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Bruce andou em meio às árvores, orientado pelo vento, enquanto observava o comportamento de

alguns pássaros. Ele parou com Fedra em frente a um portal discreto, mas suspeito protegido por duas
árvores intimidadoras. Ele disse algo estranho e olhou para cima enquanto segurava sua folha prateada
usada em forma de broche. No alto das árvores, pares de fendas se abriram e emitiram luzes amarelas,
um pouco escondidas entre algumas folhas, em direção a ele. Bruce segurou seu medo. Poucos
segundos depois, as fendas se fecharam e o portal apresentou uma camada plástica em seu interior.
Bruce atravessou a fenda plástica junto de Fedra e adentrou o acampamento principal da força do
norte da guilda dos patrulheiros. Ele passou por entre algumas barracas e locais de treinamento de
arquearia e combate corpo-a-corpo, rumando para a barraca do líder cujas cortinas estavam fechadas.
Antes que conseguisse chegar até lá em paz, ele foi reparado por alguém que conhece e começou a
acompanhá-lo, foi Cornélio, a criatura caprípede que influenciou-o a praticar algumas traquinagens
quando era criança e esteve desaparecida de sua vista até agora. Cornélio vestia um pancho de cores
pastéis que escondia seus equipamentos. Ele se aproximou de Bruce e começou uma conversa.
— Como vai, Bruce? — Cornélio perguntou.
— Bem. — Bruce respondeu.
— Faz tanto tempo que não nos vemos. — Cornélio se moveu para a frente de Bruce, assim, interrompeu
o caminho dele — Eu senti sua falta, sabia?
— Não. — Bruce respondeu enquanto fixava seu olhar fechado em Cornélio.
— Você parece bem desanimado. Ora, a nova música que eu compus vai desfazer isso. — Cornélio disse
enquanto retirava uma flauta de pã embaixo de seu pancho disposto a tocá-la. Bruce agarrou a mão que
segurava a flauta de pã, repetiu sua feição opressora, e disse:
— Tome cuidado para com quem você dedica suas músicas.
— Tudo bem! Poxa, não precisa quebrar minha flauta por causa disso. — Cornélio disse assustado com a
reação de Bruce, que soltou-o em seguida e seguiu o caminho dele. Mesmo assim, Cornélio foi atrás.
— Você… — Bruce olhou para o chão. — Aprendeu a tocar harpa?
— Ainda não. No final das contas, acho que eu não sirvo pra isso. — Cornélio respondeu enquanto virava
o rosto para Bruce, com as mãos atrás da cabeça, e mostrava um sorriso bobo.
— Ah, que pena. — Bruce encerrou.

Em frente à entrada da barraca do líder, Bruce puxou um pouco de uma cortina e viu a mestra Morgana,
cavaleira feérica, junto de duas criaturas com roupas pomposas para o seu gosto, atentas a ela apontando
para um mapa em cima de uma mesa grande de madeira. Ela percebeu a ação de Bruce e fez um comando
para alguém em um canto da barraca que começou a andar em direção a ele. Cornélio, com medo do que
podia vir a acontecer naquele momento, se afastou dali. A pessoa abriu a cortina pela qual Bruce espiou a
conversa da mestra Morgana e saiu para fora, fechando-a em seguida. Era Hilde, uma elfa de cabelo claro,
aprendiz de Morgana e integrante de sua guarda pessoal, colega de Bruce que o conheceu enquanto fazia o
treinamento avançado de patrulheiro.
— O que você está fazendo?! — Hilde abordou segundos antes de perceber que o espião era Bruce. —
Bruce?! — Ela parou por um tempo depois de vê-lo.
— Sim. — Ele respondeu.
— Você não morreu?! — Ela tapou a boca depois de reagir assustada de novo e organizou seus
pensamentos. — As notícias diziam que a guerra em que você liderou algumas guarnições da guilda foi
muito difícil. — Ela disse com calma.
— Não. O cerco ao castelo foi bem-sucedido.
Depois, livre de estresse, Hilde apontou para alguns tocos de madeira que estavam perto da barraca e pediu
para que Bruce se sentasse junto dela para que conseguissem conversar melhor.
— A mestra Morgana está em reunião com alguns membros da guilda do comércio para resolver alguns
assuntos confidenciais. — Ela explicou para Bruce para que ele estivesse ciente do porquê que a mestra
Morgana estava ocupada. Em seguida, ela fez uma respiração profunda e perguntou:
— Bruce, você está bem? — Ela fixa seu olhar no rosto dele. Ele indica que está pensando e desvia o
contato visual.
— Não… — Respondeu Bruce
— Eu imagino o quanto deve ter sido estressante para você comandar guerreiros em tempo real em meio a
um campo de batalha. Você foi escolhido para isso porque é leal à nossa causa. — Ela encerra tentando
animá-lo.
— Ainda houveram baixas. Eu apostei vidas. Não posso assumir um cargo como este e cometer tais erros.
Ignorar as mortes que vi! — Ele cresce o tom da fala, mas depois retorna a calmaria. — Paguei um preço
caro pela vitória. Mesmo assim, isso não me completa. Não resolve os meus problemas. Eu não possuo o
direito de mudar o destino, nem o meu nem de ninguém… Eu perdi suas rédeas faz muito tempo.
— Entendi. Eu sinto muito por isso. De todo modo, é bom vê-lo aqui de novo — Ela disse.
— Eu ainda ouço sons em minha cabeça de vez em quando.
— Você já pensou se pode ser o Espírito da Floresta? — Ela pergunta.
— Sim, mas eu não sei. Eu sinto que…
Os dois homens saíram da barraca e rumaram para a saída do acampamento. Morgana viu Bruce fora
da barraca e chamou-o. Ele se levantou e adentrou a barraca. O interior da barraca se expande em
relação ao seu exterior. Todos os utensílios que antes estavam à mostra agora estavam guardados.
— Porque estava me espiando? Por acaso, se tornou um desertor? — Morgana interrogou.
— Não, senhora! Eu vim entregar o meu relatório sobre o cerco do castelo em que liderei tropas!
— Pois bem, então me dê-o.
— Eis aqui! — Bruce entregou-o estendendo a mão segurando a carta para Morgana. Ela pegou, abriu e
leu em voz baixa. — Eu despachei alguns guardas de outras regiões e ordenei para que o melhor soldado
da minha guarnição ocupasse o meu cargo enquanto eu estivesse em viagem. — Ele complementou. Ela
acenou com a cabeça.
Depois de ter lido a carta, Morgana se sentou em uma cadeira de madeira, encostou seu braço esquerdo na
mesa grande de madeira, e ponderou sobre algo, depois, se levantou, procurou um objeto que havia
guardado, se virou, ficou de frente para Bruce e disse:
— Ótimo! Então os rumores eram reais, você encontrou algumas pessoas bastante interessantes em seu
caminho Bruce. — Ela pôs a mão esquerda sobre o ombro de Bruce. — Parabéns por sua coordenação em
campo de batalha. — Ela entregou uma folha dourada para ele. Ele segurou o presente e agradeceu-a.
— Obrigado, senhora!
Depois, Morgana retirou uma carta e entregou para Bruce.
— Entregue isso para o elfo de gelo. Fique de olho neles. — Ela disse, subindo a mão esquerda para o
rosto de Bruce. — Desejo que o Espírito da Floresta ilumine o seu caminho. Agora vá! — Ela disse,
enquanto batia de leve com a mão esquerda no rosto de Bruce e mostrava um sorriso fraco — Ah, eu quase
me esqueci de um detalhe! — Ela interrompeu a saída de Bruce da barraca — Ela também é sua
recompensa. — Morgana apontou para uma gaiola com uma coruja em cima de um baú, segurou-a e
depois entregou-a para Bruce.
Nada mais havendo a tratar por ali, Bruce se despediu de Hilde, Cornélio e velhos companheiros e partiu
com Fedra para se reencontrar com a trupe de viajantes misteriosos. Saindo do portal, a camada plástica
em seu interior desapareceu e ele se transformou em apenas mais um fenômeno natural.

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