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Artigo

Sabe-se que o fracasso


escolar tem u m a relação
PRATICAS
c o m a l i n g u a g e m . O que
é aquela relação? Em u m a
abordagem tradicional des- LINGUAGEIRAS E
tacam-se as carências na
linguagem dos a l u n o s fra-
cassados, n o t a d a m e n t e dos
alunos dos bairros popula-
FRACASSO
res. Em u m a a b o r d a g e m
1
mais nova, enfoca-se a per-
tinência da linguagem po-
ESCOLAR
p u l a r e n q u a n t o m e i o de
expressão e c o m u n i c a ç ã o .
A abordagem mais recente
salienta as "práticas lingua-
geiras", isto é, o uso da
Bernard Chariot
linguagem e n q u a n t o prática
social, cultural, pessoal,
em u m a dada situação. O
artigo apresenta estas abor-
dagens na perspectiva do
p r o b l e m a do fracasso esco-
lar e t a m b é m d a d o s empí-
ricos relacionados às práti-
cas linguageiras dos alunos
de b a i r r o populares.
Fracasso escolar; lingua-
gem; deficiências de l i n -
guagem
D) v y esde m u i t o tempo atrás sabe-se que o
PRACTICES OF
c h a m a d o fracasso escolar tem relação com a lingua-
LANGUAGE AND
1
SCHOOL FAILURE gem . Sabe-se disso p o r q u e a escola é u m mundo
It is well known that de cultura escrita. Desde o início da escola, o desa-
school failure is related
with language. But what is fio é a p r e n d e r a ler e a escrever, isto é, e n t r a r no
exactly this relationship? A
traditional approach points mundo dos t e x t o s , de u m a l i n g u a g e m que n ã o é
out the deficiencies in the igual à l i n g u a g e m da v i d a c o t i d i a n a . Sabe-se disso
language, especially among
the students from popular também porque os professores enfrentam a dificulda-
suburbs. A more recent
approach focuses on the de da língua n o dia-a-dia da sala de aula. Assim, as
pertinence of the language i n o v a ç õ e s pedagógicas nascidas n o chão da sala de
spoken by those students
as medium of expression aula d e r a m u m a i m p o r t â n c i a m a i o r à q u e s t ã o da
and the most recent linguagem - as de F r e i n e t p o r e x e m p l o , como o
approach emphasizes the
practices of language, that texto livre, o uso da i m p r e n s a e da c o r r e s p o n d ê n -
means the use of language
as social, cultural and cia escolar. Enfim, sabe-se disso porque as pesquisas,
personal practice, into a n o t a d a m e n t e as de Basil Bernstein, m o s t r a r a m haver
given situation. This
article presents those uma ligação entre linguagem, socialização e aprendi-
approaches into the
perspective of the problem zagem. Assim, é c l a r o que existe u m a relação entre
of school failure and it linguagem e fracasso escolar. Mas o que é essa rela-
also deals with empirical
data related to the ção, isso n ã o é claro.
practices of language of
Começarei apresentando alguns dados empíricos
students from popular
backgrounds. que p e r m i t e m m e l h o r entender o papel das práticas
School failure;
language; language linguageiras n o fracasso escolar, notadamente n o fra-
deficiences
• Professor de Ciências de Educação na Universidade de Paris 8.
casso dos jovens de bairros p o p u l a r e s . Em s e g u i d a , desenvolverei
uma reflexão teórica sobre várias abordagens da relação entre a
l i n g u a g e m e o fracasso escolar.

PRÁTICAS LINGUAGEIRAS E FRACASSO


ESCOLAR: ALGUNS DADOS EMPÍRICOS

Em p r i m e i r o l u g a r , g o s t a r i a de m e n c i o n a r a l g u m a s p e s q u i s a s
e t n o g r á f i c a s , t a n t o i n g l e s a s q u a n t o francesas, q u e e v i d e n c i a r a m o ca-
r á t e r e s p e c í f i c o da q u e s t ã o e d o q u e s t i o n a r n a e s c o l a .
Na vida cotidiana, quem questiona é alguém i g n o r a n d o uma
c o i s a e, p o r i s s o , p e d i n d o i n f o r m a ç õ e s . A o c o n t r á r i o , n a e s c o l a , o
professor a p r e s e n t a u m a q u e s t ã o a p e n a s q u a n d o e l e c o n h e c e a res-
posta. N ã o é para pedir u m a i n f o r m a ç ã o , a questão do professor,
é sim para mandar os a l u n o s r e s p o n d e r e m o que o professor já
conhece. O questionar na escola, portanto, é m u i t o diferente do
questionar na vida cotidiana.
A l é m d i s s o , esse q u e s t i o n a r f u n c i o n a c o n f o r m e u m certo rito,
de três t e m p o s . U m : o professor põe a questão. Dois: o aluno
r e s p o n d e . Três: o p r o f e s s o r a v a l i a a r e s p o s t a ( " M u i t o b e m " , " N ã o é
e x a t a m e n t e i s s o " . . . ) . Esse r i t o n ã o p o d e v a r i a r . I m a g i n e m o que
s u c e d e r i a se o a l u n o a p r e s e n t a s s e u m a q u e s t ã o p a r a v e r i f i c a r se o
professor c o n h e c e a r e s p o s t a e a v a l i a s s e essa r e s p o s t a d o professor...
A l é m do mais, quando o professor prossegue sob a forma
" q u e s t õ e s e r e s p o s t a s " - os p e s q u i s a d o r e s e v i d e n c i a r a m u m a técnica
especial usada inconscientemente pelo professor - , ele a p r e s e n t a a
q u e s t ã o , espera a resposta; se esta n ã o c h e g a r , ele d á u m a i n d i c a ç ã o
s u p l e m e n t a r p a r a a j u d a r os a l u n o s a e n c o n t r a r e m a resposta; d e p o i s
ele e s p e r a n o v a m e n t e a r e s p o s t a , se esta n ã o c h e g a r , o p r o f e s s o r dá
m a i s u m a i n d i c a ç ã o ; e a s s i m p o r d i a n t e até a r e s p o s t a c h e g a r ( a q u e -
la q u e o p r o f e s s o r está e s p e r a n d o ) . Isso s i g n i f i c a q u e os a l u n o s , en-
q u a n t o eles estão b u s c a n d o a resposta, d e v e m n ã o a p e n a s refletir n o
conteúdo da questão, m a s t a m b é m i n t e r p r e t a r a fala d o professor.
P a r a se t o r n a r u m b o m a l u n o , deve-se a p r e n d e r m u i t a s c o i s a s . . . até
m e s m o a se t o r n a r um bom a l u n o , i s t o é, a e n t r a r e m c e r t a s p r á -
ticas escolares diferentes d a q u e l a s d a v i d a c o t i d i a n a , n o t a d a m e n t e em
práticas linguageiras específicas.
A e s c o l a s u p õ e u m a certa r e l a ç ã o c o m a l i n g u a g e m . N a escola,
a linguagem não é apenas um meio para dizer a l g u m a coisa, é
também o o b j e t o m e s m o d a r e f l e x ã o . Se o a l u n o n ã o e n t r a r nessa
relação com a l i n g u a g e m , se l e v a r a o que permite ser b e m - s u c e d i d o na
s é r i o as q u e s t õ e s d o professor, ele v a i escola, somente poderão ser bem-su-
p r o p o r respostas certas, m a s engraça- c e d i d o s os a l u n o s q u e j á receberam
das. Recentemente, u m colega portu- isso fora da escola - q u e r dizer, em
guês contou-me uma história ocorri- sua família.
da q u a n d o ele era professor de lín- A relação c o m a l i n g u a g e m apa-
g u a p o r t u g u e s a , já faz t e m p o , n a ci- rece c o m o fundamental na questão
d a d e d o P o r t o , e m P o r t u g a l . Ele ten- do fracasso escolar. Agora, gostaria
tava e n s i n a r p a r a j o v e n s d e u m bair- d e e v o c a r as p e s q u i s a s q u e fizemos
ro p o p u l a r o q u e é, g r a m a t i c a l m e n t e , s o b r e esse a s s u n t o , eu e m i n h a equi-
o sujeito. Explicou que o sujeito é pe. Estamos p e s q u i s a n d o , já há doze
q u e m faz a a ç ã o . D e p o i s , ele d e u um anos, a relação c o m o saber e c o m a
e x e m p l o : "Eu v o u p e s c a r " . E ele per- escola dos jovens, particularmente
guntou aos a l u n o s : " Q u e m vai pes- dos jovens de m e i o social popular.
car?" E u m aluno respondeu: "E o Para falar s i m p l e s m e n t e , nossas pes-
senhor, professor"... q u i s a s t r a t a m d e três q u e s t õ e s b á s i c a s :
A escola e x i g e u m a certa postura que sentido tem para um jovem o
perante a l i n g u a g e m . Por um lado, fato de ir à e s c o l a , o fato de se
essa p o s t u r a é a r t i f i c i a l : n ã o se f a l a mobilizar para estudar (ou não se
assim na vida cotidiana. M a s , por m o b i l i z a r ) , o fato de a p r e n d e r qual-
o u t r o l a d o , essa p o s t u r a permite en- quer c o i s a , seja n a e s c o l a , seja em
t r a r e m u n i v e r s o s d e saberes q u e não outro lugar. Evidentemente, n ó s che-
existem na vida cotidiana. Os alunos gamos à questão: e que sentido faz
queixam-se porque sempre na escola p a r a esse j o v e m o fato d e f a l a r e d e
"fala-se, fala-se, fala-se", e, a l é m d i s s o , escrever n a e s c o l a ?
n ã o se fala da m e s m a m a n e i r a q u e se Pedimos, notadamente, aos alu-
fala n a v i d a . E essa, p o r é m , a tarefa n o s q u e escrevessem u m texto contan-
específica da escola: p e r m i t i r aos jo- do (ou tentando contar...) tudo o
v e n s e n t r a r e m m u n d o s q u e n ã o exis- que eles a p r e n d e r a m em sua vida,
tem no dia-a-dia da vida, e m ativida- q u a l q u e r q u e seja o l u g a r . Podem-se
des i n t e l e c t u a i s específicas, e m uma constatar diferenças importantes entre
relação específica com a l i n g u a g e m . os textos d o s a l u n o s b e m - s u c e d i d o s e
N ã o é p a r a afastar os j o v e n s da v i d a , os textos d o s a l u n o s fracassados.
é sim para ajudá-los a m e l h o r enten- Assim, os alunos fracassados
d e r a v i d a e, se p u d e r e m , mudá-la. ( m u i t a s vezes o r i u n d o s de famílias
M a s a e s c o l a deve c o n s t r u i r essa populares) escreveram textos deste
relação com a linguagem, indispensá- t i p o : " A p r e n d i a a n d a r , falar, l a v a r a
v e l p a r a q u e a l g u é m seja b e m - s u c e d i - louça, cantar, tocar música, escre-
d o n a e s c o l a . Essa r e l a ç ã o d e v e ser ver..." E n q u a n t o os a l u n o s bem-suce-
considerada como u m dos objetivos didos escreveram textos deste tipo:
fundamentais da formação. O proble- " A p r e n d i as l í n g u a s e s t r a n g e i r a s , p o r -
m a é q u e , m u i t a s v e z e s , a e s c o l a su- que nesta época na Europa deve-se
p õ e essa r e l a ç ã o , c o m o se j á t i v e s s e conhecer a língua internacional que
s i d o c o n s t r u í d a . Se a e s c o l a n ã o der é o inglês e também o alemão por
c a u s a da r e u n i f i c a ç ã o das d u a s A l e m a n h a s . . . " O s p r i m e i r o s , fracassa-
dos, p r o d u z e m textos c u r t o s , d i z e n d o a p e n a s o q u e o j o v e m apren-
deu - m u i t a s vezes, c o m listas de palavras, sem sequer fazerem fra-
ses. O s s e g u n d o s , b e m - s u c e d i d o s , p r o d u z e m textos m a i s l o n g o s , n o s
q u a i s eles f a l a m s o b r e o q u e a p r e n d e r a m , t o r n a n d o - s e o saber mes-
mo um objeto do discurso, em textos construídos.
Nos textos dos a l u n o s fracassados, a l i n g u a g e m p e r m i t e dizer
as c o i s a s , n a d a m a i s . O a l u n o r e s p o n d e , d á i n f o r m a ç õ e s , e a c a b o u .
N ã o c o m e n t a o q u e ele está e s c r e v e n d o , c o m o se a l i n g u a g e m fosse
um instrumento transparente,' sem espessura, tendo apenas uma
função de r e f e r e n c i a l i z a ç ã o , a de dizer o m u n d o . Enquanto nos
textos d o s a l u n o s b e m - s u c e d i d o s , a l i n g u a g e m t e m três f u n ç õ e s : e l a
p e r m i t e dizer o mundo, mas também fazer (construir u m texto) e
ser (exibir-se p o r m e i o d a p r ó p r i a f o r m a d o d i s c u r s o ) . O " E u " apa-
recendo no texto não é igual em ambos os t i p o s de textos: no
primeiro é um "Eu" fazendo c o i s a s n a s u a v i d a c o t i d i a n a , n o se-
gundo é um "Eu" escrevendo u m texto. Podem-se encontrar, no
s e g u n d o tipo de textos, várias m a r c a s de m o d a l i z a ç ã o , que pouco
se e n c o n t r a m no primeiro, quer dizer, formas linguageiras permi-
t i n d o d a r c o m e n t á r i o s , o p i n i õ e s , a v a l i a ç õ e s , etc. Esses a l u n o s u t i l i -
z a m mais adjetivos e advérbios, usam verbos para c o m e n t a r (acho
que...) e t a m b é m v e r b o s r e m e t e n d o a a t i v i d a d e s i n t e l e c t u a i s (refletir,
compreender, a n a l i s a r . . . ) , e n ã o a p e n a s a a t i v i d a d e s f í s i c a s (fazer...),
eles e m p r e g a m m a r c a s d o t e m p o ( h o j e , o u t r o r a . . . ) e t a m b é m usam
o saber m e s m o e n q u a n t o s u j e i t o d a frase (falar m e p e r m i t e . . . , escre-
ver é u m a c a p a c i d a d e que...).
E c e r t o , p o r t a n t o , q u e os t e x t o s d o s a l u n o s b e m - s u c e d i d o s são
m a i s r i c o s q u e os d o s a l u n o s f r a c a s s a d o s . M a s , a s s i m a v a l i a n d o ,
d e v e m o s prestar a t e n ç ã o a dois fatos, r e l a c i o n a d o s . E m primeiro
l u g a r , essa r i q u e z a l i n g ü í s t i c a é c o n s e q ü ê n c i a d e u m a certa postura,
de u m a certa relação c o m a l i n g u a g e m levando a certas práticas
linguageiras. Portanto, como v e r i f i c a m o s , de n a d a serve ensinar
técnicas - por e x e m p l o , o uso de a d v é r b i o s ou do saber mesmo
enquanto s u j e i t o d a frase - , se n ã o se c o n s t r u i r ao m e s m o tempo
u m a nova relação c o m a linguagem, novas práticas linguageiras. Em
s e g u n d o l u g a r , n ã o se d e v e e s q u e c e r q u e essa p o b r e z a d o s t e x t o s é
u m a c o n s e q ü ê n c i a da p r ó p r i a n a t u r e z a d a tarefa p e d i d a ao a l u n o .
Não é u m a d e f i c i ê n c i a l i n g ü í s t i c a que ocorre e m toda tarefa que
e x i g e o u s o d a l i n g u a g e m : os m e s m o s j o v e n s p o d e m mostrar uma
linguagem muito mais rica em outras s i t u a ç õ e s , de b r i g a , por
e x e m p l o . T o d a v i a , n ã o h á d ú v i d a de q u e eles n ã o d o m i n a m o uso
e s c o l a r d a l i n g u a g e m . Esse u s o n ã o a p e n a s p e r m i t e ser b e m - s u c e d i -
d o na escola, m a s t a m b é m possibilita o acesso a u n i v e r s o s e ativi-
dades intelectuais específicos.
A g o r a , g o s t a r i a de apresentar-lhes três a b o r d a g e n s teóricas d a rela-
ção entre a l i n g u a g e m e o fracasso escolar.

A ABORDAGEM DO PROBLEMA EM TERMOS


DE DEFICIÊNCIAS LINGÜÍSTICAS

U m a a b o r d a g e m t r a d i c i o n a l d e s t a c a as d e f i c i ê n c i a s d a l i n g u a g e m
dos alunos fracassados, n o t a d a m e n t e aqueles dos bairros populares.
Esses j o v e n s n ã o f a l a m b e m , n ã o e s c r e v e m b e m , a p r e n d e m na sua
f a m í l i a u m a l í n g u a q u e n ã o é c o r r e t a , p o r isso s ã o c a r e n t e s n a l í n -
g u a e fracassados n a escola. S e n d o q u e lhes f a l t a m certos conhecimen-
tos e c o m p e t ê n c i a s l i n g ü í s t i c a s , deve-se d e s e n v o l v e r c o m e l e s uma
pedagogia compensatória, remediando essas c a r ê n c i a s . L o g o , trata-se
de e n r i q u e c e r seu v o c a b u l á r i o , m e l h o r a r sua sintaxe, levá-los ao
" b e m f a l a r " e ao " b e m escrever". Para a t i n g i r esses o b j e t i v o s , a esco-
la e n s i n a - l h e s p a l a v r a s e r e g r a s q u e p e r m i t e m p r o d u z i r textos corre-
tos, b e m escritos, até b o n i t o s . E m u m a f o r m a m a i s m o d e r n a daquela
p e d a g o g i a , a p o i a n d o - s e n o s saberes recentes d a l i n g ü í s t i c a , trata-se até
de l h e s e n s i n a r c e r t o s c o n h e c i m e n t o s sobre o que é u m texto, um
d i s c u r s o . De m o d o g e r a l , o e n s i n o t e n t a t r a n s m i t i r - l h e s s a b e r e s téc-
n i c o s s o b r e s u a l í n g u a p a r a q u e eles p o s s a m dominá-la.
Essa c o n c e p ç ã o d o a p r e n d i z a d o d a l i n g u a g e m e d a r e l a ç ã o en-
tre a l i n g u a g e m e o fracasso e s c o l a r t r a z p r o b l e m a s d e u m p o n t o de
vista p r á t i c o . P r i m e i r o , ela remete ao professor de francês, inglês,
português... u m problema que, no entanto, d i z r e s p e i t o a t o d o s os
professores. A s s i m , seria u m professor, o d e l í n g u a , q u e d e v e r i a re-
solver a questão do fracasso escolar. Em segundo lugar, a eficácia
dessa p e d a g o g i a m o s t r a - s e l i m i t a d a . E certo q u e ela p e r m i t e a o s a l u -
n o s escrever textos c o r r e t o s ; a l é m d i s s o , ela a j u d a a r e s t a u r a r a a u t o -
e s t i m a d o s j o v e n s . P o r é m , ela n e m m e l h o r a o u s o d a l i n g u a g e m n a s
outras d i s c i p l i n a s ou na vida, n e m resolve o p r o b l e m a do fracasso
e s c o l a r fora d o â m b i t o da c o n s t r u ç ã o de textos. S ã o técnicas a s s i m
a p r e n d i d a s p e l o s j o v e n s , n ã o m a i s , e essas t é c n i c a s n ã o v a l e m para
a l é m d a s tarefas p o r m e i o d a s q u a i s f o r a m aprendidas.
Com e f e i t o , essa c o n c e p ç ã o traz problemas também do ponto
de vista teórico. Falar ou escrever n ã o é a p l i c a r regras. Trata-se de
outra coisa, de u m a p r á t i c a que e n v o l v e o c o n t e ú d o d o texto, o
g ê n e r o desse t e x t o , a s i t u a ç ã o d e e x p r e s s ã o e c o m u n i c a ç ã o , u m a ati-
vidade intelectual, u m a d a d a posição no m u n d o do sujeito falando.
F a l a r , escrever, n ã o é d o m i n a r o s i s t e m a d a l í n g u a , a o m e n o s n ã o é
a p e n a s u m a q u e s t ã o d e s i s t e m a . Falar, escrever é fazer u m a certa coi-
sa, é d e s e n v o l v e r u m a p r á t i c a e s p e c í - g u a g e m dos jovens de bairros popu-
fica, p r á t i c a essa c h a m a d a p e l o s pes- lares parece pobre e errada. M a s é
quisadores de prática l i n g u a g e i r a . um erro considerar essa l i n g u a g e m
s e m a n a l i s á - l a c o m r e f e r ê n c i a às situ-
ações nas quais ela é u s a d a e aos
objetivos desse uso, o que leva a
A LINGUAGEM u m a desvalorização da l i n g u a g e m do
jovem, mas também do p r ó p r i o jo-
ENQUANTO MEIO DE v e m , d e s u a c l a s s e s o c i a l , d e seu g r u -
EXPRESSÃO E po cultural. Quando a linguagem
dos jovens de bairros p o p u l a r e s refe-
COMUNICAÇÃO re-se às s i t u a ç õ e s d e v i d a , a compe-
t ê n c i a l i n g ü í s t i c a d e l e s torna-se mani-
A concepção sobre a qual acabei festa (como mostrou Labov já há
de falar d e s t a c a as d e f i c i ê n c i a s n a l i n - muitos anos). Na vida cotidiana,
guagem dos alunos fracassados. Ao c o m s e u s a m i g o s , esses j o v e n s f a l a m ,
contrário, uma outra abordagem da f a l a m c o m f a c i l i d a d e , g o s t a m d e fa-
r e l a ç ã o e n t r e l i n g u a g e m e fracasso es- lar, a i n d a que na sala de aula fi-
colar salienta a pertinência da lingua- q u e m silenciosos (ou falem u n s com
gem popular enquanto m e i o d e ex- outros, ou a t r a p a l h e m o professor...).
pressão e c o m u n i c a ç ã o . C o m o b e m se p o d e ver n o rap, esses
A desvalorização da linguagem jovens considerados i n c a p a z e s d e es-
popular do a l u n o gera efeitos nega- crever p o d e m p r o d u z i r textos poéti-
tivos. Na sala de aula, o a l u n o sofre cos e n a r r a t i v o s exprimindo emo-
de u m a i m a g e m negativa e n ã o ousa ções, s e n t i m e n t o s , experiências.
m a i s falar. O q u e a s s i m está d e s v a l o - Essa v a l o r i z a ç ã o d a s c a p a c i d a d e s
rizado é sua própria identidade e l i n g ü í s t i c a s d o s a l u n o s leva os profes-
seu p r ó p r i o g r u p o , d e tal m o d o que sores a p r o p o r novas tarefas, substi-
às v e z e s o a l u n o opõe-se à própria tuindo as t a r e f a s e s c o l a r e s c l á s s i c a s ,
escola, até c o m v i o l ê n c i a , notadamen- n o v a s t a r e f a s estas c e n t r a d a s s o b r e a
te v e r b a l . A v i o l ê n c i a s i m b ó l i c a da expressão e a c o m u n i c a ç ã o . Atenção,
e s c o l a , ele r e s p o n d e c o m sua própria t o d a v i a . S ã o as f u n ç õ e s expressivas,
violência simbólica. Hoje, pelo con- comunicativas, ligadas à identidade
t r á r i o , s a l i e n t a - s e o fato d e u m a lín- que são v a l o r i z a d a s nessa forma de
g u a n ã o ser a p e n a s u m c o n j u n t o de l i n g u a g e m . As p a l a v r a s são cheias de
palavras e u m sistema sintático, mas sentidos e valores que correspondem
também uma cultura, u m conjunto às p e r t e n ç a s s o c i a i s e c u l t u r a i s e às
de c o s t u m e s sociais e valores. O que identidades coletivas. Os textos são
se d i z n u m a língua é também uma construídos por justaposições de
certa m a n e i r a de viver, de entender enunciados, repetidos muitas vezes
o mundo, de r e l a c i o n a r - s e c o m os para insistir e produzir sentimentos
outros e consigo mesmo. Sendo con- de i m p o r t â n c i a e valor. Tudo isso
siderada enquanto um conjunto de c o n s t i t u i u m a certa p r á t i c a l i n g u a g e i -
palavras e u m sistema sintático, a lin- ra, q u e é p e r t i n e n t e para exprimir o
q u e v i v e m os j o v e n s de b a i r r o s p o p u l a r e s . M a s essa p r á t i c a d e i x a d e
ser pertinente para dominar certos outros usos da l í n g u a , particu-
l a r m e n t e os usos escolares. Esses usos i m p l i c a m q u e o sujeito f a l a n d o
afaste-se d e s u a e x p e r i ê n c i a i m e d i a t a , t o m e d i s t â n c i a , p r o c u r e objeti-
vidade, verdade, confronte-se com textos e discursos além dos
enunciados.
Existem práticas l i n g u a g e i r a s específicas, que estabelecem várias
relações c o m a l i n g u a g e m , o saber, o m u n d o , os o u t r o s e consigo
m e s m o . As d i f e r e n ç a s e n t r e as p r á t i c a s l i n g u a g e i r a s n ã o s ã o a p e n a s
efeitos das diferenças sociais, m a s t a m b é m condições para entrar
n o s v á r i o s u s o s d a l í n g u a e d o m i n á - l o s . Se a e s c o l a t r a n c a r - s e n a s
tarefas de expressão e c o m u n i c a ç ã o , p r e o c u p a d a c o m o reconheci-
mento d a l e g i t i m i d a d e dessas p r á t i c a s , é c e r t o q u e a r e c o n h e c e r á , o
que é bom, mas também d e i x a r á os a l u n o s d e b a i r r o s populares
fora d a s d e m a i s p r á t i c a s l i n g u a g e i r a s , as q u e p e r m i t e m a eles e n t r a r
em novos universos intelectuais, entenderem melhor o mundo, a
v i d a e si m e s m o s , e p o r t a n t o l h e s p e r m i t e m a t i n g i r n o v o s g r a u s d e
l i b e r d a d e . M a s i n i c i a r os j o v e n s n a q u e l a s n o v a s p r á t i c a s n ã o é fácil,
p o r q u e eles f a z e m q u e s t ã o d e f a l a r c o m o f a l a m . S e u j e i t o d e f a l a r
diz a sua i d e n t i d a d e . A o m u d a r essas p r á t i c a s , eles a r r i s c a m trair,
t r a i r o g r u p o e trair-se, a i n d a q u e a m p l i e m o l e q u e d e s u a s r e l a ç õ e s
c o m o m u n d o , c o m os o u t r o s , c o n s i g o mesmos.

UMA ABORDAGEM EM TERMOS DE


PRÁTICAS LINGUAGEIRAS

A a b o r d a g e m m a i s recente da questão pedagógica da l i n g u a g e m


s a l i e n t a as p r á t i c a s l i n g u a g e i r a s , q u e r d i z e r , o u s o d a l i n g u a g e m n ã o
apenas enquanto sistema, mas sobretudo enquanto prática - que é
t a m b é m s o c i a l , c u l t u r a l e p e s s o a l - e m d e t e r m i n a d a s i t u a ç ã o . Essa
a b o r d a g e m destaca a diferença entre l í n g u a e l i n g u a g e m . A l í n g u a é
u m s i s t e m a l e x i c a l e s i n t á t i c o . A l i n g u a g e m , q u e r f a l a d a q u e r escrita,
é u m a p r á t i c a q u e c o n s i s t e e m fazer q u a l q u e r c o i s a c o m a l í n g u a . A
l i n g u a g e m s u p õ e a l í n g u a , m a s n ã o se r e d u z a e l a . C o m a mesma
l í n g u a p o d e m - s e ter p r á t i c a s l i n g u a g e i r a s de objetivos e f o r m a s muito
d i f e r e n t e s . Pode-se p e d i r o u d a r u m a i n f o r m a ç ã o , e x p r e s s a r e m o ç õ e s ,
a g i r s o b r e os o u t r o s a r g u m e n t a n d o , m a n d a n d o , s e d u z i n d o , mentin-
do..., e x i b i r sua i d e n t i d a d e e pertença social e c u l t u r a l , pensar, a n a l i s a r
u m texto, etc. Pode-se t a m b é m falar e n q u a n t o se faz o u t r a a t i v i d a d e
m a i s i m p o r t a n t e : e n q u a n t o se trabalha, fala-se c o m u m colega, e n q u a n -
to se assiste a t e l e v i s ã o , fala-se c o m s u a f a m í l i a . . . A p e s a r d e suporem
c o m p e t ê n c i a s l i n g ü í s t i c a s , essas práticas
n ã o são s i m p l e s m e n t e aplicações dessas
competências.
Falar em práticas linguageiras é
insistir sobre a a t i v i d a d e de u m su-
jeito social em situação.
A prática linguageira é u m a prá-
t i c a s o c i a l . P r i m e i r o , p o r q u e o sujei-
to m e s m o é social: ele a p r e n d e u a
falar por m e i o de sua s o c i a l i z a ç ã o
familiar e seu r e l a c i o n a m e n t o com
o u t r o s j o v e n s ; o q u e e c o m o ele fala
d i z r e s p e i t o a o q u e ele é d e u m pon-
to de v i s t a s o c i a l . S e g u n d o , a p r á t i c a
l i n g u a g e i r a é s o c i a l p o r q u e se f a l a
e m s i t u a ç õ e s s o c i a i s , s e n d o as p r á t i -
cas l i n g u a g e i r a s a r t i c u l a d a s c o m ou-
tras p r á t i c a s s o c i a i s ( t r a b a l h a r , b r i g a r ,
n a m o r a r . . . ) . Pelo fato de a prática
l i n g u a g e i r a ser s o c i a l , ela é e s t r u t u r a -
da por n o r m a s que v a r i a m conforme
os m e i o s s o c i a i s .
T o d a v i a , seria u m e r r o r e d u z i r a
análise das práticas l i n g u a g e i r a s à ques-
tão da n o r m a l i z a ç ã o social. Primeira-
mente, o sujeito investe sua própria
s u b j e t i v i d a d e n a s s i t u a ç õ e s s o c i a i s e,
nas p r á t i c a s l i n g u a g e i r a s , ele entra
nelas com toda sua história. Em se-
gundo lugar, por mais social que
seja, u m a p r á t i c a l i n g u a g e i r a e n v o l v e
t a m b é m certa p o s t u r a d o s u j e i t o , cer-
ta r e l a ç ã o c o m a l i n g u a g e m - r e l a ç ã o
essa q u e v a r i a c o n f o r m e as especifici-
d a d e s d a s p r á t i c a s l i n g u a g e i r a s . En-
q u a n t o o sujeito está f a l a n d o , ele t e m
de a d o t a r certa postura, a que per-
m i t e a s u a p r á t i c a ser e f i c a z . O su-
jeito a r g u m e n t a n d o , contando, man-
dando, paquerando n ã o está e n v o l v i -
do em iguais relações c o m o mun-
d o , c o m os o u t r o s , c o n s i g o mesmo.
Afinal, na medida em que uma
prática linguageira é mais ou menos
eficaz, ela a t i n g e m a i s ou m e n o s seus Os usos cognitivos da lingua-
objetivos. Para explicar algo, expres- gem exigem também que o aluno
sar s e n t i m e n t o s , mandar, seduzir, s a i a da p o s t u r a d o "Eu mesmo" liga-
importa o jeito de falar. Conforme do à vivência e à relação prático-
esse j e i t o , pode-se ser m a i s o u menos afetiva c o m o m u n d o p a r a e n t r a r na
b e m - s u c e d i d o . Isto é, e x i s t e m normas postura do "Eu" do pensamento, da
na atividade, u m a n o r m a t i v i d a d e in- r e l a ç ã o r e f l e x i v a c o m o m u n d o e os
terna q u e n ã o deve ser confundida discursos. Para bem entender a dife-
c o m a n o r m a l i z a ç ã o social r e l a c i o n a d a r e n ç a e n t r e a m b a s as p o s t u r a s , pode-
às r e l a ç õ e s d e dominação. se r e m e t e r à d i f e r e n ç a e n t r e " d a r s u a
Para e n t e n d e r a r e l a ç ã o entre l i n - opinião" e "pensar" ou "argumentar".
g u a g e m e fracasso e s c o l a r , deve-se le- Para dar sua o p i n i ã o , uma pessoa
var e m c o n s i d e r a ç ã o a tripla d i m e n s ã o irá evocando princípios importantes
d a s p r á t i c a s l i n g u a g e i r a s : elas são soci- e experiências vividas por ela: é o
ais, s u b j e t i v a s e m a i s o u m e n o s efica- "Eu m e s m o " q u e está d a n d o s u a opi-
zes. N ã o h á d ú v i d a d e q u e a escola é n i ã o . Para pensar, o sujeito tem de
u m lugar em que existem desigualda- argumentar, i s t o é, d a r argumentos,
d e s s o c i a i s - e, p o r i s s o , e l a t e m de m a s t a m b é m p e n s a r n a s objeções que
e s t a r a t e n t a a q u e as p r á t i c a s d e ex- u m outro sujeito poderia lhe opor e
pressão e c o m u n i c a ç ã o dos jovens de o r g a n i z a r seus p r ó p r i o s argumentos
bairros populares não sejam desvalo- p a r a q u e estes n ã o a p e n a s apresentem
rizadas. M a s a escola é t a m b é m um suas idéias, e s i m r e s p o n d a m às obje-
l u g a r d e a p r e n d i z a g e m , f o r m a ç ã o , re- ções d o o u t r o s u j e i t o - q u e fica vir-
flexão, u m lugar cognitivo ligado à t u a l , q u e d e v e ser c r i a d o p e l o sujeito
c u l t u r a e s c r i t a . O r a , os u s o s cogniti- argumentando. Além disso, vários
vos da l i n g u a g e m s u p õ e m certas rela- sujeitos v i r t u a i s p o d e m a s s i m interfe-
ções c o m a l i n g u a g e m , certas p o s t u r a s rir, o p o n d o a r g u m e n t o s contraditó-
d o sujeito, certas n o r m a s i n t e r n a s das rios... A d i f e r e n ç a f u n d a m e n t a l entre
atividades. " d a r s u a o p i n i ã o " e " p e n s a r " está n a
Esses u s o s e x i g e m d o a l u n o s a i r postura do sujeito. E difícil para
de u m a r e l a ç ã o i m e d i a t a c o m a lin- um aluno entender essa d i f e r e n ç a , e
guagem, entender que a l i n g u a g e m é t a n t o m a i s d i f í c i l se n i n g u é m lhe
n ã o serve s i m p l e s m e n t e para dizer o explica...
que é o m u n d o , mas também permi- Aí f i c a m fontes f u n d a m e n t a i s de
te c o n s t r u i r universos intelectuais, fracasso escolar: n a r e l a ç ã o c o m a l i n -
desenvolver u m a atividade intelectual guagem, que é também relação com
específica. Escrever poesia, estudar o saber, a escola, o m u n d o , os ou-
m a t e m á t i c a , e s t u d a r h i s t ó r i a , isso n ã o tros, c o n s i g o mesmo.
é dizer o m u n d o como se a l i n g u a - Acho que o ponto-chave é pos-
g e m fosse t r a n s p a r e n t e e não fizesse sibilitar aos a l u n o s e n t e n d e r que a
nada mais do que mostrar o que l i n g u a g e m p e r m i t e ao m e s m o tempo
existe, é s i m fazer m u n d o s existirem, dizer, fazer e ser, d i z e r o mundo,
por meio de u m certo uso da lin- fazer t e x t o s , ser e n q u a n t o se é o a u -
guagem, das práticas linguageiras. tor desses textos. C o n s t a t a m o s em
n o s s a s p e s q u i s a s q u e os a l u n o s f r a c a s s a m q u a n d o eles n ã o podem
entrar nessas práticas l i n g u a g e i r a s , nessa relação c o m a l i n g u a g e m .
N ã o se deve e s q u e c e r q u e essa r e l a ç ã o é t a m b é m u m a r e l a ç ã o c o m
o mundo, a v i d a , os o u t r o s , c o n s i g o m e s m o . O d e s a f i o é e s c o l a r ,
mas é igualmente social. Ao entender que falar e escrever é tam-
b é m fazer e ser, pode-se e n t e n d e r q u e f a l a n d o e e s c r e v e n d o trata-se
i g u a l m e n t e de m u d a r o m u n d o e de mudar-se, n o t a d a m e n t e d e di-
minuir as d e s i g u a l d a d e s s o c i a i s e n t r e os q u e f a l a m dentro do
mundo e os q u e f a l a m sobre o mundo. •

NOTA

1 Este artigo é adaptado da palestra ministrada no Encontro Nacional de


Estudantes de Letras (EXNEL), em Cuiabá, em 1 8 de julho de 2000. Na
nossa equipe de pesquisa, é a professora Elisabeth Bautier a especialista da
questão da linguagem. Estou utilizando aqui os nossos escritos comuns,
mas também os dela. S o b r e as q u e s t õ e s das quais estou falando neste texto,
pode-se ler, n o t a d a m e n t e : B. Chariot, E. Bautier e J.-Y. Rochex, Ecole et
savoir dans les banlieues... et ailleurs, P a r i s , A . C o l i n , 1 9 9 2 ; É. B a u t i e r , Pra-
tiques la ngagières, pratiques sociales, Paris, L'Harmattan, 1 9 9 5 ; B. C h a r i o t ,
Le rapport au savoir en milieu populaire, Paris, A n t h r o p o s , 1 9 9 9 ; B.
C h a r i o t , Da relação com o saber. Elementos para uma teoria, Porto Alegre,
Artes Médicas, 2 0 0 0 . Sei que a palavra "linguageira" não existe em portugu-
ês; ela corresponde à palavra francesa "langagière", que também não existe
no francês corrente. Os pesquisadores usam essa palavra por razões teóri-
cas, esclarecidas ao longo deste artigo.

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