onde a frutose está concentrada,
conferindo-lhe seu sabor doce característico (ENGLYST et al, 1986).

3.2.5 Intolerância à lactose

Má digestão de lactose é a diminuição na capacidade de hidrolisar a lactose, resultante da hipolactasia. A


hipolactasia significa diminuição da atividade de enzima lactase presente na superfície borda em escova das
células do epitélio do intestino delgado (SAHI, 1994). O aparecimento de sintomas abdominais por má digestão e
absorção de lactose caracteriza a intolerância à lactose, porém nem sempre a má absorção dela é acompanhada
de sintomas. A intensidade dos sintomas varia, de acordo com a quantidade de lactose ingerida, e aumenta com o
passar da idade. Dentre eles. podemos destacar distensão, flatulência, dores abdominais e diarreia (MATTAR et
al, 2010).
Após o desmame, ocorre uma redução geneticamente programada e irreversível da atividade da lactase na
maioria das populações do mundo, cujo mecanismo é desconhecido, resultando em má absorção primária de
lactose (WANG et al, 1998).

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A intolerância à lactose é uma mudança fisiológica que resulta de uma deficiência adquirida de
lactase. A atividade da lactase diminui com o aumento da idade das crianças, mas a extensão da
queda da atividade depende de fatores genéticos e étnicos. Saiba mais e tire dúvidas assistindo
ao vídeo disponível no canal do Dr. Dráuzio Varella: https://www.youtube.com/watch?
v=K1rRsXGNwJo.

A hipolactasia também pode ser secundária a doenças que causam dano na superfície borda em escova das
células do epitélio do intestino delgado ou que aumentem significativamente o tempo de trânsito intestinal,
como na doença celíaca e na de Crohn, em enterites induzidas por drogas ou radiação e na doença diverticular do

cólon. Ao contrário da hipolactasia primária do adulto, a hipolactasia secundária é transitória e reversível

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cólon. Ao contrário da hipolactasia primária do adulto, a hipolactasia secundária é transitória e reversível
(MATTAR et al, 2010): eliminando-se a causa, há um restabelecimento das características morfofisiológicas da
mucosa intestinal e, assim, da atividade da lactase.

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A dieta para intolerância à lactose consiste na retirada de todos os alimentos que contêm
lactose (açúcar do leite), porque esta doença resulta de uma diminuição ou deficiência da
enzima lactase. Para compreender melhor sobre o diagnóstico e o tratamento desta patologia,
indicamos a leitura do artigo “Intolerância à lactose: mudança de paradigmas com a biologia
molecular” (MATTAR; MAZO, 2010), disponível no link: http://www.scielo.br/pdf/ramb
/v56n2/a25v56n2.pdf.

O diagnóstico é feito por teste de tolerância, empregando a lactose como desafio, e o principal tratamento
nutricional é a retirada dos alimentos que contêm lactose.

3.3 Glicólise, ciclo de Krebs, fosforilação oxidativa, síntese


de ATP e calor
Neste tópico, estudaremos como a glicose oriunda de um pão francês, por exemplo, é transformada em
adenosina trifosfato (ATP) e calor, passando por todas as rotas metabólicas deste processo. Você sabe qual o
percentual calórico dos alimentos destinado para a produção de calor? Por que o nome do ciclo do ácido cítrico é
também denominado de ciclo de Krebs? E qual a relação da fosforilação oxidativa com a taxa metabólica basal?

3.3.1 Glicólise

A partir de agora, estudaremos o metabolismo da glicose dentro das células, principalmente a nível citosólico e
mitocondrial, conhecendo as rotas metabólicas que a glicose vai percorrer para gerar ATP, calor e outras
substâncias.
A glicose é considerada o combustível universal por ser o único substrato energético utilizado por todas as
células do organismo humano. Todas as células do corpo são capazes de gerar ATP a partir da glicólise ou rota
glicolítica, que consiste na oxidação da glicose a nível citosólico, processo que envolve dez etapas, catalisadas por
enzimas, para formar piruvato. Cada molécula de glicose é capaz de formar duas moléculas de piruvato através
da glicólise (Figura 8).
A glicólise progride através de uma série de intermediários fosforilados, iniciando pela reação irreversível de
fosforilação da glicose pela hexocinase ou glicocinase (fígado) para a síntese de glicose-6-fosfato. A segunda
etapa é a conversão reversível da glicose-6-fosfato em frutose-6-fosfato pela enzima fosfoglicose isomerase. A
frutose-6-fosfato é então fosforilada no carbono um pela enzima fosfofrutocinase-1 (PFK-1), formando frutose
1,6-bifosfato. Semelhante a hexocinase e glicocinase, a PFK-e requer ATP como substrato e catalisa uma reação
irreversível. Na quarta etapa, a frutose 1,6-bifosfato reversivelmente é clivada pela enzima aldolase em duas
trioses fosfato: di-hidroxiacetona fosfato e gliceraldeído-3-fosfato. Então, a enzima triose fosfato isomerase
catalisa a interconversão de di-hidroxiacetona fosfato em gliceraldeído-3-fosfato. Por isso que, para cada mol de
glicose que entra na glicólise, dois mols de gliceraldeído-3-fosfato continuam através da rota.

Nas duas próximas etapas da glicólise, o gliceraldeído-3-fosfato é oxidado e fosforilado pelas enzimas

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Nas duas próximas etapas da glicólise, o gliceraldeído-3-fosfato é oxidado e fosforilado pelas enzimas
gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase e fosfoglicerato cinase, respectivamente, formando 1,3-bi-fosfoglicerato
+
mais nicotinamida adenina dinucleotídeo na forma reduzida (NADH + H ) e 3-fosfoglicerato mais ATP. A oitava
etapa da rota é a conversão reversível do 3-fosfoglicerato em 2-fosfoglicerato pela enzima fosfoglicerato mutase.
O 2-fosfoglicerato sofre então uma reação de desidratação catalisada pela enolase, gerando um composto fosfato
de alta energia, o fosfoenolpiruvato (PEP). Por último, na décima etapa, o PEP é o substrato da enzima piruvato
cinase para fosforilar uma adenosina monofosfato (ADP), gerando piruvato e o segundo ATP.

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Figura 8 - Reações da glicólise em vermelho e da gliconeogênese em verde. Observam-se as fases de
investimento e de geração de ATP no início e mais no final da glicólise, respectivamente.
Fonte: Shutterstock, 2020.

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Uma das principais funções da glicólise é a geração de ATP, portanto a rota é regulada no sentido de manter a
homeostase de ATP em todas as células. As enzimas PFK-1 (citosol) e piruvato desidrogenase (mitocôndria), que
vincula a glicólise e o ciclo do ácido cítrico (TCA), são os principais sítios regulatórios que respondem a
indicadores de feedback da taxa de utilização de ATP.
Todas as enzimas reguladoras da glicólise existem como isoenzimas tecido específica, que alteram a regulação da
rota para corresponder às variações nas condições e necessidades dos diferentes tecidos.
Os três principais pontos regulatórios da glicólise são: i) hexocinase, que é inibida por seu produto a glicose-6-
fosfato; ii) a PFK-1, que é estimulada por adenosina monofosfato (AMP) e frutose 2,6-bifosfato e é inibida por
ATP e citrato; iii) piruvato cinase, que é estimulada por frutose 1,6-bifosfato e é inibida por ATP e acontece
apenas no fígado. A atividade da piruvato desidrogenase (PDH) na mitocôndria determina se o piruvato é
convertido a lactato ou a acetil Coenzima A (CoA). A PDH é estimulada por ADP e íons de cálcio e é inibida por
+
NADH + H e acetil CoA.
3.3.1.1 Glicólise Aeróbica
A glicólise ocorre no citosol e gera NADH citosólico. Como o NADH não pode atravessar a membrana
mitocondrial interna, seus equivalentes redutores são transferidos para a cadeia de transporte de elétrons pelas
lançadeiras malato-aspartato e glicerol 3-fosfato.

Figura 9 - Representação resumida da glicólise aeróbica.


Fonte: SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2012.

O piruvato, dentro da mitocôndria, é convertido em acetil CoA pela ação da enzima PDH e então oxidado

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O piruvato, dentro da mitocôndria, é convertido em acetil CoA pela ação da enzima PDH e então oxidado
completamente em dióxido de carbono (CO ) no TCA (Figura 9). O rendimento da oxidação aeróbica completa da
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glicose em CO é de aproximadamente 30 a 32 mol de ATP por mole de glicose.


2

3.3.1.2 Glicólise Anaeróbica


Quando as células possuem um suprimento limitado de oxigênio (por exemplo, a medula renal), ou poucas ou
nenhuma mitocôndria (por exemplo, eritrócitos), ou aumentam muito a demanda por ATP (por exemplo,
músculo esquelético durante exercícios de alta intensidade), elas dependem de glicólise anaeróbica (Figura 10)
para geração de ATP. Na glicólise anaeróbica, a lactato desidrogenase (LDH) oxida o NADH gerado pela glicólise,
reduzindo o piruvato à lactato. Como o oxigênio (O ) não é necessário para reoxidar o NADH, o caminho é
2

chamado de anaeróbico. O rendimento energético da glicólise anaeróbica (2 mol de ATP por mole de glicose) é
muito menor que o rendimento da oxidação aeróbica.

Figura 10 - Representação resumida da glicólise anaeróbica.


Fonte: SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2012.

O lactato (ácido lático) formado é posteriormente liberado para circulação, sendo captado por outros tecidos
(principalmente fígado e os músculos cardíaco e esquelético) e oxidado de volta à piruvato. No fígado, o piruvato,
através da rota de gliconeogênese, sintetiza glicose que é devolvida ao sangue, suprindo, principalmente, a
demanda energética das células com suprimento limitado de oxigênio, ou com poucas ou nenhuma mitocôndria.
A ciclagem de lactato e glicose entre tecidos periféricos e fígado é chamada de ciclo Cori.
Embora o equilíbrio da reação LDH favoreça a produção de lactato, o fluxo ocorre na direção oposta se o NADH
estiver sendo oxidado rapidamente na cadeia de transporte de elétrons (ou estiver sendo usado para a
gliconeogênese).

3.3.2 Ciclo do ácido cítrico (ciclo da ácido tri-carboxílico ou ciclo de Krebs)


e fosforilação oxidativa

Esta etapa do metabolismo acontece dentro da mitocôndria, onde o piruvato é convertido em acetil CoA pela
ação da enzima PDH e então oxidado completamente em dióxido de carbono (CO ) no ciclo do ácido cítrico
2

(TCA), também chamado de ciclo da ácido tri-carboxílico ou ciclo de Krebs, que estudaremos a partir de agora.
Apenas para recapitular: após a digestão e a absorção do pão francês, rico em amido, a glicose é gerada e então
captada pelas células por seus transportadores de glicose específicos. No citosol das células, a glicose é
convertida em piruvato pela glicólise e depois convertida em acetil CoA dentro da mitocôndria (glicólise
aeróbica). Porém, a glicose não é a única fonte de acetil CoA: a oxidação de ácidos graxos, aminoácidos, acetato e

corpos cetônicos também gera acetil-CoA (Figura 11), que é o substrato do TCA. O TCA é responsável por mais

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corpos cetônicos também gera acetil-CoA (Figura 11), que é o substrato do TCA. O TCA é responsável por mais
de dois terços do ATP gerado pela oxidação destes substratos energéticos.

Figura 11 - Fontes de acetil CoA a partir da oxidação de ácidos graxos (palmitato), corpos cetônicos
(acetoacetato), glicose, aminoácidos (alanina) e do etanol.
Fonte: SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2012.

Como o grupo acetil de dois carbonos ativado é oxidado em duas moléculas de CO , a energia é conservada como
2

+
NADH, flavina adenina dinucleotídeo na forma reduzida [FAD (2H)] e trifosfato de guanosina (GTP). NADH + H
e FAD (2H) subsequentemente doam elétrons para O através da cadeia de transporte de elétrons, com geração
2

de ATP a partir da fosforilação oxidativa (Figura 12).Assim, o ciclo do TCA é central para a geração de energia a
partir da respiração celular.
Como o grupo acetil de dois carbonos ativado é oxidado em duas moléculas de CO , a energia é conservada como
2

+
NADH, flavina adenina dinucleotídeo na forma reduzida [FAD (2H)] e trifosfato de guanosina (GTP). NADH + H
e FAD (2H) subsequentemente doam elétrons para O através da cadeia de transporte de elétrons, com geração
2

de ATP a partir da fosforilação oxidativa (Figura 12).Assim, o ciclo do TCA é central para a geração de energia a
partir da respiração celular.

- 19 -
- 20 -
- 21 -
Figura 12 - Representação das reações do Ciclo do Ácido Cítrico (Ciclo de Krebs) e da oxidação de NADH + H+ e
FAD (2H) a partir da fosforilação oxidativa na cadeia de transporte de elétrons para produção de ATP.
Fonte: SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2012; Shutterstock, 2020.

Dentro do ciclo do TCA, o grupo acetil de dois carbonos é a fonte final dos elétrons que são transferidos para NAD
+
e FAD e do carbono nas duas moléculas de CO produzidas. O oxaloacetato é usado e regenerado em cada turno
2

do ciclo. No entanto, quando as células usam intermediários do ciclo TCA para reações biossintéticas (por
exemplo, aminoácidos, ácidos graxos e grupo Heme), os carbonos de oxaloacetato devem ser substituídos por
reações anapleróticas, ou seja, reações capazes de gerar os intermediários do TCA, como a reação catalisada pela
enzima piruvato carboxilase (Figura 13).

- 22 -
Figura 13 - Rotas que abastecem os intermediários do TCA, chamadas de rotas anapletóricas. Observa-se na
figura que os aminoácidos são os principais substratos capazes de gerar os intermediários do TCA.
Fonte: SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2012.

A velocidade do TCA está fortemente coordenada com a velocidade da cadeia de transporte de elétrons e da
fosforilação oxidativa por regulação feedback que reflete a demanda por ATP. A velocidade do ciclo TCA aumenta
quando acontece o mesmo com a utilização de ATP na célula, por meio da resposta de várias enzimas aos níveis
+
de adenosina difosfato (ADP), a razão NADH/NAD , a taxa de oxidação de FAD (2H) ou a concentração de íons
2+
cálcio (Ca ).
2+
A enzima isocitrato desidrogenase é estimulada por ADP e Ca e inibida por NADH. A a-cetoglutarato
2+
desidrogenase é estimulada por Ca e inibida por NADH. A enzima malato desidrogenase é inibida por NADH e
+
a citrato sintase é inibida por seu produto, o citrato. Todas as enzimas do TCA que possuem como cofator NAD
(isocitrato, a-cetoglutarato e malato desidrogenases) são inibidas pela concentração aumentada de NADH. A
+
razão NADH/NAD muda a concentração de oxaloacetato e então a velocidade do TCA.

- 23 -
3.3.3 Balanço Energético

A oxidação de combustíveis metabólicos é essencial para a vida, mas quando a ingestão de alimentos ultrapassa
os requerimentos energéticos do corpo, ou seja, a sua capacidade oxidativa, pode-se desenvolver a obesidade.
Em termos biológicos, cerca de 40% da energia dos alimentos são conservados como ATP, e os 60% restantes
são liberados como calor. Por isso, é importante entender os mecanismos envolvidos no balanço energético do
corpo.
A maior parte da energia metabólica é suprida por reações de oxidação e redução (redox) na mitocôndria. O
gasto de energia total de um ser humano é equivalente ao seu consumo de O , sendo que a taxa metabólica de
2

repouso (gasto energético de uma pessoa em repouso, a 25°C, após um jejum noturno) responde por
aproximadamente 60% a 70% do gasto energético total e consumo de O , e o exercício físico é responsável pelo
2

restante. Da taxa metabólica de repouso (TMR), aproximadamente 90% a 95% do consumo de O é usado pela
2

cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria.


O balanço energético (homeostase de ATP) do corpo humano refere-se à capacidade de as células manterem
níveis constantes de ATP, apesar das flutuações na utilização (gasto) do ATP. Assim, o aumento do uso de ATP
para exercícios ou reações biossintéticas aumenta a taxa de oxidação dos combustíveis metabólicos. O principal
mecanismo empregado é a regulação por feedback, ou seja, quanto menos ATP for utilizado (gasto), menos
substratos energéticos serão oxidados para gerar ATP. De acordo com a primeira lei da termodinâmica, a energia
(em calorias) dos substratos energéticos consumidos através dos alimentos nunca pode ser perdida. Desta
forma, os combustíveis metabólicos consumidos são oxidados para atender às demandas de energia da TMB
mais dos exercícios ou são armazenados como triglicerídeos no tecido adiposo. Em outras palavras, se a ingestão
calórica exceder os requerimentos energéticos do corpo, o ganho de peso será inevitável.

VOCÊ O CONHECE?
Hans Adolf Krebs nasceu em 25 de agosto de 1900 em Hildesheim, na Baixa Saxônia
(Alemanha). Cursou Medicina, Biologia e Química na Universidade de Göttingen, na
Universidade de Hamburgo e na Universidade de Berlim, respectivamente. Nesta última,
trabalhou com Otto Heinrich Warburg, Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1931. Obteve a
cátedra de Medicina Interna da Universidade de Friburgo. Foi professor de Bioquímica em
Whitley e no Trinity College, em Oxford. Faleceu em 22 de novembro de 1981, em Oxford. Seus
principais trabalhos de pesquisa estão relacionados ao metabolismo celular, principalmente na
transformação intracelular de nutrientes em energia. Descobriu que certas reações conhecidas
dentro das células estavam relacionadas entre si, nomeando esta sucessão de reações de ciclo
do ácido cítrico (1937), mais tarde renomeado em sua honra de ciclo de Krebs. Outras
investigações desenvolvidas por Krebs incluem os aspectos fundamentais do ciclo da ureia.
Recebeu o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1953, compartilhado com Fritz Lipmann.

O termo termogênese refere-se à energia gasta com a finalidade de gerar calor, além daquela utilizada na
produção de ATP. Para manter o corpo a 37°C, apesar das mudanças na temperatura ambiente, é necessário
regular a oxidação dos combustíveis metabólicos e sua eficiência (assim como a dissipação de calor).

- 24 -
3.4 Metabolismo do Glicogênio e Gliconeogênese
Neste tópico, estudaremos o metabolismo do glicogênio hepático e muscular, abordando as suas funções e os
mecanismos que regulam a sua síntese (glicogênese) e seu catabolismo (glicogenólise). Descreveremos a
importância do glicogênio hepático na manutenção da glicemia pós-prandial e a sua relação com os sintomas de
hipoglicemia em indivíduos diabéticos descompensados. Estudaremos, também, o processo de gliconeogênese e
a sua relação com a manutenção da glicemia durante o jejum prolongado.
Você sabe quais alimentos estão envolvidos na síntese de glicogênio? Quanto tempo dura os estoques de
glicogênio hepático? Quando começa a glicogenólise e a gliconeogênese quando estamos em jejum? É o que
veremos a seguir. Acompanhe!

3.4.1 Estrutura e Funções do Glicogênio

O glicogênio é a forma de armazenamento de glicose encontrada, principalmente, no fígado e nos músculos


esqueléticos. Ele é composto por resíduos de glicose conectados por ligações glicosídicas lineares a-1,4 com
ramificações a-1,6, ocorrendo aproximadamente a cada oito a dez resíduos de glicose.
A principal função do glicogênio hepático é manter a glicemia, principalmente durante o jejum ou em situações
de necessidade imediata de glicose (por exemplo, estresse, hipoglicemia e exercício), diferentemente da função
do glicogênio muscular, na qual a glicose-6-fosfato é utilizada para a síntese de ATP na via glicolítica para
manutenção da contração muscular.
Por meio da glicogenólise e da gliconeogênese hepática, o corpo mantém a glicemia durante o jejum em
aproximadamente 80 mg/dL, para garantir que as células neuronais e outros tecidos dependentes da glicose
para a geração de ATP tenham um suprimento contínuo deste substrato energético.

3.4.2 Síntese de Glicogênio (Glicogênese)

A síntese de glicogênio, também chamada de glicogênese, começa com a fosforilação da glicose em glicose 6-
fosfato pela enzima hexocinase ou glicocinase (fígado), envolvendo a formação de glicose difosfato de uridina
(UDP-G) e a transferência de resíduos de glicose da UDP-G para as extremidades das cadeias de glicogênio pela
enzima glicogênio sintase. Quando as cadeias atingem aproximadamente 11 resíduos de glicose, a enzima 4:6-
transferase forma um ponto de ramificação, movendo de seis a oito resíduos de glicose para formar uma
ramificação a-1,6.

3.4.3 Degradação de Glicogênio (Glicogenólise)

A degradação do glicogênio, também chamada de glicogenólise, não é o inverso da rota biossintética. A enzima
glicogênio fosforilase remove resíduos de glicose, um de cada vez, das extremidades das cadeias de glicogênio,
convertendo-as em glicose-1-fosfato sem ressintetizar UDP-G ou uridina trifosfato (UTP). A enzima 4:4-
transferase é responsável por remover os resíduos de glicose próximos a cada ponto de ramificação. A reação
catalisada pela enzima fosfoglicomutase transforma glicose-1-fosfato em glicose-6-fosfato.
No fígado, a síntese de glicose livre a partir do glicogênio é possível graças à enzima glicose-6-fosfatase,
encontrada apenas no fígado e nos rins, que converte glicose-6-fosfato em glicose livre, que imediatamente se
difunde para a circulação. Como o tecido muscular não tem a enzima glicose-6-fosfatase, a glicose-6-fosfato, por
ser um intermediário da glicólise, entra nesta rota para gerar ATP através da glicólise anaeróbia e/ou aeróbica,
conforme a intensidade e duração do exercício.

- 25 -
3.4.4 Regulação da Glicogênese Hepática e Muscular

O principal estímulo para a síntese de glicogênio, em ambos os tecidos, acontece após uma refeição rica em
carboidrato, com o aumento imediato da glicemia e da razão insulina/glucagon, que estimula a glicogênese
hepática, a captação de glicose pelos miócitos e a subsequente glicogênese muscular. Importante ressaltar que a
glicogênese é ativada nos músculos em repouso.
O aumento da captação de glicose, estimulada por insulina, pelos tecidos periféricos (músculo e tecido adiposo) e
pelo fígado, acelera o armazenamento da glicose como glicogênio (hepático e muscular) ou triglicerídeos (fígado
e tecido adiposo), auxiliando na manutenção da glicemia abaixo de 140 mg/dL, valor de referência para a
glicemia pós-prandial.

3.4.5 Regulação da Glicogenólise Hepática e Muscular

A regulação da glicogenólise no fígado e no musculo são diferentes. Uma das razões é porque o tecido muscular
não tem receptor para glucagon, não respondendo a este hormônio durante o jejum, e também por apresentar
funções metabólicas diferentes do glicogênio hepático.
A falta de carboidrato na dieta, sinalizada por uma diminuição da razão insulina/glucagon no sangue, ativa
apenas a glicogenólise hepática. A epinefrina, liberada pela adrenal em resposta ao exercício e a situações de
estresse, ativa a glicogenólise hepática e também muscular.
A enzima glicogênio fosforilase do músculo é estimulada durante o exercício pelo aumento das concentrações de
AMP, que sinaliza falta de ATP, um ativador alostérico da enzima, e também pela fosforilação. A fosforilação é
2+
estimulada por íons cálcio (Ca ), liberado durante a contração e pela epinefrina.
Embora a glicogenólise hepática e a gliconeogênese sejam ativadas juntas pelos mesmos mecanismos
reguladores, a glicogenólise responde mais rapidamente e com maior quantidade de glicose do que a
gliconeogênese nas primeiras horas de jejum. A velocidade da glicogenólise permanece razoavelmente constante
nas primeiras 22 horas, mas, no jejum prolongado, a sua velocidade diminui significativamente à medida que o
glicogênio hepático diminui, enquanto, simultaneamente, a velocidade da gliconeogênese aumenta. O glicogênio
hepático é, portanto, um estoque de glicose rapidamente sintetizado e degradado, e extremamente responsivo a
pequenas e rápidas mudanças na glicemia.
Porém, em indivíduos diabéticos com resistência hepática à ação da insulina, ocorre um prejuízo na síntese de
glicogênio hepático, porque esta rota metabólica é dependente de insulina e o fígado não está adequadamente
responsivo a este hormônio. Em consequência a esta resistência à insulina, os estoques de glicogênio hepático
são muito baixos, não suprindo a demanda de glicose durante o jejum, acarretando em sintomas hipoglicêmicos.

3.4.6 Gliconeogênese Hepática

A gliconeogênese, que ocorre principalmente no fígado, é a rota metabólica responsável por sintetizar novas
moléculas de glicose a partir de compostos não glicídicos. No ser humano, os principais precursores da glicose
são lactato, glicerol e aminoácidos, particularmente a alanina. Exceto por três sequências principais, as reações
da gliconeogênese são reversões dos passos da glicólise. As sequências da gliconeogênese que não utilizam
enzimas da glicólise envolvem as etapas irreversíveis e reguladas da glicólise. Essas três etapas são a conversão
de: i) piruvato em fosfoenolpiruvato (PEP); ii) frutose 1,6-bifosfato em frutose 6-fosfato; e iii) glicose 6-fosfato
em glicose livre.
Imediatamente após uma refeição mista, os carboidratos da dieta servem como a principal fonte de glicose no
sangue e, à medida que a glicemia retorna aos níveis de jejum, aproximadamente duas horas após a refeição
mista, a glicogenólise é estimulada, fornecendo glicose ao sangue. Após quatro horas em jejum, o fígado está
atendendo à demanda de glicose do organismo, não apenas pelo processo de glicogenólise, mas também pela

gliconeogênese.Durante um jejum de 12 horas, a glicogenólise é a principal fonte de glicose no sangue e,

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gliconeogênese.Durante um jejum de 12 horas, a glicogenólise é a principal fonte de glicose no sangue e,
também, a principal rota que mantém a glicemia no estado basal (após jejum de 12 horas). No entanto, por
aproximadamente 16 horas em jejum, a glicogenólise e a gliconeogênese contribuem igualmente para a
manutenção da glicemia e, 30 horas após uma refeição mista, as reservas de glicogênio no fígado estão
substancialmente esgotadas, tornando o processo de gliconeogênese a principal fonte de glicose no sangue.
As alterações hormonais que ocorrem durante o jejum estimulam o catabolismo dos triglicerídeos do tecido
adiposo, com consequente liberação de ácidos graxos e glicerol para a circulação. O glicerol serve como fonte de
carbono para a gliconeogênese e os ácidos graxos se tornam os principais substratos energéticos das células,
diminuindo a utilização de glicose. Simultaneamente, os ácidos graxos são oxidados, no fígado, em acetil CoA,
para fornecer energia à gliconeogênese (porque esta rota demanda de muito ATP para se manter ativa. Em jejum
prolongado, o acetil CoA é convertido em corpos cetônicos, sendo difundidos para o sangue, servindo como fonte
adicional de combustível metabólico para o músculo e o cérebro.

3.5 Conceitos básicos na regulação do metabolismo


Neste tópico, estudaremos a ação dos principais hormônios envolvidos na manutenção da homeostase
metabólica durante os estados alimentado e de jejum, ou seja, como as células têm fonte constante de ATP para
cumprir suas funções independentemente do que comemos. Abordaremos os sítios de ação destes hormônios e
as principais rotas metabólicas estimuladas e inibidas por eles. Por último, veremos o metabolismo dos
transportadores de glicose.
Você sabe por que, se comermos um ou quatro pratos de macarrão ao sugo na mesma refeição, a nossa glicemia
pós-prandial se manterá em níveis normais? Qual a diferença entre as funções da insulina endógena e da insulina
exógena? Qual a principal diferença entre a fisiopatologia do Diabete Mellitus Tipo I e Tipo II? E por que o
glucagon não age sobre o músculo esquelético?

3.5.1 Homeostase metabólica

Tanto a insulina como o glucagon são os principais hormônios reguladores da homeostase metabólica, além da
epinefrina e do cortisol, sendo traduzida como o equilíbrio entre a disponibilidade de energia e a necessidade
dos tecidos. Este é alcançado a partir da concentração sanguínea de nutrientes e de um dos hormônios da
homeostase metabólica e o impulso nervoso, afetando o metabolismo dos tecidos ou a liberação dos hormônios.
Os indivíduos podem passar o dia inteiro comendo ou fazer jejum de 24 horas que a insulina e o glucagon,
respectivamente, asseguram que as células tenham uma fonte constante de glicose, ácidos graxos e aminoácidos
para a síntese de energia, ou seja, adenosina trifosfato (ATP), e consigam manter as suas funções. Neste sentido,
insulina e glucagon são os dois principais hormônios que regulam a mobilização e o armazenamento de
substratos energéticos.

3.5.2 Maiores hormônios da homeostase metabólica: insulina, glucagon e


cortisol

A insulina é sintetizada e secretada pelas células beta do pâncreas e é conhecida como o hormônio que promove
o crescimento por estimular rotas metabólicas relacionadas ao anabolismo, cujos principais sítios de ação são os
tecidos hepático, muscular e adiposo.
A secreção de insulina ocorre dentro de minutos após o pâncreas estar exposto a uma alta concentração de
glicose, depois de uma refeição mista. O limiar para a liberação de insulina é aproximadamente 80 mg de glicose¤
dL. Acima de 80 mg¤dL a velocidade de secreção de insulina é diretamente proporcional a concentração de
glicose plasmática até aproximadamente 300 mg¤dL. À medida que a insulina é secretada, a síntese de novas

moléculas de insulina é estimulada. A secreção de insulina é mantida até os níveis de glicose começarem a

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moléculas de insulina é estimulada. A secreção de insulina é mantida até os níveis de glicose começarem a
diminuir. A insulina é rapidamente removida da circulação e degradada pelo fígado e, em menor extensão, pelos
rins e pelo músculo esquelético. Os níveis de insulina começam a diminuir rapidamente, uma vez que a taxa de
secreção está diminuída.
O interessante é que a insulina endógena raramente irá provocar hipoglicemia, porque a sua liberação é
diretamente proporcional à glicemia, ou seja, de acordo com a ingestão de nutrientes, diferente da insulina
exógena nos casos de diabetes; e quando a glicemia diminuir, a insulina deixará de ser sintetizada e secretada na
circulação e a insulina circulante será captada e degradada pelo fígado e, em menor extensão, pelos rins e pelo
músculo esquelético, perdendo seu efeito como hormônio. A insulina exógena pode provocar hipoglicemia caso o
paciente injete maiores quantidades do que a quantidade de carboidratos que ingeriu.
Os principais sítios de ação da insulina e dos hormônios contra regulatórios (glucagon, cortisol e epinefrina) e
suas respectivas ações fisiológicas estão descritas na tabela.

Figura 14 - Resumo dos principais sítios de ação da insulina e dos hormônios contra regulatórios (glucagon,
cortisol e epinefrina) e suas respectivas ações fisiológicas.
Fonte: Elaborado pela autora, baseado em SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2012.

O glucagon é sintetizado e secretado pelas células alfa do pâncreas e é conhecido como o hormônio que promove

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O glucagon é sintetizado e secretado pelas células alfa do pâncreas e é conhecido como o hormônio que promove
o emagrecimento por estimular rotas metabólicas relacionadas ao catabolismo, cujos principais sítios de ação
são o tecido hepático e o adiposo.
A liberação de glucagon é controlada principalmente pela redução da glicemia e/ou pelo aumento da insulinemia
que banha as células alfa do pâncreas. Portanto, os níveis mais baixos de glucagon ocorrem após uma refeição
rica em carboidratos. Como todos os efeitos do glucagon são opostos à insulina, a estimulação simultânea da
liberação de insulina e a supressão da secreção de glucagon por uma refeição rica em carboidratos fornecem
controle integrado do metabolismo dos macronutrientes (carboidratos, lipídeos e proteínas).

VOCÊ SABIA?
1. Quais são os maiores e menores reguladores que estimulam a liberação de insulina?
2. Qual é o menor regulador que inibe a liberação de insulina?
3. Quais são os maiores e menores reguladores que estimulam a liberação de glucagon?
4. Quais são os maiores reguladores que inibem a liberação de glucagon?
Resposta 1: O maior e os menores reguladores que estimulam a liberação de insulina são:
glicose; e aminoácidos, impulso neural e hormônios intestinais [glucagon like peptide-1 (GLP-
1) – peptídeo 1 semelhante ao glucagon], respectivamente.
Resposta 2: O menor regulador que inibe a liberação de insulina é a epinefrina.
Resposta 3: O maior e os menores reguladores que estimulam a liberação de glucagon são:
aminoácidos; e cortisol, estresse neural e epinefrina, respectivamente.
Resposta 4: Os maiores reguladores que inibem a liberação de glucagon são a glicose e a
insulina.

O hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) é liberado da hipófise e estimula a liberaçãode cortisol, que é


sintetizado e secretado pelas células do córtex da adrenal e é conhecido como o hormônio do estresse. Seus
principais sítios de ação são o tecido hepático, músculo esquelético e o adiposo.
Por fim, sinais neuronais estimulam a liberação de epinefrina (adrenalina) e a noraepinefrina (noradrenalina),
que são sintetizadas e secretadas pelas células da medula da adrenal e das terminações nervosas,
respectivamente. Seus principais sítios de ação são o tecido hepático, músculo esquelético e o adiposo.

3.6 Variações na glicemia de jejum e pós-prandial


O profissional nutricionista utiliza as variações séricas de glicose como ferramenta de avaliação e diagnóstico
nutricional principalmente de pacientes com diabete mellitus, para posterior prescrição dietoterápica. E você
sabe qual o melhor marcador clínico de controle glicêmico? Quais são as diferenças entre as manifestações
clínicas da hipoglicemia e da hiperglicemia? Qual o melhor marcador glicêmico para avaliar a ingestão aguda de
carboidrato?
É muito importante a correta interpretação dos exames bioquímicos. Então, convidamos você a estudar sobre a
aplicabilidade da glicemia de jejum e pós-prandial como biomarcadores.

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o diagnóstico laboratorial do diabetes mellitus (DM) pode ser
realizado por meio de glicemia de jejum, glicemia duas horas após teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e

hemoglobina glicada (HbA1c). A glicemia de jejum refere-se à dosagem de glicose no plasma após um jejum

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hemoglobina glicada (HbA1c). A glicemia de jejum refere-se à dosagem de glicose no plasma após um jejum
mínimo de oito horas, representando o valor glicêmico no momento da coleta sanguínea. A HbA1c é formada a
partir de reações não enzimáticas e permanentes entre a HbA1 e açúcares não redutores como a glicose,
refletindo a glicemia média nos dois a quatro meses anteriores à realização do exame, visto que a vida média de
um eritrócito é de aproximadamente 120 dias.
Os valores adotados pela SBD para cada um desses parâmetros são os mesmos recomendados pela Associação
Americana de Diabetes (American Diabetes Association, ou ADA) e encontram-se descritos na tabela.

Figura 15 - Parâmetros glicêmicos de normalidade, pré-diabetes e critérios diagnósticos para diabetes mellitus
recomendados pela SBD e pela ADA.
Fonte: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2017-2018.

O diagnóstico do DM fica estabelecido quando ao menos duas glicemias de jejum encontram-se ³ que 126 mg/dL
ou quando uma única glicemia de jejum encontra-se acima desse valor, desde que outro critério laboratorial para
diagnóstico de DM seja positivo (por exemplo, HbA1c ou TOTG), exceto em pacientes com sintomas típicos de
descompensação (por exemplo, poliúria, polidipsia e perda de peso inexplicado) e com medidas de glicemia
acima de 200 mg/dL.
Objetivos glicêmicos mais ou menos rigorosos podem ser apropriados para pacientes individuais (Figura 15). As
metas devem ser individualizadas com base na duração do diabetes, idade/expectativa de vida, presença de
comorbidades, doença cardiovascular conhecida ou complicações microvasculares avançadas, desconhecimento
da hipoglicemia e considerações individuais dos pacientes.

Figura 16 - Metas glicêmicas para indivíduos adultos com diabetes mellitus recomendados pela ADA.
Fonte: ADA. Standards of Medical Care in Diabetes, 2019.

O controle da glicemia reduz de forma significativa as complicações do DM. Desta forma, métodos que avaliam a
frequência e a magnitude da hiperglicemia e das hipoglicemias são essenciais no acompanhamento do DM,
visando a ajustes no tratamento. A monitorização glicêmica a partir da HbA1c ainda permanece o padrão-ouro
(Diretrizes da SBD 2017-2018), visto que esse parâmetro reflete a glicemia média nos dois a quatro meses
anteriores à realização do exame. A glicose pós-prandial pode ser direcionada se as metas de HbA1c não forem
atingidas. As medições pós-prandiais de glicose devem ser feitas uma a duas horas após o início da refeição,
visando reduzir os valores para menos de 180 mg/dL podem ajudar a diminuir o HbA1c (ADA, 2019).

Na maioria das vezes, o DM Tipo II é assintomático por longo período. Com menor frequência, indivíduos com

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Na maioria das vezes, o DM Tipo II é assintomático por longo período. Com menor frequência, indivíduos com
DM Tipo II apresentam sintomas clássicos de hiperglicemia: poliúria (excesso de urina), polidipsia (sede
intensa), polifagia (fome constante) e emagrecimento inexplicado.

CASO
Nossa paciente CSB, aos 30 anos, com obesidade mórbida, hipertensão e esteatose hepática
desenvolveu diabetes mellitus do Tipo II (DM Tipo II) em decorrência das suas comorbidades,
da sua alimentação rica em carboidratos refinados e simples (sacarose) e do seu estilo de vida
sedentário. Ela recebeu o diagnóstico de DM Tipo II quando apresentou seus exames
laboratoriais para o médico que, durante a consulta, explicou-lhe que a sua glicemia de jejum e
hemoglobina glicada (HbA1c) encontravam-se em 300 mg/dL e 9%, respectivamente, valores
condizentes com diagnóstico de DM.

A seguir, antes de finalizarmos o conteúdo, veja nossa videoaula sobre a glicose.


https://cdnapisec.kaltura.com/html5/html5lib/v2.81.2/mwEmbedFrame.php/p/1972831/uiconf_id/45177562
/entry_id/1_w0p5r5zp?
wid=_1972831&iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1584562870&entry_id=1_w0p5r5zp
A hipoglicemia é a complicação aguda mais frequente em indivíduos com DM Tipo I, podendo, entretanto, ser
observada naqueles com DM Tipo II tratados com insulina e, menos comumente, em pacientes tratados com
hipoglicemiantes orais. Os sintomas podem variar de leves e moderados (tremor, palpitação e fome) a graves
(mudanças de comportamento, confusão mental, convulsões e coma) (Diabetes in Control).É importante
prevenir a hipoglicemia para reduzir o risco de declínio cognitivo e outros resultados adversos.

Conclusão
Concluímos a terceira unidade relativa ao metabolismo dos carboidratos. Agora você já conhece as principais
fontes alimentares, conceitos, classificações, funções, metabolismo intracelular e aplicação prática sobre este
nutriente.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• identificar as melhores fontes alimentares de carboidrato quanto ao índice e carga glicêmica.
• compreender o papel das fibras dietéticas e dos prebióticos sobre a flora bacteriana e sua saúde.
• compreender a relação entre o metabolismo oxidativo e a taxa metabólica de repouso.
• compreender a importância do glicogênio hepático e da gliconeogênese na manutenção da glicemia.
• compreender a ação dos principais hormônios envolvidos na manutenção da homeostase metabólica
durante os estados alimentado e de jejum.
• compreender a importância da alimentação sobre o controle glicêmico e o perfil lipídico em indivíduos
com esteatose hepática e diabetes.
• identificar a aplicação prática da glicemia de jejum e pós-prandial como biomarcadores nas ciências
médicas.

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Bibliografia
American Association of Cereal Chemistry (AACC). The definition of dietary fiber. Cereal Foods World 2001; 46
(3):112-26.
American Diabetes Association. Standards of Medical Care in Diabetes – 2019. January 2019 Volume 42,
Supplement 1. Disponível em: <https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/pdf/Diretriz-2019-ADA.pdf
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Acesso em: 25/01/2020.
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BAYNES, J. W.; DOMINICZAK, M. H. Bioquímica Médica. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
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