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D O S S I Ê

HONRAS, MERCÊS E PRESTÍGIO SOCIAL: A INSERÇÃO


DA FAMÍLIA INDÍGENA SOUSA E CASTRO NAS REDES
DE PODER DO ANTIGO REGIME NA CAPITANIA DO
CEARÁ

As lideranças indígenas e os LÍGIO DE OLIVEIRA MAIA* correspondia a uma multipli-


cargos de distinção social RESUMO cidade de papéis. Carvalho
A antiga aldeia de Ibiapaba governada pelos
padres jesuítas (1700-1759) foi elevada à ca- Júnior (2005, p. 236), ao ana-
No período colonial, em di- tegoria de “vila de índios”, com denominação lisar algumas petições de
de vila Viçosa Real, a partir de 1759, com a
versas regiões da América por- aplicação da política pombalina. Com isso os mercês encaminhadas pelos
índios tiveram que se adequar a um novo con-
tuguesa, o termo “principal” re- texto histórico, doravante com direção laica e vassalos indígenas levadas ao
atuação de padres seculares. Todavia, é pos-
feria-se às lideranças indígenas1. sível perceber um continuum na formação de Conselho Ultramarino, obser-
um grupo de índios privilegiados que tinha na
Sabe-se que essa nomeação não família, junto com um rol de serviços prestados vou que essa variação ia des-
à Coroa, as marcas fundamentais de sua ascen-
pertencia ao vocabulário cultural são simbólica e material, comprovando que a de aliados militares de grande
lógica do prestígio que alcançava esses índios
ameríndio, mas por eles foi apro- era semelhante, em muitos aspectos, à dos ou- prestígio nos primeiros anos
tros vassalos da Coroa portuguesa.
priada, na medida em que sua Palavras-chave: Antigo Regime; capitania do da conquista até simples chefes
inserção na nova ordem colonial Ceará; diretório pombalino; história indígena.
de grupos que não faziam mais
era então irreversível. Entretanto,
ABSTRACT do que gerenciar o processo de
esse termo guardava em si tam- The old village of Ibiapaba governed by the Je-
suits (1700-1759) was elevated to the category of repartição dos trabalhadores
bém certa sinuosidade de signi- “Indian village” called of Viçosa Real village from
1759 with the implementation of the policy of indígenas sob seu comando.
ficado que poderia referir-se, por Pombal. With that the Indians had to adapt to this
new historical context, now in the lay direction and Para o período pombalino, o
exemplo, aos chefes de grupos performance of secular priests. However, you can
see a continuum in the formation of a privileged que poderia ser considerado
locais e aos chefes de malocas group of Indians who had in the family with a list
services to the Crown the marks of his ascent uma espécie de estatuto para
numa mesma aldeia ou a uma li- of symbolic and material demonstrating that the logic 2
the prestige that these Indians had reached was os séculos anteriores , trans-
derança da aldeia cuja relevância of similar in many respects to other vassals of the Por-
política eclipsava seus pares locais tuguese Crown. formou-se de maneira mais
Keywords: Old Regime; captaincy of Ceará; Pom-
(FERNANDES, 1963, p. 64-66). bal directory; indigenous history. clara num cargo a serviço da
Mas essas definições não eram * Historiador. Professor Adjunto de História Moder- Coroa, assim, resultando no
na no Departamento de História da Universidade
estanques, mudando até mesmo Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: ligio- aparecimento de uma nova eli-
maia@yahoo.com.br
numa mesma região em contex- te indígena.
tos históricos diferentes. Ângela Domingues chega
Entre a segunda metade do mesmo a defender, a partir do
século XVII e a primeira metade da centúria seguinte, discurso jurídico da época, a formação de um “princi-
na área amazônica, o cargo ou a função de principal palato”, isto é, “um dos muitos cargos administrativos

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Honras, mercês e prestígio social

ao serviço da sociedade colonial, só que, desta feita, famílias; dando-lhes assento na sua pre-
exercido exclusivamente pelos vassalos ameríndios sença; e tratando-os com aquela distinção,
que lhes for devida, conforme as suas res-
de Sua Majestade”. Segundo ela, a criação desses car- pectivas graduações, empregos e cabedais
gos tinha por base uma estrutura indígena anterior, (Directório in NAUD, 1971).
cuja sucessão se dava pela via hereditária, mas legi-
timada apenas a partir de uma carta patente passada A distinção social entre os índios a partir de suas
a mando do monarca (2000, p. 172-173). É, talvez, “graduações, empregos e cabedais” deixa clara a di-
ferença de significado nas ocupações dos empregos
por conta deste principalato que, diferente da capita-
públicos, daqueles detentores de honras, privilégios
nia de Pernambuco, as cartas patentes na Amazônia
e de diferenças econômicas. O impacto dessa nova
colonial refiram-se ao “principal” e não somente ao
legislação entre os índios de Ibiapaba não foi algo
“capitão-mor” dos índios3.
de menos importância, restrito apenas à letra da lei,
A escolha dos principais e oficiais militares indí- pois como demonstrei em outra ocasião, a ação dos
genas, com base inclusive na política pombalina, es- índios oficiais camaristas de Viçosa Real procurara
teve atrelada aos moldes da hierarquia social presente desde o primeiro momento transformar a nova vila
no Antigo Regime. Desse modo, assim como na área em um reduto semelhante a qualquer outro em terras
amazônica e no Rio de Janeiro coloniais (ROCHA, brasílicas, inclusive, propondo mudanças urbanas e
2009, p. 136-138; ALMEIDA, 2003, p. 150-161), acre- no comércio que pouco atraía o interesse do restante
dito que em vila Viçosa Real tais cargos estivessem dos índios não-privilegiados (MAIA, 2010, p. 259-
associados à herança do status social e às relações rei/ 267). Agora, resta discutir o significado histórico na
vassalos e serviços/recompensa, situações em que ca- ocupação dos cargos militares, nas ordenanças, uma
ráter familiar tinha um peso considerável. das formas de conseguir prestígio social e participar
Neste sentido, uma das principais responsabili- das relações de poder na nova governança dos índios
vilados.
dades do diretor das vilas de índios consistia na hon-
ra que devia prestar aos índios ocupantes de cargos
Oficiais índios: distinção social na nova vila
honoríficos e seus familiares. Rezava o parágrafo 9 do
diretório:
No período colonial, os índios de Ibiapaba man-
E tendo consideração a que nas Povoações tiveram uma força militar a serviço da Coroa que lhes
civis deve precisamente haver diversa reservavam dentro da relação assimétrica rei-vassa-
graduação de Pessoas à proporção dos los, própria do Antigo Regime, algumas vantagens e
ministérios que exercitam, as quais pede até mesmo a concessão de mercês a algumas de suas
a razão, que sejam tratadas com aquelas lideranças. Assim como no período de funciona-
honras, que se devem aos seus empregos: mento da aldeia, na fase pombalina é bastante claro
Recomendando aos Diretores, que assim
o caráter familiar e étnico na escolha das lideranças,
em público, como em particular, honrem
especialmente na composição de um grupo de índios
e estimem a todos aqueles Índios, que fo-
rem juízes ordinários, vereadores, princi-
privilegiados.
pais, ou ocuparem outro qualquer posto É precisamente por isso que havia as compa-
honorífico; e também as suas respectivas nhias militares de Tabajara, Anacé, Arariú e Caaçû,

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Lígio de Oliveira Maia

com seus respectivos oficiais, cuja organização do índios comuns que pagavam um dízimo superior aos
corpo de guerreiros indígenas permanecera pratica- oficiais. Logo, para ela, a política pombalina de dife-
mente a mesma até o final do século XVIII. Disso, renciação social tocava toda a comunidade e não ape-
depreende-se que cada liderança manteve a partir de nas o seu oficialato (LOPES, 2005, p. 292).
seu próprio grupo uma divisão militar nas tropas in- No caso de Viçosa Real, há uma lista de paga-
dígenas. O terço de vila Viçosa Real variou entre um mento referente a cada um dos oficiais militares. No
número de pouco mais de 800 até 900 praças, coman- mais alto posto da hierarquia estava o mestre de cam-
dados por um capitão-mor, um sargento-mor, um po, D. Felipe de Sousa e Castro, que recebia por mês a
mestre de campo, um major e quinze capitães, com vultosa quantia de 8 mil réis; seguido do restante dos
um número de soldados por tropa que variava entre oficiais, mas sem menção dos nomes: o capitão-mor
14 e 61 indígenas. Ao todo, eram 17 companhias de percebia 2 mil e quatrocentos réis; o sargento-mor, 1
índios, sendo 14 de tabajaras e uma companhia de mil e quinhentos e cinquenta réis; cada um dos quin-
cada das outras três etnias já mencionadas4; mas esse ze capitães percebia 1 mil e cem réis; aos tenentes do
número variava. mestre de campo tocava a quantia de 800 réis; a cada
Não por acaso o governador de Pernambuco um dos seus dois ajudantes, a mesma quantia, e aos
procurou manter com o mestre de campo de Ibiapaba seus 18 sargentos, 120 réis cada um deles; aos 18 alfe-
uma relação de proximidade. O ouvidor geral, de- res, 400 réis; aos outros 18 sargentos, 100 réis cada um
sembargador Bernardo Coelho da Gama e Casco, deles; e, finalmente, aos índios que serviam de tambo-
quando esteve nas Serras de Ibiapaba recomendou a res, cada um a quantia de 400 réis por mês6.
El Rei que mantivesse a milícia de D. Felipe de Sousa Por ano, o terço dos índios da vila de Viçosa Real
e Castro, com soldos aos seus oficiais da mesma for- representava um gasto à Fazenda Real de mais de 513
ma que se praticava com o terço de Palmares; porque, mil réis. Para pagar aos índios, o governador sugeria
segundo ele, os índios eram “utilíssimos, e precisos, que se reduzisse para uma, as três companhias do ar-
pelo horror que causam ao gentio corso que continu- raial de Nossa Senhora das Brotas e São Caetano de
am em muita parte, seguem as fazendas dos morado- Jacuípe, pois os quilombos já estavam extintos e, por-
res de Moucha, e Maranhão”. À época, toda tropa era tanto, não havia necessidade de mantê-las para caça
formada por 18 companhias militares regidas pelo de escravos fugidos. Mas, por que manter o terço dos
mestre de campo, “digno de atenção por ser grande índios? Para continuarem eles a combater, caso neces-
soldado e obediente ao presente Rei”5. sário, os índios hostis no Piauí e Maranhão:
Segundo Lopes, as funções militares das orde- Das referidas duas cartas se mostra, não só
nanças nas vilas de índios não eram cargos remu- suprir com a importância que se desembol-
nerados. No entanto, analisando as únicas três listas sa, em cada um ano nos soldos, e fardas da
de dízimos pagas por índios que encontrou referente dita companhia do Palmar [Palmares], a de
que se carece para o terço de Vila Viçosa
às vilas no Rio Grande do Norte, chega à conclusão
Real, mas utilizar a Real Fazenda, na maior
de que não havia uma distinção considerável entre força que resulta ao seu Real Serviço, se-
os índios “comuns” e aqueles que ocupavam cargos gurança desta capitania por benefício do
de oficiais militares; pelo contrário, havia até mesmo mencionado terço, sem aumento de maior

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Honras, mercês e prestígio social

dispêndio, não obstante conservarem-se número de mais três capitães, além do capitão-mor
com o seu soldo os oficiais, e soldados da e ajudantes, um “embaraço” na forma de repartição,
dita Companhia (...) nem de incômodo a
uma vez que essa divisão não estava prevista pela sua
repartição desta Provedoria, porque são
socorridos, ficando obrigada a do Ceará a
Direção9. Assim, junto com o bispo, chegou ele à con-
concorrer para o referido terço, em que há clusão de que melhor seria dividir o gado da mesma
sobras que lhe permite o executá-lo, sem forma para cada um dos oficiais, isto é, levando-se em
faltar as obrigações com que se acha, e está conta o maior número de índios oficiais não contem-
livre do referido ônus em poucos anos7.
plados pela direção, “segundo a graduação dos seus

Não há dúvida de que o soldo pago aos oficiais postos, a fim de ficarem sem o dissabor de se verem
indígenas era menor, por exemplo, do que aquele dis- nesta parte desatendidos”10.
pensado ao terço dos pretos de Henrique Dias. Um Também é importante relembrar a divisão das
capitão-mor recebia 5 mil réis por mês; enquanto um porções de terra que cabiam a cada um dos oficiais
sargento-mor, 1 mil e 380 réis; e os ajudantes per- militares nas novas vilas, inclusive, com a entrada de
cebiam um soldo de 640 réis. Não se deve esquecer soldados das ordenanças na distribuição geral. Além
também que os oficiais não-índios recebiam de farda das porções mencionadas na direção (ao capitão-mor,
666 réis por mês, complemento ausente no caso dos 100 x 90 braças; ao sargento-mor, 100 x 80 braças; ao
índios de Ibiapaba. Se a diferença da quantia parece capitão, 100 x 70 braças; ao alferes, 100 x 60 braças;
maior entre o posto de capitão-mor e o de mestre de aos sargentos e cabos de esquadra, 100 x 50 braças;
campo, no caso dos sargentos-mores comparando-se e aos soldados, 100 x 40 braças), cabiam a cada um
índios de Ibiapaba com o terço dos pretos, se vê que deles as terras que lhes tocavam por cada pessoa da
os militares indígenas eram mais bem remunerados.
família, filho e doméstico (Directório, §§ 103-113,
Ao que parece, o posto de mestre de campo entre os
in NAUD, 1971). Concessões nada desprezíveis, es-
índios de Viçosa equivalia ao posto de coronel, res-
pecialmente numa área sertaneja subordinada à lida
ponsável direto por toda a organização militar; neste
com o gado e a pequenas culturas de plantio.
caso, as remunerações são incomparáveis, pelo menos
A manutenção e a remuneração do corpo de ofi-
em relação ao regimento de infantaria dos brancos
ciais militares da ordenança de Viçosa Real demons-
(MIRALES, 1900, p. 111-116)8. Mas se se mantiver
tram a continuidade de um reconhecimento de seu
a comparação de comando entre o capitão-mor dos
pretos e o mestre de campo dos índios, D. Felipe per- papel social na segurança da capitania do Ceará e suas
cebia nada menos que 60% a mais de soldo. vizinhas, como ocorrera em décadas anteriores. Por
Deve-se lembrar também que na criação da vila outro lado, acredito que os soldos constituíam uma
Viçosa Real os índios oficiais foram contemplados possibilidade real de acumulação material para os
com uma parte do gado sequestrado das fazendas de índios, alguns deles conseguindo até mesmo fazen-
criação dos jesuítas e distribuídos pela Junta de Recife das de gado, como no caso de D. Felipe de Sousa e
(ao todo foram 516 vacas, 8 bois e 80 éguas). Essa, Castro11. Com exceção de pouquíssimos oficiais me-
aliás, desde o primeiro momento foi uma dificulda- cânicos, pelo menos nos primeiros anos na vila12, os
de do governador de Pernambuco, que considerava o índios sem qualquer especialização profissional (por

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exemplo, como tecelão, alfaiate, carpinteiro, pedreiro material no mundo sertanejo colonial. Esse exemplo
e oleiro) enxergavam nos cargos militares uma pos- demonstra o que havia sido dito, isto é, que a ocu-
sibilidade concreta de melhoria de vida e da vida de pação dos postos de oficiais militares em Viçosa Real
seus parentes, uma vez que seus salários chegavam constituía uma possibilidade efetiva de distinção so-
apenas à irrisória quantia de 400 réis por mês13. cial, quer material quer simbólica. Todavia, o infortú-
Um caso malogrado de solicitação de mercês é nio do solicitante continuaria ainda por mais algum
bem representativo de tudo o que foi exposto até aqui. tempo, senão durante toda a sua vida.
No início do século XIX, existiam apenas duas com- O governador mandou um ofício ao diretor da
panhias de ordenanças em Viçosa: uma de naturaes, vila com o fim de comprovar a autenticidade das in-
isto é, constituída apenas por índios, “sem mistura al- formações. Segundo ele, constava que Antônio tivesse
guma de sangue Europeu nem Africano” e regida pelo servido no corpo militar da referida vila, mas que ele
diretório; a outra, era uma ordenança montada, com- havia desertado de cinco para seis anos, indo servir
posta de “brancos, mulatos, mamelucos, e de todas as de fábrica (auxiliar) em uma fazenda de gado. Desde
diferentes qualidades de mestiços”, mas também com então, continua o diretor, “dali para cá vivia nesta vila
alistamento de alguns índios14. como os mais índios” e “não me consta fizesse mal
Em 1815, um “índio natural” da vila, chamado algum”16. O índio Antônio de Verçosa que não era
Antônio de Verçosa, fez uma solicitação ao gover- inclinado ao ofício pelo qual havia sido exercitado,
nador do Ceará. Dizia ele que era descendente de D. como mencionava o diretor, também não fazia mal
Felipe Camarão e neto do falecido Lopo Javares, um algum, nem fazia parte de uma família proeminente;
dos capitães do regimento pago da mesma vila. Sem mesmo que tenha tentado ligar-se a uma ascendência
se fazer de rogado, o solicitante apresentou um do- privilegiada, ele não possuía um rol de serviços pres-
cumento onde constava que servia como soldado na tados à Coroa que lhe pudesse garantir uma forma de
ordenança já pelo tempo de quatorze anos, sem soldo recompensa meritória, pois “vivia nesta vila como os
algum. Assim, requeria que lhe fosse passada a paten- mais índios”.
te de alferes graduado no mesmo corpo militar “com De qualquer forma, é quase impossível – ao nos
exercício e merecimento” ou então que pudesse servir depararmos com a falsificação de um documento de
como vaqueiro vitalício em uma das fazendas de gado serviço militar anexado à solicitação de Antônio –
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da Fazenda Real, nas cabeceiras do rio Piauí . não lembrar do caso paradigmático que envolvera a
Parece soar bastante estranho para qualquer bom fraude pernambucana no processo de habilitação do
ouvinte um pedido assim tão despropositado: ocupar poderoso Filipe Pais Barreto, a Cavaleiro da ostento-
um posto militar ou ser um criador, vaqueiro de al- sa Ordem de Cristo, analisada por Evaldo Cabral de
guma fazenda de gado. Na verdade, Antônio queria Mello. Se a comparação é descabida, afinal um posto
mesmo era sair de sua condição de desafortunado, de alferes em nada se assemelhava a uma mercê de
pois com uma patente militar receberia soldo ou, sen- cavaleiro, não é descabida a forma usada por esse ín-
do vaqueiro, poderia ele “tirar a quarta” do gado cria- dio que, dentro de suas possibilidades, também re-
do, uma das formas mais usuais de certa acumulação correu a um artifício de promoção social que julgava

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Honras, mercês e prestígio social

estar ao seu alcance. Ao fim e ao cabo, nos dois casos, Nem Camarão, nem Algodão: a família Sousa e
aproprio-me aqui das palavras do mencionado autor: Castro
buscava-se uma condição que “classificava ou desclas-
Ao longo da história colonial, algumas lideranças
sificava o indivíduo e a sua parentela aos olhos dos
indígenas não apenas conquistaram mercês da Coroa
seus iguais e dos seus desiguais, garantindo assim a
portuguesa, mas também conseguiram estender sua
reprodução dos sistemas de dominação” (MELLO,
própria influência à família, construindo uma espécie
1989, p. 111).
de grupo de privilegiados na América lusa. O exemplo
Portanto, é possível sustentar que a distinção so-
nodal, neste sentido, é do principal Araribóia, batiza-
cial entre os índios a partir da política pombalina –
do com o nome cristão de Martim Afonso de Souza.
como era seu objetivo, ao almejar que a vila de índios Aliado de primeira hora de Mem de Sá, essa lideran-
fosse equivalente a quaisquer outras dos brancos – ti- ça com sua força militar tivera um papel destacado
nha na ocupação dos postos militares uma alternativa na conquista do Rio de Janeiro, ocupando o posto de
possível, embora bastante restrita ao reduzido núme- capitão-mor da aldeia de São Lourenço, baluarte da
ro de oficiais nas ordenanças. Nessa perspectiva, di- recém-criada cidade, sendo agraciado com o Hábito
ferente das vilas de índios no Rio Grande do Norte, de Cavaleiro da Ordem de Cristo. Se a valorização das
o caso de Viçosa Real é bem mais semelhante ao do lideranças indígenas fazia parte da política da Coroa
Rio de Janeiro colonial onde era possível, através dos portuguesa para cumprir seus objetivos, particular-
postos militares, um ganho material (ainda que em mente nos primeiros séculos de colonização, pelo
pequena escala) que poderia ser reinvestido em ou- menos até o final do século XVIII, os capitães-mores
tras atividades (ALMEIDA, 2003, p. 160); e, com isso, de São Lourenço embasavam suas petições pela refe-
recrudescer uma distinção social entre eles, buscan- rência direta de seu ascendente mais ilustre, isto é, eles
do tanto quanto possível algum tipo de vantagem no faziam parte da família Souza (ALMEIDA, 2006, p.
Antigo Regime. 13-27).
Todavia, é fundamental afirmar que o funil dessa Para a região da capitania geral de Pernambuco
ascensão simbólica e material foi se fechando com o é também bastante conhecida a formação da família
crepúsculo setecentista porque o contexto histórico da Camarão. Provido no posto de capitão-mor dos ín-
segunda metade do século XVIII, não se assemelhava dios Potiguara, agraciado como Cavaleiro do Hábito
ao do período anterior, quanto à instabilidade social da Ordem de Cristo e detentor do brasão das armas,
provocada pela guerra do Açu e pela ocupação pasto- Antônio Filipe Camarão é uma personagem indíge-
ril. No século XIX, o literato e um dos fundadores do na colonial das mais valorizadas, considerada como
Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do um dos heróis da restauração pernambucana con-
Ceará (1887), Antônio Bezerra, assim se referiu à for- tra os holandeses (1630-1654). Tendo a vida ceifa-
ça militar quando esteve na então cidade de Viçosa: da um mês depois da famosa Primeira Batalha dos
“Vila Viçosa Real mantinha um corpo regular de tro- Guararapes (19/04/1648), o posto de capitão-mor dos
pas, e gozou de certa importância até o princípio deste índios foi entregue a seu primo, D. Diogo Pinheiro
século” (BEZERRA, 1965, p. 116). Camarão. Desde então, o terço dos índios de Camarão

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constituía-se em uma milícia de índios guerreiros a à aldeia que lhe conferira reconhecimento das autori-
serviço da Coroa. As lideranças que se sucederam no dades coloniais e da própria Coroa portuguesa; mas
comando desses índios dão bem o tom do parentesco também de seus liderados, pois de outra forma não
entre elas: D. Francisco Pinheiro Camarão, D. Diogo teria ela poder de barganha nem poderia se manter
Pinheiro Camarão, Sebastião Pinheiro Camarão e nos sucessivos cargos de liderança. Mas afinal, quem
Antônio Domingos Camarão (MELLO, 1954; LOPES, eram os índios da família Sousa e Castro?
2003, p. 74-76). Sabe-se que D. Jacob de Sousa e Castro ostenta-
Na capitania do Ceará, uma outra liderança con- va o título de “governador dos índios” de Ibiapaba e
seguiu garantir à sua família, a partir de sua aliança que havia passado a Lisboa, em 1720, com a petição
com os portugueses, uma continuidade de posse nos de não deixar sua aldeia ser transferida para o Piauí;
cargos da aldeia. O principal João Algodão, o primeiro vale mencionar que deste episódio esquecido na his-
de uma linhagem de chefias potiguaras diretamente toriografia cearense –que conta com dezenas de do-
ligada às aldeias de Parangaba e Paupina, também se cumentos das mais distintas autoridades do Ceará
dizia descendente de índios que lutaram na restaura- – a presença e a argumentação desta liderança foram
ção pernambucana. No século XVIII, alguns de seus fundamentais para a decisão final de ninguém menos
parentes se revezaram na liderança, entre eles, José que o duque de Cadaval, proeminente figura política,
Soares Algodão, em 1705; Sebastião Soares Algodão, membro do Conselho Ultramarino (MAIA, 2010, p.
em 1739; seguido por João Soares Algodão que, em 200-210). Mas ele não foi o primeiro índio a cruzar
1759, com a política pombalina e ereção da nova o oceano. No final da década de 1650, junto com o
vila Real de Arronches, ficou como juiz ordinário padre Antônio Vieira, uma outra liderança, talvez, as-
(STUDART FILHO, 1965, p. 120-121). cendente daquela, também foi recebida na Corte:
Aliás, as linhagens de grupos indígenas privi-
Foi esta nova [acordo de paz] recebida em
legiados que tinham como referências as famílias
Ibiapaba com grande aplauso e festas; e logo
Camarão e Algodão ainda aguardam estudos de fô- mandaram todos os principais, uns a seus
lego sobre seus significados mais amplos, não apenas irmãos, outros a seus filhos, acompanhados
no período colonial mas também na atualidade17. de mais de cinquenta outros índios, a visitar
Em vila Viçosa Real, a formação de um grupo de o novo governador e superior da missão;
índios privilegiados esteve embasada na função mi- e um deles, que hoje se chama D. Jorge da
Silva, filho do principal mais antigo, para
litar de suas ocupações que eram regidas pelos laços
que passasse ao reino, a beijar a mão a sua
de parentesco, sendo a família um dado fundamental majestade em nome de todos (VIEIRA
na concessão de mercês e reconhecimento ao prêmio [1660], in GIORDANO, 1992, p. 182).
que se recebia do monarca. Por isso, em 1759, o novo
capitão-mor da vila escolhido foi D. José de Sousa e D. Jorge da Silva, filho do principal mais antigo,
Castro, irmão do mestre de campo, D. Felipe de Sousa foi a liderança escolhida para passar “ao reino, a beijar
e Castro, sendo ambos filhos de D. Jacob de Sousa e a mão a sua majestade em nome de todos”. Dele não
Castro. Ao que parece, a família Sousa e Castro man- se tem mais notícia, mas com certeza retornou com o
teve ao longo de várias décadas uma relação exterior visitador jesuíta, pois era uma garantia da aliança dos

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Honras, mercês e prestígio social

índios de Ibiapaba com os portugueses. [1757], p. 470-472).


O primeiro registro nos documentos coloniais
referente a D. Jacob de Sousa e Castro é feito pelo pa- Se nosso beneditino estiver correto, D. José de
dre Ascenso Gago, em 1701, ao mencionar a funda- Sousa e Castro teria recebido a nomeação de “gover-
ção da aldeia de Ibiapaba, quando cada um dos três nador” dos índios de Ibiapaba depois da morte de D.
principais seguira com “seus vassalos” para partes dis- Jacob de Sousa e Castro, em 1720. E se morrera mes-
tintas da quadra da aldeia (GAGO [1701] in LEITE, mo em 1730, então o principal que foi escolhido como
1943, p. 63, 64). Seu nome cristão já denota uma mu- capitão-mor de Viçosa Real era seu homônimo. Em
dança importante quanto à sua posição na nova or- qualquer dos casos, permanece um vínculo familiar
dem colonialista, reconhecida então com a presença direto entre as lideranças mencionadas.
dos missionários. Quanto a D. Felipe de Sousa e Castro, diz o autor
O cronista colonial e sacerdote da Ordem de de Desagravos do Brasil:
São Bento, Domingos do Loreto Couto, membro da
D. Filipe de Sousa e Castro, cavaleiro da
Academia dos Renascidos (1759), cuja finalidade era
Ordem de Santiago, nasceu na famosa Serra
escrever a história brasílica a partir de documentos
de Ibiapaba, e teve por pai o dito D. José de
manuscritos, faz referência aos nomes de quatro li- Sousa e Castro. Foi educado na Campanha,
deranças indígenas que viveram no Ceará, entre elas, em cuja marcial palestra anelando unica-
três tabajaras de Ibiapaba: D. José de Sousa e Castro, mente ser êmulo de seu pai, mostrou que o
D. Felipe de Sousa e Castro e D. Sebastião Saraiva. Do valor para ser heróico não depende da dila-
primeiro afirmava o seguinte: ção do tempo. Não foi inferior a glória que
então conseguiu o seu braço em várias ex-
D. José de Sousa e Castro, cavaleiro da pedições, nem a que alcança agora em to-
Ordem de Santiago, Governador da Serra das as ocasiões, que se oferecem do serviço
de Ibiapaba, nasceu entre os índios Tupis d’el-Rei, em que sempre tem a maior parte
com distinta nobreza, herdando de seus o valor que a cobiça. É mestre-de-campo
maiores com o sangue o valor e lealdade. do Terço, que existe na dita serra, e em seus
Frondosas palmas e louros colheu o seu robustos ombros sustenta toda aquela di-
invencível braço dos rebeldes Potiguares latada província incontrastável a violentas
e outros Gentios. Para vingar as hostilida- invasões (Idem).
des causadas pelas formidáveis armas de
tantos bárbaros correu triunfante desde o De acordo com documentos já mencionados, D.
Ceará até o Maranhão, e rendeu menos a
Felipe era filho de D. Jacob de Sousa e Castro, e o teria
violência do ferro que ao respeito de seu
nome as nações contrárias obrigando-as a acompanhado a Lisboa, em 1720.
que rendidas e obsequiosas o buscassem Sobre o último dos três principais, diz o Loreto
para Tutelar das suas aldeias. Constando ao Couto:
Fidelíssimo Rei D. João V o valor, zelo e le-
aldade, com que o servia este insigne índio, D. Sebastião Saraiva, cavaleiro da Ordem
lhe fez várias mercês, que seriam maiores de Santiago, parente muito chegado dos di-
se a morte o não arrebatara intempesti- tos D. José e D. Filipe de Sousa. Não sendo
vamente no ano de 1730 (COUTO, 1981 em os dotes do espírito inferior aos seus

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maiores não o tem sido no exercício das eles, Antônio Felipe Camarão, Araribóia, Pau Seco,
virtudes militares e políticas, merecendo Tibiriçá, Piragibe e outros, seu objetivo era apontar
pela sua singular capacidade e insignes me-
os índios valorosos que contribuíram para a glória do
recimentos que el-Rei D. João V o nomeas-
império português na colônia brasílica20.
se capitão-mor da dilatada e opulenta serra
da Ibiapaba. Ao ardor militar excede o pio Por outra via, agora analisando a lista nominal
e católico, que lhe inflama o coração, sen- do terço dos índios de Viçosa Real (1770-1772), tam-
do ao mesmo tempo capitão e catequista, bém é possível rastrear uma aproximação familiar en-
igualmente vigilante em aumentar o Estado tre os chefes de companhias militares. Dos dezenove
para seu Príncipe, como em estender o oficiais listados, nada menos que cinco faziam parte
Império para Cristo (Ibidem).
da família Sousa e Castro e, detalhe, compunham os
O filho dessa liderança, Sebastião Saraiva mais altos postos da ordenança: o mestre de campo,
Coutinho, numa petição de terras, aliás, com des- D. Felipe de Sousa e Castro; o capitão-mor da vila, D.
José de Sousa e Castro; o sargento-mor, Manuel de
pacho favorável, mencionou que o pai, D. Sebastião
Sousa e Castro; um capitão chamado D. João de Sousa
Saraiva, morrera “no serviço real” durante uma guer-
e Castro e, finalmente, um outro capitão, de nome D.
ra movida contra os índios hostis da região. Ainda
Jacob de Sousa e Castro, certamente um homônimo
que o filho não fosse um oficial militar, embora se
do “governador” dos índios, falecido em 1720. E, se
apresentasse como “principal de sua gente”18, é inegá-
fosse feita uma comparação por etnia e família nomi-
vel que sua ascendência familiar foi um aspecto fun-
nal, eles representariam um terço da força militar dos
damental para o recebimento dessa mercê da parte da
índios tabajaras21.
Coroa portuguesa.
Quanto a essa multiplicação do termo “Dom”
A indicação de Loreto Couto, aqui, justifica-se de
que antecedia seus nomes, pouco pode ser auferido.
duas maneiras. A primeira diz respeito ao que se sabia
Talvez, essa titulação viesse junto com o nome retira-
das lideranças indígenas de Ibiapaba, em 1757, data
do dos pais e parentes valorizados pela Coroa e apro-
de conclusão de sua obra. E, em segundo lugar, sua in-
priado pelos índios como uma espécie de extensão
tenção, como membro da segunda academia brasílica
adjetivada. Assim, seu significado seria interno aos
e no contexto das Luzes setecentistas era escrever com
grupos indígenas, portanto, inalcançável aos estudio-
maior rigor possível uma história sem qualquer vin- sos atuais. Essa parece ser a conclusão mais verossímil,
culação a “notícias mal comprovadas”. Acusação essa pois não se encontraram documentos sobre tais con-
que ele dirigiu aos autores que não compreendiam o cessões referentes à segunda metade do século XVIII,
valor guerreiro dos índios e nem “a nobilitação dos com exceção apenas da carta patente do capitão-mor
vassalos de ascendência indígena”19. Neste aspecto, dos índios, Dom José de Sousa e Castro, passada pelo
seu texto é semelhante a outro documento de autoria governador de Pernambuco, em 1760, e confirmada
desconhecida, intitulado “Índios famosos em armas pela rainha regente mais de vinte anos depois22.
que neste Estado do Brasil concorreram para a sua Em vila Viçosa Real uma outra parentela im-
conquista temporal e espiritual” (1758). Com uma portante era a família Vasconcelos que, possivelmen-
lista de pouco mais de duas dezenas de nomes, entre te, surgiu de uma separação de lideranças na família

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Honras, mercês e prestígio social

Sousa e Castro. Isso porque D. Jacob de Sousa e Castro disputa entre os grupos de índios vilados. E é o pró-
era tio de D. José de Vasconcelos que, por sua vez, era prio governador – informado, talvez, pelos seus co-
filho de D. Balthazar de Vasconcelos, portanto, D. laboradores diretos, o diretor e o mestre de campo –
Jacob de Sousa e Castro e D. Balthazar de Vasconcelos que desvenda o interesse dos envolvidos:
eram irmãos23. Um outro membro desta família, João
Porém como a experiência principia a
da Costa Vasconcelos, ocupava o posto de major, na mostrar na deserção que entraram a fazer
mesma lista do terço dos índios mencionada. Quanto os moradores mais próximos desta vila que
a esta liderança há um episódio bastante esclarecedor todo sítio para ela se partiram na ideia de
quanto às defecções entre as chefias indígenas. não terem no mesmo quem no temporal
os governasse conteve ser o meio de maior
O vigário interino de Viçosa Real havia con-
concurso que por este acrescia, proporcio-
seguido autorização do prelado de Pernambuco
nado adiantar a antiga parcialidade, como
para a construção de uma capela no sítio “Baipina” que sempre os descendentes do Mestre de
[Ibiapina], distante dez a doze léguas do centro da Campo Vasconcelos, quiseram sacudir o
vila. O governador interferiu logo nos planos do vi- jugo da obediência de Dom Felipe, e fazer
gário, avisando ao bispo que, com o início das obras, corpo separado para enterterem [sic] a po-
sição que a este último conservam25.
estava havendo uma saída extraordinária dos índios
vilados, assim, “a fim de acautelar o dano que temo e O major João da Costa era apenas o Vasconcelos
o desamparo, ou deserção que foram desta vila quase da vez, isto é, esta família e seus descendentes há mui-
todos”, mandava que parassem a construção, “por não to tempo queriam sacudir o jugo de D. Felipe, apon-
terem no dito sítio quem os constranja ao trabalho, tando uma rivalidade anterior à criação do novo esta-
e acautele os dízimos”24. O bispo então mandou sus- belecimento entre aqueles e a família Sousa e Castro.
pender, temporariamente, as obras. É bastante revelador quanto à duração dessa rivalida-
Ora, a organização do trabalho dos índios cabia de constatar que, em 1816, um outro pedido para a
ao capitão-mor auxiliado diretamente pelo mestre de construção de uma capela no mesmo sítio de Ibiapina
campo, cargos ocupados pela família Sousa e Castro. havia sido requerido ao governador do Ceará, só que
Os índios que apoiavam a construção da capela em desta vez por “Pedro Gonçalo da Costa Vasconcelos e
outro sítio, portanto, que estavam ao lado do vigário mais índios”26.
– contra o diretor e as determinações do governador É possível que a família Sousa e Castro tenha
– eram da família Vasconcelos, liderados pelo major adentrado o século XIX com a manutenção de sua
João da Costa Vasconcelos. As intrigas entre as auto- liderança familiar privilegiada, vista melhor a partir
ridades locais serviram assim como um pretexto para da função militar de alguns de seus membros. Em
os distintos grupos familiares indígenas trazerem à 1813, era capitão-mor dos índios de Viçosa Real, o Sr.
tona uma latência de rivalidades já existente, portan- Ignácio de Sousa e Castro. Mesmo não sendo “Dom”,
to, não se tratava de simplesmente os índios estarem pois o documento refere-se a ele como “Sr.”, o oficial
sendo usados por quaisquer dos lados envolvidos. indígena fez algumas solicitações ao governador da
Se claro está que havia uma disputa entre o vi- capitania do Ceará.
gário e o diretor, também está claro que havia uma A primeira delas dizia respeito à aprovação de

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uma lista de outros oficiais, seus subordinados e de tenha mantido o significado que lhe tocava no Antigo
sua confiança, deferida pelo governador. Um outro Regime. Conta-nos Lopes que, em 1767, o cônego
requerimento consistia no não pagamento dos emo- da catedral de Olinda e visitador da diocese, Manoel
lumentos e selos respeitantes aos registros das paten- Garcia Velho do Amaral, levara dois índios vilados
tes que deviam ser retiradas da secretaria do governo. do Rio Grande do Norte para o seminário olindense,
Em resposta, disse a maior autoridade do Ceará: “sou para que eles aprendessem latim e iniciassem os estu-
a dizer-lhe que uma vez que vm me faça ver Ordem dos eclesiásticos. A intenção do sacerdote era que es-
Régia que determine que na secretaria e vedoria se ses índios servissem de exemplo aos demais das vilas,
passem e registrem estas patentes de graça assim o or- destacando suas capacidades na aprendizagem. Um
denarei”27. Na verdade, o capitão-mor dos índios não dos índios era Antônio Dias da Fonseca, com 20 anos
fazia referência à mencionada autorização régia, sim- e da Vila de Arez; o outro, da Vila de Estremoz, era
plesmente porque ela inexistia; contudo, a dispensa foi Antônio Alves da Cunha, moço com 16 anos e sobri-
mantida pelo “costume”, pois de acordo com o gover- nho de D. Felipe de Sousa e Castro, mestre de campo
nador, mesmo que “não seja fundado em ordem algu- de vila Viçosa Real. Na contra-argumentação do cô-
ma régia, tenho feito conservar por ser a benefício dos nego em relação ao indeferimento do bispo – que os
pobres índios”28. Neste caso, percebe-se que o capitão- considerava neófitos, incapazes do conhecimento teo-
-mor dos índios demonstrara sua sutileza no trato das lógico – e registrado na sentença de habilitação feita às
hierarquias em sintonia com o arranjo de algum direi- Ordens Menores, constava o seguinte trecho: “filhos
to que lhe tocava como oficial militar indígena. de legítimo matrimônio, inteiros, e legítimos índios
Apenas em 1819 é que os índios de Pernambuco, por seus pais e avós paternos e maternos sem mistura
Paraíba e Ceará serão dispensados oficialmente do alguma, todos batizados e sempre criados no grêmio
pagamento do registro e do selo de suas patentes. O da Igreja, sem nunca discreparem na fé e na religião
motivo seria, de acordo com o decreto, pela “fidelida- Católica Romana” (apud LOPES, 2005, p. 477).
de e amor” que os índios dessas capitanias devotaram Portanto, esses índios eram cristãos com ascen-
à pessoa régia ao engrossar as tropas militares contra dência de família católica e considerados sem mistu-
os “revoltosos que na vila do Recife tinham atentado ra, quer dizer, sem sangue negro ou judeu. Lembra-
levantar-se contra a minha Real Soberania e, ataca- nos Boxer que a determinação pombalina de não
do as autoridades por mim estabelecidas”. Em seu distinguir os vassalos pela cor, mas pelos seus méri-
favor, determinava El Rei que os índios não apenas tos, teve repercussões diferentes no imenso império
não pagassem pelas custas de suas patentes, mas que português. No Brasil, a partir das Constituições do
estivessem dispensados ainda das quotas dos 6% que Arcebispado da Bahia (1719-1720), “era mais fácil
cabiam, pelo diretório, a cada um dos diretores nas obtê-la se o candidato [a cargo eclesiástico] tivesse
suas respectivas vilas e lugares29. algum remoto antepassado ameríndio ou protestan-
Por outro lado, há exemplo de que, pelo menos te europeu de raça branca do que se lhe corresse nas
um, dentre os membros da família Sousa e Castro, veias sangue judeu ou negro” (BOXER, 2002, p. 273).
não se valeu de qualquer patente militar para tentar Apesar disso e de outras requisições, os índios nunca
distinguir-se socialmente, embora sua ascendência foram aceitos no seminário de Olinda.

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Honras, mercês e prestígio social

Ao que parece, a política pombalina em relação à Coroa portuguesa estavam no âmago da lógica de
aos indistintos vassalos indígenas e não-indígenas de ascensão social de Antigo Regime cuja relação assi-
Sua Majestade, passava pelo crivo das determinações métrica rei-vassalos tinha nos serviços/recompensa
de autoridades da América portuguesa. Neste senti- uma de suas bases mais profícuas.
do, basta mencionar que, em meados de 1780, dois Os índios de Ibiapaba conseguiram manter, mes-
índios guaranis foram ordenados padres no presti- mo após o estabelecimento do diretório pombalino
giado seminário São José, no Rio de Janeiro; levados (1759), um continuum de privilégios que tocava al-
das aldeias da capitania do Rio Grande de São Pedro guns de seus oficiais com função militar, especial-
com todas as condições materiais para a realização de mente, aqueles de etnia Tabajara que ocupavam os
seus estudos, inclusive, sendo bem vestidos e calça- postos mais altos da hierarquia social no novo estabe-
dos – forma clara de sua distinção social – para sua lecimento. De maneira bastante convincente, Fátima
nova vivência na capital. O objetivo dessa política de Martins Lopes conclui que no Rio Grande do Norte
valorização dos índios, entre outras razões, passava essas “nomeações não recaiam sobre aqueles designa-
pela necessidade da Coroa de conseguir religiosos dos como Principais tradicionais, mas sim naqueles
que dominassem a língua daqueles nativos, mas, não que eram favoráveis às imposições coloniais” (2005, p.
menos importante é constatar que essa oportunida- 278). No caso de Viçosa Real, é possível constatar que
de também fora apropriada por eles (GARCIA, 2009, as lideranças “tradicionais” se mantiveram ao longo
p. 102, 103, 160). No caso dos índios solicitantes ao das décadas, justamente porque se adequaram às ino-
seminário de Olinda, a recusa de suas ordenações pa- vações do diretório, decidindo elas que a colaboração
rece estar ligada diretamente ao fato de não ter ha- com as autoridades colonialistas era então imprescin-
vido uma necessidade especial da política pombali- dível, a forma menos deletéria de sua vivência social
na como, por exemplo, em relação ao uso da língua, no Antigo Regime.
como ocorrera com os padres guaranis; de qualquer
forma, o caminho trilhado pelo serviço das armas Notas
levava alguns índios e seus descendentes para outras 1 Principal “é o título que se dá no Brasil ao Gentio, mais
direções, algumas delas, pelo menos para os membros estimado da aldeia, e que governa como capitão dela” (Cf.
BLUTEAU, 1712-1728).
de algumas famílias, para caminhos de certa forma
2 Na Ibiapaba, no século XVII, as lideranças indígenas não
bastante promissores. precisavam da anuência do poder da Coroa para manter as
prerrogativas de sua função legitimadas por seus liderados
(Cf. MAIA, 2006).
Considerações finais 3 Nunca encontrei, na documentação pernambucana colonial,
qualquer menção à atribuição de carta patente de “principal”
a alguma liderança indígena, como parece ter ocorrido com
Assim como ocorrera na área amazônica, a esco- certa frequência na área amazônica. Essa hipótese, contudo,
só poderá ser comprovada com estudos específicos.
lha dos índios para os cargos vacantes na liderança da
4 Cf. Notas históricas de Viçosa do Ceará, extraídas do livro
antiga aldeia de Ibiapaba – depois vila Viçosa Real – de câmera local. BNRJ (Biblioteca Nacional do Rio de
recaía sobre a descendência dos chefes, mas com pro- Janeiro), I-28, 9, 13, fl. 10.

visão passada por autoridades coloniais. A função e 5 Ofício do ouvidor-geral da capitania de Pernambuco,
Bernardo Coelho da Gama e Casco ao secretário do estado
a distinção familiar respaldada em serviços prestados do Reino, conde de Oeiras, Sebastião de Carvalho e Melo,

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sobre fazer o sequestro dos bens dos jesuítas. 10/02/1761. 18 Datas de Sesmarias do Ceará, vol. 11, nº 1. 30/11/1721.
AHU-PE (Arquivo Histórico Ultramarino, Documentos APEC (Arquivo Público do Estado do Ceará).
Avulsos de Pernambuco), cx. 95, doc. 7493.
19 Loreto Couto foi visitador geral do bispado de Pernambuco
6 Livro de registro composto, principalmente, de cartas, e, a mando do governador, elaborou um levantamento geral
portarias e mapas versando sobre vários assuntos da população nas paróquias, em 1749, conseguindo, assim,
relacionados com a administração de Pernambuco e das como poucos, um conhecimento da terra e dos homens (Cf.
Capitanias anexas, tais como: índios, estabelecimentos de KANTOR, 2006, p. 71-80).
vilas e aldeias (1760-1762). BNRJ, I-12, 3, 35, fl. 75v.
20 Na lista, não é esquecido nem mesmo um tabajara de nome
7 Idem. Francisco que havia levado as cartas do padre Vieira às
Serras de Ibiapaba no século XVII. Cf. “Índios famosos em
8 Um coronel do regimento de infantaria recebia um soldo de armas, que neste Estado do Brasil concorreram para a sua
mais de 62 mil réis por mês. A comparação se fez com esse conquista temporal e espiritual”. IEB (Instituto de Estudos
regimento, pois no caso dos pretos do terço dos Henriques Brasileiros, USP), códice 5.6, A8.
não há equivalência em sua estrutura militar, uma vez que o
capitão-mor era o mais alto posto. 21 Lista elaborada a partir da Coleção Freire Alemão, BNRJ,
I-28, 9, 13, fl. 10.
9 A Direção foi uma adaptação ao texto do Diretório,
organizada e implementada pelo governador capitão- 22 Requerimento de D. José de Sousa e Castro à rainha D.
general de Pernambuco, Luiz Diogo Lobo da Silva. Maria I, pedindo confirmação da patente de capitão-mor da
nação Tabajara de Vila Viçosa Real. Ant. 12/09/1782. AHU-
10 Carta de Lobo da Silva ao diretor de Viçosa sobre a CE (Arquivo Histórico Ultramarino, Documentos Avulsos
repartição do gado, material para a vila, divisão de terras e do Ceará), cx. 9, doc. 584, anexo.
outros assuntos. 18/08/1761. BNRJ, I-12, 3, 35, fls. 81-82v.
23 Cf. Parecer do padre João Guedes, da Companhia de Jesus e
11 Carta de Luiz Diogo Lobo da Silva a Thomé Joaquim da missionário do Brasil, sobre a petição do mestre-de-campo
Costa Corte Real acerca da visita que recebeu dos Principais Bernardo de Carvalho e Aguiar. S.l.n.d [1719?]. In: RAU,
das aldeias que se reduziram a vila. 13/06/1759. IHGB 1958, p. 394-400; Datas de Sesmarias do Ceará, vol. 6, nº
(Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro), Arquivo 1.1.14, 477. 26/08/1720. APEC.
fls. 204-204v.
24 Carta do governador de Pernambuco, Lobo da Silva,
12 Em 1760, dizia o diretor da vila: “era preciso mandar vir ao diretor da Vila Viçosa Real sobre vários assuntos.
de fora um mestre oleiro para fazer a telha precisa para 13/12/1761. BNRJ, I-12, 3, 35, fls. 96-98.
as obras públicas e régias desta vila, visto os nacionais da
mesma não serem peritos no dito ofício”. Termo de vereação 25 Carta de Lobo da Silva ao diretor de Viçosa sobre ficar
na Vila Viçosa Real. 05/10/1760. Notas históricas de Viçosa sustada a obra da nova igreja. 18/12/1762. BNRJ, I-12, 3, 35,
do Ceará extraídas do livro de câmara local. BNRJ, I-28, 9, fls. 155v-156.
13, fl. 12.
26 Aviso do governador do Ceará, Manoel Ignácio de Sampaio,
13 “Como se davam índios à soldada no século XVIII”. In: RIC ao Secretário de Estado e Negócios do Brasil sobre pedido
(Revista do Instituto do Ceará), tomo LIV, pp. 93-98, 1940. dos índios de Ibiapina para a construção de uma capela.
19/01/1816. ANRJ, IJII – 168, fl. 126.
14 Cópia de ofício n. 11, mandada pelo governador do Ceará
ao Secretário de Estado de Negócios do Brasil. 01/08/1815. 27 Registro de um ofício ao capitão-mor de Vila Viçosa Real,
ANRJ (Arquivo Nacional do Rio de Janeiro), IJJ9 - 168, fls. aprovando uma proposta. 31/07/1813. APEC (Arquivo
37-37v. Público do Estado do Ceará). Conjunto CE 1.6, Livro 83, fls.
123v-124.
15 Correspondência do governador do Ceará acerca do pedido
de patente de alferes de Antônio de Verçosa, índio da 28 Carta do governador Manoel Ignácio de Sampaio ao
vila Viçosa Real. 13/02/1816. ANRJ, IJJ9 – 168, fls. 35-36. Secretário de Estado e Negócios do Brasil, Conde de Aguiar,
Requerimento anexado, sem data. acerca das vilas de índios. 01/04/1814. ANRJ, IJJ9 – 168, fls.
6-8v. Vale mencionar que o custo do registro das patentes
16 Carta [cópia] do diretor da Vila Viçosa Real ao governador era também uma queixa recorrente entre os oficiais brancos.
do Ceará sobre o índio Antônio de Verçosa. 02/06/1815. Cf. Carta dos oficiais do Ceará, reclamando do custo que
ANRJ, IJJ9 – 168, fl. 38. devem pagar pelas patentes, conforme carta régia de 16 de
17 Em 2004, no Encontro Nordestino de História, em novembro de 1740. S.d. BNRJ, II-32, 23, 72, fls. 14-16.
Recife, fiquei surpreso ao constatar, ouvindo algumas 29 Decreto [cópia] de 1819, premiando os índios do Ceará,
comunicações de pesquisadores que têm estudado os índios Pernambuco e Paraíba, por seu comportamento no atentado
contemporâneos, que alguns grupos étnicos fazem referência de Pernambuco. 25/02/1819. BNRJ, II-30, 32, 005, sem
às linhagens precedentes de Camarão e Algodão. Parece- paginação.
me, assim, que essa tradição construída e remontando
ao período colonial – com base numa linhagem “nobre”
comum – é um campo fecundo de pesquisa, ainda pouco
explorado pelos historiadores (Cf. SILVA FILHO, 2004).

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Honras, mercês e prestígio social

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Lígio de Oliveira Maia

Documentos – Revista do Arquivo Público do


Ceará. Fortaleza: APEC, vol. 1, n. 3, pp. 137-156,
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MIRALES, José. História militar do Brasil, desde o
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RAU, Virgínia. Os manuscritos do Arquivo da Casa
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ROCHA, Rafael Ale. Os oficiais índios na Amazônia
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STUDART FILHO, Carlos. Aborígines do Ceará.
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Rebecido para publicação em junho / 2012. Aceito em agosto / 2012

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS, FORTALEZA, v. 43, n. 2, jul/dez, 2012, p. 9 - 23 23

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