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ORGANIZAÇÕES • UM TEXTO, MÚLTIPLAS INTERPRETAÇÕES: ANTROPOLOGIA HERMENÊUTICA E CULTURA ORGANIZACIONAL

UM TEXTO, MÚLTIPLAS INTERPRETAÇÕES:


ANTROPOLOGIA HERMENÊUTICA E CULTURA
ORGANIZACIONAL
RESUMO
Neste artigo pretende-se contribuir para a compreensão do papel exercido pela dimensão simbólica na
construção da realidade organizacional. Parte-se da apresentação de dados etnográficos que descrevem
um caso ilustrativo de conflitos culturais no universo empresarial. Em seguida, são realizadas algumas
reflexões teóricas a partir do caso apresentado. Nesse momento, procura-se: a) empreender uma breve
revisão de literatura sobre a antropologia simbólico-interpretativa tomando como referência os trabalhos
de Clifford Geertz, principal representante dessa corrente da disciplina antropológica, bem como as
idéias de alguns de seus interlocutores; e b) traduzir as idéias originárias da antropologia interpretativa
ou hermenêutica para pensar a dinâmica cultural nas organizações. O propósito final do artigo é, portanto,
fazer avançar o debate sobre cultura organizacional, apresentando as contribuições dessa perspectiva
antropológica como uma possibilidade de superação dos limites deixados pela corrente funcionalista até
então dominante nesse subcampo de estudos.

Pedro Jaime Júnior


Coordenador Acadêmico das Faculdades Jorge Amado, pesquisador do CETEAD,
mestre em Antropologia Social pela UNICAMP e graduado em Administração pela UFBA.
E-mail: pedrojaime@uol.com.br

ABSTRACT This article intends to contribute for the understanding concerning the symbolic dimension on the construction of the organizational
reality. At first it presents ethnographic data which describe an illustrative case of cultural conflicts in the business universe. Afterwards, some
theoretical reflections are accomplished starting from the presented case. At this moment, it intends to seek: a) an abbreviation of literature
revision on the symbolic-interpretative anthropology taking as reference Clifford Geertz’s works, main representative of this current of anthropo-
logical discipline, as well as some authors who have studied and criticized his work; b) the translation of original ideas of the interpretative or
hermeneutics anthropology to reflect about the cultural dynamics in the organizations. The final purpose of the article is therefore make the
advance of the debate about organizational culture, presenting the contributions of that anthropological perspective as a possibility of overcoming
the limits left by the functionalist current which has been dominant in this sub-field of studies until nowadays.

PALAVRAS-CHAVE Antropologia interpretativa, metáforas, cultura, cultura organizacional, teoria das organizações.
KEY WORDS Interpretative anthropology, metaphors, culture, organizational culture, theory of organizations.

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INTRODUÇÃO Partindo dessa segunda vertente, pretende-se, neste


artigo, contribuir para a compreensão do papel exerci-
A discussão acerca das dimensões simbólicas no uni- do pela dimensão simbólica na construção da realida-
verso organizacional possui remotas raízes históricas. de organizacional. Inicialmente é apresentado um caso
Seu itinerário teórico deve ser traçado a partir do Ex- ilustrativo de conflitos culturais no universo empresa-
perimento de Hawthorne, empreendido por Elton Mayo rial. Em seguida, são realizadas algumas reflexões teóri-
e seus colaboradores, entre os anos 1920 e 1930 do cas a partir do caso. Nesse momento, procura-se: a)
século passado. Nesse estudo já estava presente um empreender breve revisão de literatura sobre a antropo-
“protoconceito” de cultura organizacional, entendida logia simbólico-interpretativa, tomando como referên-
como sistemas ideológicos simbólicos (Aktouf, 1990). cia os trabalhos de Clifford Geertz, principal represen-
Todavia, é a partir do final da década 1970 que a cor- tante dessa corrente da disciplina antropológica, bem
rente da cultura organizacional tem desenvolvimento como as idéias de alguns de seus interlocutores; e b)
sem precedentes no campo da teoria das organizações, traduzir as idéias originárias da antropologia interpre-
passando a constituir uma área disciplinar específica, tativa para pensar a dinâmica cultural nas organiza-
com seus especialistas, suas escolas, suas tendências e ções. O propósito final do artigo é, portanto, fazer avan-
seus “clássicos”. Alguns estudiosos já realizaram balan- çar o debate sobre cultura organizacional, apresentan-
ços sobre o desenvolvimento desse subcampo dos estu- do as contribuições dessa perspectiva como uma pos-
dos organizacionais (Smircich, 1983; Aktouf, 1990; sibilidade de superação dos limites deixados pela cor-
Schwartzman, 1993; Wright, 1994; Pépin, 1998). Aktouf rente funcionalista, até então dominante nesse subcam-
(1990) e Pépin (1998) apontam a existência de pelo po de estudos.
menos duas abordagens distintas nesse domínio.
A primeira, de clara inspiração funcionalista e deten-
tora de uma perspectiva gerencialista, é por eles deno- CLIVAGENS INTERPRETATIVAS E CONFLITOS
minada de mainstream. Diversos autores são classifica- CULTURAIS EM UMA JOINT-VENTURE
dos nessa vertente – ainda que suas produções teóricas
sejam matizadas –, dentre os quais podemos destacar: Os dados etnográficos descritos a seguir referem-se a
Schein, Pettigrew, Ouchi, Charles Handy e as duplas uma pesquisa de campo de aproximadamente quatro
Peters e Waterman, Deal e Kennedy, e Pascale e Athos. anos, empreendida pelo antropólogo Guilhermo Ruben,
Eles parecem concordar em relação a alguns pressupos- da Unicamp, em uma empresa binacional argentino-bra-
tos básicos, a saber: a) toda organização possui uma sileira (Ruben, 1999). Vale ressaltar que ele mantém em
cultura; b) essa cultura explica muitos dos fenômenos sigilo o nome da empresa, denominando-a a firma.
que ocorrem na organização; c) ela favorece ou dificulta Em 1987, dois grupos de executivos do setor meta-
a performance organizacional; d) a cultura pode ser lúrgico, um brasileiro e um argentino, resolveram pro-
diagnosticada e, aplicando-se certas metodologias, mover o estabelecimento de uma joint-venture. Ao fim
gerenciada, transformada, ou até inteiramente criada; e) das negociações, o grupo argentino ficou responsável
a liderança é o processo que determina a formação e a por 51% da composição acionária, ao passo que o brasi-
mudança da cultura; e f) um dos papéis mais importan- leiro deteve os 49% restantes. As diferenças culturais
tes dos líderes nas organizações é justamente a criação, presentes nesse encontro etnográfico potencializavam-
a gestão e, se necessário, a mudança da cultura. se, uma vez que os grupos eram internamente heterogê-
A essa abordagem, Aktouf (1990) e Pépin (1998) con- neos. Do lado argentino estavam um italiano, que resi-
trapõem uma perspectiva crítica ou sócioantropológica. dia há muitos anos na Argentina, e um descendente de
Os membros dessa segunda vertente não aceitam o pres- judeus. O primeiro, técnico metalúrgico de origem ope-
suposto de que a cultura organizacional possa ser rária; o segundo, um engenheiro, membro das camadas
gerenciada. Para eles, tal pressuposto é vítima de um médias urbanas. Eles dividiam em partes iguais a parce-
reducionismo utilitarista, configurando uma operação la argentina do capital da empresa. Do lado brasileiro,
ideológica que tenta aprisionar o simbólico nos ditames por seu turno, havia quatro profissionais extremamente
da racionalidade instrumental. Estudos como os de diferentes entre si. O primeiro era um nisei casado com
Chanlat (1990), de Dupuis (1990) e do próprio Aktouf uma brasileira, com nível secundário completo e já pro-
(1990), dentre outros, embora também possuam diver- prietário de uma planta industrial de médio porte em
gências, podem ser aqui agrupados. São Paulo. Ele, que posteriormente saiu da sociedade,

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possuía 40 dos 49% do pacote acionário brasileiro, ao c) Produtos considerados de alta qualidade. No início de
passo que os demais dividiam os 9% restantes. Estes suas atividades no Brasil, a firma importava os produtos
últimos podem ser assim caracterizados: um profissio- quase inteiramente da Argentina.
nal saído de um setor tradicional dos serviços públicos, d) Competitividade da política de preços praticada, levan-
fortemente inscrito em uma tradição religiosa fundada do-se em conta a qualidade e a origem estrangeira dos
no espiritismo, com longa experiência no mercado, ten- produtos.
do atuado nas áreas de produção e marketing, e com e) Participação de mercado – assegurada por uma carteira
extraordinário conhecimento formal e informal desse de clientes significativa, incluindo McDonald’s, Varig,
segmento; um jovem formado em Engenharia de Ali- grandes cadeias de hotel, restaurantes e aeroportos bra-
mentos, pela Unicamp, com pouca experiência de tra- sileiros.
balho, originário de tradicional família mineira e com
perfil de yuppie, ou seja, empreendedor, sonhador, am- Tudo estava pronto para a decolagem, e os parceiros
bicioso; e, finalmente, um trabalhador proveniente de sentiam-se otimistas com relação ao futuro. Os argenti-
famílias de operários de São Paulo, que havia ingressa- nos e o nisei, em função da condição de acionistas ma-
do muito jovem no mercado de trabalho metalúrgico, o joritários, ocupariam a presidência. Os demais membros
que lhe imprimiu traços de cultura operária tradicional, do grupo brasileiro seriam os principais executivos. Eles
mas que teve acesso ao ensino universitário, em facul- tinham produtos de boa qualidade, em um mercado
dades privadas da Grande São Paulo sem tradição de enorme e quase virgem. O sucesso parecia inevitável.
ensino e pesquisa. Entretanto, as expectativas foram rapidamente frustra-
A empresa tinha participação informal no Mercosul, das e a firma conheceu, ao invés da glória e do sucesso,
visto que, no momento em que foi criada, o bloco eco- momentos de desespero e de conflitos lancinantes. As
nômico estava ainda em etapa de discussão entre as di- razões? Os membros construíam leituras diferentes da
versas representações – governamentais, empresariais e realidade organizacional. Os sócios não conseguiam
sindicais – dos países envolvidos. compatibilizar perspectivas que lhes pareciam radical-
O negócio da firma era fabricação, importação e mente diferentes.
comercialização de equipamentos para cozinhas in- As clivagens interpretativas surgiram no cotidiano
dustriais. Seu mercado-alvo era composto por cadeias da empresa, especialmente no momento do contato
de restaurantes orientados para fast-food: hospitais, face a face entre brasileiros e argentinos. Inicialmen-
universidades e, de maneira geral, todo estabelecimen- te, esses encontros ocorriam durante uma semana a
to público ou privado voltado para a oferta de grande cada mês. Mas, com o passar do tempo, os argenti-
quantidade de refeição em curto período de tempo. nos, que nunca tomaram o Brasil como residência,
No Brasil, e mais precisamente em São Paulo, exis- elevaram a freqüência de viagens ao país, aumentan-
tem diversas empresas consagradas a esse tipo de ati- do o espaço de interação e, em conseqüência, os con-
vidade. Ou seja, a firma tinha um mercado potencial flitos.
promissor. Em um primeiro nível de análise, Ruben sugere que
Praticamente todas as condições técnicas favoráveis à as perspectivas diferentes são originadas nos preconcei-
alavancagem dos negócios faziam-se presentes, dentre tos constatados, de forma não sistemática, como senso
as quais se podem destacar: comum, ou seja, nos sistemas de representação que os
a) Experiência anterior dos parceiros – o que garantia um cidadãos de cada país constroem sobre o outro. Essas
conhecimento extraordinário do setor. Os sócios argen- representações estereotipadas estariam relacionadas ao
tinos haviam sido proprietários da maior indústria desse hábito que muitos argentinos têm de chamar os brasi-
ramo de atividade em seu país, que era também a líder leiros de macaquitos, assim como os bolivianos de bolitas
na América Latina. Além disso, um dos brasileiros da e os paraguaios de paraguas. De acordo com esse estereó-
firma ocupara, durante dez anos, o cargo de diretor da tipo, os argentinos, possuindo ainda hoje nível de esco-
maior empresa concorrente. laridade superior à média da região, seriam, malgrado
b) Saúde financeira – propiciada pelo aporte de capital fei- as últimas crises econômicas, os “europeus” da América
to pelos sócios argentinos, que possuíam uma estratégia Latina. Por sua vez, os brasileiros, também constroem
de penetração no mercado brasileiro – garantindo uma representações estereotipadas sobre os argentinos. Tais
certa independência em relação aos créditos de investi- representações reportam-se a um povo muito mentiro-
mento governamentais ou privados. so e arrogante (Ruben, 1999).

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Os parceiros, porém, conheciam a rivalidade clássica rios críticos. O resultado? A desconfiança interna au-
entre Brasil e Argentina. Eles sabiam, de maneira mais mentava e as decisões estavam sempre contaminadas
ou menos consciente, que deveriam ultrapassar essa tra- por esse clima tenso, que tinha origem nas interpreta-
dicional desconfiança, vencendo seus próprios precon- ções sobre o tempo, marcadas pela separação entre tem-
ceitos e superando os estereótipos. Portanto, o maior po de viagem, “gandaia”, e tempo de trabalho, “bata-
problema da firma não estava aí, como salienta Ruben. lha” – expressões utilizadas pelos próprios sujeitos so-
Residia nas diferentes interpretações sobre os conceitos ciais. Os parceiros, executivos inteligentes e brilhan-
elementares da vida cotidiana de toda empresa: valor, tes, não chegavam a construir juntos uma comunidade
trabalho, tempo, espaço, sindicato, trabalhador, gover- de interpretação sobre essa particular e banal idéia de
no, sociedade, e tantos outros, que representaram fon- tempo.
tes de pequenos e, por vezes, grandes desacordos. Tan-
to os argentinos quanto os brasileiros achavam que es- Interpretações do espaço: espaço
sas clivagens interpretativas eram radicais e irredutíveis. de operários versus espaço de executivos
Dentre os diversos conflitos da dinâmica cultural na or- A interpretação do espaço constituía outro grave con-
ganização, Ruben destaca certas interpretações confli- flito da firma. O problema entre os dois grupos é que
tantes de tempo e espaço. eles ignoravam reciprocamente o valor atribuído à re-
presentação do espaço. Isso provocava o aumento da
Interpretações do tempo: desconfiança e impedia o desenvolvimento “normal” das
tempo de trabalho versus tempo de lazer atividades industriais.
Não havia consenso sobre o tempo entre os dois gru- Qual era o problema? Os grupos provinham de expe-
pos de empreendedores. Para os brasileiros, o cotidiano riências diferentes. Conforme afirmado anteriormente,
estava relacionado ao trabalho. Já para os argentinos, os brasileiros, em sua maioria, eram antigos emprega-
que vinham ao Brasil de passagem, o trabalho possuía dos. Os argentinos, em contraste, eram industriais de
sempre perspectiva de lazer, de um tempo diferente. Não sucesso em seu país. Uma oposição marcava a leitura do
que se divertissem, ou quisessem “fazer a festa”. Ao con- espaço construída por uns e por outros, em razão de
trário: durante sua estada no Brasil, eles “sofriam” até suas distintas trajetórias.
mais que os colegas brasileiros, uma vez que deixavam Para os brasileiros, era inconcebível a idéia de tra-
casa, família e vida cotidiana para se adaptarem em ou- balhar no mesmo espaço que operários e supervisores.
tro país, outra língua, outra cultura. Possuíam uma preocupação secreta de ficar longe dos
O problema não estava situado na “realidade”, do trabalhadores. Desejando remarcar a condição de pro-
que “realmente” se passava, mas na leitura que os ato- prietários do negócio, os brasileiros queriam, a qual-
res construíam, em um clima de contradição jamais quer preço, ter um espaço privado e distante da fá-
explicitado, de que os argentinos, apesar de seus es- brica. Partia desse grupo a idéia de conservar o escri-
forços físicos e financeiros, estavam se divertindo, e os tório administrativo da firma nas adjacências da Ave-
brasileiros trabalhando duro. Essa não era a verdade, nida Paulista, onde havia sido instalado inicialmente
para qualquer que fosse o observador. Todos trabalha- – separado, portanto, da planta industrial, localizada
vam duro, ao longo de uma jornada de dez a 12 ho- em Alphaville, município de Barueri, na Grande São
ras. Entretanto, tratava-se de uma imagem que eles Paulo.
faziam de si mesmos. Ocasionalmente, após um dia A visão dos argentinos era radicalmente diferente. Na
de trabalho, o grupo saía para jantar em um restaurante. empresa argentina não havia espaços divididos, estando
Surgiam então as relações jocosas, do tipo: “Vocês, argen- a fábrica e o escritório no mesmo imóvel. Além disso,
tinos, vêm aqui para se divertir! Nós, brasileiros, traba- dado que eram os principais investidores, queriam eco-
lhamos, hoje, como todos os dias”. Alegava-se que os ar- nomizar o máximo.
gentinos falavam de divertimento, e os brasileiros de Ambos os discursos sobre o espaço, com as propos-
trabalho. tas de ação correspondente, sustentavam-se em argu-
A imagem de viagem construída, tanto por uns quan- mentos muito bem elaborados. Do lado brasileiro, des-
to por outros, estava fortemente associada à tradicio- tacava-se que a existência de um escritório central, em
nal representação de férias, lazer. Ninguém no grupo a um espaço separado da fábrica, era importante, pois
percebia enquanto atividade profissional. Aí repousa- permitia demonstrar o poder do estabelecimento e tor-
va uma fonte infinita de problemas, invejas e comentá- nava mais fácil o acesso do cliente. Já os argentinos fri-

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savam a importância do patrão estar próximo das ativi- METÁFORAS E PRODUÇÃO


dades cotidianas da fábrica, facilitando, assim, os meca- CIENTÍFICA NAS CIÊNCIAS SOCIAIS
nismos de controle e reduzindo os custos de instalação
do empreendimento. Geertz (1983a) parte do pressuposto de que a teoria
As leituras diferentes, e mesmo opostas do espaço científica move-se principalmente por analogias, por um
(espaço-status e espaço-custo-controle), que em princí- pensamento metafórico, explicações do tipo como se, li-
pio pareciam um problema de fácil resolução, revela- gando o menos inteligível ao mais inteligível. Assim, o
ram-se fonte de conflitos, aumentando a desconfiança coração é visto como se fosse uma bomba, o cérebro como
e criando obstáculo à alavancagem dos negócios. se fosse um computador, a luz como se fosse uma onda e
Evidentemente, não se pode afirmar que as diferen- o espaço como se fosse um globo.
tes interpretações do espaço foram a causa de todas as O antropólogo norte-americano sugere que, a partir
dificuldades para o tão esperado sucesso. Contudo, boa dos anos 1960, ocorreu um giro interpretativo nas Ciên-
parte do tempo de todos os encontros dos dois grupos, cias Sociais. Desde então, elas deixaram de ser vistas
de 1987 a 1992, era ocupada pela discussão do espaço, como uma espécie de ciência natural atrofiada, para se-
sem que eles jamais chegassem a uma solução, o que rem percebidas como uma ciência diferente. Houve, as-
alargava ainda mais a desconfiança. Os problemas da sim, progressivo abandono das Ciências Naturais como
firma eram sempre atribuídos, pelos próprios parceiros, modelo a ser seguido.
ao erro de alguém, nunca à ausência de acordo sobre a Segundo Geertz, as Ciências Sociais distanciaram-se
interpretação simbólica do espaço. Foi necessário um do ideal de explicação voltada para a construção de leis
inesperado constrangimento exterior para que a clivagem gerais de funcionamento da sociedade, ou para a cons-
interpretativa fosse ultrapassada, mas por uma imposi- trução de funções a partir do isolamento de variáveis,
ção do cenário econômico, e não por uma negociação que marcara a abordagem positivista. Na nova perspec-
da realidade. Essa ameaça foi o confisco financeiro do tiva, caberia às Ciências Sociais a construção de inter-
governo Collor, que demandou rápida tomada de deci- pretações, sempre provisórias, sobre a realidade social,
são. Somente nesse momento os brasileiros abriram mão em uma perspectiva compreensiva.
de sua exigência e concordaram com a reunião de todas Esse giro interpretativo viria acompanhado do re-
as atividades empresariais em Alphaville, como deseja- curso a novas metáforas, para a compreensão do mun-
vam os argentinos. do social. Isso porque a mudança de objetivos impli-
Como podemos analisar o caso acima descrito e for- ca em alteração na retórica analítica, ou seja, quando
mular algumas conclusões a partir dele? Conviria a abor- o curso da teoria muda, as convenções, com as quais
dagem funcionalista, dominante no campo de estudos se expressa, também mudam. Novas estratégias dis-
sobre cultura organizacional, para a compreensão dos cursivas, novas narrativas são criadas para apresentar
conflitos culturais vividos na firma? Será que a concep- a análise. Sendo assim, cada vez menos representa-se
ção da cultura, como um dado objetivo e reificado, algo a sociedade como se fosse uma máquina ou um orga-
que a organização possui, é suficiente para fazer avan- nismo. Ao invés de as metáforas inspiradoras advi-
çar o debate sobre cultura organizacional? Essa aborda- rem da Física ou da Biologia, elas são procuradas nas
gem não encobre, mais do que esclarece, importantes humanidades. O jogo, o drama e o texto tornam-se
dimensões do fenômeno? então imagens recorrentes para interpretar a realida-
Além de um problema de disfunção organizacional, de social.
os dados etnográficos descritos revelam a produção, O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos
pelos sujeitos sociais, de diferentes leituras da realida- parece levar ao extremo a proposição de Geertz. Segun-
de. Sendo assim, a abordagem interpretativa mostra-se do ele, obstáculos tradicionalmente apontados como
mais apropriada a uma análise consistente desse caso. barreiras ao desenvolvimento das Ciências Sociais – re-
Esboçá-la é o intuito das próximas seções deste artigo. lacionados basicamente à subjetividade que marca a pro-
Para tanto, inicialmente empreende-se breve revisão de dução do conhecimento, à interferência do sujeito so-
literatura sobre a antropologia simbólico-interpretativa, bre o objeto, às previsões pouco confiáveis e à impossi-
com o propósito de apresentar o “estado-da-arte” dessa bilidade da formulação de leis gerais – eclodem hoje tam-
corrente da teoria antropológica. Em seguida, busca-se bém nas Ciências Naturais. Isso acarretou uma ampla
traduzir essas idéias para o campo dos estudos organi- revisão da epistemologia da ciência moderna (Santos,
zacionais. 1988).

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Para Boaventura, em função da crise do paradigma fraqueza, pois termina não aprofundando nenhum dos
dominante, já não presenciamos a predominância do aportes disciplinares.
fluxo de metáforas das Ciências Naturais para as Ciências Na próxima seção, tenta-se pensar como a metáfora
Sociais. O fluxo lhe parece ter-se invertido: as Ciên- da cultura, enquanto um texto ou conjunto de textos,
cias Naturais é que recorrem às Ciências Sociais como proveniente da antropologia interpretativa, pode aju-
reservatório de analogias. Como exemplos, cita a teo- dar a compreender a dinâmica cultural nas organiza-
ria das estruturas dissipativas do prêmio-nobel Ilya ções.
Prigogine e a teoria sinergética de Haken, as quais ex-
plicam o comportamento das partículas por meio de
conceitos como revolução social, violência, escravatu- CULTURA E PRODUÇÃO
ra, dominação e democracia, todos eles vindos das SIMBÓLICA: A CULTURA COMO TEXTO
Ciências Sociais.
Todavia, deve-se relativizar o argumento de Boa- Clifford Geertz é o mais expressivo representante da
ventura. Hannerz (1997 e 1998) argumenta que a teoria antropologia interpretativa ou hermenêutica. Segundo
social contemporânea lança mão de metáforas bioló- Fischer (1985), esse rótulo expressa uma tendência subs-
gicas para pensar novos fenômenos. Hibridação e tantiva que se cristalizou na Universidade de Chicago,
mestiçagem têm sido recursos metafóricos incorpo- nos anos 1960, a partir da liderança de Geertz e David
rados pela Antropologia para analisar a produção de Schneider. Tal corrente da teoria antropológica termi-
significados no contexto da globalização da cultura. nou interessando a quase todo o corpo docente dessa
Em um contexto sociohistórico, no qual as frontei- universidade, que incluía expoentes como Victor Turner,
ras entre as disciplinas científicas estão sendo revistas, Marshall Sahlins e Terence Turner (Fischer, 1985). A
renegociadas e redemarcadas, ou, como diz Geertz partir de então, Geertz tornou-se, junto a Lévi-Strauss,
(1983a), no qual o traçado do mapa intelectual está um dos mais conhecidos antropólogos da segunda me-
sendo redesenhado, ocorre, em verdade, um descen- tade do século XX, tanto no interior quanto no exterior
tramento dos fluxos conceituais. Fluxos em distintos da disciplina antropológica.
sentidos, e mesmo refluxos, passam a ser cada vez mais Conforme anteriormente afirmado, Geertz (1983a)
constantes, ainda que os empréstimos conceituais in- sugere que as metáforas do jogo, do drama e do texto
terdisciplinares nem sempre sejam feitos com o devido têm sido privilegiadas pela teoria social contemporâ-
rigor. A produção científica em Administração, que nea para que se interprete a realidade social. Ele asso-
muitas vezes importa conceitos de outras disciplinas, cia as imagens do jogo e as do drama sobretudo aos
ignorando entretanto as disputas paradigmáticas que trabalhos de Erving Goffman e Victor Turner, respecti-
envolvem esses conceitos nas ciências de origem, ates- vamente. No que se refere à utilização da metáfora do
ta isso, obrigando-nos a uma certa vigilância. texto, cita sua própria produção intelectual. Todavia,
De toda forma, é correto afirmar que o pensamento ressalta que o recurso a essas metáforas não se dá de
metafórico tem marcado a produção científica nas forma excludente, pois elas misturam-se na interpre-
Ciências Sociais. No campo da Administração, Morgan tação de um mesmo autor. Sua abordagem parte do
(1988) foi o pioneiro na sistematização da teoria das pressuposto de que as instituições sociais, os costu-
organizações, a partir da utilização de analogias. Ele mes, as mudanças e os atos do cotidiano são passíveis
apresenta diferentes metáforas que se prestam à com- de leitura em algum sentido. Vejamos mais de perto
preensão das organizações. Cada metáfora revelaria uma seu pensamento.
face do fenômeno organizacional. Assim, as organiza- Geertz (1973a) pretende recolocar as bases do con-
ções podem ser vistas como se fossem máquinas, orga- ceito de cultura na Antropologia, ao passo que apre-
nismos, cérebros, culturas, sistemas políticos, prisões senta o programa da antropologia interpretativa. Para
psíquicas, fluxos ou instrumentos de dominação. Por ele, a definição clássica de cultura proposta por Tylor
um lado, a força de sua abordagem reside na perspec- parece ter chegado ao ponto em que confunde muito
tiva multidisciplinar. Para analisar a realidade organi- mais do que esclarece, levando a produção antropo-
zacional, Morgan utiliza distintos olhares disciplina- lógica sobre cultura a uma espécie de “pantanal con-
res, da engenharia à ecologia, da Antropologia à Ciên- ceitual”. Trata-se da célebre definição: esse todo com-
cia Política, das ciências cognitivas à psicossociologia. plexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, mo-
Por outro lado, no entanto, sua força é também sua ral, leis, costumes, ou qualquer outra capacidade ou

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hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma tropologia hermenêutica proposto por Geertz: a cultura
sociedade. como um texto que os atores sociais lêem para interpre-
Geertz defende um conceito semiótico de cultura. tar suas vidas; a Antropologia como uma ciência inter-
Baseado na sociologia clássica de Max Weber, para pretativa à procura dos significados escondidos por de-
quem o homem só é capaz de viver em um mundo trás das práticas sociais; e o antropólogo como um in-
que para si seja dotado de sentido, Geertz entende a térprete que recorre ao trabalho de campo etnográfico
cultura como sendo a produção desse sentido, ou seja, para empreender a tradução dos textos culturais. Esse
uma inextricável teia de significados que os homens programa foi elaborado ao longo de suas experiências
tecem em suas interações cotidianas e que funciona de campo em Bali, Java e Marrocos. Vejamos mais deti-
como um mapa para a ação social. Seguindo o racio- damente um de seus textos etnográficos sobre Bali
cínio metafórico, Geertz enxerga a cultura como um (Geertz, 1973b).
texto, ou um conjunto de textos, que os atores sociais Vale lembrar que para Geertz (1973a) a boa interpre-
lêem para interpretar o curso dos acontecimentos tação é uma descrição densa, isto é, uma descrição mi-
sociais. croscópica de eventos bem particulares, mas que são
Se a cultura é um texto, o papel do antropólogo é capazes de falar algo sobre grandes questões, sobre as
interpretar esse texto, penetrar em suas emaranhadas sociedades nas quais estão contextualizados. É justamen-
estruturas significativas, compreendendo não apenas o te isso que ele tenta fazer em sua análise da briga de
que significa, mas como faz sentido, como ganha signi- galos em Bali. A escolha da briga de galos como locus
ficado para os sujeitos sociais. A Antropologia passa a empírico privilegiado para a compreensão da sociedade
ser considerada não mais uma ciência experimental em balinesa não é aleatória. Geertz sugere a importância que
busca de leis, mas uma ciência interpretativa à procura tal ritual possui na estruturação dessa sociedade. Segun-
do significado. do ele, da mesma forma que os Estados Unidos reve-
O antropólogo é visto então como um intérprete, um lam-se em um campo de beisebol, em um campo de golfe
tradutor cultural. Ele interpreta o fluxo do discurso so- ou em torno de uma mesa de pôquer, Bali revela-se em
cial: falas, silêncios, gestos, ações. Como intérprete, cabe- uma rinha de galos.
lhe traduzir os significados culturalmente construídos Uma frase do texto parece sintetizar o esforço
pelos sujeitos sociais. Mas vale lembrar que, para Geertz, interpretativo de Geertz: “é apenas na aparência que
o antropólogo constrói interpretações de segunda mão, os galos brigam ali – na verdade, são os homens que se
ele interpreta interpretações, lê o texto cultural por so- defrontam” (Geertz, 1973b). Tal afirmação sustenta-se
bre o ombro dos nativos. A rigor, são os próprios sujei- na observação do comportamento dos sujeitos presen-
tos sociais que interpretam em primeira mão sua pró- tes nas rinhas de galos, no momento em que procedem
pria cultura. às apostas. Geertz mostra que existem regras que as
Mas, como procede o antropólogo para interpretar presidem, e mais: elas refletem e atualizam a organiza-
uma cultura? A resposta pode ser encontrada no pro- ção social balinesa. Vejamos algumas dessas regras: a)
grama da antropologia hermenêutica formulado por um homem quase nunca aposta contra um galo de seu
Geertz. Se a cultura é uma coleção de textos que os in- próprio grupo familiar. Na verdade, sentir-se-á obriga-
divíduos escrevem, reescrevem e lêem em suas intera- do a apostar nele, especialmente em se tratando de um
ções cotidianas, o antropólogo deve tomar parte nessas parentesco mais próximo; b) se seu grupo de parentes-
interações para interpretar esses textos, o que não signi- co não está envolvido, deverá apostar em um grupo
fica virar um nativo, mas aprender a viver com – e não aliado contra um não-aliado, e assim por diante nas
como – eles, sendo de outro lugar e tendo um mundo redes de aliança, até aquela que envolve toda a aldeia
próprio, diferente (Geertz, 1983b e 2001). Segue daí a contra uma aldeia vizinha; c) duas pessoas envolvidas
centralidade do trabalho de campo etnográfico na An- em uma situação de hostilidade institucionalizada apos-
tropologia professada e praticada por Geertz. E fazer tarão ferozmente uma contra o galo da outra, como
Etnografia, diz-nos ele, é como tentar ler um manuscri- forma de dramatizar um ataque franco a seu rival; d)
to desbotado, cheio de rasuras e emendas. O trabalho inversamente, o término de um conflito e o reatamen-
etnográfico consiste em ler nas entrelinhas, construir to de uma relação social pode ser sinalizado mediante
interpretações, sempre provisórias, sempre passíveis de a aposta no galo do inimigo; e) em situações desagra-
serem questionadas e/ou reconstruídas. dáveis, de lealdade cruzada, em que um homem vê-se
Quiçá seja esta uma boa síntese do programa da an- diante de duas pessoas com as quais possui vínculos

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PEDRO JAIME JÚNIOR

mais ou menos equilibrados, a melhor opção é sair, ral da cultura enfatiza tanto o caráter simbólico dos
evitando a aposta. fenômenos culturais, como o fato de esses fenômenos
A apresentação dessas regras revela a habilidade de estarem inseridos em contextos e processos socialmen-
Geertz para interpretar o significado daquela prática para te estruturados. Vejamos, com mais vagar, a argumen-
os balineses, indo além do sentido econômico que tal- tação de Thompson.
vez fosse a significação percebida por um observador Conforme lembra, os seres humanos não apenas pro-
desavisado – um turista, por exemplo. Para Geertz, a duzem e recebem expressões lingüísticas. Eles também
briga de galos é uma dramatização da vida em Bali, uma conferem sentido, significação a construções não-lingüís-
história que os balineses contam sobre si e para si mes- ticas: ações sociais, obras de arte, objetos materiais de
mos. Trata-se de uma leitura balinesa da experiência diversos tipos, etc. A cultura deve ser vista então como
balinesa. estruturas significativas, como padrões de significado.
Tentou-se até aqui apresentar um panorama geral A análise cultural seria justamente a elucidação das es-
da antropologia hermenêutica, tal como foi formulada truturas de significado incorporadas às formas simbóli-
por Clifford Geertz. A redefinição do conceito de cul- cas. Até aqui, seu pensamento está em plena concor-
tura proposta por esse autor e sua contribuição à lite- dância com o de Geertz.
ratura etnográfica já lhe conferem a condição de clás- Entretanto, para Thompson, os fenômenos culturais
sico da teoria antropológica. Conseqüentemente, ele estão implicados em relações de poder e conflito. Eles
atraiu diversos interlocutores, uns mais críticos, ou- podem, mesmo, ser vistos como expressões das relações
tros menos. de poder. Nesse sentido, prestam-se a múltiplas, e tal-
vez divergentes e conflitantes, interpretações. A concep-
ção de Thompson pode ser resumida da seguinte forma:
ANTROPOLOGIA HERMENÊUTICA: os atores sociais estão posicionados de forma diferente
PERSPECTIVAS CRÍTICAS e desigual na estrutura social, sendo portanto possuido-
res de distintos capitais econômicos, culturais e simbó-
Entre os interlocutores de Clifford Geertz aqui des- licos. Dessa forma, eles constroem diferentes interpre-
tacados, alguns estudaram com ele ou realizaram sua tações sobre os fenômenos culturais.
formação justamente entre os anos 1970 e 1980, quan- Dito de outra forma, o texto cultural está inserido
do a antropologia interpretativa estava se construin- em um contexto sociohistórico, por meio do qual ele é
do. São antropólogos como George Marcus, Michael produzido, transmitido, recebido e interpretado. Tudo
Fischer, Paul Rabinow e Vicent Crapanzano. Eles fa- se passa como se Thompson levasse às últimas conse-
zem parte da “geração de alunos de Geertz”, para usar qüências a metáfora do texto utilizada por Geertz para
uma expressão de Fischer (1985). Além desses, ou- a compreensão da cultura. Assim, se a cultura é um
tros cientistas sociais, como o antropólogo sueco Ulf texto, então – tal como os textos literários –, presta-se
Hannerz, o historiador da Antropologia James Clifford a diferentes e, até mesmo, conflitantes interpretações.
e o sociólogo britânico John Thompson, também têm Sabe-se, com a teoria literária, que os leitores constroem
dialogado com a obra de Geertz. diferentes leituras de um texto, pois possuem distintos
Destacam-se, a seguir, sobretudo as críticas formu- conhecimentos prévios devido a suas biografias particu-
ladas por Thompson (1995). Podem ser consideradas lares. Além disso, um mesmo leitor pode construir in-
críticas internas, uma vez que o sociólogo britânico terpretações diferentes de um mesmo texto ao lê-lo em
parece concordar com as bases da antropologia distintos momentos de sua vida. Analogamente, os ato-
hermenêutica, fazendo, no entanto, algumas ressal- res sociais sempre lêem o mundo a partir de um lugar
vas, propondo uma revisão: “A concepção estrutural – do lugar que ocupam na estrutura social, diria
da cultura é tanto uma alternativa à concepção sim- Thompson.
bólica, como uma modificação dela” (Thompson, Nesse sentido, o sociólogo britânico afirma que
1995, p. 182). É a partir dessa revisão que ele formu- Geertz dá uma atenção insuficiente aos problemas de
la sua concepção estrutural da cultura, que não deve conflito social e poder. Para ele, a antropologia inter-
ser confundida com a perspectiva estruturalista de pretativa de Geertz concentra-se na produção de sig-
Lévi-Strauss. Thompson ressalta que os métodos es- nificados, esquecendo-se de observar os contextos so-
truturalistas concentram-se nos traços internos das ciais estruturados dentro dos quais esses significados
formas simbólicas, ao passo que a concepção estrutu- são construídos.

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ORGANIZAÇÕES • UM TEXTO, MÚLTIPLAS INTERPRETAÇÕES: ANTROPOLOGIA HERMENÊUTICA E CULTURA ORGANIZACIONAL

Thompson aponta também que Geertz volta-se mais plo, o que diz James Clifford: “Ao representar os nuer,
para o significado que os fenômenos culturais têm para os trobiandeses ou os balineses como sujeitos totais,
os sujeitos sociais, do que para os significados, no plu- fontes de uma intenção cheia de significados, o
ral. De fato, se recobrarmos a interpretação sobre a bri- etnógrafo transforma as ambigüidades e diversida-
ga de galos em Bali construída por Geertz, e dado que des de significado da situação de pesquisa em um
ele afirma ser este um ritual masculino, interdito para retrato integrado” (Clifford, 1998, p. 40-41). Esse
mulheres e crianças, poderíamos questionar, com aspecto é também destacado por Crapanzano (1991),
Thompson (1995), o caráter monocórdico que ele pare- para quem Geertz submete os balineses à generaliza-
ce atribuir à interpretação dos balineses sobre esse texto ção expositiva.
cultural. Acaso não fariam outras leituras desse evento Muitos anos depois de Geertz ter empreendido uma
mulheres e crianças que ficam sempre na periferia das redefinição do conceito de cultura, Ulf Hannerz pro-
rinhas? Fica a questão. põe outra revisão. Hannerz (1998) afirma que, no que
Na mesma direção da crítica formulada por Thomp- se refere ao conceito de cultura, há pelo menos três
son vai a ressalva do antropólogo norte-americano linhas que os antropólogos têm tentado articular de
Michael Fischer. Em seu artigo Da antropologia inter- forma mais ou menos harmônica. A primeira, é que a
pretativa à antropologia crítica, afirma: “os indivíduos cultura aprende-se, adquire-se na vida social, é algo
mantêm diferentes posições na sociedade, diferentes como um software de que necessitamos para progra-
percepções, interesses, papéis, e de suas negociações e mar o hardware que nos é dado biologicamente. A se-
conflitos surge um universo social-plural no qual po- gunda, é que a cultura está de alguma maneira integra-
dem coexistir e competir muitos pontos de vista opos- da, formando um conjunto bem encaixado. A terceira,
tos” (Fischer, 1985, p. 57). Fischer questiona a idéia é que os diferentes padrões de cultura correspondem
da cultura como algo consensual, formulada por Geertz aos distintos coletivos sociais que em geral pertencem
(1973a), para quem a cultura é pública porque o sig- a um território.
nificado o é, ou seja, a cultura é a rede de significa- Desses três pressupostos relativamente consensuais
dos compartilhados, sobre os quais existe um acordo. formulados pela teoria antropológica, ele sugere que
Contrapondo-se a essa abordagem, e advogando o que apenas o primeiro é sustentável no presente contexto.
considera uma hermenêutica crítica, Fischer afirma ser Ante os fenômenos sociais contemporâneos, os demais
“uma tarefa etnográfica básica explorar a margem de parecem-lhe difíceis de manter. A idéia de que a cultura
opiniões em qualquer assunto e avaliar sua profundida- é bastante integrada e pode ser captada como um todo
de de apoio como um meio de se avaliar, também, quais não lhe parece plausível em uma época pós-moderna,
são as opiniões dominantes e por quanto tempo” quando observamos vidas que incluem um conjunto
(Fischer, 1985, p. 67). notável de contradições, ambigüidades, malentendidos
Recuperando mais uma vez o argumento de Thompson e conflitos.
(1995), destacamos que suas críticas não devem pas- Da mesma forma, parece impossível entender a cul-
sar sem a devida relativização. Textos como A política tura como um padrão de significados e de formas signi-
do significado (Geertz, 1973c) e Centros, reis e carisma: ficativas distintas pertencentes a uma coletividade, por
reflexões sobre o simbolismo do poder (Geertz, 1983b), sua vez situada em um território, devido à crescente
além do livro Negara: the theater state in nineteenth interconexão espacial. À medida que as pessoas deslo-
century Bali (Geertz, 1980), parecem desautorizar uma cam-se com seus significados, e que estes encontram
crítica sumária ao antropólogo norte-americano pela formas de se deslocarem ainda que as pessoas não se
ausência de preocupações com questões de conflito e movam, os territórios não podem ser demarcadores de
poder em sua obra. uma cultura. Para Hannerz (1998, p. 24), “se aceitamos
De toda forma, quando Thompson (1995) afirma que a cultura adquire-se e organiza-se socialmente, su-
que Geertz volta-se mais para o significado do que por que se distribui de forma homogênea dentro de uma
para os significados atribuídos aos fenômenos cul- coletividade converte-se em algo problemático quando
turais pelos sujeitos sociais, parece corroborar uma vemos as diferentes experiências e biografias de seus
crítica lançada pelos representantes da chamada an- membros”.
tropologia pós-moderna aos clássicos da teoria antro- Finalizando esta seção, deve-se ponderar o seguinte:
pológica, inclusive ao próprio Geertz. Eles descons- se são justas ou injustas as críticas formuladas por John
troem as interpretações totalizantes. Vejamos, por exem- Thompson a Clifford Geertz, é muito difícil avaliar aqui.

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De toda forma, pode-se reter desse debate a importân- ções raciais em uma sociedade pode ser equivalente ao
cia de uma perspectiva crítica e política na concepção papel que jogam as relações inter-étnicas ou as relações
da cultura como produção simbólica. A cultura deve ser de gênero em outro contexto.
vista como uma rede de significados, tecida dentro de Como se isso não bastasse, tais atores estão posicio-
um complexo jogo de interações que envolve os confli- nados de forma diferente e desigual na estrutura social
tos e as relações de poder. Os atores sociais escrevem e e inserem-se, nesses mesmos termos, na estrutura orga-
reescrevem cotidianamente o texto cultural que, nizacional, o que sinaliza para uma outra localização
dialeticamente, funciona como um contexto dentro do social: o pertencimento de classe. Toda essa complexi-
qual interpretam, organizam e dão sentido a suas vidas. dade possui influência marcante na diversidade de in-
No entanto, tais interpretações não são sempre idênti- terpretações a que se presta a cultura organizacional,
cas e muitas vezes as clivagens interpretativas configu- entendida como um texto.
ram uma arena de disputas para estabelecer a retórica Utilizar a metáfora do texto é chamar a atenção para
discursiva “verdadeira”. o fato de que, se a cultura organizacional, que seria o
Tendo-se feito essa breve reconstrução do debate texto, oferece múltiplas possibilidades de interpreta-
em torno da antropologia hermenêutica, busca-se, na ção a seus leitores – acionistas, gestores, trabalhado-
próxima seção, operar a transposição dessas idéias res, clientes, fornecedores, governantes, sindicalistas
para pensar a dinâmica cultural nas organizações. e outros representantes da sociedade civil organizada –,
seria uma certa miopia acreditar que se vai conseguir
levar todos os que compõem a organização a adotar
CULTURA E GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES: uma visão comum ou consensual do que seja essa cul-
UMA ABORDAGEM HERMENÊUTICA tura – malgrado todos os esforços dos dirigentes, que
podemos caracterizar como operações ideológicas, no
Assumir uma abordagem hermenêutica é entender que sentido marxista, ou seja, como tentativas de naturali-
a cultura organizacional, tal como um texto, não é ape- zar a construção social da realidade, escamoteando as
nas passível de leitura, como também presta-se a uma relações de poder. Seria exigir que todos lessem o tex-
multiplicidade de interpretações. Além disso, nas inter- to da mesma forma, ou seja, que negassem suas traje-
pretações que fazem sobre ela, os indivíduos estão cons- tórias particulares, seus panos de fundo culturais, para
tantemente relacionando esse texto a outros, cultural, efetuar uma interpretação orientada para a mesma di-
social ou historicamente associados. Dito de outra for- reção. As críticas à antropologia interpretativa apresen-
ma, a organização produtiva é um espaço de socializa- tadas na seção anterior deste artigo desautorizam essa
ção inserido em uma rede de socialização mais ampla. crença ingênua.
Decorre daí que a organização não pode ser vista como Por um lado, devemos ter claro que a alta gerência
uma microssociedade ou um sistema fechado, como o possui um importante papel de poder – é bom que se
fazem muitos teóricos e/ou consultores de cultura orga- frise – no jogo de interações que conforma a cultura
nizacional. organizacional. Mas, por outro lado, os discursos e as
Não podemos esquecer que os sujeitos sociais que ações simbólicas desses gestores não possuem um sen-
compõem a organização, gestores e trabalhadores, an- tido monocórdico quando nos colocamos no âmbito
tes de serem membros de uma organização produtiva, de sua recepção. Em outras palavras, as representações
ou melhor, concomitantemente a esse status, são por- que os dirigentes constroem sobre a organização são
tadores de filiações políticas, crenças religiosas, pos- reelaboradas, ressignificadas, ressimbolizadas pelos di-
suem seus grupos de referência, suas parentelas, suas versos atores sociais. Sendo assim, não existem “ver-
origens étnicas e regionais, suas preferências sexuais, dadeiras” culturas organizacionais, tampouco cultu-
suas formações profissionais, suas histórias de vida, ras fortes ou fracas, mas distintas versões sobre a cul-
enfim, múltiplas localizações identitárias. Como bem tura organizacional, isso porque, como bem afirma
lembra Sainsaulieu (1987), os atores sociais não dei- Vallé (1985, p. 242), “não há percepções ‘oficiais’ do
xam de lado suas identidades e culturas ao passarem mundo”.
pela portaria da organização. Cabe ao analista desven- Não se trata de negar toda e qualquer possibilidade
dar quais dessas localizações sociais funcionam como dos indivíduos nas organizações chegarem a construir
códigos estruturantes da dinâmica cultural na organi- uma comunidade interpretativa, isto é, uma comunida-
zação em análise. A importância que tomam as rela- de fundada em esquemas interpretativos comuns, em

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ORGANIZAÇÕES • UM TEXTO, MÚLTIPLAS INTERPRETAÇÕES: ANTROPOLOGIA HERMENÊUTICA E CULTURA ORGANIZACIONAL

significados compartilhados. De fato, essa possibilidade ca. O caso da firma, aqui apresentado, demonstra que
existe. Mas o espírito crítico deve levar o analista a sus- as clivagens interpretativas sobre a realidade organiza-
peitar de toda análise sobre a cultura organizacional que cional, construídas em diferentes situações do cotidia-
contorne, de forma desavisada, a questão do conflito e no administrativo, podem resultar em conflitos cultu-
das relações de poder, pois muito possivelmente essas rais com conseqüências concretas para a gestão. Portan-
questões levam a clivagens, a diferenças de interpreta- to, ao invés de negar esse tema, é preciso fazer avançar
ção sobre a cultura organizacional. Somente o comple- o debate. Nesse sentido, encerra-se este artigo com al-
xo jogo de interações, no qual estão inseridos os atores gumas observações de caráter teórico:
sociais, pode nos mostrar como a realidade organiza- a) O ser humano é um animal simbólico. Ele organiza suas
cional é permanentemente negociada. experiências e ações por meios simbólicos, isto é, por
Finalizando esta seção, gostaria de destacar que, intermédio de valores e significados que não podem ser
de uma perspectiva hermenêutica, a cultura organi- determinados por propriedades biológicas ou físicas. De
zacional deve ser vista, simultaneamente, como um fato, como bem sinaliza Marshall Sahlins, nenhum ou-
texto polissêmico – que os indivíduos escrevem e re- tro animal estabelece a diferença entre água potável e
escrevem por intermédio de suas interações cotidia- água benta, pois não há diferença, quimicamente falan-
nas dentro e fora do espaço organizacional – e um do. Assim, a ordenação do mundo em termos simbóli-
contexto dentro do qual interpretam e dão sentido às cos é uma capacidade singular da espécie humana
suas experiências no universo do trabalho. Ela não (Sahlins, 1997).
pode ser entendida senão como um palco de dispu- b) Os recentes avanços do debate antropológico sobre cul-
tas, um complexo jogo político entre atores sociais tura sugerem que não é mais possível pensá-la como um
portadores de diferentes capitais econômicos, cultu- universo autônomo e internamente coerente, exceto, tal-
rais e simbólicos, recursos que são distribuídos de vez, como uma distorção reveladora (Rosaldo, 1989). A
forma desigual na estrutura da sociedade, configuran- cultura deve ser vista como um recurso dentro de uma
do, assim, distinções, desigualdades sociais. Desigual- luta política ligada ao jogo das interações e às circuns-
dades estas que, dialeticamente, refletem-se e atuali- tâncias. Como bem destaca Clifford (1998), assim como
zam-se nas organizações. uma língua é a interação e a luta de dialetos regionais, de
jargões profissionais, da fala de diferentes grupos etários,
etc., uma cultura é, concretamente, um diálogo em aber-
CONSIDERAÇÕES FINAIS to, criativo, de subculturas, de membros e não-mem-
bros, de diversas facções.
A polêmica questão da cultura organizacional consti- c) É possível traduzir o debate da teoria antropológica con-
tui grande debate no âmbito dos estudos organizacio- temporânea em torno do conceito de cultura para o cam-
nais desde o final dos anos 1970. Diversos autores que po dos estudos organizacionais. Essa tradução deixa cla-
abordam o tema, sobretudo aqueles que se filiam à li- ro que a busca incessante da corrente funcionalista por
nhagem funcionalista desse campo do saber, parecem uma cultura organizacional forte (sic!), isto é, um siste-
desconhecer os desenvolvimentos mais recentes da dis- ma simbólico harmônico que leve à maximização da per-
ciplina antropológica no tratamento do conceito de cul- formance organizacional, é, em verdade, uma distorção
tura. Talvez por essa razão, eles sustentam o pressupos- que revela uma operação ideológica: a pretensão de mas-
to ingênuo – ou ideológico? – de que a cultura pode ser carar a construção da realidade organizacional.
gerenciada, o que causou certo desconforto a alguns re- d) É preciso analisar a dinâmica cultural nas organizações a
presentantes do paradigma crítico. Em virtude do incô- partir de uma nova abordagem conceitual, que esclare-
modo que sentiram com o aprisionamento do cultural ça, mais do que encubra, importantes dimensões desse
sob a égide da racionalidade instrumental, alguns des- fenômeno.
tes últimos parecem negar a existência da cultura orga-
nizacional. Espera-se que a contribuição prestada neste texto
O pano de fundo deste artigo é a crítica à visão ge- possa fazer avançar as discussões sobre cultura organi-
rencialista da cultura. Todavia, acredita-se que a pos- zacional, superando os limites deixados pela vertente
tura de oposição em relação a todo e qualquer redu- funcionalista. Foi com esse propósito que se buscou
cionismo não deve nos impedir de ver a realidade or- traduzir as idéias originárias da antropologia interpre-
ganizacional como uma construção cultural e simbóli- tativa para pensar esse tema. Todavia, tal esforço está

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PEDRO JAIME JÚNIOR

apenas no início. A obra de Clifford Geertz é muito GEERTZ, Clifford. Centers, kings and charisma: reflections on the
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vasta, bem como a de seus interlocutores. Aqui somente
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esboçou-se um diálogo entre eles, tanto por falta de
espaço, quanto por sua riqueza e dinâmica. De toda
GEERTZ, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro : Jorge
forma, acredita-se firmemente ser a perspectiva Zahar, 2001.
hermenêutica uma via de enriquecimento para a teoria
das organizações. HANNERZ, Ulf. Fluxos, fronteiras, híbridos: palavras-chave da antro-
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