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MANUAL DE FORMAÇÃO

UFCD: Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância 25 H

Manual elaborado por: Ana Sofia Lopes


Manual de Formação UFCD 9632 – 25h

ÍNDICE

I. Introdução ...................................................................................................................................................................... 3
II. A intervenção Precoce ............................................................................................................................................... 5
a. Porquê intervir precocemente? .............................................................................................................................. 5
b. A Intervenção Precoce é eficaz? ............................................................................................................................ 6
c. Quais os aspetos essenciais para a eficácia da Intervenção Precoce? .................................................... 7
d. Breve Perspetiva da Intervenção Precoce .......................................................................................................... 8
e. Sistema Nacional de Intervenção Precoce -SNIPI ......................................................................................... 11
III. O papel do profissional ...................................................................................................................................... 12
IV. BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................................................... 14
V. GLOSSÁRIO .................................................................................................................................................................. 16

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I. INTRODUÇÃO
O manual de formação que se apresenta incide sobre vários conteúdos programáticos que auxiliam

no entendimento da Intervenção Precoce, nomeadamente:

Definição
Destinatários

Modelo de Intervenção e articulação -Saúde, Educação e Segurança Social.

Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância -SNIPI

Organização e Competências
Critérios e elegibilidade e encaminhamento

Metodologia de intervenção dos organismos competentes


Papel das equipas locais de intervenção (ELI) -Articulação da Intervenção multidisciplinar

Problemas de Desenvolvimento
Identificação de sinais de alarme- critérios de elegibilidade

Papel do Profissional

Criação de condições adequadas ao desenvolvimento infantil

Cuidados a prestar à criança


Papel da Família e da comunidade-Intervenção centrada na Família

OBJECTIVO(S) GERAL(AIS)
1. Reconhecer o Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância

2. Reconhecer a Importância da Articulação entre as Equipas Locais de Intervenção e a Família

3. Caracterizar o Modelo de Intervenção e sua Articulação com os vários subsistemas

4. Identificar sinais de alarme no Desenvolvimento de Crianças e Jovens

OBJECTIVO(S) ESPECÍFICO(S)
5. Assegurar às crianças a proteção dos seus direitos e o desenvolvimento das suas capacidades;

6. Promover a deteção e sinalização de Crianças /Famílias elegíveis para a Intervenção Precoce;

7. Intervir com a Criança/Família, em função das suas necessidades, de modo a prevenir ou


reduzir os riscos de atraso no desenvolvimento;
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8. Apoiar as famílias no acesso a serviços e recursos dos sistemas de segurança social, da saúde,
da educação e outros, existentes na comunidade;

9. Envolver a comunidade no processo de intervenção, através da criação de mecanismos


articulados de suporte social.

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II. A INTERVENÇÃO PRECOCE

A Intervenção Precoce destina-se a crianças até à idade escolar que estejam em risco de

atraso de desenvolvimento, manifestem deficiência, ou necessidades educativas especiais. Consiste

na prestação de serviços educativos, terapêuticos e sociais a estas crianças e às suas famílias com o

objetivo de minimizar efeitos nefastos ao seu desenvolvimento.

A Intervenção Precoce pode ter uma natureza preventiva secundária ou primária: procurando

contrariar a manifestação de problemas de desenvolvimento ou prevenindo a sua ocorrência.

Os programas de Intervenção Precoce devem, sempre que possível, decorrer no meio


ambiente onde vive a criança. Habitualmente a intervenção inicia-se a sinalização –geralmente feita
pelo hospital, creche, jardim infantil, ou pela própria família. Seguidamente é realizada a

avaliação/diagnóstico e implementado um programa de intervenção.

A intervenção Precoce pode iniciar-se entre o nascimento e a idade escolar, no entanto há


muitas vantagens em começar o mais cedo possível.

a. PORQUÊ INTERVIR PRECOCEMENTE?

Existem três razões fundamentais:

➢ Quanto mais cedo se iniciar a intervenção maior é potencial de desenvolvimento de


cada criança;
➢ Para proporcionar apoio e assistência à família nos momentos mais críticos;
➢ Para maximizar os benefícios sociais da criança e família.

A investigação nesta área já demonstrou que grande parte das aprendizagens e do


desenvolvimento ocorre mais rapidamente na idade pré-escolar. O momento em que é proporcionada
a intervenção é, por isso, particularmente importante já que a criança corre o risco de perder
oportunidades de desenvolvimento durante os estádios mais propícios. Se esses momentos não forem
aproveitados, mais tarde a criança pode vir a manifestar maiores dificuldades de aprendizagem.

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Estudos recentes acentuam o facto de que o potencial de cada criança só é completamente


manifesto se houver a identificação precoce e uma intervenção programada e individualizada.

Os serviços de Intervenção Precoce podem ter um impacto significativo nos pais e irmãos das
crianças em risco. As famílias destas crianças geralmente vivem sentimentos de deceção, isolamento
social, stress, frustração e desespero. O stress acrescido que a presença de uma criança com
deficiência implica pode afetar o bem-estar da família e interferir no desenvolvimento da criança. As
famílias de crianças com deficiência são mais suscetíveis a viver situações como o divórcio e o
suicídio e, de igual forma, as crianças com deficiência são mais suscetíveis ao abuso e negligência do
que as crianças sem deficiência.

A Intervenção Precoce deve resultar no desenvolvimento de melhores atitudes parentais


relativamente a eles mesmos e ao seu filho com deficiência. Deve proporcionar mais informação e
melhores competências para lidar com a sua criança, e incentivar a libertação de algum tempo para o
descanso e lazer.

Um outro motivo que justifica a importância da Intervenção Precoce diz respeito aos ganhos
sociais alcançados. O incremento do desenvolvimento da criança envolve a diminuição das situações
dependentes de instituições sociais, o aumento da capacidade da família para lidar com a presença de
um filho com deficiência, e o possível aumento das suas capacidades para vir a ter um emprego.

b. A INTERVENÇÃO PRECOCE É EFICAZ?

Cerca de cinquenta anos de investigação nesta área permitiram obter informação quantitativa
(baseada nos resultados de investigações longitudinais) e qualitativa (depoimentos de pais e
professores) que demonstra que a Intervenção Precoce proporciona ganhos, ao nível do
desenvolvimento e educação das crianças que dela beneficiam, melhora o nível de funcionamento da
família e produz benefícios económicos e sociais a longo prazo.

A Intervenção Precoce demonstra resultados positivos nas crianças que dela beneficiam
porque quando estas crianças crescem necessitam menos de educação especial.

A investigação longitudinal efetuada com um grupo de crianças provenientes de meios social


e economicamente desfavorecidos demonstrou que se mantiveram ganhos significativos. Estas
crianças obtiveram melhores resultados escolares e muitas acabaram o ensino básico obrigatório e
seguiram programas de formação profissional. Estes jovens mostraram, em média, melhores

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resultados do que outros do mesmo extrato social que não beneficiaram de qualquer programa de
intervenção precoce. Comparativamente a outros jovens da mesma classe social, obtiveram melhores
resultados em testes de leitura, aritmética e linguagem e manifestaram menos comportamentos
antissociais e delinquentes.

c. QUAIS OS ASPETOS ESSENCIAIS PARA A EFICÁCIA DA INTERVENÇÃO


PRECOCE?

Têm sido realizadas várias tentativas para identificar quais os aspetos mais importantes para
garantir a eficácia da Intervenção Precoce. Verificou-se que existem alguns fatores que são comuns
aos programas de Intervenção Precoce que obtém melhores resultados. São eles:

➢ A idade da criança à data do início da intervenção;


➢ O envolvimento dos pais;
➢ A intensidade e/ou estruturação do modelo do programa de Intervenção Precoce adotado.

Diversos estudos demonstram que quando mais cedo se iniciar a intervenção maior é a sua
eficácia. Quando a intervenção é iniciada logo após o nascimento ou pouco tempo após ser feito o
diagnóstico de deficiência ou de alto risco, os ganhos ao nível do desenvolvimento são maiores e a
probabilidade de se manifestarem outros problemas é menor.

O envolvimento dos pais na intervenção é também muito importante. As famílias de crianças,


com deficiência ou em risco, necessitam de um maior apoio social e instrumental e de desenvolver as
competências necessárias para lidar com os filhos com necessidades especiais.

Os principais resultados da Intervenção com a família dizem respeito ao aumento da


capacidade dos pais para lidarem com o problema da criança, que leva necessariamente à redução do
stress familiar. Estes fatores aparentam desempenhar um papel importante no sucesso dos programas
de intervenção junto da criança.

A estruturação dos programas de Intervenção Precoce está também relacionada com os seus
resultados, independentemente do modelo curricular utilizado. Os programas de maior sucesso são
geralmente os mais estruturados. Isto significa que os casos de sucesso se registam em programas
que:

➢ Definem operacionalmente e monitorizam frequentemente os objetivos;

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➢ Identificam com precisão os comportamentos a desenvolver e as atividades que serão


desenvolvidas em cada sessão;
➢ Utilizam procedimentos de análise de tarefas;
➢ Avaliam regularmente o desenvolvimento da criança e utilizam os registos de
progressão no planeamento da intervenção.
➢ A intervenção individualizada e dirigida às necessidades específicas da criança
também surge associada a bons resultados, o que não significa necessariamente um
trabalho de um para um.

As atividades de grupo podem ser estruturadas de forma a ir ao encontro das necessidades


educativas de cada criança.

d. BREVE PERSPETIVA DA INTERVENÇÃO PRECOCE

As rotinas fazem parte do dia-a-dia de todos nós (McWilliam, 2003). Todas as famílias têm
as suas rotinas, do mesmo modo que todos os educadores têm rotinas nas suas salas. No entanto, estas
rotinas variam de indivíduo para indivíduo, não só no que diz respeito às atividades identificadas,
mas também quanto ao processo de implementação. Alguns seguem-nas de uma forma invariável e
sistemática, enquanto outros, embora mantenham um padrão, são mais flexíveis na sua sequência
(Almeida, 2009). Daí decorre a necessidade de, caso a caso, se fazer uma avaliação individualizada e
cuidadosa das rotinas diárias relativas a cada criança. Importa, porém, que obedeçam a determinadas
condições: serem identificadas pelo prestador de cuidados, corresponderem ao seu interesse e
ao da criança, manterem a sequência, promoverem interações positivas, integrarem objetivos
funcionais que se traduzam em resultados positivos e significativos, serem flexíveis e adaptáveis,
serem relativamente breves, serem previsíveis, ocorrerem com frequência e permitirem a
utilização de várias competências proporcionando, de uma forma natural, as oportunidades de
treino, indispensáveis à aprendizagem (Bricker & Cripe, 1992; Goldstein, 2003; Woods-Cripe,
1999).
Uma prática de intervenção baseada nas rotinas é uma componente essencial de um
modelo centrado na família e na comunidade, que privilegia, necessariamente, a identificação das
rotinas, atividades e acontecimentos que ocorrem nos vários contextos de vida da criança. É
importante perceber, com as famílias e com os educadores, como decorre o dia-a-dia da criança, mas
é igualmente importante que eles percebam a relevância da utilização de atividades, que para eles são

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triviais (banho, alimentação, mudança da fralda, ida à casa de banho, vestir, hora de dormir...), como
oportunidades de ensino e aprendizagem, portanto, promotoras de desenvolvimento.
Importa, porém, não esquecer que aquelas que podem ser ótimas rotinas para a aprendizagem
nuns casos, não o serão noutros.
A alimentação, por exemplo, pode ser ideal para uma família, mas não o será, certamente,
para outra com uma criança com dificuldades a nível alimentar. Por outro lado, também convêm ter
presente que as rotinas, tal com a vida das pessoas, não são estáticas, mas dinâmicas e que, gradual
(o nascimento de um irmão...) ou abruptamente (uma doença, a perda de um emprego...) podem
alterar-se.
Uma intervenção com base nas rotinas tem de ser suficientemente flexível para se adaptar a
todas as circunstâncias, tendo sempre como objetivo final proporcionar interações positivas entre a
criança e os seus prestadores de cuidados.
Sabe-se hoje que as crianças em idades precoces aprendem através de interações repetidas de
uma forma dispersa ao longo do tempo e não nos breves períodos em que decorrem as intervenções.
Sabe-se, também, que, se as intervenções dos profissionais têm pouco efeito diretamente na criança,
têm um impacto importante na melhoria das competências e da autoconfiança dos pais, famílias e
outros prestadores de cuidados, que por sua vez têm uma influência grande na promoção do
desenvolvimento da criança (McWilliam, 2003).
Daqui decorre a perspetiva atual que defende uma intervenção nos ambientes naturais de vida
da criança, por oposição ao contexto clínico tradicional. No entanto, importa realçar que o conceito
de “ambientes naturais” se refere não só a onde, mas também, e principalmente, a como a intervenção
ocorre.
Neste sentido, Dunst e colaboradores recomendam a utilização da designação ambientes
naturais de aprendizagem definidos como:

“.... a casa, a comunidade e os cenários onde estão as crianças em idades precoces e onde elas
aprendem e desenvolvem as suas competências e capacidades. Ambientes naturais de
aprendizagem incluem os locais, os cenários e as atividades onde as crianças, do nascimento aos
3 anos, teriam normalmente oportunidades e experiências de aprendizagem” (Dunst & Bruder,
2002, p. 365).

Esta definição inclui, portanto, a família, a vida na comunidade e a creche ou o jardim-de-


infância, entendendo-os como contextos que proporcionam múltiplas oportunidades para
experiências de aprendizagem, constituindo assim ótimos cenários de intervenção. O papel do

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profissional deverá ser o de apoiar os vários prestadores de cuidados, ajudando-os a identificar e


aproveitar as oportunidades naturais de aprendizagem que ocorrem nas rotinas de vida diária da
criança e que vão ao encontro dos seus interesses.

As creches e os jardins-de-infância são um outro contexto de atendimento em que estão


frequentemente inseridas crianças com incapacidades até aos seis anos. No entanto, para que a
inclusão seja bem-sucedida, tem de ser assegurada a colaboração entre todos os profissionais, de tal
forma que a intervenção seja baseada não só nas forças e competências da criança e família, mas
também na dos técnicos e na destes contextos. De acordo com Craig (1997), muitos profissionais de
apoio mantêm uma intervenção direta com a criança e não usam uma abordagem de consultoria por
medo de perder o seu poder ou por pensarem que os prestadores diários de cuidados não têm as
competências necessárias. Também Gottwald e Pardy (1997) e McWilliam (1996) referem que,
quando as crianças estão incluídas no jardim-de-infância, se torna crucial o trabalho de cooperação
entre os vários profissionais sempre com o envolvimento da família.

Qualquer que seja o contexto da intervenção, é hoje uma evidência que as crianças aprendem
ao longo do(s) dia(s), através das interações repetidas e das oportunidades de aprendizagem que
partilham com a sua família ou prestadores diários de cuidados (entre as intervenções) e não em
momentos/apoios concentrados (durante as intervenções pontuais do técnico especializado).
McWilliam (1996) refere um conjunto de investigações que comprovam que o apoio inserido no
contexto é eficaz e promove um maior envolvimento e participação da criança com os seus pares.
Assim, e sendo a família e os educadores quem mais influencia o desenvolvimento da criança, as
intervenções mais eficazes serão, em contexto domiciliário, as que promovem a competência, auto
confiança e autonomia da família e a ajudam a proporcionar melhores oportunidades de aprendizagem
nas rotinas familiares; em contexto educativo, as que, através de estratégias de consultoria ao
educador da sala (apoio indireto à criança), promovem a intervenção específica e especializada,
sempre integrada nas rotinas da sala (McWilliam, 2010). De facto, segundo o mesmo autor, a criança
com incapacidades precisa da máxima intervenção (a que ocorre durante todo o dia no seu contexto
de vida e rotinas) mas não de muitos serviços e apoios (descontextualizados e pontuais).

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e. SISTEMA NACIONAL DE INTERVENÇÃO PRECOCE -SNIPI

Para consulta:

https://www.dgs.pt/sistema-nacional-de-intervencao-precoce-na-infancia.aspx

Organização e Competências

Critérios e elegibilidade e encaminhamento

Metodologia de intervenção dos organismos competentes

Papel das equipas locais de intervenção (ELI) -Articulação da Intervenção multidisciplinar

Problemas de Desenvolvimento

Identificação de sinais de alarme- critérios de elegibilidade

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III. O PAPEL DO PROFISSIONAL


De acordo com os modelos Bioecológica (Bronffenbrenner & Morris, 1998) e transacional
(Sameroff & Fiese, 2000), que fundamentam as atuais práticas de Intervenção Precoce na Infância
(IPI), as variáveis contextuais e as interações entre os adultos e as crianças assumem particular
importância no seu desenvolvimento, pelo que qualquer intervenção que tenha como objetivo a sua
promoção deverá ter em conta essas variáveis e interações. Shonkoff (2010) apresenta-nos um modelo
biodesenvolvimental que, segundo o autor, permite uma nova e integrada abordagem na compreensão
das diferenças nos domínios do desenvolvimento, aprendizagem, comportamento e saúde e que tem
implicações relevantes para a intervenção precoce. Refere, especificamente, que é urgente incorporar
as evidências da investigação no campo das neurociências no delineamento de programas de
intervenção para que estes se tornem, efetivamente, responsivos às diferenças quer biológicas quer
contextuais das crianças e famílias.
Os princípios conceptuais do Modelo Centrado na Família estão amplamente documentados
nos trabalhos de Dunst (2005). Para este autor, o apoio com vista à capacitação e fortalecimento dos
pais deverá constituir-se como o principal objetivo da intervenção precoce, sendo também realçado
o papel que as experiências e oportunidades de aprendizagem informais, ocorrendo nos contextos
naturais, têm no desenvolvimento da criança e na capacitação da família.
Parece atualmente evidente que foi acumulado um conhecimento científico sobre a Inapa
cidade e suas repercussões na família que é urgente refletir nas práticas de intervenção precoce.
Decorrentes do modelo desenvolvimental de sistemas para a Intervenção Precoce proposto por
Guralnick (2005), Guralnick e Colon (2007) enunciam dez princípios que devem estar presentes nos
programas de qualidade:

➢ Abordagem desenvolvimental e centrada nas famílias;


➢ Integração e coordenação em todos os níveis do sistema;
➢ Inclusão e participação das crianças e famílias;
➢ Identificação e sinalização precoces;
➢ Monitorização dos resultados;
➢ Individualização em todas as etapas;
➢ Avaliação sistemática;
➢ Parceria famílias/profissionais;
➢ Recomendações e práticas baseadas na evidência;
➢ Manutenção de uma perspetiva sistémica.

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A prestação de serviços em contextos naturais e integrados nas rotinas da vida diária da criança
e da família é, atualmente, considerada a prática que melhor assegura que as crianças tenham a
máxima intervenção: esta ocorrerá ao longo de todo o dia em todos os contextos e atividades da
criança e da família (Dunst, Bruder, Trivette, Raab, & McLean, 2001). Para que seja efetivamente
implementada, envolve obrigatoriamente os elementos da família e dos contextos em que a criança
participa.
De acordo com Turnbull et al. (2007), a investigação relacionada com os objetivos de
intervenção precoce centrada na família, tem-se focado, sobretudo, em estudar como (how) devem os
profissionais e famílias interagir (processo de prestação de serviços) e não tem havido investigação
suficiente para conhecer o que (what) é oferecido à família em termos de apoio e quais os benefícios
que daí advêm. Assim, e considerando que:

➢ A legislação sobre IP assume que a participação da família lhe traz benefícios;


➢ Os benefícios para a criança e para a família estão intimamente interligados;
➢ Ajudar as famílias tem implicações diretas nos benefícios que as crianças obtêm.
A existência de uma criança com incapacidades tem implicações em toda a família, Bailey et al.
(2006) consideram essencial que sejam objetivamente avaliados os benefícios que a família tem
como resultado dos serviços recebidos.
Numa perspetiva de intervenção baseada nos contextos naturais de aprendizagem, mais
importante do que o local onde a intervenção precoce ocorre é a forma como esta é implementada.
Assim, Childress (2004) dá particular ênfase ao papel de consultor que o profissional de intervenção
precoce deverá ter junto da família, nos programas domiciliários e junto dos educadores, nos
programas em contexto educativo.
O contexto domiciliário parece ser, por excelência, o que permite uma intervenção mais
individualizada e responsiva às necessidades da criança e da família. Rydley e O’Kelley (2008) e
Keilty (2008) consideram crucial, para o sucesso da intervenção precoce que, no apoio domiciliário,
se promova: o envolvimento e participação da criança nas rotinas; o envolvimento da família e a sua
aprendizagem de estratégias específicas de intervenção; a competência da família na mobilização dos
recursos necessários para a promoção do desenvolvimento da criança e sua participação plena na vida
da comunidade.
Considerando a escassez de dados sobre o que se passa no decorrer das visitas domiciliárias
(VD), McBride e Peterson (1997) realizaram um estudo em que foram observadas as VD de quinze
profissionais de Intervenção Precoce a vinte e oito famílias/crianças, com o objetivo de analisar os
parceiros e conteúdos de interação e o papel do visitador domiciliário. Os dados da observação
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mostram que cerca de 50% das interações se passam entre a criança e o profissional em atividades de
ensino, num modelo claramente centrado na criança e oposto ao que se concluía pela análise de
conteúdo das entrevistas dos profissionais que se auto avaliavam como desempenhando um papel de
modelos para a família.
Conclusões em tudo semelhantes foram encontradas em estudos recentes (Campbell & Sawyer,
2007; Peterson, Luze, Eshbaugh, Jeon & Kantz, 2007) em que dados de observação permitiram
verificar que as intervenções diretas do profissional com a criança ocupavam a maior parte do tempo
das visitas domiciliárias e que os profissionais raramente assumiam uma função de modelo para a
família que, frequentemente, se mantinha numa atitude de observadora passiva. As conclusões do
National Early Intervention Longitudinal Study (Bailey et al., 2006; Hebbeler et al., 2007) apontam
no mesmo sentido: as famílias estão mais satisfeitas com os serviços centrados na criança do que com
os apoios e serviços que têm para si próprias e cerca de um terço considera não ter informação
suficiente para apoiar a aprendizagem ou lidar com os problemas de comportamento dos seus filhos.
Dados do National Early Childhood Technical Assistance Center a partir da análise de Planos
Individualizados de Apoio à Família, referidos por Turnbull et al. (2007), mostram também que,
mesmo em contexto domiciliário, os serviços prestados são, frequentemente, focados nas crianças.

IV. BIBLIOGRAFIA

Almeida, I. C. (2009). Estudos sobre a intervenção precoce em Portugal: Ideias dos especialistas,
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Bairrão, J. (Org.). (2003). Tendências actuais em investigação precoce. Psicologia, XVII(1).

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participation-based services. Journal of Early Intervention, 29, 287-305.

Childress, D. (2004). Special instruction and natural environments – Best practices in ear

Correia, N. R. (2004). Avaliação de um programa de intervenção precoce: Um estudo de caso.


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Gottwald, S. R., & Pardy, P. A. (1997). Public schools. In S. K. Thurman, J. R. Cornwell, & S. R.
Gottwald (Eds.), Contexts of early intervention: Systems and settings (pp. 215-228). Baltimore: Paul
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Guralnick, M. J. (2005). An overview of the developmental system models for early intervention. In
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Baltimore: Paul H. Brooks.

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Hebbeler, K., Spiker, D., Bailey, D., Scarborough, A., Mallik, S., Simeonsson, R., Singer, M. &
Nelson, L. (2007, Jan.). Final report of the National Early Intervention Longitudinal Study (NEILS)

Keilty, B. (2008). Early intervention home-visiting principles in practice: A Reflective


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Marcelino, S. (2008) Um programa de intervenção precoce: Um estudo de caso. Dissertação de


Mestrado em Psicologia Educacional (não publicada). Lisboa: Instituto Superior de Psicologia
Aplicada.

Marques, J. (2003). Um programa de intervenção precoce: Um estudo de caso. Monografia de


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McWilliam, R. A. (2010). Routines-based early intervention-supporting young children and their


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Mendes, E. (2010). Avaliação da Qualidade em Intervenção precoce: Práticas do distrito de


Portalegre. Dissertação de Doutoramento (não publicada). Universidade do Porto: Faculdade de
Psicologia e Ciências da Educação.

V. GLOSSÁRIO

Intervenção Precoce

Resposta Social consolidada na comunidade de forma coordenada e flexível, que privilegia


uma atuação integrada de vários serviços e instituições, proporcionando um acompanhamento
centrado na Família/Criança, mediante ações de natureza preventiva e reabilitativa, no âmbito da
educação, da saúde e da ação social.

Destinatários

A Intervenção Precoce na Infância (IPI) é dirigida a crianças entre os 0 e os 6 anos, com


alterações nas funções ou estruturas do corpo que limitam o desenvolvimento individual, social, e a

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participação nas atividades adequadas à sua idade e contexto social, ou com risco grave de atraso
de desenvolvimento, assim como as suas famílias.

Comparticipações Familiares

Qualquer que seja a condição socioeconómica dos agregados familiares, os


acompanhamentos/apoios nesta Resposta Social são, na sua totalidade, gratuitos.

Como encaminhar/referenciar para a IPI

Qualquer entidade ou indivíduo poderá fazer referenciação de casos para a IPI, utilizando
para o efeito a Ficha de Referenciação - SNIPI (preferencialmente, com conhecimento dos pais /
encarregado de educação / representante legal.

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