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Luize Bueno de Araujo

Vera Lúcia Israel


(Editores)

Desenvolvimento
da Criança:
Famı́lia, Escola e Saúde

2017
Copyright 2017
c Omnipax Editora Ltda
Curitiba, PR

A editora disponibiliza por acesso livre a versão


eletrônica deste livro no site: http://www.omnipax.
com.br, sob uma licença Creative Commons 3.0
Atribuição-Não Comercial-Sem Derivados (CC BY-NC-
ND 3.0 BR).
Digital Object Identifier (DOI): 10.7436/2017.dcfes.0
PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO

Ilustrações dos capı́tulos:


Henrique Martins Schmidt

Capa:
Sérgio Alexandre Prokofiev

Projeto gráfico e editoração:


Omnipax Editora Ltda

Ficha catalográfica:
Juliana Farias Motta (CRB7/5880)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

D451 Desenvolvimento da criança : famı́lia, escola e saúde / Editores Luize


Bueno de Araujo; Vera Lúcia Israel. — Curitiba, PR: Omnipax,
2017

170 p.
Inclui referências
eISBN: 978-85-64619-19-7
ISBN: 978-85-64619-22-7

1. Crianças – Desenvolvimento. 2. Capacidade motora em


crianças. 3. Saúde I. Araujo, Luize Bueno (ed.). II. Israel, Vera
Lúcia (ed.). III. Tı́tulo

CDD (22. ed.) 152.38


Organizadores

Luize Bueno de Araujo:

Doutoranda em Atividade Fı́sica e Saúde pela Universidade Federal


do Paraná (UFPR). Mestre em Comportamento Motor pelo Programa
de Pós-Graduação em Educação Fı́sica da UFPR (2013). Graduação
em Fisioterapia pela UFPR (2010) e aperfeiçoamento em Reabilitação
Fı́sica na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD)
(2014). Tem experiência na docência, foi professora substituta do
curso de Fisioterapia da UFPR (2011–2013). Atuou como orientadora
e tutora à distância no Curso de Especialização em Gênero e
Diversidade na Escola (UFPR) (2014–2016). Tem experiência na
área de Fisioterapia, com ênfase em Neuropediatria, Fisioterapia
Neurofuncional e Fisioterapia Aquática. Atualmente atua como
docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Jangada – Instituto
Educacional Santa Catarina e fisioterapeuta neurofuncional adulto
e pediátrico da Fisioform – Clı́nica de Fisioterapia e Reabilitação
Ltda. Link para o currı́culo Lattes: http://lattes.cnpq.br/
3039300334535258

Vera Lúcia Israel:

Graduação em Fisioterapia pela Pontifı́cia Universidade Católica do


Paraná (PUCPR) e em Educação Fı́sica pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR). Mestrado e doutorado no Programa de Pós-
Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar, SP). Pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação
em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) na Universidade
Federal de Sergipe (UFS). Docente do Curso de Fisioterapia e do
Programa de Pós-Graduação em Educação Fı́sica da UFPR. Link para
o currı́culo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1564269877369119
.
Colaboradores

Adriano Zanardi da Silva:


Graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Mestrado em andamento pelo Programa de Pós-Graduação
em Educação Fı́sica da UFPR, linha de Pesquisa Atividade Fı́sica e
Saúde.

Bruna Yamaguchi:
Graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação
Fı́sica da UFPR. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em
Educação Fı́sica da UFPR. Fisioterapeuta do municı́pio de Tijucas do
Sul, PR.

Henrique Martins Schmidt:


Acadêmico de Especialização em Fisioterapia Traumato-Ortopédica
Funcional pela Universidade Positivo (UP). Graduado em Fisioterapia
pela Universidade Campos Andrade (UNIANDRADE). Autor das
ilustrações utilizadas em capı́tulos desse livro. As ilustrações podem
ser utilizadas desde que citado o ilustrador e a referida fonte.

Jheniffer Freitas:
Acadêmica de Especialização em Fisioterapia em Neurofuncional
(IBRATE). Graduada em Fisioterapia pela Universidade Campos
Andrade (UNIANDRADE). Formação no Conceito Bobath, e
Pediasuitr . Fisioterapeuta do Centro de Pesquisa Vitória (Curitiba,
PR).

Karina Fink:
Pós-graduada em Fisioterapia em Neurologia com ênfase em
Neuropediatria pelo Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino
(IBRATE). Formação no Conceito Neuroevolutivo de Bobath.
Aperfeiçoamento em Fisioterapia Pediátrica pelo Hospital Pequeno
Prı́ncipe. Fisioterapeuta contratada pela Unidade de saúde Mãe
Curitibana, equipe bebê de risco. Fisioterapeuta da equipe de Home-
Care da Unifisio. Graduada em Fisioterapia pela Unidade de Ensino
Superior Vale do Iguaçu (UNIGUAÇU), União da Vitória, PR.

.
Manoela de Paula Ferreira:
Doutoranda em Atividade Fı́sica em Saúde pelo Programa de
Pós-graduação em Educação Fı́sica da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Mestre em Atividade Fı́sica e Saúde pela UFPR,
Fisioterapeuta pela UFPR. Bacharel em Dança pela Universidade
Estadual do Paraná (UNESPAR). É Fisioterapeuta e Preceptora de
Fisioterapia da Fundação Estatal de Atenção Especializada em Saúde
de Curitiba (FEAES). Tem formação em Pilates solo e acessórios,
Microfisioterapia e Bioalinhamento.

Maria de Fátima Minetto:


Psicóloga, Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de
Santa Catarina. Professora Adjunta do Departamento de Teoria e
Fundamentos da Educação da UFPR e do Programa de Pós-Graduação
em Educação da UFPR, na linha de pesquisa Cognição, Aprendizagem
e Desenvolvimento Humano.

Mariana Rodrigues Gaspar Corrêa:


Fisioterapeuta formada pela Universidade Federal do Paraná, Pós-
Graduada em Terapia Manual e Postural aplicada à Ortopedia e
Traumatologia – Ibrate.

Nelly Narcizo de Souza:


Pedagoga, Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná.
Professora Assistente e Coordenadora dos cursos de Pós Graduação lato
sensu em Neuropsicologia Educacional e em Desenvolvimento Infantil
na Universidade Positivo.

Tainá Ribas Mélo:


Doutoranda em Atividade Fı́sica e Saúde pelo Departamento de
Educação Fı́sica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mestre
em Comportamento Motor (UFPR), Especialista em Intervenção em
Neuropediatria pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar,
SP). Graduada em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Oeste
do Paraná (Unioeste). Formação no Conceito Bobath, Método
Isostretching e Pediasuitr . Fisioterapeuta da Secretaria Municipal de
Saúde da Prefeitura de Paranaguá. Docente do Curso de Fisioterapia
da Uniandrade. Docente e tutora do Curso de Especialização em
Gênero e Diversidade na Escola/UFPR. Preceptora do Projeto PET
Redes de Atenção às PcD/UFPR. Docente do curso de especialização
em neurologia com ênfase em neuropediatria do IBRATE.
Prefácio

.
Aprender a aprender sempre e a cada momento, desde o momento
em que fomos gerados. Na infância construı́mos nossos alicerces baseados
num percurso árduo de experiências e emoções com movimentos e
sensações, a cada dia novos desafios para alcançar a felicidade e a
plenitude de crescimento e desenvolvimento na busca de nossa saúde fı́sica,
emocional, espiritual, afetiva, psicológica, mental, intelectual, cognitiva
e na diversidade de ambientes e processos. Este é o desenvolvimento
humano no decorrer da vida.

Interações mãe/pai/bebê, famı́lia/comunidade, meio ambiente/


natureza/pessoas, famı́lia/escola, famı́lia/criança/escola, meio social e os
profissionais de diferentes áreas de conhecimento em especial da saúde e
da educação. Nossa construção de vida perpassa sim todos estes meios e
vivências. Teorias e práticas nos envolvem e levam a evolução de novas
etapas de desenvolvimento.

Assim, esse livro articulou com essas diversas interações e experiências


em busca da evolução. Na sequência apresentamos uma sı́ntese de cada
capı́tulo da obra que o leitor encontrará.

No Capı́tulo 1 “Como é o processo desenvolvimento da criança


nos primeiros 2 anos de idade?” as autoras percorrem os conceitos
básicos sobre a criança e seu desenvolvimento neuromotor discutindo o
paradigma contextual na faixa etária de 0 a 2 anos de idade. Como o
cérebro consegue por meio da neuroplasticidade junto às experiências
do movimento corporal da criança pequena favorecer o crescimento e a
evolução de suas habilidades motoras. Revisando os fatores positivos e
negativos que interferem no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) e
fornecendo dicas de estimulação por meio de brincadeiras nos primeiros
anos de vida da criança.

Já no Capı́tulo 2 “Interações neuromotoras da criança:


indivı́duo, ambiente e tarefa” são discutidos aspectos da atuação da
Fisioterapia favorecendo a promoção e prevenção da saúde da criança. É
relatado um projeto que avaliou fatores neuropsicomotores de mais de 400
crianças de 0 a 5 anos, na rede pública de ensino no litoral. E são discutidos
o DNPM na infância e suas mudanças que são contı́nuas, progressivas e
complexas nas capacidades funcionais do movimento corporal, da cognição
e da afetividade. Além de propor a aproximação entre famı́lia, escola e
profissionais da educação e da saúde, com intervenções formativas e de
contextos psicomotores para cada parte envolvida no desenvolvimento
infantil.

No Capı́tulo 3, “Para fazer um laço é necessário unir as


pontas...”, o desenvolvimento motor infantil é apresentado como fruto da
interação e envolvimento entre famı́lia e escola. A adequação de ambientes
e das tarefas para a estimulação adequada é descrito como parte de
um projeto acadêmico desenvolvido nas escolas de educação infantil do
litoral paranaense. É apresentado o modelo de Newell como meio de
entender o desenvolvido da criança pequena e suas relações nesta fase da
infância. Além das autoras descreverem aspectos de modelos biomédico
e biopsicossocial correlacionando-os nos sistema único de saúde, são
apresentadas estratégias da Organização Mundial de Saúde para o cuidado
e acompanhamento da criança e descritos exemplos usados no projeto
desenvolvido na educação infantil para unir as pontas Famı́lia–Escola =
Laço.

Para englobar as informações do desenvolvimento infantil no Capı́tulo


4 é apresentado o projeto “Geoprocessamento como instrumento no
processo fisioterapêutico no cuidado da criança”. Assim, pode-se
traçar o perfil do usuário (criança e famı́lia) da escola de educação
infantil e traçar metas e ações na gestão municipal, estadual e federal
de aprimoramento da mesma. Levantamentos são feitos em relação ao
número de habitantes, renda, escolaridade, doenças, preferências, etc.,
por meio de dados mapeados em sistemas digitais. São apresentados
conceitos básicos de georreferenciamento como de análise e avaliação
de riscos à saúde coletiva e geoprocessamento como técnica de coleta,
tratamento e exibição de informações referenciadas em um determinado
espaço geográfico. Finalmente se discute por meio de dados do projeto
realizado como a Fisioterapia pode se utilizar desta ferramenta para
produzir informações em saúde da criança.

O objetivo do Capı́tulo 5 é revisar e atualizar os principais recursos,


técnicas e métodos da Fisioterapia neurofuncional aplicada à infância
buscando evidências conhecidas e atualizadas sobre seus efeitos em
crianças. O tı́tulo “Fisioterapia neurofuncional: atualização de
intervenções na infância” traz a experiência localizada na literatura
da área e a contribuição de diferentes profissionais fisioterapeutas que
produzem categorias de atenção em Fisioterapia esquematizando os
achados quanto a cinesioterapia, métodos integrativos e recursos auxiliares
adicionais. Isto permitirá ao leitor revisar ou conhecer conceitos, objetivos
terapêuticos e funcionais e resultados da Fisioterapia neurofuncional na
infância, bem como novas estratégias e ou tentativas de promover, prevenir
e reabilitar saúde integral da criança nos diferentes nı́veis.

No Capı́tulo 6 “Mı́dias: amigas ou vilãs? qual a influência


sobre o desenvolvimento das crianças?” as autoras descrevem
aspectos históricos de modelos de cuidar e/ou educar na infância,
apresentando os ambientes da famı́lia e escola com a presença de mı́dias
que interferem no DNPM da criança pequena. É resultado de um estudo
que buscou entender a influência da tecnologia da informação e mı́dias no
desenvolvimento infantil. São apresentados os dados obtidos da literatura
da área e correlaciona-se os cenários da infância com as recomendações de
profissionais e associações sobre como a famı́lia deve usar ou permitir o
uso das mı́dias pela criança pequena e os resultados e efeitos das mesmas
no desenvolvimento da criança. Além de descrever os benéficos do brincar
com a criança inclusive usando a tecnologia, tanto junto à famı́lia como
na escola.

“Endireite essas costas menin@! Verdades e mitos sobre


o desenvolvimento postural na infância” é tratado no Capı́tulo 7.
Orientações e dicas para diminuir dúvidas e angústias dos profissionais
e familiares a respeito da postura da sua criança e do impacto que essas
alterações podem ter no DNPM. É descrito um estudo de revisão sobre
desenvolvimento postural do recém-nascido até a adolescência, revisando
conceitos básicos sobre formação da coluna vertebral e outras estruturas
corporais e como junto com o crescimento da criança como ocorre os
aspectos destas mudanças ao longo da infância. Destacando uso de
mochilas, tablets, celulares, entre outras tecnologias que podem afetar a
postura e consequentemente os movimentos da criança e do adolescente.
Prevenir fatores negativos no desenvolvimento postural depende da
orientação e observação familiar quanto a sinais de alerta e quando em
dúvida procurar profissionais da saúde, em especial educação em saúde
feita por fisioterapeutas.

O Capı́tulo 8 discute o “O paradigma inclusivo e a


educação infantil: qualidade no atendimento e promoção
do desenvolvimento”, abordando a Lei no 13.146/2015 sobre a inclusão
da pessoa com deficiência e sua relação de atuação junto à escola e a
famı́lia. Descrevem-se interações históricas da Educação Infantil e suas
Diretrizes Curriculares Nacionais e as polı́ticas de inclusão e os desafios
nacionais para que de fato haja sucesso neste processo de inclusão, desde
a formação do professor até o envolvimento da escola e da comunidade
com dicas práticas.

No Capı́tulo 9 “Vivendo em sociedade: a inclusão e a


valorização do diferente”, são apresentados e revisitados conceitos
de inclusão educacional e os relatos e experiências da atuação da
Fisioterapia e processos de inclusão de crianças especiais. Correlaciona os
diferentes tipos de deficiências e dicas de estimulação, bem como apresenta
conceito biopsicossocial do modelo da Organização Mundial de Saúde
(OMS) denominado Classificação Internacional da Funcionalidade (CIF)
desenvolvendo uma sistematização das restrições do modelo contextual
(ecológico ou sistêmico) com a trı́ade pessoa com deficiência (PcD),
acessibilidade e tarefas educacionais para a busca da educação em saúde
no desenvolvimento desta pessoa com deficiência. Há o cuidado de
demonstrar exemplos práticos e dicas de atitudes, serviços e tecnologias
assistivas para facilitar o cotidiano desta PcD. Finalmente, as autoras
apresentam dados e exemplos práticos de um projeto do laboratório do
núcleo de atenção à pessoa com deficiência (LABNAPNE) desenvolvido
Na Universidade Federal do Paraná no litoral entre 2007 e 2012.

Que profissionais, familiares, educadores, gestores e estudantes possam


aproveitar os relatos feitos nesta construção teórica que está fechando
um ciclo histórico de vivências e aprendizados no litoral paranaense, com
algumas contribuições de pesquisadores de outras cidades.

Sejam Felizes!!

Luize Bueno de Araujo


Vera Lúcia Israel
Capítulos

1 Como é o processo de desenvolvimento da criança


nos primeiros 2 anos de idade? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
Luize Bueno de Araujo e Vera Lúcia Israel

2 Interações neuromotoras da criança: indivı́duo, ambiente


e tarefa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Bruna Yamaguchi e Vera Lúcia Israel

3 Para fazer um laço é necessário unir as pontas... envolvimento


entre famı́lia e escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Mariana Rodrigues Gaspar Corrêa, Luize Bueno de Araujo e
Vera Lúcia Israel

4 Geoprocessamento como instrumento ou indicador no


processo fisioterapêutico no cuidado da criança . . . . . . . . . . . . . . . 41
Adriano Zanardi da Silva, Luize Bueno de Araujo e
Vera Lúcia Israel

5 Fisioterapia neurofuncional: atualização de intervenções


na infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Tainá Ribas Mélo, Manoela de Paula Ferreira,
Bruna Yamaguchi, Vera Lúcia Israel e Luize Bueno de Araujo

6 Mı́dias: amigas ou vilãs? Qual a influência sobre o


desenvolvimento das crianças? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Tainá Ribas Mélo e Karina Fink

7 “Endireite essas costas menin@!” verdades e mitos sobre


o desenvolvimento postural na infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
Tainá Ribas Mélo, Jheniffer Freitas e Henrique Martins Schmidt

8 O paradigma inclusivo e a educação infantil: qualidade


no atendimento e promoção do desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . 129
Nelly Narciso de Souza e Maria de Fátima Minetto

9 Vivendo em sociedade: a inclusão e a valorização


do diferente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
Manoela de Paula Ferreira, Tainá Ribas Mélo e Vera Lúcia Israel
.
Capítulo 1

Como é o Processo de Desenvolvimento da Criança


nos Primeiros 2 Anos de Idade?

Luize Bueno de Araujo∗ e Vera Lúcia Israel

1. Introdução
Você já ouviu falar que os dois primeiros anos de uma criança são essenciais
para seu desenvolvimento? Mas e aı́? O que esperamos de uma criança
nesta faixa etária? O que é possı́vel fazer para otimizar esta fase crı́tica do
desenvolvimento?
Estas são dúvidas de muitas famı́lias e profissionais que trabalham com
a criança pequena. Muitas pessoas ainda acreditam que o recém-nascido
responde exclusivamente de forma reflexa e automática, porém é necessário
ter uma visão contextual sobre o desenvolvimento neuropsicomotor
(DNPM), entender que nesta fase a criança possui potenciais e que suas
capacidades e habilidades estão em amadurecimento. Para que esta
evolução aconteça de forma saudável e que o DNPM seja pleno, deve-se
lembrar de que esta criança recebe influências dos ambientes em que vive
e dos estı́mulos ofertados e vivenciados por ela.
Dessa forma, o objetivo deste capı́tulo é abordar o DNPM da criança
desde o seu nascimento até os dois anos de idade, destacando o que é
esperado no desenvolvimento tı́pico, bem como as formas de estimulação.

2. O Que é Desenvolvimento Neuropsicomotor?


Estudiosos utilizam diferentes denominações e conceitos teóricos sobre
o DNPM, como desenvolvimento motor normal, desenvolvimento
motor tı́pico, desenvolvimento neurossensoriomotor, desenvolvimento
neuropsicomotor, entre outras nomenclaturas (Castilho-Weinert & Forti-
Bellani, 2011). Neste capı́tulo será utilizado o termo desenvolvimento
neuropsicomotor tı́pico.
O DNPM é definido como um processo sequencial, contı́nuo e
relacionado à idade cronológica, porém não depende única e exclusivamente
dela. Com o passar dos meses e dos anos, por meio da estimulação
∗ Autor para contato: luizebueno@hotmail.com

Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.01 ISBN 978-85-64619-19-7
2 Araujo & Israel

da famı́lia e do ambiente, a criança adquire uma enorme quantidade de


habilidades motoras, que progridem de movimentos simples, denominados
de reflexos, até a execução de habilidades motoras altamente complexas,
que compreendem os movimentos voluntários que usa no dia-a-dia
(Haywood & Getchell, 2010).
Como exemplo, até os primeiros dois meses de idade, quando o bebê
é colocado em pé com apoio do tronco e se realiza uma flexão anterior
do tronco, ele vai responder reflexamente com alguns passos, é o chamado
reflexo da marcha automática, já por volta dos 12 aos 15 meses a criança
tı́pica tem um repertório motor mais complexo e condições neuro-músculo-
esqueléticas para adquirir a marcha independente.
É necessário destacar que o DNPM tem interação direta com a
neuroplasticidade do cérebro e com isto tem relações com os aspectos
motores, cognitivos, afetivos, sensoriais e socioambientais. A área motora
do cérebro da criança analisa a produção e regulação do movimento, a
área cognitiva estuda as implicações da estruturação do pensamento para
o movimento e a área afetiva procura compreender como as emoções
interferem nos movimentos (Israel & Bertoldi, 2000). A informação
sensorial é uma resposta enviada ao sistema nervoso do ser humano e serve
como feedback para moldar o movimento e planejar sua execução.
Porém se destaca que, apesar das áreas trabalharem em conjunto para
a execução dos movimentos, não quer dizer que uma criança que tem uma
deficiência fı́sico/motora tenha, por exemplo, uma deficiência auditiva,
ou que uma criança com dificuldade na linguagem tenha uma deficiência
intelectual. Portanto, a criança nunca deve ser subestimada por estar em
uma cadeira de rodas ou por ter alguma dificuldade de expressão, sempre
procure estimular seus potenciais neuromotores e cognitivo-afetivos.
Por exemplo, uma criança que nasceu com cegueira pode demorar mais
tempo para adquirir a marcha independente do que uma criança com visão
ı́ntegra, mesmo que seu sistema neuro-músculo-esquelético esteja intacto.
Isso acontece porque ela terá uma privação sensorial relacionada com o
sistema visual, assim, os outros sistemas do seu corpo irão sofrer ajustes
e adaptações para suprir esta necessidade da visão, portanto, esta criança
precisa de uma maior variedade de estı́mulos.
Atualmente o olhar para a saúde é mais complexo, explicado pelo
modelo contextual, também conhecido como ecológico ou sistêmico, ao
considerar o ser humano de modo biopsicossocial. Este é o modelo da
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)
(Organização Mundial da Saúde, 2015) que busca uma abordagem da saúde
integral, considerando desde a questão da condição de saúde, enquanto
aspectos funcionais e até mesmo espirituais.
Na Figura 1, observa-se que para integrar estes conceitos entre o
desenvolvimento infantil e a CIF se tem hoje a CIF – Crianças e Jovens
(CIF-CJ), a qual destaca que o DNPM depende de relações da criança com
O processo de desenvolvimento da criança 3

Figura 1. Modelo da Classificação Internacional de Funcionalidade,


Incapacidade e Saúde (CIF). Fonte: (Organização Mundial da Saúde,
2015, p. 20).

o meio ambiente e a influência dos estı́mulos oferecidos, ou seja, influências


contextuais e/ou ambientais (Silva et al., 2016).
A teoria dos sistemas dinâmicos (Newell et al., 2003), mais
aceita atualmente como parte do paradigma contextual, aponta que o
comportamento motor não é influenciado apenas pelo sistema nervoso
do ser humano, mas também por outros fatores, como os psicológicos
e os ambientais; assim, baseia-se na trı́ade indivı́duo, ambiente e
tarefa (Haywood & Getchell, 2010). Com esta perspectiva fica claro o
entendimento de quais são os fatores que influenciam o DNPM da criança.

3. Quais Fatores Influenciam no Desenvolvimento


Neuropsicomotor?
Até aqui foi possı́vel compreender o que é o DNPM em sua complexidade,
bem como a influência de diversos fatores durante os primeiros anos da
criança. Quando observamos o DNPM de uma criança, é necessário
identificar quais fatores prejudicam e quais fatores potencializam o seu
desenvolvimento.
Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento
neuropsicomotor (DNPM), pois é neste perı́odo que as crianças estão
propensas a sofrer influências de fatores protetores ou de risco para um
desenvolvimento pleno, que podem levar a repercussões futuras até a vida
adulta (Gannotti et al., 2014; Grantham-McGregor et al., 2007).
4 Araujo & Israel

De acordo com o Comitê Cientı́fico do Núcleo Ciência Pela Infância


(Núcleo Ciência pela Infância, 2014), um pleno potencial no futuro,
quando adultos, está relacionado com uma infância com cuidados de saúde
adequados, um ambiente familiar afetivo, seguro e estimulante, bem como
uma educação de qualidade.
Os fatores que prejudicam ou potencializam o desenvolvimento podem
ser decorrentes de fatores inerentes à criança, como aspectos biológicos e de
hereditariedade; ao ambiente, como o nı́vel socioeconômico e a escolaridade;
ou ainda, relacionados com a estimulação oferecida e experienciada (tarefa),
como brincadeiras, movimentos e vivências infantis (Resegue et al., 2008).
Diante disso, verifica-se que o estudo do desenvolvimento infantil
perpassa várias áreas de conhecimento com diferentes olhares e abordagens
teóricas e integra a compreensão das múltiplas dimensões nas quais a
criança está inserida. Neste processo devem ser considerados inúmeros
fatores associados que podem levar ao atraso no DNPM (Pilz & Schermann,
2007). Halpern & Figueiras (2004) afirmam que os resultados negativos no
desenvolvimento são oriundos da combinação de fatores de risco genéticos,
biológicos, psicológicos e ambientais e, geralmente, envolvem interações
complexas entre eles.
Além disso, um ambiente rico em estimulação favorece a aquisição
de uma maior variabilidade de movimentos para a criança pequena,
principalmente ambientes criativos, que estimulem ou demandem uma
variabilidade de estratégias para o controle postural ou para a aquisição
de novas habilidades neuromotoras (Silva et al., 2006). Mesmo que
uma criança tenha alguma restrição ou deficiência, é necessário que uma
grande variedade de estı́mulos e vivências seja ofertada para que ela adote
estratégias motoras e assim desenvolva seu repertório motor.
Para exemplificar uma prática que prejudica o DNPM, pode-se citar o
uso do andador (Figura 2), também conhecido como voador. Atualmente
sua venda é proibida, porém ainda se encontra em estabelecimentos
comerciais e também como tradição entre famı́lias, ao passar entre primos,
parentes e vizinhos. Normalmente o andador é utilizado pela famı́lia
como um momento de entretenimento para a criança, sem pensar nas
consequências do seu uso. Este dispositivo pula etapas do DNPM,
possibilitando que a criança vivencie a postura ortostática e a marcha
antes de explorar posturas mais baixas (arrastar e engatinhar) e antes
mesmo dos seus sistemas estarem preparados para tal. Além disso, quando
a criança está fazendo o uso destes equipamentos, pode alterar o equilı́brio
corporal e aumentar o número de quedas e o risco de acidentes, como o
traumatismo crânio encefálico, queimaduras e afogamentos. Esta vivência
da postura e marcha de forma precoce e errada pode trazer consequências
até a vida adulta, como alterações de equilı́brio e encurtamento musculares,
por exemplo.
O processo de desenvolvimento da criança 5

Figura 2. Criança fazendo uso do andador: errado.

Diante disso, independente do ambiente em que a criança está inserida,


seja seu lar, creche, Centro de Educação Infantil ou abrigo, é preciso manter
diariamente a atenção e o cuidado associado à estimulação. Os espaços da
casa ou da escola/creche devem estar adequados no sentido de proteção
e estimulação do processo de desenvolvimento motor, cognitivo, sensorial,
emocional e social da criança.
Para saber mais sobre a influência da escola no DNPM, bem como a
interação com a famı́lia, veja o Capı́tulo 3 deste livro.

4. O Que Devemos Observar no Desenvolvimento


Neuropsicomotor da Criança Pequena?
Como foi discutido até aqui, a criança está em processo de desenvolvimento,
o qual é aperfeiçoado ao longo do tempo, porém com destaque aos
anos iniciais. Para conseguir acompanhar e verificar este processo de
desenvolvimento, bem como facilitar esta observação, existem alguns
pontos a serem avaliados que estão sistematizados por faixas etárias nas
Tabela 1.
Observe sua criança, ela é ativa e irá demonstrar se está gostando
da atividade ou se está cansada. Respeite a individualidade e vontade
da criança, ela também precisa de um tempo para descansar. Lembre que
cada criança é única, terá seu tempo e existirá uma variabilidade entre uma
criança e outra. Olhe e explore sempre o seu potencial, o que a criança faz
de mais avançado, e na dúvida, procure um profissional especializado.
6 Araujo & Israel

Tabela 1. Principais Marcos Motores. Fonte: Adaptado de Israel et al.


(2014, p.23-25).
Idade Marco Motor Dicas
Cronológica
Decúbito ventral (barriga para baixo):
permanece em flexão fisiológica, Mostre objetos
levanta pouco e por pouco tempo a coloridos e sonoros
cabeça e a gira para o lado. para que a criança
Decúbito dorsal (barriga para cima): busque estes objetos.
Recém- rola parcialmente para o lado.
nascido Não apresenta controle de cervical. Utilize objetos com
ao 1o Posição ortostática (em pé): reflexo de diferentes texturas e
mês marcha presente e suporta seu peso apresente-os para a
nos MMII com apoio do tronco. criança.
Acompanha objetos em movimento até
a linha média, deixa as mãos fechadas, Converse com a
tem movimentos reflexos, com e sem criança.
finalidade especı́fica.
Gira a cabeça para todos os lados e
chuta em decúbito dorsal. Coloque a criança
Decúbito ventral: leva a cabeça por em decúbito ventral
curto tempo a 90o , mantém parte do com auxı́lio de um
peso sobre os antebraços com o tórax rolo no tórax.
levemente levantado.
2o ao 3o
Sentado: com apoio total e sem Em decúbito dorsal
mês
controle total da cervical. ofereça objetos para
Posição ortostática: mantém quadris a criança manipular.
fletidos, suporta pouco peso.
Consegue ver objetos mais distantes e Conte estórias.
os segue com a cabeça a 180o , usa a
preensão palmar.
Com a criança em
Passa do decúbito dorsal para o lateral,
decúbito dorsal
brinca com os pés.
ofereça objetos nas
Decúbito ventral: mantém o peso nos
laterais para que ela
MMSS estendidos, arrasta-se.
inicie o rolar.
4o ao 5o Sentado: flexiona o pescoço para ir
mês para a posição sentada e nesta posição
Em decúbito ventral
permanece por poucos minutos.
coloque objetos a sua
Posição ortostática: sustenta o seu
frente para que ela
peso nos MMII, se apoiado.
inicie o deslocamento
Segura e solta brinquedos.
com o arrastar.
O processo de desenvolvimento da criança 7

Coloque a criança
sentada e ofereça o
cesto de tesouros,
Passa de decúbito dorsal para ventral, uma cesta na
se apoia em uma das mãos e pega qual você vai
brinquedos com a outra. colocar diversos
6o ao 7o Decúbito dorsal: levanta a cabeça. objetos para que a
mês Sentado: senta sozinho. criança explore-os.
Fica em pé, se apoiado. Engatinha Selecione os objetos
para trás, pega objetos e passa de uma com segurança e
mão para outra. adequados para a
idade. Fale os nomes
dos objetos para a
criança.
Coloque a criança
Prefere o decúbito ventral e fica na em ambiente seguro
posição de engatinhar. Passa da e com espaço
posição sentada para decúbito ventral. para ela iniciar
o deslocamento
8o ao 9o Fica em pé e anda se segurando
em móveis, senta-se e engatinha para engatinhando.
mês
frente. Esconda objetos
Manipula objetos, aponta, empurra e dentro de recipientes
pega objetos em recipientes. para que a criança
pegue-os e manipule-
os.
Coloque a criança
Fica em pé por pouco tempo. em pé com apoio em
Posição ortostática: nesta posição, locais seguro.
pega objetos do chão. Anda com apoio
10o ao nas duas mãos ou em uma. Utilize uma toalha
11o mês Engatinha. Faz Urso (coloca mãos e no tórax para
pés no chão). Faz pinça (pega objetos dar suporte e a
e une o polegar ao indicador), coloca criança iniciar o
objetos em potes. deslocamento em pé
com segurança.
Monte um circuito
Posição ortostática: anda rápido sem com obstáculos
apoio para frente, lado e trás, sobe (colchonetes,
12o ao escadas sentado. espumas) para
15o mês Sentado: consegue arremessar objetos. a criança adotar
Faz torres de 2 cubos, vira objetos, estratégias motoras
risca papel. e aperfeiçoar o
equilı́brio.
8 Araujo & Israel

Aprimore seu
circuito com mais
obstáculos.
Sobe e desce escadas apoiado em uma
mão com os dois pés. Agacha-se. Pega
Coloque papel e
objetos do chão, atira para frente.
16o ao giz para a criança
Impulsiona-se em brinquedos de roda.
24o mês desenhar.
Dobra papel, faz torre de 6 cubos,
segura lápis entre o polegar e os dedos,
Estimule a criança
copia linha horizontal e vertical.
a falar e não apenas
apontar o que ela
quer.
Elabore atividades
Corre, anda na ponta dos pés, anda de pular e ficar em
para trás, sobe e desce escadas um pé só.
alternando os pés, pula com um pé só. Utilize brinquedos
2o ano
Anda em triciclo, gira fechaduras, de encaixe.
abotoa, usa tesouras, monta quebra- Conte histórias e
cabeça simples, dobra papel. estimule a criança a
falar.

5. O Que é Intervenção Precoce?


Anteriormente estudamos que o DNPM sofre influência de vários fatores
e que devemos enfraquecer os fatores de risco e potencializar os fatores de
proteção.
A intervenção precoce é um conjunto de atividades e movimentos
destinado a proporcionar à criança um desenvolvimento neuromotor e
psicocognitivo completo, de forma a utilizar todo o seu potencial. Quanto
antes for feita a intervenção da estimulação precoce, preferencialmente
nos dois primeiros anos de idade, maiores as chances de prevenir e/ou
minimizar atrasos no DNPM, uma vez que é nesse perı́odo que ocorre com
maior velocidade e intensidade a capacidade do sistema nervoso de ampliar
e multiplicar suas conexões neurais devido à neuroplasticidade (Blauw-
Hospers & Hadders-Algra, 2005; Hallal et al., 2008).
A cada dia são mais fortes as evidências cientı́ficas de que os primeiros
anos de vida são particularmente formidáveis para o desenvolvimento
da criança e representam oportunidades significativas para o crescimento
adequado. Descobertas recentes têm demonstrado, convincentemente, que
os primeiros anos de vida, desde a gestação, é a fase mais crı́tica da pessoa
no que diz respeito ao seu desenvolvimento biológico, cognitivo, emocional
e social (UNICEF, 2001). Isto por que, de acordo com Resegue et al.
(2007), nos primeiros anos de vida a intensa neuroplasticidade do cérebro
humano é mais acentuada e suscetı́vel à estimulação.
O brincar, seja ao explorar objetos ou interagir com as pessoas, desde os
primeiros meses de vida, possibilita que a criança explore sensorialmente
O processo de desenvolvimento da criança 9

diferentes objetos, sua forma, interaja com o meio, compreenda ação e


reação, que mais tarde terão repercussões nas relações socioafetivas, como
na cooperação, autocontrole e negociação, além do estı́mulo à imaginação
e criatividade (Núcleo Ciência pela Infância, 2014)
Dessa forma, o tempo e o momento de aplicação da intervenção precoce
são fatores crı́ticos para o sucesso da estimulação, porém é necessário
lembrar que o olhar não deve ser apenas para a criança, mas também
para os contextos e ambientes em que a mesma está inserida, ou seja, deve
envolver a famı́lia, a escola, os profissionais da saúde e educação e todos os
envolvidos com a criança.

6. Dicas de Estimulação
Agora já sabemos a importância de estimular e brincar com a criança
pequena, mas de que forma podemos fazer isso nas fases iniciais do
desenvolvimento?
A seguir, apresentamos imagens e descrição de formas simples, de como
estimular a criança, que podem ser realizadas em qualquer ambiente e com
materiais simples disponı́veis no dia-a-dia. Use sua criatividade e ofereça
estı́mulos variados para a criança (Figuras 3 a 14).
O movimento serve como possibilidade de desenvolvimento e
aprendizagem, possibilite isto a criança de forma segura, supervisionada
e com qualidade. Para saber sobre o uso adequado de tecnologias, como
tabletes e computadores, leia o Capı́tulo 6 deste livro.
Diante desse capı́tulo espera-se que os profissionais da saúde e educação,
familiares e gestores observem a criança pequena como um ser ativo, em um
momento especial e crucial para sua vida futura e, dessa forma, consigam
promover uma estimulação adequada e com qualidade para que as crianças
cresçam e se desenvolvam da melhor maneira possı́vel e se tornem adultos
com o máximo potencial.

Figura 3. Coloque seu bebê


no colo, estimule a buscar o
brinquedo na linha média. Estará
desenvolvendo a coordenação
óculo-motora. Mantenha o
brinquedo de 20 a 30 cm de
distância. Utilize brinquedos
com luzes e som para estimular
os sistemas sensoriais. Aproveite
este momento para conversar
com a criança.
10 Araujo & Israel

Figura 4. Ao deslocar com


a criança no colo, carregue-a
virada para frente, assim
ela irá receber estı́mulos
variados do ambiente e
interagir com o mesmo.

Figura 5. Coloque o bebê em


prono (barriga para baixo) e coloque
brinquedos que chamem a atenção
para ele elevar a cabeça. Assim ele
irá fortalecer os músculos da cervical
e extensores do tronco. Inicialmente
pode fazer um rolo com toalha para
colocar abaixo do tórax.

Figura 6. Desafie a criança


a fazer trocas posturais
(mudanças de posturas).
Com brinquedos estimule-a
a buscar o objeto de forma
que realize o rolar. Ofereça
os estı́mulos para ambos os
lados.

Figura 7. Ainda em prono


(barriga para baixo) é
necessário que a criança
explore esta postura, pois
assim irá fortalecer os
músculos dos membros
superiores (braços). E terá
inı́cio do deslocamento com
o arrastar.
O processo de desenvolvimento da criança 11

Figura 8. É necessário deixar


a criança em ambiente livre e
seguro, no inı́cio ela começará
a se arrastar em busca do
brinquedo, e com o passar do
tempo iniciará o engatinhar.

Figura 9. Aos poucos a


criança vai se interessar
por posturas mais altas,
possibilite que a criança
passe do chão para em pé
com apoio. Aos poucos ela
estará mais segura para dar
alguns passos na lateral com
o apoio das mãos.

Figura 10. Após explorar


a postura em pé a criança
estará preparada para dar os
primeiros passos sem apoio.
Tudo conforme o seu tempo.

Figura 11. Para estimular a


criança a caminhar, utilize
uma toalha sobre o seu
tórax, assim ela estará
segura e ao mesmo tempo
livre para a execução do
andar.
12 Araujo & Israel

Figura 12. Utilize as


situações do dia-a-
dia para a criança se
desenvolver. Deixe-
a comer com as
mãos e tentar se
alimentar sozinha,
com uma colher. Essa
atividade desenvolverá
a coordenação manual e
possibilita a exploração
das texturas, formas,
temperatura.

Figura 13. A hora do banho


também é um momento rico para
a estimulação. Pode utilizar
brinquedos de ação e reação.
Utilize vários estı́mulos, porém
ofereça um brinquedo por vez
para manter a atenção da criança.
Converse e conte histórias para a
criança.

Figura 14. Deixe a criança


explorar diferentes texturas com
as mãos, pés ou outras partes
do corpo. Como exemplo,
espuma de barbear, massinha de
modelar, areia, entre outras, sob
a supervisão de um adulto.
O processo de desenvolvimento da criança 13

Referências
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para a Infância, 2001.
Capítulo 2

Interações Neuromotoras da Criança:


Indivíduo, Ambiente e Tarefa

Bruna Yamaguchi∗ e Vera Lúcia Israel

1. Introdução
A Fisioterapia como ciência do movimento e postura humana é reconhecida
historicamente por grande parcela da população pela sua atuação
tradicional na reabilitação. Contudo, com os processos de evolução social
e cultural houve uma transição das necessidades de atenção em saúde, que
trouxeram novas demandas a todos os profissionais da saúde, inclusive na
área de saúde da criança. A Fisioterapia tem seu campo de formação e
atuação cada vez mais fortalecido e ampliado com atividades que visam à
promoção de saúde e a prevenção de doenças (Bispo Júnior, 2010).
A intervenção fisioterapêutica, na promoção e prevenção em saúde,
ocorre num momento anterior a qualquer sinal ou sintoma de doença, o
que pode levar a benefı́cios dessa assistência como capacitar as pessoas a
reconhecer bons hábitos e escolhas para sua saúde, bem como prevenir
problemas relacionados à saúde, poupando as pessoas do processo de
adoecimento (Pereira, 2014). Dentre os aspectos passı́veis de promoção
e prevenção está a saúde no contexto do desenvolvimento neuropsicomotor
das crianças, o que inclui a educação em saúde com orientação de familiares
e professores. Para o adequado desenvolvimento na primeira infância,
de modo especial, devemos considerar fatores como vacinação, nutrição,
condições do ambiente familiar e escolar, estimulação psicomotora,
brincadeiras, rotina da criança, vivência cultural, nı́vel educacional e
socioeconômico da famı́lia, entre outros, que poderão interferir positiva ou
negativamente no desenvolvimento infantil. Nas últimas décadas, houve
um maior acompanhamento do desenvolvimento infantil, para a prevenção
de possı́veis alterações, o que traz benefı́cios para toda a vida (Amorim
et al., 2009). A verificação do desenvolvimento infantil é parte integrante
da atenção da Fisioterapia na saúde infantil e compreende atividades
relacionadas à promoção do desenvolvimento neuropsicomotor adequado.
∗ Autor para contato: brunayamaguchi@hotmail.com

Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.02 ISBN 978-85-64619-19.7
16 Yamaguchi & Israel

O fisioterapeuta é um dos profissionais responsáveis pela vigilância e


estimulação das condições neuropsicomotoras na infância que deverão ser
facilitadas de diferentes formas e devido a neuroplasticidade nesta faixa
etária deverão permanecer no repertório motor por toda vida.
Neste contexto, as famı́lias não terão seu primeiro contato com a
Fisioterapia após um acometimento de doença já instalada, mas sim, já na
estimulação e cuidados da saúde da criança promovendo a assistência a toda
população na busca da qualidade de vida e hábitos saudáveis relacionados
de modo particular ao movimento e postura humanas e suas repercussões
sistêmicas.
Em nossa experiência na avaliação neuropsicomotora de crianças de 0
a 5 anos, na rede pública de ensino, avaliamos e acompanhamos mais de
400 crianças, no litoral do Paraná. Este projeto fez parte das atividades
extracurriculares disponı́veis na graduação de Fisioterapia da Universidade
Federal do Paraná (UFPR), setor Litoral, entre 2007 e 2013. Apesar
da atividade se caracterizar como atividade de pesquisa, por meio da
iniciação cientı́fica, pôde agregar conhecimentos de ensino e extensão que
desenvolveram habilidades e competências necessárias ao fisioterapeuta,
possibilitando a inserção da Universidade na comunidade. A interação
entre os conhecimentos cientı́ficos da academia e os conhecimentos com a
população local levou a promoção de saúde das crianças participantes.
A equipe de fisioterapeutas e estudantes do curso de Fisioterapia
da UFPR frequentava os ambientes de diferentes Centros de Educação
Infantil (CEI) públicos dos municı́pios do litoral do Paraná, com o apoio
da Secretaria de Saúde e de Educação das cidades, e a autorização dos
responsáveis legais pela criança. Na própria escola aconteciam as avaliações
fisioterapêuticas lúdicas, bem como as orientações às famı́lias e professores
envolvidos.
Essa proximidade entre estudante, criança, professor, famı́lias e gestores
com a prática na avaliação infantil da Fisioterapia, aliado com os
estudos sobre o tema, nos trouxeram conhecimentos que agora buscamos
compartilhar por meio deste capı́tulo com todos os leitores que têm ou
terão contato com crianças, em especial na faixa etária de 0 a 5 anos.
O desenvolvimento neuropsicomotor na infância é caracterizado por
mudanças contı́nuas, progressivas e complexas na capacidade funcional
cognitivo-motora. Esta capacidade é cumulativa e, dentro de condições
tı́picas esperadas para cada faixa etária, é permanente. O desenvolvimento
não cessa, apesar de muitas vezes não se conseguir observar as mudanças
em sua plenitude. O desenvolvimento infantil é dependente da idade,
sendo mais rápido ou lento dependendo do perı́odo da vida e do indivı́duo
(Haywood & Getchell, 2010).
Nos primeiros anos de vida, as crianças desenvolvem suas
potencialidades, explorando todas suas possibilidades de aprendizagem,
favorecidas pela plasticidade cerebral (Baltieri et al., 2010). O
As interações neuromotoras da criança 17

desenvolvimento infantil se caracteriza pelas modificações contı́nuas e


permanentes no inı́cio da vida, sendo resultado da interação entre fatores
genéticos, biológicos, ambientais e das tarefas realizadas ou estimulações
recebidas. Aquisições do desenvolvimento infantil aparecem na medida
em que a criança tem contato ativo com ricos ambientes fı́sico e social
de seu cotidiano. Estas modificações influenciam na forma como estas
crianças percebem e lidam com o ambiente em que se encontram. Esta é
a perspectiva ecológica, em que o desenvolvimento infantil influencia e é
influenciado, de forma ativa, pelas relações da criança com o meio ambiente
(Poletto & Koller, 2008).
Com isso, vemos que o desenvolvimento da criança é dependente das
potencialidades intrı́nsecas de fatores pessoais, além das interações com o
ambiente em que a criança é exposta e de estı́mulos (atividades) oferecidos,
portanto, faz-se necessário a presença mediadora de profissionais de saúde,
como no nosso caso do fisioterapeuta, no ambiente escolar.
O modelo ecológico, que atualmente descreve o desenvolvimento
humano, propõe que as principais relações que a criança é exposta, seja
em cuidados ou em estı́mulos, são dadas por indivı́duos conviventes, na
escola por profissionais da educação e em casa pelos familiares (Nobre
et al., 2009). Estas pessoas que têm contato com as crianças devem assumir
a responsabilidade de propor um ambiente saudável e rico em qualidade
de cuidados e estı́mulos. Desta forma, os CEI e as famı́lias devem ter
conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento da criança e como
estimulá-la adequadamente nos primeiros anos de vida.

2. Os Estímulos Neuropsicomotores no Desenvolvimento


Infantil
Estes estı́mulos que abordamos, são as chamadas tarefas, no modelo
de desenvolvimento ecológico. Na prática, são as ações ou atividades
psicomotoras tı́picas e esperadas para a idade de cada criança. Estas
atividades, quando adequadamente propostas e realizadas, funcionam como
estı́mulos que auxiliam na aquisição de novas habilidades psicomotoras
fazendo a criança a superar desafios diários para o seu crescimento,
em ganho de massa corporal e estatura, como no desenvolvimento de
habilidades neuropsicomotoras saudáveis.
Destaca-se o ato de brincar e a diversidade de brincadeiras como meios
de estimular as habilidades psicomotoras na criança. O ato de brincar
é uma atividade (tarefa) essencial para a promoção do desenvolvimento
intelectual, social, emocional e fı́sico da criança e está presente em todas
as culturas, justificando o crescente foco de atenção destinado a esse tema
(Pfeifer et al., 2009). Por meio da brincadeira as crianças descobrem o
mundo e as respostas neuromotoras, desencadeadas por estes estı́mulos,
ajudando-a a formar seu repertório neuromotor individual (Nobre et al.,
18 Yamaguchi & Israel

2009). A brincadeira é veı́culo da experimentação motora, social, emocional


que leva ao amadurecimento saudável da criança.

3. O Papel da Família
Além de proporcionar um ambiente seguro, é papel da famı́lia fornecer
os vı́nculos afetivos, os cuidados e os estı́mulos necessários ao crescimento
e desenvolvimento da criança. A famı́lia ainda é responsável por mediar
as relações da criança com a sociedade, possibilitando o desenvolvimento
cognitivo infantil (Andrade et al., 2005). A educação no sentido amplo da
palavra é missão da famı́lia e a criança é reflexo das relações familiares.
Desde bebê a interação mãe-filho(a) ou pai-filho(a) já coopera com
o desenvolvimento cognitivo-motor da criança, pois a mãe/pai conseguem
interpretar os sinais sutis e dar os estı́mulos adequados a sua criança. Como
exemplo, trazemos os resultados de um estudo, desenvolvido por Amorim
et al. (2009), que verificou que as crianças que ficam menos tempo com a
mãe apresentaram maior déficit no equilı́brio estático, comparadas às que
permanecem mais tempo com a mãe. Sabe-se que o equilı́brio estático é
uma função neurológica de alta relevância e complexidade neuromotora
para o desenvolvimento, sendo que déficits nesta habilidade podem indicar
dificuldades também na aquisição de outras habilidades futuras, como o
andar e correr. Isto sugere que a presença da mãe é como um fator
de proteção e confiança para aquisição dessa habilidade motora, sendo
possivelmente influente em outras habilidades motoras. As habilidades
motoras surgem na infância da prática e da experiência proporcionada para
a criança, por meio de estı́mulos sensóriomotores (Florindo & Pedro, 2014).
Essas habilidades motoras são relativamente permanentes no repertório
neuromotor humano, envolvem movimentos do corpo e um conjunto de
aprendizagem cognitiva (Florindo & Pedro, 2014).
O mais relevante nos diversos estudos que investigam o ambiente escolar
e seus estı́mulos, não é o fato da criança frequentar o CEI durante todo o
dia ou meio perı́odo, ou ainda permanecer em casa, mas sim a qualidade de
estı́mulos oferecidos por estes ambientes escola e casa, devido a qualidade
de sua estrutura e da estimulação feita pelas pessoas. É preciso maior
investigação sobre quais experiências são proporcionadas para a criança e
a qualidade desta estimulação (Bonome-Pontoglio & Marturano, 2010).
Neste sentido, há um consenso multidisciplinar de profissionais que
atuam nas escolas ou CEI´s, de que uma boa relação entre a famı́lia e a
escola traz benefı́cios para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo
da criança. Para otimizar a interação famı́lia-escola, é preciso adaptar
diferentes estratégias, considerando as especificidades locais, como aspectos
culturais e de economia (Poletto & Koller, 2008). A abordagem e a
linguagem utilizadas devem ser adaptadas ao contexto da realidade local,
As interações neuromotoras da criança 19

pois quando feita de maneira inadequada torna-se ineficaz, podendo ainda


desmotivar a participação da famı́lia na escola.
Para superar as descontinuidades entre os ambientes familiar e escolar,
é necessário conhecer os tipos de envolvimento entre familiares e escola
e estabelecer estratégias que permitam a concretização de objetivos
comuns (Pilz & Schermann, 2007). A estratégia utilizada nas pesquisas
e intervenções realizadas sempre foi expor o objetivo comum entre o CEI
e os familiares, que é a busca da saúde da criança, assegurando ambiente
e estimulação adequados para um desenvolvimento infantil pleno.

4. Avaliação
Para verificar como está o desenvolvimento da criança, podem ser utilizadas
escalas na Fisioterapia. Estas auxiliam na avaliação infantil, e em nossa
experiência, trazem uma forte adesão quando aplicadas de forma lúdica.
Os itens que constam nas escalas de avaliação são atividades que
tipicamente a criança realiza em determinada idade. Por meio do
desempenho funcional, verificando os diversos indicadores, como a
aquisição e a evolução em diferentes áreas do desenvolvimento: cognição,
linguagem, motricidade, comportamento, entre outras.
O uso de testes de avaliação do desenvolvimento infantil é recomendado
como estratégia para promoção da saúde infantil, acompanhando o
crescimento da criança. Possibilita identificar, monitorar e quantificar
as possı́veis alterações no desenvolvimento, ainda que não traga um
diagnóstico (Silva et al., 2015).
É possı́vel, nas avaliações do desenvolvimento, que os profissionais
observem alguma diferença marcante, que pode repercutir num menor
rendimento em uma ou mais áreas da vida da criança, ainda que
futuramente. Desta forma, a avaliação também de capaz de apontar
estas discrepâncias e chamar a atenção para uma ação urgente ou
encaminhamentos adequados para cuidados de educação e ou saúde.
Ao pensar que a estimativa é que uma em cada oito crianças apresente
alterações no seu desenvolvimento neuropsicomotor, que possam interferir
em sua qualidade de vida e inclusão escolar e social, a intervenção
fisioterapêutica busca reduzir ou extinguir as diferenças ou riscos para o
desenvolvimento na infância. O diagnóstico e a intervenção, antes dos
cinco anos de idade, são primordiais para um bom prognóstico e evolução
da criança reduzindo o risco de atraso neuropsicomotor (Ribeiro et al.,
2010).
Muitas vezes, consequências indesejáveis ou deficiências serão vistas
apenas em idades avançadas, como problemas da aprendizagem,
comportamento ou transtornos afetivos. Dessa forma, a identificação
precoce de possı́veis situações de risco, que possam prejudicar o curso do
20 Yamaguchi & Israel

desenvolvimento infantil, é relevante para evitar maiores déficits ao longo


da vida.

5. A Abordagem da Família
Os profissionais da saúde, envolvidos com a promoção do desenvolvimento
infantil, precisam do apoio dos familiares para que haja continuidade
nos cuidados de educação e de saúde e na estimulação neuropsicomotora
adequada para cada faixa etária. A sensibilização dos familiares busca
esse elo. A famı́lia deve ser o principal promotor, com plena consciência
da sua responsabilidade, da formação neuromotora e psicossocial de seus
(suas) filhos(as). A partir desse reconhecimento, buscamos a troca de
experiências, instrumentalizando os familiares.
Em nossa experiência, não apontamos para nenhum familiar os
achados da avaliação individual da criança. Todos os familiares
participavam de forma igual das atividades de educação em saúde e
eram estimulados a reconhecer seus pontos acertivos e pontos a melhorar
em relação ao seu papel fundamental. Quando havia discrepância ou
risco ao desenvolvimento de uma criança a escola era alertada e fazia o
encaminhamento da famı́lia e da criança.
Os encontros com familiares e professores são atividades de educação
em saúde, com isso, seu papel é gerar conhecimento, agregar, acolher
as famı́lias e professores, dar direcionamento para as suas angústias,
anseios, temores, dúvidas, assim como aproveitar suas experiências, seu
conhecimento e sua cultura. Ao desenvolver essa abordagem de educação
em saúde os protagonistas devem ser os participantes, mediados pelos
proponentes.
As atividades propostas buscavam conversar sobre o desenvolvimento,
trocar experiências, oferecer orientações e dicas de como otimizar o convı́vio
do familiar com a criança e dentro da escola também com os profissionais
da educação.
Em todas as atividades, que ocorriam em encontros do grupo de
pesquisa com a famı́lia e com os professores também, duas vezes no ano
letivo, buscava-se reforçar e inovar nas ações em saúde, além de sempre
contar com um “lembrete” (produto). O lembrete (produto) era algo
direcionado e desenvolvido pelo grupo de pesquisa para a famı́lia levar
para casa, que tenha utilidade e seu objetivo fundamental é de lembrar a
cada famı́lia sobre o encontro, reforçando diariamente as dicas e conversas
tidas no encontro do semestre. Podem ser calendário de geladeira com
brincadeiras, livro de histórias infantis, porta-canetas de dicas.
As interações neuromotoras da criança 21

6. A População de Crianças no Brasil


Nossas avaliações vão ao encontro dos achados de outros grupos de
estudo do desenvolvimento infantil (Brito et al., 2011; Andrade et al.,
2005). Algumas faixas etárias apresentam maiores riscos na linguagem,
e outras, no auto-cuidado. Além disso, contextualmente, a presença dos
familiares e situação socioeconômica também se apresentam como fatores
que influenciam nos resultados das avaliações das crianças realizadas.
As áreas motoras foram as com maior desempenho nas crianças
avaliadas. A área denominada de motor fino-adaptativo verifica a
motricidade de precisão, atividades minuciosas de mão e destreza e foi
observado que diversas atividades propostas pelos pedagogos e professores
contavam com este tipo de atividade. A área do motor grosso, que
verifica a mobilidade funcional, andar, correr, levantar, subir escadas, que
envolve grandes grupos musculares, controle desses movimentos e equilı́brio
dinâmico também teve, em geral, resultados dentro do esperado para cada
idade.
Ao longo da primeira infância há modificações na capacidade fı́sico-
motora e cognitiva que permitem a criança se alimentar, trazer o alimento
do prato para si, inicie/auxilie a servir-se, inicie a escovação de dentes com
auxı́lio, entre outras atividades do cotidiano que deve ser gradativamente
estimuladas e a criança passe a se responsabilizar pelas mesmas. Ocorre
que, por diversos motivos, essa transição de funções de cuidado pessoal
não acontece. Os motivos relatados pelos familiares vão desde falta de
tempo para que a criança experimente a atividade, e por vezes, se suje; até
excesso de “mimos” prolongando a dependência parental. Independente da
justificativa, o resultado são crianças com baixa independência em tarefas
já possı́veis e importantes de serem feitas ou iniciadas pelos pequenos.
Ao mesmo tempo, desenvolve-se uma rede de relações pessoais, e o
bebê é um indivı́duo que se relaciona tanto com o meio, quanto com as
pessoas. Pais, avós, irmãos, professoras e colegas são o outro lado dessa
relação. Os vı́nculos afetivos iniciam pelos familiares, e posteriormente,
se ampliam com a idade para relações sociais na comunidade, na escola
e outros em grupos que a famı́lia e a criança frequentam. A cooperação,
a identificação de papéis sociais, o reconhecimento do indivı́duo, regras
dos jogos e brincadeiras de grupo são noções que, da mesma forma que a
capacidade funcional e cognitiva e a inteligência emocional também vão se
ampliando com o tempo. Essas oportunidades da convivência devem ser
estimuladas para o pleno desenvolvimento social progressivo da criança.
Outro indicativo das pesquisas realizadas diz respeito ao
desenvolvimento da linguagem. Percebeu-se um déficit principalmente
a partir dos 18 meses. Pronunciar, reconhecer figuras, nomear objetos
e utilizar adjetivos começam a fazer parte do novo repertório de
comunicação. O fator socioeconômico se relaciona com o desenvolvimento
22 Yamaguchi & Israel

infantil na medida em que os cuidadores têm menor instrução educacional,


têm mais chances de dificuldades no desenvolvimento (Brito et al., 2011).
Esse fato é facilmente relacionado com a realidade do Brasil e do local
em que realizamos as pesquisas. Por sua vez, a baixa escolaridade reflete
ainda na renda familiar, que é indicativo também de maior chance de
déficit do desenvolvimento neuropsicomotor.

7. O Desenvolvimento Infantil e a Psicomotricidade


A proposta da psicomotricidade vem da França do século XX, na busca
por otimizar as propostas de estı́mulos, com a trı́ade motricidade, cognição
e afetividade (Castilho-Weinert et al., 2011).
É relevante destacar que a prática da psicomotricidade não é apenas
aplicada a crianças, hoje é amplamente utilizada na intervenção de adultos
e idosos, sejam esses com ou sem algum tipo de déficit neuromotor.
Contudo, a utilização em bebês e crianças apresenta maior número de
pesquisas cientı́ficas, visa não somente a recuperação de funções, mas a
primeira aquisição das habilidades psicomotoras (Castilho-Weinert et al.,
2011).
Os pilares que descrevem a psicomotricidade são relatados em sete
fatores (Silva et al., 2016):
a) Tonicidade: Percebe que seus músculos podem contraı́rem-se mais
rapidamente ou mais lentamente, tem a capacidade de conseguir
controlar essas ações antagônicas.
b) Equilibração: Verifica o equilı́brio dos seguimentos corporais em
diversas posturas, tanto estaticamente quanto ao se movimentar.
Utiliza-se das informações proprioceptivas, mas também labirı́nticas e
de visão.
c) Lateralização: Define a dominância de um membro superior, ou inferior,
sobre o outro lado, assim como a noção de reconhecer em si e em outros
corpos os lados direito e lado esquerdo.
d) Noção de corpo: Reconhece em si e no outro estruturas corporais,
podendo associar com funções.
e) Estruturação espaço-temporal: Percebe a sequencia temporal e
compreende diferenças temporais como ontem, amanhã, dias, anos.
Reconhece seu corpo no espaço, desenvolve noções de local, grandezas
e formas.
f) Praxias global: Trata dos movimentos para mudar de posição, se
movimentar assim como carregar objetos. Utiliza grandes grupos
musculares.
g) Praxia fina: Engloba o desenvolvimento motor fino, com movimentos
mais precisos, usando principalmente destreza de mãos, como desenhar,
As interações neuromotoras da criança 23

escrever, pegar objetos pequenos, entre outras atividades, que vão sendo
desenvolvidas ao longo da infância, com maior domı́nio.
Fatores fundamentais para o desenvolvimento infantil, em sido
assegurados atualmente no Brasil, pelo recente Marco Legal da Primeira
Infância (BRASIL, 2016) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
(BRASIL, 1990). Contudo, famı́lia e escola são fundamentalmente os locais
para proteção e estı́mulo do desenvolvimento das crianças.
O respeito, o cuidado, o brincar, o ser generoso, conhecer
direitos e deveres, ser ético, o aprender, o conviver, o conhecer, o
assumir responsabilidade e progressivamente desenvolver-se no mundo são
aquisições de valores humanos e éticos que a criança ao longo da vida
ativamente conquistará vencendo os desafios de sua vida. Que possamos
como fisioterapeutas contribuir para a infância.

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Paulo, 27(1):52–62, 2016.
Capítulo 3

Para Fazer um Laço é Necessário Unir as Pontas...


envolvimento entre família e escola

Mariana Rodrigues Gaspar Correa∗,


Luize Bueno de Araujo e Vera Lúcia Israel

1. Introdução
O desenvolvimento motor infantil é caracterizado por Gallahue et al.
(2005) e Haywood & Getchell (2010) como uma mudança contı́nua,
influenciada pela exigência das tarefas motoras, as caraterı́sticas do
indivı́duo e as condições do ambiente. Para Papalia et al. (2010) o
desenvolvimento infantil sofre influências desses três determinantes, os
quais estão simbolizados na Trı́ade de Newell (1991 – Figura 1). Newell
(1986), o autor da Trı́ade, reforça a necessidade de compreender a relação
do ser humano com o ambiente e com os outros seres humanos analisando
a combinação das demandas do organismo, do ambiente e da tarefa em
andamento.
Os profissionais da saúde, a famı́lia e os/as educadores/as são os
principais acompanhantes do desenvolvimento infantil e os responsáveis
pelo cuidado da criança. Portanto, conhecer como se caracteriza cada
determinante/restrição e como se relacionam é primordial para entender
como ocorrem os processos de desenvolvimento, crescimento e perceber
desvios no desenvolvimento infantil adequado.
A teoria e a prática, quando relacionadas, quase sempre são
conflituosas. Entretanto, é necessário o conhecimento sobre os processos
envolvidos em um acontecimento para solucionar problemas relativos ao
fato.
O presente capı́tulo discorre sobre os principais envolvidos no cuidado à
criança, ressalta a necessidade do vı́nculo entre os cuidadores e caracteriza
os ambientes que cercam a criança, destacando quais são os fatores nocivos
e os fatores propı́cios para um bom desenvolvimento infantil. Bem como
relata a experiência de um projeto de iniciação cientı́fica da Universidade
Federal do Paraná, o qual tinha por objetivo “unir as pontas”, ou seja,
∗ Autor para contato: marianargcorrea@gmail.com

Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.03 ISBN 978-85-64619-19-7
26 Correa, Araujo & Israel

Figura 1. Modelo das Restrições de Newell. Fonte: Haywood & Getchell


(2010, p. 26).

aproximar educadores/as e famı́lia e/ou responsáveis para alertar os ganhos


para o desenvolvimento da criança quando há boa convivência entre famı́lia
e escola, além de informar os marcos do desenvolvimento infantil e os
benefı́cios neuromotores da estimulação adequada.
Pois bem, há uma convenção entre os estudiosos em ausentar o foco do
conceito de doença (modelo biomédico), o qual ainda predominante, tem
perdido espaço para o modelo biopsicossocial, possuidor de um conceito
mais amplo em saúde, sendo que este atende o ser humano de forma integral
(Ayres, 2001; Demarco, 2003; Mandú, 2004; Pegoraro & Caldana, 2008;
Zoboli, 2004).
O modelo biomédico ou mecanicista visualiza a pessoa como uma
máquina, no qual o conceito de saúde é definido como a ausência de
doença. Neste modelo, perde-se a visão holı́stica do ser humano, não
existe a integração entre as dimensões psicológicas e sociais, o que ganha
destaque é a doença e sua cura, o diagnóstico individual e o tratamento
(Cutolo, 2006). Reitera-se que até hoje o modelo biomédico predomina
na atenção à saúde, em clı́nicas particulares, no Sistema Único de Saúde
(SUS), sendo que dentro desse contexto o médico ou profissional da saúde
faz sua entrevista e observação clı́nica ao atender um paciente, focando
principalmente nos seus sinais e sintomas, isto é, na sua doença.
Em contraponto, o modelo biopsicossocial é definido como “modelo que
não tem o foco apenas na doença em si e o tratamento dela, mas em todos
os aspectos que estariam diretamente relacionados ao fenômeno do adoecer,
sejam eles fisiológicos, psicológicos, sociais, ambientais, dentre outros, os
Para fazer um laço é necessário unir as pontas... 27

quais também devem ser considerados para que o tratamento seja eficaz”
(Silva et al., 2001).
Seguindo o raciocı́nio acima, na Carta de Ottawa (Brasil, 2002), o
modelo biomédico foi considerado necessário, porém insuficiente para dar
conta da saúde numa estratégia de promoção. Assim, a aproximação do
modelo biopsicossocial de saúde faz com que o atendimento oferecido seja
um cuidado participativo, estendido à comunidade, fazendo com que, por
meio da prevenção de doenças e de medidas para a promoção da saúde,
sejam ampliadas tanto a cobertura como a abrangência desse atendimento.
Dessa forma, no cuidado à criança, para que haja um modelo
participativo de intervenção, é necessário que as pessoas que cercam a
criança se envolvam, tornando-se atentas às fases do desenvolvimento
neuropsicomotor, e sejam capazes de identificar algum atraso neste
processo. Tais medidas, poderiam reduzir ainda mais os problemas futuros,
uma vez que a falta de estimulação adequada da criança pode acarretar
prejuı́zos que se estendem até a vida adulta.
Em particular, os primeiros anos de vida da criança são os mais
significativos para o seu desenvolvimento completo e as experiências
acumuladas durante este perı́odo têm uma influência por toda a vida
(Johnston, 2009). O tecido nervoso apresenta seu maior crescimento e
maturação durante este perı́odo e, portanto, mais suscetı́vel a lesões. Por
causa do alto grau de plasticidade das crianças, também é nesta fase que
elas respondem melhor a intervenções de promoção e ou tratamentos e
ainda a estimulação neuromotora e ambiental. No entanto, para receber
essas intervenções, é necessário identificar o atraso e orientar, o mais
rapidamente possı́vel, a criança a serviços especializados. Portanto, é
necessário que os profissionais atuantes na atenção básica, a própria famı́lia
e os responsáveis pela criança, monitorem o desenvolvimento e identifiquem
de maneira preliminar os fatores de risco, bem como as necessidades
especı́ficas, isso com o objetivo de garantir um adequado desenvolvimento
da criança ou um rápido encaminhamento para a intervenção precoce.

2. Fatores de Risco Para o Desenvolvimento Infantil


Visto que o desenvolvimento infantil é resultante de uma interação entre as
caracterı́sticas biológicas e as experiências proporcionadas pelo ambiente e
suas vivências de tarefas realizadas, fatores adversos nestas áreas podem
modificar o ritmo esperado. A possibilidade que isto ocorra é chamada de
risco para o desenvolvimento (Ribeiro et al., 2014 apud Rutter & Sroufe,
2000).
Múltiplos fatores podem ser responsáveis pelos problemas de
desenvolvimento nas crianças. Na maioria das vezes não se pode
estabelecer uma única causa, existindo uma associação de diversas
etiologias possivelmente associadas com o atraso.
28 Correa, Araujo & Israel

Como por exemplo, a falta de afeto, de amor nos primeiros anos de


vida deixará marcas definitivas no desenvolvimento da criança, formando
um dos riscos mais importantes para o bom desenvolvimento.
Os riscos para o desenvolvimento infantil pode ser classificados em
biológicos e ambientais (Figueiras et al., 2005), ambos podem aumentar
a possibilidade de riscos ao DNPM e também atuar como protetores.
Os riscos biológicos abordam intercorrências no perı́odo pré, peri e pós-
natais, como exemplo as desordens genéticas, a má-formação congênita,
meningites, prematuridade e sı́ndromes. Já as experiências adversas de
vida ligadas à famı́lia, ao meio ambiente e à sociedade são consideradas
como riscos ambientais, como exemplo, as condições precárias de saúde, a
falta de recursos sociais e educacionais, a educação materna e paterna, os
estresses intrafamiliares, como violência, abuso e maus-tratos e as práticas
inadequadas de cuidado e educação, dentre outros (Graminha & Martins,
1997).
Quanto maior o acúmulo de fatores de risco, maiores as chances de a
criança desenvolver- se de forma mais lenta, quando comparada a outras
da mesma faixa etária (De Andraca et al., 1998). Dessa forma, o bebê pré-
termo em ambiente fı́sico impróprio, entendido como risco ambiental, com
nı́vel socioeconômico baixo, apresenta maior probabilidade de problemas
no desenvolvimento do que, por exemplo, o bebê com risco apenas pela
prematuridade (Halpern et al., 2000; Linhares et al., 2004).
Halpern et al. (2000) em seu estudo com 1.363 crianças aos 12 meses de
idade percebeu que 34% das crianças apresentavam riscos para problemas
no desenvolvimento motor. Ao observar os fatores de risco, percebeu-se que
as crianças que tinham maior risco de atraso no desenvolvimento foram as
mais pobres, as que nasceram com baixo peso, as pré-termo e aquelas que
não receberam leite materno ou foram amamentadas por menos de 3 meses.
Ao conhecer os fatores de risco estabelecidos ao DNPM, é possı́vel
refletir sobre as medidas protetoras, bem como a dinamicidade e
complexidade do tema proposto.

3. Acompanhamento da Saúde da Criança: Melhorias e


Aspectos que Devem ser Evitados
Historicamente a escola desenvolve atividades de saúde das crianças
ainda que seja apenas o encaminhamento para unidade de saúde quando
apresentam dificuldades. Na famı́lia, por sua vez, os pais, ou quem os
substitui, são os responsáveis pelo cuidado à criança, sendo que informam
a situação da saúde da criança e buscam soluções para os problemas
encontrados. Isto revela que a atenção à criança em idade escolar se
materializa no encontro destes três eixos – serviço de saúde, escola e famı́lia.
Embora exista um acordo entre os profissionais sobre a necessidade
no acompanhamento do desenvolvimento da criança, o modo como
Para fazer um laço é necessário unir as pontas... 29

fazê-lo ainda é discutı́vel. São várias propostas e modelos para este


acompanhamento, abaixo estão algumas delas que constam no Manual para
Vigilância do Desenvolvimento Infantil no Contexto da Atenção Integrada
às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) (Figueiras et al., 2005):
• Screenings de Desenvolvimento: Utiliza-se a aplicação de testes de
triagem ou escalas, exames e outros procedimentos para checagem do
desenvolvimento das crianças tı́picas, com o objetivo de se identificar
crianças de alto risco para problemas de desenvolvimento.
• Vigilância do Desenvolvimento: Esse modelo inclui as atividades
relacionadas à promoção do desenvolvimento tı́pico e à detecção
de problemas de desenvolvimento, na atenção primária à saúde
da criança, sendo um processo contı́nuo, flexı́vel, envolvendo
informações da famı́lia, professores/as, profissionais de saúde e
outros.
• Avaliação do desenvolvimento: Investigação mais detalhada de
crianças com suspeita de problemas no desenvolvimento, sendo
geralmente multidisciplinar e diagnóstica.
• Monitoramento ou Acompanhamento do desenvolvimento:
Procedimento de assistir de forma próxima o desenvolvimento
da criança, sem implicar na aplicação de técnica ou processo
especı́fico, podendo ser periódico ou contı́nuo, sistemático ou
informal e envolver ou não processo de screening, vigilância ou
avaliação.
Todas essas propostas têm o seu espaço no estudo do desenvolvimento
da criança. Desta forma, quando o objetivo for rastrear crianças com maior
ou menor risco para problemas no desenvolvimento, os testes de screening
são a melhor opção. No acompanhamento individual da criança, não resta
dúvida da supremacia da vigilância do desenvolvimento. Muitas vezes um
procedimento estará unido a outro permitindo um melhor resultado. É
possı́vel que na vigilância do desenvolvimento seja necessário o uso de
alguma escala, para servir de roteiro no exame do desenvolvimento.
Deve se destacar a opinião da famı́lia sobre o desenvolvimento das
suas crianças, principalmente na “vigilância do desenvolvimento”. Há um
consenso na literatura de que os pais são bons observadores e detectores
apurados das alterações observadas em seus filhos, mostrando uma alta
sensibilidade na detecção de problemas no desenvolvimento dos mesmos.
Na Tabela 1 serão apresentadas algumas formas de promover um
desenvolvimento infantil pleno, visando uma melhoria em suas condições
e qualidade de vida, como também aspectos que devem ser evitados
(Figueiras et al., 2005).
30 Correa, Araujo & Israel

Tabela 1. Manual para vigilância do desenvolvimento infantil no contexto


da AIDPI (Figueiras et al., 2005).

Caracterı́sticas Individuais
O que fazer O que evitar
Apoiar e amar a criança sempre
Falta de atenção, carinho, amor e
(incondicionalmente)
cuidados com a criança
Elogiar a criança sempre que ela
Ser autoritária demais com a
faça algo corretamente ou está se
criança
esforçando
Deixar a criança expressar suas
Superproteger a criança
vontades e desejos e respeitá-la
Não deixar a criança experimentar
Dar oportunidade para a criança
coisas novas
para fazer coisas sozinha
Realizar atividades com prazer e Falta de espaço para brincadeiras
alegria Valorizar situações negativas e
Ambiente alegre e festivo trágicas
Deixar a criança criar e brincar
livremente Não estimular a criança
Oferecer materiais (seguros) para Regras rı́gidas ou severas
a criança brincar

Caracterı́sticas Familiares
O que fazer O que evitar
Conflitos familiares constantes
Valorizar um ambiente familiar Violência e/ou maus tratos com a
harmonioso e de confiança criança
Saber escutar a criança e observar Abandonar a criança no caso
seu bem-estar de morte ou separação de entes
queridos

Caracterı́sticas da Comunidade
O que fazer O que evitar
Importância de resgatar e Falta de espaços lúdicos e de lazer
valorizar a cultura local para a criança
Gestores e comunidade com Falta de coesão e solidariedade na
interesse pela criança comunidade
Para fazer um laço é necessário unir as pontas... 31

4. A Família como uma das Pontas do Desenvolvimento Infantil


A famı́lia, um dos primeiros ambientes de socialização do indivı́duo, atua
como conciliadora principal dos padrões, modelos e influências culturais
(Amazonas et al., 2003), é a primeira mediadora entre a pessoa e a cultura,
é considerada a origem de toda aprendizagem humana, com significados
e práticas culturais próprias que resultam na construção do indivı́duo e
da sociedade, bem como proporcionam a formação do comportamento,
das ações para resolução de problemas (Dessen & Polonia, 2007). É
considerada como a primeira instituição social que procura proteger,
transmitir valores, crenças, e significados que estão presentes na sociedade
(Kreppner, 2000). Ela tem, portanto, um impacto expressivo e forte
influência no comportamento das pessoas, principalmente das crianças, que
aprendem as diferentes formas de existir, de ver o mundo e construir as suas
relações sociais (Dessen & Polonia, 2007).
No ambiente familiar, a criança aprende a controlar as emoções, lidar
com as adversidades da vida, administrar e resolver conflitos, expressar
diversos sentimentos (Dessen & Polonia, 2007). Essas habilidades sociais
e suas expressões que são desenvolvidas primeiramente no âmbito familiar,
têm repercussões em outros ambientes com os quais a criança, o adolescente
ou mesmo o adulto convivem, ativando aspectos benéficos ou provocando
problemas e alterando a saúde mental e fı́sica dos indivı́duos (Del Prette
& Del Prette, 2001 apud Dessen & Polonia, 2007).
Por saber a relevância que o ambiente familiar tem no desenvolvimento
de habilidades sociais, cabe destacar alguns fatores que favorecem a
socialização das crianças como a segurança do apego interpessoal, a
observação do comportamento dos pais/mães e o compromisso mútuo entre
pais/mães e filhos/as (Koshanska et al., 2002). O modo como os pais/mães
cuidam da socialização do/a filho/a, e também o temperamento da criança
e a qualidade do relacionamento entre eles pode ajudar a prever se a
socialização será fácil ou difı́cil (Koshanska et al., 2002).
Outro fator de risco para o desenvolvimento infantil é a privação do pai
(Araujo, 2013; De Andraca et al., 1998; Barros et al., 2003; Cia et al.,
2005; Pilz & Schermann, 2007; Amorim et al., 2009; Almeida, 2009).
Alguns estudos apontam que a presença do pai é fundamental para o
desenvolvimento da criança (Manfroi et al., 2001).
Uma pesquisa feita por Pilz & Schermann (2007) realizada no
Municı́pio de Canoas/RS, utilizando o teste de Denver II, constatou
que 27% da amostra exibiu prevalência de suspeita de atraso no
desenvolvimento. Após análise de múltiplos fatores, perceberam que a
probabilidade de crianças cujas mães não recebem apoio dos pais na
criação dos filhos apresentarem suspeita de atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor é sete vezes maior do que aquelas cujas mães possuem
apoio dos pais. No estudo de Anme et al. (2012) no Japão aponta o apoio
32 Correa, Araujo & Israel

do cônjuge esteve significativamente relacionado ao desenvolvimento do


vocabulário das crianças avaliadas.
Diversos fatores interferem na relação da figura do pai no
desenvolvimento infantil nos aspectos social e motor, a saber:
harmonização da famı́lia, favorecendo um envolvimento mais afetivo
da mãe com os filhos; a dinâmica familiar, auxiliando nas atividades
domésticas e, dessa forma, transmitindo valores e exemplo de cooperação;
o envolvimento nos cuidados básicos (higiene, alimentação) das crianças,
assim aumentando a proximidade com os filhos/as; e também, as
brincadeiras que aumentam a interação entre pai e filho (Manfroi
et al., 2001). Portanto, constata-se que o pai atua como protetor do
desenvolvimento infantil, pela interação e relacionamento com a criança,
representação e apoio para a mãe e também por auxiliar nas condições
socioeconômicas da casa (De Andraca et al., 1998; Barros et al., 2003;
Almeida, 2009).
A neuroplasticidade ocorre principalmente e ricamente no inicio da vida
do ser humano e interfere diretamente nos aspectos individuais (criança),
ambientais (onde ela vive) e as tarefas propostas (atividades e movimentos
vivenciados). Bem como o desenvolvimento neuroplástico é suscetı́vel à
estimulação, originarão mudanças no comportamento motor desta criança,
repercutindo na determinação de um desenvolvimento neuromotor pleno,
com o aperfeiçoamento de todas as potencialidades e expansão do acervo
motor (Araujo, 2013).
Por fim, a famı́lia não é o único contexto em que a criança tem
oportunidade de acumular experiências e ampliar o seu repertório como
sujeito de aprendizagem e desenvolvimento (Formiga et al., 2004; Marques,
2001; Rego, 2003).

5. A Escola como Outra Ponta do Desenvolvimento Infantil


Um programa de educação em saúde na escola tem como objetivo
proporcionar um ambiente favorável ao desenvolvimento da criança.
Portanto, os familiares ou responsáveis pela criança devem estar atentos,
pois a qualidade da escola, além de ser determinante para a educação
sanitária e ambiental, contribui para a competência cognitiva e psicossocial
desta criança (Marshall, 2004).
Assim as atividades de sala de aula devem ultrapassam o pensar e
o aprender, atingindo campos da memória seletiva, raciocı́nio abstrato,
criatividade, pensamento lógico, tendo o/a professor/a como principal
fomentador dessas ideias (Marques, 2001). Também o movimento corporal
da criança deve ser estimulado dentro da sala de aula que favorece
um crescimento saudável e um desenvolvimento completo, favorecendo o
aprendizado.
Para fazer um laço é necessário unir as pontas... 33

Na concepção de Marques (2001) a escola, no século XXI, tem


como objetivo estimular a criança (estudante) a adquirir conhecimento
global, considerando o perfil sociocultural de cada um. Com isso,
Marques sinaliza três objetivos que devem ser conseguidos pelas escolas na
atualidade, são eles: desenvolver a cidadania e a habilidade de interferência
social; promover o desenvolvimento fı́sico, afetivo, moral, cognitivo e de
personalidade; gerar uma aprendizagem contı́nua, proporcionando formas
variadas de aprender e condições de inclusão no mercado de trabalho. Isto
necessita da promoção de atividades atreladas às esferas afetiva, motora,
social e cognitiva, de forma condizente a realidade de cada criança.
Portanto, o ambiente escolar é essencial para o progresso da sociedade
e da humanidade (Rego, 2003). Ele deve ser capaz de acompanhar a
evolução da globalização e informar os alunos, assim como seus funcionários
e pais, para se adaptarem as mudanças da atualidade, preparando-os para
as dificuldades, o que contribui para o desenvolvimento não só dos seus
alunos, mas de todos os indivı́duos.
Em sı́ntese, a escola é uma instituição de atividades educativas formais,
porém com uma responsabilidade no desenvolvimento e interação entre
diversos contextos da sociedade, incluindo a criança e sua famı́lia.

6. A Interação Entre as Pontas... o Laço


A introdução de modelos, teorias e maneiras práticas de propiciar a
interação entre a famı́lia e a escola, reconhecendo a contribuição e os limites
da famı́lia na educação infantil, é fundamental para “diversificar os sistemas
de ensino e envolver, nas parcerias educativas, as famı́lias e os diversos
atores sociais” (Delors et al., 2000, p. 56).
A famı́lia e a escola surgem como duas instituições fundamentais para
desencadear os processos evolutivos da criança, atuando como propulsores
ou inibidores do seu crescimento fı́sico, intelectual e social (Polônia &
Dessen, 2005).
O ambiente familiar tem forte influência na permanência do estudante
na escola, impedindo ou intensificando a evasão e a repetência na escola. As
caracterı́sticas individuais, a falta de hábitos de estudo, a ausência nas aulas
e os problemas de comportamento são determinantes para esta situação
(Dessen & Polonia, 2007 apud Fitzpatrick & Yoles, 1992). Por mais
que a escola contribua positivamente para reverter esses determinantes,
é necessário que o sistema escolar consiga a colaboração de outros agentes
de impacto na formação do aluno, incluindo a famı́lia (Dessen & Polonia,
2007 apud Fantuzzo et al., 2000).
Avaliar cada contexto é imprescindı́vel para identificar qualquer conflito
do desenvolvimento da criança e a comunicação entre as partes torna-se
condição determinante.
34 Correa, Araujo & Israel

7. Relato de uma Experiência em Projeto de Iniciação Científica


na Universidade
Uma explicação breve para quem não conhece o projeto. Um projeto
de iniciação cientı́fica (IC) procura atender uma missão da Universidade
denominada de pesquisa, que leva à inserção de estudantes de graduação,
previamente selecionados, para ações controladas e supervisionadas na
comunidade. No caso deste projeto de IC a pesquisa foi desenvolvida
em parceria com a secretaria de educação de um municı́pio do litoral
paranaense com a intenção de avaliar crianças pequenas e intervir com
estas crianças e suas famı́lias e com os profissionais das escolas. Após
a coleta dos dados referentes às avaliações do desenvolvimento infantil,
como finalização do estudo, houve uma devolutiva da equipe de pesquisa
da Iniciação Cientı́fica para os pais/responsáveis pelas crianças e outra para
a equipe pedagógica do CEI (Centro de Educação Infantil) que envolveu
professores/as, diretores/as, coordenadores/as, os quais foram convidados
a participar. O objetivo da devolutiva dos resultados do projeto foi instruı́-
los sobre a estimulação, o desenvolvimento e a saúde infantil.
Na reunião com familiares a orientação foi feita por meio de um jogo
de tabuleiro “gigante” em que os familiares eram os “peões” do jogo. Cada
casa do jogo continha orientações em saúde, como alimentação saudável
e vacinação, e formas de estimulação para idade especı́fica e áreas do
desenvolvimento neuropsicomotor. Em alguns locais do tabuleiro havia
jogos para que os pais vivenciassem como estimular seu filho por meio de
brincadeiras e do lúdico. Não foram considerados os detalhes das avaliações
individuais dos alunos, e nos casos identificados como risco foi solicitado
uma reunião para a famı́lia, os pais e/ou responsáveis para esclarecer a
situação de cada criança.
Os temas abordados na devolutiva com os familiares foram:
desenvolvimento infantil, estimulação precoce, alimentação adequada,
a importância da vacinação, os principais marcos motores no
desenvolvimento da criança, nutrição infantil, mitos e verdades no
conhecimento popular, o ambiente familiar adequado, e a importância da
troca de experiências entre a famı́lia, a escola e o profissional da saúde.
Na devolutiva para as educadoras e cuidadoras do CEI,
pesquisadores/as e profissionais da educação trocaram experiências
por meio de rodas de conversa. Houve uma orientação para os/as
educadores/as do CEI sobre estimulação motora para cada faixa etária
e como prevenir e identificar atrasos motores e psicomotores e como
estimular a criança durante as atividades do CEI. Esta devolutiva também
teve o objetivo de apresentar os resultados das avaliações das crianças.
Os principais temas abordados na devolutiva foram: desenvolvimento
infantil, promoção e prevenção de saúde na educação infantil, o cuidar e o
educar, o lúdico como forma de avaliação e tratamento, a importância da
Para fazer um laço é necessário unir as pontas... 35

interação famı́lia-escola, formas de acompanhamento do desenvolvimento


da criança, o que é considerado risco para o desenvolvimento infantil, as
maneiras de avaliar uma criança com métodos adequados.
As Figuras 2, 3, 4 e 5 são exemplos de algumas atividades desenvolvidas
no projeto.

Figura 2. Mãe participando de atividade lúdica. Colocar os objetivos,


coordenação motora global, identificação de cores.

Figura 3. A, B e C: Casas do Tabuleiro. As casas do tabuleiro tinham


diversos objetivos: informar sobre saúde da criança, orientar sobre marcos
do desenvolvimento infantil, estimular hábitos saudáveis, promover
brincadeiras que estimulam o desenvolvimento motor da criança.
Fonte: (Araujo, 2013).
36 Correa, Araujo & Israel

Figura 4. A e D. Casas do tabuleiro. Objetivo: Dicas sobre promoção da


saúde. B e C. Mães participando de atividade lúdica. Objetivo: informar
sobre saúde da criança, orientar sobre marcos do desenvolvimento infantil,
estimular hábitos saudáveis, promover brincadeiras que estimulam o
desenvolvimento motor da criança.
Fonte: (Araujo, 2013).

Figura 5. Equipe de pesquisa de Iniciação Cientı́fica.


Para fazer um laço é necessário unir as pontas... 37

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Capítulo 4

Geoprocessamento como Instrumento no


Processo Fisioterapêutico no Cuidado da Criança

Adriano Zanardi da Silva∗, Luize Bueno da Araujo e Vera Lúcia Israel

1. Introdução
Você já imaginou se pudesse saber onde estão as informações que você
precisa quando quisesse tomar uma decisão? Por exemplo, se precisasse
comprar algum produto e, ao abrir um caderno, tivesse a lista de preços de
todos os mercados para saber em qual ir antes de sair de casa? Pois bem,
é isso que muitas vezes algumas instituições tentam fazer ao realizar um
mapeamento dos locais.
Isso acontece na gestão municipal, estadual e federal. Levantamentos
são feitos em relação ao número de habitantes, renda, escolaridade,
doenças, preferências, etc. Tais estudos têm como objetivo conhecer
as regiões e o perfil de quem mora ali, para que as melhores tomadas
de decisões sejam feitas no momento de decidir como serão feitos os
investimentos e quais são as prioridades mais urgentes. Que tal conhecer
um pouco melhor como funciona todo esse processo e como ele pode ser
aplicado na saúde da criança de 0 a 5 anos?
Veja a seguir...

2. Geoprocessamento em Saúde
O uso de computadores para realizar um mapeamento na área da saúde
é algo novo, mesmo em âmbitos mundiais. Tal limitação se dava pelo
alto custo de implantação dos projetos, bem como pelas dificuldades de
montagem de bancos de dados. No entanto, a partir dos anos 90, houve
uma grande evolução na área, com um aumento do número de usuários
destes sistemas para o mapeamento digital, sendo possı́vel a construção de
mapas temáticos (Nardi et al., 2013).
O mundo, atualmente, encontra-se em um perı́odo de grande evolução
industrial e econômica. Para acompanhar essa evolução, a população
∗ Autor para contato: zanardiufpr@gmail.com

Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.04 ISBN 978-85-64619-19-7
42 da Silva, Araujo & Israel

em geral assume diversos padrões culturais, produtivos e de consumo.


Com isso, os indivı́duos, em seu dia-a-dia, são expostos às mais
diversas situações, condições e ambientes. No entanto, nem todas as
experiências vividas são favoráveis, podendo levar o sujeito à situações de
vulnerabilidade. São nesses momentos em que são expostas as diferenças
sociais causadas pela grande evolução e situação econômica mundial (Souza
et al., 2012).
Em cidades com menor densidade populacional, como Matinhos,
localizada no litoral do Estado do Paraná, no Brasil, podemos perceber
que os espaços estão sendo transformados pelo ser humano. Porém,
ainda conseguimos distinguir os espaços urbanos dos espaços rurais
(DATASUS, 2016). Nos espaços urbanos, onde encontramos a maior
concentração humana, percebemos que os seus centros dominam os recursos
destinados a todas as áreas: saúde, educação, segurança, saneamento
básico. Enquanto as regiões periféricas, mesmo das áreas urbanas, ficam
a mercê da precariedade e falta de acesso. Todas as áreas citadas, que
constituem quase que exclusividade das regiões centrais, desempenham
funções essenciais na vida dos cidadãos (DATASUS, 2016).
Os mapas temáticos são instrumentos poderosos na análise espacial do
risco de determinada doença, pois apresentam as seguintes caracterı́sticas:
descrevem e permitem a visualização da distribuição espacial do evento;
exploração das informações, sugerindo os determinantes locais do evento
e fatores etiológicos desconhecidos que possam ser formulados em termos
de hipóteses e apontar associações entre um evento e seus determinantes
(Malta et al., 2001).
O georreferenciamento é uma ferramenta que permite a análise e uma
avaliação de riscos à saúde coletiva, particularmente as relacionadas com
o meio ambiente e com o perfil socioeconômico da população, enquanto o
geoprocessamento é o conjunto de técnicas de coleta, tratamento e exibição
de informações referenciadas em um determinado espaço geográfico (Hino
et al., 2006).
A apresentação gráfica, por meio do mapa, torna a informação
mais acessı́vel, inclusive para a população, e pode ser estratégia
para a democratização do conhecimento. Geralmente, em regiões
muito próximas encontramos diferenças nas condições socieconômicas,
e perfil epidemiológico, por isso é necessário a construção de mapas
dinâmicos, criando fluxo permanente de monitoração da saúde no território,
contribuindo para a avaliação das polı́ticas públicas (Ferreira et al., 2012).
O trabalho de mapeamento geográfico abre espaço para outras áreas
que podem ser beneficiadas com o trabalho, que podem usufruir do projeto
já feito e promoverem mais benefı́cios à comunidade (Chiesa et al., 2002).
O ambiente dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) oferece
margem à integração de informações diversas, as quais poderão
proporcionar visão mais abrangente da situação no espaço. No entanto,
Geoprocessamento como instrumento no processo fisioterapêutico 43

a avaliação do pesquisador é imprescindı́vel, pois não há mecanismo


automático para a interpretação dos resultados construı́dos. A aplicação do
SIG na pesquisa em saúde oferece grandes possibilidades, possibilitando aos
pesquisadores aplicação de novos métodos para o manejo de sua informação
espacial, tornando-se uma poderosa ferramenta para conexão entre saúde
e ambiente (Hino et al., 2006).
O SIG possui capacidade para acessar e integrar diferentes nı́veis de
informações (vetoriais, raster, superfı́cie, dados de campo e endereços),
permite a apresentação e associação dos dados de diferentes formas
(tabelas, gráficos e mapas temáticos) e possibilita o mapeamento, a exibição
e a análise espacial dos dados relevantes para o processo de territorialização.
Além disso, o sistema manipula os dados como os demais sistemas de
informação e possui uma caracterı́stica marcante de interligar atributos
não espaciais a dados espaciais (Carvalho et al., 2000).
O SIG, entendido como tecnologia utilizada para o processamento
de informações advindas de várias fontes, permitem a visualização
socioambiental de um determinado espaço geográfico e possibilitam a sua
descrição e análise (Chiesa et al., 2002).
Hau et al. (2009) explicam que os métodos de análise espacial na
saúde vêm sendo usados principalmente em estudos ecológicos, para
detecção de aglomerados espaciais ou espaço-temporais, na avaliação
e monitoramento ambiental e vêm sendo aplicados ao planejamento e
avaliação de uso de serviços de saúde, buscando identificar espacialmente
áreas com caracterı́sticas especı́ficas, a fim de subsidiar programas ou
polı́ticas voltadas para a melhoria da saúde materno-infantil, e visando
aumentar a eficiência na utilização de recursos públicos, definindo áreas
prioritárias de atuação (Silva, 2013).

3. O Papel da Fisioterapia no Desenvolvimento Infantil


Albuquerque et al. (2011) apontam que o desenvolvimento infantil depende
das aquisições de aprendizado que emergem na medida em que a criança
se envolve ativamente com os ambientes fı́sico e social de seu cotidiano.
O processo de desenvolvimento caracteriza-se por mudança permanente
na forma como estas crianças percebem e lidam com o ambiente. Nessa
perspectiva ecológica, o desenvolvimento infantil influencia e é influenciado
ativamente pelas transações da criança com o meio em que vive. Assim
como Ferreira et al. (2011) citam que o Desenvolvimento Neuropsicomotor
(DNPM) refere-se às constantes mudanças e adaptações pelas quais
a criança passa do nascimento até o fim da vida. Tais mudanças
estão relacionadas aos processos de maturação, e englobam os aspectos
individuais da criança, as experiências adquiridas e sua interação com o
ambiente (Ferreira et al., 2011).
44 da Silva, Araujo & Israel

Durante o desenvolvimento a escola é o ambiente que mais fornece


experiências de formação, relacionando-se com todos os componentes do
desenvolvimento humano (fı́sico, cognitivo, emocional). Na escola as
crianças adquirem novos conhecimentos e habilidades, além de um maior
convı́vio e interação social (Papalia et al., 2009).
A avaliação de crianças na faixa etária pré-escolar e escolar é
extremamente necessária para a detecção de possı́veis atrasos no
desenvolvimento (Haywood & Getchell, 2010). Caso haja suspeita de
algum tipo de atraso, é necessário o encaminhamento destas crianças
para profissionais especializados, como fisioterapeutas e psicólogos, para
a formulação de um tratamento adequado. As intervenções psicomotoras
visam a estimulação precoce e prevenção de atrasos no desenvolvimento
por meio de atividades lúdicas.
No Brasil, a saúde da criança tem enfoque no acompanhamento do
crescimento e desenvolvimento infantil, incentivo ao aleitamento materno,
orientação da alimentação da criança, imunização, prevenção de acidentes
e atenção às doenças prevalentes na infância. Essas práticas constituem
elementos essenciais para proporcionar boas condições de saúde na infância
(Falbo et al., 2012). O acompanhamento de crianças e do processo de
DNPM reúne diferentes modalidades de triagem e avaliação, que incluem
pais, professores, fisioterapeutas, pediatras e demais profissionais. Nesse
processo é utilizada a anamnese, a observação da criança em seu ambiente,
a prática de atividades ou, ainda, a aplicação de instrumentos de triagem
(Zeppone et al., 2012).
O acompanhamento do desenvolvimento infantil deve ser em todos
os nı́veis de atenção, desde a primária, com atividades de promoção do
desenvolvimento tı́pico e da detecção precoce de problemas ou alterações.
Diante disso, afirma-se que os profissionais de saúde devem possuir
conhecimentos básicos sobre o desenvolvimento infantil, para que possam
fazer o seu acompanhamento de forma sistemática para todas as crianças
sob sua responsabilidade, a fim de decidir se há um problema para ser
investigado e qual tratamento adequado (Figueiras et al., 2005). A detecção
de possı́veis riscos em crianças, usando uma abordagem mais ampla,
contempla análise dos fatores de risco que contribuem para as desordens
da criança, tornando-a suscetı́vel ao enfrentamento das tarefas cotidianas.
Os riscos ao desenvolvimento podem estar presentes na própria criança,
como fatores genéticos, fı́sicos e psicológicos, ou no ambiente, como o nı́vel
socioeconômico e cultural, acesso e escolaridade (Mengel & Linhares, 2007).
Alguns estudos vêm demonstrando (Brito et al., 2011; Albuquerque
et al., 2011) que as dificuldades no desenvolvimento de crianças que irão
frequentar o ensino fundamental (pré-escolares) podem comprometer o
desempenho escolar e, futuramente, atividades acadêmicas ou profissionais.
Assim sendo, a epidemiologia surge na área infantil avaliando as condições
ambientais vinculadas aos fatores sociais, econômicos, de atenção à
Geoprocessamento como instrumento no processo fisioterapêutico 45

saúde e comportamentais da mãe na gestação, sempre a levar em


consideração a indissociabilidade dos fatores citados e o potencial de ação
sobre o desenvolvimento da criança (Brito et al., 2011). Portanto, o
profissional fisioterapeuta deve ser capaz de identificar sinais de alerta do
desenvolvimento infantil, identificar os fatores que causam estes problemas
e formular intervenções para cada fator, aplicando-as e verificando sua
eficácia (Oliveira et al., 2012).

4. Geoprocessamento: Experiência da Fisioterapia no


Município de Matinhos
O litoral do Paraná é uma das regiões menos desenvolvidas do Estado e
possivelmente da Região Sul do Brasil. A área em questão abrange sete
municı́pios localizados na faixa litorânea, maior reserva de Mata Atlântica
do paı́s. Os municı́pios que compõem a região são: Antonina, Morretes,
Guaraqueçaba, Paranaguá, Pontal do Paraná, Matinhos e Guaratuba.
A cidade de Matinhos, localizada no litoral paranaense, conhecida como
“namorada do Estado do Paraná” pela beleza natural e por ser fundada no
mesmo dia em que comemora-se o dia dos namorados (12 de junho), possui
atualmente aproximadamente 33.000 habitantes e uma área territorial de
116.544 Km (DATASUS, 2016).
Matinhos possui uma renda média domiciliar per capita de R$ 799,40.
Taxa de mortalidade infantil de 23,61 mortos a cada mil nascidos vivos.
Apresenta uma taxa de analfabetismo de 15 anos ou mais de 4,23%,
superior à de Curitiba, capital do Estado, que é de 2,13%. Seu Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,743, enquanto o de Curitiba é de
0,823 (DATASUS, 2016).
De acordo com a Secretaria Estadual de Educação (SEED), no ano de
2015, o municı́pio apresentava 671 alunos matriculados em creches, 846
alunos na pré-escola, 5193 alunos no ensino fundamental e 1412 no ensino
médio, perfazendo um total de 8.122 escolares (DATASUS, 2016).
Em média, as crianças iniciam sua vida acadêmica na creche aos 2
anos, porém pode ser antes, pois os Centros de Educação Infantil (CEIs)
admitem crianças a partir de 6 meses de idade. A partir dessa faixa etária
até os 6 anos, o municı́pio possui 2.189 crianças habitantes, porém, na
mesma faixa etária, possui 1439 matriculadas na rede pública de ensino,
e 35 na rede privada, totalizando 1474 crianças matriculadas (DATASUS,
2016).
Atualmente não existe um sistema de acompanhamento do
Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) de crianças escolares, mesmo
a nı́vel nacional. A Universidade Federal do Paraná - Setor Litoral,
com o curso de Fisioterapia, realizou diversas atividades formativas
voltadas para avaliação, intervenção e educação em saúde nos Centros
46 da Silva, Araujo & Israel

de Educação Infantil (CEI’s) e nas Escolas Municipais de Matinhos/PR,


bem como Projetos de Extensão, Iniciação Cientı́fica, Trabalhos de
Conclusão de Curso voltados para esta área, atividades formativas, etc.
Em todas as atividades foram realizados feedbacks (devolutivas) sobre o
projeto realizado, os dados obtidos e conversas com os profissionais dos
estabelecimentos de educação, famı́lia das crianças e comunidade escolar
em geral.
No entanto, muitos desses dados acabam se perdendo durante processos
de trocas de gestão (a nı́vel de turmas, escolar ou mesmo municipal)
ou são engavetados, fazendo com que não se aproveite o conhecimento
e a informação gerada. Com a criação de um sistema eletrônico de
acompanhamento, seria possı́vel verificar, por exemplo, se uma criança
melhorou em uma avaliação motora que em algum momento ela apresentou
alguma dificuldade. Ou mesmo se uma escola em que a maioria das
crianças apresenta dificuldades em determinada área do desenvolvimento,
com a criação de algum tipo de atividade extra, conseguiu melhorar esses
resultados.
Um projeto de pesquisa (iniciação cientı́fica) com essa intenção foi
criado como oportunidade para que se iniciasse este pensamento de
acompanhamento em longo prazo. Foi realizado, até o momento, além das
avaliações do DNPM, a criação de um mapa temático da região (Figura 1),
com a inserção dos CEIs, no qual quatro CEIs foram avaliados e inseridos
(CEI 1, CEI 2, CEI 3 e CEI 4), suas caracterı́sticas fı́sicas (dimensões,
espaços disponı́veis, número de alunos e professores) e os resultados das
avaliações citadas, podendo ser acessados ao escolher um CEI e clicar sobre
o mesmo (Figura 2).
Todas as estratégias para abordagem da relação entre saúde e
ambiente são, no entanto, desenvolvidas a partir de hipóteses previamente
estabelecidas. A fonte ou agente de risco são conhecidos e estudam-
se suas conseqüências sobre a saúde. Em seguida, o lugar é conhecido
(CEIs) e estuda-se a relação entre variáveis ambientais, sócio-econômicas e
de saúde. Feito isso, o agravo e sua etiologia são conhecidos e estuda-
se sua relação com fatores ambientais (estudos de acompanhamento,
longitudinais). Assim, os critérios utilizados para regionalização são
determinantes e são conseqüências do próprio processo de análise de dados
epidemiológicos, isto é, seu resultado (Barcellos & Bastos, 1996).
Muitas discussões, questionamentos e abordagens foram abordados nos
outros capı́tulos deste livro, aprofundando mais a questão do DNPM e
suas peculiaridades. O objetivo deste capı́tulo foi levantar é a necessidade
da continuidade e expansão de estudos que envolvam o mapeamento em
saúde. Mesmo que, se olharmos a quantidade de informações geradas
e mapeadas, ainda pode ser considerado superficial do ponto de vista
estatı́stico e geográfico (foi realizado por professores e alunos do curso
Geoprocessamento como instrumento no processo fisioterapêutico 47

Figura 1. Visualização do mapa temático criado de Matinhos. Pontos


destacados no mapa: CEIs estudados

de Fisioterapia da UFPR), porém levantou inúmeras questões que devem


receber uma atenção maior no meio acadêmico e polı́tico.
Quando se fala sobre o DNPM e mostramos caracterı́sticas especı́ficas
do litoral do Paraná, apresentamos condições que podem estar
influenciando, positiva ou negativamente, o crescimento e desenvolvimento
(fı́sico, psicológico, social e acadêmico) de crianças do litoral paranaense.
Isso apresenta uma relevância social, pois um devido acompanhamento
permite descobrir carências de estı́mulos e investimentos sociais, apontar
áreas deficitárias do desenvolvimento e dos CEIs (e também escolas),
fazendo com que fique mais claro onde deve destinar-se recursos e polı́ticas
públicas.
Como exemplos destas polı́ticas públicas pode-se citar duas: Polı́tica
Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) e Polı́tica
Nacional de Educação Infantil. A PNAISC que tem, dentre outros
objetivos, promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno,
mediante a atenção e cuidados integrais e integrados. Tais medidas
de proteção vão desde a gestação até os 9 (nove) anos de vida da
criança, em especiais cuidados com a primeira infância e às populações
de maior vulnerabilidade, visando a redução da morbimortalidade e um
ambiente facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno
desenvolvimento. Com isso, preconiza a identificação de situações de
vulnerabilidade e grupos de risco, fazendo com que seja discutido e
realizado uma articulação de um conjunto de estratégias intrassetoriais
48 da Silva, Araujo & Israel

Figura 2. Visualização dos dados inseridos ao clicar sobre um determinado


CEI. “Coord X” e “Coord Y” são os dados geográficos dos CEIs necessários
para inserção no programa; “ANO AVALIA” se refere ao ano em que a
avaliação foi realizada naquele determinado CMEI; “AVALIADOS” é o
número total de crianças avaliadas no CEI; “MASC” e “FEM” refere-se a
divisão por sexos (masculino e feminino); “QUESTNAVS” e “TIPICOS”
referem-se ao resultado da avaliação por uma escala, que pode ser
Questionável (com algum risco de atraso) ou Tı́pico (normal);
“PES SOCIAL” (pessoal-social), “MOTOR FINO” (motricidade
fina-adaptativa), “LINGUAGEM” e “MOTOR GROS” (motricidade
grossa/global) são as áreas que as escala avalia e quantos apresentam risco
de atraso nas mesmas.

e intersetoriais para a melhor solução das necessidades desta população


(Brasil, 2014).
No que tange aos objetivos da Polı́tica Nacional de Educação Infantil,
vemos que ela vem para elaborar padrões mı́nimos de infra-estrutura para
o funcionamento adequado das instituições de Educação Infantil, definir
o custo criança/ano da Educação Infantil, com base nos parâmetros de
qualidade, apoiar financeiramente os municı́pios e o DF na construção,
reforma ou ampliação das instituições de Educação Infantil, bem como na
aquisição de equipamentos, mobiliário, brinquedos e livros de literatura
infantil. Podemos, a partir disso, pensar que esta polı́tica tem sentido
complementar a PNAISC, pois considera a criança em sua totalidade e
também em suas diferenças, onde destaca o conhecimento do mundo através
do brincar. Também é destacado que a Educação Infantil (em CMEIs e
escolas) tem função complementar à ação da famı́lia, o que implica uma
profunda, permanente e articulada comunicação entre elas (Brasil, 2004).
Geoprocessamento como instrumento no processo fisioterapêutico 49

Tal articulação pode ser feita através de bases de dados de informações


sociodemográficas das regiões e de informações socioeconômicas e culturais
desta população infantil que ali reside, permitindo que seja implantado um
sistema de acompanhamento da saúde e educação destas crianças.
Atualmente, ainda acredita-se que a implantação destas bases de dados
cartográficas e o georreferenciamento têm elevado custo e dificuldade de
aplicação. No entanto, faz-se necessário cada vez mais. Quatro fatores
devem ser levados em conta: disponibilização da base de dados, programas
disponı́veis, desenvolvimento tecnológico e capacitação pessoal. Isso refere-
se a democratização das ferramentas, que são integradas e tem como
objetivo diagnosticar tendências e situações sociais (Barcellos & Ramalho,
2002).
A aplicação deste instrumento, o SIG, na pesquisa em saúde oferece
grandes possibilidades, possibilitando aos pesquisadores aplicação de novos
métodos para o manejo de sua informação espacial, tornando-se uma
poderosa ferramenta para conexão entre saúde e ambiente. O ambiente do
SIG oferece margem à integração de informações diversas, as quais poderão
proporcionar visão mais abrangente da situação no espaço. No entanto,
a avaliação do pesquisador é imprescindı́vel, pois não há mecanismo
automático para a interpretação dos resultados construı́dos (Hino et al.,
2006).
O SIG tem potencial para ser um grande aliado tecnológico a serviço
do planejamento, monitoramento e avaliação das ações de saúde da região.
A utilização dessa técnica tende a aumentar, seja na comparação e
acompanhamento das estatı́sticas vitais ou na organização espacial de
serviços de saúde e recursos humanos (Hino et al., 2006).
O que também deve ser levado em conta é a articulação de diferentes
setores e instituições, como as que foram mapeadas e geoprocessadas
no presente estudo e que configuram instâncias de organização da
comunidade (famı́lia, escola, universidade e governo). A partir delas,
que representam diferentes setores sociais ou governamentais, pode-
se iniciar uma ação intersetorial, com possı́veis efeitos sinérgicos, no
desenvolvimento econômico social, na superação da exclusão social e na
melhoria da qualidade de vida da população local (Chiesa et al., 2002).
50 da Silva, Araujo & Israel

“Nessa lógica, a escola não se limita ao ensino.


O serviço de saúde não se limita ao atendimento
das intercorrências ou ações preventivas. O ginásio
de esportes não se limita a oferecer seu espaço e
equipamentos. Cada serviço sediado numa dada
comunidade compõe uma rede de ação social. Essa
rede deve articular-se para identificar os problemas
e encaminhar soluções integradas” (Junqueira, 1998,
p. 19).

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Capítulo 5

Fisioterapia Neurofuncional:
Atualização de Intervenções na Infância

Tainá Ribas Mélo∗, Manoela de Paula Ferreira, Bruna Yamaguchi,


Vera Lúcia Israel e Luize Bueno de Araújo

1. Introdução
O objetivo deste capı́tulo é revisar e atualizar os principais recursos,
técnicas e métodos da Fisioterapia neurofuncional aplicada à infância na
atualidade, para assim trazer evidências conhecidas e atualizadas sobre
seus efeitos em crianças.
A Fisioterapia busca promover ao máximo a independência funcional,
por meio do ganho de habilidades motoras utilizando técnicas e
métodos com base em conhecimento cientı́fico que propõem a realização
de movimentos em diferentes condições ambientais e com diversos
instrumentos. Existe uma enorme variedade de recursos, tidos como mais
tradicionais até recursos alternativos.
Com base na prática e experiência clı́nica das autoras, buscou-se em
diversas bases de dados, livros, sites dos conselhos, informações sobre
métodos de intervenção em neuropediatria com combinações de termos
de métodos, técnicas e/ou recursos já consagrados e conhecidos, assim
como novos recursos, com objetivo de explanar as atualizações e evidências
cientı́ficas do uso dos métodos e recursos disponı́veis para crianças tı́picas
ou com desordens neuromotoras.
Foi realizada uma revisão integrativa seguindo 6 passos: pergunta
norteadora; busca na literatura; coleta de dados; análise crı́tica dos estudos
incluı́dos; discussão dos resultados e revisão integrativa. Após a seleção de
artigos, foram discutidos os seguintes temas:
1. Métodos e/ou técnicas utilizados pela Fisioterapia,
2. Métodos Integrativos e
3. Recursos Auxiliares Adicionais.
∗ Autor para contato: ribasmelo@gmail.com

Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.05 ISBN 978-85-64619-19-7
54 Mélo et al.

1.1 Panorama da intervenção em Fisioterapia neurofuncional


Os programas de intervenção em Fisioterapia neurofuncional, adulto ou
infantil utilizam-se de procedimentos com fundamentação teórica baseada
no controle dos movimentos pelo sistema nervoso central (SNC) (Bertoldi
et al., 2011) e na promoção, prevenção (Bertoldi et al., 2011; David et al.,
2013) e recuperação das funções sensório-motoras (Bertoldi et al., 2011)
buscando alinhamento, simetria e a melhor qualidade da funcionalidade
motora.
Na Fisioterapia neurofuncional infantil, também denominada de
Fisioterapia em neuropediatria, de maneira geral, os exercı́cios terapêuticos
objetivam melhora da funcionalidade (atividades motoras, marcha)
otimizando as capacidades e desempenhos da criança em atividades e
participação (Bailes et al., 2010).
A Fisioterapia tem como objetivo funcional final a promoção do
máximo de independência (Gannotti et al., 2014). Dentro desse papel
o fisioterapeuta intervém de forma a facilitar o ganho dessas habilidades
motoras por meio do incentivo de atividades fı́sicas (Bailes et al., 2011),
ao utilizar técnicas e métodos com base em conhecimento cientı́fico
e evidências, desde recursos tidos como mais tradicionais até recursos
holı́sticos e terapias integrativas (Schorne et al., 2015) que buscam integrar
a criança em suas dimensões afetivas, cognitivas e motoras (Israel &
Bertoldi, 2010).
Toda intervenção para ser considerada efetiva deve ser capaz de
produzir mudanças nos domı́nios de atividade e participação pelo modelo
da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), assim como na
qualidade de vida (Damiano, 2009). Neste sentido, a intervenção deve
envolver motivações que contribuam para alterações nas estruturas e
funcionalidade corporal, bem como adequações e otimizações ambientais,
para promover a melhor interação entre o indivı́duo e o ambiente (Israel &
Bertoldi, 2010).
Cabe ressaltar que para atender as necessidades individuais de cada
criança, muitas vezes é necessário combinar possibilidades e recursos
terapêuticos, dessa forma, a seguir o capı́tulo é estruturado com a revisão e
atualização sobre os principais recursos, técnicas e métodos da Fisioterapia
neurofuncional, apresentando as evidências e efeitos em crianças.

1.2 Apresentação e discussão sobre os recursos, métodos e técnicas


Após análise exploratória de recursos, métodos e/ou técnicas da
Fisioterapia neurofuncional na infância, os dados estão apresentados e
discutidos nas seguintes categorias apresentadas na Figura 1.
Fisioterapia Neurofuncional 55

Figura 1. Categorias de atenção em Fisioterapia. Fonte: as autoras

2. Métodos ou Técnicas Utilizados pela Fisioterapia


2.1 Cinesioterapia
A forma de intervenção mais tradicional é a cinesioterapia convencional
que utiliza de exercı́cios com finalidade terapêutica, foi uma das primeiras
técnicas a ser utilizada como tratamento, sendo precursora e a base de
métodos e/ou técnicas. A cinesioterapia, como o próprio nome diz, é a
terapia pelo movimento, na qual são utilizados exercı́cios que melhoram
a função motora, força muscular, a resistência à fadiga, coordenação e
a flexibilidade, por meio de exercı́cios passivos, ativos e ativos resistido
para prevenção, reabilitação ou ainda manutenção de determinadas funções
motoras. Tem como base teórica os conhecimentos anatômicos do corpo
humano, aplicados de acordo com a capacidade e demandas de cada pessoa
(Conti, 2011).
A seguir são descritos vários métodos de intervenção que se apropriam
da cinesioterapia na atuação em neuropediatria.

2.1.1 Intervenção ou Estimulação precoce


O termo intervenção, estimulação e/ou atenção precoce embora ainda seja
tema de discussão e não tenha definição de uma única nomenclatura, é
amplamente utilizado (Costa, 2013) e consiste em programas de intervenção
voltados preferencialmente para detecção e intervenção de crianças do
56 Mélo et al.

nascimento até os 5 anos de idade (Blauw-Hospers & Hadders-Algra, 2005;


Hadders-Algra, 2011), com perı́odo crı́tico descrito aos 7 meses (Hadders-
Algra, 2011), preferencialmente com inı́cio antes dos 9 meses de idade
corrigida (Blauw-Hospers & Hadders-Algra, 2005), considerados perı́odos
crı́ticos de plasticidade neural (Hadders-Algra, 2011).
Preferencialmente deve ter foco de atenção primária e preventiva por
meio de avaliações de atividades fı́sicas e demais fatores relacionados ao
desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) (David et al., 2013).
Essa intervenção é evidenciada como benéfica até mesmo em neonatos
prematuros, com efeitos positivos na mobilidade ativa, DNPM e como
incentivo à mineralização óssea (Eliakim et al., 2001; Litmanovitz et al.,
2003; Moreno et al., 2011), além de auxiliar no ganho de peso, e nı́veis
séricos de leptina o que também poderia estar relacionados a maiores
nı́veis de atividade fı́sica ao longo da vida (Eliakim et al., 2001). No
entanto outros estudos ainda são inconclusivos ou não apresentam respostas
significativas com relação à intervenção precoce sobre os aspectos motores,
e com alguma evidência de ganho nos aspectos cognitivos (Hielkema
et al., 2010; Hadders-Algra, 2011; Hielkema et al., 2011). Em populações
atı́picas, como no caso da sı́ndrome de Down, evidências apontam efeitos
significativos na aprendizagem e desenvolvimento por meio de programas
de intervenção precoces, sendo esses efeitos observados a longo tempo
(Connolly et al., 1984).
Com relação à frequência e intensidade desses programas dos 0-4 anos
existem protocolos variados em intensidade e tempo de intervenção (20-
30’), assim como em frequência (1 a 6 vezes por semana), geralmente com
maior frequência para protocolos com tempo de intervenção menores a 30
minutos (Timmons et al., 2012). Em prematuros, intervenções realizadas
ao menos 1x/semana em lactentes são consideradas intensas enquanto as
realizadas 1x/mês são menos intensas (Blauw-Hospers & Hadders-Algra,
2005).
Independente de todas essas lacunas referentes à quantidade e
intensidade parece haver um consenso de melhores evidências em
abordagens contextuais e/ou ecológicas, em que o ambiente e atividades
diárias sejam enfatizadas não só na terapia mas também em seu contexto
familiar (Ahl et al., 2005), e assim esses programas de intervenção trazem
melhores resultados quando associados à intervenção da criança em seu
ambiente real, seja ele o seu lar e/ou creche.

2.1.2 Terapia de Neurônios Espelho


O princı́pio para utilização de espelho em terapia, com objetivo de realizar
a Terapia por Neurônio Espelho (TNE) surgiu com descobertas na década
de 90, sobre a existência de neurônios espelhos nos lobos frontais e parietais.
Na TNE os exercı́cios são realizados em frente ao espelho com objetivo
de fornecer feedback visual para o membro parético, simulando a execução
Fisioterapia Neurofuncional 57

de movimentos normais pela imagem do movimento não parético (Pereira


et al., 2013). A TNE baseia-se no que a neurociência chama de “sistema de
espelho”: ao observar uma atividade motora o organismo pode ser capaz
de apreender indiretamente apenas observando aquele movimento. Ainda
não existem informações detalhadas se essa aprendizagem ocorre apenas
para atividades motoras mais elevadas ou ocorre também em atividades
sensório-motoras básicas (Watanabe et al., 2011).
Uma revisão sistemática atual (Bruchez et al., 2016) verificou que a
terapia espelho não tem efeito terapêutico significativo em crianças com
hemiparesia, no entanto, o treinamento simultâneo do membro superior
melhora a força muscular, a função e o uso diário do membro superior
parético.
A maior parte dos estudos é na população adulta, com evidência de
melhora da coordenação motora, força de preensão manual em membro
parético de paciente com Acidente Vascular Encefálico (AVE) (Pereira
et al., 2013), e com Paralisia Cerebral (PC) (Gygax et al., 2011).

2.1.3 Terapia por Contensão induzida


A Terapia por Contensão Induzida (TCI) é um tipo de intervenção intensiva
que visa à recuperação da função do membro superior (MS) parético de
pacientes com sequelas neurológicas e que apresentem hemiparesia. A
técnica é composta por três princı́pios, sendo eles, o treino de tarefa
orientada, a restrição do membro superior menos afetado durante 90% do
dia e a aplicação de um conjunto de métodos comportamentais para adesão
e transferência dos ganhos para as atividades funcionais do dia-a-dia do
paciente (Silva et al., 2010), sendo apontado como forma de intervenção
com nı́vel de evidência alta em crianças hemiparéticas (Damiano, 2009) e
preferı́vel quando comparado a métodos como Conceito Neuroevolutivo e
Facilitação neuromuscular proprioceptiva (Silva et al., 2010).
Há estudo (Gordon et al., 2007) que critique o uso da técnica
em crianças quando comparado a adultos pelo motivo que a criança,
diferentemente do adulto, provavelmente não teve, ou teve por curtos
perı́odos, experiência prévia de movimento tı́pico. Outro motivo seria
que na prática diária muitas das funções exigem uso bimanual, sugerindo
alternativas de treinamento intensivo semelhante ao da TCI só que
com uso bimanual, denominando de HABIT (Hand Arm Bimanual
Intensive Therapy) traduzido como terapia intensiva bimanual de membros
superiores (Gordon et al., 2007).

2.1.4 “Objetivo voltado/orientado à tarefa” (Goal-Directed Task )


Ao realizar uma tarefa visuo-motora há diversos processos que, em
conjunto, geram o movimento funcional (Nakayama et al., 2016). O
aprendizado motor envolve circuitos neuronais complexos ainda não
totalmente compreendidos. Percebe-se um maior envolvimento excitatório
58 Mélo et al.

de neurônios ao propor uma atividade direcionada a um objetivo funcional


(Yamashita & Petersen, 2016).
A demonstração ou as especificações da atividade são o primeiro passo
ao propor a ação, seguida pela preparação do indivı́duo para atingir o
objetivo. Durante a função, neurônios de feedforward e feedback corrigem
e mantém-se em sintonia com o objetivo, nas múltiplas fases que são
necessárias na finalização da ação (Nakayama et al., 2016). Toda essa
ativação cognitivo-motora é capaz de desenvolver e/ou incrementar, em
especial, atividades funcionais.
Há relatos de que o treino voltado à tarefa reduz o tempo de execução
da função cognitivo-motora, além de melhorar aspectos como a precisão e
a coordenação motora (Hung et al., 2010; Yamashita & Petersen, 2016).

2.1.5 Coordenação Bimanual


Atividades que envolvem a utilização de ambos os membros são comuns e
rotineiras na vida diária, e a dificuldade de realizar essas atividades traz
limitações funcionais (Kazennikov et al., 2002).
A coordenação bimanual promove a coordenação motora, com
envolvimento do planejamento motor e conta com duas maneiras de
utilização dos membros superiores: a coordenação bimanual simétrica
utiliza ambas as mãos com ação motora semelhante, como por exemplo,
bater palma ou carregar um objeto grande; na coordenação bimanual
assimétrica, cada mão executa uma tarefa diferenciada, como exemplo,
o uso de talheres, com a estabilização do alimento pelo garfo, e o corte com
a faca (Hung et al., 2013). Propostas de atividades sequenciais como, abrir
uma gaveta e pagar um objeto, são bastante utilizadas nas propostas de
atividades de coordenação bimanual assimétrica (Hung et al., 2010).
Essa habilidade é desenvolvida tipicamente nas crianças, com melhoras
significativas até os 5 anos de idade, com contı́nuo aprimoramento até os
15 anos, sendo realizado mais facilmente atividades bimanuais simétricas,
e posteriormente desenvolvida a habilidade motora bimanual assimétrica
(Hung et al., 2013). A proposta de treino com essas atividades abrange
ainda controle postural de estabilização e posição de outros segmentos
corporais, controle cognitivo e a seletividade de ativação muscular, sinergia,
redução de estereotipias (Kazennikov et al., 2002).
Os estudos experimentais têm dado ênfase no tratamento de crianças
com sequela envolvendo um dos membros superiores, como hemiparesias e
monoparesias de membro superior (Hung et al., 2010, 2013).

2.1.6 Terapia Neuromotora Intensiva (TNMI), PenguimSuitr ,


AdeliSuitr , Pedia Suitr , TheraSuitr
As terapias neuromotoras intensivas surgiram da proposição de que a
intensificação do treinamento poderia ocasionar maiores ganhos funcionas
Fisioterapia Neurofuncional 59

(Bower et al., 1996), embora ainda não haja consenso da melhor intensidade
e frequência no treinamento (Bailes et al., 2010).
Em crianças define-se como intensivas, ou terapias neuromotoras
intensivas, rotinas com curtos perı́odos de 2 (Bower et al., 1996) a 3-4h por
dia de exercı́cios (Bar-Haim et al., 2006; Carr et al., 2006; Bailes et al., 2008;
Christy et al., 2010) 5 vezes por semana (Scheeren et al., 2012) intercalados
com longos perı́odos de descanso ou terapia convencional (Christy et al.,
2010). Os perı́odos de descanso entre os módulos são justificados tanto
pela questão do estresse ocasionado pelas atividades intensivas como pela
necessidade da criança se envolver em outras tarefas que não somente a
reabilitação (Christy et al., 2010). É uma terapia que tem alto custo,
envolve dedicação exclusiva e para algumas crianças o uso do traje pode
ser desconfortável (Bailes et al., 2011). Nos Estados Unidos estima-se que
cada módulo pode custar 10 mil dólares (Christy et al., 2010).
Dentre as TNMI há denominações especı́ficas relacionadas ao tipo de
vestimenta e protocolo. De maneira geral encontraremos citações sobre
Penguimsuitr , AdeliSuitr (Shvarkov et al., 1997; Bar-Haim et al., 2006),
TheraSuitr (Bailes et al., 2010), Pedia Suitr (Scheeren et al., 2012) e
Terapia Neuromotora Intensiva (TNMI) (Neves et al., 2013, 2014), todos
com propostas semelhantes e alguns diferenciais quanto a vestimenta e o
seu momento de colocação.
De forma semelhante ao AdeliSuitr e TheraSuitr , o protocolo do Pedia
Suitr é parecido ao do TheraSuitr e utilizado na TNMI. De forma geral
a TNMI, assim como as demais terapias com protocolo intensivo consiste
em:
a) Aquecimento (incluindo massagem, alongamento, cinesioterapia com
mobilização ativa);
b) Exercı́cios resistidos em membros inferiores e superiores (gaiola com
cinesioterapia ativo resistido);
c) Exercı́cios resistidos com uso do traje (gaiola com os elásticos, prancha
de equilı́brio, bola, rolos, feijão, cama elástica);
d) Manobras de fisioterapia respiratória;
e) Treino de marcha (com uso do traje em terrenos irregulares, escada,
rampa, esteira, grama, barras paralelas sem e com obstáculos).
Cada módulo é realizado durante 5 semanas, 4 horas seguidas por dia
durante 5 dias na semana. Em cada sessão são previstas pausas para
descanso, hidratação e/ou toalete (Scheeren et al., 2012; Neves et al., 2013).
Com relação às evidências dos exercı́cios intensivos, são descritos
ganhos de habilidades motoras independente da modalidade: Fisioterapia
convencional, conceito neuroevolutivo ou terapias com trajes (Bower
et al., 1996; Bar-Haim et al., 2006; Carr et al., 2006; Christy et al.,
2010). Pesquisadores (Alagesan & Shetty, 2011) defendem que o traje
60 Mélo et al.

(suit) associado à gaiola com os “elásticos” proporciona às crianças uma


estabilização do tronco com consequente facilitação dos movimentos de
membros superiores e inferiores ao mesmo tempo que estimula as aferências
proprioceptivas, táteis e vestibulares, as quais agiriam de forma a estimular
conexões cerebrais que foram acometidas com a lesão encefálica, permitindo
funcionalizar o tônus, manter e melhorar o alinhamento postural, favorecer
a aquisição da marcha, melhorar o equilı́brio e coordenação, força e
resistência muscular. Há ainda o fato de serem evidenciados ganhos
permanentes (Bar-Haim et al., 2006) em testes de retenção, o que leva a
efetividade, assim como impactos positivos na funcionalidade e qualidade
de vida (Dilenno & Atkinson, 2006), diferenças pela GMFM-88, mas não
pela GMFM-66 e pela análise qualitativa do movimento (Carr et al., 2006).
Contrariando esses achados pesquisas não evidenciaram diferenças nas
funções motoras (GMFM-66) e nas AVD’s (PEDI) com uso desse tipo
de intervenção (Bailes et al., 2008). Há ainda autores que identificaram
que possivelmente a intensidade dos exercı́cios e não o uso do traje seria
responsável pelos efeitos positivos pela GMFM-66 e PEDI (Bailes et al.,
2011). Além disso, parece haver melhor resposta em crianças menos
comprometidas, nı́veis I e II pelo GMFCS (Sistema de Classificação da
Função Motora Grossa) (Christiansen & Lange, 2008).
Alguns aspectos negativos nos protocolos intensivos de reabilitação são
relatados e devem ser pensados e planejados no caso da escolha por esse tipo
de intervenção: fadiga, abandono ao tratamento devido à intensidade dos
mesmos (Christiansen & Lange, 2008) e alto custo (Christy et al., 2010).

2.1.7 Treino de marcha com suporte parcial de peso (SPP)


A recuperação ou ganho da função da marcha em crianças com desordens
neuromotoras é de grande expectativa para pacientes e familiares,
principalmente para aqueles em que a marcha independente é difı́cil e,
muitas vezes, quando realizado de forma atı́pica (Haupenthal et al., 2008).
Na PC cerca de 90% das crianças apresentam alguma dificuldade nessa
função (Mattern-Baxter, 2009). O treino de marcha com suporte parcial
de peso foi uma estratégia para facilitar o treino para pacientes, por reduzir
as necessidades de ajustes posturais, assim como permitir ao fisioterapeuta
um treino com maior segurança (Day et al., 2004; Damiano & DeJong,
2009).
Trata-se de um treino especı́fico, orientado à tarefa, permitindo a
simulação do padrão locomotor que por repetição poderia estimular os
circuitos neurais (Day et al., 2004; Damiano & DeJong, 2009), com ativação
de respostas automáticas recı́procas (Mattern-Baxter, 2009). Crianças
e familiares relatam melhora na qualidade de vida com esse tipo de
intervenção (Dieruf et al., 2009). Há estudos que relatam melhora na
velocidade e resistência da marcha durante a deambulação em crianças com
PC (Dodd & Foley, 2007; Mattern-Baxter, 2009; Willoughby et al., 2010;
Fisioterapia Neurofuncional 61

Kurz et al., 2011) e melhora na função da marcha em crianças com atraso


no desenvolvimento (Lowe et al., 2015). Outros (Johnston et al., 2011)
relatam que a melhora evidenciada não é superior ao treino convencional.
Assim, quando analisados individualmente alguns estudos demonstram
melhora, porém quando avaliados de forma sistemática existem limitações
nas evidências (Molina-Rueda et al., 2010) e por esse motivo duas revisões
sistemáticas (Damiano & DeJong, 2009; Mutlu et al., 2009) e uma meta-
análise (Molina-Rueda et al., 2010) foram realizadas. Embora a maioria dos
estudos seja voltada a crianças com PC, a evidência para essa população
(Damiano & DeJong, 2009; Mutlu et al., 2009) assim como para os casos
de lesão medular ainda é fraca, sendo verificada elevada evidência do treino
com SPP para crianças com Sı́ndrome de Down (Damiano & DeJong, 2009).
Apesar das contradições com relação aos efeitos, vantagens ligadas
ao método são: segurança para o paciente, possibilidade de fornecer o
input sensorial e o terapeuta poder incentivar a trı́plice flexão (movimento
realizado durante a marcha), menor gasto energético para o paciente,
controle do suporte de peso com objetivo de favorecer que seja realizado
movimento voluntário e possibilidade de se aumentar a velocidade de treino
devido ao suporte fornecido e o deslizamento da esteira (Haupenthal et al.,
2008). O SPP utilizado varia, mas na maioria é de 30% de retirada de carga
(Matsuno et al., 2010). Seu efeito positivo sobre a marcha de crianças PC
é favorecido com treino em piso fixo provavelmente por se aproximar mais
do ambiente real da criança (Matsuno et al., 2010).
A intensidade e tempo de tratamento ainda não têm um consenso,
necessitando de estudos com critérios melhor definidos (Haupenthal et al.,
2008).

2.1.8 Conceito Neuroevolutivo / Bobath


Conhecido como método Bobath ou Conceito Neuroevolutivo, foi criado
e descrito por Berta Bobath e Karel Bobath (Sá et al., 2004; Castilho-
Weinert & Forti-Bellani, 2011) na década de 40, com uma nova abordagem
de intervenção, que até então apresentava base em modelos ortopédicos
(Raine et al., 2013). É considerada uma das formas mais utilizadas
no mundo por fisioterapeutas, e consiste em proporcionar estimulação e
facilitação de movimentos de maneira a ensinar ao encéfalo lesionado as
habilidades motoras dentro de padrões mais próximos do desenvolvimento
tı́pico. Não segue um protocolo especı́fico de treinamento e sim proporciona
experiências de movimento com o fisioterapeuta facilitando a aquisição
de habilidades funcionais. São realizados alongamentos, facilitações de
movimento tı́picos, inibições de padrões atı́picos (Bar-Haim et al., 2006)
tendo por base a capacidade de neuroplasticidade com possibilidade de
recuperação funcional (Raine et al., 2013) para pessoas com desordens
neuromotoras, sendo bastante utilizado em crianças com PC (Knox &
Evans, 2002).
62 Mélo et al.

Alguns estudos (Pagnussat et al., 2013) apontam que os manuseios


e facilitações desse método propiciam maior ativação muscular e
por consequência facilitariam o (re) aprendizado de movimentos,
principalmente quando os movimentos são realizados em diagonais.
Apesar da grande quantidade de adeptos dessa forma de intervenção,
com foco em padrões de movimentos tı́picos, há poucas evidências de
vantagens dessa forma de intervenção realizada de forma individualizada
sobre as demais formas de tratamento.
Sabe-se que o DNPM é multifatorial e relacionado a fatores contextuais
e, quantificar isso dentro da terapia é complexo, não sendo possı́vel esperar
que apenas um único método possa solucionar por si só a complexidade do
DNPM (Butler & Darrah, 2001).
Atualmente as evidências de efeitos dessa intervenção individualizada e
baseada em facilitações e inibições são fracas (Damiano, 2009) até porque
não parece haver prejuı́zo no uso de bolas e rolos para a reabilitação, mas
também não parecem oferecem estı́mulos próximos ao variado ambiente
real da criança (Dusing & Harbourne, 2010). Ainda assim é uma das
formas mais utilizadas de tratamento por fisioterapeutas que atuam em
intervenção em neuropediatria (Raine et al., 2013).

2.2 CuevasMedekr e Gravity Force Stimulation (GFS)


Criado pelo fisioterapeuta chileno Ramon Cuevas (Cuevas, 2014), a Gravity
Force Stimulation (GFS) busca “normalizar” o sistema sensorial por meio
de exercı́cios e ativações para o sistema nervoso para regulação tátil,
propriocepiva e vestibular. A GFS contribui para melhora funcional do
equilı́brio e marcha. Utiliza recursos para suporte e estabilidade para
promover alterações sobre o equilı́brio e habilidade de marcha, parte do
pressuposto de que a ação da gravidade associada a produção de movimento
contribuem para os ajustes posturais e funcionalidade (Thabet & Kamal,
2011).
Apesar de já ser um método com bastante utilização em pacientes
neurológicos, ainda são escassos os trabalhos que sugiram as evidências
de seus efeitos.

2.2.1 Integração sensorial


A terapia de integração sensorial utiliza a informação sensorial para
emergência de padrões funcionais mais adequados. Isso porque crianças
com desordens neuromotoras apresentam muitas vezes déficit das funções
sensoriais, com repercussões sobre as funções motoras (Moberg-Wolff et al.,
2013), uma vez que os sistemas interagem entre si para a execução da tarefa
motora. Algumas técnicas utilizam seus princı́pios e conhecimentos, como
nas intervenções em ambientes multissensoriais.
Fisioterapia Neurofuncional 63

2.2.2 Snoozelen / ambientes multissensoriais


O Snoezelenr , foi desenvolvido na Holanda, em 1975 (Bauer et al.,
2015), com a palavra indicando (snuefflen= procurar, explorar; doezelen=
descanso, relaxamento) (Merrick et al., 2004) com objetivo de estimular
a exploração do ambiente ao mesmo tempo em que incentiva aspectos
cognitivos e emocionais, por meio da vivência sensorial em sala equipada
com instrumentos, equipamentos e materiais que oferecem variabilidade
de estı́mulos (Bauer et al., 2015) em diversos sentidos: tátil, visual,
olfativo, auditivo, vestibular e proprioceptivo, por meio de equipamentos
organizados em sala de estimulação (Lopes et al., 2015; Jamshidi Manesh
et al., 2015). É utilizado para intervenção com crianças com desordens
sensório-motoras, como a sı́ndrome de Rett (Lotan & Shapiro, 2005),
alterações intelectuais e/ou comportamentais (Merrick et al., 2004; Nasser
et al., 2004).
É, portanto um método de estimulação sensorial por meio da utilização
de ambientes multissensoriais, tendo como princı́pio teórico de que o
ambiente natural apresenta uma diversidade destes estı́mulos (Merrick
et al., 2004).

2.2.3 Plataforma vibratória


Atualmente existem diferentes tipos de aparelhos de vibração utilizados
para o treinamento e para a reabilitação fı́sica. Esses aparelhos propiciam
oscilação que se propaga para todo o corpo, e que, terapeuticamente, devem
sem combinados com alguma forma de exercı́cio e atividade muscular,
com possibilidade de melhoras no desempenho da força dinâmica e da
flexibilidade (Batista et al., 2007), espasticidade (Krueger-Beck et al., 2010;
Ibrahim et al., 2014) com repercussões sobre a movimentação voluntária
(Ibrahim et al., 2014) enquanto alguns estudos não evidenciaram qualquer
tipo de efeito (Batista et al., 2007).
Essa técnica vem sendo utilizada em várias condições de saúde,
incluindo pessoas com alterações neuromotoras como a PC (Ahlborg et al.,
2006; Ibrahim et al., 2014) e Doença de Parkinson (Ebersbach et al., 2008).
Um estudo randomizado organizado por Ahlborg et al. (2006) realizado
com adultos com paralisia cerebral verificou que intervenção de 8 semanas
de treinamento com vibração promoveu aumento da força muscular,
melhora da função motora grossa e melhora da espasticidade em extensores
do joelho.

2.2.4 Equoterapia
A equoterapia ou hipoterapia é uma forma de intervenção feita sobre o
cavalo que oferece inputs sensoriais que auxiliam nos objetivos terapêuticos,
por meio do movimento do cavalo (Dewar et al., 2015). É uma prática
interdisciplinar da saúde, educação e equitação e deve ser feita após uma
avaliação médica, psicológica e fisioterapêutica (Silva & Aguiar, 2008).
64 Mélo et al.

Nesta prática o movimento tridimensional do galope do cavalo é


um método cinesioterapêutico, psicológico, social e pedagógico de forma
a ampliar o repertório motor e emocional do paciente, promovendo
ajustes tônicos, alinhamento corporal, coordenação motora, força muscular,
organização espacial e temporal, equilı́brio, flexibilidade, consciência
corporal e controle de ansiedade (Silva & Aguiar, 2008; Araújo et al., 2010).
São poucos os produtos cientı́ficos sobre o tema da equoterapia. Este
método foi aprovado em 1997 pelo Conselho Federal de Medicina e a Lei
5499/05 inclui a equoterapia entre os serviços especializados oferecidos pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) (Araújo et al., 2010).

2.2.5 Facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP)


Conhecido como método Kabat, foi desenvolvido com base nos conceitos
para recrutamento de unidades motoras, atividade reflexa, irradiação,
indução e inervação recı́proca, de forma a que o movimento seja pela
excitação dos motoneurônios, de forma que músculos fracos ou paréticos
possam ser favorecidos. Os movimentos são realizados em padrões
de sinergia muscular originando os padrões de movimentos funcionais
almejados (Sá et al., 2004).

2.2.6 Psicomotricidade
Pode ser considerada uma especialidade e constitui área de conhecimento
e práticas de atuação multi e interdisciplinar. A psicomotricidade auxilia o
indivı́duo a integrar suas atividades funcionais a percepção do movimento
efetivo e promove a interação entre o gesto motor e o sentido social e
ambiental da produção de movimento (Israel et al., 2014).
Desta forma, tais atividades trabalham no desenvolvimento motor,
sensorial, cognitivo, social e psicológico e ampliam a criatividade. Com
utilização de estratégias lúdicas adequadas a cada faixa etária, que utilizam
a brincadeira como recurso para o aprendizado com a utilização de
dimensões como funções motoras, cognitivas e afetivas, com utilização de
diferentes recursos como jogos e brinquedos de todos os tipos (Israel et al.,
2014).
Partindo do pressuposto que o processo de desenvolvimento progride do
geral para o especı́fico, há a necessidade de se explorar a aquisição motora
em todas as faixas etárias, de maneira global e variável, de acordo com
cada sujeito. Para isso a psicomotricidade utiliza alguns elementos básicos
como esquema corporal, estruturação espacial, lateralidade, orientação
temporal, ritmo, motricidade global e especı́fica. Tais elementos favorecem
o desenvolvimento de noções de tempo e espaço (Rossi, 2012).
Neste sentido, as atividades lúdicas da psicomotricidade irão permitir
que a criança desenvolva uma compreensão da forma como seu corpo se
move e das relações que ela faz com o ambiente que vive (Rossi, 2012).
Fisioterapia Neurofuncional 65

Além de ser uma área de conhecimento utilizada para promoção,


prevenção e reabilitação em saúde pode auxiliar na aprendizagem escolar,
contribuindo para um fenômeno cultural que consiste de ações psicomotoras
exercidas sobre o ser humano de maneira a favorecer comportamentos e
transformações.

3. Métodos Integrativos
Desde 1960 há uma busca por novas terapias na área de saúde,
relacionadas a diferentes fatores, dentre eles, insatisfação da atenção em
saúde fragmentada, mudanças no perfil do desenvolvimento das doenças
com maior aparecimento das doenças crônico-degenerativas, aumento
da expectativa de vida, busca por uma maior autonomia no processo
terapêutico, dúvidas e receios quanto a reações adversas de intervenções
medicamentosas e cirúrgicas e busca pelas causas das alterações em saúde
(Otani & Barros, 2011). Essa busca pela integralidade em saúde acaba por
estar em consonância com a visão contextual e ampliada da saúde proposta
pela CIF na busca pela compreensão do indivı́duo em sua totalidade.
Neste sentido, surgem as terapias integrativas que visam promover
saúde de forma a equilibrar nossa vida. A integralidade ao cuidado
à saúde, proposto pelas terapias complementares, é uma das diretrizes
aprovadas na 8a Conferência Nacional de Saúde e colocada como princı́pio
doutrinário do Sistema Único de Saúde (SUS) (Thiago & Tesser, 2011).
Tais técnicas buscam entender para que adoecemos, e assim, como tratamos
a causa, origem dos nossos sintomas. Desta forma, as terapias alternativas
aprofundam-se na causa dos problemas em saúde, normalmente explicados
por questões de estilo de vida, experiências vividas de maneira traumática
e em isolamento e relações ambientais (Otani & Barros, 2011).
A busca por métodos alternativos de atenção em saúde tem crescido
no mundo, em especial no Brasil, estes podem contribuir em todas as
intervenções em saúde, buscando uma melhor adaptação à medicações e
a própria desmedicalização parcial (Thiago & Tesser, 2011).
Dentro deste paradigma de terapias integrativas, no cenário da atenção
em saúde, destacam-se a Fisioterapia Aquática, Osteopatia, Leitura
Biológica, Nova Medicina Germânica, Microfisioterapia e Bioalinhamento,
técnicas inovadoras que buscam conhecer a causa das alterações em saúde
(Schorne et al., 2015). Tais técnicas buscam por meio de terapia manual,
investigar junto ao paciente o que os levou a desenvolver determinadas
doenças. Pelo toque corporal e informações verbais do terapeuta e do
paciente são aplicadas correções corporais na busca pelo equilı́brio corporal
(Souza, 2015). Todos os métodos integrativos citados podem ser utilizados
em crianças com desordens neuromotoras, porém escassos e até inexistentes
66 Mélo et al.

são as publicações a respeito das mesmas, consistindo em uma lacuna que


precisa de maiores investigações.

3.1 Fisioterapia aquática


A Fisioterapia aquática (FA), também conhecida como hidrocinesioterapia
ou hidroterapia é utilizada para reabilitação de crianças com desordens
neuromotoras e como forma de promoção à atividade fı́sica (Garcia et al.,
2012; Schmitz & Stigger, 2014), de maneira complementar à Fisioterapia
convencional em solo. Nesse sentido a FA consiste em exercı́cios que
utilizam as propriedades fı́sicas da água como pressão hidrostática,
empuxo, flutuação, viscosidade, tensão superficial e turbulência (Israel &
Pardo, 2000) quando em imersão (Schmitz & Stigger, 2014) para redução da
dor, ganho de força e alongamento muscular (Camilotti, 2013) e, também
utilizada na reabilitação de crianças favorecendo a funcionalidade (Schmitz
& Stigger, 2014) e em outras patologias pediátricas (Fragala-Pinkham
et al., 2009) para melhora na função motora grossa (Dimitrijevic et al.,
2012; Lai et al., 2014). Alguns estudos sugerem limitada evidência para essa
população, principalmente pela baixa qualidade metodológica dos estudos
(Jacques, 2010; Gorter & Currie, 2011), e por questionar a possibilidade de
transferência de aprendizagem motora (Silva et al., 2009), outros sugerem
efeitos positivos, mas sem séries de casos sugerindo maiores investigações
(Fragala-Pinkham et al., 2009).
Há estudo que relate que a utilização da FA aumenta a adesão à
intervenção e diminui o número de faltas à sessão, devido à motivação que
o ambiente aquático proporciona aos pacientes (Fragala-Pinkham et al.,
2009) provavelmente por funcionar como um ambiente lúdico (McManus
& Kotelchuck, 2007). Em bebês de risco ao DNPM ainda são escassas
as evidências cientı́ficas, podendo, no entanto, consistir em meio auxiliar
e de estimulação diferenciada, a qual poderia favorecer o incremento de
algumas habilidades motoras por meio de transferência de aprendizado.
Essa transferência de aprendizado favorecida pelo ambiente aquático é
citado no estudo de McManus & Kotelchuck (2007) em programas que
associam a intervenção tradicional em solo mais a FA.
Existem vários métodos e/ou formas de FA, um exemplo que considera
aspectos de ganhos motores dentro da água, de forma gradual e com
interação entre os participantes, é o método Halliwick. Esse método tem
como princı́pios a associação do controle da respiração, equilı́brio, liberdade
de movimentos, e por esse motivo não indica uso de flutuadores (Garcia
et al., 2012) e que permite a participação direta do familiar durante a
terapia.
Essa forma de FA também favorece o estı́mulo a atividades lúdicas
e psicomotoras constituindo em fator ambiental à promoção de saúde e
qualidade de vida (Garcia et al., 2012). Em crianças com PC evidências
Fisioterapia Neurofuncional 67

sugerem melhor modulação do tônus e adequação postural por meio da FA


(Yamaguchi et al., 2015).

3.2 Acupuntura
A acupuntura é um método de intervenção que utiliza agulha para
promover um estı́mulo-organizador e equilı́brio orgânico, por meio de
um raciocı́nio terapêutico que envolve múltiplas variáveis a respeito da
fisiologia (Bellotto Junior et al., 2005). No Brasil a utilização da
acupuntura tem sido crescente, como forma de terapia integrativa, com
necessidade de maiores comprovações cientı́ficas (Palmeira, 1990).
Em crianças o uso de agulhas é realizado geralmente a partir
dos 7 anos de idade, mas com poucas publicações em crianças com
desordens neuromotoras. Uma alternativa ao uso em crianças é utilizar
sementes em pontos na orelha (auriculoterapia) ou laser nos pontos
de acupuntura. Estudos internacionais sobre acupuntura em crianças
com desordens neuromotoras apresentam evidências divergentes: uma
pesquisa em crianças com PC não encontrou diferença significativa na
administração concomitante de acupuntura à Fisioterapia (Duncan et al.,
2012). Outras pesquisas evidenciaram efeitos positivos em crianças com
PC, na modulação da espasticidade (Dabbous et al., 2016), força muscular
e aquisição do sentar em bebês (Zhang et al., 2015) e AVD’s (Yang
et al., 2015). Também são percebidos efeitos positivos por meio da
auriculoterapia em crianças com PC no tratamento de alterações associadas
como ansiedade e distúrbios do sono (Lai et al., 2015), sem serem
relatados efeitos adversos significativos, o que demonstra uma possibilidade
terapêutica coadjuvante promissora, assim como a necessidade de maiores
investigações cientı́ficas.
Um estudo multicêntrico randomizado e controlado (Wu et al.,
2015) verificou o efeito da acupuntura associada ao exercı́cio fı́sico na
aprendizagem em pessoas com AVE. Participaram do estudo 364 pessoas
divididas em grupo controle e experimental. Notou-se que o grupo
experimental apresentou após 4 semanas de tratamento melhoras na função
motora e redução dos comprometimentos neurológicos inclusive no perı́odo
de destreino que ocorreu até o 5 mês após o término do programa de
tratamento.

3.3 Osteopatia
A osteopatia é uma técnica de terapia manual recentemente inserida no
currı́culo da Fisioterapia, faz diagnóstico palpatório de bloqueios tissulares
e de manipulações em disfunções e/ou lesões, de maneira a promover uma
melhora no que se encontra alterado. A osteopatia entende que a estrutura
determina a função e devem ser tratadas de forma indissociada (Schorne
et al., 2015).
68 Mélo et al.

Foi criada nos Estados Unidos por Andrew Taylor-Still (1828-1917) e


envolve várias técnicas especı́ficas para tratar alterações neuromusculares
para reduzir dor, aumentar a mobilidade das articulações e alongar de
forma duradoura os tecidos moles que restringem a mobilidade, auxiliando
a autocorreção corporal (Arcanjo et al., 2010).
Assim como Gemelli (2014), a revisão sistemática de Cerritelli &
Ruffini (2016) avaliou a eficácia da osteopatia em pacientes com doenças
neurológicas e verificou que os estudos são escassos, heterogêneos e de baixa
qualidade metodológica, o que reforça a necessidade da realização de mais
estudos aprofundados na área.

3.4 Leitura biológica


Outra técnica, recente no Brasil, é a Leitura Biológica ou também
conhecida como Nova Medicina Germânica. A Leitura biológica tem por
princı́pio explicar a causa, o desenvolvimento e a cura das doenças, por
meio da identificação do evento especı́fico desencadeador de alterações
sistêmicas, incentivando assim o processo de auto-cura, podendo ser
utilizada conjuntamente com a Microfisioterapia (Schorne et al., 2015).

3.5 Microfisioterapia
A Microfisioterapia é um método de Terapia Manual desenvolvida na
França em 1983 pelos fisioterapeutas e osteopatas Daniel Grosjean e Patrice
Benini. Sua base teórica está na embriologia, filogênese e ontogênese.
A Microfisioterapia consiste em identificar a causa primária de uma
doença ou sintoma e estimular a autocura por meio de técnicas para
reprogramação celular e tecidual (Schorne et al., 2015).
Nessa técnica o fisioterapeuta realiza micropalpação seletiva dos
folhetos embrionários, identificando memórias que se instalaram, e
provocaram sintomas corporais (Schorne et al., 2015) de modo que o corpo
reconheça o fator agressor e inicie o processo de correção e reparo da ação.
A agressão pode gerar cicatrizes que atrapalham o funcionamento celular
gerando um sintoma.

3.6 Bioalinhamento
O Bioalinhamento por sua vez, foi desenvolvido no Brasil pelos
Fisioterapeutas Adaylton Leonel de Souza, Adalton Leonel de Souza e
Cı́ntia Frigo Leonel. É um método que se baseia na relação entre os
conflitos biológicos inscritos durante a vida e as “doenças” orgânicas por
eles gerados, oferecendo uma abordagem transpessoal como elo alinhador
das funções normais do organismo integral.
Na terapia são utilizados toques corporais e informações verbais
especı́ficas como estı́mulos de correção da informação que gerou uma
agressão ao organismo, gerando um sintoma. A técnica é ampliada por
estudos da Nova Medicina Germânica, Embriologia e Fı́sica Quântica,
Fisioterapia Neurofuncional 69

além de noções de Antroposofia, Etologia Animal e Psicologia Transpessoal


(Souza, 2015).

4. Recursos Auxiliares Adicionais


4.1 Bandagem neuromuscular
A bandagem neuromuscular, também recebe a denominação de Kinesio
Taping r age por meio de estimulação de receptores somatossensoriais
os quais são aferências do estı́mulo que ascendem à medula e córtex
somatossensorial podendo então auxiliar na diminuição da dor. Além disso,
tem como proposta corrigir a função muscular, auxiliar na estimulação
sanguı́nea e linfática (Zavarize & Martelli, 2014).
A Kinesio Taping (KT) especificamente foi desenvolvida por Kenzo
Kase, na década de 80, no Japão e só cerca de 10 anos depois nos EUA
(Zavarize & Martelli, 2014). O fato da bandagem ser elástica a faz funcional
por permitir o movimento assim como fluxo de fluı́dos (Zavarize & Martelli,
2014).
Um ensaio clı́nico randomizado com grupo controle (Kaya Kara et al.,
2015) sobre os efeitos da KT sobre as funções corporais e atividade de
crianças (7-12 anos) com PC espástica unilateral identificou evidências de
ser uma abordagem complementar promissora para aumentar o feedback
proprioceptivo com consequente incremento da aptidão fı́sica, função
motora grossa, e as atividades de vida diária em crianças com PC, porém
devido a qualidade metodológica do estudo ainda não estar disponı́vel na
base de dados PEDro, esses achados não devem ser extrapolados sem que
sejam realizados mais estudos para ratificar seus efeitos.

4.2 TheraTogsr
Constituem órteses por vestimentas compressivas de lycra, criadas
por Beverly Cusick (Theratogs, 2016) com a proposta de facilitar o
alinhamento, a postura e as atividades funcionais de crianças com
desordens neuromotoras, devendo ser utilizada de maneira intensiva para
serem evidenciados efeitos positivos (Flanagan et al., 2009; Moberg-Wolff
et al., 2013).
Esses efeitos foram confirmados para a função do equilı́brio, habilidades
funcionais de crianças com PC nı́vel I pelo GMFCS (Flanagan et al., 2009)
e marcha (Rojas et al., 2008; Flanagan et al., 2009; Kafy et al., 2013;
El-Kafy, 2014). Alguns pontos negativos são relatados: desconforto da
criança, utilização do banheiro e higiene, calor com uso do traje (Flanagan
et al., 2009).
70 Mélo et al.

4.3 Órteses
As órteses são dispositivos que tradicionalmente são utilizados, em especial
para crianças e em casos de comprometimentos neurológicos. Esse
dispositivo gera forças externas que facilitam função motora e/ou o
posicionamento buscando alinhamento corporal. Minimizam ou corrigem
encurtamentos e deformidades, melhoram a qualidade ao movimento,
evitando padrões atı́picos, desequilı́brio, favorecendo o desempenho
neuromotor e a independência fı́sico-motora. O fisioterapeuta auxilia a
equipe a planejar e executar estratégias de utilização das órteses, além de
treinar seu uso e orientar os cuidados (Oliveira et al., 2010; Carvalho, 2013).
O uso de órteses em crianças com PC traz melhoras significativas
nos parâmetros qualitativos da marcha, bem como no desempenho motor
grosso, quando comparado essas variáveis executadas com e sem o uso
de órteses, o que impacta positivamente nos domı́nios de atividade e de
participação da CIF para essas crianças (Cury et al., 2006).

4.4 O WalkAide
Devido a diversas doenças neurológicas, muitas crianças desenvolvem
padrões atı́picos de marcha por fraqueza muscular e aumento de tônus
em membros inferiores. As órteses buscam dentro de suas possibilidades
promover melhores padrões de marcha. Como formas mais funcionais de
órteses temos hoje o WalkAide (Nogueira Neto et al., 2010).
O Walkaide é um estimulador neuromuscular de único canal funcional
de uso externo que opera a bateria, indicado para pacientes com redução de
força de dosiflexores do tornozelo em decorrência de lesões neurológicas. Na
fase de balanço da marcha o WalkAide estimula os músculos dorsiflexores
otimizando a passada. Ainda como benefı́cios do aparelho são observados a
redução da fraqueza e ganho de força muscular, aumento do fluxo sanguı́neo
e manutenção ou ganho amplitude do movimento articular e redução de
espasticidade dos flexores plantares (Nogueira Neto et al., 2010).
Este aparelho já foi testado em pessoas com alteração da marcha
em decorrência de lesão medular, paralisia cerebral, esclerose múltipla,
traumatismo crâneo-encefálico e acidente vascular encefálico tendo
resultados positivos de melhora funcional da marcha em até duas semanas
de utilização.
São contraindicações para o seu uso: marca-passo cardı́aco, trombose
na área de aplicação, convulsões, neuropatia periférica, sı́ndrome de
Guillain-Barré, sı́ndrome pós-pólio, alterações do membro inferior por
trauma direto e alterações secundárias a cirurgias de coluna, quadril e
joelho.

4.5 Estimulação elétrica funcional


A eEstimulação Elétrica Funcional (EEF), do inglês Funcional Eletrical
Stimulation (FES) ou eletroestimulação, é uma modalidade terapêutica
Fisioterapia Neurofuncional 71

auxiliar com o intuito de recrutar seletivamente músculos que apresentem


déficit de força e contração por motivos diversos, de forma conjunta aos
exercı́cios propostos ou para auxiliar no incremento de efeitos de toxina
botulı́nica (Gunel, 2009).
Há evidência de que o FES associado com o treino de controle de
tronco em crianças com PC tem efeito superior ao da reabilitação sem
eletroestimulação (Park et al., 2001; Karabay et al., 2012; Dewar et al.,
2015), sendo o mesmo identificado no treino de força muscular de membros
inferiores (Stackhouse et al., 2007).
Esta técnica apresenta vantagem por ser uma forma não invasiva
e auxiliar para os ganhos terapêuticos, devendo ser priorizado uso
concomitante em atividades funcionais. As formas de eletroestimulação
podem ser divididas em 2 tipos: estimulação neuromuscular, do termo
em inglês NeuroMuscular Electrical Stimulation (NMES) e estimulação
elétrica limiar/limite, do inglês Threshold Electrical Stimulation (TES),
ambas correntes alternadas. A NMES é a aplicação de uma corrente
em intensidade que permita contração muscular com o objetivo de
fortalecimento muscular pelos seguintes princı́pios: aumento da área de
secção transversa do músculo pelo estı́mulo de contração e recrutamento
de fibras tipo II (mais largas e de fibras de maior calibre). Ao uso de NMES
de forma funcional, associada ao movimento é que se dá o nome de FES,
amplamente utilizado (Kerr & McDowell, 2014).
A TES seria uma corrente que promove contração mais fraca, a ser
usada durante o sono com objetivo de aumentar irrigação sanguı́nea e
a secreção de hormônios que estimulam massa muscular, com evidências
ainda não claras sobre esses efeitos (Kerr & McDowell, 2014).

4.6 Imagética motora ou prática mental


A imagética do movimento consiste em imaginar o movimento por meio de
prática mental, combinando processos cognitivos aos sentidos. Isto porque
as experiências sensoriais são capazes de potencializar novas aprendizagens
motoras assim como mantê-las (retenção), sendo um recurso auxiliar útil
na reabilitação neurofuncional (Sant’Anna et al., 2014). É uma proposta
diferenciada das demais por enfatizar mais os processos cognitivos mentais
envolvidos no movimento, do que a repetição de movimentos incentivada
nas demais formas de intervenção (Dickstein & Deutsch, 2007; Steenbergen
et al., 2009).
É um recurso eficiente para utilização em tarefas motoras mais
especı́ficas, embora ainda não haja um consenso de tempo de intervenção
e tipo de instrução fornecida (Sant’Anna et al., 2014; Wilson et al., 2016).
A explicação para esta técnica baseia-se no princı́pio de que ao imaginar
estar-se-ia ativando a rede neural responsável pela execução do movimento
e sendo o encéfalo plástico, essa prática poderia levar a modificações e
ganho de habilidades motoras (Sant’Anna et al., 2014) por incentivar
72 Mélo et al.

práticas antecipatórias, as quais são prejudicadas em crianças com PC


(Steenbergen et al., 2009) devendo ser utilizada de forma complementar
na intervenção fisioterapêutica (Dickstein & Deutsch, 2007). Esses efeitos
positivos foram evidenciados em crianças com alterações da coordenação
motora (Wilson et al., 2016), e em crianças com PC (Cabral et al.,
2010; van Elk, 2013). Isso porque a alteração na PC não é somente na
execução do movimento, envolve também alteração no planejamento motor
(Steenbergen et al., 2009; van Elk et al., 2010).
Sugere-se que este recurso tenha potencial terapêutico para crianças
com PC hemiparética, porém sem ser conhecida idade ideal nem
intensidade adequada para esse tipo de intervenção (Steenbergen et al.,
2009).

4.7 Biofeedback
O uso de dicas externas e de estratégias cognitivas é considerado estratégias
auxiliares na aprendizagem de movimento. Nesse sentido o biofeedback
consiste em um instrumento para o ajuste (adaptação e readaptação) de
estratégias motoras (Cortés et al., 2010).
O objetivo do feedback é realimentar constantemente o indivı́duo com
relação às informações dinâmicas durante seu treinamento, tendo como
vantagem permitir que pequenas mudanças no movimento sejam avisadas
e recompensadas e gradualmente transformadas em mudanças maiores, ao
mesmo tempo que age de maneira motivacional, ensinando a pessoa a ter
melhor controle sobre seu corpo (Cruz, 2003).

4.8 Gameterapia ou terapia por realidade virtual (TRV)


A terapia com uso de videogame, denominada gameterapia ou ainda
Terapia por Realidade Virtual (TRV) consiste numa forma de treinamento
funcional e terapêutico, a qual apresenta abordagem motivacional, com
efeitos já comprovados sobre a função da marcha, equilı́brio, treino de
força e de aquisições de habilidades motoras em crianças com PC, com
efeitos superiores aos evidenciados no treino de marcha na esteira sem o
uso de realidade virtual (Cho et al., 2016), está relacionada a estı́mulo
de neuroplasticidade em crianças com PC evidenciadas por imagens
neurológicas funcionais (You et al., 2005).
A TRV pode ser utilizada em conjunto com outras formas de
intervenção já mencionadas, funcionando como forma de feedback
instantâneo para a realização dos exercı́cios (You et al., 2005). Devido a sua
forma de interação instantânea permite um maior estı́mulo para a criança
no que diz respeito à orientação espacial (Cho et al., 2016), fator esse
alterado na maioria das crianças com desordens neuromotoras, seja pelos
efeitos diretos das lesões neurológicas ou em decorrência das limitações
e restrições que essas crianças apresentam na exploração do meio (Lowe
et al., 2015).
Fisioterapia Neurofuncional 73

O estudo de Bedair et al. (2016) verificou que o uso dos jogos de


realidade virtual na função do MS de crianças hemiparéticas espásticas
melhora significativamente a manipulação de objetos, habilidade motoras
e funções do MS, uma vez que essa terapia estimula a participação ativa
das crianças por meio da motivação.
Além disso, a TRV é considerada uma forma segura e agradável, que
ocasiona mudanças nas soluções à tarefa para a criança, incentivando seus
circuitos neurais e que promove aumento da concentração da criança na
função treinada (Cho et al., 2016).

4.9 Estimulação elétrica transcraniana


A Estimulação Elétrica Transcraniana (EET) trata-se de uma forma
de intervenção não invasiva, pela aplicação de estimulação elétrica
por meio de eletrodos sobre áreas cranianas, de forma a ativar áreas
corticais a ser utilizada de maneira funcional (Stagg et al., 2011), na
prática de movimentos, sendo encontrados efeitos significativos de uso
da EET associado a treino de marcha combinado com realidade virtual
sobre parâmetros espaço-temporais da marcha (cadência e velocidade)
de crianças com PC do tipo diparesia (Collange Grecco et al., 2015),
assim como sobre o equilı́brio (Lazzari et al., 2017). Isso seria decorrente
provavelmente do efeito anodal sobre córtex motor primário, regulando a
excitabilidade (Stagg & Nitsche, 2011).
Além disso, efeitos positivos foram encontrados em crianças
e adolescentes com epilepsia, esquizofrenia e outros distúrbios do
comportamento (Palm et al., 2016), sendo necessárias maiores investigações
sobre seu uso.

4.10 Organização das técnicas conforme os níveis de atenção em


saúde
Pode-se perceber que as terapias descritas neste estudo podem ser
utilizadas na atenção à saúde, desde a promoção até a reabilitação em
saúde, a partir deste pensamento, foi criada Tabela 1. Nesta tabela são
apresentadas as diversas terapias utilizadas na atenção da saúde infantil e
seus perı́odos de inserção na atenção à saúde.

5. Reflexões e Considerações Finais


A abordagem deste capı́tulo possibilitou observar que atualmente a
Fisioterapia neurofuncional infantil conta com um arsenal diverso de
possibilidades para aperfeiçoar os programas de intervenção.
Sugere-se que estudos considerem o nı́vel de intensidade de exercı́cio
necessário para que ganhos permanentes com melhoras funcionais sejam
Tabela 1. Utilização dos métodos e recursos da Fisioterapia em neurofuncional infantil de acordo com os nı́veis de atenção.
Mélo et al.

Promoção Prevenção Reabilitação


√ √ √
Osteopatia** √ √ √
Gameterapia e Terapia por Realidade Virtual (TRV) √ √ √
Psicomotricidade √ √ √
Microfisioterapia* √ √ √
Bioalinhamento √ √ √
Acupuntura/ Auriculoterapia √ √ √
Snoozelen/ Ambientes multissensoriais √ √ √
Plataforma Vibratória √ √ √
Leitura Biológica √ √ √
Fisioterapia aquática* √ √ √
Intervenção ou Estimulação precoce √ √ √
Cinesioterapia √
Terapia de Neurônios Espelho √
Equoterapia √
Vibração √
Conceito neuroevolutivo √
Facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) √
Terapia Neuromotora Intensiva (TNMI)

PenguimSuitr , AdeliSuitr , Pedia Suitr , TheraSuitr √
Treino de marcha com suporte parcial de peso (SPP)*

CuevasMedekr / Gravity Force Stimulation (GFS) √
Terapia Contensão induzida √
Goal-Directed Task √
Coordenação Bimanual √
Imagética Motora ou prática mental √
Biofeedback

Órteses √
Estimulação Elétrica Funcional √
Estimulação Elétrica Transcraniana
74 * Especı́ficas da Fisioterapia, ** especı́ficas da Fisioterapia no Brasil.
Fisioterapia Neurofuncional 75

obtidos (Bar-Haim et al., 2006), independente da denominação do método


empregado.
Observa-se que de maneira geral as técnicas mais tradicionais
e especı́ficas apresentam maior quantidade de publicações quando
comparadas aos métodos integrativos ou recursos adicionais, porém mesmo
quando há publicação cientı́fica, esta não atinge toda a diversidade de
possibilidades de alterações neurofuncionais pediátricas, como no caso da
TCI, que possui vários artigos publicados, porém relatam seus afeitos
apenas na hemiparesia.
Provavelmente essa dificuldade de elevada evidência se dê pelo fato da
maioria dos casos de pesquisas na Fisioterapia nessa área, os estudos não
são randomizados, há uma heterogeneidade da amostra, mesmo quando
estipulados critérios de inclusão e a maioria das crianças realizam vários
tipos de intervenções na busca de um melhor efeito possı́vel.

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88

.
Capítulo 6

Mídias: Amigas ou Vilãs?


Qual a Influência sobre
o Desenvolvimento das Crianças?

Tainá Ribas Mélo∗ e Karina Fink

1. Introdução
No inı́cio da civilização o homem tinha que caçar seu próprio alimento, e
para isso, ele corria, pulava, nadava, escalava, ou seja, realizava atividades
fı́sicas intensas para sua sobrevivência ao mesmo tempo que cuidava e criava
de sua prole, atividade destinada mais às mulheres. Atrelada à Revolução
Industrial no século XVIII (Aguiar, 2009) e depois da Segunda Guerra
Mundial houve profundas mudanças sociais, com a inserção da mulher
no mercado (Tardido & Falcão, 2006), o que ocasionou uma modificação
na forma de cuidar das crianças, que agora permaneciam em locais
denominados creches (Aguiar, 2009). Além disso motivou-se a fabricação
de alimentos pré-preparados (Aguiar, 2009) com consequentes mudanças
nos perfis epidemiológicos e aumento de doenças crônicas relacionadas aos
hábitos de vida (Tardido & Falcão, 2006).
Isso configura um novo modelo de cuidar e/ou educar. Se antes as
crianças eram criadas em casas, ambientes espaçosos, onde podiam correr
e brincar, até mesmo na rua, com o tempo com a urbanização e violência,
e as crianças passaram a ficar dentro de casa, em apartamentos com pouco
espaço para de desenvolver, e/ou sob cuidados muitas vezes de outras
pessoas que não os pais, como familiares e/ou babás e ainda podendo esse
cuidado ser terceirizado nas creches.
No inı́cio desse século novas ferramentas e instrumentos estão
possibilitando transformações sociais (Brito & da Purificação, 2008).
∗ Autor para contato: ribasmelo@gmail.com

Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.06 ISBN 978-85-64619-19-7
90 Mélo & Fink

Assim, as novas tecnologias da informação e comunicação1 , representadas


pelas mı́dias, estão presente em praticamente tudo que nos cerca, desde
televisores com controle remoto, aparelhos que lavam e secam a roupa
e a louça, videogames, carros, tablets e celulares, e esse acesso está
cada vez mais fácil para as crianças, incluindo mı́dias educativas2 .
Antigamente as brincadeiras de crianças entre elas eram a principal
forma de entretenimento, geralmente em espaços amplos, e atualmente
são restritas ou trocadas por outras formas de diversão, por meio de
recursos tecnológicos atrativos, que muitas vezes funcionam como “babás”
substituindo o cuidado e tempo dos pais e familiares.
A influência das mı́dias na vida das crianças é tanta que já se tornou
alvo de estudos nacionais e internacionais (Rideout, 2013; AVG, 2015) que
realizam por anos o padrão de consumo e comportamento no uso das mı́dias
por crianças na América e o impacto sobre suas vidas.
Pode-se observar um exemplo desse grande alcance das mı́dias em
estudo realizado com 34 escolares de Curitiba: dessas, 100% têm televisão
e celulares, 91% têm computador em suas casas e 90% podem “brincar”
nos computadores com jogos e em alguns sites da Internet e 21% têm
videogames. O computador foi a mı́dia citada como preferida (47%) pelas
crianças (Mota, 2007) e tem suscitado investigações do uso e das relações
das crianças e familiares após esse aumento de consumo das mı́dias pelas
crianças, ao passo que 57% de 5 anos das crianças sabem usar aplicativos
mas dessas apenas 14% sabem amarrar os cadarços dos sapatos (AVG,
2015). Em crianças de 6 a 9 anos, no Brasil cerca de 97% utiliza a internet
(AVG, 2015). E em menores de 2 anos cerca de 38% já utilizaram algum
dispositivo móvel (Sena, 2014).
Para Buckingham (2000) crescer na era das mı́dias eletrônicas virou
um desafio! Desde o século XX que há uma preocupação contı́nua acerca
das mudanças do que se chama de infância, sendo que o uso das mı́dias
parece ter influências contraditórias.
1 “As tecnologias da informação e comunicação são o resultado da fusão de três
vertentes técnicas: a informática, as telecomunicações e as mı́dias eletrônicas.
(...) As novas tecnologias podem ser classificadas em mı́dia, multimı́dia e
hipermı́dia. A mı́dia caracteriza-se por poucos elementos, como por exemplo,
o rádio, o toca fitas que transmitem apenas som, ou seja, é só áudio; a televisão
de antena também é uma mı́dia e já possibilita som e imagem. A hipermı́dia
são os documentos que incorporam texto, imagem e som de maneira não
linear. Multimı́dias (...) integram vários elementos ou aparatos que podem
ser elementos ou dispositivos diferentes interconectados apresentados como
módulos ou como um único produto denominado, geralmente, de computador
multimı́dia” (Pinto, 2004, p. 04)
2 Mı́dia educativa corresponde a uma variedade de mı́dias, incluindo imagens de
filmes (filme, televisão, vı́deo), rádios e músicas, mı́dias impressas (jornais e
revistas), e também as novas tecnologias de comunicação digital (Buckingham,
2002).
Mídias: amigas ou vilãs? 91

Figura 1. Cenários da infância 1. (Ilustração: Henrique Martins Schmidt)

Por esse atual panorama e questionamentos que o presente capı́tulo


revisa e traz conceitos atuais sobre desenvolvimento infantil e a influência
do uso de mı́dias e tecnologias sobre seu desenvolvimento.

2. Metodologia
O presente trabalho buscou revisar de forma crı́tica alguns trabalhos
que analisaram a influência das mı́dias e/ou tecnologias sobre o
desenvolvimento infantil. Com base no questionamento que originou o
tı́tulo deste capı́tulo: seriam as mı́dias amigas ou vilãs do desenvolvimento
infantil?
Como suporte teórico buscaram-se trabalhos em livros, bases de
dados como Scielo, Pubmed, Google acadêmico, ou sites relacionados
a estudos nacionais e internacionais sobre o tema. Como palavras-
chave foram utilizados os termos “desenvolvimento infantil e tecnologias”,
“desenvolvimento e mı́dias”, “infância e mı́dias”, “infância e tecnologias”,
porém não se detendo somente a esses descritores como também realizando
buscas em trabalhos citados.
As figuras nesse capı́tulo, mais do que ilustrações informativas buscam
a sua reflexão.

3. Infância, Mídias e Brincadeiras


Para responder a pergunta principal do presente capı́tulo, foram
organizados tópicos para discussão: Definição da Infância; Mı́dias e
tecnologias: Amigas ou Vilãs?; Mudanças na Infância; O Brincar.

3.1 Definição de infância


Em termos legais e por definição de idade:
92 Mélo & Fink

Lei Federal 8.069/90 (Estatuto da Criança e do


Adolescente). Art. 2o Considera-se criança, para
os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de
idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e
dezoito anos de idade (BRASIL, 1990).

Infância compreende portanto o perı́odo desde o nascimento até a


transição para a fase adulta e em termo biológicos até o advento da
puberdade com as caracterı́sticas sexuais secundárias que caracterizam a
transição para a adolescência.
Defende-se, também, uma definição voltada não somente aos aspectos
biológicos e de idade cronológica, mas também como um perı́odo definido
por uma construção social e cultural variável, ou seja, em constante
construção e sob influências de vários fatores (Buckingham, 2000).
De qualquer maneira e independentemente da idade têm-se no
desenvolvimento infantil a base, o alicerce da construção de habilidades
e capacidades. Esse desenvolvimento é um processo contı́nuo ao longo
de toda vida, influencia e é influenciado pelos processos cognitivos e de
inteligência, assim como por fatores do ambiente e atividades que realiza
(Israel et al., 2014; Castilho-Weinert & Forti-Bellani, 2015).
Em termos motores o desenvolvimento ocorre por ganhos e mudanças
constantes no repertório motor, geralmente das habilidades mais amplas até
serem aperfeiçoadas na motricidade fina (Castilho-Weinert & Forti-Bellani,
2015).
Na proposição de um desenvolvimento infantil pleno, diversão,
educação, socialização e comunicação deveriam ser os tópicos de uma
infância saudável (Behenck et al., 2013).
Com a mudança de cenário da infância e os grandes avanços de
tecnologias (reflita sobre as Figuras 1–5), esperam-se mudanças também
no desenvolvimento infantil.

Nesse sentido, seriam as mı́dias as propulsoras de tais


mudanças?

Não dá para negar as mudanças ocorridas na infância. Nos últimos


30 anos elas começaram a passar mais tempo em instituições, em
desigualdades sociais crescentes. As fronteiras entre crianças e adultos
parecem menos visı́veis em algumas áreas enquanto em outras foram
aumentadas. Pode-se dizer que as crianças ganharam poder polı́tico,
através de leis e representações, mas isso também as tornou mais vigiadas.
Nesse caminho as mudanças das mı́dias também parecem influenciar as
mudanças na infância. Estudos (Buckingham, 2000, 2007) relatam que
crianças que têm poder aquisitivo melhor consomem mais mı́dias e passam
mais tempo em casa, enquanto o uso de espaços públicos e das brincadeiras
parece entrar em declı́nio. Há outros no entanto que defendem que a oferta
Mídias: amigas ou vilãs? 93

Figura 2. Cenários da infância 2. (Ilustração: Henrique Martins Schmidt)

de brinquedos adequados é justamente na classe econômica mais favorecida


(Barros et al., 2003).

Seria o uso de tecnologia um fator de influência ao


desenvolvimento infantil? De que maneira? Poderia ser
considerada uma forma de entretenimento passivo? E
se ofertada na dosagem correta e de forma associadas a
aspectos pedagógicos? E como fica “o brincar”?

Pesquisas apontam que a natureza simbólica da televisão não é


compreendida por crianças até a fase pré-escolar. Porém, se usado de forma
educativa como programas da Vila Sésamo, pode favorecer as atividades
de leitura na escola (Kirkorian et al., 2008).
Cabe lembrar no entanto que a brincadeira ainda constitui aspecto
fundamental no desenvolvimento infantil (Kishimoto, 2014), devendo ser a
principal atividade cotidiana da criança (Kishimoto, 2010).

3.2 Mídias e tecnologias: amigas ou vilãs?


Alguns estudos e crı́ticos ao uso das mı́dias relatam que ela poderia
representar um perigo ao desenvolvimento infantil e influenciaria
fortemente a “comercialização” da infância (Buckingham, 2000). Outros
já relatam que essa exposição é necessária a um desenvolvimento saudável
(Buckingham et al., 2007). O fato é que cada vez mais as crianças passam
94 Mélo & Fink

Figura 3. Cenários da infância 3. (Ilustração: Henrique Martins Schmidt)

mais tempo companhia das mı́dias do que na escola ou com sua famı́lia e
amigos (Buckingham, 2007) e esse novo cenário passou a se tornar interesse
de estudo em vários paı́ses (Buckingham, 2002).
Em estudo, feito em Portugal, sobre a preferência e escolha de gadgets:
a perspectiva da criança, Gomes (2014) concluiu que mais da metade das
crianças menores de 12 anos usam os tablets; 77% usam em jogos; 57%
em educação; 55% em entretenimento nas viagens; 43% para assistir a
programas de televisão; 41% entretenimento nos restaurantes e 15% para
comunicar com os amigos. 55% das crianças responderam que preferem
comprar jogos, 33% a roupas (33%) e produtos desportivos (11%) .
Buckingham (2000, p. 05) no entanto alerta para a necessidade de
uma visão crı́tica no uso das mı́dias e de sua influência no desenvolvimento
infantil. Para o autor:
...as mı́dias est~
ao longe de ser a causa única dessas
mudanças: elas nem s~ao as destruidoras aut^onomas da
inf^
ancia, nem suas libertadoras.

Apesar de ser atribuı́do às tecnologias e mı́dias um papel de


determinante social, para Buckingham (2000) na verdade o que ocorre é um
processo de convergência entre tecnologias de comunicação e de informação:
Mídias: amigas ou vilãs? 95

N~
ao se pode examinar as mı́dias de forma isolada -
seja como o agente causador do desaparecimento da
inf^
ancia, seja como a raz~ ao de seu maior poder. Ao
contrário, é essencial situar a relaç~
ao das crianças
com as mı́dias no contexto das mudanças sociais e
históricas mais amplas (Buckingham, 2000, p. 52).

Não se pode esquecer, ainda, que apesar da preocupação com o uso


excessivo das mı́dias, numa sociedade de desigualdades, como a nossa,
mesmo com a grande oferta de produtos o acesso a essas mı́dias é desigual
e representa muitas vezes um “poderio” daqueles que as têm e consomem
sobre os que não as usam ou usam em menor frequência.
Além disso, parece que somado a efeitos negativos encontram-se efeitos
positivos no uso das mı́dias, sendo importante também entender sobre quais
aspectos do desenvolvimento exercem influência (Buckingham et al., 2007).
Positivos e/ou negativos, os efeitos das mı́dias carecem de atenção!
Isso porque é de consenso a influência do meio e estı́mulos externos sobre
o desenvolvimento infantil e que na privação de vivências sensório motoras
adequadas, alterações na motricidade são esperadas (Formiga et al., 2010;
Israel et al., 2014).
Há evidências em estudos preliminares que desde que seja usada de
forma mediada e associada com atividades lúdicas as mı́dias parecem
não influenciar de maneira negativa o Desenvolvimento Neuropsicomotor
(DNPM) (Fink, 2016).
No estudo sobre a influência da tecnologia no desenvolvimento motor de
crianças de quatro a seis anos de uma escola particular de Curitiba, (Fink,
2016) avaliou 23 crianças através da Escala de Denver II e observou que
as crianças de quatro anos tiveram atraso na área pessoal-social, motora
grossa e linguagem, as de cinco anos apresentaram atraso nas áreas motora
grossa e linguagem, já as de seis anos, apenas uma criança apresentou
atraso na área motora grossa. Foi avaliado também a área motora fina e
nenhuma criança da amostra apresentou atraso.
O aumento do consumo das mı́dias também revela uma tendência
de menor atividade fı́sica, o que cria um ciclo vicioso: inatividade fı́sica
versus uso excessivo de tecnologias. Tudo isso colabora para a questão
do sedentarismo e seus agravantes: problemas cardı́acos, colesterol alto,
diabetes, hipertensão, obesidade entre outros, fatores esses que podem
influenciar o desenvolvimento.

3.2.1 Mídia vilã?


Com relação a efeitos negativos no uso de mı́dias pode-se citar à exposição
nem sempre controlada/mediada de conteúdos inadequados à idade como os
de cunho sexual ou de violência. Isso poderia influenciar crenças, condutas
e até mesmo o comportamento de crianças caso não orientadas e tendo nesse
96 Mélo & Fink

Figura 4. Cenários da infância 4. (Ilustração: Henrique Martins Schmidt)

tipo de conteúdo a única forma de contato com os assuntos (Buckingham


et al., 2007).
Além disso supõe que alguns fatores psicomotores poderiam ser
influenciados em decorrência de serem propiciados menos estı́mulos de
motricidade grossa, equilı́brio e estruturação espaço-temporal. Mas seriam
as mı́dias uma forma de aprimoramento de funções intelectuais e de
motricidade fina?
Sabe-se que restrições na manipulação, principalmente por ambientes
pobres em estı́mulos resultam em escores inferiores em testes padronizados
para motricidade fina (Barros et al., 2003). Porém estudos preliminares em
crianças de 4–6 anos (Fink, 2016) não identificaram influências restritivas
pelo uso de mı́dias, possivelmente pelo fato de também explorarem as
funções manuais com brincadeiras
Além dessas questões há de se questionar o tempo de uso dessas
mı́dias. Atualmente um estudo (Hansraj, 2014) identificou o aumento de
chance a dores cervicais em pessoas que ficam muito tempo com flexão
do pescoço, ocasionando intensa sobrecarga nessa região. Para maiores
detalhes, ler o capı́tulo desse mesmo livro denominado “Endireite essas
costas menin@: verdades e mitos sobre desenvolvimento postural
na infância”, que aborda as questões posturais na infância e relação com
uso excessivo de mı́dias.
A Associação Americana de Pediatria (AAP) pretende rever a
recomendação dada em 2011 que pedia aos pais para não permitirem o uso
Mídias: amigas ou vilãs? 97

das tecnologias por crianças menores de dois anos, pois esta recomendação
foi redigida antes da explosão dos aplicativos e Ipads, orientando para que
as crianças sempre tem que ter o acompanhamento dos pais (O Globo,
2015).

3.2.2 Mídia amiga?


Atualmente surgem visões positivas da relação infância versus mı́dias. Ao
invés de vı́timas não seriam as crianças em uso de mı́dias dotadas de uma
forma poderosa de “alfabetização midiática”, com novas oportunidades para
a criatividade, a comunidade, a auto realização? (Buckingham, 2000).
Por mais relutantes que a sociedade possa ser com isso, há sim efeitos
positivos evidenciados no desenvolvimento das crianças: no aprendizado,
linguagem e cognição, por meio das mı́dias educativas; participação cı́vica,
auxı́lio na formação de identidade pela identificação com pessoas e assuntos,
manutenção da atenção (sim, isso mesmo!) nos jogos de computadores e
incentivo à criatividade (Buckingham et al., 2007)
Há também o lado positivo na utilização de videogames e tablets, pois a
criança poderia ter a possibilidade de melhorar sua habilidade motora fina
e o tempo de reação de escolha, porém devem ser utilizados com cautela e
supervisionado pelos pais.
Em adultos, efeitos positivos e significativos sobre a precisão manual
(habilidade motora, tempo de reação e coordenação óculo-manual)
são relatados em estudo que utilizou a tecnologia como forma de
aperfeiçoamento dessas habilidades em cirurgiões. Aqueles que realizaram
pelo menos 3 horas/semana jogando no computador ou no videogame,
apresentaram 37% menos erros em cirurgias de laparoscopia e velocidade
até 27% superior dos que praticaram o treinamento em comparação aos
médicos que não treinaram em jogo (Rosser Jr. et al., 2007).

Seriam esses mesmos efeitos possı́veis em crianças? Seria


a infância um perı́odo crı́tico para esses estı́mulos? Por
quanto tempo? Haveria efeitos positivos sobre quais
outros aspectos do DNPM?

As novas tecnologias de videogames que também utilizam movimentos


corporais para a interação com os jogos, surgem como o inı́cio de uma
nova perspectiva sobre estes, envolvendo um gasto calórico nunca visto
antes na utilização deste tipo de tecnologia e iniciando um desenvolvimento
cognitivo satisfatório. Uma combinação de alimentação saudável, atividade
fı́sica regular e uma média de utilização destas tecnologias (videogames,
televisão, computador) de 2 horas/dia na vida desta população são uma
combinação muito boa para o desenvolvimento fı́sico e cognitivo (Carneiro,
2007).
98 Mélo & Fink

Figura 5. Cenários da infância 5. (Ilustração: Henrique Martins Schmidt)

As novas tecnologias estão aı́ para serem decifradas, entendidas e


utilizadas, pois não existe lógica em tentar impedir os avanços das ciências
exatas, humanas e biológicas, pois a cura para doenças e a ida do homem
ao espaço só foram possı́veis pela compreensão e utilização das tecnologias
disponı́veis no momento, e assim, continua-se a caminhada para um futuro
onde a informação será ainda mais valiosa e a busca do desenvolvimento
do ser humano será mais importante do que é considerada hoje.
Há ainda que se citar o uso de mı́dias em tecnologias assistivas
(Figura 5) favorecendo o processo de inclusão de inúmeras crianças com
dificuldades e limitações de diferentes tipos (Rocha & Deliberato, 2012) e
até mesmo em casos de educação a distância, principalmente em locais de
difı́cil acesso.
Defende-se a ideia que estamos na era de (re)aprender a conhecer,
comunicar, integrar e se relacionar com as mı́dias (Brito & da Purificação,
2008).
Não se incentiva o abandono das práticas educativas motoras, artı́sticas,
sociais e culturais em detrimento do uso exclusivo das mı́dias. De
maneira adequada e mediada ela pode se tornar instrumento importante
de aprendizado, entretenimento e informação.
Existem estudos com informações sobre indicação de tempo de uso
tanto de mı́dias quanto de realização de atividades fı́sicas. A Tabela 1
aponta que as mı́dias só devem ser usadas a partir dos 2 anos de idade,
Mídias: amigas ou vilãs? 99

Tabela 1. Tempo de exposição indicada ao uso mı́dias vs atividade fı́sica


em cada faixa etária. (*) entende-se por atividades livres,
brincadeiras, jogos e/ou exercı́cios fı́sicos.
Idade Uso de mı́dias Atividade fı́sica *
(AVG, 2015) (Tremblay et al., 2011, 2012)
Até 1 ano Evitar uso Livre/todo dia
2 anos Evitar uso 30’/dia–6x/semana
2–5 anos 1h/dia 30’/dia–6x/semana
6–12 anos 2h/dia 1h/dia–3x/semana
>13 anos 3h/dia 1h/dia–3x/semana
Obs.: faixas etárias foram aproximadas para permitir relação entre os estudos.
Fonte: (Tremblay et al., 2011, 2012; AVG, 2015)

com limite de uso diário de 1h. Somente a partir dos 6 anos que esse tempo
pode ser ampliado para 2h por dia e aos 13 para 3h por dia. Lembrando
aqui que esse uso deve ser monitorado pela famı́lia, tanto em tempo, como
em conteúdo. Em contrapartida a atividade fı́sica, por meio de brincadeiras
e/ou jogos é indicada em todas as faixas etárias, podendo a partir dos 5/6
anos serem atividades mais vigorosas.

Seria possı́vel usar as mı́dias de maneira educativa com


filh@ e/ou Alun@?

Estudos preliminares de (Fink, 2016) apontam que muitas crianças


utilizam tecnologias no seu dia a dia, e desde que também adicionem
brincadeiras em seu repertório, seu repertório, seu desenvolvimento não
parece comprometido.
Além disso, o consumo excessivo não é realidade de todas as crianças.
Muller (2014), observou 17 crianças entre 5 e 6 anos de uma instituição
pública federal durante 8 meses e registrou por meio de filmagens, fotos
e gravações em áudio o comportamento de consumo das tecnologias pelas
crianças. Sobre o perfil do grupo ela observou que a renda familiar era
acima de três salários mı́nimos, e, embora a maioria das famı́lias possuı́sse
computador, tablets, notebook, smartphone, a maior parte das crianças fazia
uso desses artefatos em torno de duas a quatro vezes na semana, com
duração de até uma hora. Entre os consumos culturais, a preferência foi
pelos jogos.
Porém há estudo eu identificou que a exposição por exemplo a
brinquedos tecnológicos apresenta efeitos deletérios ao desenvolvimento
principalmente da linguagem, tanto em termos quantitativos como
qualitativos, quando comparado a crianças que utilizaram brinquedos não
tecnológicos (Sosa, 2016).

E você? Brinca com sua criança?


100 Mélo & Fink

3.3 O brincar
Além das questões mencionadas sobre o uso de mı́dias, a prática de
atividade fı́sica por meio de brincadeiras auxilia a evitar o sedentarismo,
manutenção de massa corporal com nı́veis de IMC adequados, mantendo-
se eutróficas3 por serem mais ativas, e ficarem menos tempo expostas à
televisão e videogame, atividades essas que em tempos prolongados são
associadas à com sobrepeso, com possibilidades de desenvolvimento de
doenças na vida adulta (Carneiro, 2007).
A atividade fı́sica, por meio de exercı́cios fı́sicos incentiva a produção
de hormônio de crescimento e também auxilia no metabolismo de lipı́dios,
proteı́nas e glicı́dios (Carneiro, 2007).
Segundo a OMS (World Health Association, 2011) a evidência
cientı́fica disponı́vel para a faixa etária entre cinco e dezessete anos
apoia que a atividade fı́sica proporciona benefı́cios para a saúde
fundamentais para crianças e adolescentes. Nı́veis adequados de atividade
fı́sica contribuem para o desenvolvimento musculoesquelético, sistema
cardiovascular, consciência neuromuscular, manutenção do peso corporal,
auxilia no desenvolvimento social, autoconfiança e melhor controle da
ansiedade e depressão. A recomendação é que pratiquem sessenta minutos
de atividade fı́sica por dia, o que inclui: brincadeiras, jogos, esportes,
tarefas, educação fı́sica, transporte.
Sem dúvidas o brincar é essencial para a criança, pois através das
brincadeiras elas testam suas habilidades e tentam superar seus limites. Os
jogos com bola, como vôlei, basquete, futebol, handball proporcionam uma
atividade fı́sica intensa para a criança, e com isso o desenvolvimento das
habilidades motoras. Outros tipos de brinquedos, como bicicletas, patins,
skates e cordas também incentivam a atividade fı́sica intensa e auxiliam
as crianças a dominarem seus movimentos e a exercitarem os aspectos
necessários para uma boa motricidade, tais como o equilı́brio e as noções
de esquema corporal, temporal e percepção viso motora
Porém dados de uma pesquisa internacional, feita pela OMO,
denominada “Valor do Brincar Livre4 ”, relata que contraditoriamente a
importância dada ao brincar por 98% dos pais, 87% desses percebem que
suas crianças deveriam brincar mais! A pesquisa5 foi realizada com 12 mil
pais de crianças em idade de 5 a 12 anos, em 2016, em vários paı́ses. Além
3 Por crianças eutróficas entende-se aquelas com peso adequado para sua altura,
ou seja, IMC dentro dos parâmetros ideias.
4 Estudo conduzido por Edelman Berland, agência independente de pesquisa
de marketing. Levantamento realizado entre fevereiro e março de 2016 nos
EUA, Brasil, Reino Unido, Turquia, Portugal, África do Sul, Vietnã, China,
Indonésia e Índia. Participação de especialistas como Stuart Brown, Priscila
Cruz, Vital Didonet.
5 O vı́deo da pesquisa, de 60” pode ser visto em http://www.dirtisgood.com/
br/home.html?gclid=CLv0kaz5pMwCFRMJkQodvFYK4A
Mídias: amigas ou vilãs? 101

do Brasil, China, Índia, Indonésia, Portugal, África do Sul, Turquia, Reino


Unido, Estados Unidos e Vietnã participaram da pesquisa. A pesquisa
chega a comparar que 84% crianças brincam ao ar livre menos de 2h por dia,
tempo menor de exposição ao ar livre que presidiários, os quais consideram
ess