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Aulas Teóricas
23/02/2021
Aula de apresentação:
Programa e bibliografia:
INTRODUÇÃO:
1. Os modelos de processo penal: acusatório; inquisitório e misto. Sistemas
históricos. Direito comparado.
2. A relevância constitucional do processo penal. A articulação entre as
garantias penais substantivas e as garantias processuais.
3. O direito penal e o direito processual penal.
3.1. A relação de complementaridade funcional entre o direito penal e
o processo penal. O principio da judicialidade (art.27º/2; art.29º/1 e
art.32/2 da CRP);
3.2. Pressupostos substantivos e pressupostos processuais da
responsabilidade criminal. As condições de procedibilidade.
3.3. A natureza processual dos crimes: crimes públicos, semipúblicos
e particulares.
4. Apresentação do CPP de 1987.
4.1. A estrutura essencialmente acusatória do processo penal;
4.2. Analise do Acórdão do TC nº 7/87, de 9 de janeiro de 1987
(fiscalização preventiva da constitucionalidade do CPP);
5. Alterações ao CPP ( lei nº59/98, de 25 de agosto; lei nº 48/2007, de 29 de
agosto; lei nº 26/2010, de 30 de agosto; lei nº20/2013, de 21 de fevereiro,
entre outras, a ultima das quais pela lei nº 39/2020, de 18 de agosto- versão
mais recente).
TRAMITAÇÃO:
1. Nota histórica;
2. Formas de processo;
3. Caráter subsidiário da forma de processo comum;
4. A gravidade dos crimes e as formas de processo;
5. A natureza processual dos crimes e as formas de processo;
6. As fases do processo comum:
6.1. As diligencias pré ou extra processuais;
6.1.1. A prevenção criminal;
6.1.2. As averiguações preliminares;
6.2. A aquisição da noticia do crime;
6.3. O auto de noticia;
6.4. As medidas cautelares e de policia;
6.5. O inquérito:
6.5.1. A decisão de abertura do inquérito;
6.5.2. O ato de abertura do inquérito;
6.5.3. O ambito e a finalidade do inquérito;
6.5.4. A direção do inquérito;
6.5.5. A publicidade e o segredo de justiça;
6.5.6. Os prazos do inquérito;
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6.5.7. As nulidades do inquérito;
6.5.8. A conclusão do inquérito;
6.5.9. O ambito do principio de oportunidade: o arquivamento em caso
de dispensa de pena, a suspensão provisoria do processo e o
envio para a forma de processo sumaríssimo;
6.5.10. O envio do processo para mediação.
6.6. A instrução:
6.6.1. O requerimento para abertura da instrução;
6.6.2. Da instrução em geral;
6.6.3. O encerramento da instrução;
6.6.4. A crise da instrução.
6.7. O julgamento:
6.7.1. Os atos preliminares;
6.7.2. A audiência de julgamento;
6.7.3. A sentença.
7. O processo sumário.
8. O processo abreviado.
9. O processo sumaríssimo.
SUJEITOS PROCESSUAIS:
1. A teoria dos sujeitos processuais: intervenientes no processo penal e sujeitos
processuais;
2. O tribunal.
2.1. Organização, estatuto jurídico e competência;
2.2. A competência funcional, a competência material e competência
territorial.
2.3. O tribunal de júri, o tribunal coletivo e o tribunal singular. A
distribuição da competência material. As reservas de competência
material.
2.4. A competência por conexão.
2.5. A declaração de incompetência.
2.6. Impedimentos e suspeições.
3. O MP:
3.1. O estatuto do MP e dos seus agentes.
3.2. A posição institucional do MP e dos seus agentes.
3.3. As atribuições do MP no processo.
3.4. A intervenção dos órgãos de polícia criminal.
4. O Arguido e o seu Defensor:
4.1. As garantias do suspeito;
4.2. A constituição de arguido;
4.3. Os direitos e os deveres do arguido;
4.4. O defensor.
5. O Assistente:
5.1. Os poderes do assistente;
5.2. A constituição como assistente;
5.3. O regime especifico dos crimes particulares.
6. As partes civis:
6.1. O lesado;
6.2. O pedido de indemnização civil no processo penal;
6.3. O principio de adesão.
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OBJETO DO PROCESSO:
1. O problema da identidade do objeto do processo. O objeto do processo e a
estrutura acusatória. Os princípios da identidade, da indivisibilidade e da
consumpção.
1.1. O critério da identidade do objeto do processo;
1.2. Os momentos processuais da fixação do objeto do processo;
1.3. Os critérios legais e doutrinários de fixação do objeto do processo;
1.4. A alteração de factos e a alteração da qualificação jurídica;
1.5. A alteração não substancial de factos e a alteração substancial de factos.
2. O regime da alteração substancial de factos:
2.1. Os factos novos autonomizáveis.
2.2. Os factos novos não autonomizáveis.
PROVA:
1. As definições de prova;
1.1. O papel da prova no processo penal;
1.2. Prova, meios de prova e meios de obtenção da prova.
2. O regime dos meios de prova:
2.1. Os meios de prova típicos;
2.2. Meios de prova atípicos;
2.3. A livre apreciação e os meios de prova de valor reforçado.
PROIBIÇÕES DE PROVA:
1. Conceitos gerais.
2. As proibições de produção de prova.
2.1. Os temas de prova proibidos;
2.2. Os meios de prova proibidos;
2.3. Os métodos de prova proibidos:
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2.3.1. Os métodos contrários aos direitos de liberdade;
2.3.2. Os procedimentos violadores das formalidades.
3. As proibições de valoração de prova.
3.1. As proibições de produção cuja violação prejudica a utilização das
provas.
3.2. As proibições de produção cuja violação não tem consequências.
3.3. As proibições de valoração de prova independentes.
4. A invalidade do ato processual.
4.1. O sistema das nulidades e irregularidades processuais.
4.2. As nulidades extra sistemáticas e o seu regime sui generis.
4.3. As violações reconduzíveis ao sistema das nulidades e irregularidades
processuais.
5. O efeito à distancia das proibições de prova.
6. As garantias de defesa contra o ato invalido.
7. As consequências penais da violação das proibições de prova.
02/03/2021
Participantes processuais:
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Há uma definição clássica de sujeitos processuais que não tem origem entre nós, é uma
definição que foi dada por Belling. Este definia os sujeitos processuais como aqueles
participantes processuais cujo papel é de tal maneira relevante que sem eles um
processo penal no sentido do direito vigente seria impensável. Belling estabelece uma
relação de causalidade necessária entre os Sujeitos processuais e o próprio processo,
como se os sujeitos fossem causa do processo naquele sentido em que se os tirássemos,
nem que fosse um só deles, deixaria de haver processo. De acordo com esta ideia de
causalidade necessária havia, segundo Belling três sujeitos processuais: 1) o garante da
ordem jurídica (o juiz); 2) o autor- MP; 3) o réu. Tirando estes três, todos os outros
participantes processuais seriam meros intervenientes. Esta definição de Belling só fazia
sentido num determinado processo penal num determinado modelo de estrutura que
dizemos acusatória, havendo nestes casos uma separação necessária das entidades que
julgam e as entidades que acusam para garantir a imparcialidade do julgamento e
finalmente o réu entre nós designamos como arguido. Estes três sujeitos processuais da
definição original de Belling, são os únicos na OJ processual penal portuguesa.
O PROF Figueiredo Dias define de maneira diferente e mais significativa dos sujeitos
processuais do que a definição clássica de Belling, como aqueles participantes a quem
pertencem direitos, que surgem sobre a forma de poderes deveres ou oficiais de direito
pulico, autónomos da conformação concreta de tramitação do processo como um todo
em vista da sua decisão final. não tem atos avulsos durante o processo, podem
determinar a tramitação do processo como um todo através das suas intervenções. Então
é por isso mesmo que no processo penal português FD entende que não há apenas os
três sujeitos clássicos (tribunal, MP e arguido), mas há ainda mais dois sujeitos
processuais: o defensor e o assistente. O defensor do arguido, o seu mandatário judicial
não é apenas a boca que diz as palavras do arguido, ele tem, em função das suas
competências de defesa, autonomia para intervir no processo como todo e as vezes
contra a vontade do seu constituinte, além de que em certos contextos como é o caso do
julgamento da ausência, é o defensor que esta fundamentalmente na liderança da defesa
e independentemente de qualquer contacto com o arguido até porque pode ser um
defensor oficioso numa situação desse género e outras. O assistente é uma figura muito
singular do processo penal português e não o podemos confundir com o ofendido
porque aquele é alguém que assume um estatuto formal de sujeito processual no
processo penal e tem que requerer a sua constituição como assistente e tem poderes de
conformação do processo como um todo e pode solicitar diligencias durante o inquérito,
requerer a abertura da instrução para juntar factos que constituam uma alteração
substancial ao processo, pode recorrer autonomamente etc.. e portanto merece este
estatuto de sujeito processual.
O regente aproveita para acrescentar outro sujeito processual que é a vítima, porque o
CPP, depois do aditamento da lei nº130/2015, de 4 de setembro criou um dispositivo o
art.67ºA e que foi a forma como o estado português implementou a transposição da
diretiva 2012/29/EU do PE e do conselho de 25 de outubro de 2002 e que estabelece
normas mínimas relativas aos direitos, ao apoio e a proteção das vitimas da
criminalidade em substituição da decisão quadro de 2001. É duvidosa a necessidade de
transposição desta forma da diretiva criando uma figura cujo papel e estatuto no
processo penal não é inteiramente claro. Não se percebe se os direitos de participação
ativa no processo penal previstos no código são aqueles que pertencem ao assistente ou
que pertenciam ao ofendido não constituído como assistente. Nº5 do 67ºA- uma
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definição muito vaga do que poderia caber a vitima. Havendo hipótese que não haveria
necessidade da criação desta figura no CPP, porque do ponto de vista material as
exigências da transposição da diretiva da vitima já tinham acolhimento até por excesso
na legislação em vigor, mas o legislador jogou pelo seguro, criou a figura para não
haver importações da falta de transposição, mas secalhar não o fez de forma impecável
por isso fica aqui a vitima com este estatuto de eventual sujeito processual, mas é
assunto que carece de esclarecimento.
o dos intervenientes no processo penal: são vários nas suas diversas fases e
com vários papéis mas caracteristicamente avulsos que podem ser por exemplo
os peritos que no sistema europeu continental são peritos imparciais nomeados
pelo tribunal; os peritos não são de parte. Intervém no processo a media em que
sejam nomeados pelo tribunal quer seja para realizarem relatórios ou periciais
policiais, quer para prestarem esclarecimentos que assim for necessário em fase
de julgamento sobre o conteudo dos relatórios periciais que elaboraram.
Também há as testemunhas, estas que diferentemente no nosso sistema das
testemunhas do sistema anglo saxónico porque já testemunhas de facto e
testemunhas peritos neste último sistema, mas nos temos só testemunhas de
facto que depõem sobre aquilo que presenciaram pelos sentidos e desse ponto de
vista tem que ter conhecimento dos factos direto para que possam testemunhar
na primeira pessoa e englobam eventualmente o próprio ofendido se não se
constituir como assistente no processo. Pode ser chamado, pode ser arrolado
para prestar depoimento como testemunho. Também consultores técnicos
também é possível. São figuras que se caracterizam por ter uma intervenção
avulsa, sem poder conformar o processo como um todos. Depois temos os OPC
(órgão de policia criminal) que tem uma definição no art.1º do CPP. Estes são
auxiliares das autoridades judiciarias, que pode ser o MP o juiz de instrução ou
juiz de julgamento na realização das diligencias que forem necessárias para o
apuramento da verdade e a realização da justiça, para recolha de provas e a
questões das provas e o desenvolvimento da investigação. Quem tem este
estatuto de órgão policia criminal? São varias entidades, alguns têm um estatuto
de caráter geral como é o caso da policia judiciaria, a policia de segurança
publica, da guarda nacional republicana nas suas esferas de competência que são
definidas elas respetivas leis orgânicas em conjugação com o CPP, mas também
podem ser órgãos de policia criminal com competências mais delimitadas como
é o serviço de estrangeiros e fronteiras ou a agencia de segurança alimentar
económica (ASAE). Na lei portuguesa tem autonomia, tem a sua própria
autonomia e respondem a diretivas das autoridades judiciárias mas decidem
quando da realização das diligencias que tenham sido requeridas no ambito da
autonomia técnica e tática.
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que ter o cuidado de não pensar que o demandante é sempre o ofendido, não é
assim, pode ser qualquer pessoa que tenha sofrido danos a conta do crime.
A Tramitação
As Formas de processo:
Instrução
Pronúncia
(art.286º CPP)
Fase de instrução: quando se interpõe esta fase de instrução, ela pode terminar
com um despacho de pronuncia ou de não pronuncia. Se terminar com o
despacho de pronuncia, segue o facto em principio para julgamento, salvo
aqueles casos que possa ocorrer recurso. Estas três fases: inquérito, instrução e
julgamento, são fases que são dirigidas por entidades diferentes. O titular do
inquérito é o MP; o titular da instrução é o juiz de instrução; o titular do
julgamento é o juiz de julgamento. O juiz de instrução tem competências de juiz
de garantias, interfere na fase de inquérito para salvaguardar as liberdade e
garantias e fundamentais das pessoas envolvidas no processo, mas para além
disto decide em questões de medidas de coação, designadamente restringir a
liberdade com a prisão preventiva que são decretadas por ele, ou para autorizar
medidas de obtenção de prova especialmente lesivas, seja porque são métodos
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ocultos, ou evasivas da privacidade (ex.: escutas telefónicas). Na fase de
instrução, também é juiz da instrução enquanto fase do processo.
Terminado o inquérito, com uma acusação nada impede que os autor prossigam
para a realização de um julgamento. No sistema do processo penal europeu
continental (faz parte o nosso sistema) há aqui um aspeto que é muito
característico e que não existe nos processos penais no modelo anglo saxónicos,
que é uma tradição de passagem dos autor da investigação para o tribunal, ou
seja, o tribunal recebe os autos do processo e tem acesso as informações que
constam desses autos e ao conteudo dos autos do inquérito. Vamos imaginar que
o processo prosseguiu para a fase de julgamento e este pode ser um tribunal
singular (juiz monocrático), um tribunal coletivo (composto por três juízes) ou
um tribunal de júri à portuguesa (tem uma composição mista com três juízes
togados e depois tem 4 jurados populares e 4 jurados populares suplentes- todos
decidem sobre matéria de facto e de direito). Podemos ter esta fase de instrução
facultativa, mas tem que ser requerida, não ocorre necessariamente e é dirigida
pelo juiz de instrução que ele próprio pode ter assistência dos OPC.
Há quem diga que o processo comum se caracteriza por ter três fases (inquérito,
instrução e julgamento): uma delas é facultativa que é a instrução. Alguns autores
costumam dizer que não são três, mas sim são cinco- devíamos considerar a noticia da
infração como uma fase e devíamos considerar os recursos (estes também são
facultativos). Isto é uma questão meramente classificatória.
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Como se adquire a noticia do crime- os próprios OPC podem adquiri-la e devem
comunica-la ao MP. Ainda antes de tudo o mais e de haver a instauração de um
processo penal, os OPC têm já competência para a realização de certas medidas:
cautelares e de policia, p.ex.: de identificação de pessoas, de aquisição e custodia de
meios de prova. ainda antes que haja inquérito já há uma atuação relevante e devem
desde logo guardar tudo isso sobre um número de identificação de processo crime
(NIPC) e que se mantém até ao final do processo. A noticia crime também pode ser
adquirida por denúncia facultativa ou por denúncia obrigatória. a denuncia distingue-se
da queixa em razão da natureza processual de certos crimes.
INQUÉRITO:
Após a instauração do inquérito, pelo MP tem que haver um despacho do MP, ele pode
desenvolver-se de varias formas tendentes a várias hipóteses de finalização. Nós
pensaríamos que o inquérito termina com uma de duas decisões: ou o processo é
arquivado ou o suspeito é constituído arguido e ai havendo indícios suficientes da
autoria e materialidade seria deduzida pelo MP a acusação contra ele e então seria uma
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duvida entre o arquivamento e a acusação. Não é tão simples assim porque se for para
arquivar porque, apesar de todas as diligencias feitas, não se conseguiu chegar a
conclusão de que houve crime ou de quem foi o seu agente, não é preciso chegar a
conclusão da inocência dos visados- principio da presunção da inocência- é quanto basta
para que havendo uma duvida sobre a autoria ou materialidade e não havendo mais
forma de esclarecer o ponto porque percorreu todas as diligencias razoáveis de
investigação foram feitas, o MP deve arquivar o inquérito ou comunicar ao particular
que a investigação está terminada e até com a indicação do seu ponto de vista que não
deve haver acusação (art.285º do CP).
Está ainda uma figura que é a mediação penal de adultos. Obedece a uma ideia
autónoma. Esta escapa a aplicação jurisdicional do processo penal, procura o reencontro
entre o ofensor e a vitima fora das instâncias formais de controlo diante de um mediador
penal de forma a permitir uma renormalização entre o contacto entre o ofensor e a
vitima, serando uma ferida aberta entre ambos e eventualmente no plano comunitário
em que ambos estão inseridos desde que ele concorde em determinadas medidas porque
tem que respeitar o principio da dignidade humana e que seja restaurada a justiça sendo
essa decisão depois chancelada pelo MP e pondo termo ao inquérito e por isso nestas
formas de desenvolvimento e conclusão do inquérito deve ir no nosso esquema.
FIM DO INQUÉRITO:
Arquivamento;
Acusação (MP- 283º);
Acusação pelo particular (285º).
Pode terminar pelas formas de diversão processual, e envio pela mediação penal, mas se
não for num desses casos, o inquérito pode terminar com uma acusação do MP ou com
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o arquivamento ordenado dos atos pelo MP. Eu vou colocar uma reserva quanto a
possibilidade de arquivamento do MP relativamente aos crimes particulares porque aí o
MP não pode simplesmente arquivar, tem sempre que notificar o particular constituinte
como assistente para que ele deduza a acusação portanto aqui o MP só pode arquivar se
o particular não tiver constituído como assistente no prazo estabelecido pela lei ou se o
particular, constituindo-se como assistentes, não deduzirá a acusação particular. Esta
nota de reserva do art.285º é complementada com a acusação particular.
JULGAMENTO:
RECURSOS:
09/03/2021
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APRESENTAÇÃO DO CPP:
Introdução:
O que veio fazer o DL 35.007 foi introduzir profundas alterações na instrução separando
uma fase de instrução preparatória, que era da competência do MP, ou passou a ser
da competência do MP, e uma fase de instrução contraditória, que era da competência
de um juiz, como já antes era toda a instrução . A fase de instrução preparatória tinha
em vista a descoberta dos indícios da existência de um crime e do seu agente. A fase de
instrução contraditória, que se tornou obrigatória nos processos de querela
(criminalidade mais grave), sendo da competência de um juiz devia ser requerida pelo
MP no mesmo ato em que deduzia o despacho de acusação.
Esta reforma teve defensores, mas também teve vozes críticas ao longo dos anos e até
ao 25 de abril de 1074, vozes críticas sobretudo de Advogados como ABRANTES
FERRÃO e SALGADO ZENHA, este último apontava na origem desta reforma uma
ideia condenável, do seu ponto de vista, de administrativação da instrução preparatória.
Mas de onde vem este conceito de administrativação? No fundo prende-se com o
estatuto, que tinha então o MP, em que era no fundo parte ou uma extensão do poder
executivo, perdendo com isso grande parte da sua independência e tornando-se sujeito a
orientações de caracter político, sobretudo, do Ministro da Justiça e portanto
SALGADO ZENHA não via com bons olhos esta administrativação do processo penal
português, não obstante ela tivesse introduzido elementos de acusatoriedade no processo
penal português ao separar o controlo da investigação nesta 1 fase da intervenção
sucessiva já de um mestrado judicial.
O pós 25 de Abril:
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que um Movimento com estas características revolucionárias dedicasse atenção ao
processo penal, dado o processo penal ser um barómetro do Estado de Direito e a
política criminal é uma das dimensões da política geral, portanto não poderia deixar o
programa do MFA de cuidar deste aspeto que depois teve imediata tradução legislativa,
logo em 75 com o DL nº605/75, de 3 de novembro, que criou o inquérito policial para
crimes puníveis com pena correcional (conceito que já não existe na nossa lei
processual penal e penal). Para entender este DL nº605/75 com esta designação da pena
criminal como sendo o seu objeto entende-se que o inquérito policial se aplicava aos
crimes menos graves.
Constituição de 1976:
CPP 1987:
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porque antes o MP tinha um estatuto que o vinculava ao poder executivo, na medida em
que a nomeação para os cargos superiores do MP era controlada pelo regime politico do
estado novo e o MP não era uma magistratura.
Estatuto do MP:
Acórdão do TC nº 7/87:
Problema: A CRP diz que toda a instrução é da competência de um juiz ao passo que o
CPP diz que o inquérito é da competência do MP.
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salvaguardar a liberdade e a segurança dos cidadãos no decurso do
processo, designadamente no inquérito (fase de processo que pode assumir especial
dramatismo em especial para suspeito ou arguido porque pode implica diligencias de
varia natureza), bem como para garantir que a obtenção prova durante as investigações
se faça com respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos. O TC entendeu que a
atribuição do inquérito ao MP não seria inconstitucional, porque o MP na arquitetura
do CPP de 1987, embora seja dominus do inquérito, não pode realizar diligências das
naturezas atrás referidas sem que as promova, primeiro, junto de um juiz de instrução,
que tem competência para as autorizar e as vezes para as presidir enquanto diligencias,
dependendo dos casos.
Conclusão do TC:
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Votos Dissidentes:
Este dispõe que: não se trata de saber se o domínio do inquérito pelo MP contraria o
preceito constitucional, mas sim se vai contra a estrutura do sistema de garantias que a
CRP concede aos cidadãos em matéria de processo penal. Aproximasse do argumento
utilizado pelo TC no acórdão.
Em suma, o CPP de 1987 defende o arguido das intrusões abusivas na esfera dos seus
direitos, liberdades e garantias e de mais a mais, o sistema do CPP de 1987 respeita a
estrutura acusatória e é, por isso, conforme à CRP.
As Revisões do CPP:
A nossa lei passou por varias revisões, mas podemos dizer que este continuo de revisões
a que foi sujeito o CPP não o transfigurou e são em grande medida aperfeiçoamentos
necessários:
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A Revisão de 1998;
A Revisão de 2007 (recorreu a uma comissão de consultores representando-se
nela rodos os setores relevantes para a aplicação das leis penais desde as
magistraturas as políticas criminais e tbm com representação de académicos e
esta revisão seria depois monitorizada pelo observatório da justiça durante 3
anos com emissão de relatórios semestrais que iam acompanhado a aplicação da
nova lei processo penal que resultou depois um documento final e depois um
relatório de síntese de aperfeiçoamento. Incorporou muitos aspetos que
resultavam dos tais instrumentos internacionais vinculativos e todo o capital de
conhecimentos resultante da aplicação pratica do CPP de 1987. Procurou
introduzir mais eficiência e eficácia das leis processuais penais, não descurou o
papel das vitimas e reforçou as garantias de defesa.
As Alterações de 2010;
As Alterações de 2013- teve o sentido contrario as alterações anteriores, mas é
este o código de 1987. O código em vigor é uma boa lei; na altura em que ele foi
aprovado vários académicos louvaram o espirito do CPP de 1987.
O art.32º/5 da CRP diz que o processo criminal tem estrutura acusatória. O que quer
dizer estrutura acusatória? há um subtexto fortíssimo desta afirmação. Há uma maneira
romano germânica de explicar esta expressão. Ao longo da história surgiram diferentes
sistemas de processo penal e é usual ordena-los em função de duas situações
antagónicas.
Estrutura Acusatória:
Tem origens remotas, divergindo os autores sobre as origens, uns remetem-nas para o
Direito Grego, outros para o Direito Romano (510 a 27 anos AC), outros para a Magna
da Carta (1215) como marco importante desta estrutura acusatória. Importa reter o
programa reformador dos Iluministas dos sec. XVII e XVIII. Se quisermos caracterizar
em breves pinceladas esta tradição, diremos que o essencial é a separação entre a
entidade que acusa e a entidade que julga e essa separação garante e visa a
imparcialidade da entidade que acusa e a imparcialidade da entidade que julga, o
julgador.
Estrutura Inquisitória:
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Alguns autores remetem-na para o baixo império romano, continuando no processo
inquisitório canónico da Idade Média, acabando por se transformar num processo
inquisitório laico, ao ser transplantado paulatinamente para o direito comum europeu a
partir do sec. XII. No Direito Canónico no sec. XIII, o processo inquisitório stricto
sensu foi implementado durante o pontificado de Bonifácio III, através de várias
decretais (uma dela de 1199), tendo sido a própria inquisição criada após o Concílio de
Latrão. Estes pormenores servem apenas para alertar que não se deve equiparar o
processo inquisitório ao santo ofício da inquisição (até porque só passaria como tribunal
competente a partir do sec. XVI). O sistema inquisitório implementou-se sobretudo
entre os sec. XVI a XVIII, sobretudo através dos Códigos Penais e Processuais Penais
dos primórdios do Estado Moderno. A inquisição era uma nova forma de processo que
substituiu a acusação do processo de tipo acusatório, sendo que na Europa Continental a
consolidação deste modelo não foi linear, mas o processo inquisitório satisfazia uma
tendência para a afirmação crescente do poder do Estado, o qual assumiu por fim a
necessidade de dotar a justiça penal de caracter público, sendo o procedimento oficioso
o reflexo adjetivo desse fenómeno. A principal característica deste modelo inquisitório
consiste no poder de investigar, acusar e julgar numa única entidade, o que põe em
causa a imparcialidade. É um modelo do juiz acusador. É obvio que se uma mesma
entidade investiga, juga e acusa, quando chegar ao julgamento não há imparcialidade
porque não terá capacidade para formar um novo juízo, pois no entanto já formou e
consolidou a sua opinião durante a investigação.
Num confronto entre as outras duas estruturas, surge um modelo misto com o processo
reformado ou napoleónico. A estrutura do modelo misto era essencialmente acusatória,
mas o processo foi divido em duas fases separadas: a instrução e o julgamento. A fase
da instrução, destinada a investigar o crime dos seus agentes, era dirigida por um
magistrado especializado: o juiz de instrução, ficando a iniciativa e a titularidade da
ação penal nas mãos do oficial do poder executivo junto do poder judicial; a fase do
julgamento era dirigida pelo juiz de julgamento. A instrução era secreta, escrita e não
contraditória. A partir da acusação publica, os factos ficavam fixados de tal maneira que
eram esses e não outros que seriam julgados. Na generalidade dos pais da europa
continental existem sistemas mistos: em Portugal, Espanha, Alemanha; no Brasil
também existe um modelo misto. Do lado de lá do Atlântico, os autores nem usam a
expressão “acusatório”, dizem que o sistema em Portugal e nestes países é inquisitório,
nem sequer há um sistema acusatório, mas porque razão dizem isto?
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(croata e americana), sendo conhecido pelos seus trabalhos no domínio no direito
comparado penal, processo penal e penal internacional. DAMASCA quando lhe
perguntaram como se sentia nesta experiência de vida e académica, ele disse “Olhe
sinto-me como se tivesse nascido nas ilhas dos Açores, como se fosse um açoriano,
como se pertencesse a todo o lado e a lado nenhum”. No modelo de DAMASCA
(modelo didático) não é tanto esta dualidade de inquisitório e adversarial que prevalece
(inquisitório seria os atuais sistemas europeus continentais na sua órbita de influência
conceptual). Ele procurou outros eixos de comparação, reparando que o sistema anglo-
americano o processo está mais voltado para a solução de conflitos, conflitos entre as
partes, exigindo um juiz que é sobretudo imparcial e que para garantir a imparcialidade
deve manter uma atitude sobretudo passiva, de modo a não prejudicar a atividade
processual das partes e tão pouco intervir no processo de produção da prova; julga-se
que um juiz interventivo perdia a imparcialidade. Isto é típico do modelo adversarial e
em que o processo de alguma forma correspondente a um papel do estado mais reativo.
Por outro lado, DAMASCA nota que no domínio do processo penal e nos países da
europa continental a existência de um processo mais voltado para a implementação de
politicas publicas e em que há uma interferência mais hierárquica e autoritária do
Estado no processo penal, o que se traduz na atitude do juiz que assume um papel mais
ativo em que comanda não só o processo como também tem poderes autónomos de
investigação para além das provas que são trazidas pelas partes no processo e desse
ponto de vista o processo caracteriza por uma logica de um estão ativista, em que o juiz
frequentemente complementa a atividade probatória das partes e procura cegar a melhor
decisão de mérito, à descoberta da verdade para com isso realizar a justiça. Este
confronto entre os dois modelos explica o porquê de os países situados no outro lado do
Atlântico considerarem os nossos sistemas processuais penais inquisitórios: essa
inquisitoriedade está na atuação do juiz na forma como se compromete na descoberta
da verdade, através da realização de diligências que são ordenadas por ele mesmo, por
exemplo o juiz no decurso da audiência de julgamento pode pedir a testemunhas que
não foram arroladas pelas partes, para depor. PAULO SOUSA MENDES diz-nos então
que o Modelo Inquisitório desapareceu sem deixar rasto. Sendo que este modelo está
muito ligado aos modelos autoritários.
19
LA, na Califórnia e o veredicto é de 3 de outubro de 1995. OJ Simpson foi julgado com
base em duas imputações, daquilo que nos diríamos homicídio qualificado contra a sua
ex mulher (Nicole Simpson e o seu instrutor), homicídios praticados em junho de 1994.
O julgamento foi complexo em que na produção da prova houve vários episódios e o
episodio mais famosa é o episódio da luva porque como sabemos foram encontradas
duas luvas, que faziam par, uma no local do crime e outra foi encontrada o par na
propriedade de Simpson e foram detetados vestígios de ADN das duas vitimas nessas
mesmas luvas, no entanto, a defesa conseguiu convencer a acusação que autorizasse que
em tribunal aquele meio de prova (as luvas) fosse experimentado pelo próprio arguido
durante a audiência para perceber se as luvas eram dele ou não e ele ao tentar calça-las
deu para perceber que as luvas eram pequenas para as mãos dele, e isto deu lugar a uma
celebre afirmação de um dos advogados de defesa: “ if it doesn`t fit, you must acquit”
(ele deve ser absolvido). Os acusadores vieram a dizer mais tarde que não queriam que
Simpson experimentasse as luvas porque elas tinham ficado encharcadas em sangue e
além do mais tinham sido congeladas e descongeladas varias vezes para serem
preservadas e portanto não tinham elasticidade primitiva. Tornou-se crucial no
julgamento, a ponto de ter levado à absolvição pelo júri do Simpson. Acontece que
Simpson foi alvo de uma demanda dos familiares de ambas as vitimas com vista a
obtenção de indemnizações e foi considerado responsável dos dois homicídios neste
julgamento cível em 1996. Não deixa de suscitar perplexidade, entoa se os factos são os
mm como é possivel ser condenado no processo cível e absolvido no processo crime.
Há aqui contradição? Sim, contradição lógica. A explicação encontra-se nas palavras
reais de um dos jurados no caso criminal, ela disse: “estou convencida de que o acusado
é culpado, mas o principio da prova para além de qualquer duvida razoável impõe-me
votar a sua absolvição”.
O principio da prova para além de qualquer dúvida razoável (beyond any reasonable
doubt) corresponde à medida da prova nos julgamentos penais nos sistemas de
Common law (direito de base jurisprudencial em que as fontes soa as decisões
jurisprudenciais que estabelecem precedentes para as decisões futuras). Há outras
medidas da prova nos sistemas anglo-americanos, por exemplo no processo civil:
Se notarmos que há diferentes medidas da prova, percebemos que não há contradição
lógica das decisões, apenas diferentes medidas da prova. Qual a fundamentação para
estas diferentes medidas da prova? Que correspondem a intervalos de probabilidade. A
explicação muitas vezes assenta numa análise de custo benefício, de acordo com
a Teoria da Utilidade Esperada. A análise tradicional da relação custo-benefício neste
domínio é feita segundo os critérios da teoria da utilidade esperada. Segundo esta: as
diferentes medidas da prova são critérios jurídicos que servem para minimizar o custo
20
esperado do erro judicial. Não há nada mais certo numa decisão judicial do que a
probabilidade de um erro, há sempre um conjunto de decisões que se traduzem em
condenações injustas relativamente a base factual que lhes serviu de arrimo para a
sentença. E a questão é: como é que nos distribuímos o risco de erro pelas partes? o que
se costuma dizer de acordo com a Teoria da utilidade esperada é que:
Sobre as eximentes penais, aqui a medida da prova adequada às eximentes penais já não
é para além da dúvida razoável, falamos aqui de probabilidade preponderante, sendo
que esta pode ser interpretada no sentido do juiz de facto sobre a veracidade de uma
determinada alegação de facto corresponder uma probabilidade da ocorrência de um
evento superior a 50%. Em certas matérias de direito privado, a medida da prova é mais
exigente do que a probabilidade preponderante. Aqui a prova tem de ser clara e
convincente (clear and convincing evidence), o que corresponde a um grau de
probabilidade superior a 75%.
Como é nos países de civil law? São os países de direito legislado, se quisermos os
países da tradição romano germânico, ou países da europa continental, incluindo
Portugal. Na Europa Continental, as fórmulas legais da prova em processo civil são
21
geralmente muito mais assertivas relativamente à convicção que o julgador tem de
assumir acerca dos factos a provar. 01:04:22.
Na Alemanha:
CPC: dispõe que o juiz deve decidir se uma alegação de facto considera
verdadeira ou falsa;
CPP: dispõe que o tribunal decide, segundo a sua livre convicção, sobre o
resultado das provas produzidas ou examinadas em audiência.
Em Portugal:
CC: determina que as provas tem por função a demonstração da realidade dos
factos- formulação mais exigente do que a formulada no CPC Alemão, veja-se a
expressão “alegação de facto”;
CPC: estabelece que o juiz declara quais os factos que julga provados e quais os
factos que não julga provados;
O juiz é a única entidade que tem capacidade para declarar se os factos estão ou
não provados.
O art.340º/1 CPP dispõe que o tribunal tem poderes para ordenar oficiosamente
ou a requerimento, a produção de todos os meios de prova necessários à
descoberta da verdade, de resto a descoberta da verdade é uma finalidade
recorrente nas normas do CPP, aparecendo mencionada na lei por 37 vezes, o
que segundo PAULO SOUSA MENDES não é coisa pouca.
Comparação:
22
justiça, porque só com a verdade e a sua descoberta pode haver realização da justiça.
Ademais, PAULO SOUSA MENDES destaca ainda que não faz muito sentido falar em
medida da prova, porque tal só será plausível aquando da existência de várias medidas
de prova e, nestes casos, só há uma medida. Exceção: Ordenamento Escandinavos e
Ordenamento Jurídico Italiano, que instituiu a regra da prova para além da dúvida
razoável.
Nota: a regra da prova para além da dúvida razoável NÃO EXISTE EM PORTUGAL.
Ilusão da Certeza:
Modelo Anglo-Americano:
16/03/2021
Tramitação processual (processo comum)
23/03/2021
23
São exceções:
Quer isto dizer que o MP tem de abrir inquérito face a qualquer denuncia,
mesmo a mais inconsciente? Não, a questão não se poe diante da denuncia, a
questão depõe-se diante do conteudo da denuncia, o MP não está dispensado de
avaliar se a denuncia constitui ou não a noticia de cum crime e devendo decidir
se é de abrir ou não inquérito (art.58/1, al. a) e d) e art.246º/6, al. a), não
obstante todas as denuncias ficarem registadas, mesmo as manifestamente
infundadas.
Já tem sido entendido que o ato de abertura do inquérito por parte do MP pode ser um
ato tácito. E que feita a comunicação pelos OPC pela noticia de um crime por força do
art.248º/ do CPP, se o magistrado do MP competente não avocasse o inquérito seria
considerada delegada a competência para a pratica dos atos de inquérito. Só que
(pensamento do prof germano marques da silva) o CPP não prevê atos tácitos, e
portanto esse entendimento não parece ser de admitir- opinião do regente.
A não promoção do processo pelo MP constitui uma nulidade insanável, que pode ser
oficiosamente declarada em qualquer fase do processo (art.119º/al. b) do CPP). O
mesmo se diga da falta de inquérito no caso dos crimes semipúblicos ou particulares
(art.119º/al. d).
25
Tem uma natureza inquisitiva. Aqui não há verdadeiramente igualdade de armas
e o inquérito está na titularidade do MP que conta com o contributo dos OPC
embora os traços dominantes da inquisitoriedade do inquérito tenham vindo ao
longo do tempo a ser atenuados com incorporação de elementos de
contrarioridade que permitem a intervenção da defesa técnica e inclusivamente a
possibilidade de acesso aos autos naquilo que seja necessário ao exercício de
uma defesa eficaz inclusivamente requerimentos de produção de meios de prova
e de realização de diligencias probatórias, cada vez mais uma defesa ativa esteja
ou não esteja o processo em segredo de justiça;
O inquérito tem prazos, naturalmente porque a sujeição de alguém a
investigação criminal impõe varias limitações a sua liberdade desde o plano das
medidas de coação à sujeição de diligências probatórias, já para não falar em
danos reputacionais de comunicação descentralizada em que facilmente
informações sobretudo relacionadas com figuras publicas que em matéria penal
vão parar a comunicação social com um tremendo desgaste da posição
profissional, pessoal e a todos os planos relevantes da vida do visado e por vezes
até se costuma dizer que há um peso penal da investigação que pode transcender
o mal da própria pena aplicavel. O inquérito tem prazos estabelecidos na lei,
embora sejam prazos ordenadores e não resultem de qualquer efeito.
26
do art.86º- a iniciativa pode ser do próprio MP, neste caso a decisão fica sujeita a
validação do juiz de instrução.
A outra faceta do inquérito é a salvaguarda dos direitos dos cidadãos que estão a ser
investigados. Isto implica que ao nível de certos atos do inquérito tenha de haver
27
intervenção do juiz de instrução, que atua como um juiz das liberdades (atos que
impliquem direitos, liberdades e garantias). É exemplo disso o caso de aplicação de
medidas de coação, que são promovidas pelo MP (à exceção do termo de identidade e
residência) na fase do inquérito, mas que só podem ser aplicadas pelo juiz (art.194º/1).
Muitos outros atos têm de ser ordenados ou autorizados pelo juiz de instrução (art.268º
e 269º do CPP). Atos a praticar pelo juiz de instrução (art.268º) + atos a ordenar ou
autorizar pelo juiz de instrução (art.269º).
Quantos aos prazos do inquérito que vem previstos nos art.276º e ss, são em regra de 6
meses mas podem ser de prazos mais longos, em situações excecionais podem ir de 8 a
18 meses (art.276º/2 e 3) e dado que a celeridade do processo penal também é um
principio do processo penal, o legislador previu o incidente de aceleração processual
para o caso de terrem sido exercidos os prazos (art.108º e 276º/8). Prazos ordenadores, o
que significa? Significa que o MP deve sentir-se vinculado a estes prazos, só que se os
não cumprir, não advém qualquer efeito para a validade do processo da circunstancia do
MP não dar por encerrado o inquérito nos correspondentes prazos. Ou seja, a
ultrapassagem dos prazos não constitui sequer uma irregularidade. Na verdade é por
isso que se costuma dizer que tais prazos são meramente ordenadores. Mas isto é um
problema. Há processos que duram em fase de inquérito um, dois, três, 5 anos, ou 10
anos, isso pode acontecer, já tem acontecido. Pensou-se quais eram os mecanismos que
podiam ser introduzidos para levar a uma maior efetividade dos prazos sem prejudicar a
investigação? um deles foi o previsto no art.276º/4- obrigação de o titular do processo
comunicar ao superior hierárquico imediato a violação de qualquer prazo, indicando
razoes do atraso e período necessário para concluir o inquérito. Pode não ser efetiva esta
nova obrigação, e foi uma critica que se fez na altura. Mas a verdade é que tem de haver
razoes que não sejam de pura inercia para o atraso do inquérito. por outro lado, o
imediato superior hierárquico tem a possibilidade de avocar o processo (art.276º/5) ou
terminar o segredo de justiça, salvo se o juiz de instrução determinar, a requerimento do
MP, que o acesso aos autos seja adiado por um período máximo de 3 meses, o qual pode
ser prorrogado por uma só vez, em certas circunstancias (art.89º/6). A prorrogação não
pode ir além da concessão de novo prazo de 3 meses, embora a lei não o diga assim,
mas fale apenas em “um prazo objetivamente indispensável à conclusão da
investigação”. Aqui até houve um acórdão (STJ nº 5/2010) que fixou jurisprudência: “ o
prazo de adiamento do acesso aos autos, a que se refere a segunda parte do art.89º/6, é
ficado pelo juiz de instrução pelo período de tempo objetivamente indispensável à
conclusão da investigação, sem estar limitado pelo prazo máximo (de 3 meses
prorrogáveis por uma só vez) referido na mesma norma”. O STJ veio considerar que o
28
segundo prazo não estava limitado aos 3 meses, podia ser mais. O regente sempre foi
critico desta interpretação. Ele até considera que este acórdão já não é aplicavel, porque
a sua ratio decidendi desapareceu em 2010.
Reforma de 2010- por isso, em ordem a equilibrar os direitos dos sujeitos processuais a
um processo célere e o dever do estado de perseguir e punir a criminalidade grave e
complexa, o Observatório permanente da justiça portuguesa propôs um alargamento dos
prazos máximos do inquérito, precisamente para essas situações.
Despacho de acusação:
Quando o MP tive recolhido indícios suficientes de que foi cometido crime e tiver
identificado os seus agentes, tem de deduzir acusação (art.283º/1). Mas não bastam os
indícios suficientes quanto à existencia de crime e à intervenção do arguido na sua
prática. O legislador nos oferece uma definição legal dos indícios suficientes- art.283º/2.
29
suficiente para sustentar em juízo uma condenação do arguido, é esse o significado de a
lei falar numa “possibilidade razoável”, ou seja, não quer dizer que o MP não tenha de
estar convencido disso. Esta possibilidade razoável também não é probabilística, é algo
intuitivo. Não se pede ao MP que faça um cálculo de probabilidades. Em causa está um
juízo categórico de condenação com base nas provas recolhidas, por parte do MP.
30
descoberta da verdade, pode inclusivamente estar contra a versão da acusação
particular. De resto, o MP pode, em qualquer processo, sentir que tem de tomar a
posição ou defesa do arguido. Até na fase dos recursos, o MP pode recorrer no
exclusivo interesse do arguido (art.53º/2, al. d) e 401º/1, al. a).
Despacho de arquivamento:
Reabertura do inquérito:
32
Quer isto dizer que, mesmo naqueles casos em que o MP tenha porventura
concluído que não houve crime ou que não foi o arguido a praticá-lo (art.277º/1:
arquivamento assertivo), o inquérito poderia, à primeira vista, ser reaberto com
novos elementos de prova. Que é feito então, na lei vigente, do interesse em
assegurar a paz jurídica ao arguido?
No cenário legal vigente, tornou-se difícil de defender a antiga doutrina que via no
arquivamento assertivo (negador da responsabilidade do arguido – mutatis mutandis,
atual art.277º/1) um arquivamento definitivo (obviamente, se não tiver sido requerida a
abertura da instrução pelo assistente, nem revogado o despacho de arquivamento pelo
superior hierárquico).
33
mérito de não pronuncia que fará caso julgado material, impedindo a reabertura
do inquérito.
Em tese, é um direito que lhe deve assistir pelas seguintes razões:
O TC, no AC nº 7/87, condicionou a constitucionalidade da direção do
inquérito pelo MP, perante o disposto no art.32º/4 da CRP, à possibilidade
de controlo judicial – embora facultativo – das decisões tomadas pelo MP no
final do inquérito. Decisões que não são apenas de acusação, mas também de
“arquivamento à espera de melhor prova” contra o arguido.
O princípio da plenitude das garantias de defesa do processo penal, entre as
quais se inclui o direito ao recurso em que materialmente se traduz o RAI
(art.32º/1 da CRP).
O arguido tem direito à definição da sua situação jurídica no mais curto espaço de
tempo compatível com as garantias de defesa (art.32º/2 da CRP). A tendencial
igualdade de armas entre o MP e o arguido, que decorre do processo de estrutura
acusatória (art.32º/5 da CRP), justo e equitativo (art.20º/4 da CRP + art.6º CEDH).
Igualdade que se começa a afirmar precisamente a partir do final do inquérito e na fase
da instrução.
06/04/2021
INSTRUÇÃO:
34
Requerimento para abertura da instrução:
INSTRUÇÃO
35
Nos crimes públicos e semipúblicos:
Nos crimes particulares não há RAI do assistente, pois a decisão de acusar está nas suas
mãos nos termos do art.285º CPP.
36
Verificados os requisitos, o RAI só pode ser rejeitado se for extemporâneo, ou por
incompetência do juiz ou por inadmissibilidade legal da instrução (art.287º/3 CPP).
Quais são os atos da instrução? São os atos que o requerente pretende que o juiz de
instrução leve a cabo a análise dos meios de prova que não tenham sido considerados no
inquérito e dos factos que, através de uns e de outros, se espera provar. Não podem ser
indicadas mais de 20 testemunhas (art.287º/2 CPP). E ainda, dados os poderes
autónomos de investigação criminal que corresponde ao juiz os atos concretos que o
próprio juiz que entenda necessários (art.288º/4).
FIM DA INSTRUÇÃO:
Encerrado o debate instrutório, o juiz profere a decisão instrutória (art.307º CPP), que
pode ser um despacho de:
37
- Pronúncia (art.308º/1, 1º parte CPP): caso tenham sido recolhidos indícios suficientes
de se terem verificado os pressupostos de que depende a aplicação ao arguido de uma
pena ou de uma medida de segurança;
- Não pronúncia (art.308º/1, segunda parte CPP): caso não tenham sido recolhidos
indícios suficientes de se terem verificado os pressupostos de que depende a aplicação
ao arguido de uma pena ou de uma medida de segurança, ou procedência de questão
processual, prévia ou incidental, que obste ao conhecimento do mérito da causa;
Esta nulidade é sanável, como consta do art.309º/2 CPP, porque tem de ser
“arguida no prazo de 8 dias contados da data da notificação da decisão”;
A arguição é para o juiz de instrução;
O juiz de instrução pode deferir ou indeferir a reclamação;
Se tivermos um despacho de indeferimento da arguição da nulidade, este sim, é
um despacho recorrível (art.399º e 310º/3 CPP).
O despacho de pronúncia válido é recorrível quando incidir sobre factos que não
constam da acusação do MP. O art.310º/1 CPP é uma regra excecional, que admite
interpretação enunciativa a contrario: fora do caso previsto, o despacho de pronuncia
válido é recorrível. De resto, é a regra geral do art.399º CPP. O despacho de não
pronúncia é recorrível nos termos gerais do art.399º CPP.
13/04/2021
JULGAMENTO:
Direito ao confronto:
38
Tem a ver com os depoimentos das testemunhas e em que medida isso podem ser
transportados de fases anteriores ao julgamento para serem depois valorados na própria
audiência. Atente-se ao art.355º , 356º CPP e art.6º/3 al. d) da CEDH (sendo o artigo 6º
a sede geral do processo equitativo- o acusado tem o direito de “interrogar ou fazer
interrogar as testemunhas de acusação e obter a convocação e o interrogatório das
testemunhas de defesa nas mesmas condições que as testemunhas de acusação (al. d) do
art.6º/3 da CEDH). Para PAULO SOUSA MENDES parece haver aqui um direito ao
confronto, ou seja, um direito do arguido a confrontar as testemunhas de acusação.
Portanto o TEDH não está a dizer que não possam ser usadas contra o acusado
declarações de testemunhas obtidas não na audiência de julgamento, mas sim
anteriormente a quem faça a investigação; está apenas a impor alguns critérios para a
sua utilização.
39
· A presenciar a produção de prova testemunhal;
· À produção de prova testemunhal na presença do julgador do mérito da
causa;
· À imposição às testemunhas do juramento de dizer a verdade;
· A desvendar a verdadeira identidade das testemunhas;
· À inquirição das fontes de prova testemunhal desfavoráveis no momento da
sua produção.
O cerne do problema é saber quais são aquelas exceções à proibição do “hearsay”, que
são ou não testemunhais, porque as que não são podem ser transportadas para
40
julgamento sem nenhum problema, mas que forem, só poderão ser aproveitadas, se
houver possibilidade de um confronto.
A Jurisprudência norte americana tem evoluído nesta matéria. há mais testes rigorosos
designadamente o acórdão Davis v. Washington, 547 US 813 (2006) introduziu uma
série de critérios a este propósito.
Não é fácil transpor estas ideias para o direito romano-germânico (civil law). Há quem
diga que o direito ao confronto talvez possa ter alguns equivalentes parciais no chamado
princípio da imediação (a prova tem que ser produzida diretamente aos olhos do
julgador da matéria de facto), mas também no chamado princípio da oralidade. Só que a
imediação e a oralidade referem-se à relação entre o órgão julgador e as provas
enquanto que o direito ao confronto da tradição anglo-americana exige uma relação
entre a defesa (o acusado) e a testemunha para a poder contra interrogar.
Por outro lado, o direito ao confronto no sistema processual norte-americano serve para
garantir o direito ao contra interrogatório, mas o contra interrogatório é um direito de
todos os sujeitos processuais, ao passo que o direito ao confronto é um direito só do
acusado. O confronto e o contra interrogatório estão intimamente ligados, mas com a
diferença assinalada.
Na tradição jurídica de matriz continental europeia (civil law) não está excluída a
possibilidade de o juiz intervir na inquirição das testemunhas, ao abrigo dos seus
próprios poderes de investigação, embora também se pratique inquirição direta pela
acusação e pela defesa e o contraditório, no sentido de contra interrogatório.
Portanto, não podemos fazer equiparações funcionais plenas ente os dois modelos de
direito, mas seria interessante valorizar o direito ao confronto em sentido próprio
também entre nós, pena é que a jurisprudência do TEDH seja muito pouco exigente
nesta matéria. a jurisprudência do TEDH é de garantias mínimas para todas as OJ e nem
sempre é uma jurisprudência que sirva de referencia pra um quadro de garantias solido e
o direito ao confronto deveria fazer parte desse quadro de garantias.
41
Declarações processuais do arguido anteriores ao julgamento:
O CPP autonomiza a prova que tem como fonte o arguido relativamente à prova
testemunhal em sentido amplo. O arguido não é tratado como uma testemunha, nem
podia. Ele tem os seus direitos autonomizados.
Esta solução legal visava sobretudo garantir a imparcialidade do juiz de julgamento para
que ele não ficasse contaminado com as declarações obtidas através do arguido a
margem dos princípios de produção de prova que privilegiam a audiência de julgamento
para o efeito. A solução legal impunha que as declarações processuais do arguido, em
principio, não pudessem ser valoradas no julgamento, carecendo de ser renovadas ou
produzidas de novo nesta fase perante o juiz, para que este pudesse formar a sua
convicção independentemente da investigação criminal, com total imparcialidade. Há
estudos empíricos que indicam que um juiz que toma contacto com os autos do
processo, porque há tradição dos autos do inquérito pra o juiz de julgamento, fica desde
logo de alguma forma mais atreito a concordar com a versão da acusação do que
42
propriamente com o ponto de vista do arguido que ainda nem sequer teve oportunidade
de se expressar porque o julgamento ainda não começou.
Este princípio (do não aproveitamento), que se aplica aos depoimentos das
testemunhas, às acareações e aos reconhecimentos que não tem o direito ao silencio
(tem o dever de colaborar com a justiça, podendo ser responsabilizados se mentirem),
devem igualmente valer para as declarações do arguido, aliás por maioria de razão, se
considerarmos que este goza do direito ao silêncio e pode não querer produzir quaisquer
declarações na audiência de julgamento. O arguido não tem qualquer dever de
colaboração com a justiça. Goza do direito ao silencio, e pode não dizer nada na
audiência de julgamento.
A alteração legislativa de 2013 foi uma alteração com bastante significado, porque pode
ser que põe em crise a estrutura acusatória do processo penal porque compromete a
imparcialidade do juiz. Do mesmo passo, ameaça um conjunto de princípios
congruentes, desde a igualdade de armas, passando pelo direito ao silêncio, até à
oralidade e à imediação.
Realmente, o arguido pode ficar limitado nas suas garantias de defesa, pois saberá que,
se falar durante os interrogatórios, tudo o que disser poderá ser usado contra si em
julgamento, o que pode retirar-lhe qualquer vantagem de tentar esclarecer o seu
envolvimento nos factos em curso de investigação. Tal redunda uma restrição do seu
direito de audiência e defesa, afinal a razão pela qual foram previstos os interrogatórios
de arguido em fases anteriores ao julgamento.
Por outro lado, nem sequer está demonstrado que o sacrifício dos princípios possa ser
compensado por ganhos de eficácia no processo penal. Pelo contrário, é provável que a
alteração legislativa possa desencadear, na prática, reação do arguido de antecipar o
silêncio para uma fase anterior ao julgamento, retirando assim à investigação criminal
um importante instrumento de recolha de informação para o esclarecimento da verdade
material. Isto até pode limitar a estratégia da sua defesa e as suas garantias.
43
Pelo contrário, para PAULO SOUSA MENDES, o reforço da estrutura acusatória do
processo penal português deveria passar antes pela adoção de um sistema inspirado no
modelo italiano de desentranhamento das provas repetíveis dos autos que seguem para a
fase de julgamento. Designadamente, desentranhamento das declarações processuais de
arguido anteriores ao julgamento.
Não se pense que neste modelo de “dois fascículos”, implica que as provas irrepetíveis
de caráter documental fiquem no fascicolo per il debattimento, e as repetíveis
no fascicolo del publico ministero; a defesa pode até pedir que todas as declarações
constem do fascicolo por il debattimento, mas em tese, a ideia seria enviar para o juiz
de julgamento apenas aqueles factos/provas que fossem irrepetíveis e as provas
repetidas essas seguiriam os procedimentos probatórios para que a prova possa ser
descortinada pelos envolvidos.
20/04/2021
44
Relatório (antecedentes do processo penal);
Fundamentação (da própria decisão);
Dispositivo (decisão propriamente dita).
Elementos da fundamentação na fundamentação da sentença penal, o julgador (1)
enumera os factos provados e não provados 1; (2) expõe completamente, mas de maneira
concisa, os motivos de facto e de direito que justificaram a decisão 2 e (iii) indica,
examinando-as criticamente, as provas que serviram para formar a convicção do
tribunal.
O disposto no art.374º CPP tem paralelo noutros ordenamentos jurídicos. Por exemplo,
o art.546º al. e) do CPP Italiano, de 1988, sob a epígrafe de requisitos da sentença 3,
obriga o tribunal a fazer a “exposição concisa dos motivos de facto e de direito sobre os
quais se fundou a decisão, com indicação das provas utilizadas na própria decisão e a
enunciação das razões pelas quais o juiz considera não atendíveis as provas contrárias”.
A separação formal entre a questão de facto e a questão de direito corresponde apenas a
uma exigência prático-processual de limitação dos poderes de cognição do tribunal de
revista.
1
Só acontece na sentença porque é apenas o julgador da matéria de facto que tem
competência para o fazer. não é competência da acusação ou sequer do juiz de instrução
da pronúncia.
2
A isto se chama de motivação. Tem que ligar a motivação a uma analise critica dos
meios de prova que foram considerados relevantes para a decisão e também as ligações
entre eles, designadamente através de regras de experiencia comuns baseadas no senso
comum ou até científicas (relatórios periciais que constam dos autos).
3
A mesma epigrafe que nós usámos.
45
A revista fica assim limitada aos vícios de legalidade, seja por verificação de alguma
nulidade, seja por desaplicação ou incorreta aplicação de normas jurídicas.
Mas a distinção entre a questão de facto e de direito não implica que haja uma separação
entre conceitos fáticos ou pré-jurídicos e conceitos jurídicos.
Tal não significa que daquela dimensão puramente causal da prova, não remanesça uma
dimensão puramente epistémica da prova penal na análise do concreto problema
jurídico que suscita a decisão do tribunal, mas ela expressa-se sobremaneira no regime
dos meios de prova, em especial na prova pericial. Na prova dos factos (por exemplo, o
nexo causal), os peritos operam com os métodos do seu específico saber cientifico-
forense e analisam os dados empíricos segundo a sua própria perspetiva idiomática. Mas
um relatório pericial reporta-se apenas a proposições factuais fragmentárias que só
ganham sentido numa cadeia de argumentos que caberá ao tribunal analisar na
perspetiva do problema jurídico concreto.
Repara-se que o MP não tem competência para declarar factos provados ou não
provados, nem para fundamentar a sua decisão, apenas junta indícios que são
considerados suficientes, para num juízo de prognose antecipar a probabilidade maior
de o arguido ser condenado em juízo do que ser absolvido, naturalmente fundado numa
convicção sua acerta de autoria ou materialidade daquele caso.
46
PROCESSOS ESPECIAIS:
Características:
São formais mais céleres: não há instrução nos processos especiais (art.286º/3),
o inquérito pode ser suprimido e o julgamento acelerado;
São subsidiariamente aplicáveis as regras do processo comum (art.386º/1 +
391ºE);
E são prioritários relativamente à forma de processo comum (subsidiário):
direito do arguido à forma especial do processo que ao caso caiba.
Processo sumário:
Requisitos:
47
Finalidades da detenção em flagrante delito (art.254º) entre elas é a realização do
julgamento sob a forma sumária. Temos três modalidades de detenção em flagrante
delito:
Há dificuldades para o flagrante delito em crimes que careçam de prova pericial, por
exemplo, o crime de trafico de estupefacientes. Será que antes da prova pericial já pode
haver lugar a detenção em flagrante delito? Entende-se que sim (art.387º/7 e 8 e
art.389º/4).
Quanto ao segundo requisito- o crime seja punível com pena de prisão: crime de
natureza pública ou semipública, desde que a queixa seja apresentada em ato seguido à
detenção.
Jurisprudência obrigatória:
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Quanto ao terceiro requisito, a detenção tem de ser efetuada por entidade policial ou
autoridade judiciaria (trata-se de um poder-dever de detenção (art.255º/1, al. a); ou por
particular, em caso de impossibilidade de recurso em tempo útil à força publica: trata-se
de um poder-direito de detenção (art.255º/1, al. b), mas com dever de entregar
imediatamente o detido a uma das entidades da al. a), que tem de lavrar auto sumário da
entrega e comunicar ao MP (art.255º/2 e 259º/al. b).
AC do TRE de 30/06/2015
Quanto ao quarto requisito não ser crime da competência do tribunal coletivo por
reserva de competência qualitativa (art.14º/2, al. a) e 14º/1). Ou seja, tratar-se de crime
da competência do tribunal singular (art.16º e 390º/2). AC do TC nº 174/2014.
Decisão sobre a forma sumária compete ao MP. Não há inquérito, mas pode haver
diligencias de prova cuja realização terá de respeitar os prazos para o julgamento em
processo sumário (art.382º/5). Também compete ao MP a decisão sobre a promoção de
medidas previstas nos art.280º ou 281º - ex vi art.384º: arquivamento em caso de
dispensa de pena ou SPP, oficiosamente ou a requerimento do arguido ou do assistente.
Podendo a SPP durar entre 2 a 5 anos (art.282º/1 e 5), será compatível com a celeridade
do processo sumário? O arquivamento em caso de dispensa de pena e a SPP precedem a
fase do julgamento em processo sumário, mas não prescindem da intervenção do juiz de
instrução nos termos gerais.
Tem de haver constituição de arguido do detido em flagrante delito (art.58º/1, al. c).
Tem que haver apresentação imediata ao MP para interrogatório sumário, se este assim
entender (art.382º/2), em ordem a apurar se se verificam os pressupostos e requisitos de
aplicação do processo sumário. Apresentação ao tribunal competente para julgamento
em processo sumário, se o MP não promover o arquivamento em caso de dispensa de
pena ou a SPP (art.382º/2 e 384º/1 e 2). Regra: a libertação deve ocorrer se o arguido
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não for apresentado ao juiz em ato seguido à detenção, com notificação para as
finalidades previstas no art.385º/2 (art.385º/1 e 3).
Quanto a diligências de prova, a questão é saber se estas requeridas pelo arguido serão
compatíveis com a audiência de julgamento na forma sumária (art.387º/4) – Ac. Do
TRC de 18/05/2016.
Processo abreviado:
Requisitos:
1) a pena de prisão seja até 5 anos (abstrata ou limitada pelo MP) ou multa;
2) tem de haver vidência probatória.
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prova não apresenta, do ponto de vista dos factos e do direito, qualquer dificuldade e
pode ser facilmente esclarecida".
Quanto ao primeiro requisito, crime punível com pena de prisão até 5 anos, ou superior
a 5 anos, mesmo em caso de concurso efetivo, se o MP entender que em concreto deva
ser aplicável pena até 5 anos, em paralelo com o previsto no art.16º/3. Necessário é a
pena abstrata mínima do crime mais grave em concurso ser inferior a 5 anos. Valem as
considerações sobre a competência do tribunal singular no processo sumario (AC. TC nº
174/2014).
Quanto ao segundo requisito, tem de haver evidencia probatória (art.391º A/1 e 3). A
questão é se o nº 3 é taxativo.
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Processo sumaríssimo:
Requisitos:
É aplicavel a crime punível com pena de prisão até 5 anos, mesmo em caso de concurso
efetivo, ou só com pena de multa (art.392º/1). Requerimento do MP, após ter ouvido o
arguido, ou por iniciativa do arguido. Avaliação do MP quando entender que a pena ou
medida de segurança a aplicar não deve ser privativa de liberdade (art.392º/1).
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havido aceitação pelo juiz e rejeição pelo arguido do requerimento o MP, aquele juiz
pode ser alvo de recusa caso venha a intervir na outra forma de processo para que foi
remetido o mesmo arguido e o mesmo facto (art.43º/1 e 3 e art.398º).
SUJEITOS PROCESSUAIS
Arguido:
Quanto ao arguido, o CPP não define a figura, mas aponta simplesmente os casos de
constituição de arguido, nos termos do art.57º, 58º e 59º, indicando os direitos e deveres
processuais que lhe correspondem, enquanto verdadeiro sujeito processual.
No CPP na versão de 1987, o art.342º/2 dizia que o arguido estava obrigado a responder
com verdade sobre os seus antecedentes criminais na audiência de julgamento. Esta
obrigatoriedade foi, pelo AC do TC nº 695/95, declarada inconstitucional por violação
das garantias da defesa, do direito ao silêncio e da presunção de inocência. Esta
obrigatoriedade era absolutamente desleal porque no julgamento o tribunal já tem ou
pode ter acesso aos antecedentes criminais do arguido, de forma que perguntar-lhe isso
significaria procurar confrontá-lo ou com alguma resposta imprecisa ou resposta
redundante e portanto ainda bem que esta obrigatoriedade desapareceu e agora ele só
tem que responder com verdade sobre a sua identidade em fase de inquérito.
Este direito ao silêncio não é só do arguido, é uma garantia de defesa que a todos assiste
no processo criminal. A própria testemunha não é obrigada a responder a perguntas
quando alegar que das respostas resulta a sua responsabilização penal – art.132º/2 CPP.
A testemunha, apesar de ser uma colaboradora forçada da justiça sobre cominação de
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falso testemunha que é crime, ainda assim pode não responder a perguntas se alegar que
das respostas resulta da sua responsabilização criminal. E isso implica que requeira a
sua constituição potestativa como arguida.
27/04/2021
Objeto do Processo
Litispendência;
Caso Julgado;
Amplitude da atividade probatória;
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Nes bis in idem (na medida em que ninguém pode ser objeto de novo julgamento
pelos factos pelos quais já tenha sido julgado ou condenado)
Recursos;
Competência, legitimidade, etc.
Todas estas questões têm que ser decididas à luz de um conjunto coerente de princípios
de processo penal:
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Para EDUARDO CORREIA os factos só interessam à luz da perspetiva do jurista e
portanto podia haver alterações nos factos até relevantes que o critério da identidade do
objeto do processo era aferido somente através do bem jurídico violado; se o crime se
mantivesse da mesma natureza afetando ou fazendo perigar o mesmo objeto ou o
mesmo bem jurídico, não havia alteração do objeto do processo.
PAULO SOUSA MENDES considera que esta discussão está francamente ultrapassada,
porque assentava numa premissa não aceitável de oposição radical entre a questão de
facto e a questão de direito (todavia, não é que essa distinção não faça sentido, mas faz
mais sentido para perceber o âmbito dos poderes do tribunal de recurso e não tanto
porque haja uma separação radical entre as duas).
Depois de fixado o objeto do processo podem sempre aparecer factos novos, mas estes
podem ser de diferente espécie.
Os factos novos podem ser totalmente independentes (p.e. o juiz descobre que o
arguido acusado por vários furtos e também tinha cometido um crime independente-
ofensas a integridade física), o que em termos substantivos daria lugar a um concurso
real de infrações com o objeto do processo em curso. Devem ser comunicados ao MP e
este deverá abrir um outro inquérito quanto aos factos totalmente novos, nos termos do
art.262º/2 CPP.
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O nosso problema da alteração de factos ocorre quando é a variação na descrição dos
mesmos factos, a chamada alteração de factos 4. Se houver alteração de factos, podemos
estar perante uma alteração substancial de factos ou não. O conceito de alteração
substancial de factos é definido no art.1º/1 al. f) CPP- este artigo dispõe um critério
qualitativo (o crime diverso, na linguagem do legislador não é um tipo legal de crime
diferente, mas podemos um crime diverso e o tipo legal de crime ser exatamente o
mesmo, crime diverso é um conceito que apela para a noção de situação da vida com
um determinado relevo jurídico, enquanto problema jurídico concreto, e portanto, a
sua fonte não é o desenho do tipo legal; por exemplo, o crime pode ser diverso,
mantendo-se na mesma como crime de homicídio, bastando que a vitima seja outra,
sendo que o facto de a vitima ser diferente tem total relevância, porque a vida humana
é infungível) e quantitativo. O crime diverso não é um tipo legal de crime diferente,
podemos ter um crime diverso se o tipo legal de crime é exatamente diverso. Apela para
a noção de situação da vida.
Atenção, PAULO SOUSA MENDES não considera, contudo, que uma alteração da
qualificação jurídica seja irrelevante, esta pode ter aliás reflexos nos direitos da defesa e
por isso terá de ser comunicada, para que o arguido querendo se pronunciar sobre ela.
Todavia, esta só por si não vale como uma alteração substancial de factos, contudo,
pode derivar de uma alteração substancial de factos (mas não necessariamente).
ACRL 947/10.6
Aqui diz-se que pode haver alteração de aspetos da conduta do agente, certas
concretizações de factos imputados, e que nem por isso chegam a ser uma
alteração ao objeto do processo. Aqui o critério relevante é: são ou não são uma
surpresa relevante para a defesa? PAULO SOUSA MENDES considera que tem
dificuldade em concordar com uma posição tão abstrata como esta, porque as
4
Ou seja, os mesmos factos, descritos de outra maneira, porventura com alguns
elementos novos.
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vezes, as mínimas alterações nos factos podem ser relevantes (o crime ter sido
praticado a uma hora ou a outra, pode ter implicações para a defesa,
nomeadamente em aspetos de alibi);
ACRG 605/07-1
Aqui parece que houve alteração de factos pela simples circunstância da hora ser
diferente. Mas depois a conclusão do Ac. parece ser contraditória. Ou seja,
depois, diz-se que a alteração da hora nem sequer provoca um alargamento no
objeto do processo, sendo a pena também a mesma. O que é contraditório com
aquilo que se disse no inicio e, aliás, PAULO SOUSA MENDES uma alteração
deste tipo pode mesmo provocar “danos” na estratégia da defesa.
ACRL 02.11.2011
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· A repetição do inquérito no mesmo processo, em ordem à eventual
integração da alteração substancial de factos no objeto do processo.
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a fase de julgamento). DEFENDIDA POR SOUSA MENDES E
TERESA PIZARRO BELEZA.
Art.303º CPP:
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Art.359º CPP:
O regime alteração de factos tem que respeitar a estrutura acusatória do processo penal.
A revisão do 2007 do CPP contribuiu para tornar isso claro, ao afastar explicitamente as
soluções doutrinárias e jurisprudenciais que punham isso em causa.
Aplicando à letra o regime legal significa que não pode haver absolvição da
instância, não pode haver suspensão do processo, quanto muito o processo tem
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que continuar com preterição do conhecimento, mas aqui se tal acontecer, uma
vez que não se prova um elemento constitutivo do tipo de crime, a decisão final teria
de ser absolutória (apenas uma questão de quantidade de pena- esta em causa saber
se preenche um tipo de crime ou outro).
Critério de decisão: Para PAULO SOUSA MENDES nesta questão no mínimo, para
que possa haver uma condenação alternativa, deve exigir-se que a duvida sobre o
modo de ser objetivo da ação conste já da imputação alternativa, seja ela do
despacho de acusação ou do despacho de pronúncia.
A distinção entre questão de facto e questão de direito não implica que haja uma
separação entre conceitos fáctico pré-jurídicos e conceitos jurídicos. Por exemplo, o
conceito de dolo é um conceito jurídico, ainda que tenha que ser preenchido no caso
singular através de uma avaliação dos factos.
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Repara-se não se trata de uma alteração de factos, mas não quer dizer que uma alteração
da qualificação jurídica seja irrelevante na perspectiva da defesa e que não possa
constituir uma decisão surpresa.
A importante alteração introduzida ao nosso CPP, por uma Lei de 98, veio reconhecer
expressamente ao arguido o direito a ser informado oportunamente da alteração da
qualificação jurídica e de lhe ser dado tempo para se defender.
Contudo, há doutrina, claramente minoritária, mas com bons argumentos, que defende
que o Tribunal não goza de poderes de plena valoração dos factos acusados, dado que a
qualificação jurídica dada aos factos na acusação fixaria um limite quantitativo da pena
a aplicar no processo, impedindo assim a agravação da pena, mediante a nova
qualificação jurídica por parte do Tribunal seja em 1º instância ou em sede de recursos.
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Esta posição é totalmente minoritário e PAULO SOUSA MENDES crê que assenta em
argumentos de direito material que não são os mais adequados. E em virtude desses
argumentos, GERMANO MARQUES DA SILVA matizou o seu pensamento. Mas o
pensamento originário de GERMANO MARQUES DA SILVA basicamente corria do
seguinte modo: o arguido ao preencher ou a considerar-se que realizou um facto punível
(…)
PAULO SOUSA MENDES não crê que GERMANO MARQUES DA SILVA tenha
razão, aliás não tem razão porque o momento da consciência da ilicitude é um
consciência da ilicitude potencial e não actual/psicológica, não tendo que se provar em
tribunal que o agente tinha consciência da ilicitude, mas é uma imputação que se faz, no
sentido em que as pessoas em geral tem o dever de possuir essa consciência da ilicitude
pelo facto de viverem em sociedade, é algo que se adquire pelo facto de viverem em
sociedade. Regra Geral, a falta de consciência da ilicitude não é desculpável, só em
circunstâncias muito especiais, nos termos do art. 17º CP e, além disso, a inconsciência
da lei não aproveita a ninguém.
PAULO SOUSA MENDES não crê que se possa dizer, como diria GERMANO
MARQUES DA SILVA, que como a consciência da ilicitude é um momento do crime,
então a alteração da qualificação jurídica altera os factos constitutivos do crime, porque
a consciência da ilicitude em relação a um certo tipo de crime não é a mesma que em
relação a outro tipo de crime. Para PAULO SOUSA MENDES a consciência da
ilicitude não se confunde com o conhecimento técnico-juridico dos factos, que o
arguido não terá que ter. Não considera assim o REGENTE que a via de explicação de
GERMANO MARQUES DA SILVA seja atendível, nem crê que ela tenha sido
confirmada na Reforma do CPP feita em 1998 (antes pelo contrário), porque a tese do
professor implicava que a alteração da qualificação jurídica na prática se traduzi-se
numa alteração substancial de factos e a verdade é que em 1998, o CPP, passou a dar
relevância à alteração da qualificação jurídica mas por analogia com a alteração não
substancial de factos , mas não na sua essência, ou seja, tão somente na aplicação do seu
regime.
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