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Aula 12 – A CORAGEM DO APÓSTOLO PAULO DIANTE DA MORTE

TEXTO BASE: ATOS 21:7-15

“E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de
Jesus se manifeste também em nossa carne mortal” (2Co.4:11).

V.P: “O Espírito Santo nos prepara para sofrer por Jesus Cristo e suportar as angústias e aflições na obra
de Deus”.

INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da “coragem de Paulo diante da morte”. Durante todo o seu ministério, desde a sua
conversão, Paulo correu risco de morte, mas nunca a temeu. Ele sempre estava preparado para esse momento. Isto era
o resultado concreto da dimensão profunda da fé salvífica que dominava a sua vida. Para ele, ter de escolher entre estar
com Cristo e permanecer neste mundo, não havia dúvida: escolheria estar com Cristo. Para Paulo, permanecer neste
mundo só se justificaria se fosse para desgastar-se pela causa do Evangelho. Certa feita ele disse: “Mas em nada tenho a
minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira” (Atos 20:24).
Ser chamado para cumprir uma missão para o Reino de Deus tem um custo alto, muitas vezes, a própria vida.
Não se deve pensar em amenidades quando o assunto é trabalhar para Cristo de forma dedicada e abnegada. O inimigo
nunca deixa o missionário e o evangelista livre de perseguição. Ele sabe que pregar o evangelho é a mais poderosa força
que Jesus colocou na sua Igreja para livrar as pessoas da perdição eterna. Por isso, o pregador do evangelho nunca está
livre da perseguição e do risco de morte. Mas, aquele que tem a coragem que Paulo tinha, está pronto a dizer:
“Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp.1:21).

I. A CONSCIÊNCIA DE PAULO QUANTO A PADECER POR JESUS


1. A insistência de Paulo em ir a Jerusalém
Depois de cumprir o tempo de sua Terceira Viagem Missionária, Paulo se despede dos pastores da cidade de
Éfeso e propõe em seu coração viajar a Jerusalém, mesmo sabendo que lá lhe aguardavam tribulações e cadeias (Atos
20:22,23). Apesar dos avisos que ele padeceria em Jerusalém (Atos 20:23), não arrefeceu o seu ânimo, insistiu em ir
(Atos 20:22). Com relação às tribulações e prisões que sofreria em Jerusalém, ele disse: “nada considero a vida preciosa
para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o
evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24). Ao que parece, tratava-se de uma compulsão interior que ele não podia
ignorar. Paulo sabia que cadeias e tribulações se tornaram parte de sua vida. Segundo Lucas, o Espírito Santo vinha
revelando esse fato ao apóstolo de cidade em cidade (Aos 20:23), talvez por intermédio do ministério de profetas, ou
talvez pela comunicação interior misteriosa dos desígnios de Deus.
Mesmo sabendo que haveria de padecer em Jerusalém, Paulo não considerou sua vida preciosa para si mesmo
(Atos 20:24). Seu maior desejo era agradar e obedecer a Deus; cumprir a missão que Jesus estabelecera para ele: levar
a mensagem do evangelho sob quaisquer circunstâncias. Se, para isso, fosse necessário oferecer sua vida, estava
disposto a entregá-la. Tendo em vista Aquele que havia morrido por ele, nenhum sacrifício era grande demais;
importava-lhe apenas completar a sua carreira e o ministério que havia recebido do Senhor Jesus para testemunhar o
evangelho da graça de Deus (Atos 20:24).
Nenhum título poderia expressar de maneira mais apropriada o evangelho que Paulo pregava do que este: “o
evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24). Esta é a mensagem que toca profundamente e trata do favor de Deus
concedido aos pecadores culpados e ímpios que não mereciam outra coisa senão a eternidade no inferno. Esta
mensagem conta como o Filho do amor de Deus se despiu da glória suprema do Céu para sofrer, derramar seu sangue e
morrer no Calvário a fim de oferecer o perdão dos pecados e a vida eterna a todos os que creem nEle.
Paulo tinha sido avisado em muitos lugares que seu sofrimento era inevitável, tanto em Jerusalém como em
Cesareia; mesmo assim não desistiu do seu intento. É preciso que todos os que são chamados para cumprirem a Grande
Comissão tenha pleno discernimento das circunstâncias por fazer a vontade de Deus.

2. De Mileto para Tiro


Paulo estava de malas prontas para viajar rumo a Jerusalém. Seria a última vez que o velho apóstolo colocaria os
pês na cidade de Davi. Embora um dos propósitos da sua viagem fosse levar uma oferta colhida entre os crentes gentios
para os crentes judeus, ele sabia que as estações do futuro lhe reservavam cadeias e tribulações. Paulo não nutria
esperanças falsas; sabia que seria preso; não caminhava na direção dos holofotes, mas rumo à prisão e à morte. Paulo
chegou a pedir oração à Igreja de Roma para não ser morto pelos rebeldes judeus nessa arriscada viagem a Jerusalém
(cf. Rm.15:30,31).
Com destemor, Paulo partiu para o seu destino, que era Jerusalém. Nada mais o prenderia de cumprir esta
missão, pois achava que era da vontade Deus. Depois de uma despedia afetuosa em Mileto, porto nas proximidades de
Éfeso, ele tomou uma embarcação que ia para a cidade de TIRO, na Fenícia (Atos 21:6,7). Mas para chegar até Tiro, ele
passou por várias cidades.
Segundo a narração de Lucas em Atos 21:1-6, primeiramente, Paulo e seus companheiros navegaram para a
ILHA de CÓS, pequena ilha ao sul de Mileto, onde passaram a noite. No dia seguinte, prosseguiram para a ilha de
RODES, a sudoeste. Depois de deixarem a extremidade norte da ilha, navegaram para o leste em direção a PÁTARA, um
porto marítimo da Lícia, na costa sul da Ásia Menor. Em Pátara, embarcaram num navio que ia para a Fenícia, a região
litorânea da Síria, da qual TIRO era uma das principais cidades. Ao cruzarem o Mediterrâneo em direção ao sudoeste,
passaram próximo da ilha de Chipre. Sua primeira parada na Palestina foi TIRO. Uma vez que o navio devia ser
descarregado naquele porto, Paulo e os outros procuraram os cristãos que viviam na cidade e ficaram com eles sete dias
(Atos 21:4).
Durante a semana que Paulo passou com esses cristãos de Tiro, eles, movidos pelo Espírito, recomendaram ao
apóstolo que não fosse a Jerusalém (Atos 21:4b). Após uma semana entre os crentes de Tiro, Paulo se despediu em
clima de profunda emoção e cordialidade. Esses irmãos oraram de joelhos na praia pelo e com o apóstolo (Atos 21:3-5).
Foi uma demonstração clara de amor cristão. Ali havia o bálsamo espiritual misturado à tristeza da despedida. Esse
episódio mostra o quanto devemos orar pelos outros e pelos missionários que se dedicam com integridade e lealdade na
Obra do Senhor, principalmente, quando eles se encontram numa missão espiritual. Após isso, Paulo prosseguiu sua
viagem rumo a Jerusalém (Atos 21:5,6).

3. Passando por Cesareia


Depois de Tiro, a próxima parada foi Ptolomada (Atos 21:7), uma cidade portuária acerca de quarenta
quilômetros ao sul de Tiro, conhecida hoje como Akko (Acre), próximo a Haifa. Seu nome era uma homenagem a
Ptolomeu. O navio ficou ali um dia, e os servos do Senhor tiveram tempo de procurar os irmãos que viviam na cidade. No
dia seguinte, embarcaram para a parte final da viagem, os cinquenta quilômetros até CESARÉIA (Atos 21:8). Nesta
cidade, ficaram hospedados na casa de Filipe, o evangelista (que não deve ser confundido com o apóstolo de mesmo
nome). Esse Filipe foi escolhido para ser diácono na Igreja de Jerusalém; pregou o evangelho em Samaria e levou o
eunuco etíope a Cristo.
Paulo se hospedou na casa de Filipe, que fugira de Jerusalém por causa da perseguição, quando Estêvão, seu
companheiro, foi morto com a participação de Saulo. No passado, Filipe teve que fugir do perseguidor Saulo; agora, os
dois estão juntos como irmãos; o perseguidor como hóspede na casa do perseguido. O evangelho é realmente
transformador!
Filipe se estabelecera na cidade havia cerca de vinte anos (Atos 8:40); desde então, sua família crescera. Ele era
pai de quatro filhas donzelas, que tinham o dom de profecia (Atos 21:9); isto significa que elas tinham o dom concedido
pelo Espírito Santo de receber mensagens diretamente do Senhor e transmiti-las a outros.
Durante a estada de Paulo em Cesaréia, desceu da Judeia um profeta chamado Ágabo (Atos 21:10). Outrora,
esse mesmo profeta havia ido de Jerusalém a Antioquia da Síria e predito a fome que ocorreria durante o governo de
Cláudio (Atos 11:28). Em Cesaréia, ele tomou o cinto de Paulo e usou-o para amarrar os próprios pés e mãos. Utilizando
do mesmo método de muitos profetas antes dele, Ágabo transmitiu sua mensagem por meio de uma dramatização e
interpretou-a em seguida (Atos 21:10,11). Assim como ele havia amarrado os próprios pés e mãos, os judeus em
Jerusalém amarrariam os pés e mãos de Paulo e o entregariam às autoridades gentias. Paulo seria prezo pelos judeus em
decorrência de seu serviço a ele (simbolizado pelo cinto).
Quando os companheiros do apóstolo e os cristãos de Cesaréia ficaram sabendo disso, rogaram a Paulo que não
subisse a Jerusalém (Atos 21:12), mas ele não compartilhava dessa preocupação. As lágrimas dos irmãos serviram
apenas para partir o coração do apóstolo. Por mais que os irmãos o advertissem do sofrimento que ele passaria em
Jerusalém, não o impediu de fazer aquilo que, a seu ver, era da vontade de Deus. Informou-os que estava ”pronto não
só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (Atos 21:13). Paulo agiu como alguns
soldados da Guerra Civil Espanhola: “prefiro morrer de pé a viver de joelhos”. Uma vez que Paulo estava determinado ir a
Jerusalém, mesmo sabendo que acabaria sendo preso, só restou os irmãos dizer a Paulo: “faça-se a vontade do Senhor!”
(Atos 21:14).

II. A CORAGEM PARA ENFRENTAR AS AMEAÇAS DE MORTE


1. A coragem do apóstolo pela voz do Espírito
Os cristãos de Éfeso, os cristãos de Tiro e os cristãos de Cesaréia esforçaram-se para dissuadir o apóstolo Paulo de
ir a Jerusalém, pois segundo eles, Paulo sofreria cadeias e prisão, e seria entregues as autoridades gentias, mas não
conseguiram. Paulo estava convicto de que Deus estava no controle de tudo isso. Note que em Mileto Paulo disse aos
presbíteros de Éfeso que estava indo a Jerusalém “obedecendo ao Espírito Santo” (Atos 20:22, BLH), apesar das cadeias
e tribulações. Lucas narra assim:
“E, agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o
Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações” (Atos 20:22,23).
A grande questão é como conciliar essa convicção de Paulo com as profecias recebidas em Tiro (Atos 21:4) e
Cesaréia (Atos 21:11), pois em ambas o Espírito Santo é evocado. Em Tiro, as pessoas que falaram foram movidas pelo
Espírito, e em Cesaréia, Ágabo afirmou: “Isto diz o Espírito Santo”. Apesar disso, Paulo ignorou as duas mensagens e
prosseguiu rumo a Jerusalém (Atos 21:14). Como resolver esse problema? John Stott afirmou assim acerca disto: “Com
certeza não se pode concluir que o Espírito Santo se contradisse, ordenando a Paulo que fosse, no capítulo 20, e
anulando sua instrução no capítulo 21.
John Stott defende que a melhor solução para esse impasse é fazer uma distinção entre uma predição e uma
proibição. Com certeza, Ágabo apenas predisse que Paulo seria amarrado e entregue aos gentios (Atos 21:11); os apelos
subsequentes a Paulo não são atribuídos ao Espírito e podem ter sido deduções falíveis feitas por homens, por causa da
profecia proferida. Pois, se Paulo tivesse ouvido os apelos de seus amigos, a profecia de Ágabo não teria se cumprido.
Para Warren Wiersbe, os pronunciamentos proféticos podem ser entendidos como avisos (“prepare-se”), não como
proibições (“você não deve ir”). O propósito de Lucas é mostrar que, à semelhança de Jesus, Paulo manifestou no seu
rosto a intrépida resolução de ir a Jerusalém, mesmo sabendo o que lhe esperava nessa cidade.
Em vez de considerarmos que Paulo se recusou a obedecer a uma profecia, devemos admirá-lo por sua coragem
e perseverança, pois não recusou nem mesmo diante da profecia de seu sofrimento. Ao ir a Jerusalém, ele tomou a vida
nas próprias mãos, a fim de resolver o problema mais premente da Igreja: a fenda cada vez mais larga entre os judeus
legalistas da “extrema direita” e os cristãos gentios. Precisamos entender a voz do Espírito Santo em todas as nossas
decisões.

2. A chegada em Jerusalém
De Cesaréia para Jerusalém - uma distância de 80 quilômetros por terra. Ao chegar em Jerusalém, Paulo ficou
hospedado na casa de um dos companheiros de viagem – um irmão em Cristo chamado Mnasom (Atos 21:15,16); ele
era natural de Chipre, e um dos primeiros discípulos de Jesus na Ilha. Ele estava morando em Jerusalém e teria o
privilégio de hospedar Paulo e seus companheiros na última visita do apóstolo àquela cidade.
Ao chegar a Jerusalém, o apóstolo e seus amigos foram recebidos com toda a cordialidade pelos irmãos (Atos
21:17). No dia seguinte, realizou-se uma reunião com Tiago, e todos os presbíteros (Atos 21:18). Há um consenso entre
os estudiosos de que esse Tiago era irmão do Senhor; ele era um dos principais líderes da Igreja em Jerusalém (Gl.2:9).
Durante esse encontro, Paulo contou minuciosamente o que Deus fizera entre os gentios por seu ministério (Atos 21:19).
Seu relatório foi motivo de grande alegria (Atos 21:19).

3. Paulo se depara com seus oponentes judeus


Quando os apóstolos e os demais irmãos presentes ouviram o relatório de Paulo a respeito do que Deus estava
operando entre os gentios, “eles deram glória a Deus e disseram: bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares há entre
os judeus que creram, e todos são zelosos da lei” (Atos 21:20).
Depois de um relatório tão brilhante e motivador, os judaizantes se preocuparam logo em relatar as fofocas
trazidas por aqueles que estavam presos ao judaísmo tradicional (Atos 21:21). Esses judeus queriam um cristianismo
judaizante, com costumes e ritos, tais como a circuncisão, a guarda do sábado, as festas, entre outros.
Os “grupos judaizantes” existem desde o início da história da Igreja, tendo sido a causa da realização do
chamado “Concílio de Jerusalém”, a primeira reunião cristã para dirimir dúvidas e questões doutrinárias, registrada em
Atos 15, cuja conclusão é a base para o repúdio a estes ensinamentos que, ainda hoje, persuadem e colocam em risco
milhares de almas que aceitaram a Cristo como seu Salvador. Neste primeiro Concílio ficou decidido que a observância da
lei não era exigível aos gentios, porque não havia qualquer papel a ser exercido pela lei na salvação do ser humano.
Ficou estabelecido, para que não houvesse mais dúvidas, que os gentios deveriam, tão somente, absterem-se das coisas
sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da fornicação (At.15:29), não se devendo, pois, cumprir a lei
judaica, nem mesmo a guarda do sábado. Mas, por que o Espírito Santo assim decidiu, usando dos apóstolos e anciãos
da Igreja primitiva no concílio de Jerusalém? Porque o Espírito Santo sabia que ao longo da história da Igreja, os crentes
seriam perturbados de novo pela “doutrina judaizante”, doutrina esta que dentro da sua sutileza, também tem como
objetivo menosprezar o sacrifício vicário de Cristo na cruz do Calvário.
Na medida em que exigimos a observância da lei mosaica para a salvação da pessoa, estamos a dizer que o
sacrifício de Jesus é insuficiente para que o ser humano seja salvo, que a pessoa somente será salva se fizer as obras da
lei, o que equivale a dizer que Jesus não é o Salvador. Entretanto, a Bíblia é claríssima ao mostrar que as obras da lei são
incapazes de salvar o homem e que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei (Rm.3:28). A defesa da guarda da
lei é, pois, uma demonstração de incredulidade no poder do sacrifício de Cristo.
E agora, novamente, os judaizantes foram os principais perseguidores do apóstolo Paulo, acusando-o de pregar
contra a lei (Atos 21:28). Paulo podia muito bem ter rebatido essas acusações, mas diante do espírito conciliatório que
ele sempre apresentava, mais uma vez preferiu não destratar a cultura e tradição judaica. E em comum acordo com o
pastor de Jerusalém, Tiago, ele se dispunha passar por alguns rituais de purificação a fim de acalmar os escrúpulos dos
judeus. Paulo se submeteu a isto, para o bem da evangelização e/ou pelo bem da solidariedade judaica-gentia.

III. ACUSAÇÕES E A PRISÃO DE PAULÒ NO TEMPLO


1. As acusações mentirosas contra Paulo
A notícia da chegada de Paulo rapidamente se espalhou pela cidade de Jerusalém. A ocasião era festiva, e
Jerusalém estava recebendo judeus de todas as partes do Império Romano para a tradicional festa de Pentecostes.
Contudo, os irmãos judeus estavam apreensivos; anteviam problemas que poderiam surgir em decorrência dos boatos de
que Paulo havia ensinado e pregado contra a Lei de Moises. Paulo estava sendo acusado especialmente de ensinar todos
os judeus em terras estrangeiras a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não deviam circuncidar os filhos, nem andar
segundo os costumes judaicos (Atos 21:20-22). Mas, era isso mesmo que o apóstolo ensinava? De fato, ele ensinava que
Cristo era o fim da Lei para a justiça daqueles que creem. Afirmava que, com o advento da fé cristã, os judeus que
aceitavam Cristo não se encontravam mais sob a Lei. Ensinava, também, que, se um homem recebia a circuncisão como
meio de obter a salvação, desligava-se da salvação em Jesus Cristo, pois voltar aos tipos e sombras da Lei depois da
vinda de Cristo era uma afronta a Cristo. Não é difícil entender, portanto, o ódio dos judeus pelo apóstolo.
Os irmãos judeus em Jerusalém traçaram um plano para apaziguar seus compatriotas cristãos e incrédulos.
Sugeriram que Paulo fizesse um voto judaico. Quatro homens já estavam no processo de fazer esse voto. Paulo devia
purificar-se com eles e pagar a despesa necessária (Atos 21:23,24). O texto não fornece detalhes acerca desse voto
judaico; porém, deixa claro que, ao ver o apóstolo cumprir o ritual associado ao voto, seus compatriotas teriam provas de
que ele não estava induzindo outros a se desviarem da Lei de Moisés. Seria uma indicação para os judeus de que o
próprio Paulo guardava a Lei.
Segundo Willian Macdonald, a atitude do apóstolo ao tomar sobre si esse voto judaico é defendido por alguns e
criticada por outros. Em defesa de Paulo, argumenta-se que ele estava agindo de acordo com o próprio princípio de ser
“tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1Co.9:19-23). Em contrapartida, Paulo é
criticado por ir longe demais na tentativa de aplacar os judeus e, portanto, dar a impressão de estar debaixo da Lei. Em
outras palavras, Paulo é acusado de ser incoerente com sua convicção de que os cristãos não estão sujeitos à Lei, nem
para sua justificação nem como norma de vida. Somos propensos a concordar com essa crítica, mas devemos tomar
cuidado ao julgar a motivação do apóstolo. William Barclay afirma que há momento em que fazer concessões não denota
fraqueza, mas força. Paulo queria naquela ocasião evitar problemas e divisões. Todo seguidor de Cristo deve estar pronto
contra as falsas acusações dos oponentes da fé, quer os de fora, quer os de dentro.

2. A prisão do apóstolo e o enfrentamento contra seus algozes


Mesmo demonstrando seu lado judaico com ações, Paulo foi atacado e preso pelos judeus impiedosos e incrédulos
(Atos 21:27-32). Era a Festa de Pentecostes, e havia milhares de judeus em Jerusalém de todas as partes do mundo. Os
judeus incrédulos vindos da Ásia, ao verem Paulo no Templo, movidos pelo preconceito inflexível e pela violência
fanática, numa atitude completamente diferente dos líderes da Igreja de Jerusalém, alvoroçaram o povo e prenderam
Paulo com extrema violência. Assim narra Lucas:
“Quando já estavam por findar os sete dias, os judeus que tinham vindo da província da Ásia, ao verem Paulo no
templo, alvoroçaram todo o povo e o agarraram, gritando: — Israelitas, socorro! Este é o homem que por toda
parte anda ensinando todos a serem contra o povo, contra a Lei e contra este lugar. E mais ainda: introduziu até
gregos no templo e profanou este recinto sagrado. Disseram isso, pois antes tinham visto Trófimo, o efésio, em
sua companhia na cidade e pensavam que Paulo o havia levado para dentro do templo. Toda a cidade ficou em
grande alvoroço, e o povo veio correndo. Agarraram Paulo e o arrastaram para fora do templo; e imediatamente
as portas foram fechadas. Procurando eles matá-lo, chegou ao conhecimento do comandante das tropas romanas
que toda a Jerusalém estava amotinada. Então este, levando logo soldados e centuriões, correu para o meio do
povo. Ao verem chegar o comandante e os soldados, pararam de espancar Paulo” (Atos 21:27-32).
Pr. Hernandes Dias Lopes argumenta que os judeus foram os grandes adversários de Paulo e os grandes
opositores do evangelho. Foram os judeus que por todos os cantos provocaram tumultos e agora mais uma vez
alvoroçam a multidão contra o servo do Senhor. Nesse clima de motim, os judeus agarraram e prenderam Paulo com
violência.
Os judeus radicais acusaram Paulo de profanar o Templo, introduzindo Trófimo, o efésio, no recinto sagrado. As
acusações foram tidas por verdadeiras e a multidão se arremeteu contra Paulo com ensandecida violência. Na verdade,
Paulo não estava profanando o Templo, mas passando pela cerimônia de purificação, exatamente para não cometer
profanação. Antes de investigar a veracidade das acusações e antes de oferecer ao acusado chance de defesa, os judeus
deliberaram matá-lo.
Embora não haja como comparar os sofrimentos de Cristo (que foram vicários) com os sofrimentos de Paulo,
Lucas coteja o que Cristo enfrentou em Jerusalém com os sofrimentos de Paulo - ambos foram rejeitados pelo povo e
presos sem motivo; ambos foram acusados injustamente e prejudicados por testemunhas falsas; ambos apanharam no
rosto diante do tribunal; ambos foram vítimas de planos secretos dos judeus; ambos ouviram o barulho aterrorizante de
uma multidão que gritava: “mata-o”; ambos foram sujeitados a uma série de cinco julgamentos – no caso e Cristo: por
Anás, pelo Sinédrio, pelo rei Herodes Antipas e duas vezes por Pilatos; no caso de Paulo: pela multidão, pelo Sinédrio,
pelo rei Herodes Agripa II e por dois procuradores, Felix e Festo.
Atualmente, no mundo inteiro, principalmente nos países comunistas e nos países islâmicos, milhares de cristãos
têm sua liberdade cerceada por causa de sua fé em Cristo. Não esqueçamos deles; devemos orar continuamente por
eles.

3. Paulo dialoga com Lisias (Atos 21:37-40)


Quando a multidão de judeus estava prestes a concretizar a sua danosa intenção contra Paulo, ocorreu uma
intervenção providencial. O comandante Claudio Lísias foi informado do motim e imediatamente se dirigiu à praça do
Templo com sua soldadesca, abortando a intenção dos judeus. Os judeus cessaram de espancar Paulo quando o
comandante mandou acorrentá-lo, para saber quem era e o que havia feito o prisioneiro. Nesse ínterim a multidão
ensandecida gritava de forma desordenada sem saber por que vociferava contra o apóstolo. Por essa razão o
comandante mandou recolher Paulo à fortaleza Antônia – quartel-general da força de ocupação romana – para não ser
despedaçado pela multidão tresloucada, que clamava pela sua morte. A multidão gritava “mata-o” (Atos 21:36), da
mesma forma que, quase trinta anos antes, outra multidão gritava contra outro prisioneiro, Jesus Cristo (Lc.23:18).
Quando estavam prestes a recolher Paulo à fortaleza, o apóstolo perguntou ao comandante se podia dizer algo.
O comandante Lísias ficou surpreso de ouvir Paulo falar em grego (Atos 21:37). Ao que parece, ele pensava ter prendido
um egípcio que havia incitado uma rebelião e conduzido ao deserto quatro mil salteadores (Atos 21:38). Mais que
depressa, Paulo lhe garantiu que era judeu natural de Tarso, uma cidade da Cilícia (Atos 21:39). Assim, era originário de
uma cidade importante. Tarso era conhecida como um centro de cultura, ensino e comércio. Como Paulo se declarou
cidadão romano, Lísias não mais o confundiu com esse egípcio rebelde e mudou a forma de tratamento com o apóstolo.
Com sua intrepidez de sempre, o apóstolo pediu permissão para falar ao povo. Obtida a permissão, Paulo, em pé
na escada, fez com a mão sinal para aquietar a multidão. O silêncio foi tão grande quanto o tumulto que o havia
precedido (Atos 21:40). Paulo estava pronto para dar seu testemunho aos judeus de Jerusalém. Mesmo ferido pelos
açoites, manchado com o próprio sangue, mas estimulado pelo sentimento de martírio pelo seu Senhor, o apóstolo não
perdeu a oportunidade de usar sua defesa para proclamar o Evangelho. Concordo com o argumento do pr. Elienai Cabral
ao afirmar que “as vezes somos provados por Deus e percebemos que sua vontade é para que o Evangelho seja
anunciado por meio de nós ao enfermo no hospital, ao preso numa penitenciária, ao viciado numa cracolândia ou em
qualquer outra circunstância desconfortável que Ele nos colocar. Estejamos atentos para os caminhos que o Espírito
Santo quer nos levar”.

CONCLUSÃO
A coragem de Paulo diante da morte tinha como base a esperança cristã no porvir. Se cultivarmos diariamente
essa esperança, tendemos a perder o medo do tempo presente. Quem perde esse medo é capaz de fazer coisas
extraordinárias. Se cultivarmos a verdadeira esperança no porvir, lidaremos melhor com as coisas presentes. Quanto
mais ligados ao futuro celestial, melhor lidaremos com o presente mundo material. É tempo de aprofundar essa certeza
cristã invisível, para viver num mundo visível, materialista e anticristão. Paulo tinha essa certeza, por isso enfrentava a
morte com destemor. Ele assim nos consola: “Por que a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso
eterno de glória mui excelente” (2Co.4:17). Atentemos para essência do que Jesus nos ensinou: “o meu Reino não é
deste mundo” (João 18:36).

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