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‘wisva022 1642 ‘Sobre o Materaismo Dialtica @ o Materialisma Hislérico MIA> Biblioteca> Stélin > Novidades Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histérico J. V. Stalin Setembro de 1938 Primeira Edig&o: setembro de 1938 Fonte: Sobre 0 Materialismo Dialético e o Materialismo Histérico, edicbes Horizonte, Rio, 1945. Transcrigdo e HTML: Fernando A. S. Aratijo Direitos de Reprodusao: A cépia ou distribuicdo deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License. © materialismo dialético € a concepgéo filoséfica do Partido marxista-leninista. Chama-se materialismo dialético, porque o seu modo de abordar os fenémenos da natureza, seu método de estudar esses fendmenos e de concebé-los, & dialético, ¢ sua interpretacéo dos fenémenos da natureza, seu modo de focaliza-los, sua teoria, é materialista. © materialismo histérico é a aplicagéo dos principios do materialismo dialético ao estudo da vida social, aos fenémenos da vida da sociedade, ao estudo desta e de sua histéria. Caracterizando seu método dialético, Marx e Engels se referem com frequéncia a Hegel como 0 filésofo que formulou os principios fundamentais da dialética, Mas isso ndo quer dizer que a dialética de Marx e Engels seja idéntica a dialética hegeliana. Na realidade, Marx e Engels sé tomaram da dialética de Hegel sua "medula racional", abandonando o invélucro idealista hegeliano e desenvolvendo a dialética, para dar-Ihe uma forma cientifica atual. "Meu método dialético — diz Marx — no sé é fundamentalmente diverso do método de Hegel, mas 6, em tudo e por tudo, 0 seu reverso. Para Hegel 0 processo do pensamento que ele converte inclusive em sujeito com vida prépria, sob 0 nome de idéia, é o demiurgo (criador) do real e este, a simples forma externa em que toma corpo. Para mim, © ideal, ao contrério, nao é mais do que o material, traduzido e transposto para a cabeca do homem". (Karl Marx, palavras finais da 2.2 edicéio do t. I do "O Capital’ Na caracterizagéo de seu materialismo, Marx e Engels se referem com frequéncia a Feuerbach, como o filésofa que restaurou os direitos do materialismo. Mas isso n&o quer dizer que o materialismo de Marx e Engels seja hitps:wwnmarxists.og/portuguesistalrv1938/08/mat-dia-hsthim 128 surance 82 Sobre o Materiatsmo Daltica © 0 Materialism Histirico idéntico ao materialismo de Feuerbach. Na realidade, Marx e Engels sé tomaram do materialismo de Feuerbach sua "medula", desenvolvendo-a até converté-la na teoria cientifico-filosdfica do materialismo, e desprezando sua escéria idealista e ético-religiosa. E sabido que Feuerbach, que era no fundamental um materialista, se rebelava contra a nome de materialismo. Engels declarou mais de uma vez que "apesar da base materialista, Feuerbach nao chegou a desprender-se dos vinculos idealistas tradicionais", e que "onde o verdadeiro idealismo de Feuerbach se pée em evidéncia, 6 em sua filosofia da religido e em sua ética". (F_Engels, "Ludwig Feuerbach", em Karl Marx, Obras Escolhidas, ed. Europa-América, t. I, pags. 414-417). A palavra dialética vem do grego dialegos, que quer dizer didlogo ou polémica. Os antigos entendiam por dialética a arte de descobrir a verdade evidenciando as contradigées implicitas na argumentag3o do adversdrio e superando essas contradigdes. Alguns filésofos da antiguidade entendiam que o descobrimento das contradigSes no processo discursivo e 0 choque das opiniées contrapostas era o melhor meio para encontrar a verdade. Esse método dialético de pensamento, que mais tarde se fez extensivo aos fendmenos naturais, converteu-se no método dialético de conhecimento da natureza, consistente em considerar os fenémenos naturais como sujeitos a perpétuo movimento e transformacdo e o desenvolvimento da natureza como o resultado do desenvolvimento das contradicgées existentes nesta ultima, como o resultado da aco miitua das forcas contraditérias no seio da natureza A dialética é, fundamentalmente, o contrario da metafisica. 1) O método dialético marxista se caracteriza pelos seguintes prin ios fundamentai a) Em oposigao & metafisica, a dialética n&o considera a natureza como um conglomerado casual de objetos e fenémenos, desligados e isolados uns dos outros e sem nenhuma relag&o de dependéncia entre si, mas como um todo articulado e Unico, no qual os objetos e os fenémenos se acham organicamente vinculados uns aos outros, se interdependem e se condicionam mutuamente. Por isso, 0 método dialético entende que nenhum fenémeno da natureza pode ser compreendido, se focalizado isoladamente, sem conex&o com os fendmenos que o cercam, pois todo fenémeno, tomado de qualquer campo da natureza, pode converter-se em um absurdo, se examinado sem conex&o com as condigées que o cercam, desligado delas; e pelo contrario, todo fendémeno pode hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 2128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico ser compreendido e explicado, se examinado em sua conexao indissoltvel com os fenémenos circundantes e condicionado por eles. b) Em oposicao a metafisica, a dialética nao considera a natureza como algo quieto e imével, parado e imutavel, mas como sujeito a perene movimento e a mudanca consoante, renovando-se e desenvolvendo-se incessantemente, onde hd sempre alguma coisa que nasce e se desenvolve, morre e caduca. Por isso, 0 método dialético exige que se examinem os fendmenos, nao sé do ponto de vista de suas relagdes mituas e de seu mituo condicionamento, mas também do ponto de vista de seu movimento, de suas transformacées e de seu desenvolvimento, do ponto de vista de seu nascimento e de sua morte. © que interessa, sobretudo, ao método dialético nado é 0 que, em um momento dado, parece estavel mas comega jé a morrer, sendo o que nasce e se desenvolve, ainda que num momento dado pareca pouco estavel, pois a unica coisa que hd de insuperdvel, a seu vet, é 0 que se acha em estado de nascimento e de desenvolvimento. "Toda a natureza — diz Engels —, de suas particulas mais minusculas até seus corpos mais gigantescos, do gro de areia até o sol, do protozoario'). até o homem, se acha em estado perene de nascimento @ morte, em fluxo constante, sujeita a incessantes mudangas e movimentos." (F. Engels, "Dialética da natureza". Obras completas de Marx e Engels, ed. alema do Instituto de Marx-Engels-Lenin, de Moscou, pag. 491). Por isso, a dialética — diz Engels —"focaliza as coisas e suas imagens conceituais, substancialmente, em suas conexées mutuas, em sua ligagdo e concatenacao, em sua dindmica, em seu processo de génese e caducidade". ("Do socialismo utépico ao socialismo cientifico", em Karl Marx, Obras Escolhidas, ed. Europa-América, t. I, pag. 165) c) Em oposicéo a metafisica, a dialética nado estuda o processo de desenvolvimento dos fenémenos como um simples processo de crescimento, em que as mudangas quantitativas nao se traduzem em mudancas qualitativas, mas como um processo em que se passa das mudangas quantitativas insignificantes e ocultas as mudangas manifestas, as mudancas radicais, as mudancas qualitativas; em que estas se produzem, no de modo gradual, mas repentina e subitamente, em forma de saltos de um estado de coisas para outro, e nao de um modo casual, mas de acordo com leis, como resultado da acumulacéo de uma série de mudangas quantitativas inadvertidas e graduais. Por isso, 0 método dialético entende que os processos de desenvolvimento n&o se devem conceber como movimentos circulares, como uma simples repetig&o do caminho ja percorride, mas como movimentos progressivos, como movimentos em linha ascensional, como a transig&o do velho estado qualitativo a hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 3128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico um novo estado qualitative, como a evolugéo do simples para 0 complexo, do inferior para o superior. "A natureza — diz Engels — é a pedra de toque da dialética, e as modernas ciéncias naturais nos proporcionam como prova disso um acervo de dados extraordinariamente copiosos, enriquecido cada dia que passa, demonstrando com isso que a natureza se move, em tltima inst&ncia, pelos canais dialéticos e ndo pelos trilhos metafisicos, que no se move na eterna monotonia de um ciclo constantemente repetido, mas percorre uma verdadeira histéria. Aqui é necessério citar, em primeiro lugar, Darwin, que, com sua prova de que toda a natureza organica existente — plantas e animais, e entre esses, é Idgico, o homem — é 0 produto de um processo evolutivo de milhdes de anos, assestou na concepcio metafisica da natureza o mais rude golpe". (E. Engels, “Do Socialismo Utépico ao Socialismo Cientifico", em Karl Marx, Obras Escolhidas, t. I pag. 165) Caracterizando 0 desenvolvimento dialético como a transigéo das mudancas quantitativas para as mudangas qualitativas, diz Engels: "Em fisica... toda mudancga é uma transformacéo de quantidade em qualidade, uma consequéncia da mudanga quantitativa da massa de movimento de qualquer forma inerente ao corpo ou que se transmite a este Ultimo, Assim, por exemplo, o grau de temperatura da agua néo influi em nada, a principio, em seu estado liquido; mas, ao aumentar ou diminuir a temperatura da dgua liquida, chega-se a um ponto em que o seu estado de coesdo se modifica e a agua se converte, num caso, em vapor, e noutro, em gelo. Assim também, para que o fio de platina da lampada elétrica se acenda, é necessdrio um minimo de corrente; todo metal tem seu grau térmico de fusdo, e iodo liquido, dentro de uma determinada pressao, tem seu ponto determinado de congelagéo e de ebulicéo, na medida em que os meios de que dispomos nos permitem produzir a temperatura necessaria; e, finalmente, todo gas tem seu ponto critico, no qual, sob uma presséo e esfriamento adequados, se liquefaz em forma de gotas... As chamadas constantes da fisica (os pontos de transig&o de um estado para outro — N. do A.) nao sdo, na maior parte das vezes, senéo os nomes dos pontos nodais em que a soma ou a subtracéo quantitativas (mudancas quantitativas) de movimento provocam mudancas qualitativas no estado do corpo em questéo, no qual, portanto, a quantidade se transforma em qualidade" (F Engels, "Dialética da Natureza", ed. cit., pag. 503). E mais adiante, passando a quimica, Engels prossegue: "Poderiamos dizer que a quimica é a ciéncia das mudancas qualitativas dos corpos por efeito das modificaces operadas em sua composicao quantitativa. E disso o proprio Hegel ja sabia... Basta fixar-se no hitps:wwnmarxists.og/portuguesistalrv1938/08/mat-dia-hsthim 4728 swira02e 642 Sobre o Materialism Dilbico eo Materalsme Fistrco oxigénio: se combinarmos, para formar uma molécula, trés dtomos em vez de dois, que € 0 comum, produziremos 0 ozénio, corpo que se distingue de um modo muito definido do oxigénio normal, tanto pelo odor como pelos efeitos. E n&o falemos das diversas proporgdes em que 0 oxigénio se combina com o nitrogénio ou com o enxofre, e cada uma das quais produz um corpo qualitativamente diverso de todos os demais." (F. Engels, ob. cit., pag. 528). Por Ultimo, criticando Dihring, que cumula Hegel de injurias — sem prejuizo de tomar dele, sorrateiramente, a conhecida tese de que a transig&o do reino do insensivel ao reino das sensagdes, do mundo inorganico para 0 mundo da vida organica, representa um salto para um novo estado — Engels disse: "E, certamente, a linha nodal hegeliana das porgdes de medida na qual o simples aumento ou a simples diminuicgéo quantitativa determinam, ao chegar a um determinado ponto nodal, um salto qualitative, como ocorre, por exemplo, com a agua posto a aquecer ou a esfriar, onde 0 ponto de ebulicéo e o ponto de congelacao sdo os nédulos em que — sob uma pressdo normal — se produz o salto para um novo estado de coesio, isto ¢, em que a quantidade se transforma em qualidade." (F_Engels, "Anti-Dihring", pag. 49) d) Em oposigéo & metafisica, a dialética parte do critério de que os objetos e os fenémenos da natureza levam sempre implicitas, contradicées internas, pois, todos eles tém seu lado positivo e o seu lado negativo, seu passado e seu futuro, seu lado de caducidade e seu lado de desenvolvimento; do critério de que a luta entre esses lados contrapostos, a luta entre o velho e o novo, entre o que agoniza e o que nasce, entre o que caduca e 0 que se desenvolve, forma o contetido interno do processo de desenvolvimento, o contetido interno da transformagéo das mudancas quantitativas em mudancas qualitativas. Por isso, 0 método dialético entende que o processo de desenvolvimento do inferior para o superior n&o decorre como um processo de desenvolvimento harménico dos fenémenos, mas pondo sempre em evidéncia as contradigdes inerentes aos objetos e aos fendmenos, num processo de "luta" entre as tendéncias contrapostas que atuam sobre a base daquelas contradicdes. "Dialética, em sentido restrito, é — diz Lenin — o estudo das contradigdes contidas na prépria esséncia dos objetos." (Lenin, "Cadernos filoséficos", pag. 263, ed. russa). E mais adiante: "O desenvolvimento é a "luta" dos contrdrios” (Lenin, t. XIII, pag. 301, ed. russa, "Em torno do problema da dialética"). Tais so, brevemente expostas, as caracteristicas fundamentais do método dialético marxista. Nao é dificil compreender quanto é enorme a importancia que a difusdo dos hitps:wwnmarxists.og/portuguesistalrv1938/08/mat-dia-hsthim 5128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico principios do método dialético tam para o estudo da vida social e da histéria da sociedade e a importancia enorme que encerra a aplicacéo desses principios a histéria da sociedade e a atuacdo pratica do partido do proletariado. Se no mundo nao existem fenémenos isolados, se todos os fenémenos esto vinculados entre si e se condicionam uns aos outros, é evidente que todo regime social e todo movimento social que aparece na histéria deve ser julgado nao do ponto de vista da "justiga eterna” ou de qualquer outra idéia preconcebida, que é © que costumam fazer os historiadores, mas do ponto de vista das condigdes que engendraram esse regime e esse movimento sociais e as quais se acham vinculados. Dentro das condigées modernas, 0 regime da escravidio é um absurdo e uma tolice contréria 4 légica. De outro lado, dentro das condigées de desagregacao do regime do comunismo primitivo, a escravidao era um fendmeno perfeitamente Idgico e natural, uma vez que representava um progresso em comparag&o com 0 comunismo primitivo. Reivindicar a Republica democratico-burguesa nas condigées do tsarismo e da sociedade burguesa, por exemplo, na Russia de 1905, era uma reivindicacdo perfeitamente légica, acertada e revolucionaria, pois a Republica burguesa representava, naquele tempo, um progresso. De outro lado, nas condicées atuais da URSS, reivindicar a Reptiblica democratico-burguesa seria absurdo e contra- revolucionério, pois, comparada com a Reptiblica Soviética, a Reptiblica burguesa significa um retrocesso. Tudo depende, pois, das condigées, do lugar e do tempo. E evidente que, sem abordar deste ponto de vista histérico os fenémenos sociais, no poderia existir nem desenvolvesse a ciéncia da histéria, pois esse modo de encarar os fenémenos € 0 Unico que impede a ciéncia histérica de converter-se em um caos de acontecimentos fortuitos e num montao dos mais absurdos erros. Ora, se 0 mundo se acha em incessante movimento e desenvolvimento e se a lei desse desenvolvimento é a extingo do velho e o fortalecimento do novo, é evidente que jé ndo pode haver nenhum regime social "irremovivel", nem podem existir os "princfpios eternos" da propriedade privada e da exploracéo, nem as "idéias eternas" de submissdio dos camponeses aos latifundidrios e dos operarios aos capitalistas. Isso quer dizer que o regime capitalista pode ser substituido pelo regime socialista, do mesmo modo que, a seu tempo, o regime capitalista substituiu o regime feudal. Isto quer dizer que é preciso orientar-se, ndo para aquelas camadas da sociedade que ja chegaram ao término de seu desenvolvimento, embora no momento presente constituam a forca predominante, mas para aquelas outras hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 5128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico que se esto desenvolvendo e que tém um futuro, ainda que nao sejam as forcas predominantes no momento atual. Na década de 80 do século passado, na época de luta entre os marxistas e os populistas, o proletariado, na Russia, constituia uma minoria insignificante em comparac3o com os camponeses individuais, que formavam a imensa maioria da populac&o. Mas o proletariado estava se desenvolvendo como classe, enquanto que os camponeses, como classe, se desagregavam. Precisamente por isso, porque o proletariado estava se desenvolvendo como classe, os marxistas se orientavam para ele. E néo se equivocaram, pois, como é sabido, o proletariado se converteu, com o decorrer do tempo, de uma forga insignificante numa forca histérica e politica de primeira ordem Isso quer dizer que, em politica, para néo se equivocar, é preciso olhar para diante e no para tras. Continuemos. Se a transigéo das lentas mudancas quantitativas para as rapidas e subitas mudancas qualitativas constituem uma lei do desenvolvimento, & evidente que as transformacdes revolucionérias levadas a cabo pelas classes oprimidas representam um fenémeno absolutamente natural e inevitavel. Isso significa que a transic&o do capitalismo para o socialismo e a libertacdo da classe operéria do jugo capitalista ndo pode realizar-se por meio de mudancas lentas, por meio de reformas, mas sé mediante a transformagao qualitativa do regime capitalista, isto é, mediante a revolucao. Isso quer dizer que, em politica, para néo se equivocar, é preciso ser revolucionario e nao reformista. Ora, se o processo de desenvolvimento ¢ um processo de revelacéo de contradiges internas, um processo de choque entre forcas contrapostas, na base dessas contradicées, e com o fim de superd-las, é evidente que a luta de classes do proletariado constitui um fenémeno perfeitamente natural e inevitavel. Isso quer dizer que o que é preciso fazer nao é dissimular as contradigdes do regime capitalista, mas pé-las a descoberto e reveld-las em toda a sua extensao, — no é amortecer a luta de classes, mas levd-la consequentemente a cabo. Isso quer dizer que em politica para ndo se equivocar, é preciso manter uma politica proletdria, de classe, intransigente, e no uma politica reformista, de harmonia de interesses entre o proletatiado e a burguesia, uma politica oportunista de "evolucdo pacifica" do capitalismo para o socialismo. Nisso consiste 0 método dialético marxista, aplicado vida social e a historia da sociedade. No que se refere ao materialismo filoséfico marxista, este é, fundamentalmente, o oposto do idealismo filoséfico. hitps:wwnmarxists.og/portuguesistalrv1938/08imat-dia-hsthim 7128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico 2) O materialismo filos6fico marxista se caracteriza pelos seguintes principios fundamentais: a) Em oposicao ao idealismo, que considera 0 mundo como a materializago da “idéia absoluta", do "espirito universal", da "consciéncia", 0 materialismo filoséfico de Marx parte do critério de que 0 mundo é, por sua natureza, algo material; de que os miltiplos e vatiados fenémenos do mundo constituem diversas formas e modalidades da matéria em movimento; de que os vinculos mituos e as relacées de interdependéncia entre os fendmenos que o método dialético pde em evidéncia so as leis, de acordo com as quais se desenvolve a matéria em movimento; de que 0 mundo se desenvolve de acordo com as leis que regem o movimento da matéria sem necessidade de nenhum "espirito universal". "A concepg&o materialista do mundo — diz Engels — se limita simplesmente a conceber a natureza tal como é, sem nenhuma espécie de acréscimos estranhos" (E_Engels, 'Ludwig Feuerbach", em Karl Marx, Obras Escolhidas, ed. Europa-América, t. I, pag. 413). Referindo-se & concepgao materialista de um filésofo da antiguidade, Herdclito, segundo o qual "o mundo forma uma unidade por si mesmo e no foi criado por nenhum deus e por nenhum homem, mas foi, é e seré eternamente um fogo vivo que se acende e se apaga de acordo com as leis", diz Lenin: "Eis aqui uma excelente definic&o dos principios do materialismo dialético." (Lenin, "Cadernos filoséficos", pag. 318). b) Em oposig&o ao idealismo, que afirma que sé a nossa consciéncia tem uma existéncia real e que o mundo material o ser, a natureza, sé existem em nossa consciéncia, em nossas sensagdes, em nossas percepcées, em nossas idéias, 0 materialismo, filosdfico marxista parte do critério de que a matéria, a natureza, o ser, sio uma realidade objetiva, existem fora de nossa consciéncia e independentemente dela; de que a matéria é o primario, uma vez que constitui a fonte da qual se derivam as sensagdes, as percepgdes e a consciéncia, e esta o secundario, 0 derivado, uma vez que é a imagem refletida da matéria, a imagem refletida do ser; parte do critério de que o pensamento é um produto da matéria ao atingir um alto grau de perfeigio em seu desenvolvimento, e mais concretamente, um produto do cérebro, e este o érgo do pensamento, e de que, portanto, no cabe, a menos que se ceda num erro crasso, separar o pensamento da matéria "O problema da relac&o entre o pensamento e o ser, entre 0 espirito e a natureza, é — diz Engels — o problema maximo de toda filosofia... Os fildsofos se dividiam em dois grandes campos, segundo a resposta hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 8128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico que dessem a essa questo. Os que afirmavam o carater primario do espirito diante da natureza... formavam no campo do idealismo. Os outros, os que consideravam a natureza como o primario, figuram nas diversas escolas do materialismo." (F_Engels, "Ludwig Feuerbach", em Karl Marx. Obras Escolhidas, t. I pags. 407-403). E mais adiante: "O mundo material e perceptivel pelos sentidos, do qual, nés os homens, também, fazemos parte, € 0 Unico mundo real... Nossa conscigncia e nosso pensamento, por mais desligados que parecam dos sentidos, sdio 0 produto de um érgdo material, fisico: o cérebro. A matéria nao é produto do espirito, mas este, o produto supremo da matéria." (E. Engels, Ob. cit.« pag. 411). Referindo-se ao problema da matéria e do pensamento, diz Marx: "No & possivel separar o pensamento da matéria pensante. A matéria € 0 objeto de todas as mudancas. (Ob. cit., pag. 380). Caracterizando o materialismo filoséfico marxista, diz Lenin "O materialismo em geral reconhece a existéncia real e objetiva do ser (a matéria), independentemente da consciéncia, das sensacées, da experiéncia.,. A consciéncia... ndo é mais do que um reflexo do ser, no melhor dos casos seu reflexo mais ou menos exato (adequado, ideal quanto a precisdo)." (Lenin, t. XIII, pags. 286-267, ed. russa). E em outras passagens, "E matéria o que, atuando sobre nossos érgdos sensoriais, produz as sensagdes; a matéria é a realidade objetiva, que as sensagdes nos transmitem... A matéria, a natureza, a existéncia, o fisico, 6 o primario; 0 espirito, a consciéncia, as sensacées, o psiquico, é o secundario" (Ob. cit., pags. 119-120) "O quadro do mundo é 0 quadro de como se move e como pensa a matéria" (Ob. cit., pag. 288). "O cérebro é 0 érgdo do pensamento." (Ob. cit., pag. 125) c) Em oposigéo ao idealismo, que discute a possibilidade de conhecer o mundo e as leis que o regem, que n&o cré na veracidade de nossos conhecimentos, que ndo reconhece a verdade objetiva e entende que o mundo esta cheio de "coisas em si" que jamais poderdo ser conhecias pela ciéncia, 0 materialismo filoséfico marxista parte da principio de que o mundo e as leis que © regem séo perfeitamente cognosciveis, de que os nossos conhecimentos acerca das leis da natureza, comprovados pela experiéncia, pela pratica, séo conhecimentos veridicos que tém o valor de verdades objetivas, de que no hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 9128 swira02e 642 Sobre o Materialism Dilbico eo Materalsme Fistrco mundo no hé coisas incognosciveis, mas simplesmente coisas ainda nao conhecidas, que a ciéncia e a experiéncia se encarregardo de revelar e dar a conhecer Criticando a tese de Kant e de outros idealistas a respeito da incognoscibilidade do mundo e das "coisas em incognosciveis e defendendo a conhecida tese do materialismo em relacéo a veracidade de nossos conhecimentos, escreve Engels: "A refutacéo mais contundente dessas manias, como de todas as demais manias filoséficas, é a pratica, ou seja a experiéncia e a industria. Se podemos demonstrar a exatiddo de nosso modo de conceber um processo natural, reproduzindo-o nés mesmos, criando-o como resultado de suas préprias condicdes, e se, além disso, colocamo-lo a servico de nossos préprios fins, daremos cabo da "coisa em si" inacessivel de Kant, As substéncias quimicas produzidas no mundo vegetal e animal continuaram sendo "coisas em si" inacessiveis até que a quimica organica comegou a produzi-las umas apés outras: com isso, a "coisa em si" se converteu em coisa para nés, como, por exemplo, a matéria corante da ruiva, a alizarina, que hoje j4 nao se extrai da raiz natural daquela planta, mas se obtém do alcatréo da hulha, processo muito mais barato e mais facil. O sistema solar de Copérnico foi durante trezentos anos uma hipétese, na qual se podia apostar cem, mil, dez mil contra um, mas, apesar de tudo, uma hipétese, até que Leverrier, com os dados tomados desse sistema, péde calcular, néo sé a necessidade da existéncia de um planeta desconhecido, como também, o lugar em que esse planeta tinha que se encontrar no firmamento, e até que apareceu logo apés Galle e descobriu efetivamente esse planeta: a partir deste momento, o sistema de Copémico ficou demonstrado." (Karl Marx Obras Escolhidas, t. I, pag. 409) Acusando Bogdanov, Basdrov, Yushkévitch e outros partiddrios de Mach de fideismo (teoria reacionaria que prefere a fé a ciéncia) e defendendo a conhecida tese do materialismo de que nossos conhecimentos cientificos a respeito das leis pelas quais a natureza se rege so conhecimentos veridicos e de que as leis da ciéncia constituem verdades objetivas, diz Lenin: "O fideismo moderno nao repele, absolutamente, a ciéncia; a unica coisa que repele sio as “pretensdes desmesuradas” da ciéncia; e concretamente, suas pretensdes de verdade objetiva, Se existe uma verdade objetiva (como entendem os materialistas) e se as ciéncias naturais, refletindo o mundo exterior na "experiéncia" do homem, sao as Unicas que nos podem dar essa verdade objetiva, todo fideismo fica indiscutivelmente refutado" (Lenin, t. XII, pag. 102, "A teoria do conhecimento dialético e do empirocriticismo", ed. russa) hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08/mat-dia-hist.htm 10128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico Tais séo, brevemente expostos, os tracos caracteristicos do materialismo filoséfico marxista. E facil compreender a enorme importancia que tem a aplicagdo dos principios do materialismo filoséfico ao estudo da vida social, ao estudo da historia da sociedade, a grande importancia que tem a aplicagéo desses principios a histéria da sociedade e a atuagao pratica do Partido do proletariado. Se a conexao entre os fenémenos da natureza e sua interdependéncia representam a lei pela qual se rege o desenvolvimento da natureza, dai se deduz que a conexéo e a interdependéncia dos fendmenos da vida social nao representam também algo fortuito, mas a lei que rege o desenvolvimento da sociedade. Isto quer dizer que a vida social e a histéria da sociedade jé no séo um conglomerado de acontecimentos "fortuitos", pois a histéria da sociedade se converte no desenvolvimento da sociedade de acordo com suas leis, e o estudo da histéria da sociedade adquire categoria de ciéncia. Isto quer dizer que a atuaco pratica do Partido do proletariado deve basear- se, ndo nas boas intengdes das “ilustres personalidades", néo nos postulados da "raz&o", da "moral universal", etc., mas nas leis do desenvolvimento da sociedade e no estudo dessas leis. Ora, se 0 mundo é cognoscivel e nossos conhecimentos sobre as leis que regem o desenvolvimento da natureza so conhecimentos verdadeiros, que tém valor de verdades objetivas, isto quer dizer que também a vida social, o desenvolvimento da sociedade sao suscetiveis de serem conhecidos; ¢ que os dados que a ciéncia nos proporciona sobre as leis do desenvolvimento social so dados veridicos, que tém valor de verdades objetivas. Isto quer dizer que a ciéncia que estuda a histéria da sociedade pede adquirir, apesar de toda a complexidade dos fenémenos da vida social, a mesma preciso que a biologia, por exemplo, oferecendo-nos a possibilidade de dar uma aplicagao pratica as leis que regem o desenvolvimento da sociedade Isto quer dizer que, em sua atuacdo pratica, o Partido do proletariado deve guiar-se n&o por esses ou aqueles motives acidentais, mas pelas leis que regem © desenvolvimento da sociedade e pelas conclusées que delas se deduzem. Isto quer dizer que o socialismo deixa de ser um sonho de um futuro melhor para a humanidade para converter-se numa ciéncia Isto quer dizer que o enlace entre a ciéncia e a atividade pratica, entre a teoria e a pratica, sua unidade, deve ser a estrela polar que guia o Partido do proletariado. Prossigamos. Se a natureza, a existéncia, o mundo material so 0 primario, e a consciéncia, 0 pensamento, o secunddrio, 0 derivado; se 0 mundo material hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 1128 swira02e 642 Sobre o Materialism Dilbico eo Materalsme Fistrco constitui a realidade objetiva, que existe independentemente da consciéncia do homem, e a consciéncia é a imagem refletida dessa realidade objetiva, dai se deduz que a vida material da sociedade, sua existéncia, é também o primério, e sua vida espiritual, o secundério, o derivado; que a vida material da sociedade é a realidade objetiva, que existe independentemente da vontade dos homens, e a vida espiritual da sociedade, o reflexo dessa realidade objetiva, 0 reflexo do ser. Isto quer dizer que a fonte donde provém a vida espiritual da sociedade, a fonte da qual emanam as idéias sociais, as teorias sociais, as concepgées e as instituigdes-politicas devem ser procuradas ndo nessas mesmas idéias, teorias, concepcées, instituigdes politicas, mas nas condigdes da vida material da sociedade, na existéncia social, da qual s&o reflexo essas idéias, teorias, concepcées, etc. Isto quer dizer que, se nos diversos periodos da histéria da sociedade nos encontramos com diversas idéias, teorias e concepcées sociais e instituicdes politicas diferentes; se sob o regime da escravidéo observamos umas idéias, teorias, e concepgées sociais, umas instituigdes politicas, sob o feudalismo outras, e outras diferentes sob o capitalismo, a explicagao disso n&o esta na "natureza" nem na "peculiaridade" das préprias idéias, teorias, concepgées e instituigdes politicas, mas nas diversas condicdes da vida material da sociedade dentro dos varios periodos de desenvolvimento social. Segundo sejam as condigdes de existéncia da sociedade, as condigdes em que se desenvolve sua vida material, assim s&o suas idéias, suas teorias, suas concepcées e instituigdes politicas. A esse respeito, diz Marx: "Nao é a consciéncia do homem que determina a sua existancia, mas, ao contrdrio, sua existéncia social é que determina a sua consciéncia" (Karl Marx, Obras Escolhidas, t. I, pag. 339, "Contribuicdo a critica da Economia politica"). Isto quer dizer que, em politica, o Partido do proletariado para néo se equivocar e ndo se converter num conjunto de vagos sonhadores, deve tomar como ponto de partida para a sua atuacdo, nao os "principios" abstratos da "raz&o humana", mas as condigdes concretas da vida material da sociedade, que constituem a forca decisiva do desenvolvimento social; nao as boas intengdes dos "grande homens", mas as exigéncias reais, impostas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade. © fracasso dos utopistas, incluindo entre eles os populistas, os anarquistas e os social-revolucionérios, explica-se entre outras razdes, porque néo reconheciam a importéncia priméria das condigdes da vida material da sociedade quanto ao desenvolvimento desta, motivo pelo qual, caindo no idealismo, erigiam toda a sua atividade pratica, nao sobre as exigéncias do desenvolvimento da vida hitps:wwnmarxists.og/portuguesistalrv1938/08/mat-dia-hsthim 1278 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico material da sociedade, mas, independentemente delas e contra elas, sobre "planos ideais" e "projetos universais", desligados da vida real da sociedade. A forca e a vitalidade do marxismo-leninismo se estribam precisamente no fato de que este toma como base para a sua atuacdio pratica as exigéncias do desenvolvimento da vida material da sociedade, sem nunca se desligar da vida real desta Ultima. Entretanto, das palavras de Marx nao se depreende que as idéias e as teorias sociais, as concepcées e as instituigées politicas, ndo tenham importéncia alguma na vida da sociedade, que n&o exergam de maneira incidental uma influéncia sobre a existéncia social, sobre o desenvolvimento das condigdes materiais da vida da sociedade. Até agora, nos temos referido unicamente a origem das idéias e teorias sociais e das concepcies e instituigdes politicas, a seu nascimento, ao fato de que a vida espiritual da sociedade ¢ 0 reflexo das condigées de sua vida material. No tocante a importancia das idéias e teorias sociais e das concepgdes € instituigées politicas, no tocante ao papel que desempenham na histéria, 0 materialismo histérico ndo apenas no nega, mas, ao contrério, salienta a importancia do papel e da significagéo que Ihes correspondem na vida e na histéria da sociedade. As idéias e teorias sociais néo sao porém todas iguais. Ha idéias e teorias velhas que jé cumpriram sua missdo e que servem aos interesses de forcas sociais caducas. Seu papel consiste em frear 0 desenvolvimento da sociedade, sua marcha progressiva. E ha idéias e teorias novas, avancadas, que servem aos interesses das forcas de vanguarda da sociedade. O papel destas consiste em facilitar 0 desenvolvimento da sociedade, sua marcha progressiva, sendo sua importancia tanto maior quanto maior é a exatidado com que correspondam as exigéncias do desenvolvimento da vida material da sociedade. As novas idéias e teorias sociais s6 surgem depois que o desenvolvimento da vida material da sociedade coloca diante dela novas tarefas. Mas, depois de surgirem, convertem-se em uma forca importante que facilita a execugao dessas novas tarefas surgidas com o desenvolvimento da vida material da sociedade, facilitando o seu progresso. E aqui, precisamente, onde se evidencia a formidavel importancia organizadora, mobilizadora e transformadora das novas idéias, das novas teorias e das novas concepcées politicas, das novas instituigdes politicas. Por isso, as novas idéias e teorias sociais surgem a rigor porque sdo necessérias a sociedade, porque sem seu trabalho organizador, mobilizador o transformador, seria impossivel ultimar as tarefas que o desenvolvimento da vida material da sociedade faz surgit, e que jd esto em tempo de ser cumpridas. E na base das novas tarefas formuladas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade, as novas idéias e teorias sociais surgem e abrem caminho, convertem-se em patriménio das massas populares, mobilizam e organizam estas contra as forcas sociais caducas, facilitando assim a derrocada dessas forcas sociais que freiam o desenvolvimento da vida material da sociedade. hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 13128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico Eis como as idéias e teorias sociais, as instituigdes politicas, que brotam na base das tarefas jé maduras para a sua solucéo, formuladas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade, pelo desenvolvimento da existéncia social, atuam logo depois, por sua vez, sobre essa existéncia social, sobre a vida material da sociedade, criando as condigdes necessirias para ultimar a execucéo das tarefas ja maduras da vida material da sociedade e tornar possivel o seu ulterior desenvolvimento. A esse respeito, diz Marx: "A teoria se converte numa forca material logo que se apodera das massas" (Karl Marx e F. Engels, Obras Completas, t. 1, pag. 403, "Em torno da critica a filosofia hegeliana do direito"). Isto quer dizer que, para poder atuar sobre as condigdes da vida material da sociedade e acelerar seu desenvolvimento, acelerar seu melhoramento, o Partido do proletariado tem que se apoiar em uma teoria social, em uma idéia social que reflita fielmente as exigéncias do desenvolvimento da vida material da sociedade € que, gracas a isso, seja capaz de pér em movimento grandes massas do povo, de mobilizé-las e organizar com elas o grande exército do Partido proletario, apto a esmagar as forcas reaciondrias e a aplainar o caminho para as forcas avancadas da sociedade. © fracasso dos "economistas" e dos mencheviques se explica, entre outras razdes, pelo fato de que n&o reconheciam a importancia mobilizadora, organizadora e transformadora da teoria de vanguarda, da idéia de vanguarda e, caindo num materialismo vulgar, reduziam o seu papel a quase nada, e, consequentemente, condenavam o Partido passividade, a viver vegetando. A forca e a vitalidade do marxismo-leninismo se estribam no fato de se apoiarem numa teoria de vanguarda que reflete fielmente as exigéncias do desenvolvimento da vida material da sociedade e que coloca a teoria a altura que Ihe corresponde e considera seu dever utilizar integralmente sua forca de mobilizacdo, de organizacao e de transformaco. Assim, € como o materialismo histérico resolve o problema das relacdes entre a existéncia social e a consciéncia social entre as condigdes de desenvolvimento da vida material e o desenvolvimento da vida espiritual da sociedade. 3) — O materialismo histérico. Resta somente responder a esta pergunta: Que se entende, do ponto de vista do materialismo histérico, por "condigdes da vida material da sociedade", quais sdo as que determinam, em ultima instancia, a fisionomia da sociedade, suas idéias, suas concepcées, instituigdes politicas, etc? hitps:wwnmarxists.og/portuguesistalrv1938/08imat-dia-hsthim 14128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico Quais s&o essas "condigdes de vida material da sociedade", quais séo seus tragos caracteristicos? E indubitdvel, que, neste conceito de "condigdes de vida material da sociedade", entra, antes de tudo, a natureza que rodeia a sociedade, o meio geogrdfico, que é uma das condigdes necessdrias e constantes da vida material da sociedade e que, naturalmente, influi no desenvolvimento desta. Qual é o papel do meio geogréfico no desenvolvimento da sociedade? Néo sera, por acaso, 0 meio geogrdfico o fator fundamental que determina a fisionomia da sociedade, 0 carater do regime social dos homens, a transic&o de um regime para outro? O materialismo histérico responde negativamente a essa pergunta. © meio geogréfico é, indiscutivelmente, uma das condigdes constantes e necessérias do desenvolvimento da sociedade e influi, indubitavelmente, nele, acelerando-o ou amortecendo-o. Mas essa influéncia néo é determinante, uma vez que as transformacdes e o desenvolvimento da sociedade se operam com uma rapidez incomparavelmente maior do que as que afetam o meio geografico. No transcurso de trés mil anos, a Europa viu desaparecer trés regimes sociais: 0 do comunismo primitivo, o da escravid&o e 0 do feudalismo, e na parte oriental da Europa, na URSS, feneceram quatro. Pois bem, durante esse tempo, as condigées geograficas da Europa nao sofreram mudanca alguma, ou, se sofreram, foi to leve que a geografia nao julga que mereca sequer registrd-la. E compreende-se que seja assim. Para que o meio geogrdfico experimente modificagées de certa importancia, so precisos milhdes de anos, enquanto em algumas centenas ou em um par de milhares de anos podem operar-se, inclusive, mudancas da maior importancia no regime social. Dai se depreende que 0 meio geogréfico néo pode ser a causa fundamental, © fator determinante do desenvolvimento social, pois, como é que o que permanece quase invaridvel através de dezenas de milhares de anos vai poder ser a cousa fundamental a que obedeca o desenvolvimento daquilo que, no espaco de algumas centenas de anos, experimenta mudangas radicais? Do mesmo modo, é indubitadvel que o crescimento da populacéo, a maior ou menor densidade da populacdo é um fator que também é parte do conceito das "condigdes materiais da vida da sociedade", uma vez que entre essas condigdes materiais se "conta, como elemento necessdrio, o homem, e nao poderia existir a materialidade da vida social sem um determinado minimo de seres humanos Nao sera, acaso, o desenvolvimento da populacao o fator cardial que determina o cardter do regime social em que os homens vivem? © materialismo histérico também responde negativamente a essa pergunta. E indiscutivel que o crescimento da populagao influi no desenvolvimento da sociedade, facilitando ou entorpecendo esse desenvolvimento, mas ndo pode ser © fator cardial a que obedece, nem sua influéncia pode ter um cardter hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 15128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico determinante quanto ao desenvolvimento social, uma vez que o crescimento da populaco por si sé ndo nos oferece a chave para explicar por que um dado regime social é substituido precisamente por um determinado regime novo e ndo por qualquer outro, por que o regime do comunismo primitivo foi substituido precisamente pelo regime da escravidao, o regime escravista pelo regime feudal e este pelo burgués, e no por quaisquer outros. Se © crescimento da populagéo fosse o fator determinante do desenvolvimento social, a uma maior densidade do populagdo teria de corresponder forgosamente, na pratica, um tipo proporcionalmente mais elevado de regime social. Mas, na realidade, isso no se verifica. A densidade da populacao da China é quatro vezes maior do que a dos Estados Unidos e, apesar disso, os Estados Unidos ocupam um lugar mais elevado do que a China no que se refere ao desenvolvimento social, pois enquanto na China continua imperando © regime semi-feudal, os Estados Unidos hd muito tempo chegaram a fase culminante do desenvolvimento do capitalismo. A densidade da populacéo da Bélgica é dezenove vezes maior do que a dos Estados Unidos e vinte e seis vezes maior do que a da URSS, e, entretanto, a América do Norte ultrapassa a Bélgica no tocante ao seu desenvolvimento social, e a URSS leva-Ihe de vantagem toda uma época histérica, pois enquanto que na Béigica impera o regime capitalista, a URSS ja liquidou 0 capitalismo e instaurou o regime socialista. Dai se depreende que o crescimento da populacéo nao é e nem pode ser o fator cardial do desenvolvimento da sociedade, o fator determinante do carter do regime social, da fisionomia da sociedade, a) — Qual &, ent&o, dentro do sistema das condicdes materiais de vida da sociedade, o fator cardial que determina a fisionomia daquela, o cardter do regime social, a passagem da sociedade de um regime social para outro? Esse fator é, segundo o materialismo histérico, 0 modo de obtengéo dos meios de vida necessérios a exist&ncia do homem, 0 modo de producao dos bens materiais, do alimento, do vestudtio, do calgado, da habitagao, do combustivel, dos instrumentos de produgdo, etc., necessdrios para que a sociedade possa viver e desenvolver-se. Para viver, 0 homem necessita de alimentos, vestuario, calgado, habitacdo, combustivel, etc,; para obter esses bens materiais, tem de produzi-los e, para poder produzi-los, necessita dispor de meios de produco, com ajuda dos quais se consegue o alimento, se fabrica o vestuario, 0 calcado, se constréi a habitac&o, se obtém o combustivel, etc., necessita aprender a produzir estes instruments e a servir-se deles. Instrumentos de producéo, com ajuda dos quais se produzem os bens materiais e homens que os manejam e efetuam a producéo dos bens materiais, por terem uma certa experiéncia produtiva e hdbitos de trabalho: tais sio os elementos que, em conjunto, formam as forcas produtivas da sociedade. hitps:wwnmarxists.og/portuguesistalrv1938/08/mat-dia-hsthim 161728 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico Porém as forcas produtivas no séo mais do que um dos aspectos da produg&o, um dos aspectos do modo de produg&o, o aspecto que reflete a relaco entre o homem e os objetos e as forcas da natureza empregados para a produg&o dos bens materiais. © outro fator da produg&o, o outro aspecto do modo de produc, ¢ constituido pelas relacdes de uns homens com outros, dentro do processo da producio, pelas relagdes de produgao entre os homens. Os homens no lutam com a natureza e no a utilizam para a producao de bens materiais isoladamente, desligados uns dos outros, mas juntos, em grupos, em sociedades. Por isso, a produgdo é sempre e sob quaisquer condigdes uma produg&o social. Ao efetuarem a producéo dos bens materiais, os homens estabelecem entre si, dentro da producio, tais ou quais relagdes mutuas, tais ou quais relagdes de producdo. Essas relacdes podem ser relacdes de colaboragdo e ajuda mitua entre homens livres de toda exploracdo, podem ser relacdes de dominio e subordinac3o ou podem ser, por ultimo, relacées de tipo transitério entre uma forma de produc&o e outra. Porém, qualquer que seja o seu carater, as relagées de producao constituem — sempre em todos os regimes — um elemento t&o necessdrio da produco como as préprias forcas produtivas da sociedade. "Na produgéio — diz Marx — os homens ndo atuam somente sobre a natureza, mas atuam também uns sobre os outros. Ndo podem produzir sem associar-se de um certo modo para atuar em comum e estabelecer um intercémbio de atividades. Para produzir, os homens contraem determinados vinculos e relagées, e através destes vinculos e relages sociais, e s6 através deles, é como se relacionam com a natureza e como se efetua a produg&o". (Karl Marx, e £ Engels, Obras Completas, ed. cit., t. V, pag. 429, "Trabalho Assalariado e Capital"). Consequentemente, a producdo, 0 modo de produgo, nao abarca somente as forcas produtivas da sociedade, mas também as relagdes de producio entre os homens, relagdes que sdo, portanto, a forma em que toma corpo sua unidade dentro do processo da producio de bens materiais. b) — A primeira caracteristica da produgSo é que jamais se detém num ponto durante um longo periodo, mas que se transforma e se desenvolve constantemente, com a particularidade de que essas transformacdes operadas no modo de producaéo provocam inevitavelmente a mudanca de todo o regime social, das idéias sociais, das concepgées e instituigées politicas, provocam a reorganizacdo de todo o sistema politico e social. Nas diversas fases de desenvolvimento, 0 homem emprega diversos modos de producao ou, para dizé- lo em termos mais vulgares, mantém distintos géneros de vida. Sob o regime do comunismo primitive, 0 modo de producdo empregado é diferente daquele Vigente sob a escravidio; o da escravidao é diferente do em vigor sob o feudalismo, etc.. E, em consonancia com isto. variam também o regime social de vida dos homens, sua vida espiritual, suas concepcdes e instituicées politicas. hitps:wwnmarxists.og/portuguesistalrv1938/08/mat-dia-hsthim 17128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico Segundo seja o modo de produgéo existente numa sociedade, assim & também, fundamentalmente, esta mesma sociedade e assim sao suas idéias, suas teorias, suas concepcées e instituigdes politicas. Ou, em termos mais vulgares, segundo vive o homem, assim pensa. Isto significa que a histéria do desenvolvimento da sociedade é, antes de tudo, a histéria do desenvolvimento da produgdo, a histéria dos modos de produg&io que se sucedem uns aos outros ao longo dos séculos, a histéria do desenvolvimento das forgas produtivas e das relagdes de producdo entre os homens. Isto quer dizer que a histéria do desenvolvimento social é, ao mesmo tempo, a histéria dos préprios produtores de bens materiais, a histéria das massas trabalhadoras, que s&o o fator fundamental do processo de produg&o e as que levam a cabo a produg3o dos bens materiais necessérios existéncia da sociedade. Isto quer dizer que a ciéncia histérica, se pretende ser uma verdadeira ciéncia, ndo deve continuar reduzindo a histéria do desenvolvimento social aos atos dos reis e dos chefes militares, aos atos dos "conquistadores” e "avassaladores" de Estados, mas deve ocupar-se, antes de tudo, da histéria dos produtores dos bens materiais, da histéria das massas trabalhadoras, da histéria dos povos. Isto quer dizer que a chave para o estudo das leis da histéria da sociedade n&o se deve procurar nas cabecas dos homens, nas idéias e concepcées da sociedade, mas no modo de produco aplicado pela sociedade em cada um de seus periodos histéricos, isto é, na economia da sociedade. Isto quer dizer que a tarefa primordial da ciéncia histérica é 0 estudo e o descobrimento das leis da producdo, das leis do desenvolvimento das forcas produtivas e das relagdes de produgio, das leis do desenvolvimento econémico da sociedade. Isto quer dizer que o Partido do proletariado, para ser um verdadeiro partido, deve, antes de tudo, conhecer completamente as leis do desenvolvimento da producao, as leis do desenvolvimento econémico da sociedade. Isto quer dizer que, em politica, para n&o se equivocar, o Partido do proletariado deve, antes de tudo, tanto no que se refere @ formagdo de seu programa como no que toca a sua atuacdo pratica, partir das leis do desenvolvimento da produc&o, das leis do desenvolvimento econémico da sociedade. ©) — A segunda caracteristica da produgdo consiste em que suas mudangas e seu desenvolvimento comecam sempre, tendo como ponto de partida, as mudancas e 0 desenvolvimento das forcas produtivas, e, antes de tudo, das que afetam os instrumentos de produc&o. As forcas produtivas constituem, portanto, hitps:wwnmarxists.og/portuguesistalrv1938/08/mat-dia-hsthim 181728 swira02e 642 Sobre o Materialism Dilbico eo Materalsme Fistrco © elemento mais dindmico e mais revoluciondrio da produgo. A principio, mudam e se desenvolvem as forcas produtivas da sociedade, e logo depois, sujeitas a essas mudancas e de acordo com elas, mudam as relagées de produgao entre os homens, suas relagdes econémicas. Entretanto, isto néo quer dizer que as relagdes de produco no influam sobre o desenvolvimento das forcas produtivas e que estas ndo dependam daquelas. As relacées de producao, ainda que seu desenvolvimento dependa do das forcas produtivas, atuam por sua vez sobre o desenvolvimento destas acelerando-o ou. amortecendo-o. A esse respeito, convém advertir que as relagdes de producéio ndo podem ficar, por um tempo demasiado longo, atrasadas em relacdo as forcas produtivas quando estas crescem, nem se achar em contradicéo com elas, uma vez que as forcas produtivas sé podem desenvolver-se plenamente quando as relacdes de produgao esto em harmonia com elas por seu carater e seu estado de progresso e deixam margem para o seu desenvolvimento. Por isso, por mais atrasadas que fiquem as relagées de producéo em relacéo ao desenvolvimento das forcas produtivas, tém necessariamente que se por e se pdem realmente — mais tarde ou mais cedo — em harmonia com o nivel do desenvolvimento das forcas produtivas, e com o caréter destas. Noutro caso, nos encontrariamos ante uma ruptura radical da unidade entre as forcas produtivas e as relagdes de produgdo dentro do sistema dessas ultimas, com um desconjuntamento da produg3o em bloco, com uma crise de produgdo, com a derrocada das forcas produtivas. Um exemplo de desarmonia entre as relagdes de producio e o carater das forcas produtivas, de conflito entre ambos os fatores, temo-lo nas crises econémicas dos paises capitalistas, onde a propriedade privada capitalista sobre os meios de produc3o esté em violenta discordancia com o carater social do processo de producao, com o carater das forcas produtivas. O resultado dessa discordancia s8o as crises econdmicas que conduzem & destruicéo das forcas produtivas; e essa discordancia constitui, por si sé, a base econémica da revolugéio social, cuja miss&o consiste em destruir as relagdes de produgdo existentes, para criar outras novas, em harmonia com o carater das forcas produtivas. Ao contrario, um exemplo de uma harmonia completa entre as relacdes de producéio e 0 carater das forcas produtivas nos oferece a economia socialista da URSS, onde a propriedade social sobre os meios de producéo concorda plenamente com o carater social do processo da produce e onde, portanto, néo existem crises econémicas nem se produzem casos de destruicéo das forcas produtivas. Por conseguinte, as forcas produtivas néo so somente o elemento mais dinémico e mais revoluciondrio da produg&o, mas so, além disso, o elemento determinante de seu desenvolvimento. Conforme sejam as forcas produtivas, assim tém que ser também as relacdes de producao. hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08/mat-dia-hist.htm 19128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico Se 0 estado das forcas produtivas responde & pergunta de com que instrumento de produgéo os homens criam os bens materiais que Ihes sdo necessérios, 0 estado das relagdes de produgdo responde ja a outra pergunta: Em poder de quem est&o os meios de producdo (a terra, os bosques, as aguas, o sub-solo, as matérias primas, as ferramentas e os edificios destinados a produsao, as vias e meios de comunicacao, etc), & disposicéo de quem se acham os meios de produgdo: a disposicéo de toda a sociedade ou a disposicéio de determinados individuos, grupos ou classes, que os empregam para explorar outros individuos, grupos ou classes? Eis um quadro esquematico do desenvolvimento das forcas produtivas, desde os tempos primitivos até nossos dias. Das ferramentas de pedra sem polimento se passa ao arco e a flexa e, em relag&o com isto, da caca como sistema de vida & domesticagéio de animais e a criagéo do gado primitiva; das ferramentas de pedra se passa as ferramentas de metal (ao machado de ferro, arado com relha de ferro, etc.), e, em consonancia com isso, ao cultivo das plantas e a agricultura; vem logo depois o melhoramento progressivo das ferramentas metalicas para a elaboracéo de materiais, passa-se a forja de fole e a olaria e, em consonéncia com isto, se desenvolvem os oficios artesdos, se separam esses oficios da agricultura, se desenvolve a produg&o independente dos artesdos e, mais tarde, a manufatura; dos instrumentos artesdos de produg&o se passa a maquina, e a produc&o artesi e manufatureira se transforma na industria mecdnica e, por Ultimo, se passa ao sistema de maquinas, e aparece a grande industria mecdnica moderna: tal é, em linhas gerais e ndo completas, o quadro de desenvolvimento das forcas produtivas sociais ao longo da histéria da humanidade. Além do mais, como é légico, o desenvolvimento e aperfeigoamento dos instrumentos de produgSo correm por conta de homens relacionados com a produg3o e n&o se realizam independentemente deles; portanto, com as mudancas e 0 desenvolvimento dos instrumentos de produgdo, mudam e se desenvolvem também os homens, como o elemento mais importante das forcas produtivas, mudam e desenvolvem sua experiancia, no que se refere a produgao, seus habitos de trabalho e seu talento para o emprego dos instrumentos de producao. Em consonancia com as mudangas e 0 desenvolvimento experimentados pelas forcas produtivas da sociedade no curso da histéria, mudam também e se desenvolvem as relagdes de produgéo entre os homens, suas relagées econémicas. A histéria conhece cinco tipos fundamentais de relacdes de producéo: o comunismo primitivo, a escravidao, o feudalismo, o capitalismo e 0 socialismo, Sob 0 regime do comunismo primitive, a base das relagées de producio é a propriedade social sobre os meios de produgao. Isto é, 0 que, em substancia, corresponde ao cardter das forcas produtivas durante esse periodo. As ferramentas de pedra, 0 arco e a flexa, que aparecem mais tarde, exclulam a possibilidade de lutar isoladamente contra as forcas da natureza e contra os hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08/mat-dia-hist.htm 20128 swira02e 642 Sobre o Materialism Dilbico eo Materalsme Fistrco animais ferozes. Se no queriam morrer de fome, ser devorados pelas feras ou sucumbir nas mdos das tribos vizinhas, os homens daquela época viam-se obrigados a trabalhar em comum, e assim era como colhiam os frutos nos bosques, como organizavam a pesca, como construiam suas habitagées, etc.. © trabalho em comum conduz a propriedade em comum sobre os instrumentos de producéo do mesmo modo que sobre os produtos. Ainda néo havia surgido a idéia da propriedade privada sobre os meios de producéo, excetuando-se a propriedade pessoal de certas ferramentas que, ao mesmo tempo que ferramentas de trabalho, eram armas de defesa contra os animais ferozes. Ainda nao existia exploracdo, nao havia classes. Sob o regime da escravidio, a base das relacdes de producdo é a propriedade do escravista sobre os meios de producéo, bem como sobre os préprios produtores, os escravos, a quem o escravista podia vender, comprar e matar, como se fossem animais domésticos, Essas relagdes de producdo se acham, fundamentalmente, em consonéncia com o estado das forcas produtivas durante esse periodo. Agora, em vez das ferramentas de pedra, 0 homem ja dispée de ferramentas de metal. Em vez daquela misera economia primitiva baseada na caca e que néo conhecia nem a pecuaria e nem a agricultura, existem a pecudria, a agricultura, os oficios artesdos e a diviséo do trabalho entre esses diversos ramos da produsao; existe a possibilidade de efetuar um intercémbio de produtos entre os diversos individuos e as diversas sociedades e a possibilidade de acumular riquezas em maos de algumas pessoas; produz-se, efetivamente, uma acumulagéo de meios de producio em mos de uma minoria e surge a possibilidade de que essa minoria subjugue a maioria e converta seus componentes em escravos. Jé no existe o trabalho livre e em comum de todos os membros da sociedade dentro do processo da producdo, mas impera o trabalho forgado dos escravos, explorados pelos escravistas que nao trabalham Nao existe tampouco, portanto, propriedade social sobre os meios de produgdo e nem sobre os produtos. A propriedade social é substituida pela propriedade privada, O escravista é 0 primeiro e principal proprietério com plenitude de direitos. Ricos e pobres, exploradores e explorados, homens com plenitude de direitos e homens totalmente privados deles; uma furiosa luta de classes entre uns e outros: tal é 0 quadro que o regime da escravidao apresenta Sob o regime feudal, a base das relacdes de produgo é a propriedade do senhor feudal sobre os meios de produgéo e sua propriedade parcial sobre os produtores, sobre os servos, a quem jé nao pode matar, mas a quem pode comprar e vender. Simultaneamente com a propriedade feudal, existe a propriedade pessoal do camponés e do artesdo sobre os instrumentos de produgo e sobre sua terra ou sua industria privada, baseada no trabalho pessoal. Essas relagdes de produc3o se acham fundamentalmente, em consonancia com o estado das forcas produtivas durante esse periodo. O hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 21128 swira02e 642 Sobre o Materialism Dilbico eo Materalsme Fistrco aperfeicoamento progressivo da fundicao e elaboracdo dos metais, a difusio do arado de ferro e do tear, os progressos da agricultura, da horticultura, da viticultura e da fabricag&o do azeite, o aparecimento das primeiras manufaturas junto as oficinas dos artesdos: tais so os tracos caracteristicos do estado das forcas produtivas durante esse periodo. As novas forcas produtivas exigem que se deixe ao trabalhador certa iniciativa na produg&o, que sinta certa inclinacéo para o trabalho e se ache interessado nele, Por isso, 0 senhor feudal prescinde dos escravos, que néo sentem nenhum interesse pelo seu trabalho, que néo pdem nele a menor iativa, e prefere entender-se com os servos, que tém sua terra e ferramentas préprias e se acham interessados, em certo grau, pelo trabalho, na medida necesséria para trabalhar a terra e pagar ao senhor, em espécie, com uma parte da colheita. Durante esse periodo, a propriedade privada faz novos progressos. A exploragéo continua sendo quase t&o voraz como sob a escravidéo, embora um pouco suavizada. A luta de classes entre os exploradores e os explorados é 0 caracteristico fundamental do feudalismo. Sob o regime capitalista, a base das relacdes de producdo é a propriedade capitalista sobre os meios de producio e a inexisténcia de propriedade sobre os produtores, operdrios assalariados, a quem o capitalista ndo pode matar nem vender, pois se acham isentos dos vinculos de sujeicéo pessoal, mas que carecem de meios de producdo, pelo qual, para n’o morrerem de fome, se vaem obrigados a vender sua forca de trabalho ao capitalista e submeter-se ao jugo da exploragao. Ao lado da propriedade capitalista sobre os meios de producao, existe e se acha, nos primeiros tempos, muito generalizada a propriedade privada do camponés e do artesio, livres da serviddo, sobre os seus meios de produc&o, propriedade baseada no trabalho pessoal. Em lugar das oficinas dos artesdos e das manufaturas, surgem as grandes fabricas e empresas, dotadas de maquinérios. Em lugar das fazendas dos nobres, cultivadas com os primitivos instrumentos camponeses de producdo, aparecem as grandes exploracdes agricolas capitalistas, instaladas na base da técnica e dotadas de maquinaria agricola. As novas forcas produtivas exigem trabalhadores mais cultos e mais hdbeis do que os servos, mantidos no embrutecimento e na ignorancia; trabalhadores capazes de conhecer e manejar as maquinas. Por isso, os capitalistas preferem tratar com operarios assalariados livre dos vinculos da servidio e suficientemente cultos para saberem manejar a maquinaria. Mas, depois de desenvolver as forcas produtivas em proporcées, gigantescas, © capitalismo se enreda em contradicdes insoluveis para ele. Ao produzir cada vez mais mercadorias e ao fazer baixar cada vez mais os seus precos, 0 capitalismo aguga a concorréncia, arruina uma massa de pequenos e médios proprietarios, converte-os em proletérios e rebaixa o seu poder aquisitivo, com o que a venda das mercadorias produzidas se torna impossivel. Ao desenvolver a hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 22128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico produco e ao concentrar milhdes de operdrios em enormes fabricas e empresas industriais, 0 capitalismo dé ao processo da produg&o um carater social e vai minando com isso a sua prépria base, uma vez que o carater social do processo da produco reclama a propriedade social sobre os meios de producéo, enquanto a propriedade sobre os meios de produg&o continua sendo uma propriedade privada capitalista, incompativel com o carter social que 0 processo da produgdo apresenta Essas contradigées irredutiveis entre o cardter das forcas produtivas e o das relagdes de producéo se manifestam nas crises periédicas de super-produgio, em que os capitalistas, n&o encontrando compradores solventes, como consequéncia do empobrecimento da massa da populacao, provocada por eles préprios, se véem obrigados a queimar os produtos, destruir as mercadorias elaboradas, paralisar a produg&o e devastar as forcas produtivas, condenando milhées e milhdes de seres ao desemprego e & fore, ndo porque escasseiem as mercadorias, mas muito ao contrério: por haver-se produzido em excesso. Isto quer dizer que as relacdes capitalistas de produgdo j4 n&o estéo em consonéncia com o estado das forcas produtivas da sociedade, mas se acham em irredutivel contradic&o com elas. Isto quer dizer que o capitalismo leva em suas entranhas a revolugéo, uma revolugao que esté chamada a substituir a atual propriedade capitalista sobre os meios de producdo pela propriedade socialista. Isto quer dizer que a caracteristica fundamental do regime capitalista é a mais encarnigada luta de classes entre os exploradores e os explorados. Sob o regime socialista, que até hoje sé é uma realidade na URSS, a base das relagdes de produc&o é a propriedade social sobre os meios de produgao. Aqui j no ha exploradores nem explorados. Os produtos criados se distribuem de acordo com o trabalho, segundo o principio de "quem no trabalha, néo come". As relagées mituas dos individuos dentro do processo da produgao tém o carater de colaboracgdo fraternal e de mitua ajuda socialista entre os trabalhadores livres de toda exploraco. As relagdes de produgéo se acham em plena consonéncia com o estado das forcas produtivas, pois o cardter social do processo da producdo é referendado pela propriedade social sobre os meios de produsao. Por isso, a producéo socialista da URSS nao conhece as crises periddicas de super-produgo e nem os absurdos que acarretam. Por isso, na URSS, as forcas produtivas se desenvolvem com ritmo acelerado, uma vez que suas respectivas relacdes de produgéo, ao se acharem em consonéncia com elas n&o opdem o menor entrave a esse desenvolvimento. Tal € 0 quadro que o desenvolvimento das relagdes de producao entre os homens apresenta no curso da histéria da humanidade. hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 23128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico Tal é a relacio de dependancia em que se acha o desenvolvimento das relagdes de producéo com referéncia ao desenvolvimento das forcas produtivas da sociedade, e, sobretudo, com referéncia ao desenvolvimento dos instrumentos de produgao, em virtude do qual as mudancas e o desenvolvimento que experimentam as forcas produtivas se traduzem mais cedo ou mais tarde, nas transformagdes e no desenvolvimento congruentes, das relagdes de producao. "O uso e a criagSo de meios de trabalho'2). — diz Marx —, ainda que em germe se apresentem jé em certas espécies animais, caracterizam o processo de trabalho especificamente humano, razdo pela qual Franklin define 0 homem como um animal que fabrica instrumentos. E assim como a estrutura de restos fésseis de ossos tem uma grande importancia para reconstruir a organizagio de espécies animais desaparecidas, os vestigios de meios de trabalho nos servem para apreciar antigas formagdes econémicas da sociedade j4 sepultadas. O que distingue as épocas econémicas umas das outras ndo é 0 que se produz, mas como se produz... Os meios de trabalho nao séo somente © barémetro do desenvolvimento da forca de trabalho do homem, mas também o expoente das relacdes sociais em que se trabalha". (Karl Marx, © Capital, t. I, pag. 189). E em outras passagens: A) "As relagdes sociais esto intimamente vinculadas as forcas produtivas, Ao descobrir novas forcas produtivas, os homens mudam de modo de produg&o, e ao mudarem de modo de produg&o, a maneira de ganhar a vida, mudam todas as suas relagées sociais. O moinho movido a braco engendra a sociedade dos senhores feudais; a moinho a vapor, a sociedade dos capitalistas industriais". (Karl Marx, Miséria da filosofia, em Karl Marx e F. Engels, Obras Completas, ed. cit., t. VI, pag. 179). B) "Existe um movimento constante de incremento das forcas produtivas, de destruicéo das relagdes sociais e de formacéo das idéias: a abstragdo do movimento é a Unica coisa imutavel”. (Karl Marx, ob. cil, pag. 364). Caracterizando o materialismo histérico, tal como se formula no Manifesto do Partido Comunista, diz Engels: "A produgio econémica e a estrutura social que dela resulta necessariamente em cada época histérica constituem a base sobre a qual repousa a histéria politica e intelectual dessa época... Portanto, toda a histéria da sociedade, desde a dissolucao do regime primitivo da propriedade coletiva sobre 0 solo, tem sido uma histéria de lutas de classe, de lutas entre classes exploradoras e exploradas, dominantes e dominadas, segundo as diversas fases do progresso social... Agora, essa luta chegou a uma fase em que a classe explorada e oprimida (0 hitps:wwnmarxists.og/portuguesistalrv1938/08imat-dia-hsthim 24128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico proletariado) j4 no se pode emancipar da classe que a explora e a oprime (a burguesia) sem emancipar, para sempre, a sociedade inteira da opressao, da exploragao e da luta de classes", (Prélogo de Engels & edicdo alema de 1883 do Manifesto do Partido Comunista, ed. Europa- América, 1938, pag. 9). d) — A terceira caracteristica da produco consiste em que as novas forcas produtivas e as novas relagées de producéo coerentes com elas no surgem desligadas da velho regime, depois deste ter desaparecido, mas se formam em seu préprio seio; e n&o como fruto da ac&o premeditada e consciente do homem, mas de um modo espontdneo, inconsciente e independentemente da vontade humana, por duas razées. Em primeiro lugar, porque os homens néo sio livres para escolher tal ou qual modo de producéo, pois cada nova geracdo, ao entrar na vida, encontra j4 um sistema estabelecido de forcas produtivas e relagdes de producao, como fruto do trabalho das gerages anteriores, de maneira que se quer ter a possibilidade de produzir bens materiais, ndo tem, nos primeiros tempos, outro remédio sendo aceitar 0 estado de coisas vigente no campo da produgao e adaptar-se a ele. Em segundo lugar, porque, quando aperfeicoa este ou aquele instrumento de produgdo, este ou aquele elemento das forcas produtivas, 0 homem néo sabe, n&o compreende, nem Ihe ocorre sequer pensar nisso, que consequéncias sociais sua inovagao pode acarretar, mas pensa Unica e exclusivamente em seu interesse pessoal, em facilitar o seu trabalho e em obter algum proveito imediato e tangivel para si. Quando alguns individuos da sociedade comunista primitiva comecgaram a substituir, paulatinamente e tateando o terreno, as ferramentas de pedra pelas de ferro, ignoravam, naturalmente, e nao Ihes passava pela mente, qué consequéncias sociais havia de ter essa inovacdo, néo sabiam e nem compreendiam que a passagem para as ferramentas metilicas significava uma mudanca radical na producéo, mudanga que, no fim de contas, conduziria ao regime da escravidéo; a Unica coisa que Ihes interessava era facilitar 0 seu trabalho e conseguir um proveito imediato e sensivel; sua atuacéo consciente nao sala do estreito limite dessa vantagem tangivel, de carter pessoal. Quando, no perfodo do regime feudal, a jovem burguesia europeia comegou a organizar, junto as pequenas oficinas gremiais dos artesdos, as grandes empresas manufatureiras, imprimindo com isso um avanco as forcas produtivas da sociedade, néo sabia, naturalmente, nem passava por sua mente, que consequéncias sociais essa inovago havia de acarretar; ndo sabia e nem compreendia que essa "pequena" inovac&o conduziria a uma reagrupacao tal das forcas sociais que necessariamente desembocaria na revolucdo, que iria ser dirigida tanto contra a realeza, cujas mercés tanto apreciava, como contra a nobreza, cuja condigéo social néo poucos dos seus melhores representantes sonhavam escalar — a Unica coisa que a preocupava era baratear a producdo de mercadorias, langar uma maior quantidade de artigos nos mercados da Asia e da hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08/mat-dia-hist.htm 25128 ‘wisva022 1642 ‘Sobre 0 Materalisma Dialtica @ o Materialisma Hislérico América recém-descoberta e obter maiores lucros; sua atuag&o consciente nao ia além do estreito limite dessa finalidade tangivel Quando os capitalistas russos, juntamente com os capitalistas estrangeiros, comesaram a estabelecer na Russia, de um modo intensivo, a moderna grande industria mecAnica, deixando o tsarismo intacto e os camponeses entregues a voracidade das latifundidrios, ndo sabiam, naturalmente, nem Ihes passava pela mente, qué consequéncias sociais esse importante incremento das forcas produtivas havia de acarretar: néo sabiam e nem compreendiam que esse importante salto que se dava no campo das forcas produtivas da sociedade conduziria a uma reagrupacao tal das forcas sociais que daria ao proletariado a possibilidade de se unir aos camponeses e de levar a cabo a revolucao socialista vitoriosa; a Unica coisa que eles queriam era incrementar ao maximo a produgéo industrial, dominar o gigantesco mercado interno do pais, converter-se em monopolistas e obter maiores lucros da economia nacional; a consciéncia com que realizavam aquele ato nao ia além do horizonte empirico e estreito dos seus interesses pessoais. A esse respeito, diz Marx: "Na produgao social de sua vida'3), os homens contraem determinadas relagdes necessdrias e independentes‘4) de sua vontade, relacées de produgdo que correspondem a uma determinada fase do desenvolvimento de suas forgas produtivas materiais". (Karl Marx, Obras Escolhidas, ed. cit., pag. 339). Isso n&o significa, naturalmente, que as mudancas verificadas nas relacdes de producdo e a passagem das velhas relacdes de producdo para outras novas se dé suavemente sem conflitos e sem comogdes. Ao contrdrio, essas transformagées revestem geralmente a forma de uma detrocada revoluciondria das velhas relagées de producdo para dar lugar a instauracdo de outras novas. Até chegar a um certo periodo, o desenvolvimento das forcas produtivas e as mudangas que se operam no campo das relagdes de producao decorrem de um modo espontaneo, independentemente da vontade dos homens. Mas sé até certo ponto, até o momento em que as forcas produtivas que surgem e se desenvolvem conseguem amadurecer inteiramente. Uma vez que as novas forcas produtivas estéo amadurecidas, as relacdes de produc&o existentes e seus representantes, as classes dominantes, se convertem nesse obstadculo "insuperdvel" que sé se pode eliminar por meio da acdo consciente das novas classes, por meio da aco violenta dessas classes, por meio da revolucéio. Aqui se destaca com grande nitidez a enorme importancia das novas idéias sociais, das novas instituigdes politicas, do novo Poder politico, chamados a liquidar pela forga as velhas relacdes de produgS0. Do conflito entre as novas forcas produtivas e as velhas relacdes de produgo, das novas exigéncias econémicas da sociedade surgem novas idéias sociais; essas novas idéias organizam e mobilizam as massas, as massas se fundem em um novo exército politico, criam um novo Poder revolucionério e utilizam esse Poder para liquidar pela forca o hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 26128 swira02e 642 Sobre o Materialism Dilbico eo Materalsme Fistrco velho regime estabelecido no campo das relagées de producéo e referendar o regime novo. © processo esponténeo de desenvolvimento dé lugar & acdo consciente do homem, o desenvolvimento pacifico & transformago violenta, a evolugao & revolucao. "O proletariado — diz Marx — se vé obrigado a organizar-se como classe para lutar contra a burguesia... mediante a revolucéo se converte em classe dominante e, como classe dominante, destréi pela forca as relagdes de produg&o vigentes." (Manifesto do Partido Comunista, ed, cit. pag. 37). E em suas obras, noutros lugares: "O proletariado valer-se-4 do Poder politico para ir despojando gradualmente a burguesia de todo o capital, de todos os instrumentos de produg&o, centralizando-os nas maos do Estado, isto é, do proletariado organizado como classe dominante, e procurando desenvolver, por todos os meios e com a maior rapidez possivel, as forcas produtivas.” (Ob. cit. pag. 36). "A violéncia é a parteira de toda sociedade velha que leva em suas entranhas outra nova". (Karl Marx, O Capital, t. Ii, pag. 788). Eis ai em que termos Marx formulava, com tracos geniais, a esséncia do materialismo histérico no memordvel prefacio escrito em 1859 para o seu famoso livro Contribuigao 4 critica da Economia Politica. "Na produce social de sua vida, os homens contraem determinadas relagdes necessdrias independentes de sua vontade, relagdes de produg&o que correspondem a uma determinada fase do desenvolvimento de suas forcas produtivas materiais. © conjunto dessas relacdes de produc3o forma a estrutura econdmica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a super-estrutura juridica e politica e a que correspondem determinadas formas de conscigncia social. O sistema de producdo da vida material condiciona todo o processjo da vida social, politica e espiritual. Nao é a consciéncia do homem que determina a sua existéncia, mas, ao contrario, sua existéncia social é que determina sua consciéncia. Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento, as forcas produtivas materiais da sociedade se chocam com as condicdes de produgao existentes ou, o que ndo é mais do que a expressdo juridica disto, com as relacées de propriedade dentro das quais se tem movido até ali. De formas de desenvolvimento das forcas produtivas, essas relagdes se convertem em seus entraves, E se abre assim uma época de revolug&o social. Ao mudar a base econémica, transforma-se, mais ‘ou menos lentamente, mais ou menos rapidamente, toda a imensa super-estrutura erigida sobre ela. Quando se estudam essas transformagdes, cumpre distinguir sempre entre as mudancas hitps:iwwn.marxists.rgiportuguesistainv1898/08%mat-dia-hist.htm 27128 swira02e 642 Sobre o Materialism Dilbico eo Materalsme Fistrco materiais operadas nas condicées econdmicas da produg3o e que podem ser apreciadas com a exat/dao propria das ciéncias naturais, e as formas juridicas, politicas, religiosas, artisticas ou filoséficas — ideolégicas, em uma palavra — em que os homens adquirem consciéncia desse conflito e 0 combatem. E do mesmo modo que nao podemos julgar um individuo pelo que ele pensa de si mesmo, ndo podemos julgar tampouco essas épocas de transformacéio por sua consciéncia, mas, ao contrario, deve-se explicar essa consciéncia pelas contradigées da vida material, pelo conflito existente entre as forcas produtivas sociais e as relacées de produc&o. Nenhuma formacéo social desaparece antes que se tenham desenvolvido todas as forcas produtivas que comporta, e nunca aparecem novas e mais altas relagdes de produg&o antes que as condicgdes materiais para a sua existéncia hajam amadurecido no seio da sociedade antiga. Por isso, a humanidade sempre propde a si mesma unicamente os objetivos que pode alcancar, pois, bem olhadas as coisas, vernos sempre que esses objetivos se propdem apenas quando jé existem ou, pelo menos, se esto gestando os condicdes materiais para a sua realizacéo". (Karl Marx, Obras Escolhidas, t. I, pags. 338-339). Tal & a concepcao do materialismo marxista em sue aplicag&o a vida social, em sua aplicac&o a histéria da sociedade Tais séo as caracteristicas fundamentais do materialismo dialético e do materialismo histdrico, [Pardgrafo excluido desta edic&o mas constante da Edicéo "Sobre os Fundamentos do Leninismo", 1945, Editorial Calvino Ltda., Rio de Janeiro]: Por ai se vé que extraordinaria riqueza tedrica era defendida para o Partido de Lenine, contra os ataques dos revisionistas e dos degenerados, e quéo grande foi a importancia da publicagao de sua obra Materialismo e Empiro-Criticismo para o progresso do Partido Bolchevique. Inicio da pagina Notas de rodapé: (2) Organismo vivo unicelular — J, Stalin, (retornar ao texto) (2) Por "meios de trabalho" Marx entende, principalmente, instrumentos de produgéo. (J. Stalin) (retornar ao texto) (3) Isto , na produc dos bens materiais necessérios & vida dos homens. (J. Stalin). (retornar ao texto) (4) Sublinhado por nés. (J. Stélin) (retornar ao texto) [tnetusdo [03/02/2072] (Utuma alteracao][14/13/2015] hitps:wwnmarxists.og/portuguesistalrv1938/08/mat-dia-hsthim 28128

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