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Introdução às Ciências Sociais

Texto 1 – A construção histórica das ciências sociais


Alexandre Koyré - reconstituição da evolução das concepções espaciais e temporais
europeias

 O progresso agora é uma palavra de ordem, dotada de um sentido de


infinitude;
 Finitude do espaço físico;

Augusto Comte
 Tentava impedir a corrupção sistemática que havia sido elevada ao estatuto de
“ferramenta indispensável de governação”;
 A “física social” iria permitir uma reconciliação entre o progresso e a ordem ao
entregar a solução dos problemas sociais a um nº reduzido de inteligência de
elite;
 Nova estrutura de conhecimento – filósofos são agora “especialistas em
generalidades”;
 A ciência positiva visa a libertação em relação a todos os modos de
“explicação” da realidade – as investigações positivas devem limitar-se ao
estudo sistemático do que é, renunciando à descoberta da causa pioneira e do
destino final;
John Stuart Mill

 Corresponde a Comte mas substitui o termo “ciência positiva” por “ciência


exata”;
 Primeiras discussões sobre o tema do Desvio Social;
 Criação de múltiplas disciplinas das ciências sociais insere-se no esforço global
no sentido de garantir e de fazer avançar um conhecimento objetivo sobre a
realidade;
 O objetivo é aprender a verdade em vez de a inventar ou intuir;

O estatuto científico das Ciências Sociais


 Ruptura: a ciência desconfia das evidências do senso-comum
 Construção: todo o conhecimento é contruído através de instrumentos. Não
representa uma realidade concreta, não uma realidade nesse momento
 Validação: o conhecimento científico é válido dentro das condições que foi
contruído e depois foi confrontado com a realidade

Problemas Epistemológicos das C.S.

1. Natureza do objeto: pessoas em interação

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Variável no espaço ou no tempo, é difícil universalizar comportamentos;

2. Inseparabilidade sujeito/objeto
Familiaridade social e ilusão da transparência: o investigador muitas das vezes
está inserido no grupo social em estudo
Carácter ideológico, político, pragmático e etnocêntrico: enquanto indivíduos
vamos aprendendo práticas durante o processo de socialização e avaliamos o
mundo segundo essas práticas e valores.

3. Carácter pluriparadigmático
Não há um modelo teórico definido; conflitualidade interna entre as C.S., não
existe um conjunto de princípios e conceitos teóricos que sejam aceites por
todas as C.S. e existem mesmo princípios contraditórios.
Fatores de Diferenciação das C.S.

 Fragmentação do objeto empírico; cada ciência social estuda o objeto de


forma diferente, de acordo com as suas próprias perspectivas
 Diversidade teórica; várias perspectivas de análise
 Orientações metodológicas; cada disciplina estudo o objeto de análise com
base nos seus métodos

APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


Condições Sociais em que as C.S. se reorganizaram

 Reorganização Política à escala mundial (hegemonia dos EUA; ascensão política


do 3º mundo (grande desenvolvimento))
 Grande aceleração do desenvolvimento e crescimento económico (30 anos
gloriosos e a expansão demográfica; desenvolvimento do 3º mundo)
 Desenvolvimento académico (surgem novas universidades; maior circulação de
pessoas, ideias e teorias; C.S. reconhecidas não só nos países desenvolvidos)
As C.S. são acusadas de serem:

 Eurocêntricas
 Machistas
 Burguesas

Texto 2 – A pesquisa em sociologia: métodos de investigação


Articulação entre teórica e empírica:

 Teoria;
 Metodologia;
 Empiria

Ponto de partida: teoria; permite escolher que método utilizar

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Metodologia: segundo o tipo de interrogações decide-se qual o método de
analise a seguir
Empiria: testar empiricamente; analisar se as conclusões que devem ser
novamente analisadas
Métodos de Investigação – técnicas de pesquisa utilizadas para estudar o mundo social

 Questionário
 Entrevistas
 Trabalho de campo na comunidade em estudo
 Interpretação de estatísticas oficiais e documentos históricos
Etapas no processo de investigação
1º definição do problema – CAMPO TEÓRICO

 Selecionar um tópico para a pesquisa; formulação específica do problema de


investigação;
2º revisão da bibliografia existente/ pesquisa bibliográfica – CAMPO TEÓRICO

 Familiarizar-se com a pesquisa já existente sobre o problema; aprofundar o


conhecimento;
3º formulação de hipóteses – CAMPO ANALÍTICO

 O que se pretende testar; elaborar uma resposta provisória;


4º seleção do modelo de investigação – CAMPO ANALÍTICO

 Escolha do método de investigação – experiências; inquéritos; observação, uso


de fontes…
5º realização de investigação/ recolha de informação – CAMPO DE OBSERVAÇÃO

 Recolher dados; registar informação;


6º interpretação de resultados – CAMPO ANALÍTICO
7º elaboração de relatório final – CAMPO TEÓRICO

 Qual o significado das conclusões; como se relacionam com as descobertas


anteriores;
TÉCNICAS DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO

 Tratamento quantitativo (análise extensiva)


Inquéritos por questionário – questionários abertos ou fechados; questionários
fechados apresentam perguntas com respostas fechadas de modo a permitir a fácil
comparabilidade.

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Questionários fechados – permite um grau de generalização maior; respondem entre
as possibilidades apresentadas; resultados fáceis de comparar e catalogar.
Questionários abertos – opinião completa; não há restrições na resposta; fornecem
uma informação mais completa e rica; resultados mais difíceis de comparar.
Recolha de informação – retira-se informação de estatísticas do INE, ou seja,
resultados de questionários já realizados. A informação estatística é acessível à recolha
de informação e a posterior conclusão dado que reduz a complexidade da realidade a
indicadores quantitativos.

Vantagens Desvantagens
Permite recolher muita informação Informação pouco aprofundada
Fácil comparação entre respostas Nem sempre reflete a realidade
Permite quantificar a informação Quando o inquérito é fechado podem escapar
pormenores importantes
Permite generalizar as conclusões

 Tratamento Qualitativo (análise intensiva)


Tipo Vantagens Desvantagens
Trabalho de campo Info + rica/aprofundada; Apenas pode ser utilizada para
flexibilidade para alterar a estudar comunidades
estratégia a seguir; + relativamente pequenas; ñ se
adequado p/ estudar culturas pode generalizar conclusões; a
desconhecidas presença do investigador pode
não ser bem aceite
Entrevista Fornece info + rica do que o O nº de entrevistados é menor
inquérito; dá mais liberdade a no que no inquérito; a
ambas partes; info com influência do investigador é
profundidade grande; pequeno grau de
comparabilidade
Pesquisa documental Grandes quantidades de Depende das fontes existentes
informação; apropriado em que podem ser parciais;
estudos históricos dificuldade de interpretação
do doc.; pouco fiáveis

Experiências O investigador controla as Muitas vezes ñ se pode criar a


variáveis específicas; as situação; as reações estudadas
experiências são mais fáceis são afetadas pela situação
de repetir em investigações experimental;
posteriores
Histórias de vida – reconstitui-
se a vida de uma
pessoa/instituição e daí
retiram-se orientações para
elaborar um trabalho/estudo

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Diários – registos regulares
feitos pelas pessoas que
podem ser úteis em estudos
sobre atividades quotidianas
Triangulação – combinar
vários métodos de modo a
eliminar as limitações de cada
um

Texto 3 – Desigualdades, identidades e valores


Diferenciação social e cultural
Classe Social é diferenciável por:

 Nível de poder, possibilidades escolares ou profissionais, níveis de consumo;


 Destinos sociais;
 Diferenças não só sociais mas também entre sexos, raças, etnias

Classes sociais em Karl Marx – as classes definem-se a partir da estrutura económica


das sociedades (conjunto de relações que os indivíduos necessariamente estabelecem
na produção social da sua existência)
Karl Marx foi grande inspirador das doutrinas socialistas que criticou a sociedade
capitalista.
Relações de:
Exploração – proprietário paga um salário inferior ao valor real da força do trabalho na
produção pelo proletariado – base funcional do sistema-lucro
Dominação – o Estado é o instrumento de domínio político
Duas classes principais: proletariado e burguesia
O enriquecimento progressivo da classe burguesa contrasta fortemente com as duras
condições de vida dos que mais contribuem para essa mesma riqueza – torna-se
inevitável o conflito entre classes. Devido à diferente posição que cada classe ocupa no
sistema produtivo, o sistema capitalista gera desigualdades entre as mesmas sendo
necessário mudança, acabando com este sistema. Karl apresenta um modelo
revolucionário no qual o sistema passa a ter meios de produção coletivos. A mudança
estava nas mãos do proletariado uma vez que representava a maioria da população,
pelo que nenhuma força conseguir-lhe-ia resistir.
A divisão social que Marx apresenta na produção reflete-se depois em todos os níveis
de vida social. Para além das duas classes sociais já existentes, Marx falou também nas
classes intermédias (transitórias) que mais tarde acabariam por se introduzir nas
classes principais (proletariado e burguesia).

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Poder da estratificação social em Max Weber
Weber propôs um sistema que se opõe ao sistema apresentado por Karl Marx. O
sistema de Marx define as classes sociais segundo a ordem económica, considerando
as relações entre classes relações de poder. No entanto, para Weber as classes não
estabelecem entre si relações de exploração, mas sim relações de competição entre
indivíduos e grupos que jogam os seus recursos – sejam de propriedade, força de
trabalho ou qualificações mais ou menos raras.
Para Weber não são as classes o exclusivo motivo de desigualdade, há outros meios,
como por exemplo os grupos de Status (diferenciação feita através do prestígio
socialmente atribuído a certos estilos de vida, tipos de profissão, etc)
Divisão em quatro classes:

 Superior – grandes proprietários


 Média alta – pequenos proprietários altamente qualificados
 Média baixa – pequenos proprietários com pouca qualificação
 Inferior – trabalhadores desqualificados
Para Weber as desigualdades sociais não dependem apenas de um fator económico,
embora este seja o mais importante. Do ponto de vista analítico, o modelo de Weber é
mais flexível no tempo e no espaço.
Três esferas da estruturação das desigualdades e das relações de poder
1. Poder económico  Ordem económica/mercado
Classes
Recursos: propriedade, força de trabalho, qualificações, posição de mercado,
oportunidades de vida, situação de classes

2. Poder social  Ordem social


Grupos de Status
Estima e honra social, partilha de estilos de vida

3. Poder político  Ordem política


Partidos
Organização de interesses, influência sobre a acção colectiva e a decisão
pública
Existem diferenças IMPORTANTES em relação à visão de Karl Marx: as classes sociais
constituem-se a partir da sua posição no mercado (grupos de Status) e a partir das
suas qualificações; contrariamente à visão de Marx que as classes eram definidas pela
sua posição económica (proletariado e burguesia; se trabalhava ou mandava
trabalhar).
Eric Olin Wright
Define classes sociais a partir da articulação de 3 recursos (apoiando-se em Marx):

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 Propriedade dos meios de produção – estabelece uma linha divisória entre
proprietários e não proprietários
 Recursos com qualificações (escolares ou profissionais) – distingue os que
ocupam posições teóricas dos que desempenham apenas funções de execução
KARL MARX – ESTRUTURA ECONÓMICA
 Recursos Organizacionais (relacionado com a capacidade de decisão) –
diferenciam os que tem poder de decisão e autoridade hierárquica dos que não
tomam decisões nem tem poder sobre os outros trabalhadores.
Matriz de localizações de classes nas sociedades capitalistas contemporâneas
Proprietários
Não
Gestores Gestores não Re
Proprietários/
Gestores qualificados semiqualificados qualificados cur
Assalariados
sos
Supervisores Supervisores Supervisores não org
Burguesia/
qualificados semiqualificados qualificados
capitalista ani
Técnicos não Trabalhadores zac
Pequenos ion
empresários gestores semiqualificados Proletários
ais
Pequena
burguesia

+ credenciais/qualificações -

Wright distingue assim 12 classes sociais diferentes. É na esfera não proprietária que a
população tem crescido mais.
Pierre Bourdieu (Faz fusão entre os aspetos teóricos de Marx e Weber)
As linhas de divisão entre classes são traçadas pela posse diferencial de vários capitais
que operam generalizadamente nas relações sociais.
4 critérios de diferenciação social (distingue classes pelo tipo de capital)

 Capital económico: propriedade e rendimentos


 Capital social: escolaridade e cultura
 Capital cultural: a cultura que possuímos
 Capital simbólico: maneira como as pessoas se valorizam, prestígio
Existem diferentes classes cada um com diferentes níveis desses capitais.

Tipologia de classes:

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Classes superiores – níveis elevados de capital económico, cultural e social. As várias
frações de classe vivem em constante competição para adquirirem mais capital.
Padrões de indústria e comércio, professores, produtores artísticos, profissões liberais,
quadros, engenheiros
Classes médias – níveis médios dos 3 tipos de capital. Nova pequena burguesia,
técnicos, formadores, empregados, quadros médios, artesão, pequenos comerciantes
Classes populares – desprovidos de todo o tipo
Após observarmos as hipóteses dos 4 autores (Marx, Weber, Wright, Bourdieu)
podemos definir classes como categorias sociais cujos membros, em virtude de serem
portadores de montantes e tipos de recursos semelhantes, tendem a ter condições de
existência semelhantes.
Estrutura de classes – é o sistema de diferença que “encaixa” cada indivíduo no lugar
Notas:
Componente ética - as pessoas incorporam valores referentes ao grupo social onde são
socializadas
Componente estética – gastos referentes a cada grupo

Texto 4 – Violência Doméstica


Realidade dinâmica, heterogénea que se expressa por diferentes formas:

 Violência física
 Violência sexual
 Violência psicológica
 Violência emocional
 Discriminação sociocultural
 Mal-estar social
 Insegurança
 Medo e descrença/incerteza no futuro
Uma realidade pode ser mais ou menos prolongada no tempo, combinando vários atos
de violência.
Tipos de violência:

 Física – murros e pontapés, puxar o cabelo, empurrar, atirar objetos, tentativa


de ou atropelamento…
 Psicológica – não deixar dormir, maltratar amigos, bater em coisas, desprezar,
humilhar, insultar, gritar
 Sexual – violar, obrigar a ver filmes pornográficos e agir como nos filmes,
prostituição forçada, práticas sexuais não consentidas
 Intimidação – perseguição, mostrar ou mexer em objetos intimidatórios,
ameaça de suicídio, utilização dos filhos

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 Isolamento – proibir a vítima de sair sozinha ou sem o seu consentimento,
proibir a vítima de trabalhar fora de casa, afastá-la do convívio com família e
amigos
 Económica – negar o acesso a bens ou a dinheiro, gerir o salário da vítima,
manipulá-la para que se demita
Se considerarmos a violência no namoro jovem devemos acrescentar aos tipos de
violência anteriores:

 Stalking – assédio e forma de violência definida como um conjunto de


comportamentos de assédio praticados, de forma persistente, por uma pessoa
contra outra, sem que esta os deseja. O autor destes comportamentos de
assédio pode ou não ser alguém que a vítima conhece
 Cyberbullying
 Abuso sexual
Os custos da violência doméstica
Custos que incidem diretamente sobre as pessoas envolvidas:

 Custos que afetam individualmente a vítima


 Custos aos que lhe estão mais próximos (família chegada)
 Custos visíveis a curto prazo, normalmente associados aos atos de
violência, mas custos, também, que se prologam ao longo da vida – como o
stress pós-traumático – ou mesmo que afetam as gerações futuras –
através dos filhos
 Custos que, pela sua natureza, num primeiro momento, só se deixam
observar com instrumentos qualitativos. Por exemplo, os aspetos que se
relacionam com as dimensões emocionais e afetivas, cujas consequências
podem ter expressão na ação pessoal quotidiana, ou ações futuras
Custos que são pagos por toda a sociedade:

 Financiados por impostos – casas abrigo (vítima), polícia, magistrados,


técnicos de apoio social
 Custos que têm uma expressão económica, mas custos, também,
difíceis de quantificar – psicológicos, sociais e culturais.
Custos económicos da violência doméstica
A violência nas relações de intimidade provoca perdas na produção económica na
medida que tem um impacto negativo no emprego das mulheres. A violência leva a
ausências prolongadas do local de trabalho à perda de emprego. Proveniente disso, há
uma perda de produtividade (ausências ao emprego e perdas nos postos de trabalho).
Estes custos económicos têm ramificações para a economia e para a sociedade em
geral (o produto é reduzido devido à diminuição da produtividade).
Tipos de Custos:

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 Intangíveis – sofrimento, medo, tentativa/risco de suicídio, efeitos emocionais
nas crianças, morte
 Vida pessoal e familiar – alterações dos modos de vida e padrões do consumo
(considerando os elevados custos despendidos na justiça, saúde, educação ou
perda do posto de trabalho), menos tempo de lazer
 Justiça – investigação judicial, custos dos tribunais em processos cíveis, penais,
de família e menores, serviços forenses, advogados oficiosos, custos prisionais,
indemnizações a cargo do estado
 Saúde – formação especializada de vários profissionais de saúde, mais valências
hospitalares e ao nível dos Centros de saúde; apoio médico e psicológico
prolongado às vítimas
 Educação – educação especial para as crianças; programas de reeducação e
formação, programas de prevenção e de consciencialização da violência
doméstica nas escolas
 Serviços sociais – casas de abrigo, serviços de apoio à vítima e descendentes,
linhas de financiamento de apoio a ONG
O número de suspeitos de violência doméstica e de pessoal efetivo nas equipas de
proximidade de apoio à vítima tem vindo a aumentar ao longo dos anos.

Texto 5 - A economia-mundo, a semiperiférica e a incorporação africana


Nos 30 anos que se procederam após a 2ª Guerra Mundial o desenvolvimento que
surgiu trouxe com ele 2 novas teorias:

 Teoria da modernização – pressupõe um quadro do mundo capitalista, é uma


interpretação problemática, pois toma como modelo de desenvolvimento os
países que se desenvolveram em primeiro
 Teoria da dependência – os países do 3º mundo não têm capacidade para
efetuar certas trocas com os países do 1º mundo (trocas desiguais). Esta teoria
baseia-se no facto dos países não passarem todos pelas mesmas fases de
desenvolvimento
Immanuel Wallerstein - Teoria do sistema-mundo
O sistema-mundo é um sistema de relações económicas e políticas à escala
internacional. É constituído por: Centro, Semiperiferia, Periferia
Esta teoria procura explicar o funcionamento económico e político à escala mundial
em períodos de longa duração. Recupera a ideia da teoria da dependência, de que as
trocas internacionais são desiguais, isto porque, o tipo de atividades dos países
condiciona as suas relações e os seus tipos de economia.
Características que definem a situação de cada país no sistema-mundo:

 Económicas – tipos de atividades produtivas


 Sociais – qualificações e remunerações dos trabalhadores
 Políticas – tipo e papel do estado

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As regiões do sistema-mundo (centro, periferia, semiperiferia) apresentam, entre si,
uma relação de interdependência.
O sistema capitalista foi expandido a grande parte do mundo e novos territórios foram
adicionados ao sistema-mundo.
Definição das zonas do sistema-mundo:
Centro – países mais desenvolvidos c/ maior poder económico, que dominam
politicamente (os que mais beneficiam da divisão internacional do trabalho)
Semiperiferia – 3 qualidades estruturais/características

 Estável - são mais equilibrados e permanecem mais tempo nesta posição


Os países periféricos reproduzem a sua própria semiperiferidade (estado
prolongado)
 Permanente – existem sempre a semiperiferia, independentemente da
situação particular dos estados
Há movimentos de países, mas nunca pode deixar de existir semiperiferia assim
como centro e periferia, pois deixaria de ser sistema-mundo
 Relacional – para além das dinâmicas internas, os estados estão sujeitos a
pressões dos países do centro e da periferia
Periferia – países com menos recursos, participam na divisão internacional do trabalho
em fases menos rentáveis (salários baixos e grande exploração). Não têm capacidade
para se desenvolverem – produzem e vendem matérias-primas e mão-de-obra (para o
centro especialmente). Pouca participação no sistema político
Papel da semiperiferia

 Económico – nível de desenvolvimento intermédio


- Função de intermediação entre centros e periferia
- Absorve setores económicos abandonados pelo centro

 Político – função de intermediação política


- Impede a polarização e a existência de uma única autoridade no sistema-mundo
(centro, dado que a periferia não tem meios nem capacidade para terem influência no
sistema político)

 Social – contribui para a incorporação da mão-de-obra dos países periféricos


na economia-mundo capitalista

Os países semiperiféricos podem ser definidos como os que tendem à produção de


produtos manufaturados para o mercado interno (do próprio país), mas também são
exportadores de produtos primários, desempenhando o papel de parceiros periféricos
face aos países centrais e parceiros centrais face a alguns países periféricos.

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Texto 6 - Processos de Globalização
Globalização – processo de distensão: conexão em rede entre contextos sociais e
regiões, à escala de toda a superfície do planeta;
- Intensificação das relações sociais, económicas, políticas e culturais à escala mundial,
que ligam lugares distantes;
- As concorrências locais são moldadas por dinâmicas e acontecimentos que se dão a
grande distância geográfica.
Aspetos a considerar sobre a globalização:

 Homogeneidade – produtos idênticos em todo o mundo (ex: McDonald’s)


 Diversificação – adaptação de produtos idênticos em todo o mundo para a
cultura em que está a ser comercializado (ex: no McDonald’s em Portugal
vende-se sopa e McBifana dado que é algo da cultura portuguesa)
Aspetos negativos da globalização:

 Destruição de culturas locais (dado que com a globalização muitos países


adotam culturas estrangeiras acabando por diminuir a sua)
 Aumenta as desigualdades do mundo (os ricos enriquecem, porque já
apresentam meios para se desenvolverem cada vez mais, já os pobres
empobrecem cada vez mais; uma das razões para tal poderá ser devido à
abertura de fronteiras económicas, assim o comércio local perde lucros para o
estrangeiro – a subsistência é destruída)
O protecionismo pode ser uma medida adequada para evitar a destruição da
economia interna, no entanto, apenas deve ser usado em certos casos e com
cautela dado que poderá ser benéfico, mas em excesso pode constituir um entrave
ao desenvolvimento dos países.
Problema da colonização ao contrário - O desemprego na economia ocidental
aumenta derivado da mobilização das empresas de países desenvolvidos para
países em desenvolvimento devido à maior e mais barata mão de obra. O
desemprego aumenta nos países desenvolvidos devido a esta mobilização.
Dimensões institucionais da modernidade:

 Capitalismo – vasto campo de ação para atividades globais de grandes


empresas
 Industrialismo - tarefas profissionais
 Vigilância – o estado não pode intervir noutros países, as empresas podem
 Poder militar - aliança entre estados
Dimensões institucionais da globalização:

 Economia capitalista mundial – isolamento económico em relação às políticas


de cada país; autonomia das empresas – influenciam decisões políticas
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 Divisão internacional do trabalho – especialização regional
 Sistemas de estados-nação - a globalização compra poder dos estados
 Ordem militar mundial – envolvimento global dos estados em conflitos

Boaventura de Sousa Santos


Modos de produção da globalização:

 Localismo globalizado - o processo pelo qual determinado fenómeno local é


globalizado com sucesso
Ex: atividades mundiais das multinacionais, transformação da língua inglesa em
língua franca, difusão global do fast food ou música popular americana
 Globalismo localizado – impacto específico de práticas e imperativos
transnacionais nas condições locais, as quais são, por essa via, desestruturadas
e reestruturadas de modo a responder a esses imperativos transnacionais (de
modo a corresponder à globalização)
Ex: zonas dentro de países de comércio livre ou zonas francas; desflorestação e
destruição maciça dos recursos naturais para pagamento da dívida externa;
Práticas e discursos de resistência aos localismos globalizados e aos globalismos
localizados
Cosmopolitismo – organização transnacional de resistência; vítimas das trocas
desiguais ao abrigo da globalização
Património comum da humanidade – lutas pela proteção e desmercadorização de
recursos, entidades, ambientes que nos garantem a sobrevivência
Globalização hegemónica
Força marcada pela homogeneização de carácter neoliberal (atuante a vários níveis),
imposta de cima para baixo, que faz emergir desigualdades de poder, que enfraquece
o poder do Estado, que causa exclusão da população (especialmente do terceiro
mundo)
Desvalorização cultural desses povos, por via do processo de homogeneização da
globalização hegemónica.
Periferia do sistema-mundo encontra-se no paradoxo entre a civilização e a
resistência:

 Caso se entreguem à civilização, estarão destinados ao desaparecimento,


fazendo parte de outra classe de excluídos
 Somente se houver resistência (defesa dos seus valores, dos seus padrões
culturais e afirmação dos direitos que possuem como povo) poderão assegurar
a sobrevivência.
Globalização contra-hegemónica

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A globalização enquanto processo não é mais que um campo de lutas transnacionais. É
feita de luta contra a violência estrutural que assola países pobres. Trata-se da
sobrevivência das comunidades locais, dos seus lugares simbólicos e da sua
biodiversidade.
Assenta na ideia de um multiculturalismo emancipatório, baseada “em iniciativas
enraizadas no lugar”.

Texto 7 – Terceiro setor e Estado-Providência em Portugal


Estado-Providência:

 Estado responsável (direta ou indiretamente) pelo bem-estar da população


numa perspetiva de equidade, proteção social e justiça social
 Pós segunda guerra mundial
 Pressupõe um compromisso entre as classes trabalhadoras e os detentores do
capital, um compromisso que é gerido pelo Estado
 Políticas sociais
Economia social/ Terceiro setor

 Enquadra as organizações sem fins lucrativas, que não são governamentais


(ONG), e que visam gerar serviços de caracter público
 Lógica distinta da lógica do Estado e do Mercado Capitalista
 Organiza-se em torno de fatores humanos e não de lógicas competitivas
individuais, da reciprocidade e formas comunitárias de propriedade
O estado-providência implica a intervenção do estado no domínio da segurança social,
do emprego, da educação, da saúde (atinge o seu ponto mais alto nos 30 anos
gloriosos que se procedem à II guerra mundial); este pacto, no entanto, degradou-se
com a crise da década de 1970, e posteriormente com o Consenso de Washington,
tendo esta forma de estado ter sido alvo de reformas de retração.
Tais reformas levaram, a certos países, a erosão/diminuição dos salários, das
prestações sociais e dos direitos liberais, o que criou fortes entraves ao consumo, do
qual depende também o crescimento e o emprego. O consumo, o investimento e até
algumas intervenções sociais passaram a ser mantidos com recurso ao crédito
bancário.
Pressupostos comuns dos regimes de “Welfare State”

 O sistema económico dominante é o capitalismo.


 As relações de classes baseiam-se na divisão de trabalho. Detentores vs. Não
detentores de capital
 O principal meio para assegurar a existência é ter emprego no mercado formal
de trabalho
 Autonomia relativa do estado

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 A intervenção do estado combina-se com as estruturas e processos familiares e
de mercado para construir um pluralismo de bem-estar (welfare mix)
 O Welfare Mix desmercadoriza os bens e serviços necessários à reprodução
social, fornecendo-os fora do mercado
(Desmercadorizar significa impedir que a economia de mercado estenda o
seu âmbito a tal ponto que transforme a sociedade no seu todo numa
sociedade de mercado, numa sociedade onde tudo se compra e tudo se
vende, inclusive os valores éticos e as opções políticas)

Estado-Providência em Portugal

 Estado novo – modelo de família patriarcal com responsabilidades na provisão


do bem-estar e instituições caritativas e mutualidades
 Criação da caixa geral de aposentações (dirigida aos funcionários públicos –
1929) e criação de um sistema de seguros sociais obrigatórios dirigido aos
trabalhadores privados com o objetivo de cobrir situações de velhice, invalidez
e doença
 1974 – marca a institucionalização das políticas sociais que propiciaram o
alargamento da proteção social a toda a população, melhorando o apoio em
termos de prestações, através da criação do regime não-contributivo que
contemplava a atribuição de pensões sociais a quem não auferia rendimentos
nem tinha carreira contributiva

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 CRP 1976 - reconhece a segurança social como competência do estado. A
proteção social passa a abranger os desempregados, as situações de doença e
de vulnerabilidade, a velhice, a invalidez, a maternidade, a viuvez, e a
orfandade, deixando assim de abranger apenas alguns segmentos da população
mais relacionados com o trabalho.
 É criado o Serviço Nacional de Saúde (1979), como garantia de assegurar o
direito à saúde enquanto direito universal
 1984 (1º Lei de Bases da SS), o Estado-Providência define as suas políticas
sociais e a sua atuação com base no pressuposto de um regime de proteção
social universal, pretendendo uma cobertura de todos os cidadãos, seja pela via
do regime contributivo, do regime não contributivo ou da ação social. Prevê
ainda o livre acesso a todos os cidadãos à saúde e à educação, serviços
considerados essenciais para o bem-estar da população.
 Década de 90 - Apoios sociais escolares, apoios médicos e alimentares a alunos mais
carenciados, formalização da escolaridade obrigatória a partir dos 6 anos de idade,
alargamento do ensino superior, criação do ensino especial; aposta-se também no
ensino recorrente de adultos e na formação contínua dos professores

Características da Economia Social

 Primazia das pessoas e objetivo social sobre o capital;

 Combinação de interesses dos membros como interesse geral;

 Controlo democrático pelos membros deste tipo de entidades;

 A maioria dos excedentes é usada para objetivos de desenvolvimento sustentável,


serviços do interesse dos membros ou do interesse geral;

 Implica a adesão voluntária e aberta a este tipo de iniciativas;

 Defendem a aplicação dos princípios de solidariedade e responsabilidade;

 Gozam de autonomia de gestão e independência das autoridades públicas.

O sector cooperativo e social compreende especificamente:

a) Os meios de produção possuídos e geridos por cooperativas, em obediência

aos princípios cooperativos, sem prejuízo das especificidades estabelecidas

na lei para as cooperativas com participação pública, justificadas pela sua

especial natureza

b) Os meios de produção comunitários, possuídos e geridos por comunidades locais


c) Os meios de produção objeto de exploração coletiva por trabalhadores

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d) Os meios de produção possuídos e geridos por pessoas coletivas, sem

carácter lucrativo, que tenham como principal objetivo a solidariedade social,

designadamente entidades de natureza mutualista

Texto 8 – Ciência, Tecnologia e Sociedade de Risco


Sociedade de Risco:

 Possibilidade de ocorrência de evento com consequências nefastas


 Surge nos séculos XVI e XVII pelos exploradores portugueses e espanhóis, e a questão
dos seguros marítimos
 Implica a necessidade de compreender que fatores desencadeiam situações de risco e
quais os seus efeitos
 Risco e incerteza: o risco implica incerteza
 Riscos manufaturados ou “novos riscos” implicam processos complexos de decisão
sociais, económicos e políticos
 Os novos riscos resultam do impacto do desenvolvimento tecnológico e científico –
implica, ainda a perda de capacidade de prever o futuro e, sobretudo, de atuar
previamente (ex: aquecimento global)
 Tecnologia e ciência enquanto elementos paradoxais neste contexto: é ameaça, mas
também potencial solução inovadora

Ulrich Beck (1986) - A sociedade de Risco

 O conceito de “modernidade reflexiva”


 A ciência e a tecnologia são produtoras de desenvolvimento e progresso, mas também
produtoras de risco
 Os riscos, tal como a riqueza, são objeto de distribuição: no que toca aos riscos
estamos perante a distribuição de “males”, não de bens materiais, de educação ou de
propriedade. Beck argumenta que os riscos são transescalares, que a distribuição
desses males, dos riscos, é transversal a todas as classes
 Além dos riscos ecológicos, assiste-se a uma precarização crescente e massiva das
condições de existência, com uma individualização da desigualdade social e de
incerteza quanto às condições de emprego, tornando-se a exposição aos riscos
generalizada
 A principal crítica de Beck é dirigida ao “estatuto de verdade” conferido à Ciência: “Nas
questões de risco ninguém é perito, todos são peritos.”

Anthony Giddens (1990)

 Globalização do risco em termos de intensidade (ex: Guerra nuclear)


 Expansão da quantidade de eventos contingentes que afetam todos: acumulação de
uma grande diversidade de risco - ecológicos, biomédicos, sociais, militares, políticos,
económicos, financeiros… Por exemplo, os riscos referentes às rápidas mudanças
globais nas relações de trabalho, já que com o acelerado incremento da tecnologia
aumenta o desemprego
 Socialização da natureza, ou seja, a forma dada à natureza pelo homem (a
manipulação genética de alimentos e riscos para a saúde humana)
 Riscos manufaturados – riscos sociais contruídos (pela ciência e tecnologia)

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Risco e Democracia

 Omnipresença do risco nas sociedades contemporâneas


 O discurso político cauteloso e a questão da confiança dos cidadãos quando o discurso
é contrariado pelos factos
 Amplificação mediática do debate público em torno do risco: controvérsias
sociotécnicas
 Os estudos sobre risco (individual, social e ambiental), antes considerados uma
subárea das ciências passaram a construir-se em temas políticos centrais, com impacto
nas agendas de políticas públicas
 O risco é propenso ao debate público – a importância crescente da participação cidadã
 As certezas procuradas pelo poder político contrapõem-se às incertezas veiculadas
pela ciência
 Restruturação dos processos de decisão na resposta aos riscos

Estratégias para lidar com o risco

Politização do risco: da função de redistribuição do estado-providência à regulação pelo


estado de áreas como o ambiente, segurança alimentar…

Regulação do risco – intervenção do estado no mercado ou nos progressos económicos e


sociais visando controlar as potências consequências adversas que podem resultar para a
saúde pública, ambiente ou segurança das pessoas

Atuação a título preventivo

Regulação do risco/governação do risco

Participação

Informar o público  Ouvir o público  Envolver o público nas decisões  estabelecer


acordos

O que significa participar?

 A participação cidadã implica o envolvimento direto e/ou indireto nos processos de


decisão que envolvem situações de risco
 A participação pública pode ser definida como o processo através do qual os membros
de uma comunidade, sobretudo face a situações de risco, individual ou coletivamente,
desenvolvem a capacidade de assumir a responsabilidade de: colaborar no
planeamento de soluções, avaliar as soluções adotada

Importância da participação pública:

1. A participação pública é desejável porque os cidadãos possuem uma perspetiva


(experiência e conhecimento)
2. Os serviços públicos devem ser responsáveis e transparentes, sobretudo quando
questões de risco estão implicadas nas decisões

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Texto 9 – De dependentes da Estaco a dependentes Estado: Desemprego
de meia-idade e o estado social como último reduto
Trabalho:

 Atividade que transforma a natureza


 Uma atividade que combina criatividade, pensamento conceptual e analítico e uso de
aptidões manuais para conseguir um objetivo pré-determinado

Emprego:

 Atividade destinada à sobrevivência


 Atividade feita sob alguma dureza e controlo de outros, de instituições ou tecnologias
 Atividade levada a cabo na experiência de receber algo em troca, estando associada a
uma situação de dependência (trabalho assalariado)
 Organização do capitalismo industrial “acabou” com o “trabalho” e valorizou a
estabilidade no emprego

História do trabalho:

Desde do século XVII que se valoriza o trabalho produtivo livre: juntamente com o serviço
militar o trabalho produtivo torna-se o critério de independência e de cidadania plena ou ativa

Século XIX: trabalho como “liberdade criadora” que permite ao ser humano transformar suas
condições de vida, o mundo e ele próprio

Capitalismo industrial: o trabalho torna-se mercadoria

Século XX: o fim do trabalho… o trabalho que não é só exercido por seres humanos
(automação)

O trabalho como emprego

 O trabalho remunerado é chave para a integração social e económica


 Ciclo de vida normal (homens nos países industrializados) orientado para um emprego
remunerado
 Sistemas orientados para o trabalho
Sistemas educativos – confere qualificações para o trabalho
Sistema de proteção social – preenche as lacunas na vida laboral (acidente, doença,
desemprego) e acautelam a transição para a reforma
Intervenção social e estatal no mercado de trabalho (emprego como objetivo e como
direito)
 Estatutos sociais estruturam-se na relação como o emprego (empregados,
desocupados, desempregados, assistidos)
 Vida cívica - trabalho oferece possibilidades de um estilo de vida independente e de
estatuto social; movimentos de trabalhadores conseguem conquistas sociais
(aumentos salariais, redução do horário de trabalho, férias…)

Transformações no trabalho e no emprego

 A nova revolução industrial: automatização das máquinas substituída pela era


informacional; novas profissões e qualificações e dificuldades de reconversão
profissional de alguns trabalhadores

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 Dualização do mercado de trabalho: distância crescente entre o grupo de
trabalhadores protegidos (salários, benefícios estatais e da empresa e ações) e o dos
trabalhadores precários
 Nova categoria social: trabalhadores pobres
 Desemprego de massa e de longa duração afetando as vidas e identidades dos que são
atingidos
 Desemprego diferido: pessoas que se esforçam por não cair no desemprego c/
formação, manutenção das rotinas quotidianas
 Dispositivos públicos de apoio ao emprego e formação criam novas categorias de
trabalhadores (estagiários, bolseiros)

A precariedade laboral refere-se a “empregos sem estatuto” (empregos incertos com menos
regalias sociais) diferentes de empregos satisfatórios

A precariedade relaciona:

 Insegurança no emprego
 Perda de regalias sociais
 Salários baixos
 Descontinuidade nos tempos de trabalho

A precaridade laboral é resumida a instabilidade (a impossibilidade de programar o futuro), a


incapacidade económica (impossibilidade de fazer face aos “riscos sociais” e de assegurar as
despesas económicas do quotidiano – surgimento dos “novos pobres”) e alteração dos ritmos
de vida (alteração nos horários de trabalho e da relação entre trabalho/desemprego)

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O fim do trabalho

Duas ideias centrais:

1. Supressão material do trabalho


 Transformações na materialidade das atividades
 Constrangimentos das tecnologias de informação e comunicação (TIC)
 Novas formas de organização do trabalho
 De um “emprego para a vida” para uma “empregabilidade para a vida”

2. Transformação dos seus significados


 Transformações nos referentes identitários
 Diversidade de estatutos do trabalho
 Individualização das relações de trabalho

O desemprego

A população desempregada integra quem já trabalhou, quem procura um novo emprego e


quem procura o primeiro emprego; “indivíduos com idades entre os 15 e os 74 anos que
estejam nas seguintes condições”:

 Estarem sem trabalho durante a semana de referência (a semana em que


decorre o inquérito), isto é, não terem um emprego (por uma hora ou mais)
em situação de trabalho remunerado ou por conta própria;
 Estarem disponíveis para trabalhar, isto é, estarem disponíveis para trabalhar
num emprego remunerado ou por conta própria antes de finalizarem as duas
semanas seguintes à semana de referência;
 Estarem ativamente à procura de trabalho, isto é, terem feito diligências para
procurar emprego remunerado ou por conta própria, no período de quatro
semanas a terminar na semana de referência ou terem encontrado trabalho a
ser iniciado em data posterior, isto é, no período de pelo menos três meses

Desemprego de longa duração: conjunto de pessoas que estão desempregadas há mais de um


ano

Consequências do desemprego

Objetivas Subjetivas
Perda de rendimento regular Perda de autoestima
Prestações sociais que implicam Sentimento de inutilidade social dada a
rendimentos inferiores centralidade da ética do trabalho
Possibilidade de existir perda de rendimento Impactos de foro psicológico
total
Degradação das condições de vida Aumentos dos casos de violência
Risco de pobreza

Estratégias de enfrentamento do desemprego

 Estado social
 Mercado (atividades de substituição e pequena produção para autoconsumo)
 Sociedade-providência (redes sociais)

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 Emigração

Texto 10 – A sociedade de consumo: estilos de vida, cultura e mercado


Sociedades de consumo: origens e desenvolvimento histórico

1ª etapa: primeira metade séc. XX

1910-20 – Mudanças nos processos produtivos (linha de montagem, estandardização, fabrico


em série + inovação tecnológica) (Ford T)

 Mudanças nos processos comerciais (marketing, compra e crédito)


 Mudanças na vida quotidiana (novas formas de lazer e entretenimento)
 Anos 30 (crise económica = new deal: políticas sociais e estimulação da economia pelo
lado da procura)

2º etapa: pós II guerra mundial

1945-1975: os “trinta anos gloriosos”

 Fordismo, políticas económicas keynesianas, estado-providência, ganhas de


produtividade e consumo em massa
 Contexto que favoreceu o incremento dos níveis de rendimento e bem-estar das
populações, em especial classes médias e populares

Sociedade de consumo

É aquela que se encontra numa avançada etapa de desenvolvimento industrial capitalista e


que se caracteriza pelo consumo massivo de bens e serviços.

É consequência do desenvolvimento industrial em que a oferta excede a procura.

Investimento em estratégias de marketing (agressivas e sedutoras) que obrigam a consumir,


permitindo escoar a produção.

O consumismo como tendência: tipo de consumo impulsivo, descontrolado, irresponsável e


muitas vezes irracional.

Fatores socioeconómicos que justificam a sociedade de consumo

 Crescimento exponencial da capacidade produtiva – modelo fordista de produção em


massa (pós 2ª guerra mundial)
 Desenvolvimento dos mercados e das técnicas de vendas, marketing e publicidade
 Desenvolvimento do crédito (e a questão do endividamento – constitui uma nova
fonte de consumo ou investimento)
 Desenvolvimento dos serviços e das indústrias do lazer (pós 2ª guerra)
 Crescimento dos rendimentos das famílias (pós 2ª guerra mundial)

Fatores políticos do desenvolvimento da sociedade de consumo

 Reivindicações dos trabalhadores e do movimento sindical


 Redução do horário de trabalho
 Direito a férias e ao usufruto de tempos livres
 Políticas redistributivas (políticas fiscais; IRS/IRC, taxas progressivas) e
institucionalização dos direitos sociais – estado-providência (após 2ª guerra mundial)

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 Direito à segurança social, à saúde, à educação

Fatores socioculturais do desenvolvimento da sociedade de consumo

 Cultura individualista e consumo como forma de prazer, de autossatisfação e de


construção das identidades pessoais
 Competição estatutária através do consumo (quem consumir mais/bens e serviços
mais caros equaliza-lhe um estatuto maior ao dos outros consumidores)
 Crescimento das classes médias e dos estilos de vida centrados no consumo
 Importância dos espaços de consumo na organização dos territórios urbanizados e do
espaço público

As transformações da sociedade de consumo:

 Transformações dos padrões de compra e de comportamento dos consumidores =


novos consumos
 Homogeneização e segmentação (homogeneização que resulta da produção em massa
+ segmentação com maior variedade dos mercados)
 Consumidor como agente da economia moderna (centralidade do consumidor e sua
psicologia, motivações, desejos, competências e modelos com impacto direto na
estratégia dos mercados)
 Sociedade de consumo como sociedade de lazer (aumento do tempo de não trabalho,
industrialismo e capitalismo penetram na esfera do lazer)

Z. Bauman

 O consumo é hoje estrutural na sociedade


 O consumo estrutura a nossa identidade (imagem que criamos para nós mesmos e
imagem que enviamos para os outros)
 O consumo organiza as relações sociais
 Os consumidores são também mercadorias

Jean Baudrillard

Quatro lógicas do consumo/ quatro tipos de valores dos objetos

LÓGICA FUNCIONAL  valor de uso dos objetos, princípio da utilidade

LÓGICA DA EQUIVALÊNCIA ECONÓMICA  Valor de troca dos objetos, princípio do mercado

LÓGICA SIMBÓLICA  Valor afetivo e de representação dos objetos, princípio da


identificação individual ou grupal

LÓGICA DO VALOR-SIGNO  valor comunicativo e expressivo dos objetos, objeto indicativo


dos gostos e posição social = princípios da diferenciação e da competição social

O PAPEL DAS MARCAS E DA PUBLICIDADE NA LÓGICA SOCIAL DO CONSUMO.

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